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© © © OY © OO OY OOOOH EOOHOKCKEEOSHHVESDE Se 2 Econom & o motor do Hstba, esta & © motor do Diteto, Nin se pode compreerder © Diet sento historeamemte, o que demonsta a knpertincio dest taro do ptofecsora doFLAVIALAGES DECASTRO." Nexandre Freitas Ciara “tio pode interpreta corretamentealside eu tompo quem no cone oprocesso cvoutva de nosso sistema jrtica, Ness inh, a obra de FLAVIA LAGES DE CASTRO ¢ um guia seguro para conhocera nossa evolug.£ que, s0ahists,pors sé dé demonsiragdo de uncuadio evel, akira deste fir. escito com inalger deiies © completase, permite wma ampla cempresnséo dos tearsformagSes que marcaram a cignca juridca, desde tempos remolos até pestoos mais contemporaine.” Cistono Chaves deFarias Resitado de uma pesquss eompstente e zprotundads, eerte de forma engl, limo de FLAWALAGES DE CASTRO asnpreafungZo hoje nclspensdveldeoferecer 2 estuioso «€20prolistionaldo Dirioo conhecimenta acres dahistériaqueesténa based to squlo que ‘© Dieto &. Cm iso, estutosose prefssionais tm dante de a oparunidade de ener rmelior a sua ferramenta de trabalho ¢ alvr vo dn-a-dia em condibes bastante slits. 86 parissoolurojivalesertida.” GeraldoPrado [SBN 978-85-375-0139-9] i Geoc ener ; Lumen Juris| Bivora Soto ‘cowseito Berna ‘esandee Reis Ciara ‘Amiton Basro do Corvato (cera Ronee tenant (Coser Forse Ctistone Chaves de Piss (Cates Edwards fino Jarasst pile Doze ous! Hson Casule Fy Nasoimerto Fino ‘aneoco do Asia M. Tavaror (Geraldo L26 Pado ‘Guszave Sénécal do Gotnede 41. Yoon Lopes de Ota {ee Anta Chamon Jone arect MetoieePeixinns Marzotus Pons Lina Marcos Juwena Wat Seto Dadeen Rotersais Polo de Dosen Antinos Palo Rangel, icedo Mximo Gomes forme Salo de Caresho ‘cal Nometaa Seno deryo Centro =u a Asal, 1a tt Geratorta00- Ceeue oe) 21 an 2002.18 era Avni dos Amdo 4240 tle Darrzaa Thuce =e de dena 0 ‘ag esate 31801809 Sto Pants ‘nie 13) 008020 7600-772 Seb anda, f02tocoB to} nse Sh han Sa Dron DP ‘in eases wera dumonjuris.com.br Eorrones Joao ce Almoica lniz da Silva Almeida ‘corse consust9 Awato aye 3 Coats osonie Cree Artie Sane Augusto ainmerene ‘ule Wander Bastos ida Stguin Five Lager de Castro Fite Atos Martine Gian Curacine Masberto Data Bornatdina de Pah edo Taeoonio Mendes de Alma Je {ook Fernando da Carre Faiae ook Rive Visa ols Fotene Basrose Darel Goa (One Cares om Kas Serge Demoro Hamaikon 2s Gore ‘aust eo Lia, <9. 609 anna ave thea De Jess treo, 10 CH 4710206 ‘mcrae ‘i Grand dau ‘oa Ura, 207 -Cerorto 62 {CEP soI0-40~ Getio- Prt Albgw 1S ‘orionaeraass0 pita Sato i Royal Caner = Cr 29006 2h ‘ise sanbasan 995-1659 ote FuAvin Laces pe Castro Mestro om Histdria Soaial Hist6r1a Do Direrro GERAL E BRASIL 5a edigéo Eorrona Lumen Junis Rio de Janeiro 2007 Copyright © 2007 by Flavia Lages do Castro Produgio Editorial jaria ¢ Editora Lumen Juris Ltda. A LIVRARIA E EDITORA LUMEN JURIS LTDA. nao se responsabiliza pelos opinides omitidas nesta obra. # proibida a reprodugéo total ou parcial, por qualquer meio ou processo, inclusive quanto as caracteristicas grifieas ¢/ou oditoriais. A violagzo de direitos autorais constitu crime (Cédigo Penal, art. 184 e §§, ¢ Lei né 10.695, Ge 19/07/2003), sujeltando-se & busca ¢ apreonsao ¢ indenizagées diversas (Lei n® 9.610/98). ‘Todos os dircitos desta edigdo reservados & Livraria ¢ Edltora Lumen Juris Ltda. Impresso no Brasil Peluted in Deasit Para minha mae. © 6 © 6 © OY OO OOOO EOCOHHOCOEHKHEHSCVHSSEIDE Sumario Prefacio INTRODUGAO: HISTORIA E HISTORIA DO DIREITO Histéria. . Direito.. Histéria do Diteito.. Objerivos do Estudo de Historia do Direit. . Rte Livro CAPITULO L: O DIREITO DOS POVOS SEM ESCRITA 1. Garacteristins Gerais dos Diritos dos Fovos Agratos 2. Fontes dos Direitos dos Povos Agrafos. 3 Teansmisedo dae Rearas CAPITULO I: AS PRIMEIRAS LEIS ESCRITAS F 0 CODIGO DE HAMMURABI 1. O Cresconte Kérti! 6 as Primeiras Loie Leeritag wn 2, Algumas Consideragoes Sobre as Lais Anteriores a Hammit- abi. 3. ABabilénia do Hammurabi 4. Sociedade @ Economia da Babilénia Hammurabiana.. 4.1. Questées Acerca dos Escravos 5. Alguns Pontos do Cédigo de Hammurabi CAPITULO IIL DIREITO HEBRAICO 1, Introdugao, 2. A Sociedade © a Vida Econdmica. 3. A Lei Mosaica 4. A Formagao do Direito Hebraleo — da Legislacao Mosaica aa0s Dias de Hoje. 5, Algumas Lois do Doutorondmio...... CAPITULO IV: 0 CODIGO DE MANU 1. Introdugio.. 2. Contoxto Historice uu 2 13 18 16 re a 28 29 31 82, 4a 43 3. Sociedade 44 3.4.2. Divisio Baseada na Aplicabiidado... 83 4. Roligito 46 3.1.3, Diviedo Baseada no Sujlto. 83 5. Alguns Pontos de Céigo de Manu ” 38, Capneidace Juriioa de Goz9. 9 35.1. Status Libortats. oa caPiruzo v: GRECIA 45.2. Status Civitas 95 al bch srenstancnsieaieete 6s 883, Seotus Familia 96 i 6s 354, Causas Restrtivas da Gapacidade Juridica ao 21 Sociedade Sl 67 C020. a 2.2. Reonomia 6 2.6, Diceito de Farntia. 57 2.3. Politica : n 36.1. 0 Patri Poder 0 24, Cultuca e ldeclogia n 862, 0 Casamento 29 a. Atenas n 36.3. 0 Divoccio 109 3.1. Dracon. 73 36.4, ODoto io 32, Sélon. m 305. A Adagio Dt 3.2.1. Beonomia ” 47. Tutela e Curateta {0s 3.2.2 Sociedade. Es 37.1. Tutela 105 323. Pollica 75 372 Curatela 108 2.8, Sunneste. 107 caPiruLo Vi: ROMA EO DIREITO ROMANO 3A Horanga, ie Introdugao. 2 ” 3.2, Testamento nar Mistéria do Roma: Divieao Politica marae 78 39. Posse e Propricdade 409 2.1. A Realeza e suas Instituigdes Polticas. 79 310, Dattos. aa 22. & Roplilica e suas Instisuigdes Pottcas 3 3.10.1, Cousalidad a 2.3, OImpério e suas Instituigdes Polticas- 82 310.2. mputabiidad. Tt 2.4, As Mudancas em Roma Apés as Conquistas.. 83 3.10.3, Extingdo da Punibitigade 113 2. O Dieta Romano 3.104. Co-Delingdéncta n3 3.1, Dofinigbos o Caracte 3:08, Retroatividade da Lei Penal ta 3.2. Petiodizagéo do Direito Roman... 3.106, alguns Deltos. we aM 3.2.1. Periodo Arcaico .... 9.11, 0 Estudio do Diroito ¢ os ‘Advogados em Roma.. 1s 3.22, Periodo Clissice . 3.2.3. Periods Pos-Ciassieo capiruto vit A EUROPA MEDIEVAL 3.3. Fontes do Direito Romano 1. Introdugaio 119 3.81, Costume 2 Sistema Feudal 120 3.3.2 Leis o Picbiscitoe. 2.1, Caracterstica 120 3.8.3, Balto dos Magistrados 2.2. Contrato Foude Vasslico, 122 2.3.4 Jurisconsultos 2.2.1 Os Bieitoo do Contrato Feudo.Vassalic. 123 a5 Sonatas. Ccnald 2.22. 0 Fim do Contrato Foudo Vasealice,.. 12a 3.36. Constituiges lmmporiats 2.23. Os Diteitos de Uso e Propriedads no Contiate 44, Diviedo do Ditcito Romano... Fouclo-Vassalico.. : 125 41. Divisto Daseada na Origem 28, As Melagoos Poudo-Vacvalicas © a Justiga. 126 Te rer CPT Tee eeTeTerreerrierrre TT Tee OOOO OO OOOO OOOO OOHOKHEHHOHSHHHHHEESBHOE 3. Os Diroitos da Idade Média 127 3.1. Diteito Germanico 127 9.1.1, O Reino Vandalo... 129 3.1.2. O Reino Ostrogodo..... 130 3.1.3, O Reino Visigodo..... 130 3.1.4, O Reino dos Burgindios.. 131 8.1.5, O Reino dos Francos 131 3.2, 0 Direito Canénico 132 3.3, 0 Direito Romano 135 4. A Inquisicéo. seine 197 4.1, O-Teibunal do Santo Oficio » a Tbanais Socwiaves— 138 CAPITULO VIM: 0 ISLA 1. Introaugao. 1s 2. O Ambiente do Surgimento do Isia.... 148. 3. APundagao do Islamismo.. uz 4, 0 Diteite doe Muguimanos. 180 5. 