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Revista Atualiza Saúde

revista eletrônica de divulgação científica


v. 6, n. 6, julho/dezembro de 2017 | Atualiza Cursos

Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde | Salvador, v. 6, n. 6, jul./dez. 2017 | I


ISSN: 2359-4470

Revista Atualiza Saúde


revista eletrônica de divulgação científica
Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde, Salvador, v. 6, n. 6, jul./dez. 2017

Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde | Salvador, v. 6, n. 6, jul./dez. 2017 | 01


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Ficha catalográfica

R454 Revista Atualiza Saúde: revista eletrônica de divulgação


científica. Vol. 6, n. 6 (jul./dez. 2017). — Salvador:
Atualiza Cursos, 2017.
Semestral
ISSN online 2359-4470
1. Saúde — Periódico I. Atualiza Cursos II. Título.

Ficha catalográfica elaborada pela


Bibliotecária Adriana Sena Gomes CRB 5/1568

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO | 04

A EXPERIÊNCIA DE MÃES DE CRIANÇAS COM CARDIOPATIA CONGÊNITA:


O PROCESSO DE DIAGNÓSTICO, TRATAMENTO E HOSPITALIZAÇÃO | 07
Isis Nunes Veiga, Anamélia Lins e Silva Franco

PERFIL DOS LEITOS DE UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) NA REGIÃO


METROPOLITANA DE SALVADOR (RMS) NO PERÍODO DE 2014 A 2015 | 20
Marcos Emanoel do Amor Divino Borges

A INTOLERÂNCIA À LACTOSE E AS CONSEQUÊNCIAS NA ABSORÇÃO DO


CÁLCIO | 29
Claudia Maria Estevão da Silva

ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NO CUIDADO DO PACIENTE ONCOLÓGICO NO


DOMICÍLIO | 36
Juliana de Abreu Cardoso, Maria Natividade Pereira dos Santos, Sara Santos
de Mello Morgado

TRATAR BRINCANDO: O LÚDICO COMO RECURSO DA FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA


NO BRASIL | 43
Milena Braga Maia Caricchio

A ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM FRENTE À DOR NO RECÉM-NASCIDO DA


UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA | 58
Iza Maria Rodrigues Soares Durães, Raquel Cavalcante de Oliveira

PERCEPÇÃO DA ENFERMAGEM SOBRE O MÉTODO MÃE-CANGURU:


REVISÃO INTEGRATIVA | 69
Pâmella Formiga Santos, Jonas Barboza da Silva, Aislan Santos de Oliveira

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CUIDADOS DE ENFERMAGEM AO RECÉM-NASCIDO COM HIPERTENSÃO
PULMONAR PERSISTENTE | 80
Anarda Kele Ladeira de Lima, Cristiane Maria Guimarães Ribeiro

BENEFÍCIO DA MANUTENÇÃO DE PORT-A-CATH EM PACIENTES DE SEGUIMENTO


CLÍNICO ACOMPANHADOS NO AMBULATÓRIO DE ONCOLOGIA | 90
Aline Ribeiro Ávila

A HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS NO CONTROLE DA INFECÇÃO HOSPITALAR NA


UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA | 96
Andressa Bittencourt Tarso, Camila Carvalho Delgado, Dayane Almeida Brito
Alves, Fernanda Carvalho Fontes, Paula Vitória Abreu Santos

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A EXPERIÊNCIA DE MÃES DE CRIANÇAS
COM CARDIOPATIA CONGÊNITA:
O PROCESSO DE DIAGNÓSTICO,
TRATAMENTO E HOSPITALIZAÇÃO

Isis Nunes Veiga*


Anamélia Lins e Silva Franco**

Resumo
A realidade das crianças portadoras de cardiopatia congênita é especialmente desafiadora. São
sobrepostos limites decorrentes da condição biológica, social e dos sistemas de saúde. Analisou-se
a experiência de mães de crianças com cardiopatia congênita em relação ao processo diagnósti-
co, tratamento e hospitalização. Foram entrevistadas quinze mães acompanhantes. A análise das
entrevistas foi realizada sob duas perspectivas: análise do conteúdo das entrevistas e uma análise
orientada por conceitos propostos no modelo Bioecológico de Desenvolvimento Humano. As
mães têm seu cotidiano modificado pelas frequentes hospitalizações e pelos limites ditados pela
doença e seu tratamento. Através do modelo bioecológico, os resultados apontaram as mudanças
ocorridas nos quatro níveis ambientais dos quais as mães participam: o microssistema da mãe
passou a ser composto por relações com profissionais de saúde; as mães desistem de trabalhar
para cuidar do filho, o que demonstra interferência no mesossistema; o cotidiano da mãe fica
submetido às regras e rotinas do hospital, com repercussões no seu exossistema; com relação ao
macrossistema, foi observado que as condições estruturais do sistema de saúde brasileiro só pas-
saram a ser conhecidas pelas mães após o processo diagnóstico e tratamento dos filhos.

Palavras-chave: Cardiopatia congênita. Mães de crianças cardiopatas. Hospitalização. Desen-


volvimento humano.

1. Introdução rio que provocam disfunção do fluxo sanguíneo.


Essas alterações ocorrem devido a um defeito na
As cardiopatias congênitas são todas as alterações formação embrionária do sistema cardiocircula-
estruturais e/ou funcionais do sistema circulató- tório. A forma de classificação da doença mais

* Fisioterapeuta. Mestra em Família na Sociedade Contemporânea (UCSal). Docente da Faculdade Dom


Pedro II e da Faculdade Maurício de Nassau. E-mail: isisveiga@gmail.com
** Psicóloga. Doutora em Saúde Pública (UFBA). Profª. Adjunta do BI Saúde, UFBA. E-mail: anamelia-
lins@gmail.com

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utilizada é através da presença ou não de ciano- cardiopatia congênita, desde o diagnóstico até a
se, que é a coloração azulada da pele e mucosas hospitalização.
(ABUD, 2007).
1.1. A teoria bioecológica do desenvolvi-
A prevalência de cardiopatias congênitas está en-
mento humano de Urie Bronfenbrenner
tre oito a dez crianças por 1000 nascidos vivos e
são consideradas as anomalias congênitas com Bronfenbrenner (1979/1996) privilegia estudos
maior prevalência ao nascimento (MONTEIRO, em desenvolvimento de forma contextualizada
2000; RANTAK; McCUBBIN, 2002; HOFFMAN; e em ambientes naturais, apreendendo a realida-
KAPLAN; LIBERTHSON, 2004; PINTO JR., 2004; de de forma abrangente e de forma mais próxima
AMORIM et al., 2008; CAPOZZI et al., 2008). Esta daquela como é vivida e percebida pela pessoa no
grande demanda excede a disponibilidade de re- contexto em que habita (MARTINS; SZYMANS-
cursos hospitalares, mesmo em países economi- KI, 2004). O desenvolvimento humano é estudado
camente desenvolvidos, tendo como consequên- através da interação sinérgica entre Processo, Pes-
soa, Contexto e Tempo, formando o modelo PPCT.
cia listas de espera para o atendimento a médio
ou longo prazo destes pacientes (HADDAD et al., O Processo é uma relação entre o ambiente e as ca-
2002). Associado a este fato, nem sempre a equipe racterísticas da pessoa em desenvolvimento, cons-
de saúde e a família estão preparadas para lidar tituindo-se pelos papéis e atividades diárias da pes-
com esta condição crônica. soa. O segundo núcleo é a Pessoa, que envolve as
características determinadas biopsicologicamente
A hospitalização é um momento delicado e bas-
e também as que foram constituídas na interação
tante difícil na vida de qualquer ser humano, es-
com o ambiente, referindo-se a constâncias e mu-
pecialmente quando se trata de uma criança, pois
danças no ciclo vital do ser humano em desenvol-
implica mudanças na rotina da família. Há a an-
vimento (MARTINS; SZYMANSKI, 2004; NAR-
siedade pela exposição da criança e o estresse do
VAZ; KOLLER, 2004).
ambiente, sendo que uma das principais fontes de
segurança das crianças são os pais. Estes exercem O Contexto refere-se ao meio ambiente ecológico
papel fundamental no contexto da hospitalização no qual o indivíduo está inserido e onde ocorrem
infantil, pois representam uma referência para a os processos desenvolvimentais. São quatro os
criança, mediando a relação terapêutica (FAQUI- níveis ambientais que interagem entre si descri-
NELLO; HIGARASHI; MARCON, 2007). tos por Bronfenbrenner (BRONFENBRENNER,
1996; MARTINS; SZYMANSKI, 2004): o micros-
Os estudos realizados em torno dessa temática sistema é o complexo de inter-relações dentro
afirmam a importância das mães como acompa- do ambiente imediato, um contexto no qual há
nhantes e reconhecem esse período como par- um padrão de atividades, papéis e relações in-
ticularmente desafiador, devido às impossibili- terpessoais experenciados pela pessoa em desen-
dades de conciliar as demandas da criança, do volvimento; o mesossistema é um conjunto de
resto da família e da vida profissional. Do ponto microssistemas de que uma pessoa participa dire-
de vista teórico, os estudos não adotam funda- tamente, sendo que a interconexão se aplica não
mentações que fortaleçam suas análises (COL- apenas aos ambientes, mas também aos vínculos
LET; ROCHA, 2003; JACOB; BOUSSO, 2006; entre os ambientes; o exossistema consiste nos
RIBEIRO; MADEIRA, 2006). De acordo com o ambientes que a pessoa não frequenta, mas que
que foi descrito, este estudo teve como objetivo influenciam indiretamente o seu desenvolvimen-
analisar a experiência de mães de crianças com to; o macrossistema é o complexo de sistemas

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encaixados, interconectados, composto pelo con- 2. Metodologia


junto de padrões globais de ideologia, por valores,
O estudo foi realizado em um hospital de refe-
crenças, religiões, culturas e subculturas presentes
rência para cardiopatia congênita, credenciado ao
no cotidiano das pessoas influenciando seu desen-
SUS, em Salvador, BA.
volvimento.
Foi realizado estudo qualitativo a partir de entrevis-
O Tempo, também denominado de cronossistema,
tas com quinze mães com idades entre vinte e um e
é o desenvolvimento no sentido histórico, permi-
trinta e oito anos. As mães tinham seus filhos inter-
tindo observar como as mudanças que ocorrem no
nados em UTI ou enfermaria, estes já realizaram ci-
ciclo de vida influenciam o desenvolvimento hu-
rurgia cardíaca pelo menos uma vez, não sendo es-
mano (MARTINS; SZYMANSKI, 2004; NARVAZ;
colhida nenhuma patologia específica; e aceitaram
KOLLER, 2004).
a participação na pesquisa de modo espontâneo.1***
O modelo proposto por Bronfenbrenner tem seu
Foram realizadas entrevistas semiestruturadas, ori-
foco aproximado no indivíduo e nas relações diádi-
entadas por um roteiro que abordou o medo em
cas, destacando a importância do desenvolvimento
relação à doença; as dificuldades enfrentadas com
como conquista da relação com os vários níveis do
o tratamento; as mudanças na rotina da família e
sistema (FRANCO; BASTOS, 2002). Quando um no casamento.
filho é hospitalizado, a mãe sofre influência no
desenvolvimento, dessa forma, a doença cardíaca As entrevistas foram gravadas, transcritas na ín-
é vivenciada não só pela criança, como também tegra e, posteriormente, submetidas a dois mode-
pela mãe. los de análise. A análise de conteúdo foi orientada
por 13 categorias elaboradas a partir da fala das
Alguns poucos estudos se basearam no modelo mães (GOMES, 2002) e a análise com base no mo-
ecológico para analisar situações de hospitaliza- delo Bioecológico de Desenvolvimento Humano
ção. Concluiu-se que o microssistema familiar foi (BRONFENBRENNER, 1979/1996).
obrigado a se relacionar com o microssistema Uni-
dade de Terapia Intensiva (UTI), sendo que estes Para este artigo, optou-se pela história de uma mãe e
dois ambientes distintos necessitaram tornar-se assim foram analisados os conceitos de micro, meso,
familiares, formando um mesossistema. Assim, exo, macrossistema e cronossistema. Foi considera-
reconheceu-se que ocorreu uma reorganização do que a análise orientada por estes conceitos pos-
da família em resposta ao evento e às demandas sibilitaria observar o desenvolvimento vivido por
recorrentes, como também se reconheceu que, ao esta mãe associado à experiência de diagnóstico e
se relacionar com a equipe de saúde, a criança, em tratamento do seu filho com cardiopatia congênita.
seu novo ambiente ecológico, enriquece-a com
experiências marcantes, pois proporciona apren- 3. Resultados e discussão
dizagem e desenvolvimento. A criança com a sua
família e o membro da equipe de saúde formam 3.1. Análise por categorias
uma díade de atividade conjunta. Concluiu-se, 3.1.1. Diagnóstico da cardiopatia
com o estudo, que o modelo ecológico permite
O diagnóstico da cardiopatia congênita se deu em
compreender que a participação de uma criança
diversas circunstâncias. Algumas mães percebe-
em diferentes contextos proporciona-lhe um de-
senvolvimento mais intenso e qualificado no am-
biente hospitalar (NOVAES; PORTUGAL, 2004; 1 O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do
BOMFIM; BASTOS; CARVALHO, 2007). Hospital, protocolo nº 19398.

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ram e identificaram sinais clínicos nos seus filhos, “Entrei em contato com várias pessoas que ti-
como cansaço e coloração azulada da pele, porém veram filhos, que se deram bem, que tiveram
não imaginavam que esses sintomas fossem carac- problemas e que hoje estão bem. [...] Conheci
casos que deram certo e conheci casos que não
terísticos da cardiopatia. O diagnóstico realizado
deram certo.” (informação verbal).
pelos médicos aplicou-se às crianças que não ti-
nham crise cianótica. Independentemente do grau Percebeu-se que a qualidade das informações for-
de escolaridade das mães, todas elas não imagina- necidas às mães sobre a cardiopatia congênita foi
vam que crianças poderiam apresentar esse tipo de incompatível com seu nível de entendimento e as
doença. Muitas vezes, os sintomas foram associa- mães informaram aspectos de sua ignorância:
dos a problemas respiratórios: “Não tenho conhecimento sobre a doença. Só
“Pra falar a verdade, eu nunca ouvi dizer que fiquei sabendo do problema dele pelo médico
que falou, né, qual era o problema. Que era na
uma criancinha já sentia problema de coração.
aorta, que tava estreita e que tinha que fazer
Eu pensava que não nascia assim...” (informa-
cirurgia. [...] eu pensei que era uma veiazinha,
ção verbal).
mas quando eu vi que era um negoço (sic) gros-
O momento da descoberta gerou, nessas mães, um so, eu me assustei. Nunca tinha imaginado.”
desespero muito grande, além do medo da perda (informação verbal).
do filho. O choro foi a principal expressão de preo- Foram observados diálogos com vocabulário que
cupação após a descoberta da cardiopatia: exigia termos técnicos previamente desconheci-
“Quando soube a notícia da cardiopatia, eu cho- dos, o que foi aprendido ao longo da experiência
rei, chorei tanto!”. (informação verbal). de diagnóstico e hospitalização.

Algumas mães relataram que, após o diagnóstico, 3.1.3. Sentimentos em relação à doença
foi possível associar problemas que os filhos tinham,
Esta categoria trata da preocupação e das mu-
como dificuldade para mamar, fraqueza e desen-
danças decorrentes do diagnóstico. As mudan-
volvimento motor tardio.
ças ocorrem tanto no cotidiano — por exemplo,
quando a mãe deixa de trabalhar — como nos
3.1.2. Conhecimento sobre a doença sentimentos:
As mães, ao serem questionadas sobre o conhe-
“É estranho, é diferente, a gente sente assim, pa-
cimento da doença, apresentaram diferentes res- rece que a gente tem um filho deficiente. Que
postas. Algumas mães afirmaram que nunca le- até então não pode brincar, não pode fazer mui-
ram sobre a doença, algumas por não quererem, to esforço. Sinto preocupação com ele o tempo
ou simplesmente por falta de curiosidade. Outras todo depois que fiquei sabendo da doença.” (in-
mães referiram ter o conhecimento tanto formal formação verbal).
como informal através do contato com outros pais Tristeza foi o sentimento mais manifestado por
de crianças com o mesmo diagnóstico, com suces- meio das falas das mães em relação à cardiopatia
so e sem sucesso. As mães escutam as mesmas his- congênita. Muitas vezes, a mãe busca algum tipo
tórias contadas por outras famílias, o que auxilia de explicação quanto ao motivo pelo qual a car-
essas mães a refletirem sobre o que estão passando, diopatia aconteceu. O sofrimento presente frente
muitas vezes, deixando-as com mais esperança e às incertezas que a experiência impõe faz parte
sentindo-se mais fortes. do processo:

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“Eu me sinto triste. Por que ele tem isso, né? A maior parte das crianças é procedente de outros
Tem que passar por isso, uma criança tem que municípios do Estado. Devido a esse fato, algu-
passar por isso tudo. Ele tá sendo muito forte, mas mães que moram no interior referem o des-
tem horas que até mais forte do que eu.” (infor- locamento entre cidades e o fato de “morar” em
mação verbal).
um hospital, distante da família, de parentes e de
amigos, como o pior momento do processo. Para
3.1.4. Temores provocados pela doença
estas mães, cuidar do filho longe de sua cidade de
As mães afirmaram que um dos seus temores é que origem, vir para a capital sem previsão de quantos
o filho apresente alguma crise em casa, fato rela- dias irão ficar e sozinhas, significam momentos de
tado inclusive pelas mães cujos filhos nunca apre- angústia e desespero:
sentaram crise cianótica ou outros sintomas. As
“O mais difícil é porque eu sou do interior, en-
mães têm medo do imprevisível, do que a doença
tão, minha vida é toda lá, então, o mais difícil é
pode causar e que os eventos ocorram sem condi-
me deslocar de lá pra vir pra cá, então, nunca é
ções de socorro.
como a gente estar perto de casa.” (informação
“Eu tenho medo, sei lá, de ele voltar a ter ou- verbal).
tro problema de novo, ou ele só viver com esse
A análise das entrevistas permitiu identificar que
problema, entendeu? Mas não como era, mas
a maior parte das mães valoriza a figura paterna e
assim, por exemplo, como ele fez agora a cirur-
gia, aí eu levar dois, três meses lá e ele voltar percebe o pai como um companheiro, sendo que o
com qualquer outro problema sobre o coração. envolvimento dele no cuidado da criança constitui
Tenho medo de ele ter alguma coisa em casa.” fator essencial para que elas enfrentem com mais
(informação verbal). força o curso da doença.

3.1.5. Momento mais difícil e fontes de apoio 3.1.6. Sentimento de culpa

A maior parte das mães afirmou que o momento Algumas mães vivenciam a culpa por ter gerado
da cirurgia seguido do pós-operatório foram as uma criança cardiopata, já que foi um evento que
fases mais temidas. A hospitalização para a famí- ocorreu durante a gravidez. As mães imaginavam
lia, muitas vezes, significa dor pelo sofrimento da que tinham contribuído para que seus filhos nas-
criança e preocupação em relação ao prognóstico, cessem com a doença, tanto pela intranquilidade
e esses sentimentos são exacerbados durante a in- na gestação, quanto por não terem descoberto du-
tervenção cirúrgica, já que este processo envolve rante o pré-natal:
riscos, medo, expectativas e fantasias:
“De um modo, eu me sinto culpada, na minha
“Foi no dia que ele fez a cirurgia, foi o momen- gravidez, me enraivava por besteira, eu chora-
to mais difícil. Uma irmã minha tava me dando va muito, então, eu acho que isso contribuiu
apoio nesse momento.” (informação verbal). um pouco pra meu filho ficar assim. Porque
se eu tivesse tido uma gravidez menos dolo-
“Quando ele entrou pra fazer a cirurgia, não fi- rosa, acho que meu filho não tava passando
quei tão traumatizada quanto depois, quando por isso. Eu não sei se o que eu penso é certo,
eu vi. Na saída. Tava feio. Aquela cena eu tento mas esse pensamento eu tenho.” (informação
apagar da minha mente, né? Horrível. O rosto verbal).
fica deformado, os olhos inchados, parecia que
tava morto. Aquilo ali foi muito triste.” (infor- A maior parte das mães relatou que não se sentem
mação verbal). culpadas pela doença:

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“Não me sinto culpada pela doença dele, o que 3.1.8. Organização da família no cuidado
eu tinha que fazer antes de engravidar e no pe- durante a hospitalização
ríodo que eu tava grávida eu fiz, eu não me sinto
As mães consideraram importante permanecer
culpada.” Mesmo assim, questionam a doença.
com seus filhos no hospital e evitam, ao máximo,
(informação verbal).
qualquer possibilidade de separação deles expli-
cando que as crianças sentem-se mais seguras e
3.1.7. Rotina de cuidado no ambiente doméstico protegidas, pois têm alguém em quem confiam
Com base nas respostas das mães, emergiram dois por perto.
grupos dentro desta categoria: mães que não reco- Foi possível perceber que o envolvimento fami-
nhecem ter mudado a rotina devido ao diagnóstico liar favoreceu a formação de fontes de apoio en-
e mães que têm a rotina completamente modifica- tre todos, principalmente no cuidado prestado à
da por causa do diagnóstico: criança. As mães que são provenientes do interior
“É normal. Sem diferença. Eu nunca deixei
do Estado, diante da ausência de familiares, vivem
de trabalhar por causa dele. Agora que eu vou maiores dificuldades. Apesar de sentirem-se can-
deixar, porque, no caso, ele já fez a cirurgia... sadas, preferem que o cuidado da criança seja rea-
quanto tempo eu puder, eu trabalho. Eu nunca lizado somente por elas:
fiquei sem trabalhar por causa dele. Quando ele “Eu tô doida pra ir embora. Porque, tipo assim,
melhorar, vou voltar pro (sic) trabalho.” (infor- quem mora aqui é bom, né? Porque pode reve-
mação verbal). zar [...] Tô aqui sozinha porque ninguém pode
vir. Porque lá quem poderia vir era o pai, mas o
“Ele, desde quando nasceu, foi sempre ali co-
pai dela tem que tá lá trabalhando, né? Porque
migo. Eu parei no tempo, só pra ele mesmo. Ti-
se ele vir (sic) pra cá e ficar parado, quando a
nha dia que eu não tinha tempo nem de tomar
gente chegar lá, a gente não vai ter dinheiro pra
banho por causa dele. Tinha dia que ele não me
poder comprar o que ela vai precisar, né? [...]
deixava por nada, era o dia todo ele se sentin-
Só eu mesmo (sic) pra abrir mão do trabalho.”
do mal. Aí quando era mais tarde, que ele ia
(informação verbal).
dormir, que ia ter tempo de tomar um banho,
pentear o cabelo.” (informação verbal).
3.1.9. Limitações vividas pela mãe
Notou-se que algumas mães eram praticamente as A maior parte das mães relatou que tem uma vida de
únicas pessoas que cuidavam de seus filhos. Mui- dependência relacionada à doença da criança. Para a
tas vezes, isso ocorre porque elas se consideram as maior parte das mães, deixar de trabalhar para cui-
únicas responsáveis pela criança doente e recusam dar do filho não foi um aspecto negativo. Algumas
a ajuda de outras pessoas. mães afirmaram que dependem do filho pra tudo:

A avó foi considerada como um importante apoio “Eu não trabalho, vivo em função dele. En-
materno, assistindo a criança e sendo fonte de con- quanto o problema dele se resolva (sic), minha
fiança para a mãe: vida parou mesmo. Pretendo trabalhar quan-
do ele tiver bom, sabe? [...] eu tenho medo
“Eu morava num bairro bem longe de minha de deixar ele com outras pessoas e acontecer
mãe. Tanto que eu aluguei minha casa e vim alguma coisa. [...] Minha vida hoje depende
morar numa casa perto dela. Aí a gente se reve- da doença dele. [...] depende da melhora dele,
za. Minha mãe não abre mão de fazer o almoço dele ficar pronto pra uma vida nova, porque
dele, a comidinha dele todos os dias.” (informa- minha vida vai começar do zero de novo.” (in-
ção verbal). formação verbal).

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3.1.10. Mudanças na rotina familiar 3.1.12. Sentimentos relativos a uma próxima


gravidez
A grande maioria das entrevistadas afirmou que
a rotina da família mudou após a descoberta da Algumas mães referiram receio de gerar outro fi-
doença. Como já foi explicitado, a doença provoca lho devido à presença da cardiopatia congênita na
mudanças no cotidiano familiar e a nova situação família. Elas têm medo de que o outro filho nasça
exige da família uma reorganização das suas roti- com o mesmo problema:
nas. Cabe lembrar que a rotina de uma UTI pe-
“Tenho medo de ter outro filho. Tinha vontade
diátrica é desgastante, já que, tanto para os profis-
de ter, mas eu tenho medo. Tenho medo que
sionais quanto para os familiares, é um ambiente
tenha o mesmo problema, porque eu sei que
no qual há o convívio com a iminência da morte um já é difícil. E se eu tivesse dois?” (informa-
de crianças cardiopatas em estado grave, às vezes, ção verbal).
devido ao pós-operatório:

“A rotina da família mudou. Tudo que a gente 3.1.13. Expectativas em relação ao futuro da
faz é em função dela. Eu andava muito em fes- criança
ta, antes de ter ela (sic), a gente ia pra um monte O maior desejo delas é que se tornem independen-
de festa, então, hoje em dia, eu não vou, então, tes e vivam sem restrições. Elas pensam no futuro,
saio mais com ela, então, tudo é pra ela, tudo
tendo como grande meta a conquista de estabilida-
em função dela.” (informação verbal).
de de saúde e que, dessa forma, as crianças possam
estudar e trabalhar.
3.1.11. Mudanças no casamento
“Eu quero ver meu filho brincando, ver ele na
Os relatos das mães permitiram apontar diferentes
escola, sem me preocupar se ele está cansado.
histórias sobre as mudanças que ocorreram no ca-
Eu quero ver ele (sic) estudando, porque é o que
samento após a descoberta da doença:
ele mais quer. Então, meu sonho é esse, é ver
“Que casamento? Depois da doença dele, não meu filho bem, ver ele (sic) trabalhando.” (in-
me preocupei mais com meu marido, deixei formação verbal).
mais ele de lado, me preocupo mais com meu
filho, não é mais aquela coisa... Depois que ele 3.2. Análise a partir dos conceitos propos-
nasceu, me preocupo mais com meu filho do tos por Bronfenbrenner
quê com ele, porque antes era uma coisa e ago-
ra é outra.” (informação verbal).
Neste nível de análise, optou-se pela genitora na-
tural e procedente de um município do interior
Foram relatadas mudanças positivas no casamento, a, aproximadamente, 146 km de Salvador. Essa
destacando o apoio e cuidado oferecidos pelo pai mãe cursou até a 4ª série do Ensino Fundamen-
da criança no processo da doença. O impacto com tal e trabalha em uma banca de jogo do bicho na
a cardiopatia congênita do filho mostrou-se como sua casa. O seu filho tinha onze anos no período
um processo de amadurecimento para os casais: da hospitalização e ambos permaneceram quatro
“Meu casamento não mudou, acho que melho- meses no hospital. Não foram identificadas pela
rou até mais, porque tem muitos casos que a genitora mudanças no relacionamento conjugal,
gente vê que quando a mulher tem um filho porém relatou que o marido, pai da criança, não
doente, muitas vezes, o marido larga. Ele me esteve tão presente durante a hospitalização. A
apoia muito, então, acho que melhorou até análise será apresentada no Quadro 1 como estra-
mais.” (informação verbal). tégia de organização.

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Quadro 1. Análise da experiência de uma mãe de criança portadora de cardiopatia congênita a partir dos
conceitos propostos por Bronfenbrenner, 1996 (continua)

Cronossistema
Conceitos
Antes do internamento Depois do internamento

A rede social da mãe se restringia aos fun-


cionários do hospital, e sua fonte de renda foi
mantida no interior.
A mãe se considera a melhor pessoa para
cuidar do filho. Reconhece mudanças no seu
organismo com facilidade e prontidão, o que
pode ser caracterizada como uma díade de
observação diferenciada e eficaz.
A mãe e a criança se relacionavam muito
bem e constituíram uma díade de atividade
conjunta muito competente para lidar com
Vivia no interior, trabalhando em uma banca
as rotinas, observando os procedimentos, o
de jogo do bicho em sua casa, onde possui
que favorecia sua realização. Eram cautelosos
muitas relações. Vivia nessa cidade e veio para
para manter as recomendações médicas e isto
Salvador em decorrência do diagnóstico do
fez com que tanto a mãe como o filho fossem
filho. A mãe já veio para Salvador algumas
Microssistema muito cuidadosos com as solicitações.
vezes em busca de uma vaga para realizar a
cirurgia do filho, porém esta foi a primeira vez Com a hospitalização e realização da cirurgia,
que ela veio sem ter previsão de quando vai ocorreram mudanças de papéis. A autonomia
voltar para o interior. Como não tinha fami- da mãe foi diminuída (tanto no papel de mãe
liares aqui, “morou” no hospital. como também socialmente e profissional-
mente). Foram constituídas díades primárias
com profissionais de saúde — na ausência
destes, a mãe sabia como proceder tanto nas
suas possibilidades de intervenção, cuidado
com o filho, como também os
limites pessoais.
O microssistema da mãe passou a ser com-
posto principalmente por relações com pro-
fissionais de saúde, que constituíam relações
amistosas, mas todas marcadas pelo profissio-
nalismo e pela hierarquia profissional-usuário.

A pediatra não diagnosticou o problema


cardíaco. A mãe interfere no mesossistema,
porque não concorda com o diagnóstico Profissionais do corpo do serviço de cardio-
da pediatra, então, busca outros médicos logia e outros que estavam em outros setores,
Mesossistema que reconheceram o problema da criança unidades, lugares, passam a interferir, às
e recomendaram que deveria ser atendida vezes, até decidir sobre a relação da mãe
por profissionais especializados, mas que, com o filho.
possivelmente, passaria por uma intervenção
cirúrgica.

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Quadro 1. Análise da experiência de uma mãe de criança portadora de cardiopatia congênita a partir dos
conceitos propostos por Bronfenbrenner, 1996 (conclusão)

Cronossistema
Conceitos
Antes do internamento Depois do internamento

O mundo cresceu de tamanho tanto quanto a


compreensão de realidades somente conheci-
das após a hospitalização, como também insti-
Este não era compreendido em profundidade,
tuições representativas que nunca tinham sido
era conhecido através dos meios de comuni-
recorridas. Por exemplo, a cultura hospitalar, a
Macrossistema cação, principalmente no que diz respeito ao
cultura da capital, a existência de regras nacio-
sistema de saúde. A mãe não dimensionava
nais e até internacionais. A mãe se surpreende
limites e possibilidades do SUS.
como a criança tem direito aos cuidados de
uma UTI. Isto é observado principalmente
com relação à prestação de serviços gratuitos.

Fonte: Elaborado pelas autoras

O adoecimento e a hospitalização são referidos A cardiopatia congênita na vida das mães se inicia
como momentos de crise para as famílias, princi- no momento em que elas são informadas sobre o
palmente quando afeta uma criança e, neste caso, diagnóstico do filho e percebem sua gravidade, se
é frequente a família ficar fragilizada ao perceber a desesperam, sofrem, pois o problema cardíaco é
vida da criança ameaçada. Muitas vezes, a gravida- algo sério, que lhes foge ao domínio, tornando-as
de da situação da criança faz com que as famílias impotentes (RIBEIRO; MADEIRA, 2006). Isto foi
visto neste estudo, por exemplo, quando as mães
desloquem-se de suas cidades em busca de aten-
disseram que não imaginavam que uma crian-
dimento médico especializado e a criança é quem
ça poderia nascer com problemas no coração. Os
necessita de maior disponibilidade dos pais devi-
depoimentos corroboram a literatura referente à
do à sua condição física e emocional (CREPALDI; presença da doença crônica na família (CASTRO;
RABUSKE; GABARRA, 2006). PICCININI, 2002; FURTADO; LIMA, 2003; MI-
As mudanças e as desorganizações nas famílias LANESI, 2006).
estudadas podem ser observadas desde a mudan- As mães fazem questão de estar ao lado do filho
ça de cidade e contexto social, como também no hospitalizado, pois sentem que estão contribuindo
modo como vão lidar com a doença, seja abdican- para a melhora da criança. Para isso, deixam de
do do emprego e permanecendo com o filho doen- trabalhar e abdicam de seus interesses para cui-
te, não conseguindo dar atenção a outros membros dar do filho. Não se observou dúvida ou arrepen-
da família. A fragilização das famílias foi observa- dimento com relação a esta dedicação. Esses fatos
da quando tomaram conhecimento da condição também foram descritos em outros estudos (CAS-
crônica e limitações decorrentes da doença. Ob- TRO; PICCININI, 2002; FURTADO; LIMA, 2003;
COLLET; ROCHA, 2003; JACOB; BOUSSO, 2006;
servou-se o sofrimento delas frente às incertezas
MILANESI, 2006).
impostas pela doença, como o medo da perda, do
imprevisível e de não saber como cuidar da criança Para as mães, a fé em Deus é fundamental para en-
frente a uma crise. frentar o processo da doença (JACOB; BOUSSO,

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2006; MILANESI, 2006). As mães salientaram que Através da abordagem ecológica desenvolvida por
o momento da cirurgia foi a fase mais temida, se- Bronfenbrenner (1979/1996), foram percebidas
guido o processo pós-cirúrgico na UTI devido ao repercussões no contexto e no cronossistema das
aspecto da criança e ao ambiente físico. mães. A mudança de moradia da casa do interior
para o hospital é um fator que interfere no mesos-
Houve valorização da figura paterna por parte de
sistema da mãe. A maior parte das mães entrevis-
algumas mães. Estas se referiram ao pai da crian-
tadas reside no interior do Estado e relataram o
ça como um companheiro e também como uma
quanto é difícil ficar longe da sua cidade de origem,
figura fundamental para ajudá-las a enfrentar o
vivendo momentos de desespero e solidão. A vinda
processo da doença. Algumas mães relataram mu-
do interior para a capital é, talvez, a mudança mais
danças positivas no casamento após a descoberta drástica, a mudança que mais exige adaptações
da cardiopatia congênita, tornando-se, esta, um das mães — e também de toda família —, dos seus
processo de amadurecimento no relacionamento modos de viver com as rotinas e exigências hos-
conjugal. A presença do pai é comum em situações pitalares. Um aspecto comum ao grupo de mães
de doença que requer a hospitalização da criança. que vem de outras cidades, independentemente da
Mesmo que a acompanhante seja quase sempre a gravidade do caso, da idade da criança ou do nível
mãe, o pai exerce a função de coadjuvante (CRE- de escolaridade da mãe, é que esta mudança tem
PALDI, 2006). grande repercussão na vida delas, pois estão na ca-
As mães revelaram ter tido contato com outras fa- pital — que é um lugar desconhecido — em uma
mílias de crianças cardiopatas e conheceram casos condição muito especial — que é a hospitalização
que deram certo e outros que não. Ouvir as histó- do filho — e ainda devido a uma doença que usa
rias de outras famílias ajudou as mães a refletirem recursos tecnológicos da medicina que distanciam
sobre a própria situação, sentindo-se, até mesmo, ainda mais a vida cotidiana anterior à hospitaliza-
mais esperançosas (JACOB; BOUSSO, 2006; MI- ção. As mães verbalizaram que permanecem du-
LANESI, 2006). rante muito tempo sozinhas no hospital, já que o
pai da criança, geralmente, permanece trabalhan-
A avó foi considerada a principal fonte de confian- do no interior para manter a renda familiar. O re-
ça, pois cuida da criança tão bem quanto a mãe, vezamento com outros familiares ou amigos tor-
abdicando também dos próprios interesses. Ou- na-se incomum, devido à distância do município
tros autores salientaram que cuidar e apoiar consti- de origem. Identifica-se, então, uma articulação
tui o papel mais desempenhado pelas avós e que os com a compreensão do desenvolvimento, já que a
suportes socioemocionais oferecidos por elas são mãe, que é do interior, cuida sozinha da filha no
significativos para a mãe e sua criança (CASTRO; hospital e, assim, lhe é exigido vivenciar realidades
PICCININI, 2002; SILVA; SALOMÃO, 2003). novas, tomar decisões, construir novas rotinas.

