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Universidade Federal do Pará: Faculdade de Direito

Professor: Victor Sales Pinheiro


Disciplina: Teoria do Direito
Discente: Maria Fernanda Souza Martins

RESUMO “INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DO DIREITO- PRIMEIRO MÓDULO”

CAPÍTULO 1: O CONCEITO DO DIREITO


Na tentativa de conceituar o vocábulo “direito”, torna-se necessário examinar as
suas origens. Assim, ao estuda-lo como ciência, a epistemologia jurídica preocupa-se em
examinar sua definição, o lugar que ele ocupa no conjunto das ciências, bem como a
natureza de seu objeto.
Conceituar o direito é o mesmo que defini-lo. Dessa forma, ao abordarmos o campo
da definição podemos inferir que existem dois tipos: a definição nominal e a definição
formal. A definição nominal consiste em dizer o significado de uma palavra, ao passo que
a definição real preocupa-se com sua representação na realidade.
O estudo da definição nominal do direito nos permite relaciona-lo com um conjunto
de palavras na língua moderna, o qual pode ser representado pelos vocábulos: jurídico,
jurisconsulto, judicial, judiciário, jurisprudência, entre outras.
Além disso, a partir desse campo torna-se possível perceber a herança deixada
pelos romanos ao direito contemporâneo no que condiz o ponto de vista prático. Entretanto,
pouco percebe-se algo que nos ligue juridicamente à Grécia, que foi importantíssima aos
demais campos do conhecimento, como a filosofia, a arte e as ciências especulativas.
No que se refere ao campo de definição formal, é possível atribuir ao direito uma
pluralidade de significações, desse modo percebemos o direito enquanto norma (regra
social obrigatória), faculdade (prerrogativa que o estado tem de criar leis), Justo (aquilo que
é devido por justiça), como ciência (a ciência do direito) ou como fato social (setor da
sociedade)
O direito enquanto norma é diretamente relacionado à perspectiva jurídica- filosófica
positivista, visto que para essa seu fundamento deve estar atrelado somente ao viés
normativo, garantindo segurança, impessoalidade e igualdade que apenas a teoria pura do
direito (desvinculada de preceitos morais) é capaz de possibilitar. Além disso, é indiscutível
que os princípios naturais servem de base à ciência positiva, assim para cada norma do
direito positivo existe uma correspondente dentro do direito natural
Distinção semelhante devemos estabelecer em relação ao direito estatal e não-
estatal. O estatal, presume a existência de normas elaboradas pelo Estado e é,
indubitavelmente, aplicado ao direito. Todavia, existem outras normas obrigatórias
formadas por grupos sociais diversos e que, de certa forma, regulam suas atividades
internas (direito autônomo).
O direito faculdade é, em resumo, o poder de uma pessoa individual ou coletiva, em
relação a determinado objeto, podendo esse estar atrelado a uma função (direito função)
ou fundamentado em benefício do titular
O direito como fundamento da justiça, por sua vez, relaciona-se ao que é devido a
alguém, ou seja, à acepção de justo. Dessa forma, é possível dividi-lo em exigência da
justiça (normativa) ou de maneira qualitativa, segundo preceitos morais de certo e errado.
Num plano diferente dos demais, a palavra ciência é com frequência empregada
para referir-se à ciência do direito, dessa forma é possível formar-se em direito, doutor ou
bacharel em direito.
Por fim, o direito é tido também como um fato social e deve ser estudado
sociologicamente como um setor da vida em comunidade, independente da sua acepção
como norma, faculdade, ciência ou justo, dentro do que denomina-se Sociologia do Direito.
Diante disso, percebe-se que a palavra direito engloba distintas realidades, o que
justifica a classificação do vocábulo “direito” como um termo análogo. Nesse sentido, os
termos análogos podem ser classificados em três categorias diferentes: a analogia de
proporção (realidades distintas que se associam por uma relação de proporcionalidade), a
analogia intrínseca ou de proporção (realidades dependentes entre si, portanto há um
tempo principal e um secundário) e a analogia metafórica (termo objetivo de significação
direta e própria relacionado a um termo figurado).
Logo, é notório entre as correntes jurídicas e entre os autores a curiosidade sobre
o sentido principal do direito entre as concepções reais expostas, ou seja, cria-se um
debate em torno do primeiro analogado.

