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AS PREPOSICOES EM INGLES: UM ESTUDO NA AQUISIGAO DA 12 AURFLIO JOSE FAIA LUD) 1. Introdugao A aquisigho das preposigses constitui uma importante parte do desenvolvimento linguistico do individvo, devido 3 relevancia sintictica € semintica das relacdes que estes elementos estahclecem com os outros constituintes da frase. Nao obstante esta importancia, tem-se constatado que esta categoria surge $6 depois de outras (N, V, A) tere sido adquiricias, o que levanta algumas questées sobre a razio para tal adiamento. A investigagao nesta area tem, igualmente, mostrado que mesmo dentro desta cutegoria existem escalas de Prioridade na aquisi¢lo, ou seja, existem contextos em que a preposiciio emerge mais cedo do que em outros. Devido & natnreza destes estudos, orientados de forma essencialmente descritiva, nem sempre s20 abordadas questdes tedricas de modo suficientemente explicito. Por outro Indo, constatase que a categoria Preposicio tem levantado, ao longo da investigagao teérica, alguma problematica cvjas respostas nem sempre se revelam completamente esclarecedoras Pretende-se, aqui, levar a cabo uma reflextio sobre o estatuto semiintico € Sintactico da categoria preposigao € analisar alguns dos fendmenos, com ela relacionados, verificados na aquisicao do inglés como L2. Concentrar-nos-emos em Sintagmas Preposicionais (SPs) argumentais, predicados ¢ adjuntos, de forma a Poder caracterizar o comportamento das preposicdes em ambicntes sinticticos diferenciados, assim como as diferentes estratégias utilizadas pelos nossos informantes na producao destes elementos nos respectivos contextos. Neste Ambito, sublinharemos a importincia de questdes que se ligam ao Papel da experiéncia linguistica anterior que caracteriza 0 processo de aquisicao da fingua segunda, pelo que compararemos os dados do inglés ¢ do portugues, que constituem 0 corpus utilizado, evidenciando caracteristicas comuns ks duas ACTAS DO XV ENCONTRO NACIONAL DA APL. linguas ou que so especificas de cada uma delas, relativamente ao uso das preposicdes ‘Abordaremos, também, 2 questio das construgdes marcadas © nito- marcadas, sugerinde que os (nossos) aprendentes da 12 manifestam uma preferéncia por gramiticas no-marcadas, que permitem operagdes menos “dispendiosas", consistindo 0 processo de aqnisigio num gradual ajustamento a gramvitica-aivo, Esta esteatégia encontra-se em sintonia cont as propostas de o Programa Minimalista Chomsky, 1993, 1995). 2. A Categoria Preposicio 2.1. © estatuto da Preposicao na Gramatica Tradicional A Preposicio constitui uma categoria que se tem prestado a uma enorme diversidade de classificagdes, constatando-se, nas varias propostas, uma visivel dificuldade em caracterizi-la, deviclo 2 dinamica que the € inerente ¢ Ihe permite uum importante desempenho em diversos contextos, Contudo, it medida que a teoria linguistica evolu, tem-se verificade um ahirgamento do conceito, concedendo 4 Preposig¢ao um papel mais importante do ponto de vi que a situa cada vez mais ao nivel de outras carcporias como o Nome, 0 Verbo © 0 Adjective. Ao consultar a Grammatica Philosophica da Lingua Portugueza, de Soares Barbosa (1803; 1881), verificamos que a preposicaa & considerada como um elemento meramente relacional, ou seja, desempenhando um papel exclusivamente sintactico: ta semiintico, “preposigdo &€ uma parte conjunctiva da oragao, gue posta entre dua palavras indica a relagdo de complemento que a segrnda tem para a primeira, (...) 0 verbo combina e ata entre si os dois termos da proposi¢do, sujeito e attributo: a preposigdo porém conjunta $6 as palavras que serrem de complemento, ou ao styeito, ot ao attrinuto, ot uo verho da mesma oragdo. (A preposi¢do ©...) indica s6 wma relagéo entre duas idéas, ¢ por si ndo significa idéat alguime (...)." Barbosa, 1803; 1881 : 218, 220). ‘4 relagdo geral exprimida pela preposicao & sempre a mesma. Os complementos della sao os que varian: (..)." Cop. cit. pig: 224) Nesta perspectiva, nio € atribuido A preposicio qualquer pape! semintico, sendo Classificada como um elemento funcional que "conjunta” partes da frase Em Epiphanio da Silva Dias ((1917] 1933) encontramos ji a auséncia de um discurso que pretenda limitar a preposicio a um desempenho mecamente sintéctico. A inexisténci talvez evidencie uma posiczo implicita do autor, relativamente de definigdes categéricas, ao invés de Soares Harbosa, dificuldade de e “i u |AS PREPOSICOES EM INGLES; UM ESTUDO NA AQUISICAO DAL2 definir uma categoria tio complexa como é a preposicao, A sobriedade com que F, Silva Dias trata as preposicdes demonstra ja a intuicio de que. para além do 6bvio, havert um mundo por desvendar que estard na base dit enorme capacidade de intervengao evidenciada pelas preposigées. Assim, 9 autor opta pela descrigio dos varios contextas em que entram as diferentes preposicgdes, como se pode verificar no exemplo que seguidamente citamos: “f 155. A propos. a serve de designar 0 ponto de mira, a direceao, o lermo do movimento ou de uma extensdo (J, Depots de alguns verbos, ¢ nomes, de movimento para tn logar (it, vir, volar, tornar, ida. ete), a da a entender que a ida, etc, 6 86 para certo fim, voltando-se depots, ao passo que bara nao envolve tal ideia. Antes, porém, de certos substantives, ¢ e para tem outra differenca de significacdo, assim em ir para a aula, para sb desiena 0 termo do movimento, em ind aula, @ allude ao quo td se vae fazer." cop. cit pp.: 117, 118) Em Said Ali ({1921] 1975), constatamos que 6 uso de expressdes como dominio semantico € sentide préprio reconhece j4 um