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39 Oromeno no contexto romanico Bruno Fregni Bassetto! Resumo: This paper deals with the Romanian language and the philological aspects that are traditionally interpreted as due by its internal and external history. We seek to show the importance of the Romanian language as one of the most important source in the study of Vulgar Latin, as well as Sardinian, despite the influences suffered by the action of substratum, superstratum, and adstratum. Palavras-chave:Filologia Romanica, Lingitistica Romdnica, lingua romena, his- t6ria externa da lingua romena. A fisionomia especifica de cada lingua romanica foi desenhada pela conju- Bago dos fatores da histéria externa e da histéria interna de cada uma. O substrato, o superstrato e os diversos adstratos, itens fundamentais da hist6ria externa, ndo podem ser ignorados, se quisermos chegar a explicagées aceitaveis da diversidade entre as inguas romanicas. Por outro lado, as raizes comuns que emergem do latim vulgar justificam as semelhangas, que fazem delas uma fa- milia lingiifstica bem caracterizada. Nessa perspectiva, o romeno singulariza-se sob varios aspectos dentro da Romania, mas sem perder seu cardter latino. Representa por isso bom termo de comparagao em relagao a evolugao das outras linguas romanicas, ao que todas herdaram do latim vulgar e ao que é proprio de cada uma. Nesse sentido, 0 Bruno Fregni Basseto € Professor Titular de Filologia Romanica - aposentado - FFLCH/USP ¢ membro da Associagao Brasileira de Filologia (ABF). Organon, Porto Alegre, n° 44/45, aneiro-dezembro, 2008, p. 39-52 40 Bruno Fregni Bassetto romeno, ao lado do sardo, embora esse sem maior destaque, mereceu atengao especial da drea de Filologia Romanica na Universidade de Sao Paulo. ‘A historia externa do romeno inicia-se no século II d.C., quando o impera- dor Trajano (98-117) conquistou a Dacia numa guerra que durou mais do que o previsto, de 101 a 107. Antes disso, porém, 0 territério da Dacia era percorri- do pelos comerciantes romanos, portadores das noticias sobre as riquezas de minas de ouro e sal da regido. Consolidadas as conquistas da Panénia e do Ilirico ao leste, da Mésia (15 a.C.) e da Tracia ao sul, tendo 0 rio Dantibio como limite, foram surgindo pequenas cidades ao longo do Daniibio, apoiadas pelos navios romanos e pelas colénias militares. Precedida de tentativas diplomaticas de paz. com Decebal, rei da Duras Diurpaneus,a unido dos dacios, de limitadas incursdes militares, o imperador Trajano invadiu a Dacia, partindo da Dobrogea eatravessando o Dantbio. Os dois primeiros anos de guerra nao foram favord- veis a nenhum dos dois lados e fez-se uma trégua, Trajano recompés suas legi- Ses ¢ voltou em 105, terminando a conquista no vero de 106. Em 107 foi cria- daa provincia imperial romana da Dacia. Decebal conseguiu fugirs alcangado, porém, pela cavalaria romana, preferiu suicidar-se se entregar ao cativeiro. Muitos detalhes dessa guerra nos sdo desconhecidos, porque se perderam as obras que as relatavam. Historiadores procuraram reconstituir parte dos fatos, interpretando as gravuras da coluna de Trajano, levantada em 113. De qualquer forma, a guerra deve ter sido devastadora, a julgar pelo que diz 0 historiador romano Eutrépio, em Breviarium ab Urbe Condita (8,6): Traianus, victa Dacia, ex toto orbe Romano infinitas eo copias hominum transtulerat ad agros et urbes colendas. : Vencida a Dacia, Trajano transferira para Id imensa quantidade de homens para habitar as cidades e cultivar os campos. Essa afirmagdo de Eutrépio leva a crer que a guerra tenha dizimado os dacios ¢ um niimero considerivel deles tenha seguido 0 exemplo do chefe Decebal. Inscri¢des confirmam Eutr6pio, indicando colonos provenientes da Dalmécia (mineiros), da Mésia Superior e Inferior, Pan6nia, Trécia, Sfria, Asia Menor, Grécia ¢ Itdlia, Essa substituigao de populagao, porém, é particularmente im- portante no caso da Décia, porque os romanos foram obrigados a abandonar essa provincia em 271, sob pressio dos godos. Tendo repelido com dificuldade tum primeiro ataque, o imperador Aureliano foi forcado a retirar suas legides da Dacia ao norte do Damibio, enquanto Dobrégea, ao sul do Dantibio até 0 Mar Negro, foi recuperada pelo imperador Diocleciano (284-305). A Dacia fez parte do Império Romano, portanto, de 107 a 271, ou seja, 164 anos. Mas com 4 recolonizagio por elementos latinos, especialistas afirmam que em cingiienta anos a Décia jé estava profundamente romanizada, fato que explica a manuten- io