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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E POLÍTICAS

JACQUELINE DA SILVA CERQUEIRA ( 20182361076)

POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA NO GOVERNO BOLSONARO:


Análise das Relações Sino-Brasileiras em meio a Pandemia de Covid-19

RIO DE JANEIRO
2021
JACQUELINE DA SILVA CERQUEIRA ( 20182361076)

POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA NO GOVERNO BOLSONARO:


Análise das Relações Sino-Brasileiras em meio a Pandemia de Covid-19

Trabalho apresentado como requisito parcial


para avaliação na disciplina de “Política
Externa Brasileira”, ministrada pelo professor
André Souza.

RIO DE JANEIRO
2021

1
SUMÁRIO

1 Introdução…... ........................................................................................................3
2 Breve resumo da procedência da parceria comercial Brasil e China…............4
3 A sinofobia no perfil bolsonarista….....................................................................6
3.1 A campanha presidencial de 2018 e o início do governo Bolsonaro……….......7
4 O advento da pandemia de Covid- 19.................................................................10
5 CONCLUSÃO.........................................................................................................14
REFERÊNCIAS......................................................................................................15

2
1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho almeja observar, em sentido amplo, qual a importância


no cenário econômico que a parceria sino-brasileira proporciona ao Brasil, em
detrimento da movimentação que colocou a dependência brasileira em relação aos
EUA em segundo plano.

Outrossim, se busca dimensionar o impacto que o comportamento sinofóbico


do atual presidente Jair Bolsonaro (2019-2022) pode provocar nas relações
comerciais do Brasil com a China, destacando inconvenientes diplomáticos
recentes; além de considerar o advento da pandemia de Covid-19, a corrida das
vacinas e a alta demanda por insumos hospitalares e EPI’s.

Neste trabalho, uma breve análise da importância comercial trazida ao Brasil


através das parcerias com a China será feita com foco nos últimos 15 anos, já que
se trata do período onde a China passou a compor mais ativamente o cenário
mundial e que fez com que as tais parcerias se tornassem mais expressivas sob o
ponto de vista econômico.

Cabe esclarecer que uma análise exaustiva acerca de toda a história de


parcerias diplomáticas e comerciais entre Brasil e China precisaria considerar
períodos anteriores à ditadura brasileira, por exemplo, onde as relações
sino-brasileiras foram suspensas pelos militares. Além disso, seria de suma
importância destacar detalhes sobre a parceria entre ambos os países que resultou
no lançamento do primeiro satélite, o CHINESE BRAZILIAN EARTH RESOURCES
(CBERS-1), em 1999, que possibilitou, e ainda possibilita1, uma maior autonomia
nacional no levantamento dos recursos naturais brasileiros, além de ter rompido
com o monopólio dos norte-americanos e europeus neste ramo de mapeamento.

Nesse sentido, levando em conta que as relações sino-brasileiras não se


resumem e nem devem se resumir a números, é concedida data vênia para nos

1
O satélite sino-brasileiro CBERS-4 foi lançado em 2014 e completou 6 anos em órbita no final de
2020, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Disponível em:
<http://www.inpe.br/noticias/noticia.php?Cod_Noticia=5624>. Acesso em : 25/nov/2021.

3
apegarmos a análise de cenário mais atual na esfera econômica, com a finalidade
de trazer uma noção ampla sobre os benefícios que a tal parceria concede ao
Brasil, a fim de afrontar intelectualmente quaisquer discursos preconceituosos e
carentes de razão, como os por vezes propagados pelo atual Presidente da
República Federativa do Brasil.

2 BREVE RESUMO DA PROCEDÊNCIA DA PARCERIA COMERCIAL ENTRE


BRASIL E CHINA

As relações comerciais sino-brasileiras passaram a se tornar mais relevantes


em termos econômicos a partir do ingresso da China na Organização Mundial do
Comércio (OMC), em 2001, quando o país oriental focou no seu desenvolvimento
industrial e se valeu do avanço do globalismo para introduzir seus produtos em
países pelo mundo.

