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KaLinka Aleksandr Kuprin O ELEFANTE Tradugao do russo Tatiana Larkina 1 Uma menininha estava doente, Todo dia ela recebia a visita do doutor Mikhail Petrévitch, que fazia muito tempo que conhecia. As vezes, ele vinha acompanhado por dois médicos estranhos, Eles viravam a menina de costas e de brugos, auscultavam aqui e ali, encostando o ouvido em seu corpo, puxavam sua palpebra inferior para baixo e observavam. Com isso, eles bufavam, com importancia, os rostos severos, e conversavam entre si numa lingua incompreensivel. Depois, eles passavam do quarto paraa sala de estar, onde a mae Os esperava, O doutor mais importante — alto, de cabelos grisalhos e éculos dourados — lhe falava longamente, com ar sério, Com a porta aberta, a menina podia ver e ouvir tudo de sua cama. Ela nao compreendia muita coisa, mas sabia que estavam falando dela. A mae escutava o médico fitando-o com os olhos grandes e eansados de tanto chorar. Uma vez, ao se despedir, o doutor mais importante disse em bom som: ~ O importante ¢ nao deix4-la entediada Realizem qualquer capricho, — Ah, doutor, é que ela nao quer nada! — Entao, sei la... Tentem se lembrar do que ela gos- tava antes de adoecer, Brinquedos... Doces... ~ Mas, doutor, ela nao quer... — Bem, deem um jeito de anima-la... Com qualquer coisa... Dou minha palavra: se conseguirem fazé-la sor- rir, alegra-la, sera o melhor remédio. Compreenda, a doenga de sua filha é 0 desanimo com a vida, e nada mais... Passe bem, senhora! 2 — Nadia,’ minha queridinha — disse a mae —, nao ha nada que vocé queira? — Nao, mame, eu nao quero nada. ~ Quer que eu coloque suas bonecas aqui, em cima 1 Nadia é 0 diminutivo do nome Nadiejda, que em russo significa da cama? A gente podia pér as poltroninhas, 0 sofa e a mesinha com 0 jogo de cha. As bonecas irao tomar cha e papear sobre o tempo e a satide dos filhos... — Obrigada, mame... Nao estou com vontade... Es- tou aborrecida... — Esta bem, querida, deixe as bonecas para la... E se a gente chamasse suas amigas, a Katia ou a Jeninha? Vocé gostava tanto delas. = Nao precisa mamae. De verdade... Nao quero nada, Estou téo aborrecida! — Quer que eu traga um chocolate? Masa menina nao respondeu, fixando os olhos tris- . Ela nao sentia nenhuma dor, nem sequer febre. A cada dia, porém, emagrecia e enfraque- ava © quanto se esfor¢assem, para ela nuava sem nada — Assim, dia Quando a porta de seu quarto se abria para a sala ea da sala para o gabinete, a menina conseguia ver seu pai. Ele andava depressa, de um lado para outro, fu- mando sem parar. De vez em quando, ele ia a0 quarto de Nadia, sentava-se na beirada da cama e acariciava distraidamente os pés da filha. Mas logo se levantava de um salto e se aproximava da janela. Ele assoviava uma melodia qualquer espiando a rua, mas seus om- bros tremiam, Entaéo, apressava-se em encostar um lenge no canto dos olhos e, como se estivesse com rai- va, disparava de volta para 0 gabinete. La, voltava a sua marcha a la, de um lado para outro, fumando e fumando... Era tanta a fumaga do tabaco que o ar do — Precisa de algo, meu amor? — perguntou sua mae. Mas a menina, de repente, lembrou 0 sonho e sus- surrou como se confessasse um segredo; — Mamae... Sera que eu poderia ter... um elefante? Sé que nao aquele desenhado no livro... Posso? claro, queridinha, claro que pode! Sua mae correu ao gabinete e contou ao pai da me- nina que esta queria um elefante. No mesmo instante, ele vestiu 0 casaco eo chapéu e saiu. Passada meia hora, estava de volta com um lindo e caro brinquedo. Era um grande elefante cinza que sabia balan- gar a cabega e abanar o rabo, Nas costas, havia uma sela vermelha e na sela uma pequena marquise dourada com trés homenzinhos sentados embaixo. A menina, no entan- to, olhou para 0 brinquedo como se olhasse para a parede €0 teto, com o mesmo desanimo, e disse languidamente: ~ Mas néo ¢ isso.., Eu queria um elefante de verda- de, um elefante vivo, e este esta morto. ~ Mas, olhe, Nadia - apressou-se o pai. — A gente