0 Alcordo. 152 5.1, Alguns Pontes do Alcorio.. 154 CAPITULO TX: O DIREITO INGLES 1. Introdugéo.. ww 181 2. Diroite Inglés — A Historia 0 a Formagae do Statuto Law... 182 3. A Divisao do Direito Ingles 198 CAPITULO X: DA MONARQUIA ABSOLUTA AO ILUMINISMO 1,0 Absolutismo Monérquico itatisscaacars’ 00. 1.1. A Franga de Luis XIV... 200 2, O Mluminismo e as Criticas a0 Estado ABSOlMtsta.nccn 205 3. Cesare Becearia 210 3.1, As Idéias de Cesare Becear 212 4. Outros Pensadores ~ Criminalistas do Iluminismo. 222 CAPiTULO 20: AS REVOLUGOES - ESTADOS UNTDOS F FRANGA NO SECULO XVI 1. A Independéncia dos EVA... 225 AA Titre dAgHO 225 1.2. 0 Inicio do Proceso de Independéncia e a Declaragao do Direitos do Bom Povo da Virginia 230 1.3. A Declaragao do Independéneta 235 1.4, A Constituicdo Norte-Americana ..n. 237 1.5. A Equity © a Common Law nos Estados Unidos 243 ‘A Revolugie Francosa, i 245, 2.1, Introdugao, 245 2.2. Conjuntura Politico Eeonémica Pré-Revoluciondia 248 2.3. A Assembidia Constituinta o a Declaragae dos Direitos do Homem e do Cidadao. 27 24. A Daclaragie des Direitos da Mulliw udu Cidacla 251 2.8, As Constituigdos Revolttcionéria 259 2.6. Era Napolednica e © Cédigo Civil 260 CAPITULO XII: AS LEIS PORTUGUESAS 1. Os Primetros Habitantes © a Romanizacio ... 267 2. Os Mugulmanos na Poninsula.... 268 3. O Nascimento de Portugal . 270 4. A Era das Ordenagoe: an, 4.1. As Ordonagéos Afonsina: 27a 4.2. As Ordenagoes Manuolina® « 4.3. As Ordenagées Filipinas ... . 281 5. O Periodo Pombalino. ' 291 6. As Constituigsos Portuguesas... - 293 CAPITULO XU: BRASM, COLONIA 1. Som Fé, sem Lei, sem Ret .. i 297 2, Os atados Antes do Brasil ¢ Limites de ‘Terras. 300 8. © Antigo Sistema Colonial ¢ os Primeiros Documentos Suri. dicos na Colonia... a seeerenes BOR 4. O Municipio, o Governo Goral e a Montagom de um Apara. to Juridico na Golénia, * 304 5. © Direito sob 0 Dominio Holandés no Nordeste Brasiloito.. 317 6. A Legisiagao Especifica da Regido das Minas 4 ‘CAPITULO XIV: BRASIL REIVO 1. Introd gio wane 319 2. A Comte Portuguosa no Brasil oa Subordinagio A ngiasava | 4 2.1. A Chegada da Corte ¢ a Abortura dos Fortos..... aaa 2.2. A Liberacao de Manufaturas, seve 324 2.3. A Reorganizagio do Estado Portugués no Brasil lin, troga do Mercado Brasileit® wessni an a7 2.4, A Justiga no Poriodo Joanino it 2.5. A Blevagdo do Brasil A Condigao de Reino Unico... CAPITULO XV: BRASIL IMPERIO 1, A Independéncia do Brasil e a Gonstituinte de 1823 . 2. A Constituicdo Outorgada de 1824. 2.1, Alguns Pontos da Constituigao de 1824 3. 0 Cédigo Criminal de 1830 4. 0 Cédigo de Processo Criminal de 1832 @ © Ato Adicional de 1834 4.1. 0 Cédigo de Processo Criminal. 4.2. O Ato Adicional 4,3, Outras Lois do Periods Imporil.... 5, Nascimento da Tradigao Juridica Brasileira.. 6. A Escravidao @ a Lei: Condigdes e Aboligao 5.1. As Leis Abolicionistas. 6.1.1. A Lei Busébio de Queiroz... 6.12. A Lei do Ventre Livre... 6.1.3. A Loi dos Soxagenatios..... 6.1.4. ALoi Aurea CAPITULO XVI: REPUBLICA VELTIA 1. A Proclamagao da Ropiblica © a Constituicio de 1891. 1.1. Alguns Pontos da Constituigao do 1891 1.11. A Ropiblica Fodorativa dos Bstados Unidos do 1412. . 1.1.3. 0 Poder Judiciario... 1.4.4. 0 Poder Legislativo.. 1.1.5. 0 Sistema Eleitoral i 1.L6. As Novidados da Constituiggo de 1691 2, © Cédigo Ponal do 1890. : 2.1, Aigune Pontos do Céidigo Penal de 1880.. 3, 0 Cédigo Civil de 1916. CAPITULO XVI: ERA VARGAS - 1930 A 1946 1. A Revolugao de 1930 ¢ 0 Governo Provisério, 1.1, A Organizagao das Cortos de Apelagao do Distrito Fe- oral oa Criagao da Orden dos Advogados Brasileiros . 1.2, 0 Cédigo Fleitoral de 1932 sea i - 333 31 345 . 384 385 an 381 . 982 384 ~ 385 385 387 ~ 994 ne 397 308 a2 405 407 415 415 416 416 420 422 424 aan 428 434 439 442 a3 2. A Constituigéo de 1934 2.1. Caracteristicas Gerais do Estado Brasileiro. 2.2. A Compoténcia pare a Elaboragao de Legisiagao 2.3. Municipios a a 2.4, Poder Executive Fedoral.. 446 497 499 25, Boer Legilato Posora ez 26 Poder Suda. “ss 2.7. Conselhos Técnicos 2.8. 0 Voto ¢ 0 Sistema Eleitoral 2.9. Garantizs Individuais 2.10. Trabalho... 2.11. A “Justiga" do ‘Trabalho. 2.22. Nacionalismo 2.13. Edueagéo, i 2.14. Assisténcia do Estado ¢ Gasamento 2.15. A Mudanga da Capital... 3. A Constituigao de 1937 o a Ditadura Estadonovista 3.1, Anteccdentes . i 3.2, A Constituigio de 1997... 3.2.1. A Justificativa da Constituigao. 3.2.2, Uma Constituicao de Ditadur Executive Redera nnn 9.2.3, 0 Conselho da Economia Nacional, 3.2.4, Poder Judicidtio. 3.25. Voto. . 3.2.8 Os “Diroitos © Garantias Individuais” 9.2.7. Educacao e Familia., 457 458 489 460 462 462 464 467 ace 469 469 476 an an 483 404 434 220 Maat. “0 35, 0 Gédige Penal do Tai0'e o Codign do Brosesse de on ‘ot 9.4 A Policia, a duatiga Outros istiuigbas data Var coat i aoa © Movinenta Oper: Da Decade do 35 0 CHE. ‘o CaPiTULO XVII: BRASIL - DE 1946 A DrrapuRA MILITAR 1, 0 Fim do Estado Novo o a Consti 1.1. A Constituigao do 1946 .. 1.1.1. 0 Poder Executive. 1.1.2. 0 Poder Legisiativo.... 1.1.3. O Poder Judicidtio, © OOOO OH OOO OHO OOOHECHOEHHHHHHHSHEE 1.1.4, Ministério PUblico 1.15, Estados e Municipios... LLG. Os Diroitos.... 2. A Ditadura Militar... 2.1, Antecedentes 2.2. 0 Ato Institucional 0 n® 1).. 2.3. 0 Ato Institucional n2 2, 2.4. O Ato Institucional no 3 2.8. O Ato Institucional n 4 @ 2 Constitui¢ao de 1967 2.6. 0 Ato Institucional n2 5, zi 2.7. Outras Leis do Regime Militar e a Emenda Constitucio: nal na 1 de 1959. re CAPITULO XIX - A REDEMOCRATIZAGAO E A CONSTITUICAO DE 1988, 1. O Fim do Regime Militar 2. AConstiuinte de 1987.. 3. Caracteristicas Gerais da Constituigao de 1988. Referéncias Bibliograficas wn. 516 517 519 523 523 528 504 543 50a 550 857 561 562 863 56s Prefacio Foi com grande prazor que recebomos 0 convite da Profossora Flavia Lages para prefaciar sou livro Histsria do Direito ~ Geral e Brasil Sabemos que sua escolha n4o foi, como poderia parecer a priori, por sermos historiadoras nem por nosso conhecimento do Direito Romano. ‘Temos certeza de que a amizade nasceu entre nis no Mestrado em His- toria da USS quando fomos profossoras, o sua Oriontadora foi esponsi- ‘vel pela gntiloza de Flavia. Naquola ocasiie a autora iniciava sua en- minhada na dificil “arte de escrever”, quancio defencien com brilhantis- ‘mo sua Dissortagéo de Mesizado e redigin seu >rimeiro trabalho como historiadora, Nossa alegria foi enorme ao vé-le continuar seu caminho, escrevendo este livre, onde procura defender vordades incontestes, nem sempre compreendidas pela comunidade académiea. Roferimo. nos & importancia que multas vezes no é caneadida 20 conhecimento historico por especielistas de algumas droas das Cifneins Sociais, Flivia, ao conseguir desenvolver de forma sintética assunto tao abrangonte © complexo, mostrou sua inclinagéo para Pesquisa Cientifica, revelando que a defesa de sua Dissertagao nio foi somente uma exigéncia para conchisao do Curso de Mestrado em Histéria Social A Histéria do Dizeito & condi¢ao sine qua non para que os futsros advorados possam melhor conhecer as estuturas, as conjunturas ©. contexto quo lovaram os