papel relevante av significado que as preposicées encerram. O autor dé conta dos varios papéis Semanticos atribuidos pelas preposicdes. assim como da sua capacidade para conquistar mats terreno, dinamica que pensamos distancia-la de outras Categorias ditas “fechadas", ¢ sublinha ainda a subtileza semantica que caracteriza © uso de diferentes prepusicées. Citamos algumas passagens que nos parecem felevantes: “Usame-se antepostas a substantivos ¢ pronomes (e também ao infirition como forma nominal) para Ibes acrescentar nogées de lugar, instrumento, meio, posse, etc, e éste resultado se obtéin mais completamente e com mais Clarera do que era prossivel com os poucos casos obliqnos da dectinacdio latina. (...) Cada preposicdo teve origindriamente um sentido delimitado: mas a associagéo de idéias tornou possivel 0 alargamento do dominio somdautico de algumas a ponto de invadirem umas 0 dominio das outras ¢ se confundirem Por vézes as particuias na apticagao prdtica. (...) A tendéncia para conquistar mais terreno acabou por fazer que de se tornasse "la préposition favorite de ta latinité postérieure’, como a caractertzou Goelzer." (op. cit. pp 203, 204) Verificase que, em textos posteriores, a grumstica tradicional vai alargando 4 nogdo de preposicdo, concedendothe um papel diferente do que encontramos €m Soares Barbosa. Mais recentemente, em Cunha & Cintra ((1984] 1991! cxiste o reconhecimento expresso de que preposicio pode ser uma categoria lexical ATR ACTAS DO XV ENCONTRO Nacional. ba APL (detentora de significado) e também um elemento auxiliar de sintaxe (categoria funcional). Assim, estabelece-se uma diferenga sintictica, adjunto versus complemento, para explicar a Cindexisténcia de significado da categoria preposigao: “Enquanto a preposicdo que encabega um Adjuntn Adverbial possut caro nator significativo, a que introduz um Objecto Indirecto apresenta acentuado esvaziamento de sentido. Comperem-se estes exemplos. Cantava para os amigos Nao duvites de mim, Viajou para Sa Paulo. Nao satas de case Nas duas primetvas oragdes, em que introduzem Objecto bndirecto, as preposigoes para e de sdo simples elos sintéeticos. Nas duas ltinvas, introduzindo Adjuntos Adverbiais, servem para indicar, respectivamente, 0 lugar para onde e lugar donde." (op. cit. pag.: 146) Cunha & Cintra wocam sum ponto crucial ao estabelecerem uma correspondéncia entre sintaxe € semantica na andlise da categoria preposicio. Na verdade, tracam-nos um horizonte mais alargado onde podemos observar os fendmenos de uma forma mais completa. Assim, na gramatiea de Cunha & Cintra encontramos, numa perspectiva tradicional, a afirmacio mais convicta do valor semantico das preposigdes, Destacamos as seguintes passagens: 3, Costuma-se (...) desprezar 0 sentido da Preposi¢do, ¢ consideri-ta um simples elo sintdctico, vazia de contedido nocional Gumpre, no entanto, salientar que as relagdes sinticticas que se fazem por intermédio de Preposigdo Obrigatéria seleccionam determinadas Preposigoes exactamente por causa do seu significado bdsico." (op. cit. pig: $55) Embora na tcoria linguistica moderna a Preposi¢io continue a set uma categoria problemitica, as reflexdes encontradas na gramética teadicional constituem um inestimivel contributo para o avango da investigagiio, 2.2. A Preposicao na teoria linguistica moderna 2.2.1. A Preposicao: Categoria Funcional / Categoria Lexical Na teoria inguistica moderna, as preposicdes continuam a oferecer um enorme mimero de diividas quanto ao papel que desempenham nos varios enunciados. Tanto mais dificil parece ser a tarefa, quanto mais se tentt compartimentélas dentro de uma categoria. A clissica dicotomia categoria lexical/categoria funcional parece nko ser 120 produtiva para a classi 0 dla Preposigio como para outras Categorias. De facto, ao insistirse em rotulida de lexical ou funcional talvez iniba, dé algum modo, compreender a invulgar 374 UM ESTUDO NA AQUISI As PREPOSIGOES EM ING! polivaléncia da Preposic#o ¢ a sua enorme capacidade de relagio com outros elementos da frase. Uma categoria com as caracteristicas da preposicao exige que a consideremos numa perspectiva mais alargada, pois muito provavelmente ela Possuli trages comuns tanto As ditas categorias lexicais como As funcionais, Alguns linguistas tm proposto que as preposigdes, tal como os pronomes, os determinantes, as conjungées € os verbos auxiliares, pertencem a uma classe fechada, ou seja uma classe caracterizada por conter um numero limitado de elementos e apresentar maior resisténcia 4 mudanca € A integracio de novos clementos do que as classes abertas, como as dos nomes, verbos, adjectivos © advérbios, Se hem que as preposigdes no fagam parte de um grupo to vaste como aqueles a que pettencem outros elementos lexicais (N, V, A), so constituem, por certo, uma categoria de vio pouca mobilidade que se possa designar fechada. Alias, as preposicdes sao em maior mimero do que a maior parte das out Categorias consideradas fecbadas, apresentando, também, maior variacio diacrénica. Quirk, Greenbaum, Leech ¢ Svartvick (1985 : 72) apresentam o seguinte comentario sobre a distincao classe aberta/classe fechada: “The distinction between "open" and “closed” word class mutst be treated with caution, however, On the one hand, we must not exaxgerate the ease with which we create neu words, and on the other we must Rot exaggerate the extent to which word classes ... ave “closed” new prepositions (usually of the complex type "preposition + noun + preposition" like by the Wau) continue to arise.” Parece-nos que, de um modo geral, caracterizar uma classe como fechada € Pouce apropriado, porque demasiadamente redutor e minimiza o efeito da diacronia, Relativamente as preposigées, a dicotomia fechado / aberto nko Permite a existéncia de um espaco que albergue clementos com menor grau de prototipicidade, tornando-se irrelevante enquanto distincao. pelo que Prescindimos, neste trabalho, do seu uso. 2.2.2. P - uma categoria interrogada Desde Chomsky (1970) que sio considerados trés micleos lexicais (N. V, A), definides com base em dois valores primitivos, [NI € [V], dando origem 4 seguinte tipologia universal (Chomsky, 1981 [1984]) (1) cD +N -N ty A v v N @) 375 ACTAS DO XV ENCONTRO NACIONAL DA APL bora a categoria preposicie seja caracterizada de acordo com os referidos tacos, Chomsky (1981 [1984]) hesita quanto ao seu yerdadeito estatuto, nao a integeando no grupo das categorias lexicais: “So we have a system based on the features [£N]. [ £V], where | +N, -V) is noun, [-N, +V] is verb, | +N, +V] is adjective, and [-N, -V] is preposition, the first three heing lexical categories.” (Chomsky, L981 [1984] : 48) Posteriormente, Chomsky (198Ga (trad. portuguesa, 1994 : 194, 196)) refere-se j4.2 peeposicio como uma categoria lexical: "Neste monicuto, todas as categorias lexicats atribuem Caso: P. N e A atribuem Caso inerente en estruturaP, enquanto V atribul Caso estrutural em estruturaS, (...) to atribut Jo deixa de reconhecer 0 papel-6 de alvo (...)'. Assim, parece que Chomsky que, tal come as outras categorias lexicais, a categoria preposi desempenha um papel aa marcagae temitica dos scus argumentos. Abney (1987) considera quatro as categorias sintacticas principais, apresentando a seguinte classificagie. o também @) ae MET PN? V, Aux, P Le iN MA,Q, Ade D (op. cit. pig: 63) Curiosamente, a categoria Preposicio € a Gnica interrogada, signiticando que 0 autor se questiona se ela sera na verdade uma categoria temitica (lexical), referinde mesmo que cla parece repartir-se entre sendo de desejar nao a especificar pelo traco [= Fl $ categorias funcional € lexical, "P seems to stradile the line between functional and thematic elements, one might wish to treat it as unspecified for [4F)." (idem, ibidem) Em Webelhutht (1992) € defendida a ideia de que as preposicgdes diferem dos micleos V, 4 ¢.\ por nao poderem @-marcar os seus complementos: "The contribution of a preposition that appears to assign a partictlar & rote would then be one where the preposition "solicits" the Grale from some other head; i.e, the presence uf an appropriate preposition is a condition on the Brole assignment by the verb (ar any other head) rather than a consequence of the preposition being a @xole assigner itsedj." Webelhuth, 1992 : 136) 376 AS PREPOSIGOLS EM INGLES: UM ESTUDO NA AQUISICAO 04 L2 Embora 0 autor nao conceda 4 preposi¢ao a responsabilidade de atribuicho tematica, parece reconhecer a importincia do seu contetido seméntico como clemento avxiliar em todo o processo, Contudo, nao nos parece ainda Stficientemente clara a defesa da sua proposta nos casos em que o proprio vetho pode atcibnir mais do que um papel-6: “ the governing head has more than one B-role to assign, the identity of the preposition will determine which @-role it is compatible with. Thus, if taik is combined with 19, then it will assign goal, and if it is followed by about, it wilt assign patient" (op. cit. nota 14, pag.: 137) Embora 0 verbo desempenhe o papel de predicador, cremos que a questio da atribuicio de papel-6, nos casos de SPs argumentais, tem de ser equacionada «le forma a conceder A preposigio a importincia que Ihe cabe, seja pela designacio de solfcttor. predicador auxiliar ou qualquer outea. E, por certe, mais Coerente defender que a interpretagio semantica atribuida « um complemento Preposicionado se deve a cutegorias com niveis de significagio distintos, mas ignalmente importantes, A propésito da aquisigto da L1, Powers & Lebeux (1997: 1G) refercem ”_. it is not the lexical category membership of ai element which determines when it appears, but its licencing relationship. or perhaps something about its phonological form, The paramount case of this is with the appearance of prepositions. As predicatives they appear early: but as case- Markers, they appear late." Estes autores defendem que a capacidade de legitimagio (icencing) das diferentes categorias é 0 que determina a prioridade na aquisicao. Mais uma vez ¢ Sublinhada a diferenga entre as preposigdes de acordo com os contextos sintécticos em que se inserem. Nesta perpectiva, niio parece qne se questione 0 estatuto lexical da categoria Preposicio, antes valorizase a especificidade da relagio estahelecida por esta categoria na legitimagzo dos argumentos de acordo com a complexidade das consicugdes, Deste modo, os autores apontam para a aquisicio das preposigaes predicadoras anteriormente as que cstalelecem telagSes com outros predicadores. Provavelmente devido & maior saliéncia dos Seus tragos scauinticos, as preposigdes que sko as tinicas responsiveis pela legitimacao dos seus argumentos sio mais facilmente adquiridas Contudo, continuamos a defender que a opgio terminoldgica que divide as Preposicdes entre predicadores € marcadores casuais, tal como fazem os autores mencionados, é demasiado redutora ACTAS BO XV ENCONTRO NACIONAL DA APL Assim, defendemos que as preposigdes desempenham papel de grande importancia nas relagdes que estabelecem com outros elementos da frase tanto a nivel semantico como sintactico. A riqueza de significado inerente @ categoria preposigio manitesta-se na complenidade que reveste 0 proceso da sua aqui na lingua materna € muito