da cultura e da tradigao latinas, apesar do periodo relativamente curto em Organon, Porto Alegre, n# 44/45, janeiro-dezembro, 2008p. 39-52 romeno no contexto roménico 41 que fez parte do Império Romano, Contudo, mesmo com a retirada das legi- bes, as demais instituigées continuaram a funcionar, embora precariamente, sobretudo depois da divisio do Império por Constantino Magno, quando a Dicia passou a ser influenciada por Bizancio, esvaindo-se a presenga prepon- derantemente direta de Roma, O intervalo compreendido entre 271 e meados do século VII se caracteriza pela passagem de povos migratérios: godos, hunos, gépidas, avaros e eslavos. De meados do século VII ao X, deu-se 0 assentamento constante de eslavos no territério dacio e sua assimilagao pela populacao romanizada. Nesse perfodo, segundo os historiadores, formaram-se 0 povo romeno ¢ a lingua romena. A presenca dos romanos nesse periodo é atestada por numerosos vestigios e mo- edas, posteriores a época do imperador Aureliano, encontrados sobretudo no Banato e na Oltenia, ao sul, como também na Transilvania, ao norte. A partir do século X, constituem-se organizagSes politicas pelas populagées autéctones. Anonymus, secretdrio do rei Bela III, da Hungria, em Gesta Hungarorum, cita trés fara, ‘terras”, “paises” romenos ou romano-eslavos: no Banato, chefiado por Glad, em Criana, sob 0 comando de Menomorut, e no Planalto da Transilvania, comandado por Gelu, mas que se consolidou sé em meados do séc. XII, com sucessdo ininterrupta até ao séc. XVI. Eram organiza- es politicas do tipo feudal, também denominadas voivodias; seu suserano era © voived. Ainda segundo Gesta Hungarorum, datam dos primeiros anos do século X as primeiras invasoes de tribos htingaras no territério romeno, cuja Iingua se tornou fonte de empréstimos Iéxicos ao romeno. © Estado Romeno comegou a se constituir quando Ionitza (Ionia) Asan foi coroado “tei dos biilgaros e dos valacos", em 1204. Enquanto a Transilvania, a0 norte, estava sob 0 domfnio hiingaro, a Valéquia, formada entio pelas atuais provincias da Oltenia e da Munténia, e a Moldavia tornaram-se voivodias ou principados independentes no séc. XIV. Mais figis 4 manutencio da tradigao latina. os valacos denominavam sua patria de Zard Romaneascé que se estendia do Dantibio até aos Cérpatos. Nesse periodo, destaca-se a figura legendaria de Besarab (1310-1352), voivoda de Arge, regiao central do pais, que venceu os huingaros, sendo por isso celebrado em poemas épicos como o Negru-Voda, 0 fundador da Valaquia. O principado da Moldévia foi fundada por Bogdan, voivoda da regidio de Muramure, ao norte, libertando-se dos htingaros em 1359. No século XV, esses dois principados foram submetidos pelos turcos, cuja Iin- gua tornou-se adstrato do romeno, origem de numerosos empréstimos léxicos. Em 1718, os austriacos incorporaram o Banato e a Oltenia, na luta contra os turcos, com 0 quais assinaram tratado de paz de Belgrado, em 12 de setembro de 1739. Por sua posicao geografica e falta de unidade politica, as guerras entre turcos, russos, htingaros e austriacos tiveram reflexos no territério romeno, cujos habitantes sempre procuraram defender sua identidade lingiiistica e cultural. Mesmo antes de sua unificagao e da independéncia politica, esta ocorrida em 9 ‘Organon, Porto Alegre, nt 44/45, janeiro-dezembro, 2008, p. 39-52 | | 2 Bruno Fregni Bassetto de maio de 1877, reconhecida internacionalmente no ano seguinte, seus inte- ectuais nunca perderam de vista suas origens. Em 1757, Dimitrie Eustatievici escteveu a Gramatica Romaneasca sem divida a primeira do romeno de que se tem noticia. Convém recordar que, enquanto as linguas romanicas do Ocidente manti- nham contato permanente com o latim medieval da Igreja, das escolas, da ad- ministracdo e dos documentos oficiais, 0 romeno permaneceu no Ambito da cultura eslavo-bizantina do Império Romano do Oriente, cuja lingua oficial e religiosa era inicialmente o grego. Posteriormente, com a instituigao dos prin. cipados eslavos, denominados voivodias, passou-se a usar 0 eslavo antigo ¢ 0 médio biilgaro. Esse eslavo, entao empregado, foi chamado também “paleoeslavo" ou “antigo eslavo eclesidstico”, escrito com o alfabeto cirilico. O paleoeslavo substituiu o grego eclesidstico no final do século IX, quando a Igre- ja biilgara se declarou independente da de Constantinopla, Em 1020, a Igreja romena se uniu a biilgara, embora os romenos tenham sido cristianizados por missiondrios ocidentais, conforme comprovam os termos cristéos mais anti- gos, de origem