CAPÍTULO 2: O PROBLEMA DA CLASSIFICAÇÂO DAS CIÊNCIAS


Ao classificar o direito como ciência, urge a necessidade de enquadra-lo dentro de
uma categoria especifica. Nesse sentido, surgem diversas maneiras de classificar a ciência
do direito. Destaca-se, portanto, a classificação como teórica ou prática, além da divisão
existente em ciência natural, formal ou cultural.
Dentro dessa temática vale pontuar a divisão das ciências para Augusto Comte
(1798-1857), segundo a qual se baseia em critérios crescentes de complexidade e
decrescente de generalidade, para Comte a sociologia enquadra-se como a mais complexa
das ciências e menos geral, afinal aplica-se somente à vida social- dentro dessa análise
enquadra-se a ciência do direito dentro da física social
Sob outra perspectiva, Dilthey (1833-1911) distingue duas espécies fundamentais
de ciências, as ciências da natureza e as ciências humanas- ramo em que,
indiscutivelmente, situa-se o direito.
É fato que para situar o direito no conjunto dos conhecimentos humanos e fixar sua
posição dentro da realidade universal, deve-se recorrer a uma noção de ordem
(organização), afinal essa torna-se fundamental a todas as ciências, principalmente no que
condiz a investigação dos diversos aspectos universais.
A partir dessa análise, é mister o estudo das espécies de ordens, visto que a ordem
que rege o movimento dos astros, por exemplo, não tem a mesma natureza da ordem que
existe na vida social. Assim entre os tipos de ordens destaca-se: a ordem teórica-em que
a razão apenas considera ou contempla- e a ordem pratica ou normativa- que indica o agir
humano.
A esses aspectos fundamentais da ordem universal corresponde a famosa
classificação das ciências de Aristóteles, que as define, inicialmente, a partir da distinção
entre as ciência teórica (tem finalidade no próprio conhecimento) e a ciência prática (são
as que conhecem para dirigir a ação)
A classificação supracitada nos permite distinguir diversas acepções do vocábulo
“ciência”, que é usado em pelo menos três sentidos diferentes: Conhecimento pela causa
(caracteriza o conhecimento que chegue à causa dos fenômenos como científico),
conhecimento teórico (refere-se somente às ciências teóricas ou puras) e o conhecimento
físico ou matemático (estende-se somente às ciências naturais de tipos teóricos ou
matemáticos).
Em última análise, cada um desses tipos ou categorias de ciências corresponde a
um critério ou valor fundamental, entre os quais se destacam a verdade e o bem/belo/útil.

