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Planejamento Tributário
Planejamento Tributário
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO
Data: Fevereiro/2016
Original
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
Escola de Direito FGV DIREITO RIO
PÓS GRADUAÇÃO EM DIREITO TRIBUTÁRIO
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO
Data: 29/02/2016
Original
Escola de Direito FGV DIREITO RIO
PÓS GRADUAÇÃO EM DIREITO TRIBUTÁRIO
Compromisso de Originalidade
O referido TCC foi elaborado com minhas próprias palavras, ideias, opiniões e juízos de
valor, não consistindo, portanto, em PLÁGIO, por não reproduzir, como se meus fossem,
pensamentos, ideias e palavras de outra pessoa;
Original
referências bibliográficas do TCC, pois fui devidamente informado(a) e orientado(a) a
respeito de que a inobservância destas regras poderia acarretar alegação de fraude.
Atesto meu compromisso de não praticar quaisquer atos que possam ser entendidos
como plágio na elaboração de meu TCC, razão pela qual declaro ter lido e entendido
todo o conteúdo deste compromisso de originalidade e submeto o documento em
anexo para apreciação da FGV Direito Rio como fruto de meu exclusivo trabalho.
Data: 29/02/2016
Matrícula: 54952/2014
Original
RESUMO
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO*...................................................................................................................................................*7!
1.! PLANEJAMENTO*TRIBUTÁRIO*–*VISÃO*GERAL*............................................................................*8!
1.1.! CONCEITO!DO!PLANEJAMENTO!VÁLIDO!.............................................................................................................!8!
1.2.! CRITÉRIOS!DE!ANÁLISE!OU!REQUISITOS!AMPLOS!..........................................................................................!10!
1.3.! FIGURAS!AFINS!E!CORRENTES!DOUTRINÁRIAS!NACIONAIS!E!INTERNACIONAIS!.......................................!12!
1.1.1.! Simulação,e,dissimulação,.......................................................................................................................,13!
1.1.2.! Substância,sobre,a,forma,(substance,over,form),.........................................................................,15!
1.1.3.! Propósito,negocial,(business,purpose),..............................................................................................,15!
1.1.4.! Abuso,de,forma,............................................................................................................................................,16!
1.1.5.! Abuso,de,direito,...........................................................................................................................................,16!
1.1.6.! Elusão,fiscal,...................................................................................................................................................,18!
1.4.! A!NORMA!DO!PARÁGRAFO!ÚNICO!DO!ARTIGO!116!DO!CÓDIGO!TRIBUTÁRIO!NACIONAL!......................!19!
1.5.! A!QUESTÃO!DA!RAZÃO,!MOTIVO!OU!SUBSTRATO!ECONÔMICO!....................................................................!20!
2.! APLICAÇÃO*PRÁTICA*DAS*DOUTRINAS*NA*JURISPRUDÊNCIA*.............................................*22!
3.! CONCLUSÃO*?*ELABORAÇÃO*DO*PLANEJAMENTO*TRIBUTÁRIO*EFICAZ*..........................*26!
3.1.! REQUISITOS!BÁSICOS!DE!LICITUDE!EM!SENTIDO!AMPLO!E!CRONOLÓGICO!...............................................!26!
3.2.! USO!DAS!FORMAS!JURÍDICAS!CORRETAS!.........................................................................................................!26!
3.3.! A!BUSCA!DO!SUBSTRATO!ECONÔMICO!COMO!ARGUMENTO!INCONTESTÁVEL!...........................................!27!
3.4.! A!QUESTÃO!DA!PROVA!J!A!IMPORTÂNCIA!DA!DOCUMENTAÇÃO!DO!SUBSTRATO!ECONÔMICO!...............!28!
3.5.! CONSIDERAÇÕES!FINAIS!.....................................................................................................................................!30!
REFERÊNCIAS*................................................................................................................................................*31!
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7
INTRODUÇÃO
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8
1
TORRES, Ricardo Lobo. Planejamento tributário elisão abusiva e evasão fiscal. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012,
p. 7 e 8.