latina, como rom. inger< lat. angelu, ‘anjo’, biserica rasboi, guerra”, Na segunda metade do século XIX, tedricos da lin- gua e escritores aproximaram-se ainda mais da cultura romanica ocidental e introduziram grande numero de termos franceses ¢ italianos, como o fez Heliade Radulescu (1802-1872), italianiofila confessa. Muitos termos foram buscados diretamente no latim, desde que fossem 0 terminus a quo de vocdbulos panrominicos, sendo bastante raras as excegdes, com a evidente intengao de integrar 0 romeno no mundo romanico. Alids, os romenos sempre se orgulha- ram de ‘Serem descendentes dos dacios e dos romanos”, Alguns exemplos de empréstimos diretos do latim: lat. affabilis>rom. afabil, amor>amor, applausus >aplause, artem>art, componere>compune, exemplum>exemplu, libertatem >libertate, offere>oferi, producere> produce, promittere>promite, sperare>spera, scientia> stiinjei, unicum>unic, vocabularium>vocabular, vocationem> vocafie. Como observou Theodoro Henrique Maurer (A Unidade da Romania Oci- dental, p. 76), parte consideravel das palavras tornou-se panromanica por in- fluéncia do francés e do italiano, as duas linguas de maior prestigio dentro da Rominia ao longo dos séculos. Entretanto, o francés foi o modelo preferido nesse processo de relatiniza¢ao. Nao foi, porém, simples transposicao ou decal- que; adaptaram-se os empréstimos ao sistema léxico e morfolégico romeno. Para tanto, desloca-se o acento tonico se necessario: fr. direction>rom. diréctie; historique>istoric, nation > naipune, opinion> opinie entre muitos outros. Note- se, porém, que os acentos grificos nesses vocdbulos indicam aqui apenas a sfla~ ba tonica, jA que o sistema ortogréfico romeno nfo usa acentos. Emprega ainda seu sistema proprio de prefixos, como fr. décourager>tom. descurja; acolhe por vezes o empréstimo num sentido especifico, e.c., doctor, “médico”, curte, "corte de um rei’, casos de empréstimos semanticos. Em outros casos, imita apenas o modo de composigao e langa mao dos elementos do sistema vernd- culo, como fr. prétendu>rom. pretins; résigner>resemna com as bases rome- nas re+semna, ou ft. déplorer J8/ (como no albanés no biilgaro) é atribuida ao substrato trécio comum. Na sintaxe, a posposigdo do artigo definido, o desaparecimento do infinitive nas rages subordinadas ea formagio do futuro com um verbo que expressa “que~ rer"inserem o romeno no substrato comum do conjunto das linguas balcanicas, pelo menos em parte. Se o substrato pouco de seguro contribuiu para a formagao do romeno, 0 superstrato eslavo, ao contririo, deu-lhe uma contribui¢éo muito vasta, pelo menos até ao processo de relatinizacdo. Por causa de seu isolamento em relagao as demais linguas romanicas e ao latim medieval e eclesidstico, 0 romeno recor- tia ao eslavo como fonte de empréstimos, da mesma forma que suas irmas se valiam do latim. Dessa forma, palavras latinas extremamente usuais foram subs- titufdas pelas eslavas correspondentes. Exemplificando: lat. amare, rom. a iubi; finis, rom. sfirgit, fim", honor, rom. cinste, “honra”, carus, rom. drag, “queri- do”, pauper, rom. sarac, “pobre”, corpus, rom. trup, "corpo", morbus, rom. boalé, "doenca’, descendere, rom. a cobori, “descer” infans, rom. prunc, ‘criancinha", sanus, rom. teafar, ‘sadio’, avarus, rom. scump, “avarento ”,Tam- bém os termos de cardter religioso normalmente provém do eslavo antigo, usa- do na liturgia, como se assinalou acima: gregeald, ‘culpa’, a sfingi, “santificar”, voie, “vontade%, ispita ‘tentagdo”, a isbavi, Aivrar", ficioard, “virgem“etc. Por outro lado, contam-se cerca de 120 palavras de origem latina, cujas for- mas herdadas so encontradas s6 no romeno, entre as quais destacam-se as seguintes: lat. densus>rom. des (dalmético dais, enquanto as outras linguas romanicas partem de spissu>port. espesso, cast. espeso, cat. e prov, espes, fr. épais, eng. friul. espes, logodurés (sardo) ispissu, it. spesso; cf REW 8160); lat. cerebrum>tom. creier (cérebro em port.