CAPÍTULO 3: O DIREITO NO QUADRO DAS CIÊNCIAS

3.1- A teoria no direito


Ao abordar o direito no quadro das ciências, é mister salientar que existe
inegavelmente uma teoria do direito, visto que quaisquer instituições jurídicas podem ser
estudadas teoricamente. Nesse sentido, para estudar teoricamente o direito, o jurista deve
levar em conta os fatos resultantes das relações sociais, que são a própria matéria do
direito. A teoria do direito, portanto, procura responder unicamente a pergunta: o que é o
direito? A qual nos permite distinguir as grades orientações teóricas, como o Naturalismo
Jurídico, o formalismo Jurídico e o Culturalismo Jurídico.
O Naturalismo Jurídico, em primeira análise, reduz o direito a uma realidade
exclusivamente natural ou física, dentro dessa concepção percebe-se o direito como
simples fenômeno natural. Assim, as correntes naturalistas apresentam diferentes
tendências, que divergem na caracterização da realidade jurídica e social. Nessa
perspectiva, destaca-se as correntes fisicistas (reduzem a realidade a fenômenos
propriamente físicos), as correntes biologistas (procuram reduzir a realidade social a
elementos de ordem biológica) e as correntes psicológicas (explicam a vida social através
de fenômenos psicológicos).
O formalismo jurídico, por sua vez, busca analisar o direito dentro de um viés de
pura norma, o objeto da ciência jurídica é, portanto, conhecer normas e não prescreve-las.
Desse modo, ao jurista não interessa o conteúdo ou o valor das normas (moral), mas
apenas sua vinculação formal ao sistema normativo, visto que essa categoria do direito
tem o caráter puramente formal.
Outra, é a perspectiva em que se colocam as concepções cultura listas. Dentro
dessa, deve-se distinguir a ciência do direito (ciência cultural ou humana) das ciências
naturais, entendendo a primeira como responsável pelo espírito humano e pelas
transformações que esse introduz na natureza, as quais constituem os objetos culturais.
Desse modo, entende-se o direito como um objeto cultural com um suporte (objeto físico
ou a própria conduta humana) e com uma significação.
3.2- A técnica no direito
A ciência técnica consiste em fazer “corretamente”, desse modo é inegável a
existência de campos técnicos no campo do direito, entre os quais se destaca: a técnica
legislativa (feitura das leis), a hermenêutica jurídica (interpretação das leis), a técnica de
aplicação (enquadro do direito em um caso concreto na regra ou norma jurídica adequada)
e a técnica processual (meios para conduzir uma ação em juízo). Em todos esses aspectos,
a atividade jurídica técnica se caracteriza como um conjunto de normas destinadas a
efetiva realização do direito no campo social.
Para os autores que consideram todo o direito como uma técnica atribui-se
tecnicismo e elava-se o direito dentro de uma elevada concepção ética. Sob outra
perspectiva, as doutrinas utilitaristas negam ao direito um fundamento ético ou moral e
reduzem a justiça à unidade. Assim, torna-se válido destacar, também, o pragmatismo e o
critério de eficácia para qualquer conhecimento.
Por fim, avalia-se o direito como uma ciência estética, afinal percebe-se
notoriamente os meios materiais de expressão utilizados e dotados de determinada
valoração estética.
3.3- A ética e o direito- direito como ciência normativa ética
Dentro dessa perspectiva, busca-se situar a posição do direito no quadro das
ciências. Pode-se, portanto, caracteriza-lo como uma ciência normativa ética (do agir) com
a finalidade de dirigir a conduta humana na vida social.
O objeto dessa ciência pode ser dividido em material- setor da realidade que se
ocupa- e formal- aspecto pelo qual a ciência considera ou estuda esse setor. Dessa forma,
estuda-se a atividade humana com o intuito de ordena-la ou dirigi-la no sentido do bem,
seja esse pessoal ou comum.
Ao caracterizar o direito como uma ciência ética (moral em sentido amplo) é
importante diferencia-lo da moral (em sentido estrito), afinal nem tudo que lícito é honesto.
O direito constitui uma ética objetiva, ao passo que a moral caracteriza-se por ser subjetiva
Assim, enquanto meio de análise da ação humana, o direito utiliza-se do
fundamento da justiça em acepção ampla, que implica os preceitos de não prejudicar a
ninguém e de dar a cada um o que é seu, além da atividade constante de estabelecer entre
os interesses em conflito o mais profundo equilíbrio.

CAPÍTULO 4: VISÃO CONJUNTA DA CIÊNCIA DO DIREITO


Situado no conjunto das ciências humanas torna-se necessário uma visão do direito
conjunta da ordem jurídica. Assim pode-se examinar o quadro atual das ciências jurídicas,
bem como a tradicional divisão do direito em público e privado.
Em primeira análise, é possível citar a Epistemologia jurídica (estudo das
características e do método de cada ciência), Axiologia jurídica (deontologia ou, também,
estudo dos valores jurídicos), Dogmática jurídica (estudo dos sistemas das normas) Teoria
dos direitos subjetivos (direito como poder oriundo de uma regra) e a Sociologia jurídica
(estudo do fenômeno jurídico como um fato social). Desse modo, o conteúdo do curso de
introdução à ciência do direito desdobra-se dentro das perspectivas supracitadas em:
filosofia do direito, ciência do direito e sociologia do direito.
Assim, embora o estudo das normas e dos direitos subjetivos tenha maior
concentração de interesse do ponto de vista prático, é fato que deve ser estudado e
valorizado, o conhecimento da natureza da ciência, os valores e a realidade jurídico-social
que é a própria vida do direito, definindo assim o tríplice aspecto do curso de introdução a
essa ciência jurídica, filosófica e sociológica.
Sob outra perspectiva, o direito pode ser dividido tradicionalmente entre público
(relação do estado com sociedade) e direito privado (relação dos particulares entre si)
Em relação ao direito público percebe-se a regulação da organização e da atividade
do Estado: Em si mesmo (direito constitucional), em suas relações com os particulares
(direito tributário) e em suas relações com outros Estados (direito internacional público).
Vale pontuar que por Estado em sentido amplo devemos considerar o Poder Público, as
autarquias e as organizações, tal qual a ONU.
Por particulares entende-se as pessoas físicas e naturais, as instituições ou
entidades particulares e o próprio Estado em condições especiais, quando participa, por
exemplo, de uma transação jurídica na qualidade de um particular (contrato locacional).
Ao abordar o direito privado é possível dividi-lo em comum ou especial, O direito
civil(comum) rege a relação entre particulares e desse, em virtude do desenvolvimento da
atividade comercial, da revolução industrial e dos movimentos migratórios no plano
internacional é que foram construindo-se ramos autônomos (especiais): direito comercial
(disciplinante dentro da atividade comercial), o direito do trabalho (regulador das relações
de emprego e protetor da pessoa na condição de trabalhador) e o direito internacional
privado (responsável pela relação entre os particulares no seio da sociedade internacional).
Essa divisão, entretanto, não se caracteriza como rígida e definitiva, o direito do
trabalho, por exemplo, em razão da forte atuação do Estado pode ser considerado um ramo
do direito público. Em resumo, essa classificação apresenta caráter, sobretudo, histórico e
prático, o que permite e comprova a rejeição de muitos autores.