especialmente na aprendizagem da segunda lingua. As estratégias de processamento em consteugdes que envolvem esta categoria constituem campo de grande interesse e conferem a preposigio um estatute relevante ao nivel da teoria linguistica. Assumimos 0 principio de que « preposicio é uma categoria lexical € partimos da hipotese de que a prepo: nao € desprovida de significado nos contextos analisados neste trabalho, € que a maior ou menor dificuldade ma sua aquisigio se deve, essencialmente, 4 complexidade de adequagio do seu valor semintico ao dos elementos com que se relaciona nos diferentes contextos sinticticos. Esta hipdtese prevé que quanto mais largo for o Ambito da retacio sintactico-semintica da preposicio, maior o mimero de restricdes impostas na partilha de tragos semanticos para atribuicio de papéis temiticos aos argumentos, € logo maior sera o grau de dificuldade na aprendizagem ¢ consequente seleccio da respectiva preposicio. Assim, nos contexts sinticticas em que a preposicao desempenha um papel de predicador, sendo o Gnico elemento responsavel pela atribuigio de um papel-6, « aquisicio, relativamente } 12, envolvera menor grau de complexidade do que em estruturas sintacticas em que a preposigio faz parte de um sintagma preposicional (SP) em posicdo argumental, Esta perspectiva valotiza a relacio sintaxe-semfntica como interface a considerar na anilise linguistica cm geral, € em particular na andlise das questées que se ligam A aquisicio da linguagem. 2.2.3, Preposicdes ¢ Complementadores Parece-nos importante referir os casos de recategorizacao das preposicdes como complementadores, de forma a conferir maior rigor 4 posigio que acima assumimos. Considerem-se. as seguintes frases em (3): Q) a. He disse-nos que saissemos da sala, b. It's important that we keep our promises. As palavras que/that nas frases em (3) introduzem complementos oracionais € sio, de acordo com a teoria linguistica moderna, designadas complementadores (ow conjungdes, na perspectiva gramatical mais tradicional). Os complementadores caracterizam-se por poderem introduzir oracdes (nio-finitas. Como verificamos nos exemplos acima, os referidos complementadores (qtte/thaf) 86 podem ocorrer com oragies finitas. Nas frases 378 AS PREPOSIGOES EM INGLES; UM ESTUDO NA AQUISICAO DA L2 em (4a,b) constatamos que podemos substituir que/that por para/for sem que o significado se altere (procedendo tis necessirias alteragGes de Tempo [+finivo] para infinitive), 0 que parece provar que se tratam de palavras de idéntica natureza gramatical, pois a coocorréncia de ambas produz counciados agramaticais, provavelmente por serem concorrentes 2 mesma posicio na estrutura sintéetica (Comp), como se observa em (4c,d). Ae contrario do que verificimos com que/that, os complementadores para/for ocorrem com oracdes aiorinitas, ro) a. Ele disse-nos para sairmos da sala b. I's important for us to keep our promises. ©. "Ble disse-nos para que sairmos/saissemos da sala. d. ‘It's important for that we keep/us to keep our promises. Na verdade, existem diferencas significativas entre as preposigdes (por exemplo, para/for) € os complementadores seus homonimos. o que justifie: existéncia de uma classificacio gramatical que as difercncic. Assim, as Preposigdes encerram contetido semantico, enquanto os complementadores sto elementos funcionais. 3. Proposta de classificagao dos SPs Subjacente ao estudo dos Complements Preposicionados (Cpp), cacontr Se a necessidade de compreender ¢ explicar a complexidade das relugdes par eles estabelecidas no interior das oragdes. Os Cpp, quer sejam classificados come Complementos Indirectos (Cind) ov como Complementos Obliqnos (Cobl), mianifestam diferentes graus de coesio semintica ¢ sintactica entre o predicador € Os outros constituintes, 0 que levanta algumas questées quitato a su categorizagio. Embora exista alguma controvérsia entre 0s varios quadros tedricos quanto A classificagio dos Cpp e 4 esséncia da distingdo entre estes ¢ os argumentos verbais ndio preposicionados (Cdir (complementos directos)), parece que tod: abordagens, mesmo que implicitamente, reconhecem uma maior coeréncia na descrigio das propriedades partilhadas pelos Cdir do que nas dox Cpp. A designagio de Obliquos para os Cpp em geral, utilizada em varias teorias da Bramatica, deixa por esclarecer as diferencas exibidas por estes complementos, Constatando unicamente o seu estatuto de constimintes mais peritéricos (menos €ncaixados) do que os Cdit na estrutura gramatical. E, embora se acvite que existem diferencas cvidentes que cxigem subdivisbes dentro da categoria Obliquo, nao é suficicntemente claro 0 que as Varias Ceorias Consideram serem as diferencas ou, ainda, como se podera proceder a uma poss 379 ACTAS De XV ENCONTRO NACIONAL D4 APL Motivada pela complexidade das relagées semintico-sintacticas estabclecidas pelos SPs, surge a dificuldade de distinguir, em diversos contextos. SPs em posicdes argumentais de SPs em adjungio a SV. Ou seja, a dificuldade de isolar diferentes neances do que « literatura em geral considera como © truco de obliquidade dos SPs, Os testes propostes pelos varios autores em sempre apresentam a desejada coeréncia. A proposta de classiticagha que aqui apresentamos inscre-se estritamente no ambito deste trabalho que pretende estudar as particularidades da aquisiciio das preposigiies, enjos complementos sio SNs, ¢ a que nos refetiremos, por um lado, como niicleos de SPs subcategorizudos por verhos (por motives de simplificagao terminoldgica designaremos preposi¢6es nao predicadoras), ¢ por outro lado as que so consideradas preposi¢ées