As mães destacaram o medo que sentem de engra- Com a vinda da mãe para a capital e o pai perma-
vidar novamente para que não tenham outro filho necendo no interior, vive-se uma alteração no con-
cardiopata. Porém, houve mães que engravidaram texto familiar, uma situação disruptiva provocada
e tiveram filhos saudáveis e também mães que op- pela hospitalização da criança. Antes da doença do
taram por não ter outro filho até que o filho car- filho, algumas mães nunca tinham sido inseridas
diopata “se cure”. Este é um outro nível das reper- no ambiente hospitalar de forma duradoura e este
cussões da doença da criança para a família, já que fato provocou mudanças no microssistema, com
tanto os planos para novos filhos ficam suspensos, formação de novas díades (mãe com profissionais
como pode se atribuir a isto a decisão de não ter da área de saúde e criança com esses mesmos pro-
outros filhos. fissionais) e o fortalecimento da relação diádica

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entre mãe e filho, colaborando para o desenvolvi- microssistema UTI, e estes dois ambientes forma-
mento de ambos. ram um mesossistema. Esta afirmação é válida ao
se tratar da internação de uma criança cardiopata.
Algumas mães relataram o tempo de espera na fila
do SUS e este fato registra a observação da inter- Apesar de as mães serem bem diferentes, a propo-
ferência do macrossistema, instituições e padrões sição ecológica possibilitou visualizar elementos
socioculturais que, aparentemente, não existiam significativos e elementos comuns a elas. As mães
no cotidiano da mãe, já que a lista de espera do entrevistadas também constituem díades e partici-
SUS existe devido à grande demanda de crianças pam do micro, meso, exo e macrossistemas em re-
candidatas à realização da cirurgia cardíaca. A gra- lação ao ambiente hospitalar e, consequentemente,
vidade desta situação aumenta, pois 50% dos por- sofrem influências desses diferentes contextos so-
tadores de cardiopatia congênita devem ser opera- bre seu desenvolvimento.
dos no primeiro ano de vida, o que nem sempre é
possível (HADDAD, 2002; PINTO JR, 2004).
4. Conclusão
Durante as entrevistas, foi observado que as mães
Considerando a escassez de evidências na litera-
aprendem a conviver com a doença da criança.
tura que descrevem a experiência de mães com
Quando descobrem a doença, privam o filho de
apoio na teoria proposta por Bronfenbrenner, foi
qualquer tipo de atividade, mas, com o passar do
possível conhecer como estas mulheres vivenciam
tempo, deixam a criança mais “à vontade”. Esta
a cardiopatia congênita na família, afirmando a
afirmação pode ser articulada com a compreensão
influência das condições macrocontextuais para o
de desenvolvimento da mãe, uma vez que este fato
curso da doença, como também para o desenvolvi-
interfere na vida dela e também na da criança. A
mento humano, especialmente a díade mãe-filho.
mãe aprende a cuidar do filho e se adapta às cir-
As mudanças ocorridas nos quatro níveis ambien-
cunstâncias impostas pela doença.
tais foram analisadas de acordo com os relatos das
Como na pesquisa de Bomfim, Bastos e Carvalho mães, atingindo-se o objetivo de apresentar como
(2007), o presente estudo também confirmou que, o processo de diagnóstico, tratamento e hospitali-
durante a hospitalização da criança, o microssis- zação podem ser articulados com a compreensão
tema familiar foi obrigado a se relacionar com o do desenvolvimento humano.

THE EXPERIENCE OF MOTHERS OF CHILDREN WITH CONGENITAL HEART DISEASE:


THE DIAGNOSTIC PROCESS, TREATMENT AND HOSPITALIZATION

Abstract
This study aimed to analyze the experience of mothers of children with congenital heart disease
along the diagnostic process, treatment and pre and post-surgery periods of hospitalization. This
is a qualitative research in which fifteen mothers aged twenty-one and thirty-eight years were
interviewed. Data collection was performed through semi-structured interviews, guided by open
questions addressing issues such as fears related to the disease and changes in family routines.
Analysis was conducted from two perspectives: the contents of the interviews and the concepts
proposed by the bioecological model of Human Development. The analysis of the interviews’
contents indicates that the mothers’ daily life undergoes changes due to frequent hospitalizations
and the limitations imposed by the disease and its treatment. From the point of view of the bioe-
cological model, results showed changes at the four environmental levels in which the mothers

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participate. The microenvironment of the mother is now composed of relationships with health
professionals. Mothers give up work in order to care of the child, which evidences mesosystemic
interferences. Mothers’ daily life is subjected to hospital rules and routines, with repercussions
on their exosystem. At the macrosystemic level, it was observed that mothers only got acquain-
ted with structural conditions of the Brazilian health system after the diagnosis and treatment
of their children.

Keywords
Congenital heart disease. Mothers of heart affected children. Hospitalization. Human develo-
pment.

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Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde | Salvador, v. 6, n. 6, p. 07-19, jul./dez. 2017 | 19


PERFIL DOS LEITOS DE UNIDADE DE TERAPIA
INTENSIVA (UTI) NA REGIÃO METROPOLITANA
DE SALVADOR (RMS) NO PERÍODO DE 2014 A 2015

Marcos Emanoel do Amor Divino Borges*

Resumo
Introdução: A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é o espaço terapêutico adaptado para o trata-
mento de paciente de alto risco, contendo acervo de equipamentos com equipe de trabalhadores
multidisciplinar. Objetivo geral: Analisar o perfil epidemiológico da oferta dos leitos de UTI na
RMS no período de dez. de 2014 a dez. de 2015. Metodologia: Este é um estudo de revisão bi-
bliográfica narrativa e apresenta um fenômeno retrospectivo, que utilizou informações colhidas
através do Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde do Sistema Único de Saúde (CNES/
DATASUS). Frequências simples absolutas e percentuais para as variáveis categóricas foram ob-
tidas através de análises exploratórias, representadas por gráficos. Resultados: O município de
Salvador tem a maior oferta de leitos em UTI da RMS, tanto na rede SUS (94,37%) quanto na
rede não SUS (93,09%). Referente aos leitos complementares à categoria de UTI Adultos, a rede
privada lidera a oferta de leitos (76,92%), com diferença de 6% da rede pública. Em relação ao
Ensino/Pesquisa, a predominância da oferta de leitos foi das unidades sem Atividade de Ensi-
no, sendo superior na rede privada. A prevalência de leitos concentra-se nos Hospitais Gerais,
igualmente percebido na rede não SUS (91,27%) e na rede SUS (72,74%) dos leitos ofertados.
Considerações finais: Percebe-se a migração de pacientes dos municípios metropolitanos para a
capital. Falta de leitos e hospitais de ensino, e profissionais especializados. Incentivar a captação
de órgãos nas UTIs, consequentemente, menos gastos em saúde. O não cadastro das unidades de
saúde em UTI no CNES evidencia a falta de UTI.

Palavras-chave: Disponibilidade de leitos. Oferta. UTI.

1. Introdução embasados no entendimento científico (KAMA-


DA; ROCHA; BARBEIRA, 2003).
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) representa
o âmbito terapêutico adaptado para o tratamento A estrutura de uma UTI, como atualmente é cha-
de paciente de alto risco, um acervo de equipa- mada, foi idealizada nos anos de 1950, em reação
mentos, de grupos de trabalhadores da saúde mul- à epidemia de poliomielite, devido ao apoio inva-
tidisciplinar, consistindo em protocolos exclusivos sivo da ventilação mecânica (pulmão de aço). O

* Enfermeiro. Especialista em Enfermagem em UTI pela Atualiza Cursos. E-mail: marcosemanoel23@


yahoo.com.br

Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde | Salvador, v. 6, n. 6, p. 20-28, jul./dez. 2017 | 20


BORGES, M.E.A.D. | Perfil dos leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) na região metropolitana de Salvador (RMS) no período...

propósito principal da UTI não modificou, persis- mento de novos leitos de UTI, no período de 2003
tindo e mantendo sua estrutura habilitada a for- a 2010. O Sistema Único de Saúde (SUS) enume-
necer suporte para pacientes graves, com possível rou 6.399 novos leitos de UTI em todo o País. Tal
risco de vida (FERNANDES; JÚNIOR; COSTA investimento dos números de leitos simbolizou o
FILHO, 2010). impacto financeiro de R$ 482,9 milhões de reais
anuais (BRASIL, 2010).
As primeiras UTIs surgiram no Brasil na déca-
da de 70, com o objetivo de concentrar pacientes O Brasil dispõe de, aproximadamente, 41 mil lei-
graves recuperáveis em um setor hospitalar, com tos de UTI, de acordo com o Cadastro Nacional
recursos humanos, aparelhos e matérias exclu- de Estabelecimentos de Saúde (CNES), que, po-
sivamente voltadas ao cuidado desse pacientes tencialmente, contempla os 204 milhões de bra-
(KIMURA; KOLZUMI; MARTINS, 1997). sileiros. Metade deles está ofertada na rede SUS e
a outra parcela é destinada à saúde privada ou à
No Brasil, de acordo com a Portaria GM/MS nº saúde suplementar (Planos de Saúde), que, atual-
3.432, de 12 de agosto de 1998, o Ministério da Saú- mente, atende a quase 25% da população. Apesar
de estabelece critérios de classificação para as Uni- da ampliação dos leitos de UTI nos últimos anos
dades de Tratamento ou Terapia Intensiva — UTI. — algo em volta de 7.500 nos últimos cinco anos
São áreas hospitalares dedicadas aos cuidados de — a oferta destes no SUS ainda é insatisfatória, so-
pacientes graves ou em risco, que necessitem de bretudo no SUS, onde as diligências são crescentes
assistência médica e de enfermagem sucessivas, (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 2016).
com equipamentos e recursos humanos especiali-
zados (BRASIL, 1998).
2. Metodologia
Segundo a Associação de Medicina Intensiva Bra-
sileira (AMIB), a distribuição de leitos é desigual O presente estudo trata sobre revisão bibliográfi-
no Brasil. Seu último censo no ano de 2010, divul- ca narrativa. A captura e consolidação dos dados
gado no Relatório de Unidade de Terapia Intensi- ocorreram no período de agosto de 2016. A deno-
va, publicado em sua própria página, revela que, minação normalmente é utilizada na área edu-
no Brasil, existem cerca de 25.367 leitos de UTI. cacional, ou como titulado no campo da saúde,
A região com maior número de leitos é o Sudeste, Revisão Narrativa (ELIAS et al., 2012), por pro-
54,6%, seguido das regiões Sul, 17,2%; Nordeste, porcionar estabelecer afinidade com elaborações
16,1%; Centro-Oeste, 7,7% e o Norte com 4,3%. O anteriores, observando temáticas recorrentes, si-
Estado da Bahia encontra-se na sétima posição do nalizando novas perspectivas, revigorando uma
área de conhecimento e recomendações baseada
censo, com 3,7% dos leitos (AMIB, 2010).
na pratica educativa, para a limitação dos parâme-
Barbosa (2004), porém, argumenta que na progra- tros dos trabalhadores que atuam na área, segun-
mação adotada pelo governo federal e governos do Rocha (1999).
estaduais, já verificada pelos usuários do sistema,
A análise dos dados coletados foi tabulada em pla-
não há equidade. O autor (2004) cita os exemplos
nilha eletrônica software Excel, da Microsoft, ver-
das UTIs pediátricas, que torna limitado o acesso,
são 2007, convertidos em gráficos trazendo abor-
condenando quase sempre a porção mais carente
dagem de números absolutos e frequência simples
da população.
das variáveis. Foram utilizados dados secundários
Mediante a portaria GM/MS nº 3.432/98, o Minis- provenientes do Sistema de Informação em Saúde
tério da Saúde tem se dedicado ao tema de terapia (DATASUS) através do site do Cadastro Nacional
intensiva. Primeiramente, priorizou o credencia- de Estabelecimento de Saúde (CNES/DATASUS).

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Objetivo final desta pesquisa é de compreender o dos anos de 2014 e 2015, por não se encaixarem
comportamento, o processo de adaptação do per- dentro do objetivo e do perfil da pesquisa.
fil epidemiológico da disponibilidade dos leitos de
UTI na rede SUS e na rede não SUS. As variáveis
deste estudo foram obtidas com base na categori- 3. Resultado e discussão
zação dos dados disponíveis no CNES/DATASUS, As abordagens do presente artigo contêm estudo
sendo elas: Municípios, Ensino/Pesquisa, Tipo de e suas discussões, apresentando ainda resultados
Estabelecimento e Leitos complementares. comparados com os de outros autores que reali-
Foram inseridos no estudo todos os leitos de UTI zaram estudos relacionados à temática em outros
ofertados na rede SUS e não SUS, nos meses de de- Estados do País. Verificou-se o comportamento
zembro dos anos de 2014 e 2015, cadastrados no da RMS (composta por treze municípios) frente à
CNES pelas Diretorias e Secretarias de Saúde dos disponibilidade e oferta dos leitos de UTI que, em
municípios da RMS. Contudo, foram excluídos da algumas cidades, não se encontra na conformida-
coleta e análise de dados todos os leitos de UTI de de certas portarias vigentes, já que, atualmente,
disponíveis na rede SUS e não SUS, cadastrados a realidade pode ser modificada com a abertura de
no CNES pelas Diretorias e Secretarias de Saúde novos hospitais e leitos de UTI na capital e, catego-
dos municípios da RMS, todos os demais meses ricamente, nos municípios metropolitanos.

Gráfico 1. Perfil de oferta de leitos de UTI, SUS e não SUS, segundo o município da Região Metropolitana
de Salvador no período de 2014 e 2015

Fonte: Ministério da Saúde. Cadastro Nacional dos Estabelecimento de Saúde do Brasil — CNES. Agosto
2016

O Gráfico 1 descreve a situação da disponibilidade ano de 2014, e 512 leitos na rede privada, 93,09%
dos leitos SUS e não SUS na Região Metropolita- dos leitos. Percebeu-se que, no período analisado,
na de Salvador (RMS) e identifica que, entre to- não ocorreu disparidade significativa em relação
dos os municípios da RMS, Salvador tem a maior à quantidade de números de leitos na maioria dos
oferta de números de leitos tanto na rede pública municípios da RMS, exceto no número de leitos
quanto na rede privada, apresentando 554 leitos não SUS, de Salvador, que apresentou um aumento
que correspondem a 94,37% dos leitos SUS, no de 42 leitos neste período.

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O município de Candeias ocupou a segunda mar- É exatamente o que não espera a dona de casa,
ca, com 2,56% dos leitos na rede SUS, uma colo- C.A.H. Desde o começo da manhã de ontem,
cação que era para ser ocupada pelo município de ela estava na porta do Hospital Geral do Esta-
Lauro de Freitas, por ter o número maior de habi- do (HGE), aguardando uma vaga na UTI para
tantes. Isso demonstra que a população desfruta o irmão, S., que tomou dois tiros, um na cabe-
da disponibilidade dos leitos da capital tanto pelo ça e outro no braço, no último sábado, quan-
fato de serem municípios vizinhos como devido do voltava para casa, em Camaçari, na Região
Metropolitana (ABREU, 2015, p.1).
aos limites territoriais de cada município. Tal fato
pode se refletir no não aumento na quantidade de Outro sinal do CFM se refere aos 57% dos leitos
leitos, uma vez que a demanda é disseminada para privados do País localizarem-se exclusivamente
a capital. Realidade diferente da rede não SUS, lo- nas capitais, e 44% dos leitos são ofertados na rede
cal em que a população tem um poder aquisitivo SUS. Ao se verificar a divisão entre as Regiões Me-
relativamente maior, ofertando cerca de 6,4% dos tropolitanas, percebe-se que 69% dos leitos de UTI
leitos (33 leitos) da RMS. do SUS e 81% dos leitos do sistema privado e su-
A disponibilidade de leitos de Unidade de Terapia plementar mantêm-se centralizados nessas áreas
Intensiva (UTI) em estabelecimentos conveniados (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 2016).
ao Sistema Único de Saúde (SUS) ou públicos está Atualmente, de acordo com a Associação de Hos-
acessível em 505 dos 5570 municípios do País, se- pitais e Serviços de Saúde do Estado da Bahia (AH-
gundo o CNES. As informações fazem parte do ba- SEB), a capital baiana possui cerca de 4.500 leitos
lanço do Conselho Federal de Medicina (CFM), que hospitalares, existindo 469 leitos de UTIs. Tais nú-
mapeou a oferta dos leitos de UTI dentre todos os meros são das organizações privadas, incorporadas
Estados e capitais, frente à disponibilidade nas re- a instituições [...] há uma escassez de 20% na apu-
des privada e pública, para tentar analisar a situação ração de leitos em todo o Estado (ABREU, 2015).
que perturba milhares de médicos cotidianamen-
te: superlotação em áreas vermelhas dos hospitais Diante da disponibilidade dos leitos acessíveis para
abarrotados de pacientes entubados improvisada- a população da RMS, segundo leitos complemen-
mente e à espera apropriada de infraestrutura para tares, o Gráfico 2, abaixo, traz as seguintes obser-
cuidados mais intensivos em milhares de hospitais vações: que a quantidade de leitos ofertados na
(CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 2016). categoria de UTI Adultos são maiores na rede SUS
e na rede não SUS, entretanto, a rede privada e a
A carência de leitos de UTI no Estado da Bahia,
rede pública obtêm liderança do número de leitos,
principalmente em Salvador, é uma dificuldade
em anos opostos, a diferença chega a, aproximada-
crônica de saúde. O cenário chegou a tal ponto
mente, 6% entre os anos. Ao analisar as UTIs pe-
que o contratempo não se encontra apenas na rede
diátricas, foi observado que a desigualdade entre
pública, há carência também nos hospitais da rede
o serviço público e o serviço privado atingiu cerca
privada, por circunstância disso, diversos pacien-
de 6,5% dos leitos ofertados. Pode-se observar que,
tes terminam morrendo (ABREU, 2015).
nos dois períodos pesquisados, não foi constata-
Infelizmente, tal realidade é compartilhada por di- da no CNES a disponibilidade de leitos de UTI de
versas famílias em nosso País, não sendo diferente queimados e UTI coronária do tipo II, UCO tipo
na RMS. A esse respeito, Abreu (2015), em uma II na rede não SUS. Mesmo com a porcentagem
de suas reportagens publicadas na página Tribuna baixa, na categoria de UTI neonatal, comparada
da Bahia, traz o depoimento de uma senhora da com a rede privada, o número de leitos na rede SUS
Região Metropolitana de Salvador. permanece superior.

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Gráfico 2. Perfil da distribuição leitos de UTI, SUS e não SUS segundo o Leito Complementares na Região
Metropolitana de Salvador no período de 2014 e 2015

Fonte: Ministério da Saúde. Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde do Brasil — CNES. Agos-
to 2016

Estudo realizado na cidade de São Paulo revelou Foram averiguados 143 hospitais reunidos segundo
que as UTIs neonatais pediátricas correspondem seus níveis de complexidade e vinculados ao SUS:
a 23,2% do total, e exclusivamente 20,9% dos lei- complexidade I (baixa), II (média) e III (alta) no
tos de UTI eram unicamente reservados a esse serviço SUS e não SUS e IV (muito alta complexi-
público. Observa-se, assim, que, no aglomerado, dade) somente rede SUS. A apuração dos hospitais
o público adulto é o que desfruta dos recursos de é similar na rede não SUS (72) e na rede SUS (71),
UTI [...] Porém, é indispensável ressaltar que, das contudo, com divisão heterogênica quanto a sua
UTIs destinadas aos adultos, 77,3% pertenciam à complexidade. A presença da UTI neonatal é duas
rede particular, centralizando-se nos Núcleos Re- vezes mais constante na rede SUS (60,6%) do que os
gionais de Saúde (NRS) I e II nas regiões centrais 27,8% da rede não SUS, reunidas nos hospitais de
da cidade de São Paulo (KIMURA; KOIZUMI; maior complexidade. Já as proporções de UTI para
MARTINS, 1997). adultos são semelhantes nas duas redes: 76,6% na
rede SUS e 77,8% na rede não SUS (BISESTI, 2016).

Gráfico 3. Perfil da distribuição leitos de UTI, SUS e não SUS segundo o Ensino / Pesquisa na Região
Metropolitana de Salvador no período de 2014 e 2015

Fonte: Ministério da Saúde. Cadastro Nacional dos Estabelecimento de Saúde do Brasil — CNES. Agosto
2016

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Ao analisar o Gráfico 3, percebe-se que, na rede zações de internação hospitalar com custo médio
pública de saúde, a categoria Unidade de Auxiliar próximo a R$ 779,99 (BRASIL, 2004).
de Ensino apresentou 26% dos leitos ofertados na
É imprescindível que tanto o Ministério da Saú-
RMS, cerca de 6% a mais de leitos que rede não
de quanto o Ministério da Educação estejam em
SUS nos mesmos períodos analisados. As Unida-
alerta diante dessa situação, para que se adotem
des sem Atividade de Ensino predominam nos
políticas que viabilizem e estimulem a geração e
anos estudados, mesmo apresentando variações a promoção de UTIs nos Hospitais Universitários
expressivas na rede SUS e não SUS, exposto em no Brasil (BARBOSA, 2004).
2014 com 70,91% dos leitos disponíveis — cerca
de 390 leitos. Realidade diferente dos Hospitais Ao analisar o Gráfico 4 quanto ao tipo de estabe-
de Ensino, que lideram na rede pública de saúde, lecimento e a distribuição dos leitos nos mesmos,
nos mesmos anos analisados, com 21% dos leitos nota-se que a maior prevalência de leitos concen-
aproximadamente, 10% a mais que rede privada tra-se nos Hospitais Gerais, fato igualmente perce-
de saúde. bido na rede SUS e não SUS, variando de 72,74% a
91,27% dos leitos ofertados. Em contrapartida, os
De acordo com o Ministério da Saúde, os Hospitais leitos disponibilizados nas Centrais de Notifica-
de Ensino e Hospitais Universitários (HU), soma- ções, Captação e Distribuição de Órgãos Estaduais
dos, representam 10,3% do total de leitos do SUS são representados por uma pequena fração, em tor-
no Brasil. 11,6% do total de produção ambulatorial no de 4,72% dos leitos na rede privada e 1,70% na
nacional, 11,8% das internações hospitalares (afe- rede SUS, no ano de 2015. Ao analisar a categoria
ridas através das Autorizações de Internamento dos hospitais especializados, existe disparidade en-
Hospitalar) e somente 25,6% dos leitos correspon- tre as redes: no SUS: eles acumulam, aproximada-
dem à UTI, 37,6% dos procedimentos de alta com- mente, em média, 25% dos leitos, enquanto os não
plexidade executados no Brasil e efetuadas autori- SUS representam cerca de 9% destes.

Gráfico 4. Perfil da distribuição de leitos de UTI, SUS e não SUS segundo o Tipo de Estabelecimento na
Região Metropolitana de Salvador no período de 2014 e 2015

Fonte: Ministério da Saúde. Cadastro Nacional dos Estabelecimento de Saúde do Brasil — CNES. Agosto
2016

Dentre as UTIs especializadas, o predomínio de gica e à Pediátrica; as de Queimados e de Neo-


52,9% encontra-se em hospitais com competência natologia fazem parte de um hospital público de
entre 100 e 199 leitos, em geral na rede privada, grande porte (KIMURA; KOIZUMI; MARTINS,
sendo dirigidos exclusivamente à UTI Cardioló- 1997).

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Estudos realizados relatam que, apesar das vulne- ficada ausência de leitos em municípios circunvi-
rabilidades observadas na disponibilidade do ser- zinhos das grandes cidades metropolitanas. O Es-
viço especializado, nos hospitais investigados em tado, sabedor dessa realidade, deveria se motivar
alguns Estados do Nordeste, tais particularidades para a concessão de novos convênios e emendas
acompanham o processo em trajetória para sua de bancadas com o intuito de desafogar a deman-
inserção na rede hospitalar do serviço de saúde da das capitais, nos atendimentos de pacientes ví-
brasileiro (DUBEUX; CARVALHO, 2009). timas de traumas, cirúrgico e da clínica médica,
eliminando uma prática rotineira de transferência
Em alguns Estados da Região Sudeste, ainda se de problema entre Municípios e Estado quando
observa que, respectivamente, 6 e 11% dos leitos se refere às transferências de pacientes graves e à
de UTIs neonatais localizam-se em maternida- disponibilidade de leitos ofertados pela Central de
des específicas, distantes de alguns recursos hoje Regulação do Estado.
acessíveis unicamente nos hospitais gerais e que
são indispensáveis para o atual tratamento inten- Deve haver políticas entre o Ministério da Saú-
sivo. Diante dessa idealização, os elaboradores de de e o Ministério da Educação para a criação de
novos Hospitais Universitários e novos leitos de
saúde deveriam estar atentos: as UTIs neonatais e
UTI, possibilitando o acesso da população a maior
maternidades de alto risco deveriam encontrar-se
número de leitos de UTI. Isso abrirá um leque de
apenas em hospitais gerais (BARBOSA, 2004).
oportunidades para um contingente de profissio-
O reconhecimento do potencial doador de órgãos nais qualificados, no sistema de saúde da rede pú-
(PDO) é a primeira etapa neste complexo método bica e, essencialmente, na rede privada, por ter a
e, por essa razão, acredita-se que a UTI é o ponto menor oferta de leitos.
primordial para o início da cascata do processo de
Incentivo das instituições, tanto da iniciativa
doação de órgãos (RAMLOW, 2002). A oportu-
privada quanto da rede pública, pode promover
nidade dos órgãos de um paciente ser utilizados
a criação de leitos destinados à captação dos ór-
para transplantes necessita muito da atuação dessa
gãos dentro das UTIs e de profissionais treinados.
equipe em dispensar esforços com o cuidado do
O estudo revelou que a região abordada apontou
paciente. (VAZ, 1993). percentuais extremamente baixos, pois é um dos
principais locais de diagnóstico de morte encefá-
4. Conclusão lica e de captação dos órgãos. Dessa forma, redu-
ziria o número de óbitos de pessoas que se encon-
Considerando a disponibilidade de leitos em UTI tram em lista de possíveis receptores de órgãos,
e suas diversas variáveis analisadas durante este paralelamente à redução de gastos essenciais de
estudo, verificou-se que, na RMS, essas apresen- manutenção em saúde e na diminuição dos casos
taram algumas divergências, as quais, por sua vez, de recusa da doação por parte dos familiares.
poderão representar aspectos significativos para
implementação de novas políticas de saúde, ma- O não credenciamento de unidade de saúde no
nutenção e especialização dos leitos. CNES é gradativo, indicando falta de oferta de lei-
tos de UTI e CTI igualmente na rede SUS e, em
Percebido que a cidade de Salvador apresentou o especial, nas unidades da rede privada. Obtém-se
comportamento de outras cidades que pertencem um comportamento crescente na busca por esse
a grupos de regiões metropolitanas do País, com acesso basicamente pelos planos de saúde, diante
maior oferta de leitos na rede SUS que em outras do fato da acessibilidade das classes emergentes e
redes não pertencentes à rede pública. Foi identi- dos menos favorecidos, que procuram esse tipo de

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serviço constantemente frente às emergências fa- fiscalização é embasada e respaldada pelas bases
miliares. legais, de acordo com a Resolução da Diretoria
Colegiada (RDC) nº 7, que caracteriza as atri-
Como a restrição do estudo está subordinada aos
buições e requisitos mínimos para que ocorra o
sistemas de informação de saúde, que são de res-
funcionamento de qualquer hospital e Unidade de
ponsabilidade das diretorias e Secretarias Muni-
cipais de Saúde, a sua alimentação do sistema. A Terapia Intensiva e as determinações legais, para a
não fiscalização de novas unidades de saúde da obrigatoriedade do cadastramento e das atualiza-
rede privada pela Vigilância Sanitária de cada mu- ções fidedignas junto ao CNES (ANVISA, 2010).
nicípio provoca essa deficiência no credenciamen- Tem, assim, o dever de informar a oferta de leitos
to de todas as unidades de saúde. Possibilita-se disponíveis, possibilitando diversos convênios e
que o estudo chegue o mais próximo da realida- parcerias com a rede pública privada, o que dis-
de da Região Metropolitana, podendo as demais ponibilizará maior oferta de leitos de UTI, facili-
regiões apresentar o mesmo comportamento. A tando o acesso da população.

PROFILE OF THERAPY UNIT BEDS IN INTENSIVE SALVADOR METROPOLITAN REGION IN


THE PERIOD 2014-2015

Abstract
The Intensive Care Unit (ICU) is the therapeutics space, adapted to the treatment of a high de-
gree risk patient, containing an estate of equipments with a multi-disciplinary staff. Analyze the
epidemiological profile of the UCI bed offering at the RMS from December, 2014 to December,
2015. This is a study of a narrative bibliographic review measurable and presents a reminiscent
phenomenon, that used informations gathered through of the Cadastro Nacional de Estabele-
cimento de Saúde do Sistema Único de Saúde (CNES/DATASUS). Simple absolute and percen-
tual frequencies to the definite variables had gotten through exploratory analysis, represented
by graphics. Salvador city has the biggest offer of hospital beds at ICUs of the RMS, SUS rede
(94,37%), compared to the no-SUS (93,09%). Referring to the complementary beds for the cate-
gory of ICU Adults, at the private system leads the hospital beds offer (72,92%) with a difference
of 6% compared to the public system. In relation to Teach/Search, the prevalence of the hospital
bed offer was of at the units without Teaching Activities, being higher at the private system. The
predominating of hospital beds is concentrated at the General Hospitals offered. It’s noticed that
the patients migration from the metropolitan cities to the capital. Lack of hospital beds, teaching
hospitals and specialized professionals. To motivate the catchment of organs at the ICUs and
consequently less costs with the Health system. The lack of cadastre at the health units in the
ICUs at the CNES, evinces the lack of the ICUs.

Keywords: Describers: Availability of hospital beds. Offer. ICU.

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A INTOLERÂNCIA À LACTOSE E AS
CONSEQUÊNCIAS NA ABSORÇÃO DO CÁLCIO

Claudia Maria Estevão da Silva*

Resumo
A intolerância à lactose é a patologia em que ocorre redução ou ausência da enzima lactase. A
lactose é um dissacarídeo que sofre hidrólise da lactase, resultando em monossacarídeos. O leite
tem em sua constituição grande quantidade de lactose. O cálcio só é obtido através da ingestão
de alimentos, ou seja, de forma endógena, sabendo-se que a maior fonte de cálcio é o leite e
seus derivados. Na intolerância à lactose, o tratamento é feito com a retirada de alimentos que
contêm lactose, com isso, a absorção de cálcio pelo organismo fica comprometida. A presente
revisão tem como objetivo levantar as causas e consequências da intolerância à lactose e avaliar
o comprometimento do metabolismo do cálcio nos seus portadores. O cálcio tem como princi-
pais funções participar da coagulação sanguínea e do controle hormonal, sendo que a função
principal é estruturar ossos e dentes. Atualmente, mais de 50% da população do mundo sofre
de intolerância à lactose. Como se sabe que os adultos são a grande maioria, torna-se de grande
importância o acompanhamento dos portadores da intolerância no que diz respeito à quantida-
de de cálcio ingerida. Outro fator importante é o envelhecimento da população, que, na últimas
décadas, principalmente no Brasil, aumentou de forma considerável, expondo-se, desta maneira,
a doenças como osteoporose, que ocorre devido à falta de cálcio no organismo.

Palavras-chave: Cálcio. Intolerância. Lactose. Lactase.

1. Introdução corrente sanguínea. O local onde a lactase é encon-


trada em maior quantidade é no intestino delgado,
A lactose (galactose β-1,4 glucose) é o principal mais precisamente no jejuno (entre o duodeno e o
carboidrato do leite e seus derivados. É formada íleo). Esse processo que faz a quebra é chamado de
por dois carboidratos menores, chamados de mo- chave-fechadura, onde os enterócitos, que são as
nossacarídeos — a glicose e a galactose — sendo, células que revestem o intestino, atuam quebran-
portanto, um dissacarídeo, e está presente apenas do a lactose (dissacarídeo) em monossacarídeos.
no leite de mamíferos — o leite de vaca tem de 4%
a 6% de lactose. O leite é um dos alimentos mais importantes para
a saúde e tem várias origens, podendo ser de vaca,
A lactose sofre hidrólise pela enzima β-galactosi- cabra e até de búfala. Qualquer que seja sua ori-
dase, mais conhecida como lactase, que libera os gem, contudo, tem em sua constituição vitaminas
seus monossacarídeos para serem absorvidos na e proteínas que fazem parte da formação de teci-

* Bacharela em Farmácia Bioquímica pela Faculdade Federal da Bahia. Especialista em Análises Clínicas
pela Atualiza Cursos. E-mail: claudiamariaes23@hotmail.com

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SILVA, C.M.E. | A intolerância à lactose e as consequências na absorção do cálcio

dos. Podemos destacar, entre as vitaminas, a B12 elementos, entre eles vitaminas e minerais, com
(riboflavina), importante na formação de glóbu- destaque para o cálcio, pois o leite é a principal
los vermelhos, regulação das funções do sistema fonte de cálcio, possuindo o maior percentual de
nervoso, da visão e do metabolismo de macronu- absorção do mineral; a lactase e as proteínas do
trientes. A cobalamina ou vitamina B12 atua dire- leite aumentam a absorção do cálcio.
tamente na formação de células do sangue, do sis-
A intolerância à lactose tem como tratamento evi-
tema nervoso e da massa óssea. Os minerais, como
tar produtos nos quais esteja presente quantidade
Cálcio, Magnésio e Zinco, também são obtidos
grande de lactose ou a ingestão da enzima lactase,
através da ingestão do leite, atuando, principal-
que ocorre com os produtos lácteos, ou o consumo
mente, no sistema imunológico, na cicatrização, e
de porções menores de leite e laticínios dos quais
também no sistema osteoarticular.
alguma lactose tenha sido removida pela fermen-
A hipolactasia, conhecida mais popularmente por tação, tais como iogurte ou coalhada (VOGEL,
intolerância à lactose, é a diminuição da enzima 2000; STRYER; TYMOCZKO; BERG, 2004).
lactase. Quando ocorre a diminuição ou falta da
Elemento fundamental no organismo, o cálcio
lactase, são identificados sintomas como diarreia,
tem como única fonte a ingestão diária de alimen-
náuseas e até vômitos, dores abdominais e incha-
tos que o contêm. O cálcio é absorvido no trato
ço. A ocorrência destes sintomas é devido ao acú-
digestivo, a lactose aumenta a absorção do cálcio,
mulo da lactose no intestino, onde os microbiotas
logo, a dieta isenta de lactose resulta na menor ab-
que formam a flora intestinal a fermentam, cau-
sorção de cálcio.
sando a formação de gases, como metano, hidro-
gênio e dióxido de carbono, que são responsáveis O cálcio, no corpo humano, está localizado 98,9%
pelas flatulências, distensão e cólicas abdominais. nos dentes e ossos, 1% no interior das células e
O ácido lático, que é produzido pelos microrga- 0,1% está presente no sangue e nos demais líqui-
nismos, é osmoticamente ativo, desta forma, puxa dos extracelulares. Qualquer alteração de concen-
água para o intestino resultando em diarreia. De- tração de cálcio fora dos ossos acarreta grandes
vemos destacar que a má absorção de lactose nem disfunções no organismo.
sempre leva a sintomas da intolerância à lactose.
Levando-se em conta que o tratamento, hoje, feito
Existem fatores determinantes para a formação com os portadores da intolerância da lactose se re-
dos sintomas. São eles: a quantidade de lactose sume à substituição de alimentos à base de lactose
ingerida, o grau de deficiência da lactase e o tipo por produtos isentos de lactose, pretende-se com
de alimento consumido, por isso, há variação de esta revisão levantar as causas e consequências da
sintomatologia de indivíduo para indivíduo. É im- intolerância à lactose, conceituando-a e classifi-
portante destacar que a lactase tem que ser digeri- cando-a, assim como também a relação que essa
da para ser absorvida. patologia tem com o metabolismo do cálcio.

Estudos mostraram que a intolerância à lactose é


muito mais frequente em negros do que em bran- 2. Metodologia
cos (VOGEL, 2000).
O presente trabalho foi desenvolvido através de
Sabe-se que mais de 50% da população adulta do uma revisão literária, utilizando como fontes de
mundo é intolerante à lactose e que essa intolerân- pesquisa artigos e bibliografia na base de dados
cia leva a sintomas inconvenientes e crônicos, os PubMed, MEDLINE, Lilacs, SciELO e Google
quais já foram destacados anteriormente. Devido acadêmico no período de 2000 a 2011, mas eviden-
a isso, pode levar também à má absorção de outros ciando, principalmente, os dos últimos dez anos. A

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SILVA, C.M.E. | A intolerância à lactose e as consequências na absorção do cálcio

busca utilizou a definição da intolerância à lactose prevalência gira em torno de 57%. Não existe, con-
e suas consequências, como também a mudança tudo, nenhum fato que comprove que a produção
na dieta e as consequências na absorção do cálcio. da lactase está relacionada com uma maior inges-
tão de lactose, ou melhor, de leite e seus derivados.
A população mundial tem uma prevalência de 2/3
3. Resultados e discussões de intolerância à lactose.