¢ erudito); hospitium>ospaf ban- quete", adjutorium>ajutor, "sjuda's blanditia> blindefe, ‘mansidio’s languidus Slinced, ‘taco’ albastrum>albastru, "x2ul’, jugulare>junghia, libertare>ierta, margella>margea, perambulare>plimba, ‘passear’s procedere>purcede, ‘pat- tir’, ‘comecar’, trepidare> trepada>mod. trepida, *repidar’s lingula>lingura, “colher"(< cochlearium). Organon, Porto Alegre, n? 44/45,janciro-dezembro, 2008, p. 39-52 O romeno no contexto roménico 45 Enquanto 0 superstrato eslavo deu contribuicao consideravel ao léxi- co romeno, a influéncia e as possiveis contribuigées do superstrato germanico so poucas e até controversas. Gamillscheg enumerou 26 empréstimos gépidas; foram, porém, contestados porque podem ser atribuidos a antigos substratos oua outras fontes; assim, tapd, “cepa”, pode provir do latim vulgar; tufd, ‘moi- ta”, esté documentado em Vegécio. Na Transilvania e no Banato, hé numerosos empréstimos germanicos mais recentes, provenientes do contato com colonias de saxées, implantadas na Transilvania nos séculos XII e XIII; outros vieram através da administracdo hiingara e austrfaca. Diversos entrepostos comerciais dos saxdes, sobretudo em Brasov (em alemao Kronstadt), difundiram termos alemies também nos outros territérios romenos. Cumpre lembrar que apenas os gépidas se fixaram permanentemente na Dacia, no séc.V, assimilando-se depois a populacao romanica. O historiador romeno C.C. Diculescu, em 1922, estudou os gépidas e apresentou um némero consideravel de empréstimos des- se povo, mas suas etimologias, em sua maior parte, foram rejeitadas pelos espe- cialistas, como o foram também as de Gamillscheg. ‘A posigéo geogréfica, como um corredor ligando 0 Oriente ao Ocidente, pela interposigéo do Mar Negro, colocou a Roménia numa situagio particular, com muitos vizinhos étnica e lingiiisticamente diferentes. Sua atribulada histé- ria colocou-a entre vizinhos que influenciaram sua cultura e sua lingua, sem contudo tirar-lhe as caracteristicas latinas originais. Por tudo isso, sao muitas as influéncias dos diversos adstratos. Aquele que mais legou empréstimos léxi- cos ao romeno foi o turco otomano; a dominagao turca nos séculos XV e XVI deixou pouco mais de 900 empréstimos na Valéquia e na Moldavia, dos quais pouquissimos passaram para a Transilvania. Grande ntimero, porém, arcaizou- se, permanecendo em uso comum relativamente poucos. Exemplificando: tur. cavush>rom. ceaus, ‘estafeta’, “correio% goban>cioban, "pastor", murdar> murdar, ‘sujo”, 4ndecente", musafir>musafir, *héspede”, pehlivan>pehlivan, ‘acto- bata’, ‘charlatéo’ oda>odaie, ‘comodo, ‘casa’, ulufe > leaf, ‘salario’, ‘soldo’. Outra fonte importante de empréstimos ao romeno foi o adstrato htingaro, sobretudo através da Transilvania, regiao que pertenceu politicamente & Hungria ¢ ao Império Austro-Hiingaro por muito tempo, voltando a fazer parte da Roménia apenas em 1918. Os empréstimos sao cerca de 600 e tardios, encon- trados praticamente s6 no daco-romeno; é notdvel que os transilvanos, embora ligados politicamente a Hungria, nao mantiveram relacdes comerciais e cultu- rais com aquele pais. Relacionavam-se muito mais com as regides romenas a0 sul dos Cérpatos, para onde também levavam seus rebanhos para pastar duran- te o inverno e vendiam seus produtos. De qualquer forma, os primeiros em- préstimos htingaros j4 aparecem nos documentos dos séculos XIV e XV, redigi- dos em eslavo; os que permaneceram sao em geral termos concretos do quoti- diano, que suplantaram os respectivos termos latinos: hting. cenk > rom, fine ou finc, ‘cria’, nenezinho’s esinos > cinag, indo”, ‘querido” dsingds > gin- Organon, Porto Alegre, né 44/45, janeiro-dezembro, 2008, p. 39-52 46 Bruno Fregni Bassetio gag, Sensivel’, terno% gond > gind, ‘pensamento’ lab > labd “pata”; munca >munca, ‘trabalho penoso”, szallds>sdlas, ‘domicilio”, ‘moradia”, vdros>oras, “cidade” (cf. lat. ciuitatem>rom. cetate, fortaleza”). : " “As vicissitudes histéricas ¢ a posicao geografica do territério romeno deixa- ram ainda outras marcas na lingua. Fazendo parte do Império Bizantino, cuja lingua corrente era o grego, além da proximidade territorial coma propria Grécia, 6 romeno recebeu forte influéncia do adstrato grego em varios periodos. Os mais antigos empréstimos gregos foram indiretos, através do latim ou do eslavo. Assim, rom. martur, “testemunho 4 € mais provavel ter vindo através do lat. martyr, atestado j4 em Tertuliano (155-220 d.C.) e usual na terminologia ecle- sidstica do que diretamente do grego pdiptup; mesmo se pode afirmar de rom. ciumd , “peste”, através do latim cyma, “inchago’, um dos sintomas da peste, do que diretamente do grego KUpN} rom. trufie, “arrogancia” esl. ant. kaluger>rom. calugér, "monge’s gt. KehAiov> esl. ant.>kelija>rom. chilie, “cela, ‘retiro” Alguns empréstimos do grego mé- dio, porém, podem ter sido diretos, como gr. méd. $&/.0g evolulda da forma classica Sheh0¢> rom. folos, “utilidade’, Aucro’ gptKn, ‘temor religioso”,>rom. fricd, ‘medo’s delmm>rom. lipsi, ‘faltar’, ‘privar”. ; De 1711 a 1821, principes gregos, denominados ‘fanariotas”, governaram os principados romenos sob a égide de Constantinopla; com esses fanariotas vie~ ram muitos imigrantes gregos, responsaveis pelos cerca de 640 empréstimos do neogrego ao romeno. Entretanto, a maioria deles teve vida curta entre os ro- menos, enquanto uns tantos foram de fato incorporados, como, ¢.g.: neogr. ovvovnisi> conopida, ‘couve-flor’s Gv6n050.