RESUMO “INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DO DIREITO- SEGUNDO MÓDULO”

CAPÍTULO 5: O CONCEITO DE JUSTIÇA


Entendido o direito como uma ciência normativa e a estrutura lógica de toda
proposição jurídica como um dever-ser, percebe-se que a pedra angular de todo o edifício
jurídico é, indiscutivelmente, a noção do justo e os princípios correspondente a esse valor.
Nesse sentido, surge a necessidade de estudar a justiça (axiologia jurídica)
Dentre as diversas perspectivas de estudo do direito destaca-se nesse momento a
modalidade de considerar o direito como exigência da justiça e, portanto, podemos atribuir
ao direito a expressão clássica: “dar a cada um o seu direito”
Assim urge a necessidade de analisar até que ponto o direito mostra-se justo, para
a maioria dos autores positivistas, por exemplo, o direito resume-se a uma imposição de
força social e a justiça é considerada um elemento estranho à sua composição.
Ao analisar a justiça, é fato sua variedade de significações. Contudo, pode-se
destacar duas fundamentais: uma subjetiva (qualidade da pessoa, como virtude) e outra
objetiva (qualidade da ordem social, da justiça de uma lei ou instituição), que embora sejam
distintas são associadas por possuírem a mesma realidade, visto que a partir da virtude
humana, os fins da justiça aplicada a sociedade poderão ser normalmente atingidos.
No fundamento subjetivo a justiça pode ser classificada no sentido latíssimo
(equiparada ao santo), no sentido lado (conjunto das virtudes de convivência) e no sentido
próprio ou estrito (essência que permite dar a alguém o que lhe é devido a partir da
igualdade).
Como características fundamentais da justiça é possível destacar a pluralidade das
pessoas e a moralidade, afinal esse valor consiste, essencialmente, no reconhecimento
prático que o homem faz da dignidade dos demais homens.
Além disso, é fato que o devido ter caráter de rigorosa obrigatoriedade
(exigibilidade). Dentro dessa perspectiva, realiza-se sua divisão em legal- presente em
normas de garantia e dotadas de atributividade e moral- presente em normas de
aperfeiçoamento.
Outro ponto essencial à uma relação de justiça é o princípio da igualdade, pois não
existe justiça sem que haja essa proporção fixada objetivamente e, logo, o respeito à
dignidade humana. Assim, a igualdade consiste numa relação de conformidade quanto à
quantidade que não limita-se ao sentido material (matemático), uma vez que quantidade
de que se trata no direito é a moral.
Enquanto base das relações, a igualdade pode ser simples (absoluta) ou
proporcional (relativa e referente à distribuição dos benefícios e encargos). A partir dessa
concepção surge a definição de justiça particular, podendo essa ser comutativa- entre os
particulares ou distributiva- entre o Estado e os particulares, e de justiça social, que se
refere aos deveres que devem ser prestados pelos membros da comunidade.
Em última análise é mister destacar as virtudes anexas à justiça, como a gratidão,
a veracidade, o respeito final e outras, que, embora não sejam consideradas justiça, por
não atenderem o critério inerente a essa relação, são essenciais à vida em sociedade

