You are on page 1of 2

ação

administrativa
P Ó L I S - I L D E S F E S

IDÉIAS PARA A AÇÃO MUNICIPAL

AA No 111 1998

mento hidráulico com fins de geração de ener- Atualmente as prioridades são determina-
gia elétrica, negligenciando o estabelecimen- das em função da importância econômica
CONSÓRCIOS to de legislação para os demais usos. Foram
focalizadas regiões estratégicas, como o Vale
de uma região e do nível de degradação em
que se encontra a bacia hidrográf ica. As

DE RECURSOS do Paraíba, onde princípios de planejamento


integrado foram sendo aplicados para reerguer
economicamente a região. A partir de 1948, a
ações governamentais têm sido orientadas,
portanto, para conciliar o aumento da de-
manda com a crescente escassez dos recur-
HÍDRICOS Comissão do Vale do São Francisco procurou
também aproveitar de forma integrada os re-
sos, decorrente seja de fenômenos naturais
como as secas no nordeste brasileiro, seja
cursos hídricos daquela bacia. As décadas de da poluição industrial e lançamento de es-
50 e 60 caracterizaram-se por projetos e obras gotos domésticos sem qualquer tratamento
Ações envolvendo várias pre- de barragens reguladoras das vazões dos rios nos cursos d’água.
feituras e representantes da buscando contornar problemas com enchen- Como são os conflitos que orientam tanto a
tes e promover o melhor aproveitamento do tomada de decisões em relação aos recursos
sociedade civil favorecem a solo ocupado. hídricos quanto a organização da sociedade ci-
conscientização sobre o uso Os primeiros órgãos criados se mostraram vil, foi justamente nas bacias mais degradadas
racional da água e facilitam a inócuos e a sobreposição de ações estadu- que surgiram as primeiras manifestações em
ais e federais dificultaram o planejamento atenção à sua utilização racional. No final da
formalização de convênios com integrado. Nos anos 70 começaram a se con- década de 80, baseados na Constituição de 88,
os órgãos estaduais. figurar alguns princípios básicos da gestão: os estados de São Paulo, Rio Grande do Sul,
necessidade de promover a utilização raci- Espírito Santo e Ceará já se mobilizavam na
onal e integrada dos recursos hídricos, de- elaboração de legislação estadual e no incenti-

E nquanto as fontes não secam, não há


conflitos pelo uso e aproveitamento da
água. O mito em torno do “poder restaurador
da natureza” e o descaso em relação ao meio
finição da bacia hidrográfica como unida-
de de planejamento, e a premissa da deci-
são colegiada, procurando compatibilizar
planos setoriais de recursos hídricos de uma
vo à criação de instâncias institucionais espe-
cíficas ao gerenciamento dos recursos hídri-
cos. Mas foi somente nos anos 90 que surgi-
ram os primeiros Consórcios Intermunicipais
ambiente levam à degradação das águas su- região. Foi então criado o Comitê Especial de Bacia e os Comitês de Bacia Hidrográfica.
perficiais e subterrâneas. Mas quando o de- de Estudos Integrados de Bacias Hidrográ-
sabastecimento e a limitação do consumo se ficas (CEEIBH), que orientou o desenvol-
tornam realidade, o problema se configura em vimento dos Comitês Executivos por bacia.
A Lei 9433/97 estabelece que a água é um
POSSIBILIDADES
termos de recursos hídricos.

O
Não basta, no entanto, a prefeitura estabele- bem de domínio público, um recurso natural
cer uma infinidade de leis para proteger e re- limitado e dotado de valor econômico, traçan- s Consórcios de Bacia Hidrográfica
gular o uso dos seus mananciais se os muni- do as diretrizes da Política Nacional de Re- têm realizado um importante traba-
cípios vizinhos não tiverem controle algum. cursos Hídricos (PNRH), criando o Sistema lho nas regiões onde atuam, destacando-se a
Como o gerenciamento destes recursos exige Nacional de Gerenciamento dos Recursos conscientização da população sobre o uso ra-
uma atuação em toda a bacia hidrográfica, os Hídricos (SINGREH). Além disso, esta lei cional da água, o reflorestamento das matas
consórcios intermunicipais (ver Dicas nº 97) reconheceu a bacia hidrográfica como unida- ciliares, a formalização de convênios com os
facilitam a implementação das ações e per- de territorial para a implementação da PNRH órgãos estaduais, rateios para a realização de
mitem alcançar melhores resultados. e criou a possibilidade da cobrança pelo uso obras de saneamento e tratamento de esgotos,
da água. Os organismos integrantes do além de promover a integração dos municípi-
SNGRH são, basicamente, os Comitês de Ba- os para a realização de estudos que favore-
HISTÓRICO cia Hidrográfica e as Agências de Água, jun-
tamente com o Conselho Nacional de Recur-
çam a elaboração de um Plano Diretor da Ba-
cia Hidrográfica, indispensável para o enca-