> rom. anapoda, “0 contrario’, K u $ONAa.clés. OAROY, sing,, folha de planta")> fild, ‘folha de papel’s poReWo> molima, ‘epidemia’s vootiH0¢>nostim, ‘gentil’, “amdvel’s mhiyKtw> plictisi, mborrecers KAO pI >calimard, “tinteiro’. Desse modo, a influéncia do gre- go, desde a fase clissica até ao neogrego, sobre o romeno foi mais prolongada do que sobre as linguas romanicas do Ocidente. a - ‘Ainda nesse contexto, o romeno conta cerca de 50 empréstimos do albanés, alguns dos quais muito antigos, mostrando uma afinidade notavel entre 0 ro- meno, o dalmético ¢o albanés. Atribui-se tal afinidade & contigidade geogré- fica, ao substrato ilitico-tracio comum e ao isolamento das duas linguas roma- nicas. Em relagao a esse substrato comum, 0 maior problema reside na ocaliza- a0 do bergo do proto-romeno: se na Dacia de Trajano,a0 norte do rio Dandbio, 2 ao sul, Conceituados romanistas, com destaque para Alexandru Philippide (1859-1933) e seus estudos criteriosos, julgam que 0 proto-romeno teria nascl- Organon, Porto Alegre, n? 44/45, janciro-dezembro, 2008p. 39-52 romeno no contexto romanico 47 do ao sul, a direita do Dantibio, atual territério da Bulgaria, onde teria havido uma simbiose com 0 albanés. Seus argumentos filolégicos sao verossimeis: au- séncia de elementos germanicos antigos, o carater builgaro dos empréstimos eslavos mais antigos e a concordancia com o albanés, que nao teve maiores penetragées ao norte. Admitindo-se que o albanés provenha de um dialeto trdcio-ilirico, apesar do pouquissimo conhecimento existente tanto do tracio como do ilitico, duas Iinguas indo-européias de grupos diferentes (o trécio do satem € 0 ilirico do kentum), haveria um substrato comum, naquele territério, que explicaria, com alguma seguranca, as correspondéncias entre antigos em- préstimos ao romeno e os correspondentes do albanés. Exemplificando: rom. mal, “margem escarpada” (Vejam-se a Décia Muluensis ¢ a Ripensis citadas), alb. mal, ‘monte’ rom. argea, ‘cabana de verao (onde se tece o linho) *,alb. ragal, “abana” rom. abur, e alb. avul, ‘vapor’, rom. brad e alb. breth, ‘abeto’s rom. mazare e alb. mothule, *ervilha”. Esses empréstimos podem provir diretamente do substrato tracio-ilirico ou através do albanés, sendo extremamente dificil precisar a via de fato seguida. Do albanés como adstrato, e portanto mais re- centes e sem hesitacées, sao alb. budze>rom. buzd, ‘1abio’s alb. grumas > rom. grumaz, ‘garganta’, ‘cerviz’s alb. kopil>rom. copil, ‘menino’, ‘filho’s alb. thap> rom. jap, ‘bode”, Em que pesem todas essas influéncias e seus aportes léxicos, o romeno nunca deixou de ser uma lingua fundamentalmente rominica, fato admiravel, se con- siderarmos sua histéria e o grande ntimero de culturas com as quais teve que conviver e suplantar. Aatribulada historia externa do romeno, teve obviamente reflexos na inter- na. Na fonética, cumpre destacar os fatos mais caracterfsticos: Ao contrério das linguas romanicas do Ocidente, que tinham sete, o romeno dispunha inicial- mente de apenas seis fonemas vocilicos, fato comum nas linguas balcanicas: nao houve distingao fonolégica entre 0 /o/ aberto e o fechado, cuja causa ainda se discute. (Cf. port. sobre [6], ‘em cima dee sobre [6], subjuntivo de sobrar:) ‘Atualmente se perdeu também a distingao entre 0 /e/ aberto eo fechado, jé que o aberto, proveniente do /e/ latino, sofreu a chamada ditongacao espontanea>/ ié/ como em lat. mélem>rom. miere, péctum>piept. Entretanto, os fonemas mais caracteristicos do romeno sao as vogais centrais posteriores, grafadas /a/, com o mesmo sinal da braquea latina, que os romenos denominam caciula, e /4/ ou Fil, representando o mesmo som. O /a/ faz parte também do sistema fonoldgico biilgaro (grafado /a/) e do albanés (grafado /é/); por isso presume-se que esse fonema provenha do substrato tracio-ilirico, comum a regido. No ro- meno, 0 /4/ s6 é usado no nome do pats e seus derivados: Romédnia, roman, roméneste, romanca etc; em todos os demais casos, grafa-se /i/. Observe-se que entre /a/ e /ai ha distingao fonolégica, mas s6 em silaba ténica ou final, como em mari (“mares”) e mari (“grandes”); jend (‘tortura’) e jena (‘a tortura ,em. que houve crase do a final do vocabulo