CAPÍTULO 6: A JUSTIÇA COMUTATIVA


Essa justiça se caracteriza pela relação entre particulares, podendo também ser
identificada como a justiça dos contrato. Assim, na justiça comutativa a pluralidade de
pessoas mostra-se presente sob a forma dos particulares, o debitum se apresenta como
um devido, rigoroso e estrito e a igualdade é simples ou absoluta. Seu objetivo é,
sobretudo, retificar a igualdade entre os sujeitos supracitados.
Nesse sentido, é importante salientar que essa justiça rege todas as relações de
particular a particular, pode-se, portanto, definir como regidos: as pessoas físicas, as
pessoas jurídicas, o Estado como particular e os Estados na comunidade internacional.
Ao estudar o devido dentro dessa perspectiva de justiça, tona-se fundamental
analisar sua natureza e sua extensão. Enquanto parte da justiça comutativa esse devido é
mais rigoroso, afinal se trata daquilo que deve ser assegurado porque é próprio da pessoa.
Diferente do bem comum- que é distribuído pois pertence “de certa forma” ao conjunto
populacional- o bem próprio é devido a pessoa em sentido direto e próprio.
Embora seja definida como a justiça dos contratos, seu campo de atuação e bem
mais amplo. O devido, desse modo, pode ser apresentado sob duas modalidades
fundamentais: como respeito a personalidade do próximo ou a partir do cumprimento de
obrigações positivas
O respeito à pessoa deve ser entendido numa concepção de dignidade moral e
integridade física, além do respeito à pessoa em sua projeção externa, como atividades de
trabalho, em obras materiais e intelectuais realizadas e nos bens adquiridos legitimamente.
O cumprimento das obrigações, por sua vez, precisa ser estudado como um viés relativo à
prestação de serviços, à entrega de mercadorias e, inquestionavelmente, ao pagamento
de uma importância.
Dessa forma, essas obrigações podem ter sua origem: em um contrato (obrigações
contratuais), em uma declaração unilateral de vontade, em um delito ou ato ilícito, em uma
imposição de lei (obrigações legais) ou em uma simples exigência da natureza ou da
equidade. Em comum a todos esses casos, a obrigação tem por objeto uma prestação
positiva e tanto o sujeito ativo como o sujeito passivo são pessoas determinadas.
A igualdade mostra-se, inquestionavelmente, como finalidade da justiça comutativa,
podendo ser classificada como uma igualdade simples que busca, anulando a situação das
pessoas envolvidas, estabelecer uma equivalência entre duas coisas. Por fim, torna-se
necessário pontuar que a cima da vontade das partes, a equivalência real deve ser
respeitada, apenas o consentimento não basta para garantir a justiça.
Essa situação, mostra-se presente, por exemplo, nas relações trabalhistas em que
observa-se a atuação do Estado no sentido de estabelecer uma série de exigências
mínimas compatíveis com a dignidade do homem que trabalha, reconhecendo que nem
tudo que é contratual é justo. Por isso, observa-se, também, teorias que consideram o
direito do trabalho como pertencente ao ramo do direito público.

CAPÍTULO 7: A JUSTIÇA DISTRIBUTIVA


Como as demais justiças, esse consiste essencialmente em dar a “outrem” o que
lhe é devido, com determinadas singularidades, afinal essa trata-se de uma justiça estrita
e particular, que impõe a quem reparte os bens (comunidade) a obrigação de fazê-lo
proporcionalmente à dignidade e aos méritos de cada um (membros).
Nesse sentido, essa relação entre a sociedade e os particulares gera um debate
em torno da pluralidade de sujeitos dentro dessa categoria e, consequentemente, da
possível distinção entre a sociedade e seus membros, o que leva o estudo da natureza da
comunidade a partir de teorias como a Teoria da Ficção (sociedade como mera ilusão),
Teoria organicista (sociedade como um organismo vivo) e a Teoria da instituição (homem
e sociedade como unidades reais e distintas).
Portanto, dentro da concepção que destaca a existência real da comunidade e dos
membros, embora natureza diversa, é possível notar a realidade simples da vida social: a
sociedade é uma pessoa moral ou jurídica e constitui uma unidade ou sujeito capaz de
direitos e de obrigações, da mesma forma que cada um de seus membros ou pessoas
físicas.
Sob outra perspectiva, é possível analisar a que espécie de sociedade aplica-se a
justiça distributiva. Destaca-se a compreensão da sociedade como extensão do Estado, ou
seja sociedades civil ou política, e a visão da sociedade como verdadeira instituição,
responsável pela administração e pela distribuição dos bens comuns.
Essa análise, portanto, possibilita o debate sobre quem são os particulares a que
se refere a justiça distributiva. Nessa condição, é fato que, enquanto membros de um
contexto social, poderão ser considerados particulares os indivíduos, as instituições
particulares e o Estado como membro, em sua acepção ampla.
O devido na justiça distributiva quer dizer, em resumo, a participação equitativa nos
benefícios sociais e, portanto, uma vida plenamente humana. Dentro dessa análise, deve-
se examinar a natureza (legal, estrito e exigível) e a extensão desse, dentro da perspectiva
que considera as diversas formas de distribuições (dever negativo, dever positivo e
repartição segundo um critério de igualdade proporcional). Além disso, diversas
perspectivas autorais colidem-se em relação a caracterização dos benefícios e encargos
enquanto devido no âmbito distributivo de justiça que está sendo debatido
Vale pontuar, também, a igualdade proporcional presente e os critérios da
proporcionalidade usados. Desse modo, é indiscutível que a justiça é sempre proporcional,
contudo os critérios variam de acordo a situação analisada e especialmente, conforme a
natureza do bem distribuído destacando-se a dignidade, a capacidade (de todos os
cidadãos), a capacidade e a necessidade, o trabalho e o bem comum medido pela
igualdade.
Numa perspectiva mais ampla relaciona-se à justiça distributiva os direitos e as
obrigações presentes nas relações familiares, nas relações empresariais- dentro da
relação entre o Estado e a empresa e entre a empresa e os contribuintes- e,
indiscutivelmente, é possível citar essa igualdade proporcional numa esfera internacional,
sendo dever dessa comunidade garantir a participação efetiva no bem comum em escala
mundial de todos os Estados.

