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Apostila para Impressão
Apostila para Impressão
e Sapienciais
FABAPAR
F A C U L D A D E S B A T I S TA D O P A R A N Á
Reginaldo Pereira de Moraes e Mariana Maciel de Moraes
Curitiba
2020
© Os direitos de autoria e patrimônio são reservados ao(s) autor(es) da obra e às Faculdades
Batista do Paraná (FABAPAR). É expressamente proibida a reprodução total ou parcial desta
obra sem autorização da FABAPAR.
Atenção:
Sempre que você vir uma palavra colorida no meio do texto, clique sobre ela!
Sumário
Apresentação....................................................................................7
Prefácio ............................................................................................8
1. A Sabedoria em Israel e o Livro de Jó.........................................12
1.1 O sábio em Israel...................................................................................................... 12
Síntese do Capítulo...........................................................................40
2. A Praticidade da Vida em Provérbios e Eclesiastes...................42
2.1 A sabedoria prática em versos............................................................................ 42
Síntese do Capítulo...........................................................................67
3. A Poesia Hebraica em Uso nos Livros Poéticos.........................69
3.1 A poesia no Antigo Testamento.......................................................................... 69
Síntese do Capítulo...........................................................................127
Referências .......................................................................................128
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Apresentação
Sou o professor Reginaldo Pereira de Moraes. Possuo Graduação,
Mestrado e Doutorado em Teologia e tenho atuado como Pastor Auxiliar
desde 2003 e como docente desde 2004. Tenho escrito alguns artigos e
livros, dos quais destaco: “O Fantástico mundo dos fantoches”, “Introdução
ao hebraico”, “Introdução à Teologia do AT” e “Descanso em hebreus”.
Ando aprofundando os meus estudos na área bíblica e tenho procurado, a
cada dia, entender os desígnios de Deus para minha vida, a fim de ser um
instrumento d’Ele para abençoar aqueles que me assistem ou leem o que
eu escrevo. Também tenho tido o privilégio de ser abençoado por grande
parte dos alunos que passaram sob os meus cuidados.
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Prefácio
Este livro nasce da experiência dos debates acalorados em sala de
aula, em paralelo com o dia a dia no ministério pastoral, mais calmo, mas
nem por isso menos desafiador. Seu objetivo maior é servir de ferramenta
para o estudante da Bíblia poder interpretá-la de forma correta, em especial
quando sua mensagem é apresentada de forma poética e carregada de
características culturais bem distintas da nossa.
Por ser uma obra diferente, acaba sendo bem desafiadora. Não é
um livro com respostas pontuais e diretas, pois nosso maior objetivo é
apresentar o modo que o hebreu via o mundo. Isto porque, ao entender
um pouco sobre o que eles pensavam, fica mais fácil compreender como
oravam ou como se relacionavam.
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Nosso desejo é que você consiga ler este livro até o fim e, assim,
você possa conhecer um pouco mais deste estilo literário, tão fascinante
da Bíblia, a poesia.
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1. A Sabedoria em Israel
e o Livro de Jó
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Curiosidade
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com o tempo. Ou seja, algo que num primeiro momento era passado de
pai para filho, do ancião do clã ao patriarca da família, e depois passa a
ser ensinada nos portões da cidade, chega o momento em que começa a
evoluir em seu “profissionalismo” e também em sua forma de exposição.
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Curiosidade
Glossário
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Curiosidade
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De certo modo, isto ainda pode ser visto nos dias de hoje. Há
diferentes formas de sabedoria. Por exemplo: no programa de televisão:
“The final table”, o chef espanhol Andoni Luis Aduriz, um renomado
gênio da gastronomia mundial, conta como foi sua entrada neste meio.
Os pais estavam muito preocupados porque ele era um aluno com um
desempenho escolar baixíssimo. Muitos diriam até que era um menino
tolo. Com o avançar da idade, mais os pais se preocupavam: “o que
será desse menino quando crescer?”. Então tiveram uma ideia, talvez
consiga cozinhar. Assim Andoni Luis Aduriz foi matriculado na escola
de culinária e se desenvolveu de tal forma que depois de adulto, por 12
anos, seu restaurante foi considerado o melhor restaurante do mundo.