3.1. Intolerância à lactose


3.2. Metabolismo do cálcio
A intolerância à lactose pode ser congênita, pri-
O cálcio é necessário para o crescimento e desen-
mária ou genética e secundária ou adquirida, se-
volvimento dos ossos e dentes. A concentração de
gundo Herman (2006) e Reis (2003).
cálcio nos tecidos é variável e, na célula, encon-
A deficiência congênita ocorre devido a um pro- tra-se, principalmente, no retículo endoplasmáti-
blema genético muito raro, no qual a criança nasce co e mitocôndrias.
sem a capacidade de produzir lactase. Como o leite
A quantidade média de ingestão de cálcio dos ali-
materno possui lactose, o lactente, por esse moti-
mentos é cerca de 1000 mg/dl, equivalente à quan-
vo, é afetado logo após o nascimento. Não sendo
tidade presente em um litro de leite, sendo que
diagnosticada logo, a perda líquida diária pode le-
apenas 35% desse valor são absorvidos, pois o in-
var a óbito. São raros os casos em todo o mundo e
testino tem dificuldade de absorver a forma iônica
sua prevalência é na Finlândia.
do cálcio (Ca++). Além disso, uma média diária de
A intolerância à lactose secundária ou adquirida 250 mg é perdida com a secreção de sucos diges-
ocorre devido à diminuição enzimática causada tórios e a descamação de células da mucosa intes-
por doenças intestinais, sendo muito comum no tinal. Estes serão excretados nas fezes juntamente
primeiro ano de vida, como resultado do compro- com os 65% não absorvidos, totalizando cerca de
metimento dos enterócitos (células intestinais), 900 mg/dia.
que produzem a lactase. As doenças intestinais
Vários fatores estão envolvidos no mecanismo de
que se destacam é o rotavírus (viral), infecções
absorção do cálcio, como a vitamina D, ATPase,
intestinais bacterianas e por protozoários, como
fosfatase alcalina intestinal, fatores que aumentam
giárdia e ameba. A deficiência secundária é tran-
ou diminuem sua solubilidade, proteína ligadora
sitória, sendo eliminada à medida que houver re-
de cálcio nos enterócitos (calbidina), proteína li-
cuperação dos enterócitos. Outras patologias tam-
gadora de cálcio no plasma e outros, tornando-se
bém podem levar à intolerância à lactose.
bastante complexo o mecanismo de absorção.
A intolerância à lactose primária é a mais frequen-
O cálcio absorvido é determinado pela ingestão
te e ocorre de forma natural devido à diminuição
e pela capacidade de absorção intestinal. Indiví-
da produção da lactase com o avanço da idade. Um
duos com dieta pobre de cálcio têm a capacidade
fato curioso é que, nas regiões em que a pecuária é
aumentada de absorvê-lo, já indivíduos que re-
mais intensa, a persistência da atividade da lactase
cebem dieta rica em cálcio têm a capacidade de
é maior, podendo-se destacar: Sicília, 70%; Alema-
absorção diminuída. Tem-se a absorção saturável
nha, 14%; Suécia, 10%; Grã-Bretanha, 5%. Já nas
transcelular dependente da concentração de cál-
regiões onde a agricultura é a principal economia
cio intraluminal.
ou em países nos quais não se ingere leite por mo-
tivos religiosos, ocorre uma maior prevalência: A glândula paratireoide é estimulada a liberar o
China, 85%; Índia, 86% e Japão, 83%. No Brasil, a paratormônio (PTH) quando a concentração plas-

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SILVA, C.M.E. | A intolerância à lactose e as consequências na absorção do cálcio

mática do cálcio cai. O PTH aumenta prontamen- regula a síntese de calbindina por transcrição de
te a remoção renal de fosfato, ativa os locais de DNAS quando há ligação da vitamina com recep-
reabsorção óssea e aumenta o trabalho dos osteo- tores do núcleo. Com isso, a tradução do RNa m
clastos nos locais onde ocorre reabsorção e ativa a da calbindina é afetada. A calbindina tem a função
vitamina D para aumentar a absorção intestinal de de ligar o cálcio na superfície da célula e, depois,
cálcio (SHILS et., 2003). internalizar os íons via vesículas endocióticas que,
possivelmente, fundem-se com lisossomos. Após a
A vitamina D, produzida pela síntese cutânea ou
liberação do cálcio ligado no interior da célula, os
através da ingestão de alimentos que contenham
íons cálcio saem da célula pela membrana basola-
estes nutrientes, faz seu transporte no sangue
teral (SHILS et al., 2003).
através de uma glicoproteína, a proteína ligadora
da vitamina D (DBP, vitamina D binding protein); Na via paracelular, a transferência de cálcio é feita
ela precisa passar por duas hidroxilações para tor- entre células, podendo ocorrer em ambas as dire-
nar-se funcional, com seu papel biológico primário ções, mas, em geral, a direção predominante é do
na homeostase do cálcio e fósforo. A primeira hi- lúmen para o sangue. A taxa de transferência de-
droxilação ocorre no carbono 25, quando alcança pende da carga de cálcio e da tensão das ligações.
o fígado, sendo metabolizada para 25(OH)D3, me- Esta via é responsável por uma grande fração da
diada por enzima microssomal da superfamília do captação total do cálcio (GOODMAN et al., 2005).
citocromo P450(CYP450), denominada CYP2R1,
que pode ser estocada ou liberada para circulação. A atividade da lactase, caseinato e citrato tem gran-
Ocorrendo aumento na demanda fisiológica de de importância na absorção do cálcio. O leite é a
cálcio e fósforo, a 25(OH)D3 circulante é hidroxi- maior fonte de cálcio, cerca de 60% a 75% do cálcio
lada nos túbulos renais para a sua forma ativa a ingerido são obtidos do leite ou dos seus deriva-
1,25(OH)2D3, através da enzima 1-α-hidroxilase dos. A lactose, como já foi dito, é um dissacarídeo
(CYP27B1), que é uma proteína mitocondrial da formado por glicose e galactose, que sofre ação da
família do CYP450. A DBP, junto com seus ligan- lactase contida nos enterócitos, liberando esses
tes, apresenta alta taxa de receptação pelas células monossacarídeos, que liberam o cálcio. O leite tem
dos túbulos proximais, o que evita perda urinária ph alcalino, o cálcio fica suspenso no leite devido
dos metabólitos do grupo da vitamina D e con- à formação do citrato de cálcio, caseinato de cálcio
centra a 25(OH)D nos túbulos renais. (DELUCA, e complexado à lactose. Esses fatores explicam a
2004 apud CALVO et al., 2005; PEREIRA, 2008). melhor absorção do cálcio obtido do leite em rela-
São duas as vias de absorção do cálcio: a via trans- ção a outras formas de alimentos.
celular, onde ocorre uma transferência saturável O cálcio é armazenado no corpo primariamente
(ativa) que envolve a calbindina, e a via paracelu- nos ossos e é um componente essencial da dieta
lar, na qual acontece uma transferência não satu- humana, não sendo apenas importante para o de-
rável (difusão), que é uma função linear do con- senvolvimento e manutenção da estrutura esque-
teúdo de cálcio do quimo (SHILS et al., 2003). O lética, mas também na qualidade de regulador me-
transporte transcelular tem o movimento de cálcio tabólico e segundo mensageiro, assim como para o
para dentro das células epiteliais, provavelmente,
processo de excitação dos músculos.
ocorre através de canais de cálcio ou de um trans-
portador, obedecendo a um gradiente negativo e O cálcio é essencial para o acoplamento de exci-
não exige energia. A sua regulação se faz através tação-contração do músculo cardíaco, bem como
de um mecanismo da célula epitelial contra o gra- para a condução dos impulsos elétricos em deter-
diente de energia mediado pela 1,25(OH)2D3, que minadas regiões do coração.

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SILVA, C.M.E. | A intolerância à lactose e as consequências na absorção do cálcio

O cálcio ionizado é o mais comum elemento de É de extrema importância que os portadores da


transdução de sinais nas células, em virtude da intolerância à lactose tenham uma reposição de
sua capacidade de ligar-se reversivamente às pro- cálcio adequada, já que os profissionais de saúde
teínas. recomendam como tratamento a não ingestão de
produtos lácteos. Deve-se incluir, na dieta desses
O cálcio é necessário para a exocitose e, portan-
indivíduos, uma boa fonte de cálcio e/ou suple-
to, desempenha importante papel no acoplamen-
mentação de cálcio para atender aos níveis de in-
to do estímulo-secreção na maioria das glândulas
gestão diária recomendada (HEYMAN, 2006).
exocrinases endócrinas. A liberação das catecola-
minas da medula suprarrenal, de neurotransmis- Atualmente, com o avanço tecnológico na indús-
sores nas sinapses e de certos autocoides exige a tria alimentícia, o leite pode ser consumindo pelos
presença de cálcio (GOODMAN et at., 2005). portadores de intolerância à lactose, graças à adi-
ção da B galactosidase, que metaboliza a lactose da
O cálcio desempenha um papel na manutenção da
mesma forma que a lactase intestinal.
integridade das mucosas, na adesão das células e
nas punções das membranas celulares individuais, O uso de alimentos alternativos como fontes de
sendo necessário para estabilizar ou possibilitar cálcio incluem sardinha enlatada (286 mg de Ca /
atividade máxima de várias proteases e enzimas da 75g), aveia (286 mg de Ca / 75g), nabo (104 mg Ca
coagulação sanguínea (SHILS et al., 2003; GOOD- / 1/2 xícara), espinafre (82 mg de Ca / 1/2 xícara),
MAN et al., 2005). bebida de soja fortificada com cálcio (319 mg de Ca
/ 1 xícara), figo seco (258 mg de Ca / 5 unidades),
A utilização do cálcio ósseo durante os períodos
leite com baixo teor de lactose 9240 mg de Ca / 1
de baixo consumo é o princípio fundamental do
xícara), dentre outros alimentos (BALDO, 2009).
metabolismo, que usa o osso como principal reser-
va para manutenção do cálcio no sangue e níveis O uso de alimentos funcionais, como probióticos,
de cálcio neural. pode reduzir os sintomas da intolerância à lacto-
se, pois aumentam a atividade da enzima lactase
Atualmente, no Brasil, há cerca de 10 milhões de
(CUNHA, 2008). Não se pode esquecer que existe
pessoas com osteoporose, de acordo com a Socie-
a tolerância individual, devendo-se ofertar por-
dade Brasileira de Osteoporose (2004); dessas, 20%
ções pequenas, com aumento gradual delas.
recebem alguma forma de tratamento. Cerca de
2,4 milhões de pessoas apresentam algum tipo de
fratura hoje, dessas, 200.000 morrerão por fatores 4. Conclusão
que são resultados diretos de fraturas. Estima-se
Atualmente, o número de pessoas acometidas por
que, nos próximos 50 anos, o número de fraturas
intolerância à lactose tem crescido de forma acen-
de fêmur, para ambos os sexos, dobrará e uma, em
tuada, principalmente entre os adultos. Conside-
cada quatro no mundo, ocorrerá na América Lati-
re-se que a intolerância à lactose leva à diminui-
na (PEREIRA, 2008).
ção do consumo de leite e seus derivados lácteos,
As necessidades diárias de cálcio variam de pessoa os quais são a principal fonte de cálcio, além de
para pessoa e em períodos diferentes da vida. Sa- prejudicar a absorção do cálcio. É de extrema im-
be-se que, para crianças de 0 a 12 meses, são reco- portância que haja reposição de cálcio, seja atra-
mendados de 210 a 270 mg/dia; 1 a 8 anos, valores vés de alimentos ou de suplementos, para que não
crescentes de 500 a 800 mg/dia e de 9 anos a mais aumentem os casos de doenças, principalmente
de 50 anos, 1000 a 1300 mg/dia (BALDO, 2009). de osteoporose.

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SILVA, C.M.E. | A intolerância à lactose e as consequências na absorção do cálcio

A osteoporose é uma doença que atinge, sobretu- na D também deve ser avaliada, pois esta ajuda na
do, as pessoas com mais de 50 anos. Sabendo-se absorção do cálcio.
que tem aumentado o número de idosos, se faz
O indivíduo, ao ser diagnosticado com intolerân-
necessário o acompanhamento da população por-
cia à lactose, deve ter logo um acompanhamento
tadora da intolerância à lactose para que a falta do
em sua dieta para que não sofra as consequências
cálcio não leve a consequências maiores. O acom-
devido à falta do cálcio em seu organismo.
panhamento deve ser feito por um profissional,
para que seja mais eficaz, lembrando que a vitami-

INTOLERANCE LACTOSE AND CONSEQUENCES IN CALCIUM ABSORPTION

Abstract
The lactose intolerance is a condition in which there is a reduction or absence of the enzyme lac-
tase. Lactose is a disaccharide it hydrolyzes lactase, resulting in monosaccharides. Milk has in its
constitution lot of lactose. Calcium is only obtained by food intake, or endogenously, it is known
that the largest source of calcium is milk and its derivatives. In lactose intolerance treatment is
done with the withdrawal of foods containing lactose, thereby calcium absorption by the body
is compromised. This review aims to raise the causes and consequences of intolerance to lactose
and evaluate the calcium metabolism impairment in patients with intolerance. Calcium’s main
functions are to participate in the blood coagulation and hormonal control, and the main func-
tion is to structure bones and teeth. Currently more than 50% of the world population suffers
from lactose intolerance and knowing that adults are the vast majority, it is of great importan-
ce the monitoring of intolerance of carriers regarding the amount of calcium intake, another
important factor is the aging population, which in recent decades mainly in Brazil increased
significantly, thus exposing to diseases such as osteoporosis that occurs due to lack of calcium
in the body.

Keywords: Calcium. Intolerance. Lactose. Lactase.

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Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde | Salvador, v. 6, n. 6, p. 29-35, jul./dez. 2017 | 35


ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NO CUIDADO
DO PACIENTE ONCOLÓGICO NO DOMICÍLIO

Juliana de Abreu Cardoso*


Maria Natividade Pereira dos Santos**
Sara Santos de Mello Morgado***

Resumo
O câncer está relacionado a mais de 100 doenças oriundas de desordem celular que se inicia
quando células sofrem transformações no seu material genético. Este estudo buscou descrever a
atuação e os cuidados do enfermeiro na assistência ao paciente oncológico, na atenção domici-
liar. Trata-se de uma pesquisa exploratória, através de revisão sistemática de literatura. A coleta
de dados foi realizada utilizando como fontes de dados as bases eletrônicas fidedignas SciELO
(Scientific Eletronic Library Online), LILACS (Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciên-
cias da Saúde) E BIREME (Biblioteca Virtual em Saúde Pública). A partir dos dados coletados
nessa pesquisa, foi possível identificar a necessidade do cuidar de pacientes com essa patologia,
que exige do enfermeiro não só conhecimento técnico, mas se faz necessária a percepção da
necessidade do cuidado humanizado, o qual se estende ao conjunto familiar. O estudo realizado
evidenciou a grande importância do enfermeiro para o paciente oncológico e representa um
avanço da prática profissional fundamental, respeitando a compreensão da individualidade e
valorização da pessoa humana, uma vez que os sinais e sintomas dessa patologia provocam uma
profunda transformação na vida do paciente e de sua família.

Palavras-chave: Oncologia. Enfermagem. Cuidados de enfermagem. Assistência domiciliar.


Cuidados paliativos.

1. Introdução cia, magnitude e ao perfil epidemiológico nacional.


O câncer é o nome dado a um conjunto de doenças A estimativa para as próximas décadas é de 80%
que se caracteriza pelo crescimento e propagação dos 20 milhões de casos novos no ano de 2025, no
desordenados de células anormais. É considerado mundo. No Brasil, a mortalidade por câncer revela
um problema de saúde pública, em especial nos para o biênio 2016-2017 incidência próxima de 600
países em desenvolvimento, devido a sua incidên- mil casos novos de câncer (INCA, 2015).

* Enfermeira. Especialista em Enfermagem Oncológica pela Atualiza Cursos. E-mail: julyabreuca@gmail.com


** Enfermeira. Especialista em Enfermagem Oncológica pela Atualiza Cursos. E-mail: pmarianatividade@
hotmail.com
*** Enfermeira. Especialista em Enfermagem Oncológica pela Atualiza Cursos. E-mail: ssaramello@gmail.com

Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde | Salvador, v. 6, n. 6, p. 36-42, jul./dez. 2017 | 36


CARDOSO, J.A.; SANTOS, M.N.P.; MORGADO, S.S.M. | Atuação do enfermeiro no cuidado do paciente oncológico no domicílio

Entretanto, apesar de os avanços tecnológicos Nesse sentido, ajudar os indivíduos com doenças
possibilitarem um tratamento com novas drogas e crônicas e sem possibilidades curativas, bem como
opções de escolhas, nem sempre é possível a cura. seus familiares na fase avançada da doença e no
Assim, os pacientes passam a necessitar de cuida- final de vida nos remete a um modelo terapêutico
dos que visam ao controle da dor e dos variados que vem sendo denominado Cuidados Paliativos
sintomas, além de serem avaliados psicologica- (BALIZA et al., 2012).
mente, socialmente e espiritualmente, com vistas
à melhora na qualidade de vida, na aceitação da Cuidados paliativos podem ser definidos como
doença e na adesão ao tratamento (STUMM; LEI- o cuidado ativo e total prestado ao paciente cuja
TE; MASCHIO, 2008). doença não responde mais ao tratamento curati-
vo. Consistem em um cuidado diferenciado que
Neste contexto, para Secoli, Padilha e Leite (2005), visa à prevenção e alívio do sofrimento por meio
os enfermeiros são essenciais no processo de to- da identificação precoce, da adequada avaliação
mada de decisão, uma vez que podem auxiliar os e tratamento da dor e de outros sintomas físicos,
pacientes e seus familiares e os serviços de saúde psicossociais e espirituais, promovendo a qualida-
na escolha de terapêuticas ou cuidados alternati- de de vida do paciente e de seus familiares (WA-
vos, independentemente do seu local de atuação. TERKEMPER; REIBNITZ, 2010).
Desse modo, a atuação da enfermagem na on- Sendo assim, este estudo se justifica pela impor-
cologia representa um avanço da prática profis- tância de o enfermeiro exercer um atendimento
sional advinda de novos protocolos terapêuticos, holístico, utilizando subsídios e estratégias de cui-
que admitem a necessidade de atuação de equipe dado, considerando a promoção, a prevenção e o
multiprofissional. A ação da enfermagem se res- tratamento da dor oncológica, além de lhe propor-
tringia aos cuidados de cabeceira, ou seja, dando cionar uma reflexão sobre sua capacitação, prepa-
apoio, conforto e tratamento paliativo os pacien- ração e qualificação para trabalhar com pacientes
tes com câncer em estado terminal. Na atualida- oncológicos, a partir do conhecimento sobre o
de, esta prática requer habilidades específicas dos câncer, assim como os cuidados paliativos, trata-
profissionais envolvidos nesse processo (MENE- mento e as consequências da doença.
ZES et al., 2007).
Desta forma, o presente trabalho tem como objeti-
Para que as ações de enfermagem no cuidado ao vo descrever a atuação e os cuidados do enfermeiro
paciente oncológico sejam integrais, participativas
na assistência ao paciente oncológico no domicílio.
e resolutivas, os profissionais, em todos os níveis
de atuação, devem possuir conhecimentos técni-
co-científicos e habilidades no relacionamento in- 2. Metodologia
terpessoal, favorecendo ações de saúde e práticas
Este estudo aborda uma revisão sistemática da li-
educativas, o que contribuirá no tratamento do
teratura, de natureza descritiva sob forma qualita-
mesmo (FERNANDES et al., 2013).
tiva, acerca da atuação do enfermeiro em paciente
Considerando que o cuidar é uma ação funda- oncológico no domicílio. Foi realizada do primei-
mental para a promoção e recuperação da saúde, ro semestre de 2015 ao primeiro semestre de 2016,
a atuação da equipe de enfermagem em domicílio a partir das bases de dados eletrônicas SciELO
torna-se essencial, em especial com o paciente on- (Scientific Eletronic Library Online), LILACS (Lite-
cológico, inclusive quando não há perspectivas de ratura Latino Americana e do Caribe em Ciências
cura e nem de sobrevida (RODRIGUES; FERREI- da Saúde) e PUBMED, acessadas pela Biblioteca
RAI, 2011). Virtual de Saúde (BVS/BIREME/OMS), que abor-

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CARDOSO, J.A.; SANTOS, M.N.P.; MORGADO, S.S.M. | Atuação do enfermeiro no cuidado do paciente oncológico no domicílio

dassem o tema aqui proposto. Para a localização 3. Resultados e discussão


das 43 publicações, foram utilizados os seguintes
Após delimitação através dos critérios de inclusão
descritores (em português): Oncologia, Cuidados
e exclusão, obteve-se um total de 09 publicações,
de enfermagem, Habitação, Enfermagem e Cui-
todas em língua portuguesa, que se encaixaram
dados paliativos, consultados nos Descritores em
nos objetivos desta pesquisa.
Ciência da Saúde (DeCS). Foram incluídos arti-
gos originais, indexados e disponíveis na íntegra, A Tabela 1 traz a descrição dos artigos de pesquisa
publicados num período entre os anos de 2005 e selecionados, que é composta pelos 09 artigos. Os
2015, atualizados para o ano de 2016, e que abor- que mais prevaleceram, dentre os cuidados de en-
davam o tema aqui proposto. fermagem ao paciente oncológico, foram: o signi-
ficado dos cuidados paliativos necessários para os
Excluíram-se artigos que não abrangeram direta-
pacientes com câncer, e as vivências, enfrentamen-
mente o tema em questão, artigos que não se en-
tos e dificuldades encontrados frente aos cuidados
caixaram no tempo hábil solicitado e artigos de
a estes pacientes.
revisão/tese/dissertação e/ou duplicata.

Tabela 1. Descrição dos artigos de pesquisa selecionados (continua)

Autor/Ano Título Objetivo Conclusão

A comunicação mostrou exercer


papel de destaque no processo de
A comunicação
Conhecer as expectativas de morrer. Como atributo essencial
com o paciente
pacientes em cuidados palia- do relacionamento interpessoal, a
ARAÚJO; SILVA, em cuidados
tivos relativos à comunicação comunicação empática e compas-
2007 paliativos: valori-
com as pessoas da equipe de siva foi enfatizada na qualidade de
zando a alegria e o
enfermagem. instrumento que fornece suporte e
otimismo
sustento para a pessoa frente à ter-
minalidade.

Vivências de uma Conhecer vivências da equi- Para os profissionais, a ação de


equipe de enfer- pe de enfermagem de uma cuidar requer compreensão, aten-
STUMM; LEITE;
magem no cui- unidade oncológica relacio- dimento humanizado e formação
MASCHIO, 2008
dado a pacientes nadas ao cuidado a pacientes de vínculo entre equipe, paciente e
com câncer com câncer. familiar.

Descrever o desequilíbrio
que o diagnóstico do câncer
infanto-juvenil provoca
Representação do nas famílias e avaliar a Conclui-se que uma assistência de
processo de adoe- representatividade do enfermagem pautada na humaniza-
cimento de crian- diagnóstico em crianças, ção durante o tratamento deste tipo
SILVA et al., 2009 de cliente, extensiva aos seus fami-
ças e adolescentes adolescentes e famílias en-
oncológicos junto volvidas e o comportamento liares, é de grande relevância.
aos familiares da equipe da enfermagem
na percepção dos familiares
das crianças e adolescentes
acometidos.

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Tabela 1. Descrição dos artigos de pesquisa selecionados (conclusão)

Autor/Ano Título Objetivo Conclusão

A implantação de condutas sistema-


Revelar as concepções e tizadas de cuidado à dor, englobadas
Cuidados paliati-
contribuições de enfermeiras na sistematização da assistência de
WATERKEMPER; vos: a avaliação da
sobre a avaliação da dor em enfermagem, possibilita redirecionar
REIBNITZ, 2010 dor na percepção
pacientes com câncer em melhor as ações e, desta forma, um
de enfermeiras
cuidados paliativos. manejo da dor mais completo
e eficaz.

As enfermeiras, ao considerarem o
Cuidados paliati-
Compreender a percepção paciente e sua família como unidade
vos no domícilio:
de enfermeiras da Estratégia de cuidado, têm a oportunidade de
BALIZA et al., percepção de
Saúde da Família com rela- compartilhar solidariedade, expe-
2012 enfermeiras da
ção aos cuidados paliativos riências e aprendizados, não só do
Estratégia Saúde
no domicílio. ponto de vista profissional, mas,
da Família
sobretudo, humano.

Conhecer as percepções e Consideramos que o cuidado do


sentimentos de enfermeiros enfermeiro pode ser compreendido
O vivido dos
de um hospital oncológico em suas facetas técnicas, éticas e
SALIMENA et al., enfermeiros no
de referência em diagnóstico humanas, uma vez que possibilita o
2013 cuidado ao pa-
e tratamento de pacientes aprofundamento das relações inter-
ciente oncológico
com câncer na Zona da Mata pessoais entre aqueles que cuidam e
Mineira. os que são cuidados.

Percepção dos Os enfermeiros envolvidos reconhe-


enfermeiros sobre cem a importância da equipe multi-
Conhecer a percepção do
o significado dos profissional, que lhes propicia refle-
FERNANDES, enfermeiro diante do paciente
cuidados paliati- xões acerca do uso da comunicação
et al., 2013 com câncer sob cuidados pa-
vos em pacientes como elemento essencial do cuidar
liativos.
com câncer ter- para paciente e família sob cuidados
minal paliativos.

Frente às peculiaridades de cada


Estratégias de Conhecer as estratégias que
profissional e às diversas estratégias
enfrentamento os enfermeiros utilizam para
de enfrentamento adotadas, torna-se
SALIMENA et al., usadas por enfer- lidar com os abalos psicoe-
fundamental ouvir e dar voz ao enfer-
2013 meiros ao cuidar mocionais advindos do pro-
meiro em seu local de trabalho, para
de pacientes onco- cesso de cuidado de pacientes
que possa lidar melhor com as de-
lógicos oncológicos.
mandas da sua trajetória ocupacional.

Identificar as ações promovi- Espera-se que este estudo contribua


Cuidado integral
das pela equipe de enferma- para o desenvolvimento de ações
VICENZI et al., de enfermagem
gem em busca da integrali- que auxiliem pacientes oncológicos
2013 ao paciente onco-
dade do cuidado ao paciente e familiares no enfrentamento
lógico e à família
oncológico e sua família. da doença.

Fonte: Elaborado pelas autoras

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Os estudos de Fernandes et al. (2013), Araújo e tresse psicológico do paciente à medida que tam-
Silva (2007), Waterkemper e Reibnitz (2010) e Sa- bém lhe permite compartilhar o sofrimento.
limena et al. (2013) evidenciaram os cuidados pa-
Waterkemper e Reibnitz (2010) e Baliza et al. (2012)
liativos como forma eficaz de assistência presta-
da pelos enfermeiros aos pacientes com câncer e mencionam que, para proporcionar cuidados pa-
seus familiares, como sujeito cuidador, que busca, liativos, é fundamental que o enfermeiro desen-
através do seu conhecimento, amenizar ou sanar volva conhecimentos sobre a dor e, por meio deles,
qualquer tipo de desconforto que o paciente e/ou alcance condições para avaliar e dimensionar a
família apresentem. complexidade do câncer, a fim de assistir o pacien-
te de forma holística e humanizada.
Baliza et al. (2012) concordam que é de extrema
importância o apoio aos pacientes e familiares no Fernandes et al. (2013) e Araújo e Silva (2007) rela-
domicílio, nos cuidados paliativos para uma me- tam que os cuidados paliativos têm como filosofia
lhor aceitação do processo da morte. Enfatiza-se valorizar a vida e encarar a morte como um pro-
o elevado índice de depressão em parceiros cuida- cesso natural. Assim, não adiam e nem prolongam
dores de pacientes com doenças terminais, desta- a morte, mas amparam o ser em suas angústias e
cando a importância do trabalho profissional da medos, provendo o alívio da dor e de outros sin-
enfermagem no apoio psicoemocional. tomas, oferecendo suporte para que os pacientes
possam viver o mais ativamente possível e ajudan-
É de suma importância a valorização da crença re-
do a família e os cuidadores no processo de luto,
ligiosa para o enfrentamento dos problemas psico-
se necessário.
lógicos, como a depressão, o sentimento de culpa,
a angústia e a não aceitação da doença, embora, Já Stumm, Leite e Maschio (2008) e Silva et al.
para alguns familiares, a morte possa representar (2009) afirmam que cabe ao enfermeiro o papel
alívio e descanso para o paciente. de avaliar a dor oncológica, orientando e imple-
mentando terapêuticas e auxiliando na eficácia do
Fernandes et al. (2013) e Waterkemper e Reibnitz
tratamento escolhido, apoiando o indivíduo e a fa-
(2010) mencionam a importância dos cuidados
mília durante todo o processo da doença.
paliativos direcionados ao paciente na termina-
lidade da vida, especialmente o oncológico, visto Vicenzi et al. (2013) salientam a importância do
que esses cuidados proporcionam uma abordagem convívio para a promoção de estratégia que valo-
diferenciada de tratamento que tem como objeti- riza a escuta ativa e a formação de vínculos entre
vo principal a promoção do cuidar humanizado. os pacientes, familiares e profissionais. Isso se faz
De acordo com Araújo (2007), o enfermeiro dirige necessário a fim de que estes estejam sensibiliza-
seu foco para o alívio das necessidades biopsicos- dos a identificar comportamentos que influen-
sociais e espirituais, assim como integra a esses ciam na adesão ou não do tratamento e, desse
cuidados os valores, as crenças, práticas culturais
modo, poderem promover ações para motivar o
e religiosas do paciente e seus familiares.
seu prosseguimento. Entretanto, Silva et al. (2009)
Salimena et al. (2013) mencionam que, além de afirmam que a ação de cuidados no convívio dos
construir um dos pilares básicos dos cuidados pa- profissionais de enfermagem com os portadores
liativos, o emprego adequado da comunicação ver- de câncer transpõe as estratégias terapêuticas,
bal é uma medida terapêutica comprovadamente demanda atendimento humanizado, estabeleci-
eficaz para os pacientes fora de possibilidades de mento de vínculos entre as demais profissões da
cura. É considerado um importante componente área da saúde e compreensão do sofrimento dos
do cuidado no fim da vida, pois pode reduzir o es- pacientes e dos familiares.

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Vicenzi et al. (2013) e Baliza et al. (2012) relatam da qual sejam priorizadas: a qualidade de vida, o
que a convivência entre enfermeiro e paciente on- conforto, a diminuição da dor, a interação com a
cológico favorece a formação de vínculos, ultra- família na busca de um cuidado efetivo ao pacien-
passando o âmbito profissional, que revela uma te que não responde mais à terapêutica curativa.
relação verdadeira por meio de interação, troca
A partir dos resultados, pudemos observar que a
de conhecimentos, experiências e sentimentos.
importância do trabalho em equipe interdiscipli-
Silva et al. (2009) dizem que, a partir daí, se torna
nar resulta na oferta de um cuidado integral como
primordial estabelecer uma relação de confian-
forma de minimizar o sofrimento e os abalos psi-
ça e respeito entre as famílias e os profissionais,
coemocionais causados no cotidiano do cuidar de
criando possibilidades de transformar o ambien-
pessoas com câncer.
te hospitalar em um lugar mais humanizado e
acolhedor. É de suma importância o profissional de enferma-
gem orientar os pacientes e seus familiares sobre
Araújo e Silva (2007) afirmam que, nessa conjun-
as medidas preventivas, explicar os efeitos cola-
tura, o enfermeiro consegue prestar assistência ao
terais provocados pelas medicações, percebendo
paciente oncológico, visando à qualidade de vida e
que o perfil do paciente oncológico é diferenciado
à manutenção do conforto com alívio da dor.
diante da mudança de vida e no qual o tratamen-
Salimena et al. (2013) mencionam que o cuidado to e cuidados são prolongados e com vários efeitos
integral e de qualidade é fundamental no cotidia- adversos, tendo uma visão holística.
no da assistência de pacientes com câncer, em que
Recomenda-se que as instituições de ensino supe-
cada profissional faz o que há de melhor dentro do
rior possam viabilizar a inclusão do ensino for-
que está ao seu alcance para amenizar os efeitos
mal de oncologia nos currículos de Graduação em
da manifestação da neoplasia e de seu tratamento.
Enfermagem.

Acredita-se que esta pesquisa possa oferecer pon-


4. Conclusão tos de reflexão acerca do cotidiano na assistência
Percebe-se que o enfermeiro se refere aos cuidados em saúde e ampliar a compreensão da dimensão
paliativos com objetividade e reconhece a impor- do cuidado em oncologia, preparando o profissio-
tância de um cuidado diferenciado, humanizado, nal para lidar com as demandas com as quais irá
trabalhando de forma multidisciplinar, por meio se deparar na sua trajetória profissional.

NURSE’S PERFOMANCE AT ONCOLOGIC PACIENT HOMECARE

Abstract
The cancer is related to more than 100 diseases from cell disorder that begins when cells un-
dergo transformations in their genetic material. Describe the activities and nursing care in the
assistance to cancer patients in home care. This is an exploratory research method through sys-
tematic review of the literature. Data collection was performed using as sources of reliable elec-
tronic bases data SciELO (Scientific Electronic Library Online), LILACS (Latin American and
Caribbean Literature on health sciences) and BIREME (public health Virtual Library). From
the data collected in this research it was possible to identify the need of caring for patients with
this pathology requires the nurse not only technical knowledge, but if necessary the perception
of Humanized care need, where the family set. The study has highlighted the great importance
of the oncological patient nurse, representing an advance of fundamental professional practice,

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CARDOSO, J.A.; SANTOS, M.N.P.; MORGADO, S.S.M. | Atuação do enfermeiro no cuidado do paciente oncológico no domicílio

respecting the individuality and value of the human person, since the signs and symptoms of
this pathology causes a profound transformation in the life of the patient and his family.

Keywords: Oncology. Nursing. Nursing care. Housing. Palliative care.

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Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde | Salvador, v. 6, n. 6, p. 36-42, jul./dez. 2017 | 42


TRATAR BRINCANDO: O LÚDICO COMO RECURSO
DA FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA NO BRASIL

Milena Braga Maia Caricchio*

Resumo

O presente estudo trata de uma revisão integrativa de literatura que objetiva demonstrar como
a Fisioterapia Pediátrica no Brasil tem utilizado o recurso lúdico como um instrumento eficaz
no tratamento de crianças. Foram incluídas publicações brasileiras, na língua portuguesa, no
período de 2000 a 2016. Pode-se concluir que a Fisioterapia Pediátrica brasileira reconhece a
importância do lúdico e entende ser esta uma importante ferramenta de trabalho nesta espe-
cialidade. Todavia, evidenciou-se que falta desenvolvimento teórico-prático quanto ao uso do
recurso lúdico na formação do fisioterapeuta durante sua graduação, de forma que possibilite a
capacitação necessária para a utilização desta prática na assistência. Além disso, faz-se necessá-
rio que o fisioterapeuta inclua a funcionalidade da criança para o brincar como um dos objetivos
primordiais no seu plano de tratamento, vez que essa demonstrou-se como um dos principais
desejos das crianças e seus pais.

Palavras-chave: Fisioterapia. Pediatria. Lúdico. Brinquedos terapêuticos.