2
CASTRO, Leonardo Freitas de Moraes e. Planejamento tributário internacional. São Paulo: Quartier Latin,
2015, p. 255.
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9
3
GRECO, Marco Aurélio. Planejamento Tributário. Sao Paulo: Dialética, 2011, p. 118.
4
TORRES, Ricardo Lobo. Planejamento tributário elisão abusiva e evasão fiscal. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012,
p. 12.
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10
Greco cita inicialmente três critérios clássicos para análise das condutas dos
contribuintes na busca da redução da carga tributária: critério cronológico, critério da licitude,
e o da não simulação (2011, p. 119). Cronológico, porque os atos que reduzem a carga
tributária devem ocorrer antes da ocorrência do fato gerador, ou seja, antes do nascimento da
obrigação tributária. Licitude, no sentido de que estes mesmos atos devem ser lícitos, o que
5
TORRES, Ricardo Lobo. Planejamento tributário elisão abusiva e evasão fiscal. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012,
p. 15.
6
Idem, ibidem.
7
Idem, ibidem, p. 16
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11
8
CASTRO, Leonardo Freitas de Moraes e. Planejamento tributário internacional. São Paulo: Quartier Latin,
2015, p. 250 e 251.
9
Como por exemplo, no Acórdão n. 104-21.675 da 4a Câmara do 1o. Conselho de Contribuintes do Ministério
da Fazenda, proferido na Sessão de 22/06/2006, Relator Nelson Mallmann, ementa obtida no sítio
www.carf.fazenda.gov.br, acessado em 28/01/2016.
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que a simples concordância com a letra da lei não é suficiente para embasar uma economia
tributária válida.
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13
10
Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e
na forma. § 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a
pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II - contiverem declaração, confissão,
condição ou cláusula não verdadeira; III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.
11
XAVIER, Alberto.Tipicidade da tributação, simulação e norma antielisiva. São Paulo: Dialética, 2001, p. 53
e 54.
12
CASTRO, Leonardo Freitas de Moraes e. Planejamento tributário internacional. São Paulo: Quartier Latin,
2015, p. 281; YAMASHITA, Douglas. Elisão e Evasão de tributos – planejamento tributário: limites à luz do
abuso de direito e da fraude à lei. São Paulo: Lex, 2005, pp 301 e ss.; e PEREIRA, Caio Mário da Silva.
Instituições de Direito Civil. Vol. I, Rio de Janeiro: Forense, 2004, p 636.
13
Art. 116. Salvo disposição de lei em contrário, considera-se ocorrido o fato gerador e existentes os seus
efeitos: I - tratando-se de situação de fato, desde o momento em que o se verifiquem as circunstâncias materiais
necessárias a que produza os efeitos que normalmente lhe são próprios; II – tratando-se de situação jurídica,
desde o momento em que esteja definitivamente constituída, nos termos de direito aplicável. Parágrafo único. A
autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de
dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação
tributária, observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária. (incluído pela LC n. 104, de
2001).
14
Esta posição não é unânime na doutrina, como veremos mais adiante.
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14
Lei 9.430/96
Lei 4.502/94
15
TORRES, Ricardo Lobo. Planejamento tributário elisão abusiva e evasão fiscal. Rio de Janeiro: Elsevier,
2012, p. 127.
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15
Art . 73. Conluio é o ajuste doloso entre duas ou mais pessoas naturais ou
jurídicas, visando qualquer dos efeitos referidos nos arts. 71 e 72. (grifo
nosso)
Tem origem no mesmo leading case que serviu de base à teoria da substância
sobre a forma. De acordo com esta teoria, a economia de tributos não pode ser o único motivo
para a estruturação das operações. Há de se ter um motivo adicional, operacional, econômico
ou mercadológico para o planejamento, que traga também uma economia na carga tributária.
Esta teoria não foi positivada no Brasil. Havendo artificialidade, ou seja, se a
situação for considerada simulação ou fraude, aí sim haverá consequências previstas no
16
Como por exemplo nos acórdãos no.s 1202-001.147, de 06/05/2014; 2302-003.729, de 15/06/2015; 1202-
001.147, de 08/06/2015; 9202-003.166, de 01/06/2015, apenas para citar os mais recentes. Disponíveis no sítio
www.carf.fazenda.gov.br, acessado em 28/01/2016.