Quem diria que um jovem, que não possuía muita capacidade acadêmica,
conseguisse apresentar outra forma de mostrar sua maestria. Quando se
fala em genialidade, normalmente se pensa apenas de forma acadêmica
(escolar), mas isto não deve ser assim. Na verdade, nunca foi, embora
só recentemente os meios acadêmicos passaram a reconhecer esta
questão. Somente agora, em 1983, foi que Howard Gardner propôs a
teoria das inteligências múltiplas.
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Glossário
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Saiba Mais
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Glossário
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Por isso, assim como o hebreu possuía uma visão integral de si,
também possuía uma visão integral de sua vida. Consequentemente,
não dividia em dimensões (profissional ou pessoal, muito menos em
sagrado e profano, por exemplo). Desta forma, as leis entregues no Sinai
tratavam tanto de adoração a Deus, quanto de alimentação (Lv 11 e 17),
de higiene e saúde (Lv 12-15), de cuidados com relação à sexualidade (Lv
18) de relacionamentos profissionais ou sociais (Lv 19) e outros aspectos.
Como dito anteriormente, todo o viver humano deveria corresponder aos
desígnios divinos.
Prática
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Curiosidade
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modernos tem defendido uma data entre 600 e 400 a.C. Porém, segundo
Andersen (2008, p. 42,60), a partir de descobertas mais recentes, pode-se
dizer com certa segurança que a data de sua escrita precisa ser antes do
séc. VII a.C., pois dificilmente um judeu pós-exílico teria sido tão simplista
na explicação sobre a reunião celestial, narrada nos capítulos iniciais.
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Como você pode ter notado, além do capítulo 28, que tem sido
atribuído como um interlúdio, Zofar, o terceiro amigo de Jó, não fala na
terceira rodada de dialógo e Eliú aparece como interlocutor na rodada de
discursos. Estes detalhes têm levado alguns a considerarem que a base
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para o livro teria sido somente os três ciclos de diálogos iniciais e que tanto
o poema sobre a sabedoria e os três discursos teriam sido acrescentados
mais tarde. É bem pouco provável que o próprio Jó tenha composto
ou proferido o poema sobre a sabedoria, mas os demais, não há tanta
dificuldade assim para se crer numa estrutura inicial que abarque todo
o material poético. Mesmo porque, uma boa objeção a que o discurso
de Elíu teria sido de um período bem tardio, é a sintonia de sua temática,
quando comparada aos demais discursos dos outros amigos.
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Pode-se dizer com segurança que não houve nenhum “outro Jó” na
literatura da época. Há muito mais diferenças entre todas as hipóteses
levantadas do que semelhanças significativas. Com certeza, Jó não foi
o primeiro nem o último a trabalhar a temática sobre o sofrimento do
justo. Seu autor até poderia ter conhecimento das obras estrangeiras
sobre assuntos parecidos (se bem que é uma hipótese sem qualquer
chance de comprovação), mas não precisaria se valer de sabedoria
estrangeira para se chegar a tal conclusão. Definitivamente, o livro de Jó
é uma obra ímpar (DILLARD; LONGMAN III, 2006, p. 196). Corroborando
com isto, pode-se dizer que:
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Saiba Mais
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11Mas estende a mão agora e toca em tudo 5Estende a mão agora e toca-lhe nos ossos
que ele tem, e ele blasfemará contra ti na tua e na carne, e ele blasfemará contra ti na tua
face! face!
12Então o SENHOR respondeu a Satanás: 6”Então o SENHOR disse a Satanás: Ele está
Tudo o que ele tem está sob teu poder, sob teu poder; somente lhe poupa a vida.”
apenas não estendas a tua mão contra ele.