1. Introdução domiciliar causam alterações físicas, emocionais


e comportamentais na criança. Em muitos casos,
A fisioterapia pediátrica realiza-se a partir da ela é afastada do seu lar e colocada num ambien-
avaliação, do planejamento e da execução de um te estranho, onde se vê obrigada a conviver com
programa de reabilitação baseado nas limitações, pessoas desconhecidas e a seguir rotinas rígidas.
necessidades e interesses de cada paciente. A ava- Além disso, são submetidas a inúmeros procedi-
liação é uma etapa de suma importância, pois nela mentos, muitas das vezes, dolorosos. A fisioterapia,
deverão ser devidamente analisados os aspectos como integrante de uma equipe multiprofissional,
motor, sensitivo, cognitivo e comportamental do está inclusa nessa realidade, sendo percebida pela
paciente para que seja determinado o melhor pla- criança e, às vezes, também pelos pais como mais
no terapêutico para a criança em conjunto com um manuseio invasivo e desagradável.
seus responsáveis.
A hospitalização, em particular, limita ainda mais
Diferentes contextos de tratamento que se apre- a rotina da criança devido à sua condição de saúde
sentam nos ambientes hospitalar, ambulatorial ou e à necessária proteção quanto aos riscos presentes

* Fisioterapeuta. Especialista em Fisioterapia Pediátrica e Neonatal pela Atualiza Cursos. E-mail: milena.
caricchio@hotmail.com

Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde | Salvador, v. 6, n. 6, p. 43-57, jul./dez. 2017 | 43


CARICCHIO, M.B.M. | Tratar brincando: o lúdico como recurso da fisioterapia pediátrica no Brasil

neste tipo de instituição. Entretanto, cabe ressaltar tras, enfermeiros, pedagogos, sociólogos e antro-
que essa criança continua a ter as mesmas necessi- pólogos da infância utilizam-se do brincar como
dades que tinha em sua casa, dentre elas, o brincar. uma ferramenta essencial, capaz de melhor enten-
der e atender à criança. Comprovações científicas
Siaulys (2006) defende que a vida da criança é a
têm sido buscadas pela neurociência moderna
brincadeira, pois esta é uma maneira prazerosa de
para entender as respostas do cérebro infantil às
movimentar-se e de ser independente. Enquanto
experiências a ele fornecidas, quer sejam as positi-
brinca, a criança desenvolve seus sentidos, adqui-
vas, quer sejam as negativas.
re habilidades corporais, conhece objetos e suas
características, como forma, textura, temperatu- Nesse contexto, deduz-se, então, o quanto é im-
ra, cor, tamanho e som. Ao brincar, ela entra em portante que a Fisioterapia Pediátrica contemple
contato com o ambiente que a cerca, interage com além dos aspectos físicos e patológicos. Isso por-
pessoas, desenvolve sua mente e sua afetividade, que a realidade mostra o quanto é imprescindível
torna-se ativa e curiosa com relação ao mundo. a todos os profissionais da saúde entender do com-
portamento, das emoções, da realidade social e de
Fujisawa e Manzini (2006) afirmam que as ativi- tudo mais que cerca a criança a ser tratada como
dades lúdicas podem estar presentes tanto na ava- forma de melhor atuar nesse contexto.
liação quanto no tratamento fisioterapêutico, mas
que devem ser aplicadas de maneira intencional e Aliar o lúdico ao tratamento revela-se como uma
planejada. Nesse sentido, o lúdico deve ser carac- condição inerente ao atendimento fisioterapêutico
terizado como uma atividade-meio para facilitar pediátrico, vez que este é um dos elementos cen-
e/ou conduzir aos objetivos pretendidos. trais para o adequado desenvolvimento infantil.
Ademais, cabe também ao fisioterapeuta cons-
O atendimento fisioterapêutico conta com diver- cientizar pais e responsáveis quanto à relevância
sos materiais e equipamentos que podem ser uti- do brincar para a criança.
lizados de forma lúdica, como bola, rolo, espelho,
plano inclinado, andador, prancha de equilíbrio, Face ao exposto, o presente estudo teve como obje-
esteira, dentre outros. Na pediatria, somam-se tivo realizar uma revisão integrativa de literatura
ainda brinquedos, brincadeiras e jogos como re- para demonstrar como a Fisioterapia Pediátrica
cursos terapêuticos capazes de tornar a fisioterapia no Brasil tem utilizado o recurso lúdico como um
mais atrativa e eficaz para a criança. Mais recen- instrumento eficaz ao tratamento de crianças.
temente, têm-se desenvolvido tecnologias com fi-
nalidade terapêutica, a denominada gameterapia, 2. Metodologia
que, através de jogos eletrônicos desenvolvidos
especialmente para a reabilitação, proporcionam Foi realizada uma revisão de literatura sobre o
tema através de pesquisa bibliográfica. Esta, de
ao paciente um recurso lúdico e motivador como
acordo com Martins e Lintz (2007), busca expli-
forma de tratamento.
car e discutir um tema ou problema com base em
Felizmente, a especificidade do comportamento referências teóricas publicadas em livros, revistas,
infantil torna-se cada vez mais evidente e esfor- periódicos, dentre outros. Através da pesquisa bi-
ços têm sido empreendidos no sentido de melhor bliográfica, pode-se conhecer e analisar contribui-
compreender o desenvolvimento das crianças sob ções científicas sobre determinado assunto. Para
os mais diversos aspectos. Com relação à ludicida- tanto, foram consultadas as bases de dados ScieE-
de, há muito já se reconhece sua relevância para LO, Lilacs, BIREME e Google Scholar, além de pu-
essa faixa etária. Psicólogos, psicanalistas, pedia- blicações em periódicos e em anais de congressos.

Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde | Salvador, v. 6, n. 6, p. 43-57, jul./dez. 2017 | 44


CARICCHIO, M.B.M. | Tratar brincando: o lúdico como recurso da fisioterapia pediátrica no Brasil

Foram incluídas publicações brasileiras, na lín- seu cérebro tem muitas questões envolvidas, escla-
gua portuguesa, no período de 2000 a 2016, que recem Nogaro, Fink e Piton (2015).
se mostraram em consonância com o objetivo
Para Friedmann (2006 apud GOMES; PINHEIRO,
do presente trabalho. Utilizaram-se os seguintes
2013), as palavras brincar, brincadeira, brinquedo
descritores em Ciências da Saúde (DeCS): ‘fisio-
e jogo, muitas vezes, são utilizadas de forma indis-
terapia’, ‘pediatria’, ‘lúdico’ e ‘ brinquedos tera-
tinta. Entretanto, o autor esclarece que o brincar
pêuticos’. Os dados coletados nos artigos foram
fichados e analisados de forma crítica e, quando corresponde à ação lúdica, seja ela uma brinca-
possível, foram incluídos neste estudo. deira, jogo, uso de brinquedos ou outros objetos,
do corpo, da música, da arte, das palavras, entre
outros. A brincadeira, por seu turno, refere-se ba-
3. Resultados e discussão sicamente à ação de brincar, ao comportamento
espontâneo que resulta de uma atividade não es-
3.1. A importância do lúdico para a criança truturada. O brinquedo define o objeto de brincar,
Para Vygotsky (2007), a motivação é um dos fato- um suporte à brincadeira, e o jogo designa tanto
res primordiais não só para o sucesso da aprendi- uma atitude quanto uma atividade estruturada
zagem, como também para a aquisição de novas que envolve regras.
habilidades. Esse teórico defende ainda que o lú- O referido autor também afirma que o brincar
dico fornece amplamente estruturas que servem pode ser analisado sob diversos aspectos: o socio-
de base para mudanças de necessidades e da cons- lógico, o educacional, o psicológico, o antropológi-
ciência. co e o folclórico. O sociológico denota a influência
Piaget e Inhelder (1985 apud COSTA; JARDIM, do contexto social em que os diferentes grupos de
2001) afirmam que a atividade lúdica fica caracte- crianças brincam. O educacional, pela construção
rizada através do desenvolvimento das habilidades do brincar para a educação, o desenvolvimento ou
sensório-motoras nos primeiros dezoito meses de aprendizagem da criança. O psicológico aborda o
vida. Esses autores complementam afirmando que brincar como meio para compreender melhor o
o interesse pelo novo é uma característica típica da funcionamento da psique, das emoções e da per-
criança, podendo ser verificado a partir do quinto sonalidade dos indivíduos, a Ludoterapia. O an-
mês de vida. Em torno de um ano, as crianças têm tropológico é a maneira como o brincar reflete,
suas ações bastante estimuladas pela novidade dos em cada sociedade, os costumes e a história das
objetos e sustentadas pelas características destes à diferentes culturas; e, por fim, o folclórico, quan-
medida que o manipulam. do no brincar surge a expressão da cultura infantil
das diversas gerações, bem como as tradições e os
O brincar é facilmente associado à infância, vez costumes nelas refletidos através dos tempos.
que a ludicidade está fortemente vinculada a essa
etapa da vida. Ela funciona como linguagem pró- Reis e colaboradores (2007) entendem que o de-
pria da criança, o que torna, então, fundamental a senvolvimento infantil se dá devido à aprendiza-
sua prática no processo de socialização e impor- gem do movimento, ao aperfeiçoamento dos siste-
tante recurso de intervenção em saúde pediátri- mas sensoriais e à maturação intelectual e afetiva.
ca, de acordo com Mitre e Gomes (2002). Muitos Esses aspectos interagem entre si, favorecendo uns
acreditam que a criança brinca por instinto, por aos outros. O processo de aprendizagem é iniciado
prazer, por regra ou, simplesmente, para passar ao brincar, o que torna este um processo biológico
o tempo. Porém, esse ato tão essencial e benéfico e inato, quando as sensações estereoceptivas, pro-
para a formação da criança, de sua cognição e do prioceptivas e vestibulares desenvolvem-se a par-

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tir da brincadeira da criança com seu corpo e com deverá ser submetida, com o objetivo de envolvê-la
o ambiente. Dessa forma, pode-se perceber o mo- na situação e facilitar sua compreensão a respeito
vimento como uma brincadeira que o ser humano do que ocorrerá e; 3. Brinquedo Terapêutico Ca-
utiliza como um instrumento para o seu desenvol- pacitador de Funções Fisiológicas: utilizado para
vimento sensorial, motor, intelectual, cognitivo, capacitar a criança para o autocuidado, de acordo
afetivo e cultural. com seu desenvolvimento, condições físicas e pre-
pará-la para aceitar sua nova condição de vida.
3.2. O emprego do recurso lúdico na Paula, Ravelli e Zinn (2002) apontam que o cuida-
fisioterapia
do lúdico pode se dar por meio de desenhos, mú-
Cintra, Silva e Ribeiro (2006) concordam quanto sicas, jogos, teatro, brincadeiras e outros, pois se
à importância do brincar para a criança e a ne- deve ajudar a criança a enfrentar, da forma mais
cessidade da equipe multiprofissional em saúde sadia possível, o que não pode ser evitado.
reconhecê-la, propiciar formas de realização e in-
No seu estudo, Santos e Ferreira (2013) buscaram
corporá-la de forma sistemática à sua assistência.
ouvir o que as crianças tinham a falar sobre a fisio-
Sobretudo porque as atividades lúdicas, por terem
terapia. Nesse estudo, os pacientes expressaram,
um caráter de integração e interação, permitem o
através de entrevistas, que a fisioterapia “ajuda a
diálogo do conhecimento com as ações práticas.
melhorar”. Ficou evidenciado que as crianças têm
Para essas autoras, a brincadeira pode ser classifi- comprometimento com sua saúde e com a fisiote-
cada em dois tipos: recreacional e terapêutica. Na rapia e percebem o resultado dela. Demonstraram
recreacional, não há uma atividade estruturada, a também entusiasmo, esperança e persistência com
atividade é espontânea, com a intenção de obter relação à sua melhora. Um entrevistado, que se
prazer ou promover a interação entre os pares. Na nomeou Lula Molusco, disse que: “[...] com anda-
terapêutica, visa-se a uma atividade estruturada, dor eu ando já... até corro com o andador”. Com
conduzida por profissionais que conhecem sua referência à percepção da criança quanto ao uso
técnica de aplicação e buscam promover o bem- do lúdico no atendimento, outro paciente, o Re-
-estar físico e emocional da criança que vivencia lâmpago, respondeu ao ser questionado se gostava:
uma situação anormal à sua idade. “Sim. Eles fazem coisa pra eu rir.” Para os autores,
isso colabora para a formação do vínculo pacien-
Cintra, Silva e Ribeiro (2006) esclarecem também
te-terapeuta. Foi identificado ainda que a criança
que o brinquedo terapêutico estruturado promo-
deseja brincar na fisioterapia e que ela também
ve à criança alívio de ansiedade gerada por expe-
está em busca de melhores condições físicas para
riências atípicas que, em geral, são ameaçadoras
brincar. Lula Molusco referiu satisfação ao tempo
e requerem mais que recreação para que sejam
destinado para brincar no final da sessão de hi-
resolvidas.
droterapia e, mesmo realizando atividades com
As estudiosas determinam ainda que, a depender objetivos terapêuticos, percebeu esse momento
da sua finalidade e intenção de uso, o brinquedo te- como lúdico e ficou com recordações positivas.
rapêutico é classificado das seguintes maneiras: 1. Apesar da dificuldade de estabelecer tempo para
Brinquedo Terapêutico Dramático: permite à crian- brincadeira espontânea no hospital, percebeu-se
ça exteriorizar as experiências que tem dificuldade que a criança também conseguiu expressar sua
de verbalizar, a fim de aliviar tensão, expressar criatividade e propor brincadeiras durante o aten-
sentimentos, necessidade e medos; 2. Brinquedo dimento. Relâmpago transformou o oscilador oral
Terapêutico Instrucional: indicado para preparar e de alta frequência em cachimbo do Popeye e se di-
informar à criança quanto a procedimentos a que vertiu com isso. O referido estudo revela, então, a

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importância de escutar e tornar a criança atuante de forma isolada ou associadas a outras técnicas.
no seu tratamento, sempre que possível. Estas têm como objetivos mobilizar e eliminar
secreções pulmonares, melhorar a ventilação pul-
Sobre os benefícios do brincar, Castro e colabora-
monar, promover a reexpansão pulmonar, melho-
dores (2010) analisaram, de forma qualiquantitati-
rar as trocas gasosas e a oxigenação dos tecidos e o
va, o oscilador oral como instrumento terapêutico
consumo de oxigênio além de reeducar os múscu-
em crianças hospitalizadas. No estudo, 100% dos
los respiratórios para, assim, promover a indepen-
responsáveis mencionaram melhora do humor das
dência respiratória funcional e acelerar a recupe-
crianças: 93% aumentaram a disposição, 86% redu-
ração do paciente.
ziram a ansiedade, 78% diminuíram os episódios
de choro, 71% aumentaram o apetite, 71% ficaram Para tanto, Gomes, Gimenes e Lanza (2016) infor-
menos irritadas e 21% mostraram melhor aderên- mam que a fisioterapia aplica técnicas ditas conven-
cia ao tratamento. Dessa forma, percebe-se que o cionais e não convencionais (modernas). Classifi-
recurso lúdico traz respostas positivas não só com cam-se como convencionais a drenagem postural, a
relação à terapêutica específica de cada área como vibração manual ou mecânica, a percussão e os pa-
também repercute no estado geral da criança. Essa drões ventilatórios. As modernas são o ciclo ativo
é mais uma razão para este ser empregado por toda da respiração (CAR), a drenagem autógena (DA),
a equipe de saúde nos mais diversos contextos de o aumento da expiração forçada (AFE), o oscilador
tratamento pediátrico. oral de alta frequência (OOAF), os exercícios respi-
ratórios e a pressão expiratória positiva (PEP).
3.3. Na fisioterapia respiratória Cabe ressaltar, entretanto, que, em quase todas as
As afecções respiratórias possuem grande impor- técnicas respiratórias, faz-se necessária a participa-
tância epidemiológica na infância. Segundo Pos- ção ativa do paciente. Com relação aos pacientes
tiaux (2004), as doenças respiratórias da primeira pediátricos, além do seu caráter fisiológico dife-
infância representam um problema de saúde pú- renciado, eles ainda apresentam aspectos psicoló-
blica muito maior que os relacionados às doenças gicos, emocionais e comportamentais totalmente
cardíacas ou ao câncer. No mundo, cerca de 15 mi- diferentes do adulto, e seu manejo terapêutico de
lhões de crianças com menos de cinco anos vão a forma eficiente depende do conhecimento dessas
óbito anualmente devido a doenças respiratórias, características. Nesse sentido, é fundamental que
particularmente por pneumonias e bronquiolite, o o fisioterapeuta considere a idade cronológica da
que representa uma morte para cada dez nessa fai- criança, assim como suas habilidades e seus inte-
xa etária. Estima-se que, nos primeiros dois anos resses no momento de estabelecer sua interven-
de vida, a criança vivencie em torno de 8 a 9 episó- ção. Deve ser observado também que, em crian-
dios de afecções do trato respiratório superior de ças com alguma deficiência e/ou limitação, nem
acordo com Hart e Cuevas (2007). sempre a idade cronológica coincide com as habi-
lidades previstas, segundo Ratliffe (2000).
Carvalho, Hirschheimer e Matsumoto (2006) afir-
mam que a fisioterapia tem um papel fundamental Oberwaldner (2000) assinala que a realização da
na equipe multiprofissional, principalmente em fisioterapia respiratória em recém-nascidos e lac-
razão da rápida instalação de patologias respira- tentes é passiva e que, na maioria das vezes, estes
tórias nas crianças. Sarmento (2007) descreve as aceitam o tratamento sem grande desconforto. Por
manobras de fisioterapia respiratória como “técni- outro lado, as crianças em idade pré-escolar são,
cas manuais, posturais e cinéticas dos componen- em geral, pacientes mais difíceis, pois são menos
tes toracoabdominais” que podem ser utilizadas colaborativos. Contudo, breves períodos de coo-

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peração podem ser obtidos por meio de distração, postos das manobras terapêuticas. Nesse grupo, foi
persuasão, palavras de incentivo e mediação com proposta assistência com o uso da bola suíça, com
jogos e brincadeiras. benefício para a percepção corporal e melhor pos-
sibilidade na drenagem postural associada à per-
O tratamento das patologias respiratórias pode
cussão cubital com crianças entre 3 meses e 2 anos
contar com o auxílio de brinquedos simples e de
de vida. O balanço promovido também demons-
baixo custo, que, associados às técnicas fisiote-
trou boa aceitação pelos pacientes. Nos exercícios
rapêuticas convencionais ou não convencionais,
respiratórios, foram utilizados o canudo, a língua
possibilitam a realização de exercícios respirató- de sogra e a bolinha de algodão, que permitiam
rios de maneira lúdica pelas crianças. Nesses ca- a realização de exercícios respiratórios através de
sos, podem ser utilizados brinquedos de sopro, campeonatos de fazer gol ou de empurrar objetos
como língua de sogra, bolinha de sabão, bola de com sopro. Copos plásticos enfeitados e com água
soprar, apito e cata-vento. Outros brinquedos, foram usados para adaptar exercícios de pressão
como o vai e vem, a bola e a peteca, que permi- expiratória positiva (PEP). Os acompanhantes
tem maior expansão de movimentos, contribuem também participavam das atividades, o que gerava
diretamente para a realização da cinesioterapia e, mais confiança aos pacientes.
indiretamente, com o tratamento respiratório ao
permitir, por exemplo, o aumento ventilatório. Hazime e outros (2004) apontaram que 82% das
crianças, assim como seus responsáveis, assimi-
Hazime e outros (2004) avaliaram as mudanças laram melhor e participaram mais ativamente da
comportamentais de 50 crianças numa enfermaria fisioterapia quando esta foi associada ao uso de
pediátrica após a introdução de brinquedos na fi- brinquedos. Em 92,5% dos casos, as crianças de-
sioterapia respiratória. Nessa, foram utilizados três monstraram boa expectativa pelo atendimento,
brinquedos: a bexiga, a língua de sogra e a bolinha percebendo-o como um momento alegre e diver-
de sabão. Os resultados revelaram diminuição do tido, mesmo quando eram realizados procedimen-
choro e aumento da permissão para o atendimen- tos desagradáveis, como a aspiração de vias aéreas.
to em 65% dos casos com os menores de 3 anos. Comprovaram-se as melhoras por imagem radio-
Os resultados subiram para 92% com as crianças lógica, de forma mais rápida, após a introdução de
acima dessa idade. Dessa forma, concluiu-se que brinquedos nas sessões, o que pode ser explicado
transformar técnicas fisioterapêuticas em ativida- pela melhor aderência ao tratamento proposto. Por
des lúdicas parece ser a maneira mais adequada e essas razões, os autores concluíram que o uso do
eficiente de trabalho com crianças hospitalizadas, brinquedo de forma terapêutica pode ser conside-
tornando-as um sujeito de ação, e não mero recep- rado como mais um recurso fisioterapêutico na as-
tor no processo. sistência às crianças com patologias respiratórias.

Costa e colaboradores (2015) demonstraram os be- O estudo de Ungier (2005) com crianças porta-
nefícios dos recursos lúdicos e sua importância na doras da síndrome de Prune-Belly, doença que
reabilitação fisioterapêutica. Para tanto, estabele- gera complicações respiratórias recidivantes em
ceram um protocolo de procedimentos utilizando decorrência de uma tosse débil, adotou como es-
brinquedos para a realização de técnicas respirató- tratégia lúdica o uso de uma “roupagem” de brin-
rias. Os resultados apontaram que as crianças do cadeira e uma canção associada. No tratamento
grupo que realizaram fisioterapia com os recursos da mecânica respiratória, foram propostas can-
lúdicos tornaram-se mais colaborativas, diminuí- ções como parabéns e soprar velinhas e brincadei-
ram o estresse e potencializaram o tratamento. ra do elevador e com bola nos pés para treino de
Demonstraram ainda não diferenciar os jogos pro- musculatura abdominal. Grasso e outros autores

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(2000) também indicaram a satisfação das crian- do sistema nervoso, a aquisição do controle motor
ças e seus pais em relação à associação da música depende da interação entre o sujeito, a tarefa (atra-
à sessão de fisioterapia. vés da realização de movimentos corporais ativos)
e o ambiente. Entretanto, alterações no desen-
Sobre o uso da música, cabe destaque o trabalho
volvimento podem ocorrer com a criança, o que
de Le Roux, Bouic e Bester (2007), que avaliou a
acarreta disfunções do movimento que impedem
repercussão da música de coral executada durante
ou alteram a motricidade voluntária.
o tratamento fisioterapêutico no estado emocional
(humor), respostas neuroendócrinas, funções imu- No processo de reabilitação fisioterapêutica, a con-
nológicas e pulmonares em pacientes adultos. Os dição do sistema nervoso central (SNC) em adap-
resultados encontrados indicaram evidência cien- tar-se às habilidades que estão sendo facilitadas
tífica tanto aos aspectos psicossomáticos quanto vai determinar o nível de capacidade da criança,
biomédicos em pacientes com infecção pulmonar. incluindo também sua condição de transferir essa
capacitação perceptiva e cognitiva em outros con-
Apesar da confirmação dos benefícios gerados
textos, posteriormente. Isso justifica o princípio
pelo uso dos recursos lúdicos no atendimento
da neuroplasticidade, definida por Pascual-Leone
da fisioterapia respiratória pediátrica, Schenkel
e colaboradores (2013), na sua revisão integrati- e outros (2005) como uma propriedade intrínseca
va, concluíram que poucas publicações a respei- do SNC presente em toda a vida, assim considera-
to foram encontradas. Mais ainda, que a maioria da como um mecanismo de aprendizagem, cres-
aborda o tema de forma sucinta e sem descrição cimento e desenvolvimento de mudanças na en-
do uso e aplicação do método, bem como os prin- trada de qualquer sistema neural, ou nas metas ou
cípios terapêuticos norteadores e suas indicações. exigências das suas conexões eferentes. Isso leva
Contudo, felizmente, pode-se evidenciar que em à reorganização, que poderia ser demonstrada ao
todos os casos há maior aderência da criança e dos nível do comportamento, da anatomia, da fisiolo-
pais ao tratamento, melhora na satisfação deles e, gia e também ao celular e molecular.
sobretudo, os objetivos da terapêutica respiratória De acordo com Lorenzini (2007), o movimento
são mais facilmente atingidos.
é uma brincadeira que o ser humano desenvolve
desde que nasce e pelo qual adquire experiências
3.4. Na fisioterapia motora a partir de trocas com o ambiente que vive. Dessa
Bobath e Bobath (1989 apud MARTINEZ, 2007) forma, a brincadeira mostra-se como um instru-
definem o desenvolvimento motor normal como mento de desenvolvimento sensorial, motor, per-
um desabrochar gradual das habilidades latentes ceptual, cognitivo e cultural.
da criança. Embora existam características indi-
Jorqueira (2005) ensina que o comprometimento
viduais, durante o desenvolvimento infantil pode
do ato motor gera objeções quanto à realização
ser observada uma linha sequencial de progressão
de atividades práticas da vida diária, assim como
sistemática que varia em função da diversificação
ao ato de brincar e que isso também interfere na
dos fatores biológicos. Nesse sentido, conhecer as
efetivação das tarefas motoras frente ao ambiente
fases do desenvolvimento é essencial para a com-
social da criança. A necessidade do brincar como
preensão do comportamento e das necessidades
descoberta e vivência do meio ambiente é salien-
da criança, pois é a partir daí que variam os inte-
tada por DeLisa e Gans (2002 apud MARTINEZ,
resses e motivações.
2007), que afirmam ser esta também uma manei-
Shumway-Cook e Woollacott (2003 apud MAR- ra de proporcionar subsídios para a realização de
TINEZ, 2007) esclarecem que, além da maturação todas as outras atividades próprias da infância.

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Mesmo a observação da criança com deficiência laram que o elemento que mais desperta a atenção
ao brincar é uma atividade importante, pois mos- da criança é a presença de outra criança e o que
tra quais são as possibilidades e o que a criança é menos chama sua atenção é o estímulo auditivo,
capaz de realizar (JORQUEIRA, 2005). principalmente, a voz. Os materiais mais utiliza-
dos nas brincadeiras, segundo os cuidadores, são
Diante disso, optar por uma reabilitação lúdica, os de estímulos sonoros, e os menos usados são os
que conjugue brincadeiras funcionais corporais a com texturas diferenciadas. Como características
brincadeiras simbólicas e jogos, permite criar si- para a brincadeira, os cuidadores afirmaram que
tuações favoráveis à organização da imagem cor- 72,5% das crianças gostavam de estar sempre em
poral, num ambiente interativo, o que favorece lugares novos e apenas 20% das crianças repetem
o envolvimento e prazer dos participantes. Mais uma brincadeira para melhor dominá-la. Apenas
ainda, a observação da cena lúdica permite avaliar 31,5% das crianças expressam por gestos suas ne-
a coordenação motora, a flexibilidade e agilidade cessidades fisiológicas, de atenção ou de segurança.
de movimentos de forma integrada e numa situa- Para os cuidadores, quando a criança tem interesse
ção complexa. O brincar torna o movimento mais por uma brincadeira, 42,5% se expressam por pa-
natural, menos repetitivo e com significado para lavras ou frases; 27,5%, por gestos; 20%, por outros
a criança. sons e 7,5%, por expressão facial. Verificou-se que
55% das crianças apresentam atitude de brincar,
Os brinquedos mais utilizados pela fisioterapia são
sendo este o aspecto de maior relevância apontado
os de encaixe, os sonoros e os com texturas, além
pela pesquisa.
de carros, bolas e bonecas para estímulo à coor-
denação motora, à visão e à audição. Rolos de es- O emprego de recursos lúdicos durante o atendi-
puma, colchonetes, bola suíça, dentre outros, tam- mento fisioterapêutico também é valorizado no
bém ajudam a estimular o sistema proprioceptivo, Ambulatório de Cuidado à Pessoa com Síndrome
tátil e vestibular. Cabe ressaltar que a resposta da de Down do Instituto de Medicina Física e Reabili-
criança ao estímulo sensorial constitui um guia de tação — HC FMUSP. Almeida, Moreira e Tempski
como o SNC integra as informações fornecidas. (2013) afirmam serem adotados, quando possível,
modelos de atividades em circuitos contextualiza-
Reis e colaboradores (2007) verificaram a uti- dos por histórias em que o espaguete de espuma
lização e a contribuição de brinquedos, jogos e se transforma em ponte, a cama elástica, num lago
brincadeiras como coadjuvantes do tratamento e outras possibilidades de desafios que estimulam
de crianças portadoras de paralisia cerebral por a criatividade e o pensamento abstrato e geram
fisioterapeutas em algumas cidades da Bahia. Nes- maior adesão ao tratamento pelas crianças e ado-
se estudo, 94,4% dos profissionais afirmaram usar lescentes da instituição.
a ludicidade nos atendimentos. Os brinquedos de
encaixe são os mais utilizados, seguidos pelos so- Outro estudo que busca estabelecer um modelo lú-
noros, que permitem melhora da atenção, da cog- dico de intervenção em paciente com Down, reali-
nição e da coordenação motora. zado por Apoloni, Lima e Vieira (2013), verificou a
efetividade de um programa de exercícios em cama
Com vistas a avaliar o comportamento lúdico da elástica com crianças. Nesse, comprovou-se que
criança com paralisia cerebral e a percepção de um programa constituído por atividades de saltar,
seus cuidadores num hospital de São José do Rio correr e brincar em cama elástica por 12 semanas
Preto (SP), Zaguini e outros autores (2011) realiza- foi capaz de promover melhoras significativas de
ram um estudo com 40 crianças com paralisia ce- controle postural e suas consequentes repercussões
rebral grave. Entrevistas com os cuidadores reve- nas atividades da vida diária dos pacientes.

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O tema brincar, também identificado no estudo pervisionada pelo fisioterapeuta. A velocidade de


de Brandão, Oliveira e Mancini (2014), foi apon- realização do exercício varia com o nível do jogo:
tado como uma das prioridades funcionais iden- fácil (lento), médio (moderado) e difícil (rápido).
tificadas pelos cuidadores de crianças com para- Deve-se iniciar sempre no nível fácil, para o pacien-
lisia cerebral. A pesquisa apontou que, em 48,2% te aprender a forma correta do exercício, elevando
dos casos, a prioridade referia-se às atividades de o nível de acordo com a capacidade e motivação do
cuidados pessoais, mas que pais de crianças com mesmo. A duração do exercício também varia com
comprometimento motor grave apresentam maior a intensidade do jogo e com o condicionamento fí-
número de demandas relacionadas ao brincar, sico do paciente, assegurando-se sempre o fisiote-
comparadas a outros níveis de comprometimento. rapeuta de que aquele não entre em fadiga.
Os pais mais jovens reportaram maior número de
Nesse sentido, a Nintendo® Wii (NW) lançou, em
demandas em relação à mobilidade e ao brincar
2006, um pacote de jogos, o Wii Fit Plus, que per-
em relação a outros grupos etários.
mite tornar a vida do jogador mais saudável e tra-
balhar grupos musculares de todo o corpo. Pode
3.5. Outros recursos lúdicos empregados ser associada aos jogos uma plataforma, a Wii Ba­
pela fisioterapia lance Board (WBB), com­posta por quatro sensores
de pressão localizados em cada canto da mesma,
3.5.1. Gameterapia usados para medir o peso e o equilíbrio do usuá-
A Fisioterapia, como jovem área da saúde, tem-se rio, por meio de transferências de peso. O NW é
desenvolvido em diversos campos do conhecimen- composto por uma rede sem fio de controladores
to e, no tocante a técnicas e formas de tratamen- que interagem com o jogador através da detecção
to, não está sendo diferente. Nesse contexto, mais do movimento (Wiimote) e um sistema de avatar
recentemente, lançou-se a realidade virtual (RV) (personagem), que representa o usuário no com­
como possibilidade de tratamento de diversas pa- putador. Seus sensores são capazes de detectar al-
tologias, com destaque para as neurológicas. A RV terações na velocidade, na direção e na aceleração,
simula um ambiente real por um computador, no através dos movimen­tos de punho, braço e mão,
qual, através de uma interface homem-máquina, capacitando os participantes a interagir com os
o seu paciente-jogador participa da cena simulada jogos. O feedback fornecido pela TV permite ao
através da interação e da imersão. Na neurorreabi- usuário observar seus movimen­tos em tempo real,
litação, o raciocínio científico para sua utilização sendo um reforço positivo que facilita a formação
baseia-se em alguns conceitos rele­vantes para a e o aperfeiçoamento de tarefas.
aprendizagem motora: repetição, feedback e moti-
Uma revisão sistemática publicada em 2015 por
vação, ensina Soares (2015).
Soares e colaboradores, com o objetivo de obser-
Dias, Sampaio e Taddeo (2009) afirmam que, ao var os efeitos da utiliza­ção da Wii Reabilitação no
submeter o paciente a um jogo como parte de seu tratamento fisioterapêutico de patologias neuro-
tratamento, a Fisioterapia garante seu envolvimen- lógicas, concluiu que a Wii Reabilitação apresenta
to contínuo com a sua rotina de reabilitação. Os resultados eficazes no tratamento de comprometi-
autores advertem que a adaptação aos jogos e seus mentos motores de patologias neurológicas, des-
acessórios é o fator decisivo para o sucesso neste de que considerados aspectos como a duração, a
tipo de abordagem. A escolha do jogo é baseada frequência e os tipos de jogos utilizados durante
na lesão do paciente e no tipo de exercício que ele o tra­tamento. A revisão concluiu que, na paralisia
precisa realizar. Uma vez selecionado, o jogo é en- cerebral (PC), os estudos apresentaram tempo de
sinado ao paciente e sua execução tem que ser su- intervenção que variou de 6 semanas a 2,5 me­ses.

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As sessões tiveram duração de 30 a 45 minutos, terapêutico para avaliar o impacto das alterações
com frequências de duas a três vezes por semana. cardiorrespiratórias agudas na reabilitação de
Apenas um estudo especificou os jogos, em que foi uma criança com Síndrome de Down. Nesse es-
utilizado o Wii Sports, que possui atividades como tudo, foram realizadas 12 sessões, num período de
boxe, baseball e tênis. 30 dias, três vezes por semana, com duração mé-
dia de 20 minutos cada sessão, com o uso de jogos
Dentre as patologias neurológicas mais comuns na
que proporcionaram movimentação repetitiva e
Pediatria está a paralisia cerebral. A utilização da
controlada. Durante a atividade, foram medidas a
Wii Reabilitação nesses casos visa inibir a ativida-
frequência cardíaca (FC), a frequência respiratória
de reflexa anormal para normalizar o tônus mus-
(FR) e a saturação de oxigênio (SpO2). A FC má-
cular, através de exercícios de facilitação e inibição
xima alcançada foi de 164bpm e FR final média
que buscam a melhora da força, da fle­xibilidade
de 28rpm. Durante toda a terapia, a SpO2 variou
e da amplitude de movimento. Soares e colabora-
na faixa de 98% a 95%. A criança atingiu a zona-
dores (2015) apresentaram uma pesquisa realiza-
-alvo de frequência cardíaca, em todas as sessões,
da por Pompeu e outros (2012), que trata de um
permanecendo em média 80% do tempo de terapia
estudo piloto realizado com crianças com Parali-
dentro da zona-alvo e, com o passar das ativida-
sia Cerebral. Nele, foi utilizada a Wii Reabilitação
des, o pico máximo das FCs, ao final das sessões,
para trabalhar a fun­ção motora grossa, em que se
diminuiu, indicando uma adaptação da condição
observou que o Wii tem potencial para ser utiliza-
cardíaca da criança. As atividades propostas pelo
do como ferramenta de reabilitação no tra­tamento
ambiente virtual, desenvolvidas através do NW
de crianças com PC. Entretanto, o pequeno núme-
nesse relato de caso, foram capazes de alterar as
ro de participantes no estudo e a falta de um grupo
respostas cardiovasculares agudas em uma crian-
controle não permitem inferir que esses resultados
ça portadora da Síndrome de Down, cujas altera-
tenham sido decorrentes da terapia.
ções não ultrapassaram os valores preditivos má-
Tavares e seus colaboradores (2013) verificaram, ximos para essa criança.
através de um estudo de caso com dois pacientes
Os efeitos da tera­pia virtual em habilidades moto-
com diagnóstico clínico de diparesia espástica, a
ras do membro superior em crianças hemiparéti-
eficácia da intervenção com o NW como terapia
cas foram testados por Vilas Bôas e colaboradores
complementar de reabilitação da função motora
(2013). A amostra do estudo foi composta por três
grossa e equilíbrio em portadores de PC. Na pes-
crianças he­miparéticas entre 2 e 8 anos. Para o
quisa, tanto o sujeito 1 quanto o sujeito 2 apresen-
tratamento, foi utilizado o NW com software Wii
taram aumento na pon­tuação das escalas Pedia-
Sports. A terapia durou duas semanas consecuti-
tric Balance Scale (PBS) e a Gross Motor Function
vas — excluindo-se os finais de semana, soman-
Measure (GMFM-88), razão pela qual os autores
do 10 sessões de 1 hora e 10 minutos de duração
deduziram que os resultados sugerem que a in-
cada. No Inventário de Avaliação Pediátrica de
tervenção com o NW é eficaz para incremento da
Incapacidade (PEDI), houve diferença estatística
função motora grossa em crianças com compro-
em duas crianças (p=0,00); no Inventário de Ati-
metimento moderado e equilíbrio em pacientes
vidade Motora (MAL), com relação à qualidade de
com comprometimento leve, porém afirmam que
uso do membro superior, houve dife­rença estatís-
é ne­cessário estudo com uma população maior
tica em duas crianças (p=0,00); com relação à fre-
para caracterizar o NW como uma ferramenta
quência de uso, houve diferença estatística nas três
complementar de reabilitação.
crianças (p=0,00); houve um aumento do número
Pereira e outros (2013) produziram um relato de de acertos de todos os jogos em todas as crianças.
caso, no qual foi utilizado o NW como artefato Dessa forma, concluiu-se que o uso da realidade

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virtual pode promover ganho funcional no mem- passar por baixo; imitar a marcha do cão (en-
bro superior de crianças hemiparéticas. gatinhar);

c | Estimular reações de proteção: imitar o cão (fi-


3.5.2. Terapia Assistida por Animais (TAA)
car em quatro apoios); levar o cão para passear
Um método ainda pouco utilizado e também pou- em terrenos estáveis e instáveis, com e sem obs-
co estudado, mas que já apresenta bons resultados táculos; elevar um dos membros e fazer o cão
como recurso terapêutico é a Terapia Assistida por passar por baixo;
Animais (TAA). Trata-se de uma técnica direcio-
d | Estimular a adoção das posições — sentado,
nada, individualizada e com critérios específicos,
gato, ajoelhado, semiajoelhado e ortostatismo:
na qual o animal é parte integral do processo de
escovar o cão em diferentes posições; vestir o
tratamento. Somente deve ser aplicada, documen-
colete no cão; jogar a bola para o cão; levar o
tada, avaliada e supervisionada periodicamente
cão para passear; elevar um dos membros e fa-
por profissionais de saúde devidamente habilita-
zer o cão passar por baixo; imitar a marcha do
dos. A TAA requer a intervenção simultânea de
cão (engatinhar);
diversos especialistas, como médicos, psicólogos,
médicos veterinários e fisioterapeutas, com o in- e | Melhorar a coordenação motora: escovar o cão
tuito de avaliar a indicação do método, bem como em diferentes posições; vestir o colete no cão e
o tipo de animal a ser utilizado. O princípio do brincar com os objetos colados no colete; jogar
método leva em conta a capacidade do animal de a bola para o cão; elevar um dos membros e fa-
evocar emoções comunicativas no ser humano. zer o cão passar por baixo;
Estabiliza, em outros termos, uma sólida ligação
f | Melhorar a marcha: levar o cão para passear
entre o homem e o animal, com base no proces-
em terrenos estáveis e instáveis, com e sem obs-
so de comunicação interespécies, de acordo com
táculos.
Chieppa (2002).
Os resultados demonstraram melhora expressiva
Um estudo realizado por Fosco e colaboradores da criança submetida à associação terapêutica, em
(2009) buscou avaliar, por meio do Inventário de particular na dimensão Habilidade Funcional do
Avaliação Pediátrica de Incapacidade (PEDI), os PEDI, o que permite concluir que a TAA pode ser
ganhos motores obtidos por crianças portadoras utilizada como uma opção terapêutica em crian-
de PC submetidas à Fisioterapia Convencional ças com PC, atribuindo-se tal resultado à impor-
(FC), associada à Terapia Assistida por Animais tância do lúdico no desenvolvimento cognitivo e
(TAA) e apenas à FC. Nesse, foram estabelecidos motor das crianças, em decorrência da interação
os objetivos do tratamento e um protocolo de ati- homem-animal.
vidades que correspondessem aos movimentos ne-
cessários à criança. Da seguinte maneira:
4. Conclusão
a | Melhorar o controle de cabeça e tronco: escovar
Com a presente revisão, pode-se concluir que a
o cão em diferentes posições; jogar a bola para o
Fisioterapia Pediátrica no Brasil reconhece a im-
cão; imitar o cão (ficar em quatro apoios);
portância do lúdico e entende ser esta uma impor-
b | Melhorar o equilíbrio global: escovar o cão em tante ferramenta para o atendimento de crianças.
diferentes posições; levar o cão para passear em Entretanto, percebe-se que falta o desenvolvimen-
terrenos estáveis e instáveis, com e sem obs- to teórico-prático quanto ao uso do recurso lú-
táculos; elevar um dos membros e fazer o cão dico na formação do fisioterapeuta durante sua

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graduação, de forma que possibilite a capacitação Dessa forma, fica evidenciada a necessidade da
necessária para a utilização desta prática na as- realização de mais estudos na área, e que esses es-
sistência. Além disso, faz-se necessário que o fi- cutem a criança e seus cuidadores quanto à melhor
sioterapeuta inclua a funcionalidade da criança forma de atendê-los relacionada à sua demanda de
para o brincar como um dos objetivos primor- brincar. Cabem ainda estudos que embasem de
diais no seu plano de tratamento, vez que essa de- forma técnico-científica a aplicação e os resulta-
monstrou-se como um dos principais desejos das dos de brinquedos e brincadeiras como recurso
crianças e de seus pais. fisioterapêutico.