De lá pra cá, diversos foram os acordos e cooperações realizadas entre


Brasil e China a fim de desenhar um cenário economicamente estratégico, onde o
Brasil conseguia ver a alta nas exportações de seus produtos para a China, assim
como este último garantia insumos e investimentos que o Brasil precisava, formando
assim uma parceria comercial muito forte e benéfica. Além disso, passou a existir,
entre os dois países, um interesse político que intentava somar forças para a
atuação conjunta em organizações internacionais.

Nessa parceria, o Brasil passou a exportar majoritariamente produtos


primários, enquanto importava produtos industrializados e tecnológicos, estes
últimos, evidentemente, com maior valor agregado. Tendo em vista a alta no preço
de commodities agrícolas e minerais e a grande demanda da China por esses
produtos primários, o Brasil obteve superávits mormente positivos, com o enfoque
na produção agrícola e extrativista, por exemplo.

De acordo com o que concluiu Costa (2015), é necessário frisar que


normalmente o interesse chinês em recursos naturais vem acompanhado pelo
investimento em infraestrutura (rodovias, ferrovias, portos) para o escoamento da

4
produção, já que este escoamento está diretamente condicionado à existência de
infraestrutura e logística de transportes adequada.

Ainda segundo Costa (2015), em análise geral, se resta evidenciado que


houve uma “reprimarização” da pauta exportadora brasileira em decorrência da
perda de participação da indústria, demonstrada pela queda das exportações de
manufaturas, em favor do aumento da participação da agricultura e da indústria
extrativista; o autor destaca, ainda, que esta reprimarização da pauta exportadora
torna o país mais dependente dos preços externos, bem como mais suscetível aos
efeitos negativos de um possível choque de preços.

Uma das consequência negativas de tal desequilíbrio em relação à origem de


produtos exportados e importados é a baixa procura por mão de obra qualificada, o
que encarece o mercado de trabalho de cargos com maior salário. Por outro lado, a
China se especializa na produção tecnológica, o que faz com que a população
chinesa tenha mais possibilidades de empregos com mais altos níveis salariais nas
áreas tecnológicas e científicas.

De todo modo, os benefícios da parceria ainda se sobressaem a possíveis


consequências negativas, já que atualmente a China é o principal destino das
exportações brasileiras, e tal parceria tem propiciado, nos últimos dez anos, saldos
positivos para o Brasil na balança comercial entre os dois países.

No gráfico abaixo, o balanço de exportações e importações entre Brasil e


China, entre os anos 2009 e 2018, em bilhões de dólares, registra o superávit na
economia brasileira; vejamos:

5
Fonte: MDIC - elaborado por Scot Consultoria

Desde 2009 a China é o principal parceiro comercial do Brasil, e muito


embora existam críticas em relação a essa parceria, nenhuma delas é o bastante
para que se possa desqualificar os ganhos obtidos, isso sem contar os proveitos
culturais, educacionais e turísticos que a tal parceria estabelece.

3 A SINOFOBIA NO PERFIL BOLSONARISTA

Desde quando era deputado, o atual presidente Jair Bolsonaro já fazia


declarações machistas, homofóbicas, xenofóbicas, racistas e intolerantes a
diferenças culturais e até mesmo religiosas.

Além disso, toda a família Bolsonaro possuia uma ideologia declaradamente


de direita, capitalista e norte-americanizada, tendo como referência governista o
ex-presidente dos EUA, Donald Trump (2017 - 2020). Nesse sentido, qualquer país
que adotasse o sistema político socialista ou comunista seria automaticamente alvo
de ataque e repulsa por parte do clã Bolsonaro, muito embora a diplomacia
tradicional brasileira se comporte de maneira a não interferir em assuntos
domésticos de outros Estados.