agora dara corda nele € ele ficara igualzinho a um ele- fante de verdade. Deram corda no elefante e ele, balancando a cabe- ga e abanando 0 rabo, comegou a bater os pés, moven- do-se devagar pela mesa, A Nadia nada disso interessa- va e ela ficou até mais entediada, mas, para nao magoar 0 pai, disse em voz baixa, docemente: — Muito obrigada, querido papai. Duvido que al- guém tenha um brinquedo tao interessante como esse... E que.., lembra... vocé tinha prometido me levar ao circo para ver um elefante de verdade... E nado levou nenhuma vez... ~ Mas, compreenda, minha querida, isso é algo im- possivel! O elefante 6 muito grande, vai até o teto, nao caberia na nossa sala... E, depois, onde é que eu vou arranjar um elefante?! ~ Eu nao preciso de um muito grande, papai... Vocé pode me trazer um pequenino, mas um de verdade, Deste tamanho, assim... Pode ser um filhotinho... — Querida filhinha, eu ficaria feliz em fazer qual- quer coisa por vocé, mas isso eu nao posso. Pois é como se voce de repente dissesse: “Papai, pegue o Sol la do eéu para mim!", A menina sorriu, melancdlica, — Como vocé é bobo, papai. Até parece que eu nao sei que nao se pode tocar no Sol, pois ele queima. E que nem a Lua, Nao, eu sé queria um elefantinho... um de verdade. Ela fechou os olhos deyagar e disse baixinho: — Estou cansada.,, Desculpe, papai... O pai se agarrou pelos cabelos e disparou para o gabinete, Por algum tempo, ficou andando de um lado para outro. Em seguida, com um gesto decidido, apa- gou a bituca no chao (coisa que sempre 0 fazia levar uma bronca da esposa) e gritou para a empregada: ~ Olga! Meu casaco e chapéu! Sua esposa apareceu na antessala. ~ Aonde vocé vai, Sacha? — perguntou ela. Todo ofegante, ele abotoava o casaco: = Macha, querida, nem eu sei para onde vou... Mas, parece, hoje 4 noite eu realmente trarei para c4, para nossa casa, um elefante de verdade, A mulher olhou para ele com preocupagao. — Querido, vocé se sente bem? Por acaso esta com dor de cabega? Talvez vocé nao tenha dormido bem essa noite? — Eu nao preguei 0 olho! — respondeu ele, irritado. — Pelo visto, vocé quer saber se eu perdi 0 juizo? Ainda nao. Até logo! De noite veremos. Ele desapareceu, batendo com forga a porta de en- de papelao. Os macacos — alguns de saias vermelhas ¢ ou- tros de calgolas azuis — andavam pela corda e cavalgavam em um poodle gigante. Ledes ruivos enormes pulavam por entre arcos flamejantes enquanto uma foca desajei- tada disparava uma pistola. No fim, vieram os elefantes. Eram trés: um grande e dois completamente pequeninos, andes, mas, mesmo assim, bem maiores do que um cavalo. Era estranho ver aqueles animais imensos, aparentemen- te estabanados e truculentos, executarem truques tao elaborados que, mesmo para um homem muito habilido- so, seriam dificeis. O que mais se destacava era 0 elefante grande. No come¢o, ele se erguia sobre as patas traseiras, ———— andava por garrafas de ma- rechonehudo. Ele estava apolado num tabique de té- buas com um grande charuto preto metido na boca, — Perdio — comegou o pai de Nadia Sera que o senhor deixaria seu elefante passar algum tempo na minha casa? Q alemao, de tamanha surpresa, arregalou os olhos e, boquiaberto, deixou o charuto cair no chao, La- muriando, ele se curvou, levantou o charuto, pondo-o de volta na boca, e s6 entao se pronunciou: — O elefante?... Na sua casa?... Eu néo estou enten- dendo! Pela expressao dos olhos, via-se que o alemao tam- bém queria perguntar ao pai de Nadia se este estava bem da cabeca... Mas 0 pai se apressou a explicar do que se tratava: sua tinica filha, Nadia, sofria de uma estranha doenga que mesmo os médicos tinham dificuldade de compreender. Havia mais de um més que ela nao saia da cama, emagrecendo e enfraquecendo a cada dia, nao se interessava por nada, ficava entediada e, assim, pouco a pouco, Se apagava, Os doutores mandaram entreter a menina, mas ela nada queria, mandaram realizar todas as suas vontades, mas ela nao tinha nenhuma. E, nesse dia, ela havia expressado 0 desejo de ver um elefante de