predicacoras, Deste modo, dividimos os SPs, a que pertencem as referidas preposigées, em trés grupos principais © que denominaremos SPs Argumentais (SParg), SPs Predicados (SPprd) ¢ SPs Adjrentos (5 As preposigécs niicleos de $Pad e de SPprd sito consideradas como os Tinicos elementos responsaveis pela atribuigio do papel} aos seus argumentos. Conuido, consideramos que os $Pprd constituem predicacdes de primeira ordem que ocorrem em construgées com verbos copulativos, sendo as respectivas Preposicées micleos de oracées pequenas. Os SPs em adjuncio sio predicagées de ordem mais alta, sendo « preposicio que introduz o seu prépriv argument. marcando-o semantica ¢ casualmente, como se verifica no seguinte exemplo: (5) A Maria frequenta um curso de misso isegund:feira / Mary attends a Russian course on Mondays. Na proposta de classificagio dos SPs, que apresentamos neste trabalho, fazemos a distingio entre fngdes sintdcticas centrais e fungé obliquas. No primeico grupo de fungdes inserem-se os argumentos vetbais internos que sio, tipicamente, designados Dativos (ocativos (+Dir] Uonte & alvoy) coma em (6), € que pertencem 4 categoria denominada Objecto Indirecto (OD). Estes SPs Datives podem ocorrer em construgdes do tipo V SN SP © ¥ SP. Estes complementos preposicionados podem ser substituidos em portugués pelo pronome pessoal clitico em forma dativa, como se pode ver nos exemplos em (a,b) denteo de paréntesis 28 sintteicticas ©) a) A Sara deu (lhe) um livro @ Marta / Sarah gave a hook to Mary. (V SN SP) b) O Pedro falou Glhe) d Maria / Peter spoke to Mary. CV SP) 380, IM ESTUDO NA AQUISICAO Da L2 AS PREPOSICORS EM INGIT Consideramos SPs com funcdes sintéc aqueles a que nio seja atribuida nenhuma fungio sintactica central (cf. Mateus et al. 1983: 223-259), e que podem ser complementos verbais ou adjuntos ao SV. Os SPs obliquos (logo [- Dat]) podem ser obrigatérios ou opcionais e mantém com os elementos dia Predicagio uma diversidade de relagdes tematicas, por exemplo: Tena, Locativo [4Dir], Benefactivo, Instrumente, Comitative, Finalidade, Tempo, Causa, Modo. Assim, um SP oblique pode ser complemento verbal ou adjunto a VP, enquanto um SP objecto indirecto ([+Pat]) € necessariamente um complemento verbal com uma funcao sintictica central. Os complementos obliquos farem parte da grciha temitica do verbo & inserem-se na tipologia ja apresentada, relativamente is preposicdes nao Predicadoras (encabegam SPs argamentais) ¢ 4s predicadoras nucleas de SPs argumentos de verhos copulativos (estar, ficar, etc.). Os complementos obliquos esto, também, sujeitos a alguma variacao entre as diferentes linguas, pois em alguns casos um predicador selecciona Scmanticamente um argumento, numa determinada lingua, categorizlmente diferente do seu equivalente cm outra lingua, como exemplificamos em inglés Portugués (7), 0 que evidencia, por vezes, uma relativa semelhanga entre as varias categorias de argumentos verbais, devido a sua proximidade semantica: (7) a) approve of something (V SPY: aprovar algo (VSN) b) dispense with something (V SP). dispensar algo (V ©) listen Zo something (V SP) onwie algo (V SN) ed) enter a place (V SN): entrar nn (ugar (V SP) ©) need someting (WV SNY: precisar de algo (V SP) Idéntico fenémeno se verifica dencco da propria ingua, em que alguns Predicadores atribuem, opcionalmente, wma relagio gramatical a um dos seus argumentos que € tealizada ora como objecto directo ora como complement Obliquo (8): (8) a) A Maria ama (@) Deus. b) © Pedro chamou (por) a irmd ©) A rapaz subiu (@) 0 monte. Estes casos envolverio, por certo, algumas questées interessantes. no Proceso de aquisi¢io da 12 Apresentamos abaixo (Fig, 1) 0 seguinte esquema que resume ay diferencas Considcradas entre os SPs: 381 ACTAS DO XV ENCONTRO NACIONAL DA APL Fig 1: Crindirectox LG DiT pp Dativos SPs Argumentais Preposigad nao-predicadora Loc. F+Dirt [-Dati Temas ©. Obliqn Comirativo nstrumento SPs Adjunto Loe. (irl 0 Tempo SPs Predicados Modo Preposigao Predicadora Causa. Como ji referimos, a distingdo entice argumentos ¢ adjuntos’ nie € uma questo pacifica entre os varios autores. Alguns dos testes-diagnéstico propostos para esta divisio nem sempre evidenciam a precisio desejada para todos os cas sendo frequentemente estabelecidas virias linhas de limite para uns ¢ outros. Relativamente a esta distincio Marantz (1984: 15) tenta estabelecer alguma diferenga semantica entre o que designa argumentos ¢ modificadores: OS, "Certain roles are implicated in the semantics of verbs themselves, and arguments bearing these roles appear only with the verbs that select themt (...) Noninherent semantic roles are adverbial in the sense that the semantic effect on tbe clause of the constituents hearing them ix not determined hy the head of the clause.” Outros autores referem-se a esta diferenga de forma muis ou menos identi “In general, a given adjunct can co-occur with a retatively broad range of beads while seeming to make a more-or-less uniform contribution to semantic content across that range. A given optional complement, by contrast. is lypically limited in its distribution to co-occurrence with a small (..) class of heads; in addition, the semantic contribution of the complement is idiosyncratically dependent upon the bead.” Pollard & Sag, 1987 : 36) "A phrase P is an argument of a head H if the semantic contribution of P to the meaning of a sentence in which P is associated with H depends on the 382 AS PREPOSICOES EM INGLES: UM ESTUDO Na AQUISICAO Da L2 particular identity of H. Conversely, P is a modifier if its semantic contribution is