Vale constar que durante o seu governo, Trump iniciou uma quebra de braço
comercial com a China que foi chamada por muitos jornalistas e estudiosos como
“Nova Guerra Fria”. As duas potências trocaram ameaças no cenário diplomático,

6
assim como trocaram retaliações na esfera econômica, através da implantação de
tarifas e impostos sobre as exportações de produtos importantes para os referidos
países, por exemplo.

Assim, levando em conta a postura bolsonarista possuir caráter bastante


intransigente, e ideologicamente aproximado de figuras autoritárias, como é o
exemplo de Trump, não tardou para que a família se manifestasse contra as
relações de parceria entre Brasil e China, gerando desconfortos diplomáticos não
vistos desde a restauração da democracia no Brasil.

Em vista disso, como se não bastasse todos os adjetivos impetrados às


declarações de Bolsonaro no início deste tópico 1, deveremos ainda incluir a
sinofobia como traço complementar, levando em conta que mesmo antes do
advento da Covid-19, o que intensificou a aversão bolsonarista face a China, o atual
presidente já agia de maneira inadequada, constrangedora e racista quanto ao
sistema políticos chinês e até mesmo quanto ao corpo físico dos orientais2.

As declarações sinofóbicas passaram a acontecer com mais frequência a


partir do início de sua campanha presidencial, primeiro porque anteriormente a sua
atuação política se figurava mais em assuntos domésticos, e segundo porque, com
a possibilidade de se tornar presidente do Brasil, Bolsonaro planejou condutas para
consolidar sua base eleitoral em pilares alinhados aos EUA, que já estavam em “pé
de guerra” com a China, como citado anteriormente.

3.1 A CAMPANHA PRESIDENCIAL DE 2018 E O INÍCIO DO GOVERNO


BOLSONARO

Durante a campanha presidencial, o ainda deputado federal Jair Bolsonaro


cumpriu agendas eleitoreiras através da realização de viagens, dentro e fora do

2
Bolsonaro faz piada com asiático e possível eleitor, reiterando-a em outras situações em que esteja
presente figura asiática. Disponível em:
<https://extra.globo.com/noticias/brasil/bolsonaro-faz-piada-com-oriental-tudo-pequenininho-ai-veja-vi
deo-rv1-1-23668287.html> e
<https://www.poder360.com.br/governo/em-programa-de-tv-bolsonaro-faz-piada-homofobica-e-sobre-
asiaticos/>; Acessos em: 29/set/2021.

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Brasil, e da participação em eventos junto a organizações e entidades,
especialmente privadas, para consolidar sua base eleitoral.

Em fevereiro de 2018, o então candidato à presidência Jair Bolsonaro viajou


para a Taiwan, junto de seus filhos parlamentares e do, à época, deputado federal
Ônyx Lorenzoni (DEM). Frisa-se que a ilha Taiwan é considerada pelo governo
chinês como parte de seu território que se encontra dominado por rebeldes,
contrários ao governo comunista chinês. Na referida viagem, Bolsonaro chegou a se
reunir com membros do governo taiwanês, o que, segundo a embaixada chinesa,
atacou o princípio de “Uma Só China”, que se trata de consenso amplo na
comunidade internacional e no congresso brasileiro, o que por derradeiro afronta a
soberania e a integridade territorial da China.

Tal viagem resultou em uma nota de indignação assinada pela Embaixada da


República Popular da China e destinada a Executiva Nacional do Democratas
(DEM), publicada no perfil do twitter de Cesar Maia, atual vereador do Rio de
Janeiro pelo referido partido e pai de Rodrigo Maia, que à época era pré-candidato à
presidência, e também filiado ao DEM. Além disso, a pauta política erguida pelo
governo bolsonarista em relação ao reconhecimento de Taiwan como “povo amigo”
contaminou seu eleitorado, que passou a defender tais movimentações carentes de
raciocínio lógico.