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O fato de ela ser mantida viva não significa que teria sido sábia. O
enfoque da trama toda era mostrar a integridade de Jó. Ela entra apenas
como coadjuvante na história. Além disso, se ela tivesse morrido, poderia
passar a ideia de que ele havia escolhido a esposa errada, por isto é que lhe
sobreveio toda aquela desgraça. O fato de Deus não ter dado resposta a
ela, quando repreende os amigos de Jó é que, como já foi dito, são relatos
distintos. Não ocorreram na mesma época e, principalmente, no momento
em que ela disse, já tinha sido corrigida. Jó é enfático em responder a ela:
“Como fala qualquer doida, assim falas tu; receberemos de Deus o bem, e
não receberemos o mal?” (2.10b), o autor sagrado ainda conclui: “Em tudo
isto, não pecou Jó com os seus lábios.” (2.10c). Se as palavras dela teriam
sido oriundas de uma verdadeira adoradora ou como resultado de uma
sabedoria de alto nível, não teria sido repreendida.
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O próprio contexto depõe contra este uso literal. Ela inicia sua fala
dizendo: “Ainda reténs tua integridade?” (2.9). É uma pergunta retórica. O
sentido da pergunta dela seria o equivalente a dizer: ‘diante de tudo o que
você está sofrendo ainda vai permanecer fiel? Não vale a pena.’”
Por fim, não foi o machismo que levou os tradutores a optarem por
traduzir barech ’elohym de forma não literal: “amaldiçoa a Deus” em vez
de “abençoa a Deus”. A ironia é muito comum na cultura hebraica. Desta
forma, pode ser que, realmente, a mulher tenha dito “abençoa a Deus”,
mas de forma irônica. Outra possibilidade é a mulher ter dito realmente
qalel ’elohym (amaldiçoa a Deus), mas o autor sagrado seria incapaz de
registrar uma palavra tão forte contra Deus, e por isso teria usado um
eufemismo barech ’elohym (abençoa a Deus), usando-o com ar irônico.
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Síntese do Capítulo
Neste capítulo, você viu sobre a questão da sabedoria em Israel e
nos seus arredores no período bíblico do Antigo Testamento. Aprendeu
como para o israelita a sabedoria se tratava de uma realidade prática,
destinada a ser usada na vida cotidiana. Sábio era quem sabia como viver
bem, de forma a ter uma vida satisfatória e segura. Muito mais que um
pensador, no relato bíblico, o sábio é considerado quem faz com primor
o seu trabalho, não estando necessariamente associado à escrita ou ao
registro de informações. Foi no período da monarquia, inicialmente com
a ideia de apenas auxiliar os monarcas, que se começou a ligar sabedoria
à escrita e, concomitantemente, ao escriba em si. Quanto ao livro de Jó,
você viu sobre a origem do livro, que não é uma mera história, mas uma
narrativa com o propósito de se destacar uma grande verdade. Aprendeu
que ele não pode ser lido de forma literal e que satan só pode agir dentro
dos limites preestabelecidos por Deus.
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2. A Praticidade da Vida em
Provérbios e Eclesiastes
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Saiba Mais
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Prática
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Saiba Mais
Se você ler a epístola de Judas, verá que ele cita parte de uma profecia de
um tal Enoque (v. 14). Infelizmente já vi pessoas indo atrás do evangelho
apócrifo de Enoque para ver o que Deus falou lá. Você até pode ler as
palavras de Enoque, com algum espírito de curiosidade, mas se quiser
saber o que Deus disse, é só aquilo que está registrado na carta de Judas.
Ela é palavra de Deus, o livro de Enoque é apenas um livro humano.