D
sos Hídricos e os Conselhos Estaduais. No seu minhamento da gestão.
esde a criação do Código das Águas, esforço descentralizador, entretanto, além de A constituição de uma sociedade civil sem fins
em 1934, as políticas públicas sobre tais instâncias institucionais, a PNRH reco- lucrativos é a personalidade jurídica atualmen-
recursos hídricos seguiram um modelo cen- nhece os Consórcios Intermunicipais e outras te mais recomendada para os consórcios in-
tralizador, dando especial atenção à regula- associações regionais como organizações ci- termunicipais, dada a sua estrutura simples e
mentação das questões relativas ao aproveita- vis de recursos hídricos. desburocratizada. Os prefeitos devem inicial-
mente elaborar e encaminhar à Câmara Mu- dessas três instâncias, alguns consórcios op- técnica e não meramente administrativa, devem
nicipal um projeto de lei solicitando a apro- taram pela constituição de uma Plenária de ser consultados profissionais de competência es-
vação para que o município participe do con- Entidades, órgão consultivo formado por en- pecífica. Em todo caso, o consórcio deve sem-
sórcio. Após a autorização dos respectivos tidades da sociedade civil (universidades, cen- pre manter sua autonomia para contratar os fun-
Legislativos, deverá ser elaborado o estatuto tros de pesquisa, Comitês Municipais de Re- cionários que julgar conveniente.
regulamentando a participação dos consorci- cursos Hídricos, ONGs, etc.).
ados. É fundamental que todos os prefeitos Essa estrutura administrativa tem a vantagem
envolvidos no consórcio participem da reu- de garantir a agilidade necessária para a exe- RECURSOS
nião de aprovação do estatuto – devidamente cução dos trabalhos. Na medida em que pode
registrada em ata – durante a qual serão elei- ser difícil conciliar as agendas dos prefeitos
tos o presidente e o vice-presidente do con- consorciados, e as reuniões do CM devem Os recursos financeiros necessários para a ad-
sórcio. Seguem-se os procedimentos de pu- ter caráter deliberativo, a SE pode se articu- ministração do consórcio são definidos pelos
blicação no Diário Oficial do Estado, o regis- lar em uma Coordenadoria de Planejamento associados, tendo sido comum o repasse de
tro no Cartório de Títulos e Documentos da (CP) e Grupos Municipais de Trabalho uma pequena porcentagem do Fundo de Par-
cidade eleita como sede e a obtenção do CGC. (GMT), dos quais podem participar as enti- ticipação dos Municípios ou o estabelecimento
A estrutura organizacional do consórcio é bas- dades representadas na Plenária. A CP se de uma contribuição mensal, facultando à ini-
tante simples. O Conselho de Sócios ou dos encarregaria da elaboração dos planos de tra- ciativa privada a participação no Conselho Ad-
Municípios (CM) é constituído pelos prefei- balho a serem encaminhados ao CM, para ministrativo. Esse mecanismo garante aos mu-
tos, representando o órgão máximo de deli- posterior execução pelos GMT. Assim, a dis- nicípios consorciados um adequado grau de
beração. Mais recentemente os consórcios têm cussão sobre as prioridades para a bacia hi- autonomia frente ao Estado, garantindo tam-
também previsto em estatuto a participação drográfica contará com a participação da bém a continuidade administrativa indispen-
de representantes da sociedade civil no Con- sociedade civil nos vários estágios de funci- sável ao bom funcionamento do consórcio.
selho de Sócios, colaborando para aumentar onamento do consórcio, aumentando a legi- Uma vez decididas quais ações serão imple-
a transparência da administração pública. O timidade do processo e facilitando aos pre- mentadas na bacia hidrográfica, o consórcio
Conselho Fiscal é o órgão encarregado de feitos a implementação das decisões. deve buscar apoio nos níveis estadual e fede-
acompanhar a gestão e a fiscalização das fi- Inicialmente o consórcio pode contar com uma ral, que contam com agências específicas de
nanças e da contabilidade. Dele participam equipe formada por funcionários das prefeitu- financiamento e cooperação técnica. Mais uma
representantes das Câmara Municipais dos ras consorciadas e das entidades que participam vantagem para a constituição dos consórcios
municípios consorciados, podendo também da Plenária. Mas a experiência tem demonstra- intermunicipais de recursos hídricos é que eles
contar com representantes da sociedade civil do que, dependendo da natureza do consórcio e são reconhecidos como entidades de gestão de
e da iniciativa privada. A Secretaria Executi- das metas traçadas, aqueles que contam com uma recursos hídricos e, na inexistência de um Co-
va (SE), formada pela equipe técnica e admi- equipe exclusiva, plenamente dedicada aos pro- mitê de Bacia (ver box) na área de atuação do
nistrativa, assume a coordenação e a imple- pósitos estabelecidos, tendem a funcionar me- consórcio, cabe a eles a responsabilidade pela
mentação das ações definidas pelo CM. Além lhor. Quando se tratar de questões de natureza execução das obras de saneamento.