TREAT PLAYING: THE LUDIC AS RESOURCE OF THE PEDIATRIC PHYSIOTHERAPY IN BRAZIL

Abstract
This study deals with a literature integrative review aimed to demonstrate how pediatric physical
therapy in Brazil has used recreational resource as an effective tool in the treatment of children.
Brazilian publications were included in the Portuguese language, from 2000 to 2016. It can be
concluded that the Brazilian pediatric physiotherapy recognizes the importance of playfulness
and understands that this is an important tool in this specialty. It was evident that lack theoret-
ical and practical development in the use of recreational resource in the training of the physio-
therapist during his graduation form that enables the necessary training for the use of this prac-
tice in assistance. In addition, it is necessary that the physiotherapist including a child feature to
play as one of the main goals in your treatment plan as this was shown as one of the main wishes
of children and their parents.

Keywords: Physiotherapy. Pediatrics. Ludic. Therapeutic toys.

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A ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM FRENTE
À DOR NO RECÉM-NASCIDO DA UNIDADE
DE TERAPIA INTENSIVA

Iza Maria Rodrigues Soares Durães*


Raquel Cavalcante de Oliveira**

Resumo
Em virtude da incapacidade do recém-nascido em relatar verbalmente a sua dor, o profissional
de enfermagem deve estar sempre capacitado e em alerta para, não só identificar as alterações
comportamentais e fisiológicas que acompanham os eventos dolorosos, como também ajudar na
inclusão da família dentro da unidade, fazendo com que a mãe tenha um papel cada vez mais
participativo no desenvolvimento da criança. O presente estudo trata de uma revisão integrativa
da literatura científica referente ao período de 2008 a 2016, em busca integrada na Biblioteca
Virtual em Saúde, que teve por objetivo identificar os principais métodos utilizados para o alívio
da dor em recém-nascidos e a importância da família dentro da UTIN. Os estudos pesquisados
apontam que a equipe de enfermagem assume um papel essencial na minimização desse proble-
ma, por ser uma categoria que mantém maior contato e maior frequência com esses pacientes,
tendo em suas mãos a resolução desse impasse com o uso, principalmente, da terapia não farma-
cológica, além de saber utilizar instrumentos de avaliação da dor nessa faixa etária.

Palavras-chave: Dor. Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. Enfermagem Neonatal.

1. Introdução às novas tecnologias que estão por vir (COSTA;


PADILHA; MONTICELLI, 2010).
A assistência de enfermagem na Unidade de Tera-
pia Intensiva Neonatal (UTIN) vive em constante A rotina de uma UTIN é quase sempre permeada
evolução, garantindo cada vez mais uma maior de agentes geradores de stress, tais como a rotina,
sobrevida aos Recém-Nascidos (RN). Para que o imediatismo, a instabilidade, por isso, faz-se
isso continue acontecendo de uma forma efetiva, necessário o comprometimento do profissional
toda a equipe deve se alimentar sempre de conhe- atuante, aliado à sensibilidade de percepção, em
cimento e curiosidade, para que, assim, se adapte especial aos enfermeiros, pois estão lidando o tem-

* Enfermeira. Especialista em Enfermagem em UTI Neonatal e Pediátrica pela Atualiza Cursos. E-mail:
izaduraes92@gmail.com
** Enfermeira. Especialista em Enfermagem em UTI Neonatal e Pediátrica pela Atualiza Cursos. E-mail:
rq.coliveira@gmail.com

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po todo com situações de fragilidade emocional, zados para melhor compreensão. Trata-se de um
não só deles, como também dos recém-nascidos, desenho importante, uma vez que consiste em um
das mães e dos familiares que ali estão vivencian- recurso que pode criar uma base de conhecimento
do as mesmas incertezas que o ambiente transpa- e encontrar respostas, capazes de guiar ações de
rece. Frente a essa vivência, vem sendo implanta- saúde e condutas profissionais, além de identifi-
da, cada vez mais, a participação da mãe dentro car novos objetos de estudo para novas pesquisas
da UTIN, não apenas como visitante, mas como (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010).
ajudante, capaz de cuidar do seu filho com segu-
O levantamento de artigos indexados foi realiza-
rança (KLOCK; ERDMANN, 2012).
do junto à Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), nas
Durante muito tempo, acreditou-se que o RN era bases de dados da Literatura Latino-Americana e
incapaz de sentir ou se manifestar diante da dor, do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scien-
porém estudos apontam que neonatos, mesmo que tific Electronic Library Online (SciELO) e Medical
prematuros extremos, são suficientemente capazes Literature Analysis and Retrieval System Online
de detectar e transmitir informações sobre a pre- (MEDLINE), Estatuto da Criança e do Adolescen-
sença de estímulos dolorosos, graças ao seu siste- te-ECA e do Conselho Federal de Enfermagem.
ma nervoso, que vai se desenvolvendo progressi-
Para esta revisão, usaram-se os descritores indexa-
vamente com o passar do tempo, ou seja, quanto dos no DeCS — Terminologia em Saúde — “Dor”
mais a termo, melhor ele responde aos estímulos AND “Unidade de Terapia Intensiva Neonatal”
(PACHECO et al., 2012). AND “Enfermagem Neonatal” de maneira inte-
A dor possui potencial suficiente para realizar al- grada, para identificar os artigos científicos pu-
terações no desenvolvimento psicomotor da crian- blicados no período de janeiro de 2008 a outubro
ça, desta forma, faz-se necessário que a equipe de de 2016, que abordassem a temática da percepção
saúde esteja munida de uma boa prática clínica da enfermagem sobre a dor provocada no recém-
para saber lidar com a avaliação, prevenção e con- -nascido dentro da Unidade de Terapia Intensiva.
trole dessa dor dentro da UTIN. Dessa maneira, A busca nas fontes descritas acima foi realizada no
os cuidados prestados ao RN terão uma visão vol- período de outubro de 2016 a janeiro de 2017.
tada para a qualidade, excelência e humanização, A princípio, foram encontradas 31 publicações
garantindo assim muito mais segurança para o em todos os bancos de dados, das quais apenas 24
paciente e familiar (SANTOS; RIBEIRO; SAN- foram selecionadas quando os critérios de inclu-
TANA, 2012). são foram aplicados: texto completo e disponível
na íntegra; e documento na modalidade de artigo
O presente estudo teve como objetivo básico iden-
original, publicações entre 2008 e 2016, escritas
tificar os principais métodos utilizados para o
ou traduzidas em português, que abordassem o
manejo da dor em recém-nascidos pela equipe de
manejo da dor em recém-nascidos da Unidade de
enfermagem e a importância da família dentro da
Terapia Intensiva pelo enfermeiro, e a participação
UTIN.
da família na UTIN.

Após leitura preliminar dos títulos dos artigos,


2. Metodologia apenas 20 publicações foram selecionadas, uma vez
O presente trabalho se configura um artigo de re- que tinham algum tipo de ligação com o objeto de
visão integrativa da literatura, que se justifica por estudo, ou seja, intervenções da enfermagem frente
ser um método que analisa os estudos com olhar à dor no paciente recém-nascido dentro da Unida-
crítico, e os aspectos mais relevantes são sinteti- de de Terapia Intensiva. A etapa seguinte consistiu

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na leitura dos resumos na íntegra e seleção apenas Os principais resultados encontrados nos artigos
daqueles cujo teor confirmava o foco sobre o tema, foram separados em categorias de discussão, para
culminando na seleção de 18 artigos. facilitar a compreensão do conteúdo dos textos e
análise dos mesmos, como mostrado a seguir.
O estudo assegura os aspectos éticos de acordo
com a Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacio-
3.1. A importância de manter os laços
nal de Saúde (CNS) e, por não se tratar de pesqui- entre a mãe e o filho dentro da unidade
sa com seres humanos, não houve necessidade de de terapia intensiva neonatal
submeter ao Comitê de Ética em Pesquisa em Se-
Ter um filho é, na maioria das vezes e quase sem-
res Humanos (CEP).
pre, o desejo de toda mulher. Ao engravidar, essa
possibilidade torna-se concreta, porém, ao ter seu
3. Resultados e discussão filho internado em uma UTIN, a mãe deixa de
lado o êxtase do nascimento e parte para a possibi-
Os 18 artigos que preencheram todos os critérios
lidade inesperada de vir a perder o seu bebê. Desse
de inclusão foram as publicações analisadas neste modo, quando se vê inserida naquele universo tão
estudo. Observou-se que 8 artigos tratavam so- difícil de aceitar, onde seu filho está ligado a um
bre estudo descritivo com abordagem qualitativa, aparato de fios e aparelhos desconhecidos, ela se
4 estudos descritivos-exploratórios de natureza sente impotente, principalmente quando se trata
quantitativa, 2 artigos possuíam estudo de natu- de cuidados básicos ao recém-nascido, tomando
reza quali-quantitativa; 1 estudo retrospectivo para si uma postura que lhe afasta do seu concep-
utilizando levantamento de prontuários,1 pesqui- to. Tentar compreender a possibilidade de ter um
sa de natureza convergente adicional, tendo sido filho hospitalizado, saber se pode ou não tocá-lo,
publicado apenas 1 em inglês e todos os outros 17 compreendê-lo em sua complexidade, individua-
no idioma português. Das 18 pesquisas, 9 estudos lidade e singularidade, transita para um entendi-
foram realizados no Estado de São Paulo, 3 em mento no qual a mãe se preocupa e, juntamente
Minas Gerais, 2 no Rio de Janeiro, 1 na Bahia, 1 com essa preocupação, ela alimenta a possibili-
no Paraná, 1 no Piauí e 1 no Ceará. No que se re- dade de sair logo com seu filho daquele ambiente
fere ao ano de publicação, 2 correspondem ao ano (MELO; SOUZA; PAULA; 2012; KLEIN; GAS-
PARDO; LINHARES, 2011).
de 2009, 5 ao ano de 2010, 2 em 2011, 5 ao ano de
2012, 1 em 2013, 1 em 2014, 1 em 2015 e 1 ao ano Com base nos artigos estudados, o que podemos
de 2016. Dentro do período da investigação, houve entender é que, diante da hospitalização do RN, a
aumento das produções sobre o tema a partir do mãe se vê submissa aos cuidados da equipe de en-
ano de 2010. fermagem, como se não achasse espaço diante da-
quela rotina barulhenta e repleta de surpresas que
Todas as pesquisas foram realizadas com base em
permeia a UTIN. Vive na incerteza, sem saber por
revisões de literaturas e/ou análise de dados cole- quanto tempo seu bebê passará internado. As ações
tadas de profissionais integrantes da equipe da en- de incentivo à participação materna na recupera-
fermagem, enfermeiros e técnicos de enfermagem, ção do filho estão direcionadas ao ato biológico de
trabalhadores de saúde das unidades de terapia amamentar, mostrando que, muitas vezes, os pro-
intensiva neonatal ou que prestassem assistência fissionais associam a visita da mãe à ação funcio-
ao recém-nascido, que é diariamente submetido a nalista de atender ao objetivo institucional da ama-
múltiplos processos dolorosos durante seu perío- mentação, mas não é bem assim. A presença da
do de internamento. mãe na UTIN é de fundamental importância, pois

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estimula sua participação nos cuidados, permite a terfere diretamente em seu tratamento (COSTA;
amamentação e, com ela, a formação do vínculo CORDEIRO, 2016; OTAVIANO; DUARTE; SOA-
mãe-e-filho, além de ampliar o olhar humanizado RES, 2015; CARDOSO, 2011).
e de acolhimento diante daquela unidade fechada.
No decorrer da análise dos artigos, foi possível ob-
Com a ajuda e o incentivo da equipe de enferma-
servar que algumas unidades não usam nenhuma
gem, as mães começam a perceber sua importância
escala de dor como avaliação. Infelizmente, o uso
no desenvolvimento do filho e passam a não ad-
desse mecanismo de avaliação ainda não é de uso
mitir a possibilidade de sair da unidade hospitalar
sem o bebê saudável em seus braços (CARDOSO obrigatório por lei, e sim de acordo com o proto-
et al., 2010, AMARAL et al., 2014; FRELLO; CAR- colo de cada estabelecimento. Revela, portanto,
RARO, 2012; DEL’ANGELO et al., 2010). que, segundo alguns artigos, a maioria dos pro-
fissionais de saúde, que vivencia os cuidados aos
Segundo Araújo e Rodrigues (2010), as mães estão recém-nascidos internados na UTIN, supõe que o
cada vez mais presentes, mas não estão bem inse- recém-nascido está sentindo dor, principalmente
ridas nesta realidade tão intensiva. Sendo assim, através da incidência do choro, usando, assim, esse
faz-se necessário mudar esse paradigma formado sinal, que não apresenta confiabilidade, como mé-
em torno da unidade de terapia intensiva, incor- todo para avaliação.
porando o cuidado humanizado, introduzindo a
mãe e sua família no ambiente neonatal. Ao ob- Costa e Cordeiro (2016) ainda consideram que o
servar os recém-nascidos e suas mães durante a choro é a forma primária de comunicação dos re-
internação, e os mesmos sendo expostos a cuida- cém-nascidos e a sua presença diante do estresse
dos intensivos — os bebês se encontram em risco mobiliza o adulto, seja ele a mãe ou o profissio-
iminente de morte — o que preocupa é o fato de nal de saúde envolvido no seu cuidado. É pouco
este ser, tão pequenino e dependente, não poder específico, porém, pois ele pode ser desencadeado
receber o conforto e carinho maternos adequados. por outros estímulos não dolorosos, desconforto
ou fome.
Contudo, foi possível entender que, quando se tra-
ta de ser mãe, a mesma passa por estágios, desde As escalas foram desenvolvidas, a fim de que os
antes de ver o seu bebê na UTIN até conseguir profissionais de saúde pudessem fazer uma avalia-
confiar em si mesma para prestar os cuidados ade- ção melhor e mais eficaz do indivíduo. Quando se
quados. Essa confiança em si mesma é conquista- trata de avaliação da dor do recém-nascido, foram
da aos poucos e fortalecida com a ajuda dos pro- desenvolvidas as escalas, que fornecem informa-
fissionais de enfermagem, que devem estar sempre ções no que diz respeito à dor baseadas no com-
ao lado, ajudando e apoiando para que ela se sinta portamento do mesmo. Dessa forma, a equipe de
cada vez mais segura. enfermagem pode reconhecer e tratar a dor mais
rapidamente, seguindo sempre um padrão de ava-
3.2. Efetividade no uso de escalas liação correto. Usando a escala, torna-se possível a
de avaliação da dor no recém-nascido, comunicação entre o recém-nascido e a equipe de
para o profissional de enfermagem saúde, fundamental no momento da realização dos
procedimentos (CORREA; NEVES, 2009; SILVA et
Os recém-nascidos que são internados na UTIN
al., 2007; GOUVEIA; SANTOS; NEMAN, 2013).
são expostos a vários fatores estressantes ou do-
lorosos, tais como: excesso de luz, ruídos fortes, Observaram-se diversos tipos de escalas utilizadas
manipulações frequentes, estímulos. Todas essas para avaliação da dor, porém, em particular para
exposições podem trazer alterações físicas, emo- os bebês no período neonatal, as mais usadas são:
cionais e interpessoais para a criança, o que in- Sistema de Codificação da Atividade Facial Neo-

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natal (Neonatal Facial Coding System — NFCS), um desafio para os dias atuais. Apesar dos avan-
que foi a escala mais apropriada para o nosso tipo ços tecnológicos, a Unidade de Terapia Intensiva
de estudo e, portanto, usada na Tabela 1, e a Escala Neonatal (UTIN) ainda é vista como um ambien-
de Dor no Recém-Nascido e no Lactente (Neona- te doloroso, regado pela luminosidade excessiva,
tal Infant Pain Scale — NIPS). Ambas lançam mão manuseio frequente, múltiplos procedimentos,
de um mecanismo de observação fundamentado, que devem respeitar as técnicas corretas, e ruídos
principalmente, nas expressões faciais realizadas indesejados. Todo esse aparato em torno da vida
pelo RNs, que, posteriormente, serão pontuadas e do Recém-Nascido (RN) o torna cada vez mais
avaliadas (SILVA et al., 2011). distante de um ambiente confortável (ARAÚJO;
RODRIGUES, 2010).
Como dizia Cardoso (2011), os enfermeiros passam
a maior parte do tempo com os recém-nascidos in- Graças aos avanços da neonatologia e tecnologia,
ternados, eles mantêm uma relação de proximidade a enfermeira vem assumindo um papel gradati-
com cada um deles e acabam tomando para si a res- vamente mais complexo, tornando-se ainda mais
ponsabilidade de buscar meios para o alívio da dor, capacitada para agir dentro da UTIN. O aperfei-
como, por exemplo: evitar manipulações excessi- çoamento contribui para a melhoria da assistência
vas, excesso de luz, diminuir o tom de voz quando de enfermagem, visando ao uso das habilidades
estiver dentro da unidade, ter cuidado ao manipu- técnicas e seguras, indispensáveis para um atendi-
lar os objetos a fim de evitar barulhos desnecessá- mento eficaz ao RN. Os profissionais de enferma-
rios, permitir que a família esteja presente por mais gem que atuam na Unidade de Terapia Intensiva
tempo com o RN nos momentos de dor, promover devem estar devidamente atualizados, pois, além
um sono e repouso mais tranquilos. A prevenção, da prestação da assistência ao RN e, ocasional-
avaliação e o tratamento da dor no período neona- mente, ao familiar, eles também se deparam com
tal são ações prioritárias, importa encontrar solu- um aparato de equipamentos, na sua maioria, al-
ções funcionais que passam pelo esforço contínuo tamente mutáveis e sofisticados, que requerem um
de todos, para fazer bem, produzir melhor, definir manuseio adequado (CARDOSO et al., 2010).
o que é desejável e agir em conformidade.
O ambiente da UTIN é um local cheio de cuida-
Contudo, é possível notar a importância da im- dos e proteção ao RN, mas também é considerado
plementação das escalas de avaliação da dor nas gerador de stress e desconforto, tanto para o RN
Unidades de Terapia Intensiva Neonatais, como
quanto para o familiar, que, na maioria das vezes,
meio de evitar erros no método de avaliação do
tem que acompanhar os constantes manuseios e
RN e assim ter que expor o mesmo a alguns me-
estímulos dolorosos, repetidamente realizados
canismos que possam lhe causar desconforto. Não
ao longo do seu período de internação, causando
se deve esquecer a importância da assistência hu-
assim dor física ao RN e dor sentimental ao fa-
manizada oferecida ao RN e ao familiar, visando à
miliar. Dentre os procedimentos mais realizados
participação da mãe nas atividades, para que ela se
na UTIN, estão: as repetidas punções, intubação,
torne cada vez mais independente e segura diante
aspiração, excesso de exposição â luminosidade e
do seu bebê.
ruídos desnecessários. Atualmente, já é sabido que
os recém-nascidos cursam com conexões neurais
3.3. Recém-nascido na unidade de terapia suficientes para ativar os componentes efetivos ne-
intensiva cessários da dor ao nível cortical, ou seja, apresen-
A qualidade de vida do recém-nascido prematu- tam reações fisiológicas a dor e ao stress. Afirma-se
ro, antes considerado como inviável, já se torna que, quanto mais procedimentos dolorosos exer-

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cidos no RN, maiores serão seus níveis de stress no vínculo familiar. Após o nascimento do bebê,
(KLEIN; GASPARDO; LINHARES, 2011). é rompido o elo entre o concepto e o meio intrau-
terino, geralmente, os recém-nascidos hospitaliza-
A sofisticação dos recursos terapêuticos, junta-
dos na UTIN pouco ficam com suas mães, sendo
mente com os avanços da tecnologia e da ciência,
mais esse vínculo postergado devido a normas e/
tem feito com que o índice de mortalidade de RNs
ou rotinas afixadas pela instituição de interna-
hospitalizados na UTIN diminua, e a sobrevida
mento. O crescimento e desenvolvimento do RN
dos mesmos aumente cada dia mais. Um recém-
também dependem primordialmente do contato
-nascido hospitalizado é exposto a uma média de
familiar, por isso, faz-se importante a presença da
10 a 14 procedimentos dolorosos por dia, dentro
família dentro da UTIN, mesmo que tomada pela
da unidade de terapia intensiva, mas essa preocu-
insegurança (MELO; SOUZA; PAULA, 2012).
pação só veio à tona nos últimos quarenta anos e,
então, a dor passou a ser motivo de estudo e ava- O alojamento para mães dentro das instituições
liação. E é assim, sentindo dor, que os recém-nas- permite que, mesmo após a alta, elas continuem
cidos são capazes de fornecer respostas, através, acompanhando, em período integral, seus filhos
principalmente, de alterações no comportamento que estão internados na UTIN. Infelizmente, ain-
e na sua fisiologia (AMARAL et al., 2014). da não há um dispositivo legal que determine a
obrigatoriedade da implantação desse modo de
3.3.1. Importância do familiar dentro da alojamento materno em todas as unidades hospi-
Unidade de Terapia Intensiva talares. Sendo assim, a assistência para essas mães
Durante a gravidez, a relação de vínculo entre a vai sendo diversificada, ficando a critério dos ges-
mulher e o seu filho vai se desenvolvendo, nes- tores de cada unidade. Algumas UTINs ainda per-
se período, ela se prepara para o incrível mundo mitem a permanência das mães apenas enquanto
da maternidade e imagina como será o primeiro estiverem amamentando, e outras defendem que
momento com seu tão esperado bebê. O momento as mães podem ficar com seus filhos em período
da internação é um acontecimento para o qual a integral e/ou até que eles tenham alta (ARAÚJO;
família nunca está preparada, saber que seu filho RODRIGUES, 2010).
necessitará de cuidados especializados coloca-a
frente a frente com algumas das suas principais 3.3.2. Interação: equipe de enfermagem e
limitações, além de situações desgastantes para mamiliar
o meio interfamiliar. Ter um filho internado em
Ter um filho hospitalizado não é desejado por
uma UTIN é uma experiência desafiadora para a
ninguém, ainda mais quando se trata de um am-
mãe, pois tem que presenciar a vivência do seu fi-
biente no qual se vivencia frequentemente o risco
lho tão esperado em um ambiente totalmente des-
iminente de morte. Diante da rotina da unidade
conhecido (FRELLO; CARRARO, 2012).
intensiva, e em meio àquele emaranhado de fios e
As ações de assistência dentro da Unidade de Te- equipamentos, que até então eram desconhecidos,
rapia Intensiva devem sempre atender às necessi- a mãe toma para si o papel apenas de espectadora
dades do recém-nascido, prezando pela sobrevida e, na maioria das vezes, por medo e insegurança,
com foco na qualidade de forma integralizada, sente-se incapaz e culpada por não cuidar do seu
para que possamos assegurar um prognóstico me- próprio filho. Chega a achar que a enfermeira tal-
lhorado. A internação quase sempre é um aconte- vez seja o tipo de mãe ideal para o seu filho, diante
cimento inesperado pela família e, principalmente, de todos os cuidados prestados, com tanta eficácia
pela mãe, podendo acarretar uma desestruturação e destreza (ARAÚJO; RODRIGUES, 2010).

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A introdução da família dentro do ambiente neo- Os profissionais de saúde que atuam nas UTINS
natal tem sido evidenciada desde a década de 90 são responsáveis pela qualidade dos cuidados pres-
do século passado. Mesmo apoiada pelo Ministé- tados ao recém-nascido. Logo, a busca pelo co-
rio da Saúde e garantida pela Lei 8.069/90, artigo nhecimento contribui para uma visão mais crítica
12 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), e consciente do recém-nascido e de sua família,
a presença materna e/ou do familiar dentro da enfatizando a visão holística do paciente. O tra-
Unidade de Terapia Intensiva ainda não tem uma tamento da dor do recém-nascido enfermo é ne-
boa aceitação pelos profissionais de enfermagem e cessário não só para garantir sua sobrevivência,
pela equipe multiprofissional da UTIN. como também a qualidade desta, além de ser uma
importante medida de humanização da assistên-
Para a execução da assistência adequada, é neces- cia (CARDOSO, 2011).
sário que o enfermeiro esteja sempre exercitando
suas habilidades interpessoais, de raciocínio e Com o objetivo de aliviar e tratar a dor do re-
exploração de novas ideias, assim, terá uma me- cém-nascido, o profissional de enfermagem deve
lhor efetividade nas tomadas de decisões e nos reconhecer ações de seu cuidado que possam de-
serviços prestados. A maioria dos enfermeiros sencadear o estímulo doloroso. Procedimentos
brasileiros considera a sistematização da assis- dolorosos ou estressantes devem ser minimizados
tência uma organização de apoio voltada não só e coordenados com outros aspectos da assistência
para o paciente, mas também para a família e co- ao RN. Várias são as medidas comportamentais
munidade, ou seja, a assistência de enfermagem (não far­macológicas) que podem ser realizadas
vai muito além do internamento (DEL’ANGELO com o intuito de prevenir o desconforto e a dor
durante a hospitalização e também para tornar o
et al., 2010).
ambiente mais humanizado e menos estressante
para os bebês e seus familiares: con­trolar a inci-
3.4. Manejo da dor no RN pelo
dência de luzes fortes sobre o RN; diminuir o ruí-
profissional de enfermagem
do à sua volta (alarmes e conversas); racionalizar
Compreender o recém-nascido prematuro como a manipulação do RN (preservar períodos livres
um ser complexo, que necessita do contato com para o sono e evitar múltiplas coletas de sangue,
sua família para seu crescimento/desenvolvimen- que devem ser agrupadas) utilizando protoco-
to saudáveis, é entender que a assistência vai além los de manipulação mínima; estimular o uso de
dos cuidados de rotina na UTIN. Faz-se necessá- cateteres centrais; diminuir a quantidade de es-
rio implementar ações que possibilitem uma inte- paradrapos e outras fitas adesivas sobre a pele;
ração integralizada entre RNs, pais e profissionais posicionar de forma adequada o tubo traqueal
de saúde, com vistas à efetividade do cuidar (OTA- evitando sua tração ou movimentação (COSTA;
VIANO; DUARTE; SOARES, 2015). CORDEIRO, 2016).

O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), em A família é primordial durante o período de hos-


sua Resolução de número 358, de 2009, considera pitalização do recém-nascido na UTIN, o acon-
que a Sistematização da Assistência de Enferma- chego dos pais proporciona segurança, afeto,
gem (SAE) tem a função de organizar o trabalho amor, carinho e, principalmente, alívio da dor
do profissional enfermeiro, levando em conta seus durante os procedimentos invasivos. Envolver as
instrumentos e sua equipe, além da importância mães pode ser uma boa tentativa de minimizar a
da implementação do processo de enfermagem em dor do recém-nascido, mediante orientações e en-
qualquer que seja o local de atendimento: público corajamento mostrando-lhes que determinados
ou privado. atos, como o toque, aconchego, conversas, cantos,

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ajudam no conforto do seu bebê. Durante esse RN, então, se comunica com a equipe multidis-
período, o ambiente deve ser o mais confortável ciplinar através dessas escalas, no momento da
possível para a mãe e seu filho (CARDOSO, 2011). realização dos procedimentos dolorosos, sendo
possível atentar e perceber a evolução da dor indi-
Como afirmam Correa e Neves (2009), a preven-
vidualmente, já que a dor é algo subjetivo (CAR-
ção, avaliação e o tratamento da dor no período DOSO, 2011).
neonatal é uma ação prioritária, importa encontrar
soluções funcionais que passam pelo esforço con- Existem diversas escalas para avaliação da dor
tínuo de todos, para fazer bem, produzir melhor, que podem variar de acordo com a idade. A mais
definir o que é desejável e agir em conformidade. utilizada para identificação da dor no neonato é
a NFCS (Escala da Mímica Facial de Dor do Re-
cém-Nascido). A NFCS (Neonatal Facial Coding
3.4.1. Escalas de avaliação da dor
System) é o sistema de decodificação da atividade
Para uma melhor interpretação da avaliação da facial neonatal que compreende a avaliação dos
dor do recém-nascido (RN), criaram-se as escalas movimentos faciais: fronte saliente, fenda da pál-
de dor, que são métodos de avaliação que permi- pebra estreitada, sulco naso-labial aprofundado,
tem fornecer informações no que diz respeito à boca aberta estirada (horizontal ou vertical), lín-
dor do indivíduo. As escalas são os instrumentos gua tensa, profusão da língua, tremor no queixo,
mais utilizados e recomendados para o RN que se com uma pontuação máxima de 8 pontos e, se me-
encontra nas UTINs, dessa forma, a enfermagem nor ou igual a 3 pontos, considera-se dor (GOU-
pode reconhecer e tratar a dor de forma eficaz. O VEIA; SANTOS; NEMAN, 2013).

Tabela 1. Sistema de Codificação da Atividade Facial Neonatal (NFCS – Neonatal Facial Coding System)

Movimento facial O ponto 1 ponto

Fronte saliente Ausente Ausente

Fenda palpebral estreitada Ausente Ausente

Sulco nasolabial aprofundado Ausente Ausente

Boca aberta Ausente Ausente

Boca estirada (horizontal ou vertical) Ausente Ausente

Língua tensa Ausente Ausente

Protusão da língua Ausente Ausente

Tremor de queixo Ausente Ausente

Pontuação máxima de 8 pontos, considerando dor ≥ 3

Fonte: SILVA et al., 2007

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4. Conclusão pelos enfermeiros, por apresentarem baixo risco


para os neonatos, baixo custo, autonomia profis-
O recém-nascido depende completamente da sen-
sional e ter sua eficácia comprovada, mesmo que
sibilidade e do conhecimento do seu cuidador.
em uso concomitante a outros manejos, a exemplo
Este, por sua vez, deve estar atento e capacitado
dos farmacológicos.
para identificar e compreender as alterações com-
portamentais e fisiológicas que acompanham os Outro ponto importante é a necessidade de uma
eventos dolorosos. Perceber, de forma objetiva, os educação permanente voltada para toda a equipe
sinais de dor é crucial para detectar o estresse do de saúde, no tocante à avaliação da dor no período
RN e a piora no seu estado de saúde, devendo a neonatal, destacando as escalas disponíveis, a fim
mesma ser tratada, a fim de evitar uma piora no de construir um protocolo assistencial pautado em
seu quadro clínico. evidências científicas, garantindo a excelência do
cuidado e a segurança do paciente.
Foi possível observar também que a equipe de en-
fermagem assume um papel essencial na minimi- Espera-se, contudo, que este estudo sirva para sen-
zação desse problema, por ser uma categoria que sibilizar, alertar, conscientizar e mobilizar os pro-
mantém maior contato e maior frequência com fissionais da área da saúde para a importância de
esses pacientes, tendo em suas mãos a resolução um olhar mais holístico e humano, a fim de con-
desse impasse. E isso se dá com o uso terapias tribuir para a efetivação de uma assistência mais
não farmacológicas que são fortemente utilizadas humanizada.

NURSING CARE VERSUS PAIN OF NEWBORN IN INTENSIVE CARE UNIT

Abstract
Because of the infant’s inability to verbally report their pain, the nursing professional should
be always on the alert and alert not only to identify the behavioral and physiological changes
that accompany the painful events, but also to help in the inclusion of the family within of the
unit, making the mother an increasingly participatory role in the development of the child. The
present study is an integrative review of the scientific literature for the period 2008 to 2016 in
an integrated search in the Virtual Health Library, which aimed to identify the main methods
used for pain relief in newborns and the importance Within the NICU. The researched studies
indicate that the nursing team plays an essential role in minimizing this problem, since it is a
category that maintains greater contact and more frequent with these patients, having in their
hands the resolution of this impasse with the use, as well as knowing how to use pain assessment
instruments in this age group.

Keywords: Ache. Neonatal Intensive Care Unit. Neonatal Nursing.

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PERCEPÇÃO DA ENFERMAGEM SOBRE
O MÉTODO MÃE-CANGURU:
REVISÃO INTEGRATIVA

Pâmella Formiga Santos*


Jonas Barboza da Silva**
Aislan Santos de Oliveira***

Resumo

Elevadas taxas de recém-nascidos prematuros e/ou baixo peso ao nascer geram a separação do
binômio mãe-filho imposta pelo nascimento de risco, levando ao desmame precoce e a dificul-
dades na formação dos laços afetivos com seus pais. O Método Mãe Canguru é uma assistência
prestada ao neonatal, que consiste no contato pele a pele o mais precocemente possível entre mãe-
-filho. A equipe de enfermagem passa o maior tempo envolvida nos cuidados desse recém-nato,
sendo responsável, em grande parte, pela execução desse método. Tem por objetivo conhecer a
percepção da enfermagem sobre o Método Mãe Canguru. Revisão integrativa da literatura cien-
tífica referente ao período de 2006 a 2016, em busca integrada na Biblioteca Virtual em Saúde. Os
estudos pesquisados apontam que a enfermagem percebe benefícios, como o aumento no ganho
de peso, diminuição do tempo de internação hospitalar, controle térmico adequado, assistência
humanizada, aleitamento materno precoce e aumento do vínculo mãe-concepto. Entretanto,
relataram dificuldades, como problemas de infraestrutura, postura profissional inadequada de
alguns profissionais, falta de interesse de profissionais e capacitação recebida deficiente. A enfer-
magem reconhece o valor do método e os benefícios trazidos pelo mesmo, apesar das dificulda-
des, principalmente no que tange ao vínculo afetivo.