O jornal estatal chinês China Daily publicou um editorial no mesmo dia em


que Bolsonaro se elegeu presidente do Brasil, em 28 de outubro de 2018, fazendo
uma crítica a comportamentos do novo líder político brasileiro, vejamos:

Bolsonaro é retratado por alguns como o "Trump Tropical", um direitista que


não apenas endossa a agenda nacionalista do presidente dos Estados
Unidos Donald Trump, mas pode na verdade copiar uma página do manual
deste último. Ele prometeu evitar instituições internacionais multilaterais em
favor de acordos bilaterais e prometeu transferir a embaixada brasileira em
Israel para Jerusalém. Além disso, Bolsonaro não parecia nada amigável
com a China durante a campanha. Ele retratou a China como um predador
que busca dominar setores-chave da economia brasileira. [...]
Ainda assim, acalentamos a sincera esperança de que, quando assumir a
liderança da oitava maior economia do mundo, Bolsonaro olhe de forma
objetiva e racional para o estado das relações China-Brasil. [...]
Os suprimentos brasileiros em massa, principalmente grãos e minerais, não
só ajudaram a alimentar o rápido crescimento da China, mas também

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apoiaram o rápido crescimento do Brasil. O despejo da China, que
Bolsonaro certa vez descreveu como um parceiro excepcional, pode servir
a algum propósito político específico. Mas o custo econômico pode ser
pesado para a economia brasileira, que acaba de emergir de sua pior
recessão da história. [...]
Embora Bolsonaro possa ter imitado o presidente dos EUA ao ser franco e
ultrajante para capturar a imaginação dos eleitores, não há razão para ele
copiar as políticas comerciais de Trump - como muitos de seus apoiadores
apontaram.

Já em junho de 2019, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, cancelou reunião


bilateral, com o presidente chinês, que integrava a agenda brasileira no G-20, na
cidade de Osaka, no Japão, sob a alegação de atraso de 20 minutos de Xi Jinping
para recebê-lo, o que supostamente iria interferir na perda da decolagem e em
complicações para “fazer o fechamento” das contas do hotel onde a comitiva
presidencial estava hospedada. O motivo para cancelar a reunião bilateral foi
considerado fútil, já que o encontro se tratava de uma das agendas mais
importantes para o Brasil na cúpula do G-20.

Como tal proximidade a Taiwan em detrimento do relacionamento com a


China era insustentável, já em outubro de 2019, o presidente Bolsonaro viajou à
China e se reuniu oficialmente com o presidente chinês Xi Jinping, em Pequim, no
Grande Palácio do Povo, onde fez declarações expressamente avessas a todas
aquelas ofensivas anteriores, para surpresa de sua base eleitoral. No encontro
foram assinados diversos acordos e memorandos de entendimentos nas áreas de
política, ciência e tecnologia e educação, economia e comércio, energia e
agricultura; além disso, Bolsonaro confirmou que o Brasil isentará turistas chineses
da necessidade de visto para ingresso no país.

Ao ser questionado por jornalistas sobre a pressão que tem sofrido por
parte de seus eleitores para dar explicações sobre o fato de viajar para um
país comunista, Bolsonaro afirmou que a nação é “capitalista”. Já em
relação às críticas feitas anteriormente contra a China sobre o comércio, o
mandatário se recusou a falar e ressaltou que “não veio [a Pequim] para
falar de questão política”. (Revista “ISTO É”, 2019)

Além disso, Bolsonaro se comprometeu com Xi Jinping a reconhecer a


integridade territorial chinesa, aquela de amplo consenso na esfera internacional,
afirmando, ainda, que quando “passou” por Taiwan, ele era apenas um parlamentar

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e não houve no seu entender nenhum atrito. Bolsonaro ainda convidou estatais
chinesas a participar do leilão do pré-sal e conversou sobre a possibilidade de
exportar etanol para a China, tendo em vista o interesse deste último.