relatively constant across @ range of sentences in which it combines with different beads.” (Grimshaw, 1990 : 108) Cremos que a diferenga acgumento/adjunto no pode ser considerada em termos de conteaste radical preto/branco, mas que envolve uma gradacio. Esta hnogio de continuidade tem, provavelmente, a ver com niveis diferenciadoy de Soesio sintictica ¢ semantica entre o verbo € os seus complementos (SPs, por exemplo). Se esta diferenga se bascia, como referem os autores, fundamentatmente numa nogdo semintica, entio sera de prever que um SP complemento verbal revele varios niveis de coesio, de acorde com o seu estatuto semantico, Relativamente @ aquisi¢io das preposicées, tanto na L1 como na L2, é Provavel que estas diferencus se manifestem de forma mais ov menos consistente, Para ilustrar a noco de gradagao referida, propomos um continiium Fig, 2) ao longe do qual se estabelecem as reiagdes de proximidade sintactica € semantica dos varios SPs: Fig. 2: SPs Argumentos SPs Adjuntos <1 { 1 | ! > vey ¥ vy, Y v ‘Temas Dat. Locl+Dir]_ Gomit Instrum, Benefact._ Loc |-Dir]/Tempo/Mod Assim, consideramos que as preposicdes sto semanticamente muis ou Menos salientes, consoante se cncontrem mais ou menos afastadas dos dois polos sintacticos que determinam o estatuto do grupe a que pertencem, isto é, SP atgumental ou agjunto. De acordo com esta proposta, & provavel que as preposicdes que encabegam os SPs argumentais mais proximes dos adjuntos sejam mais facilmente Adquiridas pelos individuos que aprendem uma L2, pois a relagio estabelecida com o predicador € menos complexa, permitindo, assim, maior saliéncia dos tragos seminticos da preposi¢ao. Desta forma, é provavel que na aquisi¢ie de uma L2, os individuos manifestem diferentes graus de dificuldade conforme os diferentes niveis de coesto sintactica © transparéncia scmantica cxibidos pelas diversas preposicées. 4. Particularidades da aquisic¢ao das Preposicées 4,1. Ordem de aquisigho na L1 Os estudos sobre a aquisicao das preposigdes na lingua materna apontam Paca 0 sew aparecimento apés outras categorias fexicais (Verbo, Nome, Adiectivo) ACTAS DO XV ENCONTRO NACIONAL DA APL terem ja sido adquiridas (Brown, 1974; DeVilliers & DeVilliers, 1973, Bloom, Lightbown & Hood, 1975; Weisseaborn, 1981; Klinge,1990: Brennan, 1991, Alguns dos estudos apresentam resultados que estabelecem escalas dle prioridade na aquisicio das diversas preposigdes, Assim, refere-se que as preposicoes que introduzem expressdes espaciais sio as primeiras a serem produzidas, particularmente as que expressam relagdes fopoldgicas, ou seja, conceitos de 1 mais simples (por exemplo: @, emt/at, in) do que os expressos por relacdes espaciais extefidianas em que a nogio de proximidadc ou limite é deserita mais em termos de relaghes entre conjuntes do que em termas de distancia (por exemplo: atrds de, por cima de, sobre, em frente de/bebind, over, on, in front of), 0 que exige tanto o contecimento do pont de vista, como o das propriedades que distinguem os ubjectos, a que a crianga tem ace: fase mais tardia do seu desenvolvimento. F, também, referido que as preposicbe: que introduzem expressées locativas posicionais [-Dir} antecedem dlireccionais [+Dir], manifestando-se, nestas tiltimas, uma preferéncia pelo papel Alvo na descricio do movimento. Posteriormente as preposicdes Jocativas [*Dir], serio adquiridas aquelas que estabelecem relagées temporais, ou scja, algumas das preposigdes (espaciaisy que ja fazem parte do inventatio linguistico da crianca sao utilizadas na producao de expressées temporais. As iiltimas preposigdes 4 serem produzidas veriticam-se €m contextos que indicam celagies de atribuigio de Caso, assim como as que encabecam SPs semanticamente interpretados coma Instrumentais, Comitativos & Benefactivos (Tomasello, 1987). Relativamente as linguas que apresentam um sistema misto de marcacio Casual, verifica-se que 0 uso ds preposigdes antecede a marca¢io morfoldgica (Klinge, 1990). Esta escala de priotidade na aquisigio tem side explicada com base em factores cognitivos, relativamente ao grav de abstraceio conceptual das relacdes expressas pelas diversas preposigées, ¢m que as mais tardiamente aprendidas serio as que representam maior complexidade cognitiva, como ten sido considerado 0 caso das designadas preposigées sintdcticas ou funcioncis, por expressarem relagbes gramaticais (Piaget & Inbelder, 1975: Yonas & Pick, 197 Grimm, 1975; Johnston & Slobin, 1979}. Mais uma vez se verifica que questées de ordem semantica se prendem com a saliéncia de determinadas preposicées na ordem de aquisicio verificada, A fungio gramatical das preposicdes tradicionalmente classificadas como marcadores de Caso (dative, por exempto) surge, assim, como o traco definidor destes elementos em detrimento do seu valor semintico. Contudo, mio € abordada a razio por que algumas preposicgdes com um forte contetido semintico, como € 0 caso das que encabecam SPs comitatives € instrumentais, aparecem também, s6 numa fuse mais tardia do desenvolvimento. A maior parte destes estudas parece mio fevar em consideragio a importancia da estrutura sinvictica das frases em que surgem as diferentes localiza: oso numa locativas 384 [AS PREPOSICOES EM INGLES: Uns ESTUDO NA AQUISICA Da L2 Preposigdes, pois normalmente os resultados sio aferidos de acordo com os Conceitos expressos por estas, nao sendo felta qualquer referencia 4 diferenca entre as posigdes sinticticas ocupadas dos SPs. O facto de: tambem, se considerar a diferenca entre complementas verbais € adjuntos talvex contribuisse para melhor se entender as prioridades