Palavras-chave: Método Mãe Canguru. Recém-nascido. Prematuro.

* Enfermeira. Especialista em Enfermagem em UTI Neonatal e Pediátrica pela Atualiza Cursos. E-mail:
pamella.fs@hotmail.com
** Enfermeiro. Especialista em Enfermagem em UTI Neonatal e Pediátrica pela Atualiza Cursos. E-mail:
jonassilva007@hotmail.com
*** Enfermeiro. Especialista em Enfermagem em UTI Neonatal e Pediátrica pela Atualiza Cursos. E-mail:
aislanoliveira1@gmail.com

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SANTOS, P.F.; SILVA, J.B.; OLIVEIRA, A.S. | Percepção da enfermagem sobre o método mãe-canguru: revisão integrativa

1. Introdução cada de 70, no Instituto Materno-Infantil de Bo-


gotá, na Colômbia. Os articuladores buscaram ins-
A mortalidade infantil no Brasil está relacionada,
piração nas mães cangurus que, ao ter um filhote
principalmente, com o neonatal precoce, e uma
prematuro, carregavam-no em uma bolsa com o
parte significante das mortes infantis ocorre nas
intuito de mantê-lo aquecido e alimentado até ad-
primeiras 24 horas de vida, sinalizando uma re-
quirir o desenvolvimento necessário para sua so-
lação estreita com o momento do parto e nasci-
brevivência (GOMES; MARTINS; HERTEL, 2015).
mento. A literatura traz como principais causas
de óbitos em recém-nascidos: a prematuridade, No Brasil, o MMC surge em 1991, com implanta-
a malformação congênita, a asfixia perinatal, as ção em uma pequena enfermaria para alojamento
infecções e os fatores maternos, tendo uma pro- mãe-bebê no Hospital Estadual Guilherme Álvaro,
porção importante de mortes que poderiam ser em Santos (SP). Porém, apenas em junho de 1999,
prevenidas com ações de saúde eficazes (LANSKY a Secretária de Políticas de Saúde do Ministério da
et al., 2014). Saúde decide firmar diretrizes com o objetivo de
padronizar e ampliar o entendimento das diferen-
As elevadas taxas de recém-nascidos prematuros tes experiências envolvendo o Método Mãe Can-
e com baixo peso ao nascer geram a separação do guru. No ano 2000, o projeto é publicado no Diá-
binômio mãe-filho imposta pelo nascimento de rio Oficial da União por meio da Portaria GM nº
risco. Essa separação pode, por sua vez, acarretar 693, atualizada em 2007 através da Portaria GM/
consequências para o bebê, como, por exemplo, MS nº 1.683 (SANCHES et al., 2015).
risco de infecção, desmame precoce e dificuldades
na formação dos laços afetivos com seus pais (CA- Trata-se de um cuidado diferenciado que busca
LAZANS; NASCIMENTO; CABRAL, 2009). assistência de qualidade no intuito de reduzir a
mortalidade infantil. Além disso, o uso do méto-
Nesse contexto, o Método Mãe Canguru (MMC) do apresenta uma série de vantagens evidencia-
é uma assistência prestada ao neonatal, que con- das na literatura, tanto ao nível dos serviços de
siste no contato pele a pele o mais precocemente saúde como para o recém-nascido e seus familia-
possível entre a mãe e o recém-nascido de baixo res, entre elas, destaca-se a melhora no desenvol-
peso e/ou prematuro, assim que as condições clí- vimento neuropsicomotor da criança (SANCHES
nicas do bebê permitam. Esse contato deve ocor- et al., 2015).
rer de modo crescente e por tempo indeterminado,
de maneira que o recém-nascido deve ser mantido Diante disso, as ações e programas desenvolvidos
posicionado sobre o tórax de um adulto, em conta- pelo governo têm o objetivo de promover a hu-
to pele a pele (BRASIL, 2011; SOUZA et al., 2014). manização e qualificação da assistência prestada
à criança e à família, e melhorar a qualidade do
Este método tem por objetivo aumentar o víncu- vínculo entre profissionais de saúde e usuários
lo mãe-filho; diminuir o tempo de separação en- (PARISI; COELHO; MALLEIRO, 2008).
tre o binômio; estimular o aleitamento materno;
Este trabalho justifica-se pela importância de co-
aumentar a confiança dos pais ao manusear o re-
nhecer a visibilidade da equipe de enfermagem
cém-nascido; controlar a temperatura corporal do
em relação ao MMC, que é considerado um fator
bebê; diminuir o tempo de internação; melhorar o
relevante na recuperação do recém-nascido. Uma
relacionamento equipe-família e diminuir a inci-
vez que a implantação desse método traz à equipe
dência de infecção hospitalar (BRASIL, 2011).
de saúde a necessidade de reorganizar sua práti-
O Método Mãe Canguru foi criado e implantado ca assistencial, a fim de que esteja voltada para a
por Edgar Rey Sanabria e Hector Martinez na dé- humanização da assistência, prestando, assim, um

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SANTOS, P.F.; SILVA, J.B.; OLIVEIRA, A.S. | Percepção da enfermagem sobre o método mãe-canguru: revisão integrativa

suporte não apenas para o recém-nascido, mas — BIREME, que integra as bases de dados LILA-
também para a família (SOUZA et al., 2014). CS, MEDLINE e a biblioteca eletrônica SciELO.
Usaram-se também a base de dados PubMed, a
Nessa perspectiva, a equipe de enfermagem passa
Revista de Enfermagem do Vale do Paraíba, a Re-
o maior tempo (24 horas) envolvida nos cuidados
vista do Instituto de Ciências da Saúde e a Red de
desse recém-nato, sendo, desse modo, responsável,
Revistas Científicas de America Latina y El Caribe.
em grande parte, por viabilizar a execução desse
método, transmitindo segurança aos envolvidos Para esta revisão, foram utilizados os descritores
no processo. indexados no DeCS — Terminologia em Saúde —
“enfermagem” AND “método canguru” de manei-
Tem-se abordado de maneira expressiva a necessi-
ra integrada, para identificar os artigos científicos
dade de capacitar as equipes de saúde para uma as-
publicados no período de janeiro de 2006 a outu-
sistência humanizada. Entretanto, não se tem dado
bro de 2016, que abordem a temática da percepção
a real importância à análise e reflexão sobre o co-
da enfermagem sobre o Método Mãe Canguru. A
nhecimento e a compreensão que os profissionais
busca nas fontes descritas acima foi realizada no
de enfermagem apresentam com relação ao méto-
período de outubro de 2016.
do, considerando as possibilidades de aplicação e
reflexões acerca dos benefícios e implicações que o A princípio, foram encontradas 192 publicações
MMC traz para o RN, família e no modo de pres- em todos os bancos de dados, das quais apenas 130
tar assistência (SOUZA et al., 2014). foram selecionadas quando os critérios de inclu-
são foram aplicados: texto completo e disponível
A qualificação da atenção, principalmente no pré-
na íntegra e documento na modalidade de artigo
-natal e no parto, se configura como foco primá-
original, publicações ente 2006 a 2016, escritas em
rio para as políticas públicas, com vista a reduzir
português, inglês e espanhol.
as taxas de mortalidade infantil no Brasil. Diante
do exposto, surgiu a motivação para o desenvol- Após leitura preliminar dos títulos dos artigos,
vimento deste estudo, que tem como objetivo co- apenas 18 publicações foram selecionadas, uma
nhecer a percepção da enfermagem sobre o Méto- vez que tinha algum tipo de ligação com o obje-
do Mãe Canguru. to de estudo, ou seja, percepção da enfermagem
sobre o Método Mãe Canguru. A etapa seguinte
consistiu na leitura dos resumos na íntegra e sele-
2. Metodologia ção apenas daqueles cujos resumos confirmavam
Trata-se de um artigo de revisão integrativa da li- o foco sobre o tema, que culminou na seleção de
teratura, que se justifica por ser um método que 12 artigos. Procedeu-se, então, à leitura de todo o
analisa os estudos com olhar crítico, sendo os as- conteúdo do texto, e 11 artigos foram submetidos
pectos mais relevantes sintetizados para melhor à análise desta revisão, dos quais 01 estava publi-
compreensão. Trata-se de um desenho importan- cado através da base MEDLINE, 04 no LILACS,
te, uma vez que consiste em um recurso que pode 02 na SciELO, 01 na Revista Eletrônica de Enfer-
criar uma base de conhecimento e encontrar res- magem do Vale do Paraíba, 01 na PubMed, 01 na
postas, capazes de guiar ações de saúde e condu- Revista do Instituto de Ciências da Saúde e 01 na
tas profissionais, além de identificar novos objetos Red de Revistas Científicas de America Latina y
de estudo para novas pesquisas (SOUZA; SILVA; El Caribe.
CARVALHO, 2010).
As informações extraídas dos artigos foram colo-
Utilizou-se o sistema informatizado de busca ele- cadas em instrumento específico, através de tabela
trônica online da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) para melhor visualização, contendo elementos re-

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SANTOS, P.F.; SILVA, J.B.; OLIVEIRA, A.S. | Percepção da enfermagem sobre o método mãe-canguru: revisão integrativa

lacionados ao autor, local, ano de publicação, mé- de caso com abordagem qualitativa, tendo sido
todo e resultados. publicados nos idiomas português (81,82%) e in-
glês (18,18%).
Posteriormente os artigos foram organizados se-
gundo categorias de discussão, conforme o con- Das 11 pesquisas, 4 (36,36%) estudos foram rea-
teúdo dos textos. lizados em São Paulo, 2 (18,18%) no Rio de Janei-
ro, 1 (9,09%) em Minas Gerais, 1 (9,09%) no Pará,
1 (9,09%) em Santa Catarina, 1(9,09%) no Irã e 1
3. Resultados e discussão
(9,09%) em Nova York. No que se refere ao ano de
Os 11 artigos que preencheram todos os critérios publicação, 1 (9,09%) corresponde ao ano de 2006,
de inclusão foram as publicações analisadas neste 2 (18,18%), ao período de 2007, 1 (9,09%) em 2008,
estudo. Observou-se que 3 (27,27%) artigos tra- 2 (18,18%), no ano de 2013, 2 (18,18%) em 2014, 2
tavam de um estudo descritivo com abordagem (18,18%) em 2015 e 1 (9,09%) no ano de 2016. Den-
qualitativa; 2 (18,18%) estudos descritivos-explo- tro do período da investigação, houve aumento
ratórios de natureza quantitativa; 1 (9,09%) estudo das produções sobre o tema a partir de 2013.
de coorte prospectivo; 1 (9,09%) estudo utilizando
a metodologia problematizadora; 1 (9,09%) estudo Todas as pesquisas foram realizadas com profis-
de campo com abordagem qualitativa; 1 (9,09%) sionais integrantes da equipe da enfermagem,
estudo descritivo-exploratório com abordagem enfermeiros e técnicos de enfermagem, trabalha-
qualitativa, 1 (9,09%) estudo na postura epistemo- dores de instituições que prestam assistência a re-
lógica interpretativista da investigação qualitativa cém-nascido que necessita de atendimento de alta
e 1 (9,09%) estudo descritivo-exploratório, estudo complexidade.

Tabela 1. Caracterização das publicações sobre a percepção da enfermagem sobre o Método Mãe Canguru,
segundo autor/ano, local, idade, método e resultados. Biblioteca Virtual em Saúde, 2006-2016 (continua)

Autor/Ano Local Método Resultados

Os resultados apontaram a necessidade de se


Unidade Neonatal Metodologia proble- criar espaços para reflexões entre os profis-
COSTA; MON- do Hospital Uni- matizadora, com a sionais sobre sua prática, a fim de transfor-
TICELLI, 2006. versitário de Santa aplicação do Arco de mar o modelo assistencial vigente e favorecer
Catarina. Charles Maguerez. o cuidado integral e individualizado aos
recém-nascidos pré-termos e familiares.

As enfermeiras possuem comprometimento


UTI Neonatal de
MARTINS; Estudo de campo e sensibilidade para prestar assistência huma-
um hospital priva-
MARTINS; com abordagem nizada ao trinômio mãe-filho-família, assim
do do município
VAZ, 2007. qualitativa. como conhecimentos científicos para a sua
de São Paulo.
prática e os benefícios trazidos pelo método.

Realizado em Os resultados demonstraram que todos os


UTIN de três mu- Descritivo e explo- enfermeiros conhecem o MC, embora fatores
MEIRA et al.,
nicípios da região ratório de natureza como a não vivência do MC e a limitação do
2008.
metropolitana de quantitativa. espaço físico poderão dificultar a escolha e
Campinas-SP. adoção do método de assistência ao RN.

Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde | Salvador, v. 6, n. 6, p. 69-79, jul./dez. 2017 | 72


SANTOS, P.F.; SILVA, J.B.; OLIVEIRA, A.S. | Percepção da enfermagem sobre o método mãe-canguru: revisão integrativa

Tabela 1. Caracterização das publicações sobre a percepção da enfermagem sobre o Método Mãe Canguru,
segundo autor/ano, local, idade, método e resultados. Biblioteca Virtual em Saúde, 2006-2016 (continua)

Autor/Ano Local Método Resultados

Unidade Neonatal
do Instituto da O estudo permitiu verificar a importância do
PARISI;
Criança do Hos- Exploratório-des- envolvimento dos profissionais nos processos
COELHO;
pital das Clínicas critivo, abordagem de mudança e a necessidade de adequação
MELLEIRO,
da Universidade qualitativa. dos recursos humanos e físicos para a efetiva
2008.
de São Paulo, São implantação do método.
Paulo.

SANTOS; Alojamento Can- Descritivo-explo-


Observa-se que a efetiva participação mascu-
MACHADO; guru de uma ma- ratório, estudo de
lina no MC não é uma constante, entretanto,
CHRISTOFFEL, ternidade-escola, caso, abordagem
melhora o vínculo e a confiança do pai.
2013. Rio de Janeiro. qualitativa.

Um programa de educação baseado em


simulação do MMC melhorou a percepção
MAYERS;
Bellevue Hospital Estudo de coorte dos enfermeiros sobre o valor do mesmo, sua
HENDRICKS-
Center, Nova York. prospectivo. competência e conforto na transferência de
-MUNOZ, 2014.
lactentes para cuidados do MMC e promoveu,
com sucesso, a utilização dos pais no MMC.

Unidade de Terapia
Intensiva Neona- Os técnicos de enfermagem conhecem o MC
SILVA; Descritivo, aborda-
tal, da Fundação e sua importância na assistência neonatal e
BARROS; gem qualitativa.
Pública Estadual no vínculo afetivo, mas apontam dificuldades
NASCIMENTO,
Hospital de Clíni- quanto à identificação das suas etapas e na
2014.
cas Gaspar Viana, hora da aplicação.
Pará.

Maternidade Maria Os profissionais enxergam o Método Mãe-


Barbosa do Hos- -Canguru como estímulo para o estabeleci-
SOUZA et al., Descritiva, aborda-
pital Universitário mento do vínculo e apego mãe-filho, permi-
2014. gem qualitativa.
Clemente de Faria, tindo que esse binômio mantenha a união
Minas Gerais. que foi construída desde a vida intrauterina.

Importância do envolvimento da equipe de


enfermagem nos processos de mudança,
GOMES; UTI Neonatal de Quantitativo do tipo
a necessidade de adequação dos recursos
MARTINS; um Hospital do descritivo e explo-
humanos e estimular a mãe a manter o maior
HERTEL, 2015. Vale do Paraíba. ratório.
tempo de permanência no método para a
efetiva implantação.

UTIN de um hos- Estudo na postura A enfermagem e demais profissionais pos-


pital universitário epistemológica suem papel de multiplicar valores e práticas
SILVA et al.,
público, na cidade interpretativista da que podem ou não ser construtivas, influen-
2015.
do Rio de Janeiro investigação quali- ciando potencialmente na (des)continuidade
(RJ). tativa. do Método Canguru na unidade.

Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde | Salvador, v. 6, n. 6, p. 69-79, jul./dez. 2017 | 73


SANTOS, P.F.; SILVA, J.B.; OLIVEIRA, A.S. | Percepção da enfermagem sobre o método mãe-canguru: revisão integrativa

Tabela 1. Caracterização das publicações sobre a percepção da enfermagem sobre o Método Mãe Canguru,
segundo autor/ano, local, idade, método e resultados. Biblioteca Virtual em Saúde, 2006-2016 (conclusão)

Autor/Ano Local Método Resultados

UTIN de dois Dificuldade de entendimento materno com


NAMNABATI hospitais universi- Descritivo, aborda- relação ao método. Necessidade de ordem
et al., 2016. tários em Isfahan, gem qualitativa. do médico para MMC, falta de um ambiente
Irã. privado para as mães e alta carga de trabalho.

Fonte: Autoria própria, 2016

Os principais resultados encontrados nos artigos com o olhar, chorar, agarrar-se e aconchegar-se
foram separados em categorias de discussão, para contra o corpo dos pais em busca de conforto e
facilitar a compreensão do conteúdo dos textos e acalento. Para o bebê prematuro, buscar o confor-
análise dos mesmos, como mostrado a seguir. to oferecido pelos genitores é muito mais difícil,
quando comparado com o RN termo, necessi-
3.1. Compreendendo os benefícios tando, assim, da ajuda dos profissionais de saúde
do método mãe canguru para o (BRASIL, 2011).
desenvolvimento do recém-nascido
Em seu estudo, Gomes, Martins e Hertel (2015)
Durante a análise do conteúdo trazido pelos ar- evidenciam que o MMC proporciona o aumento
tigos, foi possível identificar que os profissionais do vínculo e o apego entre genitores e RN de modo
de enfermagem, em sua maioria, reconhecem, va- natural e efetivo, pois permite a aproximação ín-
lidam e valorizam os benefícios trazidos pelo Mé- tima entre os pais e seu bebê através do contato
todo Mãe Canguru ao recém-nascido. constante pele a pele. Além disso, estimula os pais
a participarem dos cuidados dispensados ao neo-
Dentre esses benefícios, os identificados foram:
nato (MARTINS; MARTINS; VAZ, 2007; SILVA;
aumento no ganho de peso diário, diminuição do
BARROS; NASCIMENTO, 2014).
tempo de internação hospitalar, diminuição do
tempo de separação mãe-filho. Outros benefícios Ainda nesse contexto, além do aumento do vín-
também foram relatados, como o melhor contro- culo, o MMC, por permitir a presença constan-
le térmico, mudanças na forma do atendimento te dos pais nas unidades de saúde, proporciona
prestado ao RN e sua família, cuidado individua- maior conforto, confiança e segurança aos genito-
lizado, integral e sensível, assistência humaniza- res ao lidarem com o RN prematuro (MEIRA et
da, minimização do estresse do bebê e da família, al., 2008; SILVA; BARROS; NASCIMENTO, 2014;
estimulação da participação e segurança materna SOUZA et al., 2014; SILVA et al., 2015).
para com os cuidados com o RN e auxílio na ama-
Nessa perspectiva, Santos, Machado e Christoffel
mentação. Uma benfeitoria em destaque foi, em
(2013) analisaram a questão do vínculo e do cui-
88,1% dos artigos analisados, o aumento do vín-
dado ao recém-nascido direcionado à figura pa-
culo mãe-filho.
terna, com o intuito de identificar os benefícios
O vínculo entre os pais e o recém-nato não ocorre gerados para esse binômio. Observou-se o forta-
instantaneamente e, sim, gradualmente, devendo lecimento do vínculo entre eles e a otimização do
ser visto como um processo contínuo. À medida tempo de permanência do pai junto ao RN. Em
que o bebê se desenvolve, ele pode seguir os pais oposição ao achado anterior, os pesquisadores se

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depararam com dificuldades relacionadas ao cur- da luminosidade e ruídos do ambiente, contri-


to tempo de permanência de alguns pais junto ao buindo para a diminuição do estresse do bebê e,
seu concepto devido às questões de trabalho e à consequentemente, dos genitores. Proporcionam,
falta de manejo com o bebê, fator esse superado assim, maior conforto e segurança materna (COS-
com o convívio na unidade. TA; MONTICELLI, 2006; MARTINS; MARTINS;
VAZ, 2007; SILVA; BARROS; NASCIMENTO,
No estudo realizado por Parisi, Coelho e Melleiro
2014; SOUZA et al., 2014; SILVA et al., 2015).
(2008), é possível encontrar depoimentos que fa-
zem menção ao fato de que, diante de condições Contudo, é possível notar a importância da im-
adequadas, no que se refere às questões estruturais plementação do MMC nas unidades hospitalares
e de quantitativo profissional, pode-se observar o como meio de oferecer uma assistência humaniza-
ganho de peso mais rápido como um dos benefícios da e diferenciada, objetivando a recuperação mais
proporcionados pelo MMC. E, como consequên- rápida da saúde dos RNs prematuros e de baixo
cias desse aumento de peso, uma desospitalização peso, bem como o estabelecimento do vínculo mãe
em menor tempo e redução do custo hospitalar, e filho e a promoção do aleitamento materno, não
uma vez que se pode dar alta a uma criança com se esquecendo de apontar as vantagens relaciona-
1800g (MARTINS; MARTINS; VAZ, 2007; GO- das à redução dos custos hospitalares com o pro-
MES; MARTINS; HERTEL, 2015). cesso mais rápido de desospitalização.

O aleitamento materno, também enxergado como


3.2. Facilidades e dificuldades para
um dos benefícios do MMC, é um ato de amor,
a efetivação do método mãe canguru
demonstra compromisso da mãe para com o filho na percepção da enfermagem
e “estreita os laços” entre eles, é para o RN fonte de
nutrientes e anticorpos, auxiliando em seu cres- Durante a análise dos artigos, foi possível obser-
cimento e desenvolvimento, devendo, assim, ser var que alguns fatores na perspectiva da equipe
o alimento de primeira escolha ofertado ao bebê. de enfermagem interferem na implantação e con-
tinuidade do MMC. Esses fatores estão relaciona-
Nesse aspecto, entende-se que quanto mais cedo o
dos com as questões de infraestrutura, à supervi-
neonato for ao seio materno, maiores são as chan-
são inadequada, à sobrecarga de trabalho, falta de
ces de se estabelecer o vínculo entre eles e menor
trabalho em equipe e à falta de interesse por parte
será a probabilidade do desmame precoce (MAR-
dos profissionais.
TINS; MARTINS; VAZ, 2007; SILVA; BARROS;
NASCIMENTO, 2014). Dentro dessa categoria, alguns artigos encontra-
ram na fala da enfermagem fator que dificulta a
Contudo, foi possível perceber que os benefícios
falta de uma infraestrutura adequada para rea-
citados anteriormente remetem à proposta do Mi-
lizar as peculiaridades trazidas pelo método, no
nistério da Saúde — de transformação da assistên-
que tange, principalmente, à questão do espaço
cia prestada ao RN e sua família —, ultrapassando
físico (COSTA; MONTICELLI, 2006; MEIRA et
a visão medicalizada e assistência com enfoque
al., 2008; PARISI; COELHO; MALLEIRO, 2008;
na criança. Assim, observa-se haver uma sensibi-
SILVA; BARROS; NASCIMENTO, 2014).
lização dos profissionais que assistem o RN e sua
família modificando seu processo de trabalho, Como preconizado pelo Ministério da Saúde, é
adotando medidas que visam à humanização da necessário ter um espaço adequado para receber
assistência, tais como: acolhimento, comunicação o binômio mãe-filho, entretanto, as unidades neo-
efetiva, estimulação da participação dos familia- natais convencionais têm uma estrutura limitada
res no processo de cuidado, assim como redução e não oferecem espaço adequado para receber pais

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SANTOS, P.F.; SILVA, J.B.; OLIVEIRA, A.S. | Percepção da enfermagem sobre o método mãe-canguru: revisão integrativa

e familiares, uma vez que não foram construídas citação com carga horária reduzida e no início da
com essa finalidade, normalmente, são apertadas implantação do método nas suas respectivas uni-
e superlotadas (BRASIL, 2011). dades. E, depois desse período, não tiveram mais
nenhum acompanhamento ou instrução que pu-
Como exemplo trazido por Namnabati e colabo-
desse avaliar o processo e corrigir possíveis erros,
radores (2016) no estudo realizado no Irã, uma
gerando, assim, maior confiança e destreza para
das maiores dificuldades encontradas é o enten-
os profissionais envolvidos no MMC (COSTA;
dimento materno com relação ao método no que
MONTICELLI, 2006; MAYERS; HENDRICKS-
tange ao seu processo, ou seja, a mãe deve perma-
-MUNOZ, 2014; SILVA et al., 2015).
necer com o filho o maior tempo possível no con-
tato pele a pele. Essa dificuldade de compreensão Quando atividades de educação continuada são
está atrelada a questões culturais e religiosas, mas, realizadas, o nível de conforto dos enfermeiros e
sobretudo, à falta de ambiente privado, pois a en- sua capacidade de transmitir confiança aos pais
fermaria é apertada e lotada, o que impossibilita a melhoram de maneira significativa, além de au-
privacidade para a realização desse contato mais mentar o valor do Método Mãe Canguru na per-
íntimo. Somado a isso, o alojamento não permite cepção desses profissionais. E quando capacitados,
que a permanência 24 horas, há baixa qualidade nota-se diminuição nas dificuldades por eles en-
e higiene dos quartos, e impossibilidade da assis- contradas no que tange à execução do MMC, pois
tência por parte de familiares, uma vez que ape- aprendem a lidar melhor no manejo com os pais,
nas realizam visitas devido à falta de estrutura com a criança e com os colegas de trabalho.
para acolhê-los.
Voltando o olhar para as facilidades envolvendo a
Ao contrário dos achados dos estudos acima, Go- implementação do MMC nas unidades hospitala-
mes, Martins e Hertel (2015) evidenciam na sua res, foi possível encontrar, dentre os estudos que
amostra que a unidade neonatal em questão apre- deram suporte a esta pesquisa, apenas o estudo
senta estrutura física capacitada para a realização de Meira et al. (2008), no qual 68% da equipe de
do método, de modo que seu espaço físico está enfermagem estudada menciona a relação custo-
dentro do preconizado pelo Ministério da Saúde. -benefício como um aspecto facilitador na hora de
Outro achado relevante é a falta de interesse e es- implantar o MMC numa unidade hospitalar.
tímulo por parte dos profissionais tanto para a im- Diante do exposto, é possível notar que as impli-
plantação do método quanto para sua continuida-
cações envolvendo as dificuldades encontradas na
de (COSTA; MONTICELLI, 2006; MEIRA et al.,
implementação do MMC nas unidades hospitala-
2008; MAYERS; HENDRICKS-MUNOZ, 2014).
res ganham destaque em relação às facilidades na
Essa falta de interesse, segundo Silva e coopera-
percepção da enfermagem. Esse fato pode ter rela-
dores (2015), está atrelada à insegurança técnica e
ção com o insucesso e descontinuidade de uma as-
à desarticulação entre a equipe multiprofissional
sistência humanizada que ocorre em alguns locais,
para a prática do Método Canguru, à valorização
contrapondo-se a uma das diretrizes do MMC, que
extrema da visão biológica, às resistências e limi-
é a humanização tida como um diferencial para a
tações impostas por alguns médicos e à dificulda-
recuperação do RN prematuro e de baixo peso.
de para trabalhar em equipe.

Outro fator que influencia de maneira exponencial


nesse achado é a falta de capacitação dos profis-
4. Conclusão
sionais que atuam no Método Mãe Canguru, de O tema Método Mãe Canguru encontra-se em ex-
modo que muitos deles tiveram apenas uma capa- pansão ao longo dos últimos anos, devido a sua

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implantação em diversas instituições de saúde não como influências em seu modo de lidar tanto com
somente no Brasil, mas também em instituições de o RN quanto com a genitora e demais familiares,
outros países. Isso mostra tratar-se de um assunto tornando a assistência mais individualizada, in-
de grande valor para o campo científico, uma vez tegral e humanizada. Outro fator abordado pelos
que ele proporciona uma gama de aspectos que po- profissionais foi a questão do aleitamento materno,
dem ser estudados, visto que está diretamente rela- já que o Método Mãe Canguru estimula, de modo
cionado ao desenvolvimento psicomotor da crian- significativo, a prática da amamentação precoce,
ça, somado ao aumento do vínculo afetivo com influenciando, assim, no ganho de peso diário des-
genitores e familiares. sas crianças.

Foi possível observar também que, apesar da ex- Entretanto, os profissionais relataram também di-
pansão dos últimos tempos sobre a temática do Mé- ficuldades para a implantação e continuidade do
todo Mãe Canguru, ainda existem poucas pesqui- método em suas instituições. Essas dificuldades
sas que abordam a percepção do enfermeiro sobre perpassam problemas estruturais e condutas to-
tal método, uma vez que, ao final da busca, apenas madas pelos profissionais que atuam na assistên-
11 artigos foram publicados ao longo de 10 anos. cia a essas crianças: espaço inadequado, falta de
interesse de profissionais de saúde na aplicação
Os estudos encontrados neste trabalho, que falam do método e falta de capacitação dos profissionais
sobre a percepção da enfermagem sobre a utilização para a prestação do cuidado.
do Método Mãe Canguru na sua rotina de trabalho,
possuem populações de cidades diferentes, mas to- Diante disso, existe a necessidade de estudos que
dos são profissionais de enfermagem que prestam possam analisar tais dificuldades, a fim de se che-
assistência em unidades de tratamento intensivo. gar à causa desses problemas e, desse modo, en-
contrar estratégias que possam vir a solucionar ou
Os resultados expostos mostraram que a enferma- minimizar esses problemas. Assim, o Método Mãe
gem reconhece, de um modo geral, os benefícios Canguru poderá ser mais eficiente, proporcionan-
trazidos pelo método, atribuindo-lhe um valor po- do uma assistência qualificada e humanizada.
sitivo, principalmente no que tange ao aumento do
Por fim, espera-se que os resultados encontrados
vínculo mãe-filho, sendo esse uma percepção da
possam contribuir para o conhecimento e enten-
maioria dos estudos.
dimento do conteúdo publicado até aqui sobre a
Outros benefícios percebidos foram o aumento no percepção da enfermagem acerca do Método Mãe
ganho de peso, diminuição do tempo de interna- Canguru, e que as lacunas encontradas possam
ção hospitalar e controle térmico adequado, assim servir de inspiração para futuros estudos.

PERCEPTION OF NURSING ON THE KANGAROO-MOTHER METHOD: INTEGRATIVE REVIEW

Abstract
High rates of preterm newborns and/or low birth weight generates the separation of the mo-
ther-child binomial imposed by the birth of risk, leading to early weaning and difficulties in the
formation of affective ties with their parents. The Kangaroo Mother Method is a care provided to
the neonatal, which consists of the skin-to-skin contact as early as possible between the mother-
-child. The nursing team spends the longest time involved in the care of this newborn, being lar-
gely responsible for the execution of this method. It aims to know the nursing perception about
the Kangaroo Mother Method. Integrative review of the scientific literature the period from

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2006 to 2016 in integrated search in the Virtual Health Library. Nurses perceive benefits such as
increased weight gain, reduced hospitalization time, adequate thermal control, humanized care,
early breastfeeding and increased mother-to-child relationship. However, they reported diffi-
culties such as infrastructure problems, inadequate professional posture of some professionals,
lack of professional interests and lack of training. Nursing recognizes the value of the method,
and the benefits brought by it, despite the difficulties, especially in relation to the affective bond.

Keywords: Nursing. Kangaroo-Mother Care Method.

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CUIDADOS DE ENFERMAGEM AO
RECÉM-NASCIDO COM HIPERTENSÃO
PULMONAR PERSISTENTE

Anarda Kele Ladeira de Lima*


Cristiane Maria Guimarães Ribeiro**

Resumo
A Hipertensão Pulmonar Persistente Neonatal (HPPN) é uma patologia grave e caracterizada por
aumento de pressão na artéria pulmonar a níveis suprassistêmicos e acomete, principalmente,
o recém-nascido (RN) a termo ou pós-termo. O tratamento desses pacientes visa manter a
pressão arterial sistêmica em níveis ade­quados, diminuir a resistência vascular pulmo-
nar, garantir liberação de oxigênio para os tecidos e minimizar lesões induzidas pelo
oxigênio e pela ventilação, exigindo atenção redobrada da equipe de enfermagem. Trata-
-se de uma revisão integrativa, realizada no período de 2000 a 2015, que tem por objetivo analisar
os cuidados de enfermagem prestados aos recém-nascidos com hipertensão pulmonar persistente
assistidos nas unidades de terapia intensiva neonatal. Foram selecionados 10 artigos. Os dados
foram analisados e divididos em 04 categorias: Epidemiologia, Diagnóstico e quadro clínico, Tra-
tamento e Cuidados de enfermagem. Os resultados apontam que esta síndrome ocorre em, apro-
ximadamente, 2% a 9% dos RNs nascidos vivos. O diagnóstico clínico é difícil devido ao quadro
de insuficiência respiratória aguda que se assemelha com outras patologias pulmonares. A equipe
de enfermagem tem um papel fundamental na prevenção e intervenção da HPPN e deve ter co-
nhecimento da patologia e da assistência necessária para garantir a sobrevivência do RN.

Palavras-chave: Hipertensão pulmonar. Neonatal. Enfermagem.

1. Introdução canal arterial e forame oval, resultando em hipo-


xemia grave (RIBEIRO; NASCIMENTO, 2005).
A Hipertensão Pulmonar Persistente Neonatal Embora seja reconhecida há mais de 30 anos, a
(HPPN) é uma síndrome caracterizada por aumen- HPPN continua desafiando o clínico, e ainda pou-
to de pressão na artéria pulmonar a níveis supras- co se sabe a respeito da sua etiologia, patogenia e
sistêmicos, levando a shunt direito esquerdo pelo prevenção (CABRAL; BELICK, 2013).