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16
ordenamento jurídico. Em caso contrário, não há norma direta que autorize a sua
desconsideração somente por ter sido embasada em causa estritamente tributária. Grande
parte da doutrina entende que sua aplicação prejudica a segurança jurídica dos contribuintes e
decorre de importação de experiências estrangeiras que não se aplicam ao Direito Brasileiro,
como Gerd Willi Rothmann, Luis Eduardo Schoueri, João Dácio Rolim, Gustavo Lian
Haddad e Paulo Ayres Barreto (apud, Castro, 2015, pp. 270 e 271).
Ainda assim, veremos que há jurisprudência administrativa em sentido contrário,
e que o teste do business purpose, combinado com outros critérios, condições necessárias mas
não suficientes, auxiliam na elaboração de um planejamento tributário legítimo e eficaz.
Esta teoria do abuso de direito tem origem no Direito francês. É figura típica de
Direito Privado, com origem no Direito Civil. Considerando que o exercício de um direito não
17
GRECO, Marco Aurélio. Planejamento Tributário. Sao Paulo: Dialética, 2011, p. 284 e 285.
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é absoluto e ilimitado, sendo limitado pela observância dos direitos de esfera alheia, sua
prática não pode objetivar prejudicar outrem e deve observar estritamente estes limites. É um
princípio, geral, jurídico e moral.
No campo civil, consta no artigo 187 do novo Código Civil, com eficácia a partir
de 2003, e se coaduna com o disposto no artigo 421, 18 que trata dos limites da liberdade de
contratar.19
Segundo Marco Aurélio Greco, “abuso de direito não é apenas um caso de
inoponilibilidade perante o Fisco, é hipótese de ato ilícito que destrói um dos requisitos
indispensáveis para haver efetivo planejamento tributário.”(2011, p. 211). Defende este autor
que o direito de se auto-organizar existe, mas que o exercício deste direito é dependente de
uma razão extratributária, econômica, empresarial, familiar etc. que seja a causa fundamental
do negócio e que o justifique (idem, p. 216). Não pode ser um motivo predominantemente
fiscal.
Já Leonardo Castro entende que “o abuso no Direito Civil não pode ser
interpretado da mesma forma que no Direito Tributário.”(2015, p. 273). Defende que apesar
de o sistema jurídico ser uno, os diferentes ramos tem princípios próprios, e que o abuso de
direito, assim como abuso de forma, a teoria do propósito negocial e a da substância sobre a
forma, que vimos serem importadas do direito estrangeiro, não estão positivadas no âmbito da
legislação tributária nacional. Foram previstas nesta seara, para demonstração da diferença de
tratamento, as hipóteses de dolo, fraude e simulação, com ampla e indiscutível aplicação.
A aceitação da aplicabilidade da teoria do abuso de direito como limitadora da
liberdade é bastante controversa, como se pode notar. Ricardo Lobo Torres, como já citamos
em outro ponto, chega a indicar o parágrafo único do artigo 116 do CTN como cláusula geral
antielisiva e positivação da proibição do abuso de direito em âmbito fiscal, que recepcionou o
modelo francês. Explica que o abuso do direito no direito privado remete aos contratos, e
portanto à proteção dos direitos dos indivíduos perante outros; já no direito tributário busca
“proteger dos interesses do Estado frente à liberdade do contribuinte de utilizar as formas
jurídicas que eleja para desenvolver as suas atividades produtoras de renda”.20
Nota-se que a aceitação do abuso de direito como limitador da liberdade, e sua
aplicação em um campo do direito onde impera a legalidade e a tipicidade, e onde é vedada a
18
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os
limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
19
Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.
20
TORRES, Ricardo Lobo. Planejamento tributário elisão abusiva e evasão fiscal. Rio de Janeiro: Elsevier,
2012, p. 21, 22, 54 e 55.