com 0 a do art, fem. sing.). D4-se 0 Organon, Porto Alegre, n 44/45, janciro-dezembro, 2008, p.39-52 48 Bruno Fregni Bassetto mesmo entre /a/e /i/, comumente também sé em silaba tonica, como em var (-primo”) e vir (ew introduzo”) rau (‘mau e riu (‘tio”), ura ("ele desejava’) e uri (“ele odiou”). Esses fonemas, clasificados como ‘centrais", sao caracteristi- cos ¢tinicos entre os sistemas fonolégicos das linguas romanicas, jd que o cor- respondente apontado do portugues de Portugal (v.g. rapariga!) nao tem valor fonolégico. ; x Na morfologia, o romeno é a tinica lingua romanica que conservou o géne- ro neutro, Segundo Al. Rosetti, *.. masculinul i femininul, care formeacd impreund genul animat, pe cind neutrul formeaza genul inanimat. Neutrul se aplica inanimatelor, colectivelor i abstractelor.” (...0 masculino eo feminino, que juntos formam 0 género animado, ao passo que o neutro forma o género jnanimado. © neutro aplica-se aos inanimados, aos coletivos e aos termos abstratos.) (Istoria Limbii Roméne, p.618) Modernamente, 0 romeno nao apre- senta nenhum nome de animado que seja neutro, conforme observou Roman Jakobson, Formalmente, os neutros identificam-se com 0 masculino no singu- Jar; no plural, do lat, -ora, nominativo ou acusativo neutro plural de termos como corpora, onera, adaptaram_—uri, como em sing, gen, pl. genuri, ceas/ceasuri, *hora/horas’, drept/drepturi, ‘ireito/direitos“lucru/lucruri, "coisa/coisas”. (O romeno é ainda a tinica lingua romanica que declina os nomes, embora com uma declinacao simplificada, cujas flexes sto empregadas apenas em nomes articulados: 0 nominativo e o acusativo tem a mesma forma, como também 0 genitivo e 0 dativo, e um vocativo; assim, para 08 nomes masculi- nos, no singular, nom.-acus.. omul, gen.-dat. omului, vocativo, omule; no plural, nom.-acus. oameni, gen.-dat. oamenilor, voc. oamenilor, para os fe- mmininos, nom.-acus. ziua, gen.-dat. zilei, e no plural, nom.-acus. zilele, gen.- dat. zilelor. Normalmente, os nomes femininos nado tém forma vocativa, a ndo ser os nomes proprios, que assumem um /-o/ na fala popular: Ana, voc. ‘Ano, Maria - Mario, Ioana- Ioano, enquanto Ana, Maria, Joana sao literari- as. Os nomes préprios masculinos tém 0 vocativo em /-e/: fon — Ione, Radu ~Radule, Popescu ~ Popescule. Quanto aos verbos, a lingua romena conservou as qual ; nas bem distintas, com algumas variantes principalmente na quarta, diferente- mente do portugués e do castelhano, que dispdem de apenas trés. Desse modo, lat. cantare > rom, cinta; debére > debea; mergére > merge; dormire > dormi; so melhor caracterizadas na primeira pessoa do plural do presente do indicativo: lat. cantamus > rom. noi cintém; debemus > noi debém; mergimus > noi mérgem; audimus > noi auzim (o acento agudo apenas para indicar a een Curiosa é a distingdo que se faz entre 0 infinitiv scurf “infinitivo encurtado’, sem o morfema /-re/, que é o verbo propriamente dito, e o infinitiv lung, “énfinitivo longo" com /-re/, que é 0 substantivo correspondente, sempre femi- “canto”, ‘cantico”, como em Cintarea tro conjugagées lati- nino; assim, cinta significa ‘cantar’ecintare, Cintarilor, ‘O Cantico dos Canticos”. Organon, Porto Alege, né 44/45, janeiro-dezembro, 2008, p.39-52 0 romeno no contexto rominico 49 Hé ainda dois outros torneios verbais préprios do romeno. Como se sabe, 0 latim vulgar perdera as formas do faturo latino. A maioria das linguas romani- cas partiu de locugdes como cantare habeo para estabelecer a forma do futuro, como port. cantar + hei > cantarei, cast. cantaré, fr. chanterai, it. cantard etc. O romeno forma o futuro, denominado viitor, com o verbo vrea (< lat. vulg. volere, cl. velle), ‘querer’: eu voi cinta, tu vei cinta (“eu cantarei’, ‘tu cantards”) etc. Contudo, nos dois processos romanicos estava implicita a idéia de futuro. A outra caracteristica do verbo romeno esté na formagao da voz passiva. En- quanto as Iinguas roménicas a formam com o verbo ser, segundo 0 modelo latino do perfectum, o romeno forma a passiva com o verbo a fi, do lat. fieri, “wir a ser”, e 0 particfpio, tomado como adjetivo e devendo, portanto, concordar com 0 sujeito em género e nimero: a fi cintat, ‘ser cantado’, vom fi chemafi, “seremos chamados”e vom fi chemate, ‘seremos chamadas”. Note-se que, em- bora se use um auxiliar diferente, a estrutura é perfeitamente romanica. Na sintaxe, 0 mais notavel para nés é a auséncia de oragGes infinitivas no romeno, tao comuns as linguas romanicas, heranga certamente latina da co- nhecida construgao do acusativo com