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Curiosidade
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7.1-27: Discursos
8.1-36: Poemas
9.1-6: Poemas
9.7-9: Máximas e provérbios
9.10-18: Poemas
Cap. 10 a 22.16: Primeira coleção dos provérbios de Salomão
Cap. 22.17 a 24.34: Os trinta preceitos dos sábios
22.17-23.11: Paralelos com Amenemope
23.12-24.22: preceitos sem paralelo com Amenemope
24.23-24: Apêndice aos trinta preceitos (24.23-34)
Cap. 25 e 29: Segunda coleção dos provérbios de Salomão
Cap. 30.1-9: Diálogo com um cético
Cap. 30.10-33: Provérbios numéricos e de precauções
Cap. 31.1-9: Admoestações da mãe de um rei
Cap. 31.10-31: Poema acróstico sobre a esposa ideal
Scott (1974, p. 5-8) ainda destaca sete principais formas, que ele
chama de padrão, encontradas nos provérbios. Ele não chama assim, mas
provavelmente é a forma de ele identificar alguns tipos de paralelismos,
menos comuns:
• O primeiro padrão ele chama de identidade, equivalência ou
associação invariável. Trata do verso que faz uma simples
constatação: Isto é como... Sem isto, não há.... Eis alguns
exemplos: “O homem que lisonjeia a seu próximo arma-lhe uma
rede aos passos” (29.5) e “Onde não há bois, a manjedoura está
vazia; mas pela força do boi há abundância de colheitas.” (14.4).
• O segundo padrão seria de contraste ou paradoxo. Normalmente
procura evidenciar que “isso não é realmente aquilo ou nem tudo
isso é aquilo”. No caso dos paradoxos, deve recordar que se trata
de uma proposta verdadeira, mas que conduz a uma contradição
lógica, ou uma sentença que contradiz a lógica comum. Eis alguns
exemplos: “Pela longanimidade se persuade o príncipe, e a língua
branda quebranta os ossos.” (25.15), e “O que está farto despreza
o favo de mel; mas para o faminto todo amargo é doce.” (27.7).
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Saiba Mais
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seria um sábio, que estava se fazendo de bobo, para ao dizer suas tolices,
chamar a atenção de seus conterrâneos e, assim, levá-los à reflexão.
Seguindo-se este pensamento, ele estaria cumprindo exatamente o que
Pv 26.5 recomenda: “Responde ao tolo segundo a sua estultícia, para que
ele não seja sábio aos seus próprios olhos.”
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No antigo Egito, entre 2.300 e 2.100 a.C., havia uma obra chamada
de: “O homem que estava cansado da vida” (EATON; CARR, 2011, p. 38s).
Quando se foca apenas no título, até se pode pensar em uma possível
aproximação com o texto de Eclesiastes, mas quanto ao assunto são bem
distantes. Enquanto o autor sagrado chega à conclusão que a vida, por si
mesma, será vazia, mas conclui com a necessidade de se apegar a Deus.
Já a obra egípcia é ainda mais trágica. Nela, o autor fica na dúvida entre o
viver e o suicídio.
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Mesmo que não tenha sido Salomão seu autor, ele é usado como
uma figura bem forte, “o título certamente induziria qualquer leitor a
entender que a alusão é a Salomão. O relato de 2:1-11 também lembra a
Salomão; quase todas as frases têm seu paralelismo nas narrativas que
dizem respeito a Salomão.” (EATON; CARR, 2011, p. 27). Curiosamente,
embora evoque a figura de um dos maiores reis de Israel, não tem como
pretensão fazê-lo sob pretextos de localização histórica, pois a obra como
um todo é bem atemporal. Algumas indagações e conclusões que são
feitas nela foram e podem ser resultado da reflexão de alguém de qualquer
período histórico. Mesmo porque
A vida neste mundo fundamentalmente não muda, de modo
que não precisamos de uma data para o Eclesiastes, a fim
de podermos receber sua mensagem. Faz parte do gênio do
pensamento do Pregador que sua mensagem sustenta-se por si
mesma, em qualquer lugar e a qualquer tempo. (EATON; CARR,
2011, p. 21).