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18
A figura da elusão fiscal é originária da Itália, onde foi positivada. Prevê como
requisito para a obtenção de vantagens fiscais a existência de outra causa econômica que não
exclusivamente a economia tributária.24
Este novo conceito que surgiu na doutrina pátria e estrangeira busca solucionar os
pontos não cobertos pela simples distinção entre elisão e evasão.25 Segundo este conceito,
21
XAVIER, Alberto.Tipicidade da tributação, simulação e norma antielisiva. São Paulo: Dialética, 2001, p. 107
e 109.
22
TORRES, Ricardo Lobo. Planejamento tributário elisão abusiva e evasão fiscal. Rio de Janeiro: Elsevier,
2012, p. 23.
23
Acórdão 2202-002.187, Decisão publicada em 01/06/2015. DIREITO TRIBUTÁRIO. ABUSO DE DIREITO.
AFASTAMENTO DA NÃO INCIDÊNCIA PELA AUTORIDADE FISCAL. LANÇAMENTO. FALTA DE
PREVISÃO LEGAL. Não há base no sistema jurídico brasileiro para a autoridade fiscal afastar a não incidência
legal, sob a alegação de entender estar havendo abuso de direito. O conceito de abuso de direito é louvável e
aplicado pela Justiça para solução de alguns litígios. Não existe previsão legal para autoridade fiscal utilizar tal
conceito para efetuar lançamentos de oficio. O lançamento é vinculado a lei, que não pode ser afastada sob
alegações subjetivas de abuso de direito. Ementa obtida no sítio www.carf.fazenda.gov.br, acessado em
28/01/2016.
24
CASTRO, Leonardo Freitas de Moraes e. Planejamento tributário internacional. São Paulo: Quartier Latin,
2015, p. 248.
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19
exige-se também que haja uma causa legítima para a escolha das condutas. Pela importância
do tema, cabe destacar a definição de Heleno Torres:
Embora este terceiro conceito não resolva todos os casos, auxilia no objetivo de
análise e identificação do que é admitido ou não como legítimo em sede de planejamento
tributário. Heleno Torres entende que a carência de causa ou quando o negócio aparente
(simulado ou fraudulento) houver sido programado dolosamente para evitar lei cogente, o
exercício da autonomia privada é ilegítimo (2003, p. 17). O autor defende ainda que o
parágrafo único do artigo 116 do CTN seria uma “norma geral antielusiva”, consagrando a
elusão tributária no nosso ordenamento (2003, p. 259).
Alterado pela LC 104/2001, o artigo 116 do CTN passou a ser assim redigido:
25
CASTRO, Leonardo Freitas de Moraes e. Planejamento tributário internacional. São Paulo: Quartier Latin,
2015, p. 250 e 251.
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20
antidissimulação ou antifraude (2015, p. 289). Ricardo Lobo Torres defende que se trata de
clara norma antiabuso de direito e cláusula geral antielisiva (2012, p. 21, 22 e 54), seja, que
recepcionou o modelo francês (Idem, p. 52). Explica que a referência à dissimular refere-se
ao fato gerador abstrato, o que caracteriza a elisão, e não ao fato concreto, do qual trata o
institulo da simulação (idem, p. 50).
Quanto à imediata aplicabilidade, Ricardo Lobo Torres entende que depende
normas de caráter procedimental para ser aplicado somente nos âmbitos estaduais e
municipais, caso não possuam legislação sobre o processo administrativo tributário, o que não
é o caso da União, que já o disciplinou (2012, p. 52). Mais controversa é opinião do mesmo
autor ao declarar que este dispositivo é uma exceção à proibição da analogia, prevista no
artigo 108 do CTN (idem, p. 55).
Este é justamente um dos pontos defendidos com ênfase por Alberto Xavier: a
proibição da analogia em âmbito tributário, e, referindo-se a Klaus Tipke, defensor da teoria
do abuso de direito, diz que “legitimar a analogia agravante representa um grave retrocesso na
ciência do Direito Tributário”.26
Já Marco Aurélio Greco declara que “a vedação da analogia, no que se refere à
amplitude da previsão do fato gerador, continua intacta”. Isso porque entende que da
aplicação da nova norma decorre apenas o afastamento da cobertura que disfarça, dissimula o
fato gerador efetivamente ocorrido (2011, p. 552 e 553).