infinitivo. Uma ora¢éo como “Pe¢o-te vender-me também um quilo de a¢ticar” deve ser desdobrada para enquadrar- se nos moldes romenos: Te rog sd-mi vinzi incd um kilogram de zahar, isto é, Peco-te que me vendas... Ou em periodos mais simples, como Vreau sd plec, “Quero partir’, Pot sd'fumez?, ‘Posso fumar?” Por fim, no contexto romanico, s6 0 romeno pospée o artigo definido. Dis- cute-se a causa dessa particularidade. £ certo que as linguas eslavas vizinhas pospéem 0 artigo, o que certamente teve influéncia maior ou menor. As formas do artigo definido romeno derivam-se de ille, illa, illud, do mesmo modo que em outras linguas romanicas. Ora, no latim era comum antepor ou pospor 0 demonstrativo; dizia-se tanto ille homo como homo ille. Por isso, ha romanistas que julgam ter-se fixada, no latim balcénico, a posposigio, fato que seria 0 terminus a quo dessa colocacao do artigo, reforcado pelas influéncias dos diver- sos estratos de que se tratou acima, nos quais 0 artigo é sempre posposto. Por vezes, é bastante dificil precisar a origem de um fato lingiifstico como esse, uma vez que o latim nao dispunha de artigos e os das linguas romanicas nasceram das necessidades concretas da fala do povo, cuja documentacao confirma o fato geralmente bem distante de seu nascedouro. Quanto 4 literatura, os primeiros documentos em romeno datam do séc. XVI, jé que o eslavo foi a lingua oficial da Igreja e da administracao nos territé- rios romenos dos séc. XIV a meados do XVI, o que impedia que 0 romeno se fixasse como lingua escrita. Somente em 1521, surge o primeiro documento em romeno, ainda assim com a introdugao ¢ a saudacio final exaradas em eslavo. Trata-se de uma carta, escrita pelo grio senhor boiardo Neacu de Cimpulung ao juiz Hans Benkner, da cidade de Braov, comunicando uma invasio dos tur- cos pelo rio Dantibio. Usa o alfabeto cirilico da época, mas denomina Tard Organon, Porto Alegre, n° 44/45, janeiro-dezembro, 2008, p.39-52 50 Bruno Fregni Bassetto Roméneasca a regiao da Valaquia, fato que denota, sem duvida, consciéncia da identidade nacional. $40 também de meados do século XVI os primeiros escri- tos religiosos, conservados em quatro cédices. Contém parte dos Evangelhos dos Atos dos Apéstolos, uma tradugao em prosa dos Salmos, além de duas ou- tras versdes dos salmos, igualmente denominadas Voronefe Hurmuzachi. Muitos erros, repetigdes, omissoes € interpolages demonstram que se trata de c6pias dle codices mais antigos. Supde-se que sejam tradugoes de inspiragao luterana, cuja reforma rapidamente se estendeu pela Transilvinia. Pelo que se sabe, 0 primeiro livro impresso em romeno foi um catecismo protestante, traduzido do htingaro e publicado em Sibiu, cidade da Transilvania, em 1544, que se per- deu. O Catecismo de Coresi, porém, publicado em Braoy, em 1559, conservou- se quase integralmente. Também os calvinistas traduziram livros ¢ os publica- ram em romeno, com fins propagandisticos; foram os primeiros a tentar escre- ver a lingua com 0 alfabeto latino. Portanto, as primeiras atestagGes do romeno sao bastante tardias, e ainda assim de caréter politico ¢ religioso, enquanto as outras inguas romanicas ja dispunham de considerdvel literatura artistica. Os romenos nao tém literatura medieval e sua auténtica literatura s6 surgiu com vigor no século XIX, com a superagio das diversidades regides; antes de tudo foi necessario unificar a ortografia ¢ com elaa lingua nacional literdria, proble- ma que se arrastou de 1880 a 1953, algo semelhante ao que esté ocorrendo attualmente com o galego na Espanha e com o romanche da Sufga. Nesse autén- tico empreendimento, merece destaque a atuacao fundamental de Titu Maiorescu (1840-1917), filésofo, socidlogo, orador e critico de arte. Dentre os mais destacados nomes da moderna literatura romena, para citar apenas al- guns, sobressaem fon Creangii (1837-1889), contista moldavo; Mihai Eminescu (1850-1889), poeta classico e lirico, pertencente literatura universal; fon Luca Caragiale (1852-1912), autor de romances, contos peras teatrais; Mihail Sadoveanu (1880-1961), com mais cem obras de todos os géneross Barbu Stefinescu Delavrancea (1858-1918), romancista ¢ dramaturgo; Tudor Arghesi (1880-1967), freqiientemente comparado a Eminescu, um dos maiores poetas nacionais ¢ autor também de muitas obras em prosa; George Calinescu (1889- 1965), prosador, critico historiador literdrio. Infelizmente, os autores rome- nos sio muito pouco conhecidos no Brasil. Para concluit, uma breve referéncia 8 questéo moldava. O principado da Moldavia, regido