Saiba Mais
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Curiosidade
O 2.º Discurso vai de 3.1 a 5.19. Nessa porção, o mestre enfatiza que
os esforços humanos dependem das circunstâncias e finaliza afirmando
que “o gozo alegre da vida, ligado ao temor de Deus e à humildade, deve
ser recomendado como o bem maior.” (KAISER, 2015, p. 27)
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12.9-14: Conclusão
• Introdução: 1.1 e 2
• O tempo e o mundo: 1.3-11; 3.1-15a; 11.7-12.7
• Sabedoria: 1.12-18; 2.12-17; 6.10-7.6; 7.11-29
• Riqueza: 2.1-11, 18-26; 4.4-8; 5.10-6.9; 7.11-14; 10.18-20; 11.1-6
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Síntese do Capítulo
Como foi visto, o povo hebreu era muito observador e prático.
Isto ajudou a condensar suas conclusões a partir de pequenos versos,
compostos por até quatro linhas, por ser de fácil assimilação. O povo
hebreu usava simples figuras do dia a dia para chamar a atenção para
assuntos profundos e bem significativos.
Por fim, foi visto que o livro de Provérbios é composto por ditos que
foram sendo produzidos e colecionados ao longo de anos. E que o autor
de Eclesiastes não era um amargurado qualquer. Era um pregador. Que vai
expondo sua verdade de forma nada ortodoxa, mas gradativa e sob um
viés bem realista. Assim, mesmo em meio a um aparente pessimismo,
provê alguns lampejos de sabedoria, como alternativa ao enfadonho “viver
debaixo do sol”.
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3. A Poesia Hebraica em Uso
nos Livros Poéticos
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Glossário
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Talvez você esteja pensando: “se cada verso do poema inicia com
uma consoante, é só decorar o alfabeto hebraico que fica fácil localizá-la.”.
Tem lógica. Mas infelizmente nem sempre é assim. Como inicialmente
o texto hebraico era escrito tudo junto, sem qualquer separação por
capítulos, versículos ou sequer ponto final, na hora da tradução, por
não se conhecer esta peculiaridade da poesia hebraica, alguns salmos
foram divididos em versículos, de forma a não respeitar a divisão a partir
das 22 consoantes. Por esta razão, os salmos 111 e 112 são salmos
alfabéticos, deveriam ser traduzidos em 22 versículos ou, no mínimo
em seus múltiplos. Mas, na tradução em português, ambos só possuem
dez versículos cada. Curiosamente estes dois salmos seguem o mesmo
esquema: os versículos de 1 a 8 são compostos por duas partes, cada
uma iniciada com uma consoante do alfabeto, enquanto que os versos 9 e
10 são compostos por 3 partes. Pensando numa melhor visualização, será
apresentado um quadro indicando qual a parte de cada verso corresponde
a cada consoante. Só lembrando, os dois salmos, 111 e 112, usam esta
mesma distribuição.
a 1ª parte do v.1 inicia com a letra ’alef a 2ª parte do v.6 inicia com a letra Lamed
a 2ª parte do v.1 inicia com a letra Bet a 1ª parte do v.7 inicia com a letra Mem
a 1ª parte do v.2 inicia com a letra Guimel a 2ª parte do v.7 inicia com a letra Nun
a 2ª parte do v.2 inicia com a letra Dalet a 1ª parte do v.8 inicia com a letra Samekh
a 1ª parte do v.3 inicia com a letra Hey a 2ª parte do v.8 inicia com a letra Ayin
a 2ª parte do v.3 inicia com a letra Waw a 1ª parte do v.9 inicia com a letra Pe
a 1ª parte do v.4 inicia com a letra Zayin a 2ª parte do v.9 inicia com a letra Tsad
a 2ª parte do v.4 inicia com a letra Heth a 3ª parte do v.9 inicia com a letra Quf
a 1ª parte do v.5 inicia com a letra Thet a 1ª parte do v.10 inicia com a letra Resh
a 2ª parte do v.5 inicia com a letra Yod a 2ª parte do v.10 inicia com a letra Shyn
a 1ª parte do v.6 inicia com a letra Kaf a 3ª parte do v.10 inicia com a letra Taw
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Um bom exemplo disso pode ser visto no salmo 121. Ele pode ser
dividido em quatro estrofes. a) os v.1,2 trabalham a temática do socorro;
b) nos v.3,4 a ênfase está no fato de Deus estar atento; c) os v.5,6 falam da
sombra protetora; e d) os v.7,8 é proteção total (cita 3x o verbo proteger).