COMITÊS DE BACIA HIDROGRÁFICA E AGÊNCIAS DE ÁGUA


Apesar de reconhecer os consór- locais, estabelecendo os meca- gador”. Isso quer dizer que os Enquanto não há conflitos en-
cios intermunicipais como enti- nismos de cobrança pelo uso da usuários da bacia deverão pa- volvendo o uso da água, ape-
dades de gerenciamento dos água e aprovação do plano de gar tanto pela retirada da água sar da degradação constante
recursos hídricos, a Política Na- aplicação dos recursos arreca- disponível na superfície e no a que estão sujeitos os manan-
cional de Recursos Hídricos es- dados. Cada comitê, ou grupo subsolo, como pela sua devo- ciais, o controle e a fiscaliza-
tabelece que as instâncias lo- de comitês contará com a as- lução ao meio ambiente. ção por parte do Estado ficam
cais de gestão são os Comitês sistência de uma Agência de A principal dificuldade deste restritos ao mecanismo de ou-
de Bacia Hidrográfica e suas Água, funcionando como sua sistema de gerenciamento pro- torga, ou seja, qualquer novo
respectivas Agências de Água. secretaria executiva e braço téc- posto pela PNGRH é que a cri- empreendimento na área da
Buscando a descentralização e nico-administrativo viabilizado ação dos comitês e agências de bacia exige cadastro e autori-
o planejamento integrado, a financeiramente pela cobrança água depende do grau de mo- zação, para que possa haver
PNRH previu a constituição dos apoiada nos princípios de “usu- bilização da sociedade civil na algum controle do que está
Comitês limitando a participa- ário-pagador” e “poluidor-pa- área de abrangência da bacia. sendo feito com a água. Isto,
ção dos poderes públicos à me- no entanto, não é capaz, por
tade de sua composição, caben- COMO FUNCIONAM OS CONSÓRCIOS si só, de refrear a poluição.
do a outra metade aos usuári- Além disso, as diferenças re-
Conselho dos Conselho
os da bacia, embora nos rios es- Municípios Fiscal gionais e sócio-econômicas
taduais os comitês sejam tripar- num país de dimensões conti-
Secretaria
tites, com representação do go- Executiva nentais como o Brasil, dificul-
verno estadual, municipal e da tando a fiscalização e o acom-
Coordenadoria de
sociedade civil. Planejamento panhamento de tudo o que
Dentre as atribuições dos comi- está se passando, podem com-
tês destacam-se a de articular Grupos Municipais Grupos Municipais Grupos Municipais Grupos Municipais prometer o trabalho dos comi-
de Trabalho de Trabalho de Trabalho de Trabalho
a atuação das entidades envol- tês e de suas respectivas agên-
vidas com os recursos hídricos cias, inviabilizadas pela dificul-
e a de administrar os conflitos Autor: Antônio José Faria da Costa. dade de cobrança.
Instituto Pólis- Rua Cônego Eugênio Leite, 433 - São Paulo - SP - Brasil
CEP 05414-010 - Telefone: (011) 853-6877 - Fax: (011) 852-5050 -
e-mail: polis@ax.apc.org

You might also like