ver- dade, Nao haveria algum jeito de proviclenciar isso? E ele acrescentou com a voz trémula, segurando o alemao pelo botao do casaco: - Entio... E claro que eu espero que minha filha se re~ cupere... Mas... e se... Deus me livre... de repente a doen- a terminar mal?... Se a menina der de morrer?... Imagine como passarei o resto da vida atormentado com a ideia de elefante 4 noite &, 86 na Noite Ssejfuinte, poderemoy fe vé-lo de volta, De dia nio dé. Juntaria muito Publittum, seria um escindalo, Dessa maneira, eu perderei um dia inteiro de trabalho, e o senhor deve cobriro prejuizo. = Claro, claro... Nio se preoctupe com igs! = Depois: a policia permite entrar um elefante em um prédio? ~ Eu arranjarei tudo, irdo permitir, = Mais uma pergunta; o dono do prédio deixaria ] |mMesmo sou o dono do prédio. o melhor. E ainda outra pergunta: em meu Tommy tem 2,3 metros de altura e 2.3, de compri- mento. Além disso, ele pesa 1,8 toneladas, = O pai de Nadia refletiu por um instante. — Quer saber? — disse ele em Seguida. — Vamos agora para minha casa e €xaminaremos tudo no local Se precisar, eu mando alargarem a entrada. — Pois muito bem! — concordou 0 dono do Circo, 5 Ao cair da noite, o elefante foi levado para a casa da garotinha doente, Coberto por uma manta branca, ele andava no meio da rua, todo pimp&o, meneando a cabega, en- rolando e desenrolando sua tromba. Apesar da hora avangada, uma multidao se aglomerou ao redor dele. O elefante, porém, nao se dava por achado — todo dia 3 Trata-se do elefante asidtico (ameagado de extingao), entre 2 e 3 metros de altura, que é menor do que o africano e tem apenas um “dedo" na ponta da tromba. No original, s40 usadas medidas antigas Tussas: archin (0,71m), verchok (4,4cm) e pud (16,38kg). ele via eentenas de pessoas no circo, Apenas uma vez ele ficara um potico aborrecido, um moleque da rua atirara-se embaixo de suas pernas ¢ comegara a fazer caras ¢ bocas para o divert- mento das curiosos. Qelefante, entao, calmamente lhe tirara coma tromba oboné e 0 jogara atras da cerca vizinha, fincada de pregos, © policial encarregado circulava pela multidao tentando dissuadi-la: — Senhores, queiram dispersar! O que é que vocés acharam de tao extraordinario aqui? Até me surpreen- piante da esc ada, porém, 0 elefante se deteve, ner yoso, eempacou — ff preciso dar alguma guloseima... — disse 0 ale- mao. — Um torta ou algo assim... Nao, Tormmy! Shh... calma, Tommy! O pai de Nadia correu até a padaria mais proxima e comprou um grande bolo redondo de pistaches. O elefante queria engolir o bolo inteirinho, com embala- gem e tudo, mas seu dono lhe deu apenas um quarto. 0 tira-gosto, pelo visto, era do agrado de Tommy, pois ele logo sacou a tromba para apanhar mais um bocado. O alemao, no entanto, tinha um truque na manga. Se- gurando © bolo na mao, ele comegou a subir a escada, degrau por degrau. © elefante, com a tromba esticada e as orelhas abertas, ia atras dele. No segundo pavi- mento, Tommy recebeu mais um pedago. Dessa maneira, ele foi levado até a sala de jantar, cujos méveis foram retirados com antecedéncia, assim como o chao fora abundantemente coberto de palha. na do elef a e numa prenderam argola de ferro ) chao €, em sua frente. atarraxada nc colocaram alguns repolhos, nabos € cenouras fresquinhos. O alemao | 2 acomodou-se ao lado, num sofa. Apagaram as luzes ¢ foram todos descansar 6 No dia seguinte, a menina acordou de manhazinha e sem demora perguntou: = £0 elefante?! Ele chegou? ~ Chegou sim — respondeu sua mae. -— $6 que ele mandou que antes a Nadia tomasse um banhinho, co- messe um ovo € bebesse um copo de leite bem quen- tinho. — ele é bonzinho? — Muito bonzinho. Coma, meu bem, nds iremos vé- da sala. Sua pele cra grossa, com pregas profundas, ka pernas corpulentas pareciam postes, O rabo compri- do, na ponta, se assemelhava a uma vassoura. A ca- bega estava coberta de calombos grandes, As orelhas imensas, feito bardanas, suspendiam-se para baixo, Os olhos eram bem pequerruchos, porém inteligentes e bondosos. As presas haviam sido