logisladores a elaborarem as normas do Diteito. Aleitura de sua obra é importante nao #6 fara os estudantes que desejam conhecer a historia do Ditelto, mas também para os profissio. nais e 0 piblico em geral A oserita do livro de Flavia nao se reduz a uma narrativa hist6rico- Iinear, “fragmentada em migalhas". & um trabalho que incentiva o leitor & pesquisa e a roflexao critica, Scu estilo é objetivo, despojado, elegante e de agradavel leitura, embora sua narrativa pouco convencional rofiita sua porsonalidade, ‘sua formagio ¢ um profundo conbecimento da Metodologia Cientitica, No docorrer da leitura de seu Texto, sente-se sua constante preocupagso em realizar ensaios rofloxives acerca do Dircito dos ciferentes povos, inclusive especificamente a trajetéria brasileira no campo de sua anilise. Seu livro constitui um amplo painel sobre 0 . Dirwito de diferentes Civilizagdes, compreendidas sob o ponto de vista politico, econémico © cultural. Em decorréncia deste fato, podemos considera-lo ao mesmo tompo analitico, sintético ¢ polémico. Nao é por apresentar uma visao de conjunto sobre a histéria do Diteito que deve ser considerado generico ou apenas como um simples Manual. Embora este tipo de abordagem possa conduzir a gene ralizagées, isto ndo acontece com Flavia porque seu Texto no perde de vista a reflexdo, Sen mérito rpousa justamente na contundéncia com, que a autora procura a rofloxde o nao no fato de revisar ocorréncise passadas. livre da autora trata de forma sintética de aspectos importantes da evelugdo juridica, mas néo 0 faz de forma linear e cronolégica porque analisa, critica ¢ interpreta os fatos. Nele a historia do Dircito é vista em um viés pouco oxplorado om obras similares porque contém imformagao, reflexto e fundamentagao. Como especialista em Historia Romana, dentre tantos pontos que consideramos fundamentais, ¢ absolutamente indispensdveis, analisa- dos por Flavia Lages © que podom sor considerades polémicos, comen- taromee eepocificamonte aquelos quo so roforom ao Diroito Romano. A autora, ao afirmar a grande importancia do Dizeito Romano na atualidade para os advogados e juristas, é profundamente pertinente. Nao é possivel que se ignore @ legado do Direito Romano para 0 pensamento juridico ocidental nem sua importancia para o Direito Civil (em seu ordenamento juridico. ‘A Loi das Doze Tabuas também nao fol esquecida pela autora. Como deixar de lombrar a Let que assinalou a passagem do direito oral para o direito escrito, a primeica compilagdo do Dircito Romano que servitia de base ao Dircito Piblico de Roma até 2 época de Imperader Juliano? © simples fato do admitir a igualdade de todos os cidadéos romanos perante a Loi ea soborania do pove faz da Lei da Doze Tébuas um documento de grande relevancia para conhecimento da historia do Diteito. Corpus Juris Civils, codificagio do Direito, feita na época de Jus- tiniano, teve infiuéncia significativa nos Cédigos Modernos © permitiu o conhecimento das obras dos grandes jurisconsultos romanos. 8 dificil avaliarmos o valor de nosso débito intelectual para com Roma no quo se refore ao legado do Dircito Romano, pois os romanos fundaram, desenvoivoram o sistematizaram a jurisprudéncia no mundo. Todas estas premissas lembradas por Flivia corroboram para defesa do sua propositura a necessidade do estudo do Direito Romano. a Coszaamos do continuar analisando toda a Sinteso elaborada pola autora, mas certamonte nao torminariamos a redagio deste Prefacio, : Nao podeius, porém, fnalizar esta Introdugao sem deixar do enfatizar um dos pontos mais relevantes do trabalho de Flivia Lages. A autora conseguiu redigir uma obra geral sobre a Historia do Direito baseacia em uma pesquisa profunda @ acurada de Fontes Primarias, 0 quo torna a leitura do seu Texto incispensvel para todos os estudiozos do Diroito Convidamos 0 letter a poreorrer a Histérie do Direito ~ Geral e Brasil de Flavia Lages e a olhar com admiragéo 0 oxcelente trabalho ‘empreendido pela jovem e talentosa historiadora. Marilda Corréa Ciribellt Doutora om Histéria pola USP Pordoutora om Histéria Social pela UERE © © © © OO OH OO OOOOH OOH HOHHOECHHHHEHOHOOE i INTRODUGAO HISTORIA E HISTORIA DO DIREITO © que 6 Historia? © que 6 Histéria do Diteito? Quais pontos His téria ¢ Direito tam em comum? Qual 6 ebjetive do estuco do Histéria do Direito? Ao responder a estas perguntas, estaremos mais aptos a compreendor de fato a Histéria do Direito dos Povos e das Culttras que estudaremos a seguir, Esta necessidade do conhecimento do objeto antes de uma and. lise de seus pontos é a base para a compreensio global do objeto de estudo de qualquer cféneia, 1. Historia Quando se pensa em Histéria a palavra “passado" logo nos vem a ‘mento, O passado seria histéria? Todo 0 passado? Tudo no pasado? Uma bela frase pode iniciar nosso raciocinio: “A histéria é a meméria da humanidade, mas no ¢ suficiente recordar para ser hictoriador."! ‘Som duivida, 0 tempo ¢ a dimensio do trabalho do historiador, mas analisemos: = 6 possivel "histéria das baleias"? = nfo parece menos ostranho "histéria da caca as haleias"? A “hist6ria das baleias" nao é possivel porque as baloias néo transformam, nao se transformam... A transformacao ¢ a esséncia da Histéria o somente o ser humano pode oxecutar tal tazefa. Por isso a “Historia cla caga as baleias” parece soar menos estranho aos nossos ouvidos. Quem caca é 0 homem, @ esta atitude (qua hoje em dia é um tanto ostiipida) mudou no tempo. 1 EHRARDE PALMADE apud CHAUNU, Pit. A histria como elfacla sect. No de Jano: Zaha. 76, p22 ‘livia Lages de Casio Pode-se, entao, chegar 4 primeira conclusao acorea da Historia: seu objeto é 0 homem, isto &, o estudo da Histéria concentra-se no Ser Humane e a sucesso temporal de seus atos.? O Ser Humano estucando o ser humano, qual o objetivo? Por que jsto nos ¢ to caro? Por que é téo importante mesmo para pessoas comuns? Paul Voyne apresenta dois motives: “Primelramente, o fato de pertencermas a um ‘grupo nacional, familias... pode fazer com que 0 assado dosco grupo tonha um atrative parti- cular para nés; a segunda razdo é a curiosidade, seja anedética ou acompanhada de uma exi- goncia da inteligibitidade."3 2. Direito A palavra “Direito", bem como ele proprio no sentido amplo da Cigncia do Direito, vem dos Romanos antigos ¢ é a soma da palavea DIS (muito) + RECTUM (roto, justo, certo), cu soja, Diroito em sua origem ‘significa o que é muito justo, o que tem justiga, Entende-se, em semido comum, o Direito como serido 0 conjunto de normas para a aplicacao da justiga e a minimizagéo de conflitos de uma dada Sociedade.‘ Estas normas, estas regras, esta sociedade nao so possiveis sem o Homom, porque ¢ Ser Humano quam faz o Direito e & para ele que 0 Direito é feito. . Esta dependéneia do fator humano ¢ oxtoriorizada por Vicente Rio Ga seguinte maneira: "0 diteito pressupie, necessariamente, a exis: téncia daquele sor e daquela atividaco. Tanto va- le dizer que pressupse a coexisténcia social, que 60 proprio homem," BEOG mate. tntrodupo stra, Ss ape Anse | 1-1, CARR BI FS hide Jose: Pas a Torn 1076, DESBELAAR VD. tary ser SanenSShbattens 2S psc 197, 3 SENG, Nl Sites teres tre Rove wetter ast asi rived do Be, 120.0. 