na aquisicao das preposicdes. © exemplo de um trabalho sobre a aquisicio das preposigoes que fem em conta a especificidade sintactica dos SPs ¢ 0 de Brennan (1991), A autora analist as producdes linguisticas de criangas (inglés como lingua materna) com MLU de 1.5, € verifica que existe wma assimetria na distribnigho das preposiches que canonicamente encabecam SPs adjuntos © SPs complementos verbais. Assim, enquanto as preposigdes em posigio argumental foram omitidas numa media de 50%, © nivel de omissdes cm contextos de adjuncio foi quase de 100%, Este estado revela que a fase de aquisicio em que se situam as criangas estudadas se limita A producio de predicacées de primeira ordemy constituinde oy SPs adjuntos Predicagées de nivel mais alto, logo de maior complexidude semantica ¢ sintactica, as respectivas preposigdes sto omitidas. Deste modo. 0 facto de algumas preposigées, relacionadas com determiaados papéis6, 66 serem realizackis foneticamente numa fase mais avancada da aquisigio nao significara, na Reneralidade, que nao tivessem ji sido adquiridas, mas provavelmente 56 mais tarde devido & Complexidade das construcdes de que fem Curiosamente, € como se verificact mais 2 frente, os resultulos obtides Dartir das produgdes dos nossos informantes, relativamente aos dados do ingles (12), sio exactamente opostos aos de Brennan. Constata-se um alto nivel de desempenho em contextos de predicugdes de ordem mais alta (SPs adjuntos), enquanto em predicagdes de 1° ordem (SPs argumentais) se verifica um elevado nivel de substituigdes € misses das respectivas preposicocs. Comentaremos €stes resultados a seu devido tempo. 4,2, Aquisicao das Preposicdes ma 12 Relativamente #0 uso das preposicdes na aquisi¢ho da L2, verificam-se casos interessantes que se prendem com o designado fenomeno da preposi nula, particularmente em contextos de construgoes interrogat © velativas. ‘Ao estudarem os fendmenos de abandono (preposition stranding: ex.: He #3 the man wiho I spoke to) & encantamento da preposi¢do (pied piping: cx.. He fs the man to whom [ spoke), na aqui do inglés como segunda lingua, Mazurkewich (1984) ¢ Burdovi-Harlig (1987) constatam que a fuse anterior 2 Producio de qualquer das duas construgées referidas se caracteriza pela a anséncia de preposicdes em construgdes relativas ¢ em interrogativas. ardovi- Harlig justifica estas omissdes partindo do principio que elas representum erros de subcategorizacio verbal, ov seja, 05 individuos nao teriam, ainda. udquirid 385 ACTAS DO XV ENCONTRO NACIONAL DA APL. que determinados verbos exigem um argumento preposicionado. Contudo, Klein (1993) sustenta que este fenémeno, designado preposipdonula pela investigadora, nao €, necessariamente, motivado pelo desconhecimento das regras de subcategorizagio, pois verifica-se em estidios avancados do proceso de aquisi¢io da L2. Este facto, segundo Klein, coloca questaes importantes as hipsteses formuladas pcia investigagio em L2, relitivamente a rclevincia atribuida ao papel desempenhado pela Gramatica Universal (GU). A autora demonstra que as construgées de preposicio-nula constituem um fenémeno raro nas linguas naturais ¢ que sé se verifica cm contextos (exclusivamente oragées relativas) onde nao existe movimento do constituinte SP. Assim, sio apresentados exemplos de linguas como o portugués do Brasil (PB), 0 francés de Montreal ¢ de Quebeque, € diitlectos de Porto Rico, da Venezuela e do norte da Grécia, em que a preposicéo-nula sé € permitida em oragées relativas, © muncu em interrogativas Cinjdirectas, existinde sempre 4 alternativa de realizagao da preposi¢io com um elemento pronominal (pronome Fesumptivo) (9b), como se verifica nos seguintes exemplos, do PB, citados peli autora, a partir de Tarallo (1983 : 20 (9) a. a maga que cv fatci b. améga que eu falei com ela. c.*Quem vocé falou? /*En perguntei quem vocé falou. d. Com quem vocé falou? / Eu perguntei com quem vacé falou, (Klein, 1993 = 163) Kicin sustenta que nas linguas naturais as construgses de preposicao-nula apresentam invariavelmente um complementador em vez de um pronome relativo, sendo este caracterizado por movimento-qu (com realizagio obrigatoria da preposicio), a0 contritio do que acontece com 0 complementador, Deste modo, a categoria vazia € interpretada como um pro, ¢ nao come um vestigio resultante de movimento-qu. Assim, as linguas que possibilitam a auséncia de movimento em oragées relativas com complementos nulos (pro) aio permitem esta estratégia em interrogativas, pois, neste caso, o movimento & obrigatério, que exige a realizagio da respectiva preposic’o. Também neste caso, € sempre que existe movimento-qu, nunca se verifica 0 apatecimento de um constituinte (SP) resumptivo. Tendo em conta estas evidéncias, que constituem fortes restricées impostas pela GU, Klein sugere que a omissio da preposicio em interrogativas ¢ telativas na aquisi¢o dla L2 (inglés), por individuos que nao apresencam erros de subcategorizacio verbal em frases declarativas, evidencia um abandono temporirio dos principios da GU, o que coloca um desafio 2 teoria da aquisicio 386 AS PREPOSIGOIS EM INGLES: UM ESTUDO NA AQUISIGAO Da L2 da 12, relativamente ao pressuposto de que cada estidio corresponderé a uma interlingua restringida por principios inatos universais, Poderse-ia admitir que a0 omitirem as preposigées ma producio dle orages telativas, os individuos estariam a analisar 0 inglés como uma lingua onde a auséncia de movimento seria possivel, o que nio constituiria qualquer violacao a GU, como verificimos acima. Contudo, tende como base os seus prdprios resultados € outros