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Howarth (2000)

Para Howarth (2000) o conceito de discurso está intrinsicamente ligado a


especificidade de um campo teórico, a partir do qual este conceito é construído. O autor
dá ênfase a definição que parte do pós-estruturalismo em relação ao conceito de
discurso, onde pensadoras(es) como Jacques Derrida, Michel Foucault, Ernesto Laclau e
Chantal Mouffe “(...)considerarem as estruturas sociais como sistemas de significado
inerentemente ambíguos, incompletos e contingentes.” (Howarth, 2000, p. 4). Neste
sentido, para o autor, os discursos são construções simbólicas que moldam as estruturas
sociais, e a análise do discurso visa investigar como são criados e operam
historicamente e politicamente.
Para tratar da Teoria do Discurso, o autor pensa em três categorias: discursivo,
discurso e análise do discurso. Por “discursivo” ele argumenta que tudo é objeto de
discurso, dependendo de regras e diferenças significativas socialmente construídas. Isso
não nega a existência do mundo, mas enfatiza que estamos imersos em práticas e
objetos que carregam significados, evitando ceticismo e idealismo. Entende-se por
"discurso" como sistemas históricos de significado que moldam identidades e relações
sociais, enfatizando seu caráter político e contingente. A “análise do discurso” envolve
examinar práticas significativas como formas discursivas, utilizando uma variedade de
métodos e conceitos teóricos provenientes da teoria linguística, literária e filosófica,
como desconstrução, abordagens arqueológicas, retórica, entre outros.
Vale frisar que Howarth toma uma posição em relação às acusações de
relativismo que este campo de sistematização do conhecimento enfrenta no que diz
respeito à aplicação da Teoria do Discurso a casos reais, mostrando sua utilidade na
análise social e política. Propõe a operacionalização dos pressupostos da teoria, sem cair
no positivismo ingênuo, e defende uma teoria complexa da verdade, baseada em
Heidegger e Foucault, em que a comunidade acadêmica decide sobre a validade dos
estudos de paradigmas na ciência social.

Maingueneau (2007)
Maingueneau afirma que as fronteiras que separam uma visão sobre a Análise do
Discurso como ciência e a AD como uma sociologia, estão ainda muito borradas frente
à realidade das pesquisas que se perpassam nos dias de hoje. Isso tendo por norte a clara
divisão do campo do saber linguístico e do social/psicológico que o autor vai distinguir
mas que não colocam em linhas finais a definição deste, justamente devido ao contexto
invariável no qual este “Discurso” pode ser situado e/ou concebido. Para ele existe uma
ligação com os saberes constituídos por Saussure em relação à linguagem mas que não
se restringe nesse quesito pois se integram em uma transversalidade, particularmente a
partir do pensamento desenvolvido na França, de que se trata de uma reconfiguração do
conjunto dos saberes.
A distinção entre linguística do discurso e análise do discurso parece ser de que
esta mora em uma esfera disciplinar e, aquela, em uma esfera integrativa onde texto e
locus social funcionam em mútua relação coercitiva. Assim como essa união tende a ser
influente para uma ampla gama de disciplinas do discurso, que não necessariamente
andam em desalinho umas com as outras. Isto implica, principalmente nas ciências
humanas, a constituição de corpora de pesquisa, entendendo as categorias que vão
orientar a (re)formulação de corpus de pesquisa imersos e devidamente articulados entre
si para a própria noção de corpora, caso esta vier a ser privilegiada por quem pesquisa
por razões e sentidos de interesse próprios ao objeto que se intenta em analisar.
Maingueneau vai definir duas unidades fundamentais para os analistas do
discurso (tópicas e não-tópicas), mas com foco principalmente nas unidades não tópicas
uma vez que elas são constituídas de maneira independente das fronteiras
predeterminadas. Elas seguem através de formações discursivas e percursos de
elementos de diversas ordens lançados no interdiscurso, sem a pretensão de constituir
totalidades. No entanto, “o sentido é fronteira e subversão da fronteira, negociação entre
lugares de estabilização da fala e forças que excedem toda e qualquer localidade”
(Maingueneau, 2007, p. 34).