4 Mose pete at nr melo dete de Di a anase qi potisios eaupmanato de ite do Data X5\Vicenco dicense isn dos vekon et St use 100.» 61 isa eo Dieto Gora «Brasil © Jurisconsulto romano Ulpiano nos dé uma ligao da que & © Direlto, indicando os tipos de direito ¢ definindo-os. Vale a pena en- cerar esta definigto com a ligdo, dodicada aos estudantes de Diteito. deste mestre da Antiguidace: “03 que se vdo dedicar ao estudo de Direito dovem comegar por saber donde vem a palavra ‘ius’, Na verdade, provom de ‘iustitia’: pois (re- tomando uma elagante detinigae de Colso) © direito a arte do bom e do eatiitativo. § 1. Peto quo ha quem nos chame de ancercotes. Na ver dade, cultivamos a justiga e, utilizando o eonheci mento do bom e do eqtitativo, separamos o justo do injusto, distinguimos o licito do ilicito...§ 2. Ha uas partes noste ostud: 0 dizcito piblico, que diz respeito ao estado das coisas de Rome; ¢ 0 privado, relativo a utilidade os particulates, pois, cortas utilidades sao piblicas ¢ outras, privadas. © direito publics consiste (nas normas relativas) 4s coisas sagradas, aos sacerdotes 0 magictra os, O direito privado ¢ tripartido: 6, de fato, eolt- leo Ge preceiter notucis, ox das gentes, oa 3. Historia do Direito ‘J8 foi possivel percober que Historia © Direito tém algo em comum: © Homem. Assim, partindo do Ser Humano, é necessario salientar al- guns pontos primordiais. © Homem é naturalmente produtor de Cultura. Nao somente aqui- Jo que chamam comumente de cultura, como saber sobre autores clas. 5 ULPIANO. Dignste do Justiniano, Liber Primus, I: DE WUSTITIA ET TURK, “er Qperam data pri nosce opertet unde nomen luis deceadat, Est autem a lustitia sppcaconns ‘nam (at oleganter Cass dotint) ios est ars bond et angu 81. Gijus merle quis nog sscerdotor oppeliet, klar aunque collinus et Lord et aul Netiam peaitenien, equa ay iiquo separantes, eeu ab dlcium clacernetes 62 Hija Sete eee, unt postionos: publeum jas ess, quod ox statam rl romans Saciat prams eed ‘ngilen weiitotom: sunt enim quecdarn publics wil, duatara avatim, Hublcoer aa In sais, sacordetibue, in magisratibue consis Prvacua fix tiportiian, oe calectom ote ot oc naturablus prascoptiiss, ast rk aut outs OY 6 © OOOOH OO OOOOH OOCOKHHEHHHHHEECSHEHEE Pivia tages do Casto sicos, vinhos caros ¢ literatos, mas a Cultura no sentido correto da palavra. Entende-se por Cultura “o processo pelo qual 0 homem acumula ‘as experiéncias que vai sendo eapaz de realizar, disceme entre elas, fixa as de efeito favordvel e, coma resultado da agao exercida, converte em idéias as imagens ¢ lembrangas (...)."7 Isto €, tudo 0 que o homem produz faz parte da cultura do homom. Acultura 6 temporal, histérica. Ela dapende do momento em que determinado individuo ou comunidade esto vivendo pera ter as caracteristicas que a definem, Assim como afirma o velho profoscor Bloch baseando-se em um ditado arabe: “O Homem se parece mais com sou tempo que ‘com seus pats. Pode-se concluir, portanto, que, sendo o Direito uma produgao humazia, ele também € cultura e é produto do tempo histérico no qual asociddade que 0 produziu ou produ esta insarida, Plagiando o ditado Arabe, poderiamos afirmar que o direito se parece com a necessidade histérica da sociedade que o produziu; ¢, portanto, uma produgao cultural © um rofloxo das oxigéncias desta sociodado. Conforme as belas palavras de Jayme de Altavila: "Os direitos dos poves esquivalem procisamente 20 seu tempo € se explicam no espaco de sua gestagio, Absurdos, dogmiticos, Nicidos © li- berais ~ foram, todavia, os anstios, as conauistas © 06 haluartos de milhoas de seres que, para ales, levantariam as méos, em gesto de siplica ou de conternecido reconhecimonto."? 4. Objotivos do Estudo de Histéria do Diroito AHist6ria do Dircito é primordial para o estudante de Direito na me- dida em que o ausilia na comproensao das conexdes quo existem ontre PINTO, ¥.qpud ARARHA, 26 L. do A. Martine, M.H. PFllosofende: tntosugso. fosota ‘Sie Paule: Moderna, 1935, 8 BLOCH, tre. Op. ct, 35. ‘9 ALTAVILA, Jayme de. Origem do direito dos pover. 7. , Sie Youle: leone, 1986, p16. Hstécin do Ditto Geral Brest asociodade, suas caracteristicas, ¢ o diteito que produziu, “treinando-o" para uma melhor viewalizacao e entondimento do proprio diteito, ‘4 Historia em si tem muito deste objetivo; ola 6, nas palavrae de Collingwood, para “autoconhecimento” ndo somente pessoal ou social, mas também no exorcicio de tarofas profissionais, *Conheces-se a si mesmo significa saber oque se potle fazer. E como ninguém sabe © que pode ‘antes de tentar, a‘inica indieagao para aquilo que ‘ohomem pode fazer é aquilo que jd fez. O valor da historia esta entas om onsinar-nos o que ohomem tem feito e, deste, modo, o que o homem é."10 Portanto, 0 valor do estudo da Histéria do Diteito nao asté em ensinar-nos nao somente o que o ditelto tem “feito”, mas o que 0 direito 6. Tendo isto em mente, podemos avancar neste estudo, buscando comprcender nao somente as regras de povos que viveram no passado, ‘mas sua ligagio com a sociedade que a produziti para assim, e somonte assim, entender 0 "nosso" Direito, 5, Este Livro © Principal objetivo deste livro é dar ao leitor um espectzo geral da Histérla do Direito a partir da compreonsao da sociedade que envolveit a elaboragao das leis. Tomando por pressuposto légico que néo sao as leis quo formam uma sociedade, mas que estas, histéricas em si, 40 {eitas a partir do que uma sociodade pensa ou deseja de si. Para que isto pudesse ser feito, dada a abrangéneia do tema, fo- ram oscolhides eronologicamente alguns povos @ respectivas legis. {0e5 que pudessem contribuir para a compreensao da ligagdo entre 0 Povo e suas leis e/ou para o entendimento da lagislagio brasileira ¢ su histéria, ‘Tomiando por base fontes secundarias de histéria e Direito, bom como fontes primérias relativas As leis propriamente ditas, analisamos Pormenorizadamente, sempre que possivel, a conexio sociolegal exis- 30 COLLINGWOOD, RG. déla de histéla List: Prosenga, 1972p. 1% Feivia tages Gastro Assim podemos pensar de fato em uma Historia do Diteito. Nao ‘com un olhar descritivo sobre leis do passado que parecem ter surgido do nada, mas a partir do carater, intengao e nogées de moral ¢ objetives dos povos que acharam por bem escrever suas normas. CAPITULO I O DIREITO DOS POVOS SEM ESCRITA Embora algumas vezes as pessoas confundam Direito @ Lei escri- ‘a, se partirmos do pressuposto de que um conjunto de ragras ou nor mas que reguiamentam uma sociedade pode ser chamado (ainda que hnumildemente) do diveito, todas as comunidades humanas que existem ow existiram no mundo ~ indiferentemente de quaisquer caracteristicas que tenham ~ produziram ou produzem seu “Dircito $6 podemos ostudar Histéria e, portanto, Histérla do Direito a par- do advento ca esorita (que varia no tempo de povo para povo), antes disso chamtamos do Pré-histéria, A Pré.histéria do diroito é um longo caminho de evolugao jaridica que povos percorreram e, apesar de podermos supor que foi uma es- tracla bastante rica, tomos