na parte norte oriental da antiga Décia, incluiu, do século XIV ao inicio do XIX, a Bessarabia, cujo territério esta situado a leste, entre os rios Dniestre ¢ Prut. Ali também surgiram variantes daco-romenas com carac- teristicas moldavas. Com o fim da guerra russo-turca (1806-1812), pelo Trata- do de Bucareste, a Bessarabia foi incorporada a Russia, a qual pertenceu até a0 fim da primeira guerra em 1918, quando voltou a pertencer a Roménia. A instabilidade politica persistiu; 0 expansionismo comunista forgou a criagio da Republica Socialista Soviética da Moldavia em 1924, unida & Ucrania. Em Organon, Porto Alegre, n# 44/45, janeiro-dezembro, 208, p. 39-52 ; Oromeno no contexto roménico 51 agosto de 1940, a Bessardbia foi separada da Roménia e incorporada & Moldavia. Essa atribulada historia da regio, toda ela etnicamente romena, nao spent fatores importantes que pudessem acentuaras diferengasdialetais. Os moldavos nao acompanharam a relatinizagao da Ifngua no século XIX, nem passaram a usar 0 alfabeto latino; continuaram a usar 0 cirilico até 1905, quando adotaram © alfabeto russo, parcialmente romanizado, O movimento separatista acen- tuou-se a partir de 1924, quando passaram a denominar seu idioma limba moldoveneascél em ver. de limba romaneascal As conseqtiéncias préticas, po- rém, foram insignificantes, tanto pelas exiguas diferencas lingiiisticas como pelo pequeno ntimero de falantes. Romanistas serenos e imparciais ndo aprovam 0 empenho de lingitistas e filélogos sovieticos, levados por evidentes raz6es poli- ticas, em transformar o moldavo em uma lingua romanica auténoma. Desse modo, haveria no Oriente duas Iinguas romanicas, o que é sustentado também Por uns poucos lingitistas romenos. Com 0 esfacelamento da Unido das Repti- blicas Socialistas Soviéticas, as tendéncias separatistas atenuaram-se no campo lingiifstico, embora a Moldavia preferisse continuar politicamente iadependente, E Entretanto, os defensores da autonomia do moldavo apresentam. poueas diferengas linguisticas, insuficientes para fandamentar a pretendida autono- mia. As particularidades léxicas e fonéticas alegadas sao encontradas também em outras regides da Roménia. Na literatura, a posigdo dos separatistas é ainda mais incoerente, porque consideram pertencentes a literatura moldava autores como Creangii e Eminescu, cuja lingua é indiscutivelmente 0 romeno. Para romanistas conhecedores do assunto, o idioma literdrio € 0 mesmo nos dois campos; a lingua literdria moldava de fato nao representa a fala do povo. A falta de argumentos sélidos levou os préprios defensores da autonomia do moldavo a silenciar sobre 0 assunto, tao logo cessaram os entusiasmos politicos. A Iin- gua literéria romena, constituida com base na variedade falada entre Tirgoviste ¢ Brasov, tem contribufdo bastante para a homogeneidade das variantes dialetais da Roménia. Sendo usada também pelos autores moldavos, pode vir a contri- buir para evitar maiores diferenciages na propria Republica da Moldavia, mesmo politicamente independente. : Bibliografia ACADEMIA Republicii Socialiste Romania — Gramdtica Limbii Roméne. Bucuresti, Editura Academiei, 1966, Ed. a Il-a, tiraj nou, 2 vol. : BALLY, Anatole — Dictionnaire Grec-Frangais. Paris, Hachette, 1990, 42.€ éd. BASSETTO, Bruno Fregni—Elementos de Filologia Romdnica. Sao. Paulo, Edu 2001, vol. I. ai Organon, Porto Alegre, n* 44/45, janeiro-dezembro, 2008, p. 39-52 52 Bruno Fregni Bassetto CONSTANTINESCU, Miron et alii — Istoria Romaniei - Compendiu. Bucureti, Edit. Didactica i Pedagorica?, 1970 DOBRINESCU, Grigore — Gramatica da Lingua Romena. Rio de Janeiro, Edit. Presenca-Edusp, 1978. GRAUR, A. — Gramdtica azi. Bucuresti, Editura Academiei, 1973. LAUSBERG, Heinrich — Lingilistica Roménica. (Trad. Port.) Lisboa, Fundagao Colouste Gulbenkian, 1967, 2# ed. MAURER, Theodoro Henrique — A Unidade da Romdnia Ocidental. Sio Paulo, FFLCH, Boletim 126, 1951. MEYER-LUBKE, Wilhelm — Romanisches Etymologisches Wérterbuch. Heidelber, Carl Winters, 1972, 5te. Auflage. NICOLESCU, Alexandru — Compéndio Breve da Lingua Romena.(Trad. de Olmar Guterres da Silveira) Rio de Janeiro, Presenga-Edusp, 1983. PUCARIU, Sextil - Etudes de linguistique romane. Cluj-Bucuresti, 1937. ROSETTI, Al. — storia Limbii Romédne. Bucuresti, Editura $tiinjificasi Enci- clopédica 1968, ed. al Il-a. TAGLIAVINI, Carlo — Le Origini delle Lingue Neolatine. Bologna, C. Patrén Edit., 1972, 6° ed. Organon, Porto Alegre,n* 44/45, janeiro-dezembro, 2008, p. 39-52

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