* Enfermeira. Especialista em UTI Neonatal e Pediátrica pela Atualiza Cursos. E-mail: anardalima@hot-
mail.com
** Enfermeira. Especialista em UTI Neonatal e Pediátrica pela Atualiza Cursos. E-mail: cris.maria10@
hotmail.com

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LIMA, A.K.L.; RIBEIRO, C.M.G. | Cuidados de enfermagem ao recém-nascido com hipertensão pulmonar persistente

Cabral e Belick (2013) referem que a HPPN aco- gem é de suma importância na assistência aos RNs
mete, sobretudo, o recém-nascido (RN) a termo com HPPN e que se fazem necessários o conheci-
ou pós-termo, embora exista evidência desta sín- mento e domínio dos cuidados especializados acer-
drome também em prematuros. Sua prevalência ca da doença, tratamento e riscos que garantam a
em recém-nasci­dos não está bem caracterizada e sobrevivência do RN acometido por esta patologia.
é provável que seja subes­timada devido à falha na
Justifica-se a elaboração deste trabalho por ser
sua detecção quando associada à patologia de pa-
um tema no qual, apesar de possuir um número
rênquima pulmonar.
razoável de publicações, existem lacunas em seus
Segundo Ribeiro e Nascimento (2005), esta sín- achados na área da enfermagem, e torna-se rele-
drome ocorre em, aproximadamente, 2% a 9% dos vante pelo interesse e preocupação em prestar uma
RNs nascidos admitidos em unidade de terapia in- assistência de qualidade, reformular as práticas di-
tensiva neonatal e em cerca de 1 a 5:1.000 nascidos minuindo, desta forma, a morbimortalidade neo-
vivos. Araújo et al. (2008) afirmam que tal inci- natal que tem como sua principal causa a HPPN.
dência pode chegar de 1 por 27 em RNs nascidos
de parto cesáreo. Apesar dos recentes avanços, a Diante do exposto, teve-se como base a seguinte
mortalidade associada a esta síndrome ainda é de questão norteadora: Quais são os cuidados de en-
10% (CABRAL; BELICK, 2013). fermagem aos recém-nascidos com hipertensão
pulmonar persistente?
Os RN que têm HPPN apresentam um quadro de
insuficiência respiratória progressiva, que se ini- Considerando os aspectos mencionados, este tra-
cia nas primeiras horas de vida, desta forma, o balho tem por objetivo analisar, na literatura pu-
diagnóstico deve ser rápido, preciso e resulta da blicada, os cuidados de enfermagem prestados
combinação de vários exames (RIBEIRO; NASCI- aos recém-nascidos com hipertensão pulmonar
MENTO, 2005). persistente assistidos nas unidades de terapia in-
tensiva neonatal. E, como objetivos específicos,
O tratamento desses pacientes tem por objetivo identificar na literatura quais são os cuidados de
minimizar a resistência vascular pulmonar, otimi- enfermagem prestados aos recém-nascidos com
zando o fluxo sanguíneo pulmonar, sem que ocor- hipertensão pulmonar persistente internados nas
ra prejuízo do débito cardíaco (EUGÊNIO; GEOR- unidades de terapia intensiva neonatal e descrever
GETTI, 2007). a sistematização dos cuidados de enfermagem na
De acordo com Ribeiro e Nascimento (2005), a unidade de terapia intensiva neonatal.
enfermagem tem um papel fundamental na pre-
venção e intervenção da HPPN e deve ter conheci-
2. Metodologia
mento da patologia e da assistência necessária para
que garanta a sobrevivência do RN, diminuindo, Para este estudo, optou-se por uma revisão integra-
assim, a mortalidade. tiva por tratar-se de um método cuja finalidade é
reunir e sintetizar resultados de pesquisas sobre um
Aproximamo-nos melhor da temática do estudo
delimitado tema ou questão, de maneira sistemáti-
após atividade desenvolvida durante a pós-gradua-
ca e ordenada, contribuindo para aprofundar o co-
ção em Enfermagem em UTI Neonatal e Pediátri-
nhecimento do tema investigado (GALVÃO, 2008).
ca, no módulo de Enfermagem em Neonatologia
de Alto Risco, bem como durante a observação da Foi realizado um levantamento bibliográfico no
complexidade dos casos em uma unidade neonatal, portal da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), a qual
área de atuação profissional de uma das autoras. engloba as principais bases de dados, sendo o SciE-
Durante esse processo, percebemos que a enferma- LO a base de dados utilizada, além de uma busca

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por teses e dissertações em bibliotecas digitais de lizou-se a leitura criteriosa do título e do resumo
faculdades, seguindo os critérios de inclusão. para verificar sua adequação com a questão nortea-
dora da pesquisa. Com base nos descritores selecio-
Os critérios de inclusão adotados foram: artigos,
nados no DeCS — hipertensãopulmonar, neonatal
dissertações e teses na íntegra, publicados em por-
e enfermagem — foram encontrados 425 artigos
tuguês, inglês e espanhol e indexados na BVS e na científicos, 66 teses e 04 dissertações, dos quais fo-
Biblioteca Digital Vérsila, publicados no período ram utilizados 09 artigos, 01 tese e 01 dissertação
de 2005 a 2015, que abordassem as temáticas de neste estudo, nas línguas portuguesa e espanhola.
hipertensão pulmonar, neonatal e enfermagem, e
que fossem de acesso on-line e gratuito. Devido à
dificuldade de encontrarmos artigos originais dis- 3. Resultados e discussão
poníveis gratuitamente, também foram utilizados Abaixo, segue a descrição dos artigos encontrados
alguns artigos de revisão. Para a seleção destes, rea- a partir da metodologia proposta (Quadro 1).

Quadro 1. Descrição dos artigos quanto ao autor, ano, revista e resultados (continua)

Autor Título Revista/Ano Objetivo Resultados

O Noi é uma droga eficaz no trata-


mento da HPP do RN, mas só 50%
Assistência de Conhecer sobre dos RN com HPP respondem a essa
RIBEIRO, enfermagem ao Revista de a HPP e elaborar terapia. A inexistência de efeitos na
T.R; NAS- recém-nascido- Enfermagem uma proposta de resistência vascular sistêmica do NOi
CIMENTO, com hiperten- UNISA, protocolo para inalatório é, na prática, a grande van-
M.I.P. são pulmonar 2005 assistência ao RN tagem do NOi sobre os vasodilatado-
persistente com HPP. res convencionalmente utilizados
até o momento, como é o caso da
Tolazolina.

Houve queda da resistência vascular


Sildenafil no pulmonar, com consequente melhora
Relatar o uso do
BENTLI, tratamento da na oxigenação e, 48 horas após, foi
Jornal de Sildenafil no tra-
M.R. et al. hipertensão possível suspender a infusão de pros-
Pediatria, tamento da HPP
pulmonar após taglandina E1. O Sildenafil pode ser
2005 em RNs após
cirurgia car- alternativa terapêutica na HPP, espe-
cirurgia cardíaca.
díaca cialmente quando não houver resposta
à terapia convencional.

Todos os RNs receberam Milrinona,


Descrever uma e o Sildenafil foi associado em 54%.
Uso de Milrino- série de casos de Durante a internação, sete pacientes
EUGÊNIO, na no tratamen- Revista RNs com HPP evoluíram a óbito e todos eles apresen-
G.R.; GEOR- to da hiperten- Paulista de grave, que rece- taram aumento do IO, com elevação
GERTI, são pulmonar Pediatria, beram Milrinona da média de 25 para 38 com a Milri-
F.C.D. persistente do 2007 para promover nona. Os sobreviventes, com exceção
recém-nascido a vasodilatação de um neonato, apresentaram redução
pulmonar. do IO em uso de Milrinona, com que-
da da média de 19 para 7.

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Quadro 1. Descrição dos artigos quanto ao autor, ano, revista e resultados (continua)

Autor Título Revista/Ano Objetivo Resultados

O tratamento para HPP do RN per-


Tratamento
Avaliar os tipos manece controverso. O fato de a HPP
RODRI- da hiperten-
Biblioteca de terapêuticas ser uma patologia multifatorial reflete
GUES, são pulmonar
Vérsila, 2008 utilizadas no tra- na sua terapêutica, cujo objetivo prin-
M.I.G. persistente do
tamento da HPP. cipal é manter a adequada oxigenação
recém-nascido
dos tecidos.

RNs de cesáreas apresentaram um risco


Avaliar os riscos 5 vezes maior de HPP do RN: 42 casos
Parto cesáreo
Revista para HPP do RN, versus 1 caso entre os de partos vagi-
e outros riscos
Brasileira confirmada por nais. Não foram observadas interações
ARAÚJO, para hiperten-
de Terapia ecocardiografia, entre tabagismo, paridade, hipertensão
O.R. et al. são pulmonar
Intensiva, associada a partos arterial materna e trabalho de parto
persistente do
2008 cesáreos e outros antes da cesárea e a HPP. Apgar no 1º
recém-nascido
fatores. minuto ≤7 e diabetes materno se rela-
cionaram a um risco aumentado.

Quantificação Neste estudo, pro-


das mani- curou-se quanti-
SOUSA, pulações em ficar as manipula- Concluiu-se que, por dia, ocorrem 45,
M.W.C.R; recém-nascidos ções diárias a que 42 manipulações, em 341min e 24s,
SILVA, pré-termo em ConScientiae os RNs pré-termo no total de 5h41min24s, restando para
W.C.R.; unidade de te- Saúde, 2008 são submetidos descanso 18min e 36s. Percebeu-se
ARAÚJO, rapia intensiva: em UTI, propor que os RNPTs são muito manipulados,
S.A.N. uma proposta um protocolo não havendo tempo para descanso.
de elaboração de intervenção
de protocolo mínima.

Apesar dos resultados animadores


obtidos com os novos tratamentos, é
Hipertensão preciso estabelecer doses seguras para
pulmonar Repositório Conhecer os aplicação no tratamento com RN.
MAGA- persistente do Aberto da diferentes tipos Doses extremamente reduzidas, pouco
LHÃES, S.; recém-nascido: Universidade de tratamento lucrativos resultados tão vulneráveis
REIS, A. da etiopatoge- do Porto, da HPP e seus a fatores imprevisíveis e necessidade
nia à terapêu- 2009 efeitos. de follow-up alargado são algumas das
tica condicionantes que não favorecem o
investimento financeiro por parte da in-
dústria farmacêutica nesta classe etária.

Os RNs que sobreviveram tinham


Conhecer as
Óxido nítrico maior idade gestacional clínica e mais
indicações do
inalatório no Revista peso ao nascimento. A dose inicial de
uso de NOi, dose
tratamento da Médica de NOi e a duração do tratamento foram
ABDALLAH, média utilizada e
hipertensão Minas maiores nos RNs que sobreviveram. A
V.O.S. et al. resposta ao tra-
pulmonar Gerais, idade de início do tratamento, a dose
tamento em RNs
persistente do 2012 máxima de NOi e o tempo de ventila-
internados em
recém-nascido ção mecânica não apresentaram dife-
UTI Neonatal.
renças entre os grupos.

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Quadro 1. Descrição dos artigos quanto ao autor, ano, revista e resultados (conclusão)

Autor Título Revista/Ano Objetivo Resultados

Avaliar a eficiên-
cia do tratamento
da hipertensão
Eficiencia del arterial pulmonar,
inicio com Am- iniciado com o O tratamento sequencial da HPP ini-
brisentan frente Bosentan ou Am- ciado com Ambrisentano, seguido de
Farmacia
VILLA, G. a Bosentan em brisentan, segui- inibidores fosfodiesterasa-5 prostanoi-
Hospitalaria,
et al. el tratamiento do de inibidores des, fornece resultados relevantes e cus-
2013
de lahiperten- fosfodiesterasa-5 tos mais baixos do que um tratamento
sión arterial prostanoides, a iniciado com Bosentan.
pulmonar partir da pers-
pectiva de custos
para o sistema de
saúde.

Abordar as carac-
Hipertensão
terísticas clínicas
pulmonar O óxido nítrico tem se provado efeti-
e os mecanismos
CABRAL, persistente Jornal de vo; recentemente, outros vasodilatado-
fisiopatológicos
J.E.B; neonatal: recen- Pediatria, res têm sido usados, mas ainda faltam
da síndrome,
BELIK, J. tes avanços na 2013 evidências clínicas para comprovar
assim como seu
fisiopatologia e seus benefícios no tratamento da HPP.
tratamento geral e
tratamento
específico.

Destacar o papel
da equipe de
Anais do É consenso entre os autores que a
Hipertensão enfermagem no
VI Salão de principal conduta da equipe de enfer-
pulmonar per- manejo do neo-
PAZ, I.; Ensino e de magem frente ao neonato com HPPN
sistente neona- nato com hiper-
HOOPE, Extensão da é a atenção quanto à monitoração
tal: a conduta tensão pulmonar
A.S.; MUZ- Universidade contínua da oxigenação e perfusão,
do enfermeiro persistente, elen-
ZI, M.C. Federal de avaliando-o continuamente, a fim de
nos cuidados de cando os princi-
Santa Cruz detectar sinais e sintomas de hipóxia e
enfermagem pais cuidados do
do Sul, 2015 possíveis respostas ao tratamento.
enfermeiro em
sua assistência.

Fonte: Elaborado pela autoras

Quanto ao tipo metodológico dos estudos, 10 fo- 03 enfermeiros e 01 farmacêutico. A maior parte
ram estudos quantitativos e 01 qualitativo, 07 das publicações ocorreu em revistas voltadas para
estudos focaram na avaliação do tratamento far- a pediatria, apenas 01 artigo foi em periódico de
macológico da HPP nos RNs, 01 para associação enfermagem. Quanto ao idioma das publicações,
do parto cesáreo com HPP, 01 na fisiopatogenia 09 em português e 01 em espanhol. Todos os es-
da doença, 01 nas manipulações diárias e 01 na tudos foram desenvolvidos em Unidades de Te-
assistência de enfermagem. Quanto aos profissio- rapia Intensiva Neonatal. O perfil das populações
nais que realizaram os estudos, foram 07 médicos, dos estudos eram RNs com hipertensão pulmonar

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persistente (HPP). Quanto à periodicidade dos ar- Os exames laboratoriais, como hemograma, bio-
tigos, 03 foram publicados em 2008, 02 publica- química, hemocultura e gasometria arterial, não
ções nos anos 2005 e 2013 e 01 nos anos de 2007, são específicos para HPP, bem como raios X de
2009, 2012 e 2015. tórax; eles podem estar alterados em outras pato-
logias pulmonares, como é o caso da Síndrome da
3.1. Epidemiologia Aspiração Meconial (SAM) e pneumonia (MA-
GALHÃES, 2009).
A prevalência da HPP em RN não está bem caracte-
rizada e, possivelmente, é subestimada devido à fa- Um exame diferencial na HPP é o ecocardiograma
lha na sua detecção quando associada à patologia de com doplerfluxometria, que permite avaliar a pre-
parênquima pulmonar (CABRAL; BELICK, 2013). sença de shunt ao nível do canal arterial, e forame
A HPP acomete, em especial, RN termo ou pós-ter- oval também confirma a ausência de anomalias
mo, porém pode ocorrer em prematuros com idade congênitas cardíacas (CABRAL; BELICK, 2013).
gestacional acima de 34 semanas (RIBEIRO; NAS- A história clínica, o exame físico e os fatores de
CIMENTO, 2005; RODRIGUES, 2008). risco suspeitos, adicionais ao ecocardiograma, em
geral, são suficientes para o diagnóstico de HPP
De acordo com Ribeiro e Nascimento (2005), esta (MAGALHÃES, 2009).
síndrome ocorre em, aproximadamente, 2% a 9%
dos RNs nascidos, admitidos em unidade de te-
3.3. Tratamento
rapia intensiva neonatal e em cerca de 1 a 5:1.000
nascidos vivos. Esta incidência pode chegar até 27 Cuidados gerais, como manutenção da temperatura
por cada 1.000 nascidos vivos por parto cesáreo corporal e correção de dis­túrbios hidroeletrolíticos
(ARAÚJO et al., 2008). e metabólicos, são medidas fun­damentais. Hipoxe-
mia, hipercapnia e acidose metabólica levam à va-
soconstricção pulmonar e devem ser prontamen­te
3.2. Diagnóstico e quadro clínico
corrigidas (CABRAL; BELICK, 2013).
O diagnóstico clínico da HPP em RN, assim como
de outras patologias que levam a um quadro de in- De acordo com Cabral e Belick (2013), os objetivos
suficiência respiratória aguda, não é fácil, poden- do tratamento visam manter a pressão arterial sis-
do confundir-se com outras doenças pulmonares têmica em níveis ade­quados, diminuir a resistên-
(RIBEIRO; NASCIMENTO, 2005). Deve haver cia vascular pulmonar, garantir liberação de oxi-
suspeita diagnóstica quando o nível de hipoxemia gênio para os tecidos e minimizar lesões induzidas
é desproporcional ao desconforto respiratório e às pelo oxigênio e pela ventilação.
alterações radiológicas pulmonares, pois RNs com Corroborando essa ideia, Magalhães (2009) afir-
HPP exibem labilidade de oxigenação e cianose ma que o tratamento tem como objetivo a melho-
progressiva nas primeiras horas de vida (CABRAL; ria dos sintomas e impedimento da progressão da
BELICK, 2013). A presença de gemidos, retracções entidade, evitando o uso de mais terapias, tempo
mínimas, taquipneia e hiperinsuflação torácica são de hospitalização e tratamentos mais extremos,
achados frequentes (MAGALHÃES, 2009). como o transplante pulmonar.

É necessário que se faça uma anamnese dirigida


3.3.1. Ventilação mecânica e sedação
(história do pré-parto e parto, feto ou RN) aliada
a um exame físico, exames laboratoriais, radioló- A ventilação pulmonar mecânica, que visa asse-
gicos e ecocardiograma (RIBEIRO; NASCIMEN- gurar a oxigenação adequada aos tecidos, é uma
TO, 2005; MAGALHÃES, 2009). das principais estratégias utilizadas no tratamen-

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to da HPP. Durante muito tempo, a hiperventila- jacentes, ali causando vasodi­latação pelo aumento
ção, com o objetivo de aumentar o pH sanguíneo, dos níveis de cGMP. NOi continua a se difundir e,
reverter o shunt ductal e induzir a vasodilatação no lúmen da artéria pulmonar, é rapidamente liga-
pulmonar, foi utilizada na ventilação pulmonar do à hemoglobina, restringindo seu efeito à circu-
convencional (EUGÊNIO; GEORGETTI, 2007). lação pulmonar, sem qualquer ação na circulação
sistêmica. NOi é, de preferência, distribuído para
Em concordância, Rodrigues (2008) afirma que, os segmentos ventilados dos pulmões com aumen-
além da hiperventilação, a ventilação de alta fre- to da perfusão nessas áreas. Isso resulta em me-
quência é uma das estratégias mais utilizadas no lhora da relação ventilação/per­fusão e diminuição
tratamento da HPPN. Araújo et al. (2008) aponta- do shunt intra-alveolar e melhora da oxigenação.
ram que 60,4% precisaram de ventilação mecânica Quando a resposta é positiva, a melhora da oxige-
invasiva por uma média de 4,8 dias e 44,1% rece- nação é evidente dentro de poucos minutos (CA-
beram óxido nítrico, em média, por 3,6 dias. BRAL; BELIK, 2013).

Uma vez diagnosticado o quadro de HPP, os pa- A dose inicial recomendada de NOi por inalação é
cientes foram submetidos a um regime de cuidados de 20 ppm e deve ser diminuída assim que possí-
sob manipulação mínima e receberam assistência vel até 5 ppm (RIBEIRO; NASCIMENTO, 2005).
ventilatória sob sedação e analgesia contínua com Além disso, as doses de NOi entre 15 e 30 ppm
Midazolam e Fentanil ou morfina para minimizar mostraram-se seguras, não ocasionando efeitos
os efeitos da estimulação ambiental, da dor e do colaterais (CABRAL; BELIK, 2013). O NOi em do-
desconforto inerentes ao tratamento (RIBEIRO; ses elevadas pode reagir com O2 e com superóxido
NASCIMENTO, 2005; EUGÊNIO; GEORGETTI, formando peroxinitito e metahemoglobina, que
2007). A agitação e dissincronia com o ventilador levam à toxicidade pulmonar (RIBEIRO; NASCI-
induzem a libertação de catecolaminas que vão MENTO, 2005; EUGÊNIO; GEORGETTI, 2007).
contribuir para a manutenção e/ou aumento da
RVP. Os opioides e o Fentanil podem ser usados 3.3.3. Outras drogas usadas no tratamento
da HPP
para compensar essas ações (MAGALHÃES, 2009).
Sildenafil é um vasodilatador pulmonar seletivo
3.3.2. Óxido nítrico inalatório (NOi) sem efeitos na pressão arterial sistêmica, poten-
cializando os efeitos do NOi quando administra-
O óxido nítrico (NOi), um vasodilatador pulmo-
do via oral ou endovenosa. É potente inibidor da
nar seletivo, foi considerado o método de trata-
enzima 5-fosfodiesterase, que é responsável pela
mento padrão-ouro capaz de promover a redução
conversão do GMPc em GMP. Com a inibição
da resistência vascular pulmonar nos neonatos dessa enzima, ocorre aumento da concentração de
com HPP grave, sendo indicado, sobretudo, nos GMPc nos pulmões, com consequente relaxamen-
casos em que o índice de oxigenação fosse maior to do músculo liso da parede vascular (BENTLIN
ou igual a 25 (EUGÊNIO; GEORGETT, 2007). O et al., 2005; MAGALHÃES, 2009).
NOi foi preconizado, principalmente, nos casos de
HPP cuja fisiopatologia de base era composta por A terapia combinada com NOi, análogos da PGI²
asfixia perinatal, síndrome da aspiração meco- e/ou antagonistas da endotelina-1 pode constituir
nial (SAM), síndrome do desconforto respiratório uma solução promissora para o controle da HPP
(SDR) e sepse (ABDALLAH et al., 2012). a longo prazo (MAGALHÃES, 2009). Para os pa-
cientes nos quais não foi possível reduzir a pressão
Quando administrado pela via inalatória, NOi al- média de vias aéreas após 48 horas de uso da Milri-
cança o espaço alveolar e se difunde para a mus- nona, administrou-se Sildenafil na dose de 2mg/kg
culatura lisa vascu­lar das artérias pulmonares ad- a cada seis horas (EUGÊNIO; GEORGETTI, 2007).

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Eugênio e Georgetti (2007) apontam o uso da Mil- tar deslocamento de tubo ou presença de secreções
rinona como eficiente vasodilatador pulmonar que possam dificultar a oxigenação.
para RNs que mantiveram a necessidade de FiO²
Monitorização cardíaca, pressão arterial e satu­
maior ou igual a 0,8 sob assistência ventilatória. A
ração de oxigênio, de preferência pré e pós-duc-
dose utilizada foi 0,75mcg/kg/min após uma dose
tais contínuas, são essenciais. Crianças com HPP
de ataque de 50mcg/kg, associando ao uso da do-
são extremamente lábeis e instáveis. Desse modo,
pamina para manutenção da pressão arterial em
a manipulação deve ser mínima (Cabral; Belik,
níveis adequados.
2013). Para isso, a equipe deve manter o ambiente
Magalhães (2009) afirma que a Milrinona melho- silencioso, evitando agitação e aumento do estresse
ra o enchimento passivo ventricular esquerdo e, no RN e é indicado que se realizem, ao máximo,
por consequência, aumenta o débito cardíaco e a cuidados em apenas um momento, reduzindo as-
estabilidade da PAS, apresentando tempo médio sim a estimulação ambiental desse neonato (PAZ;
de uso de 6 dias. O esquema de retirada da medi- HOOPE; MUZZI, 2015).
cação consistiu na redução de 25% da dose a cada
O neonato deve ser acomodado em um ambiente
12 horas, após alcançar PaO² acima de 70mmHg
termorregulado, sedado e submetido a um regi-
em uso de FiO² igual a 0,5 (EUGÊNIO; GEOR-
me de cuidados sob manipulação mínima. Com
GETTI, 2007).
muita frequência, sedativos e opioides são utiliza-
Outro fármaco recentemente utilizado é o Bosen- dos para o conforto desses pacientes (EUGÊNIO;
tan, um antagonista não espe­cífico dos receptores GEORGETTI, 2007).
A e B muito pouco utilizado no tratamento de RN.
O profissional de enfermagem deve estar atento
Villa et al. (2013) apontam que a terapia iniciada
para a manutenção da temperatura corporal do
com Bosentan apresenta custo relativamente mais
RN, evitando hipotermia ou hipertermia, que po-
alto para o sistema de saúde do que o Ambrisentan,
dem aumentar a acidose, o consumo de oxigênio e
sendo que não foram encontradas clinicamente di-
levar à hipoxemia (PAZ; HOOPE; MUZZI, 2015).
ferenças na resposta ao tratamento. Devido à fal-
ta de estudos sobre este fármaco na HPP em RN, Devido à condição clínica e aos procedimentos in-
faz-se necessária uma maior investigação para sua vasivos aos quais são submetidos, RNs com HPP
recomendação com tratamento de escolha. possuem alguns diagnósticos de enfermagem que
devem ser assistidos todos os dias. Desta forma, o
3.5. Cuidados de enfermagem objetivo da equipe é estabelecer uma sistematiza-
ção da assistência de enfermagem, de modo que o
O diagnóstico de hipertensão pulmonar persis-
conforto do paciente seja atingido. Os diagnósti-
tente deve ser considerado em um neonato que
cos de enfermagem são levantados de acordo com
evolui com cianose progressiva nas primeiras 12
o perfil do paciente como um todo, cada um na
a 24 horas de vida, algumas vezes, após um perío-
sua individualidade, e assim deve ser a sistemati-
do de oxigenação adequada, e/ou que demonstra
zação da assistência, individual e integral.
labilidade na oxigenação (EUGÊNIO; GEORGET-
TI, 2007). Rodrigues (2008), Paz, Hoope e Muzzi Dentre todos os diagnósticos de enfermagem, o que
(2015) ratificam que a principal conduta da equipe podemos citar como comum a todos os pacientes
de enfermagem para o neonato com HPP é a aten- com essa patologia é o de intolerância à atividade,
ção quanto à monitoração contínua da oxigenação assim, cabe à equipe de enfermagem, bem como à
e perfusão, dos sinais vitais no exame físico, mas equipe multiprofissional, proporcionar um ambien-
priorizando a ausculta pulmonar, a fim de detec- te tranquilo, sem ruídos, diminuir a luz do ambien-

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te e outros fatores estressores. Outro cuidado im- sa síndrome. Dentre os RNs com HPP, cerca de 2%
portante está ligado ao uso dos cateteres, pois RNs a 9% são internados em UTI Neonatal.
com HPP fazem uso de drogas vasoativas por cate-
As modalidades de tratamento visam à melhoria
ter venoso central: como necessitam de sedoanalge-
dos sintomas e a reduzir a progressão da doença.
sia, a sondagem vesical de demora é bem comum.
A ventilação mecânica age mantendo a adequada
Esses e outros procedimentos invasivos aumentam
oxigenação dos tecidos; o óxido nítrico promove
o risco de infecção e cabe ao enfermeiro desenvol-
a redução da resistência vascular pulmonar; o Sil-
ver os cuidados para diminuir esses riscos.
denafil é um vasodilatador pulmonar seletivo; a
A equipe de enfermagem, principalmente o enfer- Milrinona melhora o enchimento passivo ventri-
meiro, deve possuir conhecimento técnico, cien- cular esquerdo, aumentando o débito cardíaco e a
tífico e pensamento crítico para um cuidado de estabilidade da PAS. Dentre todos os tratamentos,
excelência com os RNs portadores de HPP, pois a o óxido nítrico foi considerado o método de trata-
assistência desses pacientes requer compromisso, mento padrão-ouro capaz de promover a redução
competência e habilidade. da resistência vascular pulmonar nos neonatos
com HPP grave, podendo ser aliado aos demais.

O acompanhamento contínuo e a avaliação, bem


4. Conclusão como o compromisso, a competência e a habilidade
A HPPN é uma patologia grave e que ainda traz da equipe de enfermagem são fundamentais para
muitos desafios. Seu diagnóstico deve ser o mais o cuidado dos RNs nesse período tão crítico de sua
breve possível para uma melhor eficácia no trata- vida, sendo necessários conhecimento técnico e
mento e maior sobrevida dos RNs portadores des- científico e capacitação da equipe como um todo.

NEWBORN TO NURSING CARE WITH PERSISTENT PULMONARY HYPERTENSION

Abstract
The Neonatal Persistent Pulmonary Hypertension (PPHN) is a severe disease characterized by
increased pressure in the pulmonary artery to systemic abovelevels, affects mainly the newborn
to term or post-term. Treatment of these patients aims to maintain systemic pressure in adequate
levels, decrease pulmonary vascular resistance, ensure delivery of oxygen to tissues and minimi-
ze damage induced by air and ventilation, requiring increased attention from the nursing staff.
This is an integrative review, conducted from 2000 to 2015, which aims to analyze the nursing
care given to newborns with persistent pulmonary hypertension assisted in neonatal intensive
care units. We selected 10 articles. Data were analyzed and divided into 04 categories: Epidemio-
logy, Diagnosis and clinical course, treatment and nursing care. The results indicate that this
syndrome occurs in about 2% to 9% of infants born alive. Clinical diagnosis is difficult due to
acute respiratory failure resembling with other lung diseases. The nursing team has a fundamen-
tal role in the prevention and intervention of PPHN and must have knowledge of pathology and
necessary assistance to ensure the survival of newborns.

Keywords: Pulmonary hypertension. Neonatal. Nursing.

Referências cém-nascido. Revista Médica de Minas Gerais, Minas Ge-


ABDALLAH, V.O. S. et al. Óxido nítrico inalatório no rais, v. 22, n. 4, p. 374-379, 2012. Disponível em: <http://
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BENEFÍCIO DA MANUTENÇÃO DE PORT-A-CATH
EM PACIENTES DE SEGUIMENTO CLÍNICO
ACOMPANHADOS NO AMBULATÓRIO
DE ONCOLOGIA

Aline Ribeiro Ávila*

Resumo
A manutenção do port-a-cath, que é um acesso venoso central totalmente implantado, se dá
pelo preenchimento da luz do cateter com solução salina combinada com heparina. Essa prática
mantém o benefício da manutenção e permeabilidade, bem como a prevenção de obstruções no
dispositivo. O presente trabalho trata de uma revisão bibliográfica narrativa, com o objetivo de
analisar a importância do manejo suficiente, técnica, periodicidade para manutenção e pervie-
dade do port-a-cath em pacientes oncológicos durante o seguimento clínico. Apesar da restrita
abordagem acerca da temática, é possível confirmar o benefício através desta revisão associada à
prática, porém constata-se a necessidade de novas análises, que enfatizem e estabeleçam proto-
colos e outros benefícios baseados nesta conduta assistencial.

Palavras-chave: Acesso venoso central. Cateter totalmente implantável. Lavagem e bloqueio.


Quimioterapia e seguimento clínico.

1. Introdução de células. Quando começam em tecidos epiteliais,


como pele ou mucosas, são denominados carcino-
Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de
mas e se o ponto de partida se der nos tecidos con-
100 doenças que têm em comum o crescimento de-
juntivos, como osso, músculo ou cartilagem, serão
sordenado de células, que invadem tecidos e órgãos,
chamados sarcomas (INCA, 2016).
dividindo-se rapidamente. Estas células tendem a
ser muito agressivas e incontroláveis, determinan- Neste cenário, a estimativa para o Brasil, segundo
do a formação de tumores malignos, que podem a Organização Mundial de Saúde (OMS), no biê-
espalhar-se para outras regiões do corpo. As causas nio 2016-2017, aponta a ocorrência de cerca de 600
de câncer são variadas, podendo ser externas ou mil casos novos de câncer. Excetuando-se o câncer
internas ao organismo, estando inter-relacionadas. de pele não melanoma (aproximadamente 180 mil
Os tumores podem ter início em diferentes tipos casos novos), ocorrerão cerca de 420 mil casos no-

* Enfermeira. Especialista. Enfermagem em Oncologia pela Atualiza Cursos. E-mail: avila.aline@me.com

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vos de câncer. O perfil epidemiológico observado Durante o tratamento oncológico e seu manejo,
assemelha-se ao da América Latina e do Caribe, existem diversos tipos de cuidados indispensáveis
onde os cânceres de próstata (61 mil) em homens que deverão ser ofertados a esse indivíduo, dentre
e mama (58 mil) em mulheres serão os mais fre- eles, um dos mais importantes é um acesso venoso
quentes. Sem contar os casos de câncer de pele não confiável, entendendo as complicações que podem
melanoma, os tipos mais frequentes em homens acompanhar um evento de extravasamento de uma
serão próstata (28,6%), pulmão (8,1%), intestino droga vesicante ou irritante. Constantemente, tais
(7,8%), estômago (6,0%) e cavidade oral (5,2%). pacientes apresentam rede venosa fragilizada de-
Nas mulheres, os cânceres de mama (28,1%), in- vido à utilização do acesso para realizar quimio-
testino (8,6%), colo do útero (7,9%), pulmão (5,3%) terapia, soroterapia, hidratação, infusão de hemo-
e estômago (3,7%) figurarão entre os principais. derivados, administração de medicações e coleta
de sangue. O avanço da tecnologia na área médica
Para as patologias supramencionadas, será ofereci- oferece a esses pacientes a inserção de um cateter
do o tratamento quimioterápico standard. O mes- venoso central totalmente implantável (CVC-TI),
mo é realizado em uma unidade ambulatorial que, com o objetivo de não os expor a intercorrências
por sua vez, se configura um ambiente sombrio, adicionais, percebendo a fragilidade venosa e os
permeando o imaginário dos pacientes oncológi- riscos que poderão acometer o paciente.
cos. A fantasia do sofrimento durante o tratamento,
O cateter totalmente implantável ou, como é co-
com sintomas de vômitos e dor, remete às angústias
nhecido, o port, é um dispositivo de borracha sili-
que acompanham o paciente oncológico antes de
conizada cuja extremidade distal se acopla a uma
iniciar o tratamento. Assim, para uma assistência
câmara puncionável, que deve permanecer sob a
completa e humanizada, a enfermeira necessita de
pele, embutida em uma loja no tecido subcutâneo
conhecimento científico dos protocolos de quimio-
da região torácica sobre uma protuberância óssea
terapia e sensibilidade para identificar as necessi-
(BONASSA; GATO, 2012).
dades de cada um, além de proporcionar ambiente
acolhedor e seguro para uma assistência sem danos Lopes (1993) descreve que o cateter implantado é
físicos e emocionais ao paciente e família. posicionado na junção da veia cava superior com o
átrio direito, ficando alojado no subcutâneo da re-
Os ambulatórios especializados são ambientes onde gião torácica através de uma pequena incisão de 3
as pessoas com câncer são tratadas com quimiote- a 4 cm e um local com menos tecido adiposo para
rápicos. Esse tratamento é extremamente tóxico, facilitar as punções.
proporcionando períodos longos de sofrimento. O
conhecimento técnico-científico nesse momento é Bruzi e Mendes (2011) acrescentam que a veia sub-
de grande importância, assim como um ambiente clávia é a primeira escolha quando se indica um
acesso venoso central, pois é o sítio com menor
acolhedor, com a presença solidária de profissio-
risco de trombose e de infecção relacionada ao ca-
nais capazes de despertar na pessoa a ser cuidada
teter quando comparado às veias femorais e jugu-
confiança e segurança. Recursos como uma co-
lar interna.
municação clara e compreensiva, amadurecimen-
to profissional, sensibilidade e compaixão, e uma Dentre os muitos benefícios que justificam o suces-
boa relação interpessoal entre os integrantes do so do uso do port-a-cath, um deles é que, se uti-
ambiente ambulatorial, transmitem tranquilidade lizado corretamente, amplia-se o tempo de vida
à pessoa em tratamento e à sua família, constituin- útil do dispositivo, sendo que seu septo de silicone
do laços de amizades e gratidão. comportará até 2.000 punções. A opção por sua

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implantação no momento do diagnóstico ou no de- reduzir o risco de infecção na circulação sanguí-


correr do tratamento oncológico é imprescindível nea relacionada ao cateter.
por parte da equipe assistencial. Outra justificati-
A heparinização consiste na utilização de um
va se deve também à segurança no momento da
agente farmacológico anticoagulante para ma-
infusão da quimioterapia e minimização do risco
nutenção do acesso venoso. Existem 03 passos
de extravasamento, flebite química, dentre outras
para a realização do procedimento, injetando,
complicações. Algumas vertentes definem a esco-
primeiramente, 10 ml de SF0, 9% no lúmen para
lha do implante de port-a-cath, dentre elas, estão:
limpá-lo de perfusões anteriores ou sangue. Em
rede venosa ruim, esclerose venosa, desidratação e
seguida, uma monodose de heparina sódica para
desnutrição. Fica, então, restrita à equipe médica
preencher o lúmen com anticoagulante e, por fim,
juntamente com a equipe de enfermagem assisten-
clampa-se o lúmen e verifica-se a válvula antirre-
cial, a tomada de decisão concernente ao encami-
torno para prevenir infecção e refluxo (BANHA
nhamento para o implante.
et al., 2009).
Pensando nisso, entende-se que o conhecimento
Cada manipulação deve ser precedida de antissep-
por parte da equipe de enfermagem irá auxiliar o
sia adequada e o cateter deve receber solução de
alcance do objetivo, que é prestar uma assistência
heparina exatamente no volume indicado no dis-
de qualidade, e não somente isso, durante a reali-
positivo, isso previne a formação de trombos no
zação da punção do port-a-cath, o enfermeiro de-
lúmen e peri-cateter, reduzindo a possibilidade de
verá fazer o procedimento sem quebra da técnica,
fixação bacteriana e posterior infecção que, quan-
com domínio e segurança, evitando infecção, que
do acomete cateter de longa permanência, consti-
é a complicação mais grave associada aos cateteres.
tui uma complicação de grande morbimortalida-
Esses dispositivos necessitam de manuseio por de, com riscos e agravos adicionais em pacientes
profissionais experientes, porém sua manipulação muitas vezes debilitados ou imunossuprimidos,
não é caracterizada como atividade privativa do como os que estão em uso de quimioterápicos
enfermeiro pelo Conselho Federal de Enfermagem (NEVES JÚNIOR et al., 2009).
(COFEN). No entanto, o Código de Ética de Enfer-
Lavagem e bloqueio são medidas preventivas para
magem delega ao enfermeiro os cuidados de maior
evitar obstrução trombótica, que é causada por um
complexidade técnica, portanto, pode-se inferir ao
coágulo intraluminal ou um trombo, além disso, o
enfermeiro a responsabilidade do manejo do CVC-
fato da fibrina e outros depósitos serem impedidos
-TI (MIRANDA et al., 2008).
de aderir à parede do cateter intraluminal é supre-
Além do manejo, cabe ao enfermeiro todos os cui- mo (GOOSSENS, 2015).
dados prestados durante a manutenção deste aces-
Banha (2009) esclarece que o caso da obstru-
so, procedimento este conhecido como heparini-
ção do cateter por formação de coágulos surgirá
zação de port-a-cath.
como consequência da ativação da coagulação.
De acordo com Goossens (2015), a lavagem do Neste ponto, as causas principais são: o contato
cateter é definida como uma injeção manual de do sangue com uma superfície estranha, como é o
cloreto de sódio 0,9% ou também conhecida como material do cateter, a perda de endotélio vascular
solução salina, para limpar o dispositivo. Acres- como dano secundário à implantação do próprio
centa ainda que a lavagem e o bloqueio adequa- cateter, os fármacos administrados, os episódios
dos podem também eliminar potenciais ninhos de infecção do cateter ou a estase venosa no lú-
de microrganismos e, consequentemente, também men do CVC.