a dificuldade, pela falta da escrita, de tar acesso a ela Esta riqueza pode ser comprovada pelo fato de as sociedactes 20 se utilizarem pela primeira vez da ocerita(e do direito escrito) jé texem instituigSes que dependem muito de conceites juridicos, como casa- mento, poder paternal ou maternal, propriedade, contcatos (ainda que vetbais), hierarquia no poder pablico etc. As origens do Diraito situam-sa na formagio das sociedades e isto Temonta a épocas muito anteriores & esorita ¢ 0 que se mostra mais interessante neste estuco especificamonte 6 quo, dependencio do povo de que tratamos, esta "época” ainda & hoe. Povos sem escrita ou agrafos (a= negagdo + grafos~ eserita) nao témum tompo determinado. Podem ser os tiomons da caverna de 3.000 4.C. ou 08 indios brasileitos até a chegada de Cabral, ou até mocmo as tnibos da florosta Amazénica que ainda hoje ndo entraram om contato om 0 homem branco, ; Diante dosta multiplicidade de povos e tempos pademos somento comontar algumas earacteristicas gerais destes giupos., Em goral, nao ‘em grande desenvolvimento tecnolégico e somente uma minoria don. tes tem agricultura, Sao, em sua maior parte, cagadores-coletores @ co- ‘mo tais seminémades cu némades. Os roves agrafos que possuom © © OU OOOO OH ECHOES HOHHHHHESHEKHSOE ‘ua Lagse de Castro agricuitura so sedentdrios 0 todos oles, som excecao, basciam seu dia a dia em uma religiosidade profunda, Pela quantidade destes direitos e a diversidade destes buscamos ‘ontao, como introdugdo ao astudo do Histéria do Diroits, apontar ca racterfsticas e fontes do direito comuns que auxiliam na compreensao de um todo tao distinto. 1. Caracteristicas Gerais dos Direitos dos Povos Agrafost! Sao Abstratos: como sao direitos no escritos, a possibilidade de abstracao fica limitada. As regras devem ser decoradas ¢ passadas do pessoa para pessoa da forma mais clara poscivel. V_ Sio Numoroses: caca comunicads tom seu prénrio costume & vivo isolada no espaco e, muitas vez0s, no tempo, Os rat08 con. | tates entre grupos vizinhos (que porventura vivem no mesmo tempo e dividem o mesmo espago) tém como objetivo a guerra \ Sao Relativamente Diversificados: Esta distancia (no tempo e no ‘espago) faz com que cada comunidade produza mais disse. molhangas do que samelhangas om sous direitos. V" Sio Impregnados de Religiosidade: como a maior parte dos fondmenos #40 explicados, por estes povos, através da roligiao, a regra juridica n3o foge a este contexto. Na maior parte das, ‘vezes a distingao entie regra religiosa e regra juridica torna-se impossivel, Sto Direftos em Nascimento: a diferenga entre o que ¢ juridico © que nio é muito difie, Esta diotingéo a6 ee torna possivel ‘quando 0 direito passa do comportamento tnconsciento (den- vado de puro rellexo) ao compertamento consciemte, fruto de reflenio, “T7Nesto pena cogutemos a ea ot panne: de ASSEN, tno tr Sito dro 2 0d Lido Castle Got, 1008p ise Hisevia do Dioto Gera!» Brasil 2. Fontes dos Direitos dos Povos Agrafos Entendemos como “fontes de direito” tudo aqquilo que é utilizado como baso ou “inspiragao” para a feitura de regras oui codigos, Os povos dgrafos basicamente utilizam os Costumes como fonte do suas normas, ou seja, o que é tradicional no viver e conviver de sua Comunidade torna-se rogra a ser sequida."? Entietanto, o costume néo 6 a tinica fonte do direito destes povos. Nos grupos eociais onde se pode distinguir pessoas que detém aigum tipo de poder estes impoom regras de comportamento, dando ordens que acabem tendo carater geral ¢ permanente. © precedente também é utilizado como fonte. As pessoas que julgam (chefes ou anciaos) tencem a, voluntiria ow involuntariamente, aplicar solugdes j utilizadas antoriormento. 3. Transmissdo das Regras Muitos grupos utilizam 0 procedimento de, om intervalos regu: lares de tempo, terem suas regras enunciadas a todos pelo chefe (ou chofes) ou ancidos. Outras formas s20 os Provérbios ¢ Adagios que de-" sempenham papel decisive na tarefa de fazer conhecor ae normas da comunidade. 12 O costume, om maior ou m , wor ‘avangada teenelegionmante suo och base da suse norm, CAPITULO II AS PRIMEIRAS LEIS ESCRITAS E © CODIGO DE HAMMURABI 1, O Crescente Fértil e as Primeiras Leis Eseritas ‘Ha um lugar no mundo onde quase tudo que consideramas “elvie lizado" nasceu: 0 Crescente Fértil, onde hoje esta o Iraque, uma parte do Ira c parte de seus vizinhos. Este lugar tem este nome por causa da fertilidade que os rios Tigre ¢ Eufrates dio a uma regido que é se melhante a uma lua crescento de cabega para baixo, Nesta regido o homem primeiro dividiu as horas, 05 minutos @ os segundos em sessenta, fez tijolos e erigiu grandes construgées com les, criou (para a felicidade dos oltios e da alma) a jardinagem, inven tou 0 Estado 9 0 Governo, fez as primeiras escolas, inventou a corveja, Mes, a mais grandiosa invengao dooza gente da Mesopovitnia fol Passar para uma superficie simbolos que oxpressavam idéias: a isso chamamos de escrita."? O tipo de escrita que inventaram foi a cunei- forme. Nao se pode estranhar, portanto, que tenham sido estas possoas 4s primeiras a terem leis escritas. Tom-se noticia de um chefe da cidade do Lagas de nome Urukagina, no tercelxo milénio antes de Cristo, ser aprosentado poles textos de ¢poca como um grande legislador ¢ reformador. Bouzon informa, contudo, que as inscris6es de Urukagina nao transmitem leis ou normas legais, mas medidas soclais adotadas ara coibir abusos e cortigir injustigas vigentes.15 © compo de leis mais antigo que sa conhece 6 0 do Us-Nammu (fandador da tercoira dinastia de Ur, 2111-2094 aC.) do qual chegou até 14. “Cancitorme: sistema de exctta, sem divida o maie antigo erhecdo, o vate fo latin cuncus, "cui wna fot} (1 ivantada pelos sunetonse sete ad 4s 0 % milo, O termo cunestormo earacteriza 0 aspecte anguieaa dos eintones en, pressos er arpa timida 08 taramenta om pada «de nomes, temas. conceitoshietéeleon,Hio de Jani. Nova Ron n CADb whAMAARAA RA Awe OOO nee OW OO OHO OE OO HORE O MEOH OHHH OHHOEOOHHSE Fllvia Lagos de Castro nds somente dois fragmentos de um tablete de argila. Em 1948 outras leis foram identificades também na mesma regio; so as leis de Eshunna, No final de 1901 e inicio de 1902 A.C. uma expedicao arqueoligica francesa encontrou uma estela (ou pedra) de diorito necro de 2,25 m de altura contonco um conjunto de lois com 282 artigos, postos de ma- neira organizada, ao qual chamamos hoje de Cédigo de Hammurabi por ter sido feita a mando do Rei Hammurabi, que reinou na Babilénia entre 1792 0 1750 a.C.18 2. Algumas Consideragées Sobre as Leis Anteriores a Hammurabi Antas de tratarmos espacificamente do Cédigo de Hammurabi & interessante que nos detenhamos, ainda que rapidamente, nas ca~ racteristicas gerais das leis escritas anteriores a Hammurabi, ‘Tanto Ur-Nammu quanto Eshunna foram rois de Cidades Estado no Crescente Fértil e do nome as primeiras leis escritas que conhe- cemos; a influéncia que Ur-Nammu (rei sumeriano) exerceu sobre as leis de Eshunna sao tao grandes quanto a que estas duas legislagées provocaram no Cédigo de Hammurabl. A questac da justica, alias, ora