Já em novembro de 2019, passado menos de um mês da visita oficial de


Bolsonaro a Pequim, chegou a data agendada para a 11ª reunião da Cúpula dos
BRICS, cujo Brasil foi anfitrião. Na ocasião, os presidentes da Rússia, Índia, China e
África do Sul vieram ao Brasil e se reuniram no Itamaraty para cumprimento da
agenda do agrupamento de economias emergentes. Entretanto, antes da reunião da
cúpula, Bolsonaro se encontrou com Xi Jinping, onde novos atos de cooperação
foram assinados em um cenário amigável, como quando do último encontro entre os
presidentes, no mês anterior, sendo certo que o chefe do governo brasileiro não
exitou em declarar que “a China cada vez mais faz parte do futuro do Brasil”.

O que se restou subentendido, é que o presidente Jair Bolsonaro passou a


impor certo pragmatismo, certamente aconselhado por membros menos radicais
que compõem o seu governo, ao observar tecnicamente os riscos de uma ruptura e
a magnitude comercial que a parceria sino-brasileira sustenta, através da análise
lógica da tal relação bilateral que nos rendeu um superávit de quase 30 bilhões de
dólares apenas no ano de 2018.

4 O ADVENTO DA PANDEMIA DE COVID-19

O primeiro caso da doença foi notificado em 31 de dezembro de 2019, em


Wuhan, na China. Segundo estudo publicado pela OMS, o vírus teve origem natural,
provavelmente sendo passado de um morcego para um ser humano, diretamente ou
através de um intermediário, sendo certo que as pesquisas continuarão sendo
realizadas até o total esclarecimento sobre a origem do vírus. Em 11 de março de
2020 a OMS declarou a pandemia do novo coronavírus.

Duas semanas depois, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do


presidente, usou seu perfil do twitter para desferir ofensas e acusações ao governo
chinês por conta do vírus. Em seu post, Eduardo afirma que “a culpa é da China e

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liberdade seria a solução”. O embaixador da China resolveu responder às
acusações do parlamentar, também através do twitter, à priori, com o seguinte:

“As suas palavras são extremamente irresponsáveis e nos soam familiares.


Não deixam de ser uma imitação dos seus queridos amigos. Ao voltar de
Miami, contraiu, infelizmente, vírus mental, que está infectando as
amizades entre os nossos povos” (Yang Wanming, Embaixador da China no
Brasil - 2020)

A referência a Miami diz respeito ao fato de Eduardo Bolsonaro ter


participado da comitiva que viajou aos EUA, e se encontrou com o então presidente
Trump, algumas semanas antes.

O embaixador chinês também exigiu um pedido de desculpas ao povo


daquele país, além de anunciar que iria manifestar a indignação junto ao Itamaraty e
à Câmara dos Deputados, marcando os perfis do presidente da Câmara, Rodrigo
Maia, e do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo para garantir a ciência.
Uma nota também foi publicada na mesma rede social.

Enquanto o presidente da Câmara de Deputados prontamente tenha pedido


desculpas a China por conta das acusações do deputado federal Eduardo
Bolsonaro, o MRE simplesmente inflamou a crise diplomática virtual, usando a
mesma rede social para repreender o embaixador chinês, criticando sua reação,
encarada como desproporcional, em face do post do filho do presidente da república
do Brasil.

‘ Com intuito de demonstrar respeito e solidariedade ao povo chinês, o Senado


Federal enviou uma carta ao presidente da China, pedindo desculpas pelo ocorrido
e deixando claro o entendimento de que “todos, indistintamente, devemos estar
juntos em um único e definitivo combate”. No dia seguinte, o causador da confusão,
Eduardo Bolsonaro, declinou de sua postura inicial, alegando que não tinha a
pretensão de ofender o povo chinês ou de ferir o bom relacionamento existente
entre os nossos países.