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Ele complementa que, durante o procedimento, visão narrativa utiliza-se “da aquisição e atualiza-
deve-se verificar se o lúmen do cateter reflui. Se ção de conhecimento sobre um determinado tema
refluir, o enfermeiro deverá avançar com os pro- em curto período de tempo” [...] “para descrever
cedimentos planejados, mas, se não refluir, verifi- o estado da arte de um assunto específico, sob o
ca-se se está permeável à pressão positiva. Se não ponto de vista teórico ou contextual”. Constitui-se,
estiver permeável, comunica-se ao médico e o pa- basicamente, “da análise da literatura, da interpre-
ciente deverá realizar raios X para confirmar o po- tação e análise crítica pessoal do pesquisador”. No
sicionamento do cateter. Se o lúmen se encontrar entanto, esse tipo de revisão não possui metodo-
permeável, tenta-se que reflua através de várias logia capaz de responder quantitativamente a de-
manobras, pedindo ao paciente para mudar de de- terminados questionamentos, por não viabilizar
cúbito ou para mudar de posição, a fim de realizar procedimentos ou critérios usados na avaliação e
inspirações e expirações profundas, para tossir ou seleção dos trabalhos.
para realizar a manobra de valsalva. Simultanea-
Para proceder a eventuais buscas, utilizaram-se os
mente às manobras, tenta-se que o lúmen reflua,
descritores: acesso venoso central, cateter total-
se evoluir com êxito, avança-se com os procedi-
mente implantável, lavagem e bloqueio, quimiote-
mentos, porém, se não refluir, o médico deverá ser
rapia, seguimento clínico.
contatado para outras condutas.

O cronograma da manutenção trimestral aplicada


para os pacientes de seguimento clínico é uma te-
3. Discussão e análise dos resultados
mática pouco discutida e ainda sem unanimidade Na área da oncologia, a ativação do port-a-cath,
nos protocolos institucionais. Na busca por infor- bem como a supervisão da infusão de quimioterá-
mações para permitir um resultado seguro e eficaz picos, faz parte da atribuição do enfermeiro. Du-
no manejo e na perviedade desse acesso, primou-se rante o procedimento e manutenção deste acesso
pela manutenção com bloqueio de solução salina venoso central, será utilizada uma agulha percutâ-
e heparina a cada três meses, entendendo que a nea, especializada, do tipo hubber, com anatomia
lavagem do cateter é o fator mais importante na reta ou curva, com o objetivo de manter o bom
prevenção do mau funcionamento, oclusão e per- funcionamento e evitar perda precoce do dispo-
da precoce desse acesso. sitivo devido ao mau uso. Este procedimento e sua
manipulação são de exclusividade do enfermeiro
Assim, esta pesquisa visa analisar a importância especializado, que realizará este procedimento tri-
do manejo suficiente, técnica e periodicidade para mestralmente por meio de solução salina e hepari-
manutenção do port-a-cath em pacientes oncoló- na na proporção de 1:9 ml, e infundindo 6 ml sob
gicos durante o seguimento clínico. pressão positiva através da técnica de turbilhona-
mento, a fim de evitar acúmulos e depósitos de
Verificou-se também a necessidade de novos es-
medicações intraluminal ou fibrina.
tudos-controle que ampliem as discussões sobre
a temática, trazendo atualizações que beneficiem A utilização de um fluxo pulsátil — técnica tam-
e qualifiquem a assistência prestada, bem como a bém conhecida como turbilhonamento, — faz
institucionalização deste protocolo. parte da recomendação para uma lavagem eficaz
desse acesso. A técnica empurrar / pausar, pulsátil
ou turbulenta, tem o objetivo de aumentar o efeito
2. Metodologia da lavagem do cateter, evitar obstruções e evidên-
Este estudo se configura uma revisão bibliográfica cias trombóticas, além de impedir também a di-
narrativa. De acordo com Rother (2007, p. 9), a re- minuição do tempo de vida útil do cateter.

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Goossens (2015) ainda acrescenta que, de acor- Na busca de explicações para essa tendência, no-
do com a Física, não apenas o tipo de fluxo, mas tou-se a escassez de material na literatura rela-
também o intervalo de tempo entre duas pequenas cionada a esta temática, e que a mesma é pouco
injeções tornam-se determinantes para uma lava- discutida, não apresentando unanimidade em tal
gem eficaz. procedimento.

No decorrer desta revisão, não foi possível identi- Evidencia-se, portanto, a necessidade de institu-
ficar práticas e rotinas, demonstradas através da cionalizar esse procedimento, entendendo que o
pesquisa de protocolos institucionais, que apon- mesmo traz consigo cuidados intrínsecos que mi-
tem para uma conduta linear acerca da periodici- nimizam e/ou erradicam as principais complica-
dade, ficando, assim, a critério de cada instituição. ções relacionadas a esses dispositivos.

Bonassa e Gato (2012) confirmam isso quando


relatam que ainda não existe uma definição exata 4. Conclusão
em literatura quanto à dose e aprazamento padrão
Diante da revisão bibliográfica realizada, foi pos-
das heparinizações. Eles afirmam que são neces-
sível observar, a partir da análise dos artigos bem
sários mais estudos controlados para demonstrar
como da revisão de literatura, a eficácia obtida
o melhor esquema de heparinização que garanta a
através da heparinização utilizando a técnica
manutenção da permeabilidade e a prevenção de
pulsátil ou turbilhonamento durante o período
fenômenos tromboembólicos, sem aumentar os
de seguimento clínico. Tal procedimento propor-
riscos de anticoagulação excessiva, índices de in-
ciona benefício relacionado à vida útil do AVC-
fecção e aumento de custos.
-TI, contribuindo para a prevenção de evidências
Apesar da pouca abordagem acerca do cronogra- trombóticas, obstruções através de coágulos e
ma, observou-se que o calendário trimestral da fibrinas, dentre outras complicações no acesso
manutenção do port-a-cath acumula inúmeros venoso central.
benefícios, como manutenção da perviedade do
Com relação à periodicidade, é importante ressal-
acesso e diminuição das notificações de infecções,
tar que ainda não está previamente estabelecida na
obstruções, trombose, acotovelamento, rompi-
literatura, portanto, fazem-se necessários mais es-
mento e necessidade de retirada precoce do acesso
tudos que registrem o benefício desta prática com
central.
o objetivo de estabelecer tal cronograma.
Vasques (2008) esclarece que a obstrução é carac-
Mesmo diante da carência de abordagem na lite-
terizada como uma das mais importantes com-
ratura acerca da temática, nota-se claramente que
plicações que acontecem em decorrência da for-
a manutenção trimestral do port-a-cath é uma
mação de trombos ou fibrinas no acesso. Logo, a
ação fundamental para uma perfeita perviedade
principal conduta para prevenir os casos de obs-
do acesso e prevenção de complicações, devendo
trução do dispositivo é a lavagem com solução sa-
tal procedimento ser incentivado através de pro-
lina seguida da heparinização.
tocolos institucionais com o intuito de promover
Em relação ao paciente, o uso do port-a-cath não posteriores publicações. A utilização da técnica
acarreta dificuldades no cuidado e manuseio, tan- de turbilhonamento também deverá ser abordada
to pelo paciente como por seus familiares. Não li- em maior escala, observando-se o seu benefício
mita as atividades diárias, oferecendo comodidade e cooperação para evitar complicações previstas
e liberdade aos pacientes. no acesso.

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BENEFIT OF PORT-A-CATH MAINTENANCE IN CLINICAL FOLLOW-UP PATIENTS ACCOMPA-


NIED IN THE ONCOLOGY AMBULATORY

Abstract
The maintenance of port-a-cath, which is a venous access centers fully deployed (AVC-TI), by
filling in the light of the catheter with saline and later heparinization. This practice brings the
benefit of keeping the permeability, as well as prevent obstructions on the device. The present
work it is a literature review narrative of qualitative approach, with the purpose of analyzing
the importance of sufficient technical management, maintenance intervals and patency rates
of port-a-cath in cancer patients during the follow-up. Despite the restricted approach about
the subject, you can confirm the benefit through the review of the literature associated with the
practice, but without cancelling the need for further analyses, that emphasize and provide other
benefits based on this schedule.
Keywords: Central venous access. Chemotherapy, clinical follow-up. Fully implantable catheter.
Washing and blocking.

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A HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS NO CONTROLE
DA INFECÇÃO HOSPITALAR NA UNIDADE DE
TERAPIA INTENSIVA

Andressa Bittencourt Tarso*


Camila Carvalho Delgado**
Dayane Almeida Brito Alves***
Fernanda Carvalho Fontes****
Paula Vitória Abreu Santos*****

Resumo
A lavagem das mãos é uma ação simples e importante para prevenir a infecção hospitalar. Obje-
tivo geral: ressaltar que a lavagem das mãos contribui bastante para a prevenção das infecções na
Unidade de Terapia Intensiva. Objetivos específicos: identificar a contribuição da lavagem das
mãos na prevenção das infecções na Unidade de Terapia Intensiva; descrever o papel do enfer-
meiro e suas contribuições na Unidade de Terapia Intensiva através da lavagem das mãos. Me-
todologia: revisão de literatura narrativa. Resultados e discussões: as infecções relacionadas ao
ambiente hospitalar e a assistência prestada é um grande problema de saúde pública. O tempo de
hospitalização acima do esperado por conta de uma infecção hospitalar causa sofrimento para o
paciente e sua família. O PCIH funciona através da CCIH, que tem como funções: implementar,
elaborar, manter e avaliar os programas de controle de infecção. A lavagem das mãos realizada de
maneira correta é uma técnica de extrema importância, pois reduz significativamente as ocorrên-
cias de infecções hospitalares. É de grande importância que a enfermagem esteja no processo do
controle das infecções hospitalares, pois seus profissionais têm contato direto com o paciente por
tempo mais prolongado.

Palavras-chave: Enfermagem. Infecção. Lavagem das mãos. Prevenção. UTI.

* Enfermeira Assistencialista. Especialista em Enfermagem em UTI Adulto pela Atualiza Cursos. E-mail:
andressatarso@gmail.com
** Enfermeira Assistencialista. Especialista em Enfermagem em UTI Adulto pela Atualiza Cursos. E-mail:
camiladelgado@gmail.com
*** Enfermeira Assistencialista. Especialista em Enfermagem em UTI Adulto pela Atualiza Cursos. E-mail:
dayenf01@hotmail.com
**** Enfermeira Assistencialista. Especialista em Enfermagem em UTI Adulto pela Atualiza Cursos. E-mail:
fcarvalhofontes@gmail.com
***** Enfermeira Assistencialista. Especialista em Enfermagem em UTI Adulto pela Atualiza Cursos.
E-mail: paulavabreu@gmail.com

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1. Introdução tre os profissionais de saúde, é importante reforçar


seus benefícios, pois, além de envolver técnica e
A lavagem das mãos é uma ação simples e impor-
conhecimento sobre as vantagens de higienização
tante para prevenir a infecção hospitalar. Estudos
das mãos, também inclui comprometimento ético
apontam que as mãos dos profissionais são con-
dos profissionais de saúde com os seus pacientes.
sideradas reservatório de patógenos capazes de
tornarem-se grandes vilões para o paciente e para Logo, este trabalho tem como objetivo geral res-
os trabalhadores, além de acarretar sofrimentos e saltar que a lavagem das mãos tem grande con-
gastos para o sistema de saúde. Apesar de todas as tribuição na prevenção das infecções na Unidade
evidências mostrarem a importância das mãos na de Terapia Intensiva e, como objetivos específicos,
cadeia de transmissão das infecções hospitalares identificar a contribuição da lavagem das mãos na
e os efeitos dos procedimentos de higienização na prevenção das infecções na Unidade de Terapia
diminuição destas taxas, muitos profissionais têm Intensiva; descrever o papel do enfermeiro e suas
uma atitude passiva diante do problema (SAN- contribuições na Unidade de Terapia Intensiva
TOS; GONÇALVES, 2009). através da lavagem das mãos.

Todos os profissionais que atuam em serviços de


saúde, mantendo contato direto e indireto com os 2. Metodologia
pacientes, manipulam medicamentos, alimentos
Este estudo consiste em uma revisão de literatura
e materiais estéreis ou contaminados, por isso,
narrativa. E tem como objetivo proporcionar mais
devem higienizar as mãos com a técnica correta,
familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo
utilizando: água e sabão, preparação alcoólica ou
mais explícito.
antisséptica (BRASIL, 2007).
A revisão de literatura foi desenvolvida a partir
As infecções relacionadas a assistências de saúde
de material cujo teor foi encontrado através de
causam grandes impactos, como o prolongamen-
pesquisa eletrônica. Foram visitados artigos cien-
to do tempo de internação, aumento da resistên-
tíficos publicados nas bibliotecas virtuais, sele-
cia bacteriana, aumento de gastos desnecessários
cionadas nas seguintes bases de dados: Scientific
para o sistema de saúde, pacientes e família, além
Electronic Library Online (SciELO), Lilacs, BVS,
de elevar os índices de mortalidade (OLIVEIRA;
site de busca Google Acadêmico, além do site do
MARUYAMA, 2008).
Ministério da Saúde. Utilizaram-se na busca os
A escolha desse tema se deu pela consciência do descritores: Centro cirúrgico. Enfermagem. Hi-
seguinte problema: Qual é a contribuição que a la- gienização. Lavagem das mãos. Saúde.
vagem das mãos exerce no controle da infecção na
Os critérios de inclusão envolveram artigos cien-
Unidade de Terapia Intensiva?
tíficos relacionados ao tema, publicados em perió-
A importância que a higienização das mãos tem dicos nacionais escritos na língua portuguesa. A
para a saúde dos profissionais e pacientes submeti- periodicidade dos achados está entre 2006 e 2016.
dos ao ambiente hospitalar está diretamente ligada
Foram excluídos todos os artigos que não condi-
à atuação da enfermagem e como esta capacita sua
zem primeiramente com o tema, fora do período
equipe para o exercício da profissão. Sua contri-
definido e com a pergunta de investigação.
buição é fundamental para o controle das infec-
ções nas casas de saúde através da técnica correta A análise do conteúdo foi realizada considerando
de higiene das mãos, uma vez que os enfermeiros os objetivos definidos para o estudo: foi observada
estão em contato frequente com os pacientes. Mes- a cronologia das publicações analisadas, verifica-
mo sendo um assunto de grande familiaridade en- da a convergência e/ou divergência com os dados

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da literatura publicada, buscando apreender das de 2006 a 2016. Foram coletados 12 estudos que
mesmas os objetivos propostos, a partir da leitura tratam sobre a temática proposta, porém, devido
e análise. aos critérios de inclusão, selecionaram-se apenas
6 publicações. Foram contempladas as principais
características dos artigos na Tabela 1. A análise
3. Resultados e discussões foi realizada de forma temática, para poder sub-
A análise dos artigos selecionados sobre a temá- sidiar a construção da discussão, obtendo um pa-
tica “Higienização das mãos” se deu no período norama geral.

Tabela 1. Distribuição dos artigos selecionados e analisados sobre a temática “Higienização das mãos” no
período de 2006 a 2016

Artigo/Título Ano Autor

A percepção dos enfermeiros acerca da Comissão CARDOSO, Renata da Silva;


2006
de Infecção Hospitalar: Desafios e Perspectivas. SILVA, Maria Anice da.

Adesão à Técnica de Lavagem das Mãos em Unida-


2009 MARTINEZ et al.
de de Terapia Intensiva Neonatal.

A infecção hospitalar e suas implicações para o


2007 PEREIRA et al.
cuidar da enfermagem.

Controle da infecção hospitalar: histórico e papel OLIVEIRA, Rosângela de;


2010
do Estado. MARUYAMA, Sônia Ayako Tao.

Higienização das mãos no controle das infecções


2012 SANTOS, Adélia Aparecida dos.
em serviços de saúde.

Higienização das mãos como profilaxia das infec-


2010 DANTAS et al.
ções hospitalares: uma revisão.

Fonte: Elaborado pelas autoras com base nos dados bibliográficos

3.1. Infecções hospitalares missão. A interrupção desta cadeia pode ser


realizada por meio de medidas reconhecida-
As infecções hospitalares (IH) são caracterizadas
mente eficazes, como a lavagem das mãos.
como aquelas que são adquiridas depois do inter-
namento de um paciente, mas também podem ser Em destaque, observam-se medidas preventivas
adquiridas após a alta, quando esta for relacionada referentes à higienização das mãos, isso porque
à internação ou aos procedimentos hospitalares
elas são o principal vetor na infecção hospitalar,
prestados (PEREIRA, 2007).
pois estão em contato com a microbiota de cada
Para Pereira (2007): paciente acamado. Esses microrganismos que se
Algumas infecções hospitalares são evitáveis e instalam nas mãos dos profissionais de saúde e
outras, não. Infecções preveníveis são aquelas que podem ser levados de um paciente para o ou-
em que se pode interferir na cadeia de trans- tro são conhecidos como flora transitória.

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Para Rosa (2009), alguns fatores levam à predis- correlacionados também os transtornos de âmbito
posição para infecção, como estresse, o emocional financeiro e o sofrimento familiar.
abalado, comorbidades, a alta patogenicidade dos
microrganismos, ou seja, o seu poder de atacar o 3.2. O controle da infecção hospitalar
hospedeiro; outro fator importante é a baixa imu-
Com a publicação das Portarias nos 196/83, 930/92
nidade, que leva o paciente a um desequilíbrio
e 2.616/96 pelo Ministério da Saúde, o assunto
orgânico. O contato do paciente com algum tipo
infecção hospitalar ganha um foco maior. Essas
de germe (bactéria, vírus e fungos) nem sempre é
portarias regulamentam e normatizam medidas
determinante para o surgimento da infecção, mas,
quando há desequilíbrio entre o poder de defesa relacionadas à prevenção e controle das infecções
do paciente e o poder de ataque do germe, a infec- hospitalares (BRASIL, 2007).
ção se estabelece. O programa de controle de infecção hospitalar
As infecções relacionadas ao ambiente hospita- (PCIH), criado pela Portaria nº 2616, de 12 de maio
lar e à assistência prestada constituem um grave de 1998, pelo Ministério da Saúde, é um conjunto
problema de saúde pública, que acomete grande de ações sistematicamente organizadas visando à
número de pacientes, levando a um prolongamen- máxima redução das infecções hospitalares e de
to no tempo de internação, consequentemente, suas gravidades. Para que o PCIH funcione corre-
aumentando os custos e os riscos de mortalidade tamente, os hospitais devem construir uma comis-
(MARTINEZ, 2009). são de controle das infecções hospitalares (CCIH).
A CCIH foi implementada pela Portaria do Minis-
O tempo de hospitalização acima do esperado por tério da Saúde nº 196, de 24 de junho de 1983, que
conta de uma infecção hospitalar causa sofrimen- a tornou obrigatória em todos os hospitais do País.
to para o paciente e sua família, levando a um des- A CCIH é um órgão de instituição e de execução
gaste psicológico muito grande, por outro lado, as de ações relacionadas ao controle de infecções
infecções hospitalares diminuem o fluxo de reve- hospitalares e deve ser composta por profissionais
zamento de pacientes nos leitos, aumentando, as- de saúde de nível superior. O presidente da CCIH
sim, a demanda e diminuindo a qualidade de vida, é indicado pela direção do hospital, os membros
tanto dos que esperam por uma vaga quanto dos
serão profissionais como médicos, enfermeiros e
que ainda estão internados (DANTAS, 2010).
farmacêuticos, e também profissionais de labora-
Os microrganismos podem ser transmitidos por tório de microbiologia e de setor administrativo
contato direto ou indireto. O contato direto se dá (BRASIL, 2007).
quando são transmitidos de pessoa para pessoa, e
Dentre as competências da CCIH de um hospital,
o contato indireto ocorre através de objetos con-
algumas são: implementar, elaborar, manter e ava-
taminados. Nas atividades rotineiras hospitalares,
liar os programas de controle de infecção, de acor-
as mãos do profissional de saúde estão em cons-
do com a necessidade do hospital, e realizar ações
tante contato com o ambiente hospitalar onde a
voltadas para, por exemplo, o sistema de vigilância
contaminação é muito propícia (SANTOS, 2012).
epidemiológica das infecções hospitalares, super-
Existe concordância entre os autores supracitados visão das equipes responsáveis pela CCIH, capa-
em relação a importantes aspectos: a baixa imu- citação de seus funcionários, realizar investigação
nidade desses pacientes que, muitas vezes, se en- epidemiológica, entre outras. Resumidamente, a
contram com tempo de internação prolongado, CCIH é órgão sério e responsável pela prevenção
diminuindo sua resistência imunológica. Ficam e controle da infecção hospitalar, já que esse é um

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assunto pouco levado a sério pelos profissionais de Quando as mãos não estão nitidamente sujas, os
saúde (BRASIL, 2007). profissionais de saúde podem ser encorajados a
usar agentes antissépticos à base de álcool, sem
Com referência às portarias citadas linhas atrás,
água, para uma descontaminação manual mais
estão legalizadas as competências da PCIH, sis- rotineira, desde que não apresentem reações alér-
tematizando e criando comissões compostas por gicas. As soluções alcoólicas têm ação superior ao
profissionais graduados na área de saúde que te- sabão e a soluções antimicrobianas usadas na lava-
nham contato com a assistência direta ao paciente. gem das mãos, pois agem mais rapidamente contra
Essas comissões agem em parceria com a educação bactérias e vírus. Isso, contudo, não dispensa o uso
continuada, promovendo ações educativas para a de água e sabão na lavagem das mãos no início e
capacitação dos funcionários, a fim de conscienti- ao término de cada procedimento. As instalações
zá-los quanto a sua importância e reduzir as taxas para lavagem das mãos devem estar no local mais
de infecções. acessível possível, porque a proximidade leva ao
seu maior uso (BRUNNER; SUDDARTH, 2006,
3.3. Higienização das mãos p. 2419).

Para entendermos a importância da lavagem das As mãos são o principal condutor na infecção hos-
mãos no controle da infecção hospitalar, é impor- pitalar, pois elas estão em contato com a micro-
tante conhecer um pouco da microbiota normal biota de cada paciente. A lavagem das mãos, de
da pele. maneira correta, é uma técnica pouco utilizada
pelos profissionais de saúde, seja pela correria da
A pele é o órgão mais extenso do nosso organis- rotina ou até mesmo por julgar pouco importante.
mo, funciona como proteção contra agentes ex- Com o presente estudo, foi possível perceber que a
ternos de qualquer natureza e também regula a lavagem das mãos realizada de maneira correta é
saída de água e eletrólitos do nosso corpo. Devido uma técnica de extrema importância, uma vez que
a sua grande extensão, a pele é colonizada por di- reduz significativamente as ocorrências de infec-
versos microrganismos, portanto, a sua microbio- ções hospitalares.
ta é classificada como residente ou transitória. A
microbiota residente possui microrganismos que De acordo com Santos (2012):
colonizam camadas mais profundas da pele, por A higienização das mãos é considerada a ação
isso, é pouco provável que ocorra uma infecção de isolada mais importante no controle de in-
contato com esses patógenos. A microbiota tran- fecção no serviço de saúde. Porém, a falta de
sitória é facilmente adquirida pelos profissionais adesão dos profissionais de saúde a esta prática
da área de saúde que entram em contato direto é uma realidade que vem sendo constatada ao
com pacientes infectados e objetos contaminados. longo dos anos e tem sido objeto de estudo em
diversas partes do mundo.
Essa microbiota é facilmente removida através da
técnica correta de lavagem das mãos, em que se Apesar de todas as evidências apontarem para a
utilizam apenas água e sabão. Caso essa técnica grande importância da higienização das mãos, a
não seja rigorosamente cumprida, esses micror- falta de adesão a essa prática ainda é muito presen-
ganismos podem ser transmitidos de um paciente te na rotina das unidades de saúde. Estudos com-
para o outro por meio das mãos dos profissionais provam que a adesão à lavagem das mãos é maior
de saúde e, assim, ocasionar uma infecção, princi- na classe de enfermeiros, se for comparada com
palmente em se tratando de pacientes imunode- outros profissionais. As condições de controle de
primidos (BRASIL, 2014). infecção nos hospitais devem promover algumas

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estratégias para aumentar a adesão à prática de A depender da instituição, podem-se utilizar os


lavagem das mãos, como: educação dos profissio- produtos abordados para a higienização, como:
nais de saúde focada na importância e no aspecto sabonete comum e os antissépticos, álcool, clo-
dessa prática, utilização de cartazes e lembretes, rexidina, iodo/iodóforos e triclosan (IDEM, 2014).
mudança na estrutura para facilitar o acesso aos
lavabos e aos produtos que serão utilizados (MAR- O sabonete comum, sem associação de antissép-
TINEZ, 2009). tico, funciona apenas como conservante, ele pode
conter agentes antimicrobianos ou os contém em
A lavagem/desinfecção das mãos reduz a quan- baixas concentrações. Encontra-se em diversas
tidade da flora normal benigna e as bactérias formas: preparações líquidas (mais comuns), bar-
transitórias, diminuindo o risco de transferên- ras e espuma. Através de sua ação mecânica, po-
cia para outros pacientes. Todos os ambientes
dem ser removidas as sujeiras, microbiotas e subs-
de cuidados de saúde devem possuir progra-
tâncias orgânicas da pele (IDEM, 2014).
mas para avaliar a adesão à desinfecção das
mãos por todos aqueles que cuidam dos pacien- Para as mãos ficarem limpas, é necessário o uso
tes. (BRUNNER; SUDDARTH, 2006, p. 2247). do sabonete líquido, a fim de remover a micro-
biota transitória. Dessa forma, a pessoa pode de-
As mãos dos profissionais de saúde são os prin-
senvolver as atividades práticas mais comuns nos
cipais instrumentos de trabalho, pois eles estão
em constante contato com diversos pacientes en- serviços de saúde. Contudo, a simples higieniza-
fermos e, com frequência, portadores de doenças ção depende da quantidade de tempo gasto no
infectocontagiosas. Isso mostra que a lavagem das procedimento de lavagem, visando garantir uma
mãos deveria ser realizada antes e após cada pro- boa qualidade de higienização. Na maioria das
cedimento com o mesmo paciente e também entre instituições, o produto mais utilizado é o sabonete
diferentes pacientes, pois poderá haver contami- líquido, tipo refil, que tem menor risco de conta-
nação de um para outro. Outro aspecto importan- minação do produto. Mas, para melhorar a forma
te é sua baixa imunidade, já que, muitas vezes, se de executar o procedimento, é necessário que o
encontram com tempo de internação prolongado, produto agrade os usuários, isto é, suave, enxague
diminuindo, assim, sua resistência imunológica. fácil e que tenha bom cheiro (IDEM, 2014).
Se a lavagem das mãos não for realizada em cada
Em relação aos agentes antissépticos, os mesmos
procedimento feito, os profissionais de saúde aca-
devem ter ação antimicrobiana mais rápida, não
bam expondo o paciente a um risco aumentado
sendo nem alergênico ou irritante à pele, tam-
em desenvolver quadro de infecção hospitalar.
bém sendo agradável, suave e de custo-efetividade
(IDEM, 2014).
3.4. Produtos usados na higienização das
mãos O álcool também tem que possuir atividade anti-
microbiana e ser miscível em água, assim como o
A transmissão de microrganismos e as incidências
etanol, n-propanol e o isopropanol, que são pro-
de infecções que causam morbimortalidade nos
dutos higienizadores das mãos. O etanol, agente
serviços de saúde podem ser reduzidas com a prá-
antimicrobiano, é o mais utilizado nas instituições
tica da higienização das mãos (BRASIL, 2007).
hospitalares, devido ao fato de os produtos alcoó-
Previne-se a transmissão de microrganismos atra- licos também serem mais efetivos do que os sabo-
vés das mãos pela forma adequada de uso do agente netes comuns ou sabonetes associados a antissépti-
tópico (procedimento), o agente tópico e sua eficá- cos. Nos serviços de saúde, os produtos alcoólicos
cia para combater os microrganismos, e o momen- estão disponíveis nas formas de solução líquida,
to indicado para o seu uso (ANVISA, 2014). gel (mais usado) e espuma (IDEM, 2014).

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Entre os antissépticos disponíveis, a clorexidina é retamente. Além dessa capacitação, o enfermeiro


considerada de nível intermediário, comparada deve também supervisionar a prática dessas ações
com os álcoois, e também pela sua forte afinidade prestadas por outros profissionais (BRUNNER;
com os tecidos. Nos serviços de saúde, a clorexidina SUDDARTH, 2006).
é segura e a absorção pela pele é mínima, tornando
As infecções iatrogênicas são aquelas que resultam
o produto raro em relação às alergias (IDEM, 2014).
de procedimentos terapêuticos exercidos pelos
Os iodóforos — PVPI (Polivinilpirrolidona iodo), profissionais de saúde. Os enfermeiros devem pos-
antimicrobiano, é a junção do iodo mais um polí- suir senso crítico para avaliar os riscos de infecção
mero carreador, ou seja, após o uso, é reduzido o para a condição individualizada de cada paciente e
ressecamento da pele. Os iodóforos causam mais escolher a melhor conduta referente aos cuidados
dermatite de contato irritativa do que outras so- a serem prestados para minimizar os riscos e pos-
luções antissépticas, porém causam menos irrita- sibilidades de infecções (PERRY, 2010).
ção de pele e menos reações alérgicas que o iodo
A enfermeira deve avaliar os mecanismos de
(IDEM, 2014).
defesa do cliente, susceptibilidade e conheci-
O triclosan, ou éter, incolor, pouco solúvel em mento das infecções. Uma revisão da história
água, mas solúvel em álcool, tem ação antimicro- da doença com o cliente e a família pode re-
velar a exposição a uma doença transmissível.
biana e bacteriostática, com efeito residual na pele,
Uma revisão completa da condição clínica do
como a clorexidina, sendo que sua velocidade de
cliente pode detectar sinais e sintomas de in-
ação é intermediária (IDEM, 2014).
fecção (PERRY, 2010, p. 712).

3.5. O papel do enfermeiro no controle Atualmente, podemos observar com frequência a


das infecções hospitalares dentro da prática em saúde mais voltada para ações curati-
Unidade de Terapia Intensiva vas, sendo que a prevenção fica em segundo plano.
O profissional de enfermagem tem papel impor-
Para um rigoroso e efetivo controle das infecções
tante nesse processo da prevenção das infecções
hospitalares, é importante que a iniciativa seja to-
hospitalares, pois é esse profissional que capacita
mada por toda a equipe de saúde. É de grande valor
e coordena sua equipe, podendo, assim, estabele-
que a enfermagem esteja no processo do controle
cer a lavagem correta das mãos como uma prática
das infecções hospitalares, pois é um profissional
obrigatória na rotina de trabalho dos profissionais
que tem contato direto com o paciente por tempo
de saúde, usando a educação em saúde voltada
mais prolongado (CARDOSO; SILVA, 2006).
para o controle da infecção hospitalar através da
O enfermeiro de uma comissão de controle de in- higienização das mãos.
fecção hospitalar irá planejar as ações para con-
Os profissionais de enfermagem têm um papel
trole de infecções, coletar dados, identificar riscos
essencial na adesão e na inserção dessa prática na
de infecção para funcionários, pacientes e equipa-
rotina de trabalho. O enfermeiro deve supervi-
mentos, deve realizar relatórios periodicamente,
sionar a adesão à prática de lavagem das mãos e
atuará na avaliação de materiais e sua qualidade,
a realização correta de sua técnica. Ele pode uti-
para investigação de surtos e infecções, e avalia-
lizar a educação em saúde, promovendo palestras
rá o custo-benefício das ações que serão prestadas
de conscientização, e também reforçar ensinando
para a CCIH. O enfermeiro também faz diagnós-
a maneira correta de se lavar as mãos.
tico e notifica as infecções, além de criar procedi-
mentos para a prevenção das mesmas e capacitar a É papel do profissional de enfermagem diagnos-
equipe para a execução de tais procedimentos cor- ticar e notificar as infecções, planejando e execu-

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tando ações para futuras prevenções, e também O papel da lavagem das mãos no controle das in-
desenvolver ações de caráter curativo, capacitando fecções hospitalares é único e exclusivo de pre-
sua equipe para executar tais ações. venção. Essa prática deve ser aderida à rotina de
trabalho dos profissionais de saúde e também ser
realizada com consciência, responsabilidade e
4. Conclusão com frequência para que tal prática seja, de fato,
Com a realização do presente estudo, foi possível eficiente.
concluir que a lavagem das mãos é um instrumen-
Foi possível concluir que o enfermeiro, por ser su-
to de extrema importância no controle de infec-
pervisor da sua equipe e por estar em maior tempo
ções hospitalares preveníveis, que são aquelas em
em contato com o paciente, é um profissional de
que podem ou não se instalar no hospedeiro, ou
grande importância na prevenção das infecções
seja, elas podem não acontecer se houver um con-
hospitalares através da lavagem das mãos, pois
trole inicial desse evento infeccioso.
é esse profissional que supervisiona e treina sua
A higienização correta das mãos diminui signifi- equipe para implementação da lavagem das mãos
cativamente a flora transitória das mãos dos pro- na rotina de trabalho, e a execução correta dessa
fissionais de saúde, mostrando a sua importância técnica, usando também a conscientização para
no controle e prevenção das infecções hospitalares. aderir a essa prática.

THE HAND HYGIENE IN CONTROL OF INFECTION HOSPITAL IN INTENSIVE CARE UNIT

Abstract
Hand washing is a simple and important action in the prevention of nosocomial infection. Ge-
neral objective: emphasize that handwashing has great contribution in preventing infections
in Intensive Care Unit. Specific objectives: identify handwashing’s contribution in preventing
infections in Intensive Care Unit; describe the role of nurses and their contributions to the In-
tensive Care Unit by handwashing. Methodology: narrative literature review. Results and dis-
cussions: Infections related to hospital and provided assistance is a major public health problem.
The hospitalization time than expected due to a hospital infection causes suffering to the patient
and his family. The PCIH works by CCIH, whose functions: implement, establish, maintain and
evaluate the infection control programs. Handwashing done correctly is an extremely important
technique because it significantly reduces the occurrence of hospital infections. It is very impor-
tant that nursing is in the process control of hospital infections, it is a professional who has direct
contact with the patient for a longer.

Keywords: Handwashing. ICU. Infection. Nursing. Prevention.

Referências controle de infecções hospitalares. Diário Oficial [da]


República Federativa do Brasil, Brasília, 1998.
ANVISA. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA
SANITÁRIA. Segurança do Paciente: higienização das BRUNNER; SUDDARTH. Tratado de Enfermagem Mé-
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gan, 2006, v. 4.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 2.616, de 12
de março de 1998. Dispõe sobre a obrigatoriedade da CARDOSO, Renata da Silva; SILVA, Maria Anice da. A
manutenção, pelos hospitais do País, de programa de percepção dos enfermeiros acerca da comissão de infec-

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ção hospitalar: desafios e perspectivas. Texto Contexto OLIVEIRA, Rosângela de; MARUYAMA, Sônia Ayako
Enferm., Florianópolis, v. 13, 2006. Tao. Controle da infecção hospitalar: histórico e papel
do Estado. Rev. Eletr. Enf., Goiás, v. 10, n. 3, p. 775-83,
DANTAS, Rodrigo Assis Neves et al. Higienização das 2008.
mãos como profilaxia das infecções hospitalares: uma
Revisão. Revista Científica Internacional, ano 3, n. 13 PEREIRA, Milca Severino et al. A infecção hospitalar
maio/jun. 2010. e suas implicações para o cuidar da enfermagem. Texto
Contexto Enferm., v. 14, n. 2, p. 250-257, 2007.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesqui-
sa. São Paulo: Atlas, 1991. PERRY, Potter. Fundamentos de Enfermagem. 7. ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.
LEITE, Francisco Tarciso. Metodologia científica: mé-
todos e técnica de pesquisa. São Paulo: Ideias e Letras, ROSA, Maria Tereza Leguthe. Manual de instrumenta-
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