Maingueneau (2008)
Poderíamos sintetizar a definição de discurso de Dominique Maingueneau
(2008) no livro “Gênese dos discursos” como dispersão em regularidade. Isso implica
dizer que, na análise de discurso de orientação francesa, existe a definição dos discursos
como formações em um determinado espaço-tempo histórico e de regras enunciativas
ao mesmo tempo. No caso explicitado no capítulo introdutório do livro a tese está
centrada na hipótese do primado do interdiscurso sobre o discurso. Evidentemente, ao
utilizar o termo “hipótese” para encadear seu pensamento e desenvolver o movimento
articulatório necessário para a sustentação da ideia de dispersão em regularidade, até se
poderia pensar que o autor estaria associado a vertentes estruturalistas e totalmente
definidoras da realidade social de maneira puramente pré-determinada, mas esta é uma
utilização semântica muito bem explicitada e justificada. Bem como, o termo “gênese”
não se limita a um visão romântica de origem mas de limites e/ou fronteiras que
demonstram a variedade de sistemas assim como suas transformações.
Dito isto, o autor rechaça qualquer ideia que de alguma forma pretenda
determinar (ou ainda pior, predeterminar) uma relação dicotômica na pesquisa que
busca debruçar-se sobre a linguagem e tendenciosamente interprete este campo do saber
apenas como “superficialidade” ou “profundidade”. O autor sugere a superação dessa
dicotomia no caminho de elucidação e coerência global de múltiplas dimensões textuais.
A isto se segue a ideia de desdobramento entre superficialidade e profundidade. A
superficialidade discursiva seria a própria enunciação, o significante, a palavra. Em
contrapartida, em relação a profundidade, pode-se inferir, em uma cadeia lógica, que se
trata da formação discursiva que é o conjunto de regras dessa enunciação. Daí a
entendermos que o discurso para o autor está alocado precisamente nessa relação. Isso
pode ser ainda mais elucidado pensando em exemplos práticos. Como quando falamos
sobre o discurso religioso, a referência não é apenas a textos específicos (a bíblia por
exemplo) mas também a um conjunto de significados que seguem regras do discurso
religioso (as práticas sociais e ritos, orações por exemplo). No entanto, essa formação
discursiva não é infinita, ela pode se encerrar em algum momento uma vez que as regras
da enunciação moldam a forma como entendemos o que é este discurso.
Longe de uma visão simplista, Maingueneau afirma que o interdiscurso é o
espaço de regularidade pertinente onde os discursos são componentes e não se
constituem de maneira independente ou como numa relação de causa e efeito, mas de
maneira simultânea e de forma regulada dentro do interdiscurso. Assim como é
impossível tratar a discursividade de maneira totalmente exterior ou tratar de um
discurso sem se referir a todos os discursos.
Aqui entra a tese do primado deste interdiscurso sobre o próprio discurso em
uma perspectiva de uma heterogeneidade constitutiva, na qual se enlaça o Eu (Mesmo) e
o Outro na constituição de ambas identidades. Uma identidade de um grupo social, na
qual uma coletividade expressa suas subjetividades, é desta maneira um discurso. De
maneira semelhante a identidade de um discurso, que está atrelada a esta definição de
heterogeneidade constitutiva e enunciativa dessa identidade. Importante frisar que o Eu
e o Outro não se finaliza nos seus pressupostos psicanalíticos, mas estão situados na
acepção enunciativa e histórica.
O interdiscurso é então destrinchado em três conceitos centrais: Universo
Discursivo; Campo Discursivo e Espaço Discursivo. O primeiro é um conjunto amplo
de discursos em uma conjuntura definida; o segundo é um conjunto mais restrito de
discursos que compartilham elementos em comum ou não mas possuem a mesma
função social; e o terceiro diz respeito aos subconjuntos de formações discursivas nas
quais se assumem posições de sujeito em negociação de significados.
Retomando a ideia do Mesmo e do Outro, o autor aborda a relação entre ambos,
argumentando que a definição de uma rede semântica que delimita a singularidade de
um discurso coincide com a definição desse discurso em relação ao seu "Outro", que é
concebido como um "tu virtual" e o interdito do próprio discurso. Esta concepção
complexa destaca que cada enunciado possui uma faceta (o lado direito) que
corresponde à formação discursiva e outra faceta (o lado avesso) que tende a rejeitar
esse "Outro" que, na realidade, também contribui para a constituição do sujeito do
discurso. Assim, evidencia-se um dialogismo inerente a cada enunciado, revelando uma
dissimetria na sua gênese que não abrange todas as relações entre um discurso primário
e um secundário, ainda mais em uma perspectiva cronológica. Esses discursos se
entrelaçam em um campo discursivo que possui um duplo caráter: um dissimétrico, que
descreve a formação de um discurso, e um simétrico, que revela a interação conflituosa
entre dois discursos nos quais o "Outro" representa, total ou parcialmente, o contraponto
do próprio discurso.

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