Ao mesmo tempo, ativistas e políticos bolsonaristas passaram a adotar o


termo “vírus chinês”, difundido inicialmente por Trump, para se referir ao coronavírus

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de forma pejorativa, racista e sinofóbica. Em contrapartida, segundo o professor
Oliver Stuenkel (FGV), autoridades como a Ministra da Agricultura, Tereza Cristina,
e o vice-presidente, Hamilton Mourão, se esforçavam para "consertar o estrago" e
convencer o governo a se concentrar nos benefícios mútuos da relação.

Em vista do clima diplomático crítico, Bolsonaro conversou por telefone com


Xi Jinping, após a primeira tentativa ter sido recusada. Logo após, Bolsonaro
anunciou publicamente o contato, em post no twitter, alegando que os laços de
amizade entre Brasil e China foram reafirmados, além de terem sido trocadas
informações sobre a covid-19; durante o contato, Bolsonaro estava ao lado de
Tereza Cristina, Ministra da Agricultura, Ricardo Salles, Ministro lado da ministra da
Agricultura, Tereza Cristina, do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles e do
chanceler Ernesto Araújo, conforme foto postada pelo mesmo.

Nessa toada, os estados brasileiros passaram a se preocupar com a forma


estúpida de lidar diplomaticamente com a China, país que, pela lógica, seria o
primeiro a descobrir a forma mais eficaz de deter a doença; considerando ainda que
o país asiático em questão é conhecido por seus crescentes avanços científicos.
Dessa forma, governadores do Nordeste, através do Consórcio Nordeste, pediram
ajuda à China para o fornecimento de insumos e equipamentos médicos, além disso
demonstraram “admiração pela forma como o povo chinês enfrentou a epidemia e pela
imensa amizade que une nossos povos". O chanceler chinês respondeu ao pedido,
dizendo que serão realizados esforços para isso. Pedido semelhante também foi
feito pela associação de prefeitos do Rio Grande do Sul, denominada AMZOP
(Associação dos Municípios da Zona de Produção), em carta endereçada ao
governo chinês.

Entretanto, as consequências da falta de respeito com a China já haviam


infectado fortemente a base eleitoral de Bolsonaro, que continuou a sustentar o
argumento de que a covid-19 é culpa do país chinês.

Para continuar com o ciclo de terror diplomático, Bolsonaro resolveu dizer,


em entrevista para a rádio Jovem Pan, um dos poucos veículos midiáticos que o
presidente se sente à vontade para dialogar, que não comprará a vacina chinesa

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(Corona Vac), que está sendo testada no Brasil pelo Instituto Butantan, porque o
medicamento não transmite segurança "pela sua origem" e não tem credibilidade.
Na ocasião, Bolsonaro disse que muito embora a relação comercial do Brasil com o
país asiático seja intensa, é possível que alguns pontos não estejam "totalmente
alinhados".

Já em janeiro de 2021, Bolsonaro cobrou ações de seu MRE, por conta da


inércia na resolução do fornecimento dos insumos, e já demonstrou sua insatisfação
planejando a substituição do chancelar, buscando ainda garantir que a saída de
Ernesto Araújo fosse honrosa. A rejeição do chanceler brasileiro era alta em
diversos setores, na esfera doméstica e internacional, e por conta de toda pressão
social, política e diplomática, Ernesto Araújo renunciou.

Em 29 de março de 2021, o até então discreto diplomata Carlos Franco


França foi nomeado MRE. Como assumiu em momento inflamado, e já havia
demonstrado postura certamente mais pragmática que a de seu antecessor, não
demorou para que precisasse amortizar alguma saia-justa provocada pela ala
bolsonarista na esfera internacional.