CAPÍTULO 8
Essa concepção de justiça se resume a existência deveres dos cidadãos para com
a sociedade ou o bem comum. Desse modo, a justiça social terá de um lado os particulares
ou membros sociais (devedores) e de outro a sociedade (como credora), o devido é a
realização do bem comum, ou mais especificamente, a prestação de cada um para sua
efetiva realização e a igualdade que orienta é proporcional ou relativa.
Podendo ser denominada como Justiça legal, geral ou social, visto que esses
termos apresentam aspectos diferentes de mesma virtude, a pluralidade de pessoas
mostra-se dentro dessa relação a partir da diferenciação entre a sociedade- que é o
beneficiário ou pessoa moral- e o particular, que é a pessoa obrigada.
Ao abordar a sociedade, entende-se como beneficiaria toda e qualquer organização
que apresenta caraterística institucional. Além disso, a noção de particular estende-se a
todo e qualquer indivíduo (pessoa física ou jurídica) que em qualidade de membro tem
obrigação de dar a um coletivo social o que lhe é devido.
O devido no contexto debatido deve ser entendido em sentido estrito de dever
legalmente exigível (devido legal), abandonando desse modo a teoria individualista liberal
que considera as obrigações sociais como pertencente a moral, ou seja, a título de
liberdade ou assistência. Desse modo, os deveres são exigidos por lei e desassociam-se
da “boa vontade” individual, visto que são rigorosamente jurídicos e exigíveis.
A finalidade dessa modalidade de justiça e, também, das leis pode ser entendida
como o bem comum, o qual não deve ser entendido, somente, pela soma das vantagens e
dos benefícios oferecidos e pelo conjunto das leis, instituições, costumes e tradições de
cultura. Muito mais do que isso, o bem comum é a qualidade de vida inerente a população,
isto é, o necessário para atingir-se um viver dignamente humano.
Estruturalmente, o bem comum deve conter a participação equitativa de todos os
membros da comunidade, sem extinção de qualquer classe ou setor. Desse modo, sua
estrutura é caracterizada pelas relações de integração em que as consciências individuais
(do “eu” e do “ele”) abrem-se em uma nova unidade moral correspondente ao “nós” - que
indica com exatidão a participação de cada pessoa em prol da coletividade. É possível
dentro desse viés atribuir um caráter ao mesmo tempo pessoal e comunitário do bem
comum, afinal dentro de um bem definido como justo à comunidade deve-se destacar a
singularidade inerente a cada indivíduo.
A igualdade como pilar da justiça social é proporcional, nesse sentido, embora seja
essencial a todos arquitetar em prol do bem comum, é fato que essa responsabilidade é
proporcional à respectiva função e responsabilidade social, variando, também, conforme
as necessidades de cada comunidade. Entretanto, há também no vasto campo de atuação
dessa justiça- que abrange atos de todas as demais virtudes e suas espécies de igualdade
exigidas, inclusive a justiça comutativa e distributiva- situações regidas por igualdade
simples e absoluta.
No tocante a aplicabilidade significa, em resumo, considerar todas as modalidade
de atividade social para o bem comum. Dessa forma, destaca-se a Lei, que relaciona a
atividade do legislador, do administrados e do cidadão que a cumpre, a solidariedade
(consciência de cada homem, independente da determinação legal), a participação da
comunidade, a qual inclui o meio internacional.

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