Observe o texto, a partir desta divisão:
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1ª estrofe Sl 42.1-4
Estribilho: Sl 42.5 “Por que estás abatida, ó minha alma,
e por que te perturbas dentro de mim?
Espera em Deus, pois ainda o Louvarei
pela salvação que há na sua presença.”
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2ª estrofe Sl 42.6-10
Estribilho: Sl 42.11 “Por que estás abatida, ó minha alma,
e por que te perturbas dentro de mim?
Espera em Deus, pois ainda o Louvarei
a ele que é o meu socorro e o meu Deus.”
3ª estrofe Sl 43.1-4
Estribilho: Sl 43.5 “Por que estás abatida, ó minha alma,
e por que te perturbas dentro de mim?
Espera em Deus, pois ainda o Louvarei
a ele que é o meu socorro e o meu Deus.”
Outro elemento comum na poesia hebraica que pode ou não estar
vinculado ao uso de estrofes num texto é o refrão. Ele é representado
por uma unidade textual que vai sendo repetida ao longo do texto. Ele
pode ser apenas uma palavra-chave ou pode ser uma linha completa. Seu
principal objetivo é enfatizar um determinado assunto (NUNES JÚNIOR,
2012, p. 111). O exemplo mais conhecido de refrão está na segunda parte
de cada versículo do salmo 136. Muito provavelmente o sacerdote dizia a
primeira parte relembrando os grandes feitos de Deus para com Israel e o
povo “respondia” recitando a segunda linha (ou segunda parte do verso):
“porque a Sua benignidade dura para sempre”.
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Exemplo
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Dica
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a quem temerei?
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a qual dá o seu fruto na estação própria, e cuja folha não cai.” (Sl 1.3)
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e suas ações, se não for por meio do linguajar humano? Por isso, não são
poucos os textos que falam sobre os olhos de Deus (Sl 33.18), seu coração
(Gn 6.6b), sua boca e lábios (Jó 23.12), seus ouvidos (Sl 31.2), suas mãos
(Sl 37.24), seus braços (Sl 77.15), mas nunca com o sentido de descrever
sua aparência, mas sim em destacar o seu modo de agir. Tanto que,
segundo Smith (2001, p. 100), quando o próprio Deus fala que iria fechar
os Seus olhos (Is 1.15) ou nas inúmeras vezes que os hebreus declaram
que Ele não ouviria a oração do povo (Jr 14.12), taparia os ouvidos (Lm
3.56), se esconderia (Sl 10.1) ou esconderia Sua face (Mq 3.4), queriam
enfatizar sobre a inatividade divina em favor da humanidade. Convém
ressaltar que, curiosamente não criam que Deus tivesse sido vencido e
por isso é que não estaria agindo, muito pelo contrário, geralmente estava
muito mais para uma indignação dos autores bíblicos em questionar o
porquê de Deus, sendo tão poderoso, continuava sem atendê-los, como
que ignorando-os.
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Dica
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Saiba Mais
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A B C D E E’ D’ C’ B’ A’
os meus
Salva-me Deus meu! tu feres no queixo os dentes dos ímpios quebras do Senhor Vem salvação
inimigos
B - tanto ave,
D - e todo homem.
F - morreu.
D’ - tanto o homem
B’ - e as aves do céu;
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A B B’ A’
Bendito seja desde agora Desde o nascimento há de ser louvado
o nome do Senhor, e para sempre. do sol até o seu ocaso o nome do Senhor.
B’ - A terra tem produzido o seu fruto; e Deus, o nosso Deus, tem nos
abençoado.