Já no início de maio de 2021, Bolsonaro voltou a atacar a China, insinuando


que o vírus teria sido criado em laboratório pelos asiáticos e que a crise sanitária na
verdade é uma guerra química. Imediatamente um novo clima de tensão foi
instaurado e o assunto foi discutido em audiência da Comissão de Relações
Exteriores (CRE). Na ocasião, a presidente da Comissão, a senadora Kátia Abreu
alegou não ter conseguido dormir direito, com medo de retaliações da China;

Se em 2020 o Brasil teve um superávit na balança comercial que superou


U$ 50 bilhões, foi graças à China. Sem as compras chinesas, o superávit
teria sido de U$ 18 bilhões. A China é nosso maior parceiro comercial
desde 2009, e o Brasil precisa entender que o crescimento deles nos
favorece. Se a China crescer 5% por ano nos próximos 10 anos, o aumento
de nossas exportações será ainda mais exponencial. (fala de Kátia Abreu
em audiência da CRE) Fonte: Agência Senado

O MRE compartilhou das preocupações da agropecuarista e comunicou que


está mantendo diálogo com o embaixador da China, acrescentando ainda que em

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último contato, naquele mesmo dia, o mesmo enunciou que a China continua
priorizando o Brasil para envio de insumos farmacêuticos. Bolsonaro recuou
publicamente, alegando não ter citado o nome do país asiático; entretanto, é certo
que foi experimentado o cenário de falta de vacinas, e inclusive de insumo
farmacêutico ativo (IFA) vindo da China, principal componente para a fabricação das
doses.

Chegada a data designada para a 13ª reunião de cúpula dos BRICS, em


setembro deste ano, que ocorreu virtualmente, Bolsonaro assume a postura mais
amigável possível, relatando que “vários instrumentos assinados durante a viagem
do presidente brasileiro ao país, em janeiro de 2020, estão rendendo frutos”, e
ainda:

Nossa cooperação tem avançado, em especial nas áreas de ciência e


tecnologia, energia e saúde, sobretudo no combate à pandemia de
Covid-19. O comércio bilateral tem crescido em mais um sinal da
retomada da nossas economias e do potencial de nossas relações”, disse
o Presidente Jair Bolsonaro

Atualmente, embora tenhamos ficado para trás dos países desenvolvidos e já


existam variantes para a doença, a vacinação está acontecendo gradualmente e no
Brasil estão sendo aplicadas doses da vacina Corona Vac (chinesa e em parceria
com o Butantan), Astrazeneca (inglesa) e Pfizer (norte-americana). O número de
mortos no Brasil em decorrência da covid-19 está em 595 mil.

6 CONCLUSÃO

Parece que Bolsonaro vive sempre no limite das boas relações com o
principal parceiro comercial do Brasil, fazendo declarações ou adotando condutas
prejudiciais à estabilidade diplomática, para desespero de todos os não
bolsonaristas e não sinofóbicos, voltando atrás, ao menos, sempre que percebe
suas repercussões negativas.

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O estilo de investimento da China no Brasil é de longo prazo, então todos
eles são feitos pensando em cenários independentes de governos, que começam e
acabam. Entretanto, não é de se dispensar a prática da boa-vizinhança na política
externa, já que relações harmoniosas e respeitosas são mais férteis para acordos,
cooperações e preferências num cenários de dificuldade, como o caso da pandemia
em curso.

Sendo assim, haja vista a imprevisibilidade do atual presidente brasileiro, é


necessário que ao menos o Ministério das Relações Exteriores tenha autonomia
para lidar de maneira pragmática com as questões do cenário internacional,
resguardando a tradicional prática diplomática brasileira, até porque, evidentemente,
deve existir um limite tolerado pela China quanto às críticas recebidas.

No mais, compartilhando da lógica chinesa no que diz respeito aos seus


investimentos, a nação brasileira continua acreditando que “governos começam e
acabam”, como se faz cumprir com a força da democracia.

REFERÊNCIAS

COSTA, Guilherme Octávio. A EVOLUÇÃO DO COMÉRCIO ENTRE BRASIL E CHINA:


UMA ANÁLISE DAS RELAÇÕES COMERCIAIS BILATERAIS SINO-BRASILEIRAS.
UNESP, 2015. Disponível em:
<https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/132468/000855880.pdf?sequence=1>.
Acesso em: 28/set/2021.

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