cortadas, A tromba jembrava uma cobra comprida e terminava em duas narinas, entre as quais havia como que urn dedo mével e flexivel. Se o elefante esticasse sua tromba em toda a extensdo, ele provavelmente alcangaria a janela. Entretanto, a menina nao parecia assustada. Ape- nas um pouco chocada com as dimensées gigantescas do animal. Em compensagao, sua baba, Poliana, uma mogoila de dezesseis anos, comegou a gritar de medo. O dono do elefante aproximou-se do carrinho e disse: ~ Bom dia, senhorita. Por favor, nao tenha medo! O elefante é muito bonginho e gosta de criangas. Amenina esticou ao alemao sua pequena mao palida. _ Bom dia, como vai 0 senhor? = cumprimentou-o, _- Bu nao estou com medo. Nem um pinguinho, Ecomo ele se chama? —~ Ele se chama Tommy. — Bom dia, senhor Tommy — disse a menina, sau- dando-o com a cabega. Por causa do impressionante tamanho do bicho, ela nao se atrevia a traté-lo por vocé. — O senhor dormiu bem essa noite? nbém esticou a mao para ele. O elefante cui- a “inha dela, apertando seus ‘mével de sua trom- — apenas nao fala, nao é? _ pois é, Apenas nao fala, Sabe, eu também tenho uma filha, @o pequenina como a senhorita. Ela se cha- ma Lisa. Eo Tommy ¢ seu grande amigo, _ Sr, Tommy, 0 senhor j4 tomou seu cha? = per- guntou ela ao elefante. O elefante esticou a tromba outra vez e soprou uma rajada quente bem no rosto da menina, 0 que fez seus cabelos leves esvoagarem para todos os lados. Nadia ria e batia as palminhas. O alemao também ria fartamente. Ele era tao grande, rechonchudo e bonzinho como seu elefante, e a menina tinha a im- pressao de que eles se pareciam. Quem sabe fossem parentes? — Nao, senhorita, ele nao tomou cha. Mas ele aceitaria com prazer 4gua agucarada. Também adora paezinhos doces, ‘Trouxeram uma bandeja com paezinhos doces e a garota deu de servir ao elefante. Ele habilidosamente agarrou um paozinho com 0 dedo da tromba e, ao enro- fala, fez com que © pao desaparecesse em algum lugar gob a cabega, onde se movia seu engragado e felpudo |4- inferior em forma de trigngulo. Dava para ouvir a casca biol do pao farfalhar em sua pele seca, Tommy deu o mesmo fim ao segundo paozinho, assim como ao terceiro, quar- to, quinto. Em sinal de agradecimento, 0 elefante assentia com a cabega, € seus pequenos olhos, de prazer, ficaram ainda mais estreitos. Feliz, a menina caiu na risada. Quando todos os paezinhos foram comidos, Nadia apresentou suas bonecas ao elefante: — Veja, Sr. Tommy, esta ¢ a Sonia, uma boneca mui- to elegante. E uma crianga boazinha, mas as vezes fica manhosa e se recusa a tomar a sopa. Esta ¢ a Natacha, a filha da Sonia. Ela j4 comegou os estudos e conhece quase todas as letras. E esta daqui éa Matriochka. Foi minha primeira boneca. O senhor pode ver que ela nao tem nariz nem cabelos € a cabeca foi colada. Mas nao se pode expulsar a velhinha de casa, nao é, Sr. Tommy? Ja era a mae da Sonia, mas agora trabalha como ps, ela er antes: peira. Entdo, vamos brincar. O senhor sera 0 pai e ginheira- cozin Mi indie: € elas, nossas filhinhas Tommy estava de acordo. Ele deu uma risada e, em se- ui da, agarrou Matriochka pelo pescogo, levando-a até a boca. Isso, porém, nao passava de brincadeira. Ao ™astigar aboneca de leve, ele a colocou de volta no colo de Nadia — é verdade que voltou um pouquinho amassada e molhada. Depois, a menina mostrou ao elefante um grande livro com figuras, explicando: — Aqui esta um cavalo, este é um canério, e isto aqui é uma espingarda... Agora uma gaiola com um passarinho, um balde, um espelho, uma fornalha, uma p4, uma gralha... E este aqui, olhe, é um elefante! Nem parece, nao é verdade, Sr. Tommy? Onde ja se viu um elefante tao pequeno? Tommy ponderou que elefantes tao mintisculos nunca poderiam existir no mundo. A figura, pelo visto, ndo 0 agra~ dou, Ele pegou com o dedo na pontinha da pagina ¢ a virow. Chegou a hora do almogo, mas nao havia jeito de parar a menina de seu amigo. O alemdo veio socorrer — Permitam-me resolver isso. Eles vao almogar ntos. Ele mandou o elefante