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A B C B’ A’
Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5
Possui 22 versos com Possui 22 versos com Possui 66 versos 3 Possui 22 versos com Possui 22 versos com
as 22 consoantes as 22 consoantes Inverte para cada uma das 22 as 22 consoantes Inverte quase todas as 22 consoantes
na sequência correta duas consoantes consoantes na duas consoantes (ao que parece ficou incompleto)
(a 17ª vem antes da 16ª) sequência correta (a 17ª vem antes da 16ª)
Tema: Fala da desolação Tema: começa pedindo para
e termina pedindo Tema: Deus como inimigo Tema: Deus é Fiel e por Tema: Deus como inimigo Deus mudar o seu opróbrio
para Deus mudar por causa do pecado causa de Sua Misericórdia por causa do pecado e expõe a desolação
o seu opróbrio o povo não é destruído
Saiba Mais
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B - a palavra do Senhor,
C - governadores
D - de Sodoma;
A’ - dai ouvidos
C’ - ó povo
D’ - de Gomorra.
B’ - e eu não ouvi.
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D - Foi ele quem nos fez, e somos dele; somos o seu povo e
ovelhas do seu pasto.
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Síntese do Capítulo
Neste capítulo você aprendeu que apesar da poesia hebraica ser
bem diferente, ela não é tão irreconhecível, como alguns dizem. O poeta
hebreu tem uma forma peculiar de fazer poesia e usa alguns recursos
bem característicos para expressar sua estrutura. Por exemplo, nela o
alfabeto é usado para facilitar a ordem dos versos. Os versos são curtos
e individuais ou unidos a outros com um mesmo tema. Além disso, o
uso de figuras de linguagem é bem expressivo e o uso de elipse para
algumas palavras é proposital, se isto não for observado o que se perde
é a mensagem. Outra atenção requerida diz respeito ao tratamento das
perguntas retóricas e com o uso antropomorfismo, eufemismo e ironia.
Eles nunca significam o que disseram. Sempre há uma mensagem a mais.
Por fim você aprendeu que a ideia expressa em uma linha pode ser
usada como paralela à(s) seguinte(s). Podendo se relacionar de forma
sinônima, sintetizando algo ou como uma declaração consequente da
anterior. Você ainda viu que os paralelos não existem apenas entre linhas
individuais, mas também pode ser entre estrofes ou por assuntos em
comum. Quando isto acontece, eles podem ser apresentados a partir
do Padrão Menorático (quando a ideia ou mensagem é apresentada a
partir da figura do candelabro (A-B-C-B’-A’)) ou pelo padrão estrutural, que,
basicamente é um paralelismo sinonímio, mas em vez de mostrar duas
ou quatro linhas paralelas, aqui a equivalência se dá na sobreposição da
sequência utilizada na para expor a ideia anterior (A-B-C-D-A’-B’-C’-D’).
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4. As Emoções (im)Próprias em
Salmos, Cantares e Lamentações
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É quase certo que se fosse nos dias atuais, o livro de Cantares não
teria entrado para o Cânon dos livros sagrados. Afinal, ele fala de um dos
mais fortes sentimentos humanos, fala do amor. Mas não no sentido
de misericórdia, generosidade ou bondade. Isto, até que seria aceito
tranquilamente. Mas o autor de Cântico dos Cânticos descreve o amor
eros. Sim, Deus também se interessa pela sexualidade humana e por isso
um livro como Cantares está na Bíblia. Infelizmente a sociedade a tem
considerado de uma forma bem deturpada. Porém, a sexualidade em sua
forma sadia, não deve ser nenhum tabu. Muito pelo contrário, deve ser,
inclusive, algo pelo qual o ser humano também deveria ser grato.
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Reflexão
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Curiosidade
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tão somente livramento físico. Em outras palavras, Davi quer voltar a ter a
alegria de suas vitórias, que o acompanhavam enquanto ele estava sem
pecado e usufruindo das bênçãos divina.