importantissima ja para os sumerianos, desta forma explica Kramer: "A lei e a justiga eram conceitos fundamentais da antiga Suméria, que impregnavam a vida social © econémica sumeriana tanto na teoria como na ritica. No docurso do século passado [séc. XIX .C}, 05 arquodtoges revelaram, & luz do dia, mk thares de tabuinhas de argila representando toda ‘egpdelo de documentos de ordom juricica: eon: tratos, atos, testamentos, notas promissérias, re eibos, acérdios dos tribunais. Entre os sumérios, © estudante mais adiantado consagrava uma grande parte de seu tempo ao estuco das leis ¢ exercitava.se regularmente na pritica de uma i terminologia altamente especializada, bem como (eu Butea) pode sor vista hej om dia no Mase do Louvre, em Pats na transcrigdo dos ctidigos legais © dos juiga. ‘mentos que tinham formado jurisprudéncia,"? O direito privado sumeriano reconhecia alguma indepe relagao ao marido. O divércio ora realizado através de deviaao judicial © poderia favorecer a qualquer dos cSnjuges, © repiidio da mulher acarrotava uma indenizagio pecuniiiria e somente era permitido polos indicados pela lei. O adultério era um dolito, porém scm incias se havia o pedo do marido. Q Miho mie renagaece cous ai poderia ou ter a mio cortada ou ser vendido como escravo. A esposa era responsavel pelas dividas do marido, As leis penais dos sumerianos muitas vezes substitufam o Prin- cipio da Pena de Taliao (que sera explicado a seguir) por multas ov por indentzagdes legais. 3. A Babilénia de Hammurabi Embora a Babilénia mais famosa seja a do rei Nabucodonosor (séc. V a.C.) por causa da participagio deste na Histéria dos Hobreus contada na Biblia, a Histéria da Babilénia remonta 0 segundo milénio da era pré-Crista, quando um grupo némade (areadiano) fixcu-se em uma localidade chamada Babila ou Bala lim (Babil6nia ou Babel - porta de deus), as margens do rio Eufrates. O xeque deste grupo arcadfano, Sumuabum (1894-1881 a.C.), co- ‘mogou @ expansao territorial da babildnia, mas fof seu sucoesor, Sumu ta'ol (1880-1845 a.C.), que, com vitérias sucessivas sobre os vizinhos, consolidou a independéneia da cidade. Os reis posteriores incorporaram a cultura suméria ¢ somaramn-na & cultura arcidiea; entretanto, em termes de expansao territorial Somenite em 1792 a.C. com a asconsio ao poder de Hammurabi a Babi- 'énia cresceu em poder. Este rei, com imonsa habilidade em politica de aliangas, mais que dobrou o territério que seu pai havia deixado, rel Hammurabi constraiu um grande império que abrangia os territérios dominados anteriormenta pola dinastia de Agadé — do mar Imforior o do Elam até a Sitia e o litoral do Mediterraneo. Ele assumin 05 titulos de roi de Sumer, rei de Acad, rei das Quatro Regiaes, roi do 7 KRAMER aput GIORDANI, M, C. Histria do antiguldade orton. 11. cl. Retdpotis ores, 20017. 138, Plivia ages do Cosi Universo ¢, 0 mais interessante: “Pai de Amurru® (Amurru significa Ocidonte). Hammurabi nao foi aponas um grande conquistador @ um ox- celente estrategista; fol, antes de mais nada, um eximio administrador, Conforme afirma Emanuel Bouzon: “Sous trabalhos de regulagom do curso do Eufrates e a construcao e conservagio de canais para a irtigagdo e para navegacdo incrementaram ‘enormemente a produgao agricola e o comézcio. Em sua politica externa Hammurabi preocupou- ‘se, sempre, em reconstruir es cidades vencidas ‘om roodificar © ornamentar ricamente os templos cos deuses locais ("18 orerones ee a "0 poder judicirio, na Caldéia anterior ao reina- do do Hammurabi, era exercido nos vemplos pelos sacerdotes em nome dos deuses. Na Babilénia, deade o inicio da I cinastia, comegaram a ser or ganizados, & imitagao do que ja existia em Sumer, tribunals civis dependontos dirotamente do so- berano, Hammurabi conferiu & justiga real supre- macia sobre a justiga sacerdotal; dewlhe unifor- 7B BOUZON, x, Op eit. p20. ntéeia do Dieta Gera Basi midade de organizagao ¢ regulamentou cuidiado- samente o processamento das agoes, compreen- denco nessa regulamentacéo a propositira, 0 recebimento oir nao polo juiz, a instrugéo com- Pletada pelo depoimento de tostemunhas ¢ diligéncias ‘in loco’ ¢, finalmente, a sentenga. Fot estebelecida entéo uma oiganizagao judiciéria uo incluia até 0 ministério pitatico © um dircito processual."19 Apés a morte de Hammurabi a dinastia manteve-se por aprox tadamente 150 anos, mas em 1594 os Hititas invadiram e incendiaram @ Babilénia, abandonando-a em seguida. A queda da dinastia le Hammurabi fez ascondor os Cassitas que iniciaram um novo periodo de Historia da Babilénia. 4. Sociedade ¢ Economia da Babilénia Hammurabiana A Sociedade da Babilonia da época de Hammurabi 6 dividida, Conforme indica o préprio cédigo, em ts camadas soviais: 0s “avilum” : 0 homem livre, com todos os direitos de cidadao, Esto é o maior grupo da sociodade hammurabiana © compreen. dia tanto ricos quanto pobres desde quo fossom livres, V Os “muskénum’: séo uma camada que ainda suscita ‘muita Aivica por parte dos estudiosos. Parocern ter sitio uma camada sntermediiria entre os avvilum e os eseravos, formada por fu clonatios piblicos, com direitos e deveres especificos, V_ Os esctavos: eram a minoria da Populagéo, geralmente prisio- neiros de guorras.29 A economia era hasicamonto agricola ¢ « maior parte cas torras era de propriedade do Palicio, ow seja, do governo. Mes havia comércio ‘este era bastante forte, principalmente 0 extemne conforme mostra o 18 GIORDAMT, 4. 6.38 0 CBdigo do Hisnunueta i da Antiouldnde Op. et, p. 165, 1 nose do rartum para eceravesoaratuin para escravas, 6 CSO OW OO EE WHEW EEHOOOHHOHHOHHEHOEOHEY ‘livia Lages de Casto Préprie Cédigo que afirma existirom inclusive banqueites que finan- ciavam as oxpodigées. © pequeno comércio varojista estava nas maos de mulheres, as “taberncizas" que vendiam nic somente bebidas, mes também géneros de primeira necessidade. O veiculo de pagamento, que hoje Genominamos moeda, era a cevada ou a prata, Assim nos indica 0 Cédigo de Hammurabi: “Se uma tabemeira nao aceitou covada come prego da cerveja, (mas) aceitou prata am peso grande ou diminuiu 0 equivalente de corvoja em telecio ao curso da cevada, comprovarao (isso) contra a taberneira ¢ a langardo na aqua," 4.1, Questées Acerca dos Escravos A madida que utilizaremos amplamente, principalmente na An- tiguidade, a nogfo de escravidao, {a2-80 necossdtio ompenhar-nos em ‘entender 0 que significa a Instituigao Escravidao, Isto faremos levando em conta a Eseravidao como um todo, nao somente na Babilénia, que & © tema deste Capitulo. Definir escravidio nao 6 somente considerar que todo aquele que tabalha sem nada receher é escravo: mutes de nés seriamos, até mes- ‘mo 05 honrados voluntérios que existiram e existem no mundo, colo- cados nesta posigao, quo nao 6 verdadeira no caso deles. Escravo é propriedade, bem alfendvel, ou seja, algo que pode ser comprado, vendido, alugado, dado, eliminado... Escravo 6, portanto, coisa. Na Antiguidade nao era condicao imperiosa sor de outra raga para tomar-se escravo. De fato, a escravidao originava-se de guorras—quan- do 0 individuo era, apés a derrota de seu grupo, pego pelos vencedo- res ~i de dividas ~ quando 0 individuo penhorava o préprio corpo ou do um membro da familia, como garantia de pagamento e ndo 0 fazia ~ ou por nascimento. ‘Assim define 0 Dicionério de Nomes, Termos © Conceitos Histérices: “Instituicgo secular earacterizada pela situagao de individuo juricicamente considerado um obje- aro 6 Misti do Dincto Carel ¢ Bras to, 60 qual outra postoa pode disper livremente exersendo direitos de propriedade, A oseravidac conkeceu ex:ravidinaria dfs no mundo anti- 90, criginando-ee, de modo geral, da guerra ~ ce- leiro inesgotavel -, das dividae e da heredita- Hledade (..)