Acerca das figuras ou patologias abrangidas pelo termo dissimular, Greco afirma
que o abuso de direito, a fraude à lei e o negócio indireto, a depender da situação fática,
podem ser considerados por si só ilícitos, e não necessitariam do dispositivo (2011, p. 556 e
557).
A jurisprudência administrativa tem utilizado amplamente o dispositivo no caso
de simulação, mas também em quaisquer casos de elisão abusiva, inclusive falta de causa
extratributária e ausência de propósito negocial. 27
26
XAVIER, Alberto.Tipicidade da tributação, simulação e norma antielisiva. São Paulo: Dialética, 2001, p. 106.
27
A jurisprudência no CARF é pródiga. Cite-se como por exemplo os acórdãos no. 2302-003.729, de
15/06/2015; 1103-000.862, de 24/09/2015; 2302-003.729, de 15/06/2015; 2302-003.729, de 20/03/2015.
Disponíveis no sítio www.carf.fazenda.gov.br, acessado em 16/02/2016.
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21
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22
As duas decisões seguintes, embora com cinco anos de diferença, trazem de forma
idêntica a dupla exigência de legalidade e legitimidade do conjunto de operações visto como
um todo, e da não legitimidade da utilização de formas inusuais ou atípicas. Declaram que a
motivação extratributária é um requisito para o exercício da liberdade de auto-organização,
decorrente dos princípios constitucionais.
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23
Esta decisão, bastante recente, demonstra mais uma vez que a motivação
extratributária é necessária, ao declarar improcedente um lançamento de ofício onde ela
estava presente. No caso em questão havia múltiplos caminhos possíveis, e o contribuinte
escolheu o menos oneroso do ponto de vista tributário, o que é até mesmo um dever do
administrador. A reorganização societária ocorreu de fato, e teve um motivo operacional
legítimo, o que demonstra a presença do substrato econômico, uma “motivação empresarial
extratributária”.
Já nas duas próximas decisões vê-se o oposto: a falta de propósito negocial revela
o “objetivo exclusivamente tributário”e acarreta a inoponibilidade do planejamento, que “não
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24
produz o efeito tributário almejado pelo sujeito passivo”. Note-se que apesar de haver oito
anos de diferença entre as decisões, a posição da jurisprudência administrativa se manteve
consistente.
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25
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26
Greco aponta indicadores que devem ser observados quando houver um conjunto
de condutas, para verificação da existência de um planejamento tributário (2011, p. 126 e
126). Estes indicadores podem ser entendidos também como pontos a serem observados pelo
contribuinte quando procura legitimar suas condutas na busca da economia de tributos, e
vimos na análise da jurisprudência no capítulo 2 que tem sido exigidos pelos julgadores
administrativos, isolados ou cumulativamente. São eles: (a) encadeamento de etapas, sendo
que uma só ocorre se a outra ocorrer, e a anterior é o pressuposto legal ou de fato da posterior;
(b) inexorabilidade da sequência, no sentido de que cada etapa só tem importância dentro do
todo; (c) não celebração de negócios intermediários com terceiros, pois só interessa a
realização com determinadas pessoas e de determinada forma; (d) uso de institutos em
hibernação, utilizando formas jurídicas atípicas, inusuais ou até inadequadas, sem
justificativa; e (e) a neutralização de efeitos indesejáveis, de forma a obter somente os efeitos
da economia tributária. Este último é bastante indicativo da existência de um plano sem causa
extratributária, e que pode gerar desconfiança e contestações por parte do fisco. Poderia até
justificar o enquadramento das operações como elusão tributária, no conceito de Heleno
Torres, denotando a falta de propósito negocial, em última análise, do substrato econômico.
A utilização de formas anômalas, em uma análise ampla das operações,
considerando todo o conjunto juntamente com seus efeitos perante o contribuinte e terceiros,
Original
27
pode configurar até mesmo a existência de simulação ou dissimulação. A realidade fática das
relações e intenções deve estar conforme a formalidade jurídica.