sentar. Tommy, obediente, ntou-se, o que fez o chao do apartamento estreme- er, a louga tilintar no bufé, e reboco cair do teto dos quilinos de baixo. A menina foi acomodada em fren- e. Colocaram uma mesa entre os dois. Uma toalha de esa foi atada a0 pescogo de Tommy e os novos ami- fos comecaram sua refeigdo. Nadia comeu canja e uma Iméndega e © elefante diversos legumes e alface, Em ida, deram @ menina um minisculo calice de xerez a Tommy uma tigela de 4gua morna misturada a um copo de rum, e ele se deliciou com a bebida, sugando-a pela tromba. Por fim, ganharam a sobremesa: para a ga- rota, uma xicara de chocolate quente; para o elefante, -metade de um bolo — dessa vez, um de nozes. Enquanto isso, o alemao estava na sala de estar em companhia do pai de Nadia e, com o mesmo prazer do elefante, bebia cerveja, porém em quantidades maiores Apés 0 almogo, © pai recebera visitas, que, para nao se assustarem, foram avisadas, logo na antessala, sobre o elefante. No inicio, elas nao acreditaram, mas, ao ver Tommy, S¢ €spremeram na porta de entrada. = Nao tenham medo, ele é bonzinho! — Nadia ten- tou acalma-los. Os visitantes irromperam na sala de estar e, apds cinco minutinhos, deram no pé. Anoiteceu. A menina precisava dormir. Mas era impossivel tira-la de perto do elefante. Assim, ela acabou adormecendo ao lado dele e, ja sonolenta, foi levada para seu quartinho. Ela nem notou que a tro- caram. Nessa noite, Nadia sonhou que havia se casado com. Tommy € que tiveram uma penca de filhos, alegres elefan- tinhos. O elefante, que durante a noite fora levado de volta para o circo, também sonhou com a meiga e carinhosa garotinha, E também com muitos bolos, de nozes e de pis- taches, bolos gigantescos, do tamanho de um Pportio.., Na manha seguinte, a menina acordou revi gorada @ bem-disposta, e, como nos velhos tempos, quando gozava de plena saude, gritou alto ¢ impacientemente para que todos em casa a ouvissem: — Lei-ti-nhot Ao ouvir esse grito, a mae, em seu dormitério, fez o sinal da cruz, feliz da vida. mbrou do dia anterior e SOBRE 0 AUTOR A imagem de Aleksandr Kuprin (1870-1938) € inseparavel de sey osto aventuras, da personalidade ativa e intrépida, da vida erra Russia, que conhecia profundamente, e das dificuldades que passou ng ing Nascido em uma cidadezinha da provincia de Penza, nao teve ci Ivan Kuprin (1834-1971), um funciondrio pliblico modesto orundo da n que morreu quando Aleksandr tinha um ano de idade. Com sérigg dificuldatse financeiras, sua mae, Liubév Kuprind (1838-1910), de origern tartara, ¢ a obrigada a mudar com o filho para Moscou. |4, ele estudou em um Colegio militar e, em 1888, ingressou na Escofa de Cadetes de Alexandre. Depoig a integrada como subtenente ao 46° regimento de infantaria da quarda imperia Pediu dispensa em 1894, mas, durante a Primeira Guerra Muncial, fealistou-se Kuprin camegou @ escrever ainda menino e sua primeira obra foi publicada @m 1889: Estreia derradeira, No comego da década de 1890, seus cantos comegaram a Sait em revistas de Petersburgo. Na cidade, onde se instalou em 1901, deixou os diversos quebra-galhos para tras — fore de pescador a ator de circa =e comegou a colaborar em varias revistas grossas, embora volta € mela buscasse sustento no jornalismo, 0 que muito influenciou sua escrita Depois da vitéria des bolcheviques, em outubro de 1917, Kuprin, simpatizante dos socialistas revolucionétios, radicou-se em Paris, regressando ao seu pals natal em 1937. Sua obra n&o raro é relacionada com querelas sociais, mas, na verdade, Aleksandr Kuprin, com uma prosa franca e realista, deixou textos sobre diversos temas. Entre seus trabalhos, destacam:se: Moloque (1896), 0 alferes arménio (1897), Ofessia (1898), 0 duelo (1908), Ele tanbém escrevia Para Os pequenos, sobre animais, artistas e altruismo. Suas histdrlas infanto- Juvenis, conto Dautor milagroso (1897), O poodle branco (1903) e @ elefente (1807), sao até hoje lides pelas criancas russas e estudadas nas escole. or le, do amor Pals (0 Com a

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