."22 filésofo grego Aristétolos oxplica a eseravidio desta forma “A produgao precisa de instrumentes dos quais uns so inanimados e outros, animades. Todos 03 ‘trabathadores séo instrumentos animados neces- sdrios, porque of instrumentos inanimados n4o ‘5¢ mover espontaneamente (as langadeitas ndo tecem panos por si préprias). O eseravo, instru. mento vive como todo trabalhador, constitui aclemais ‘uma propricdade vive". A nogio de pro- priedade implica a de sujeigao a alguém fora dele (yz 8. Alguns Pontos do Cédigo de Hammurabi a) A Pona do Taliso © Principio da Pena ou Loi de Taliéo é um dos mais utilizados por todes 08 povos antigos. # apontado por alguns como sendo a primeira forma que as sociedacles encontrararn para estabelecer as penas para sous dolites, Este principio, que é exemplificado na Biblia com a frase “olho por ‘tho, dente por dente", néo é uma lel, mas uma idéia que indica que a ena para o dlito é equivalente ao dano causado nesto. Assim sendo, ninguém softe “pena do taligo", mes, baseado neste principio, sofre Como pena o mesmo sofrimento que impés ao cometer 0 crimo, 22 KIRVEDO, Amtonio Carlos do Ama Dicionérie do nomes, te10s © coneeitos hie: téricos Rio do Janvio: Nova Morte. 1660,» 157, 23 ARISTOTELES upud GORENDER, Jacsb.O escraviama colonia. S80 Paulo: Aka, 198, pas ‘iva tagerce caso 0 Cédigo de Hammurabi utiliza muito este principio no tocante a danos fisicos, checianco a aplicé-Jo radicalmente mesmo quando, para conseguir a equivaléncia, penaliza outras pessoas que nao o culpado. “Se um awilum destruiu o olho de um outro awviluin, destruirdo eeu olho."24 "Se um construtor edificou uma casa para um awilum, mas nao reforgou sou trabalho, © a casa, ‘que construiu, caiu e causou a morte do done da, casa, esse construtor sera morto,"2 "Se eausou a morte do filho do dono da casa, ‘matarag o filo dase construtor.”26 Principio da Pena de Talido nao contava quando os danos fisicos oram aplicados a escravos & modida que estes podem ser definidos como bens allenaveis; o dano contra um bem deve ter ressarcimento material, p) Falso ‘Testemunho © falso tostemunho ¢ tcatado com severidade pelos povos antigos porque provas materiais eram mais dificeis; assim sendo, contavam ~ ha maior parte dos processos ~ somente com testemunhas. © Cédigo separa uma causa de morte de uma causa que envolve pagamento, nesta tiltima 0 énus do falso testemunho 6 0 paganiento da pena do processo. Em outros casos a sango para falso testemunho 6 a Pena de Morte. "Se um awilum apresentou-se em um processo com testemunko falso e no pode comprovar ‘que disse: se eee procesao 6 wm procosse capi tal, esse awilum sora morto."27 38 520. a5 520 27 $03. 1 Histéia do Direeo Geral ¢ Bratt “Se se apresontou com um testemunho (falso e:n causa) de cevada cu prata: ele earrogara a pena esse processo,” 22 c} Roubo e Receptagao © Cédigo Hammurabiane penalize tanto o que roubou ou furtou ‘quanto o que recebeu a mereadoria roubada, “Se um awilum cometeu um assalto ¢ foi preso: ‘esse awiluin sera morto."29 “So um awilum roubou um bem de propriodade de um cous ou do palécio: esse awilum sora morto; © aquele que recebeu de sua mio 0 objeto roubado sera morto."30 4) Estupro © ostupro som pena alguma para a vitima era previsto neste jo somente para “virgens casadas" (como na legislagao mosaica), ©u seja, mulheres que, embora tenham 0 contrat de casamonto fir. mado, ainda nao coabitavam com 0s maridos. '¢ um awilum amarrou a esposa de um (outro) ‘awilum, que (ainda) nae conkeceu um homiemi & ‘mora ne casa de seu pai, dormiu em sou scio, ¢ 0 Surprcenderam, esse avrllum sera morto, mas a ‘mulher sora libertada."3t ©) Familia © sistoma familiar da Babilénia Hanmurabiana era patriarcal ¢ 0 casamento, monogamico, embora fosse admitide o concubinato, Esta aparente discrepancia era resolvida pelo fato de uma concubina jamais 31 6130, 19 COR EARE RG REDE ORR ORK Rew eeweneseuce COO OOH WOOO WOOHOO HEOHCHHEHHOCHOTHEEHHOE Flivi tages de Cast ter 0 "status" ou os mesmos direitos de esposa. O casamento legitimo era somente valido se houvesse contrato: Se um awilum tomou uma esposa e néo redigin 6 seu conteato, essa mulher nao 6 esposa. "2 Havia também a possibilidade de casamentos entre as camadas sociais @ © eédigo nao somento admitia isto como ragulamontava a heranga dos filhos nascidos deste tipo de casamento: "Se um eserave do palacio ow um oseravo de um muskénum tomou por esposa a filha de win awilum ¢ cla the gerou filhos, 0 dono do escravo nao podterd relvindicar para a escravidao os fithos, da filha de um awilum."33 (© casamonto ora no que chamamos hoje “regime de eomunhao de bens”. "So, depois que a mulher entrou na casa ce um. aviilum, recaiu sobre eles uma divida, ambos dovordio pagar 20 moreador."4 1 Escravos: Havia duas monoiras basicas de tomar-se escravo nao somente na Babilénia, mas também na Antiguidade como um todo. Como prisioneiro de guerra ou por nao conseguir pagar dividas e assim ter que entregar-se a si mesmo, a esposa ou aos filhos, mas Hammurabi (assim como os Hobrous posteriormente) vai limitar 0 tempo desta escravidao por divida. "So uma divida posa sobre um avrilum o ole vendeu sua esposa, seu fho ot sua filha ou 0 entregou em servigo pela divide, durante tés ‘anos trabalhardo na easa de seu comprator ou. Bim mobi on 818 ~ seers do Dieta Geral asi daquele que os tém em sujeigao, no quarto ano sori concodida sua libertagio. ‘Umma escrava, tomada como concubina por seu senhor ou dada por sua Senhora ao marido, tinha uma situagdo bastante interessante se desse a este filhos que cla reconhecesso, Ela nde mais poderia ser vendida conforme atesta o artigo 146 do referide Cédigo. 