estudos anteriores’ sobre a aquisigao da L2 (inglés), que demgnstram serem os individuos (cnjas LI sio linguas de movimento obrigatorio tal como a lingua-alvo) sensiveis a esta restricho de movimento na anilise que fazem de oragdes comptexas em inglés, Klein sugere que estes mesmos individuos nao poderao estar a assumir que o inglés é uma lingua com auséncia de movimento quando produzem ou aceitam preposigdesnulas em contextos de oragées interrogativas ou de simples relativas ‘Achamos pertinente determo-nos brevemente nesta consergio de Preposicio-nula, pois ela tem vindo 4 tornarse frequente no registo oral do Portugués europeu (PE) (Faria & Duarte, 1989; Peres & Média, 1995), ¢ aparece, também, nas producdes dos nossos informantes tanto em portugués, L1, como em inglés, L2. Embora Kicin parta do principio, tal como outros Tarallo, 1984, 1985; Brito, 1991; Chimbutane, 1995) que as construcdes em algumas Hinguas, podem nZo sofrer movimento-qu, apresentando um complementador gerado basicamente em Comp, ¢ €m que 4 posicio celativizada € ocupada por um pronome lexical ou nulo, neste ultimo caso possibilicando a construcio de preposigie-nula, existem outras propostas que consiceram a existéncia de movimento em todas as constragdcs relativas, sendo © pronome Telativo invariavelmente extraido de uma posi¢zo de base. AS construcées refativas que referimos acima tém sido designadas. Principalmente na literatura sobre © PB (Tarallo, 1983, 1985; Kato, 1981, 1991, 1993:), por resumptivas ou copiadoras € cortadoras. Nas primeiras, a posicao ligada pelo pronome relativo é preenchida por um constituinte com um pronome resumptivo, sendo # preposigio realizada (9b), € no segundo caso verificase a auséncia destes elementos (9a). Kato (1993) defende que © processo de relativizacdo subjacente as varias construgdes "6 sintaticamente 0 mesmo havendo sempre a ligacdo do operador relativo-Q com uma pasicdo vazia t- varidvel - na sentenga; (...) A falta do efeito de tha observada nas relativas com pronome resumptivo nda se deve, portanto, a falta de movimento, como fazem pensar Tarallo ¢ outros, mas ao fato de uma varidvel em LD [Left Dislocation] poder manter uma retagdo de correferéncta com pronomes distantes (...)" (Kato, 1993 : 227, 228). Tendo em conta que as relativas com omissio da preposicio (cortadoras) tragdes de movimento-qu, torna-se difici) autores (Bouchard, 1982: relativas, Podem ser compativeis com cons! 387 ACTAS DO XV ENCONTRO NACIONAL D4 APL sustentar a proposta de Klein (pelo menos no que diz respeito As oracdes relativas), segundo a qual os individuos 4o produzircm frases com preposicio-nula cm inglés (L2), estario a criar gramaticas nio previstas pela GU. Cremos que tais construgées, num determinado cstadio da aquisicio, podem ser motivadas por estratégias de simplificacio de processamento, constituindo. provavelmente, a auséncia de acesso suficiente a0 input de construgdes de abandono da preposi¢do factor decisivo para o apagamento da preposigao. Esta estrategia € vatidada pela GU, se tiveemos em conta os dados de outras linguas que permitem a auséncia da preposicio, mesmo em construgdes ainda consideradas marginais, como ne caso do PE. Desta forma, € provivel que exista uma relacdo de proximidade entre as construcdes de abandono da preposi nula. A primeira consistente com as caracteristicas da gramavica do inglés, ¢ a segunda com as de outras linguas. A producao de relativas com omissio da Preposicao cm inglés (L2), por individuos portugueses, poderit ser o exemplo de uma construco mista, em que tanto critérios de economia, como a influéncia da Li poderao desempenhar papéis preponderantes. Consideramos, para os propésitos de presente trabalho, que as construgies relativas com preposicio-nukt eavolvem movimento-qu do mortema relativo quefwho, que poderi funcionar como uma especie de forma neutra (conurastando, por exemplo, com guem/qual/whom), como por cxemplo: 4 fapariga oque eu gosto ¢ A rapariga de quem eu gosto. Admitindo que who/que nao exibem Caso morfolégico, a verificagio de tragos de Caso abstracto ocorre depois de Spctl-Out (aa componente FL), ¢ uma vez que nfio se verifica atracgtio de tracos de Caso do morfema relative para a respectiva preposicio na componente sintactica, também nio existe infiltracdo do waco-qu. Assim, sé 0 constituinte who/que é movido para a posicao de especificador (esp) de SComp a fim de veriticar o trago-gu de Comp, resultando no movimento Cem consequencia do Principio de Economia) do constituinte minimo necessério para assegurar convergéncia, pois mover o constituinte SP tornar-se-ia menos ccondmice do que mover unicamente Det (who/que). Esta estratégia apresentase como aleernativa as construcdes de encantamento da preposi¢do (mais dispendiosas), em que a verificagio de Caso é, provavelmente, Jeita antes de "Spell-Out", devido & existéncia de tracos fortes (Caso morfologicamente marcado), por exemplo: The man to whom J spoke. Em inglés 4 preposigio pode ser abandonada, mantendo- se no seu lugar de origem (ex.: The man who | spoke to) ¢ em portugues, 10 existindo esta possibilidade, dise o apagamento da preposicio apés a relativizacdo, nao sendo esta tealizada em Forma Fonética (4 rapariga 0 que cu gosto), iver através de um proceso de reanilise em que a preposicio & incorporada no verho, de acordo com a especificidade semantica destas duas categorias. E provavel que os individuos portugueses, a0 produzirem construgées com preposigio-nuls em inglés (ex.: Jt was the group @ who the frog belonged 0 € de preposicio- 388

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