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Curiosidade
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Exemplo de
Capítulo Título Versículo interpretação a partir
do versículo
“Beije-me ele com os
A beijos da sua boca; “o surgimento da
1 consciência porque melhor é o seu consciência é como um
de si mesmo amor do que o vinho.” carinho” (p. 346).
(1.2).
“Sustentai-me com “O sustento, o conforto,
A
passas, confortai-me com o relaxamento são
2 consciência
maçãs, porque desfaleço benefícios da natureza”
da natureza
de amor” (2.5). (p. 349).
“A consciência do
“Conjuro-vos, ó filhos de
A outro é oferecer mais
Jerusalém, pelas gazelas
consciência que a concorrência,
e cervas do campo,
3 em relação é defender o sonho,
que não acordeis, nem
às outras a privacidade, a
desperteis o amor, até que
pessoas segurança e a liberdade
ele o queira.” (3.5).
do outro” (p. 351 e 352).
“É coerente perceber
“Jardim fechado é minha a individualidade dos
A coerência irmã, minha noiva, sim, outros. A outra pessoa
4
de si mesmo jardim fechado, fonte possui existência
selada.” (4.12). dentro de seu próprio
espaço” (p. 354).
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Curiosidade
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Exemplo
Na década de 1970, quando uma família foi visitar seus amigos, num
sítio no interior de São Paulo, numa época em que criança era tido
como desprovida de qualquer sabedoria e impedida de se expressar em
público, um de seus filhos acaba se machucando no campo e vem pra
casa em prantos. O dono da propriedade, como bom representante da
sabedoria popular, diz para aquele pobre menino que se derramava em
lágrimas: “Não chore!”, disse aquele senhor com voz firme, e completou:
“Homem que é homem, não chora!”. Mais que depressa, como que
iluminado pelo próprio Deus, aquele menino toma fôlego e responde
com uma profundidade e verdade que ecoa até os dias de hoje, quando
a família se reúne: “Não chora, quando não é preciso!”
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Ainda pode-se destacar o alto teor poético das duas obras e o fato
de Lamentações refletir a situação de forma tão pontual. Assim, embora
seja só um testemunho da tradição, a mesma “encontra apoio no título do
livro na Septuaginta, como também em seu subtítulo na Vulgata (Id Est
Lamentationes Jeremiae Prophetae), no Targum e entre os pais da igreja
(como Orígenes, Jerônimo e Agostinho).” (PINTO, 2006, p. 641).
Curiosidade
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A – B – C – B’ – A’
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Além disso, o povo estava mais que avisado. Além de Deus tê-los
advertido, quando fizeram a aliança, o Senhor ainda mandou inúmeros
profetas para alertar o povo das consequências que suas escolhas
errôneas estariam provocando. Leia cada um destes versículos,
observando a semelhança entre a situação vivida em Lamentações, com
o castigo “profetizado” em Deuteronômio 28:
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Síntese do Capítulo
Neste capítulo você aprendeu a importância de ser honesto com
Deus, principalmente no que dizem respeito às coisas do coração. Viu
também que alguns Salmos foram bem pontuais e que para serem
utilizados hoje, precisa passar por uma revisão teológica. Afinal, seus
autores estavam num patamar menor de revelação do que os cristãos nos
dias de hoje. Outra lição importante foi perceber que além das palavras,
o que determina muito a qualidade de um adorador é seu espírito manso
com o intuito de nunca perder de vista quem é Deus.
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Referências
ALTER, R. The poetic and wisdom. In: BARTON, John. Ed. The Cambridge
Companion to Biblical Interpretation. New York: Cambridge University
Press, 1998.
BARRY, J. D.; MANGUM, D.; BROWN, D. R.; HEISER, M. S.; CUSTIS, M.;
RITZEMA, E.; BOMAR, D. (2012, 2016). Faithlife Study Bible. Bellingham,
WA: Lexham Press. In: Software bíblico: logos.
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KAISER, W. C., Jr. Eclesiastes. São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2015.
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KUGEL, J. L. The idea of biblical poetry: parallelism and its history. New
Haven: Yale University Press, 1981.
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