Este raciocínio indica que a utilização das formas corretas, usuais para o tipo de
negócio, com aceitação de todos os seus efeitos, e em perfeitas condições de mercado, devem
ser objetivos buscados e observados por quem elabora um planejamento fiscal que pretende
ser eficaz perante o fisco.
Original
28
28
SCHOUERI, Luís Eduardo (coord.); FREITAS, Rodrigo de (org.). Planejamento Tributário e o “Propósito
Negocial” – Mapeamento de Decisões do Conselho de Contribuintes de 2002 a 2008. São Paulo: Quartier Latin,
2010, p. 19.
29
Os países assim considerados estão listados na IN 1.37, de 04 de junho de 2010, disponível em
http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?visao=anotado&idAto=16002, acesso em
19/02/2016.
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29
produção incumbe ao Fisco, na elisão abusiva discute-se questão de direito e não se abre a
instância de prova, tudo ocorrendo em grande parte em sede de argumentação jurídica.30
Apesar de o ônus da prova ser do fisco, tanto em plano fático quanto jurídico, e
considerando nossas conclusões no sentido de que a reorganização, ou as operações levadas a
efeito pelo contribuinte e que culminaram em uma carga tributária menos onerosa devem ter
uma razão de ser, um motivo e uma finalidade que não seja predominantemente fiscal, deve-
se ter o cuidado de documentar este motivo e assim reforçar os alicerces que impedirão o
questionamento, evitando assim o oneroso litígio.
Há de se ter em mente que a discussão não mais reside em sede de licitude ou
ilicitude, mas em oponibilidade versus inoponibilidade dos seus efeitos tributários ao Fisco.
Assim, ainda que os atos sejam considerados lícitos, o que se faz necessária é documentação
do substrato econômico, seja qual for a sua natureza.
O que se quer provar não é apenas a ocorrência do fato, mas que as condutas tem
uma razão de ser que não a economia fiscal, e que estão de acordo com os documentos do
negócio, e mais, a qualificação jurídica do fato em si, sobre a qual pode haver divergência.
Esta valoração passa pela análise da conduta sob a ótica do contexto da época, em suas
dimensões econômica, política, social, empresarial, de concorrência etc (Greco, 2011, p. 532).
Na busca da prova do motivo extratributário, deve-se demonstrar o ganho obtido,
também extratributário. Sendo um ganho mercadológico, deve-se documentar os estudos
feitos que à época que indicavam a possibilidade deste ganho. Note-se que o ganho pode não
se efetivar, na prática, mas basta que exista a sua expectativa para justificar o planejamento
adotado. Se o motivo encerra uma razão de ordem operacional, devem ser documentadas
todas as opções da época, de forma a ser claramente demonstrado a vantagem buscada sob
este aspecto.
Considerando que o ordinário se presume, e o extraordinário se prova, e portanto
a ausência de propósito negocial, que indica ausência também de substrato econômico nas
operações, deve ser provada pelo fisco para contestar o planejamento e assim desconsiderar
negócios jurídicos anulando seus efeitos tributários benéficos ao contribuinte. Esta prova é
feita por indícios, os quais indicamos no item 3.3 supra, identificados na jurisprudência
administrativa.
30
TORRES, Ricardo Lobo. Planejamento tributário elisão abusiva e evasão fiscal. Rio de Janeiro: Elsevier,
2012, p. 130.
Original
30
31
Acórdão 104-21675, Relator Nelson Mallmann. Decisão publicada em 22/06/2006. Disponível no sítio
www.carf.fazenda.gov.br, acessado em 24/02/2016.
Original
31
REFERÊNCIAS
DERZI, Misabel Abreu Machado. O direito à economia de imposto – seus limites (estudo
de caso). In Yamashita, Douglas (coord.). Planejamento tributário à luz da
jurisprudência. São Paulo: Lex Editora, 2007.
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Vol. I, Rio de Janeiro:
Forense, 2004.
REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. São Paulo, Saraiva, 2004, p. 64 e 65.
Original