9) Divorecio © marido podia repudiar a mulher nos casos de recusa on nogligéncia em “seus deveres de esposa e dona-de-casa’ Qualquer dos dois cénjuges podia repudier o outro por ma con- cluta, mas neste caso a mulher para repudiar @ homem deveria ter uma conduta ilibada, “Se uma mulher tomou aversdo a seu esposo © dissoshe: “Tu nao tords relagées comigo’. sen caso serd examinado em sou distrito, Se cla se guarda e nio tem falta e seu marido é wm saidor a desproza muito, esea mulher néo tem culpa. ela tomard sou dote e ira para casa de ecu pai 1) Adultério Somente a mulher cometia crime de adultério, 0 homem era, no ‘miximo, cimplice, Desta forma, se um homem saigse com uma mulher casada, ela soria acusada de adultério ¢ ele de cimplice de adultério e se a mulher fosse solteira, no comprometida, nao havia crimo nem Cumplicidadle, mesmo porque este é um povo que admite concubinato. ‘Quando pegos, os adiilteros pagavam com a vida, entretanto o Codigo prevd o pordéo do marido: ‘Se a esposa de um awilum for supreendida dormindo com um outro homem, eles os amarrario © os langasio n'égua. So © ospoxe livia tages ée Casio doixar viver sua esposa, o rei também debeard viver seu servo."97 1) Adogao a sociedade foi bastante humana no tocante adogao, voja: = Se uma orianga fosse adotada logo apés sou nascimento, néo podoria mais ser reclamada — Soa crianga fesse adotada para aprencer um oficio e 0 ensi- namento estivesse senco feito, ela nao poderia ser reclameda. Caso este ensino nao estivesse sendo feito, o adotado deveria voltar & casa paterna. = "Sea ctianga, ao ser adotada, jé tivesse mais idade e reclamasse por seus pais, tinha que ser devolvida, . — Em outros casos, 20 0 adotado renegasse sua adogio, seria severamonte punido. — Se o casal, apse adovar, tivesse filhos ¢ desejasse romper 0 con- trato de adogéo, o adotado teria direito 2 uma parte do patri- ménio deles a titulo de indenizagao.28 ) Hecanga No caso da divisdo da heranga, a sociedade hammurabiana ndo previa a primogenitura, ou seja, os bens néo ficavam somente com 0 filho mais velho, entratanto este poderia, na hora da partilha, ser 0 primoiro a oscolher sua parte. A tendéncia era sompre dividir em partes iguais indiferentemente de quem era a mae da crianga, bastava co reconhecimento do pai. .¢ a primoira esposa de um avritum Ihe gorou ‘sihos © a sua escrava Ihe gorou filhos, (So) 0 pai, durante a oua vida, diese aos fines que a escrava the qerou: 'Vés sols meus fllhos' e as contou com ‘93 files da primeira esposa, depois que 0 pai morrer, os filhos da primeira esposa 0 0s fithos da ‘escrava dividirao om partes iguats as bens ca casa paterne, mas 0 herdeiro, filho da primeira esposa, ‘escolhord entre as partes o tomard para £i."9 Estavam excluidas da heranga as filhas jé casadas, pols estas jé haviam recebido o dote. As filhas solteiras, quando casassem, recelve- iam seu dote das mos dos irmios.40 Mes os filhos, mesmo reconhecidos, ou frutos de casamento, podiam ser deserdados, mas para isto deveria haver um oxame por parte dos juizes. “Se um awilum resolveu deserdar seu filho € disse aos juizes: ‘Eu quero deserdar mou filho’, os juizes oxaminarao a quostio. Se 0 fflho nao como- teu falta suficientemente grave para exclut-lo da heranga, o pai nao poder deserdar seu filbo.” 19 Process0 As leis babilénicas desta época permitem e prevéem a mistura do sagrade e do profeno no julgamento, embora a justica leiga tenha tido maior importincia quo a sacerdotal A época de Hammurabi. Um juiz podia ser um leigo, um sacerdote ¢ até forgas da natureza como neste caso onde quem “julga” é 0 rio ‘So um awilum langou contra um (outro) awilum (uma acusagao de) feitigatia, mas nao pode comprovar: aquele contra quem foi langada (a acusagdo de) feiticaria ira ao rio ¢ mergulharé no ro. Se 0 rio purificar aquole awilum o ole sai ile- so: aquele que langou sobre ele (a acusagio de) feitigaria serd morto ¢ o que mergulhou no rio tomara para si a casa de ecu acusador."42 juiz leigo nao poderia, contudo, alterar sau julgamento apés 0 ‘encerramento do processo: 0, 35 100 194 5100 502, e288 23 CW OW OOH OOOO MOCO HOHE CEO EHHOHHOHHHHHGE Fiivia Lage do Casto “"Se um juiz fez um julgamonto, tomou uma de isto, fez exarar um documento gelado © dopoic alterou 0 seu julgamento: comprovardio conta esse juiz a alteragao do julgamento que fer; cle pagar, entio, doze vezes a quantia roclamiada esse processo ¢, na assembléia, fé-lo-~o levan= tarsse do sou trono de juiz, Ele nao voltaré a Sentar-se com os juizes em um proceso. "13 1) Trabalho © Cédigo de Hammurabi aborda lois sobre trabalho. Ele, por exemplo, prevé e pune o erro médico:*4 “Se um médico fez em um awilim uma operagio dificil com um eseapelo de bronze ¢ causcu a morte do avilum ou abriu 0 nakkaptum de um. awilum com um escapelo de bronze @ destrnin 0 otho do awilum, oles cortario a sua mio." Ao mesmo tempo este Cédigo ¢ 0 primeiro que conhocemos indicar néo somente o pagamento que um médico deve ter, mas tam- bem o pagamento de iniimeros profissionais como lavradores, pastores, tijoleiros, alfaiates, carpintoiros ote.‘ m) "Defesa do Consumidor* Na Babilénia do Hammurabi havia leis que protegiam os cidadaos do mau prestacor de sorvigos, polo monos em alguns casos (pode-se atestar esta idéla J no parigrafo 108 — 0 que trata da taberneira ~ citado anteriormente): 05 a5 gate 46 Embcra moitae partes dstas pardgraos tention cide apngadas pote tempo, podemos ‘contri orta lista de *honoriion” o pagamontos noe prdgrafos 218 a 2Y7, 257, 203, 271, mm e2n, oaremento & mote a7 sz a3 208 Misra do Dreko Geral Bras) “Se um pedreiro contruiu uma casa para um awilum @ nde oxecutou 0 trabalho adequada- mente e o muro ameaga cait, esse pedteizo deverd, roforgar o muro ae suas custas."47 ‘So wm barqueiro calafotou um barco para um awilum e ndo executou © seu trabalho com cxi- Gado e naquelo mesmo ano esse barco adernots uu suf: avatia, U bargueiiy desmumtatd esse: arco, reforgéto-d com seus préprios recursos, © entregara 0 barco reforgado ae proprietirio do bareo."48 CAPITULO III DIREITO HEBRAICO 1. Introdugao Os Hebrous sie um povo de origen semita que vivia na Meso- potdmia (entre os rios Tigre e Eufratos no Crescente Fértil) no final do segundo milénio a.C. Por esta época iniciaram um deslocamento que terminou por volta do século XVI a.G, ra regige da Palestina. A Palestina pode ser dividida em varias regiées: uma de planicie mosteira an longo ca Mediterraneo, wma io picor olovadoe no centro, 3 outra, 0 curiosa vale do Jorlao, que fica quase totalmente abaixo do nivel do mar, A terra dos Hobrous tom, portante, o mer Mediterraneo de um. lado, o deserto de outro @, o mais importante, a qualidade de ter sido 0 local de passagem entre a Africa e a Asia, isto 6, 0 Egito e a Mesopo- tamia, Os Hebrews, como a maioria dos poves da regio, eram agri cultores ~ pastores. Viviam do pastorelo de oveliias e, principalmente, cabras, do plantio de uvas, trigo, e outias produtos. Mas havia neste pove um diferencial que na Antiguidade era tinico: eram Monoteistas (mono = um, théos = deus). Esta caracleristica marea toda a histéria desse povo, bem como toda e qualquer produgao cultural que tenham realizado. A Historia destas pessoas pode sor acompanhada pela Biblia, mais especificamente pelo Antigo Testamento, quo raiine a Tora (ou a Lei), os Profetas e os Esoritos. © Novo Testamento inclui a histérla (e 08 ensinamentos) de parte dos Hebreus que acreditaram que Jesus é 0 ‘Mossias que 0 Antigo previa. Eles acreditavam em um s6 Deus, cue por vontade propria havia se revelado a um Pattiarca, Abrado, e, a partir deste moment, inicion uum relacionamento entre Ele ¢ os que cramava de "Povo Escolhico". Este era sou diferoncial, os wnicos da faco da torra com um Deus, iniciando a histéria do monotefsmo que hoje é dominante no mundo? W Genta, too a OWS OOOO HO OE OHHOOUHO OHHH HHHOHHHGHGOS Piivia Lages de Casto Este relacionamento é de tal modo intrincade que nio se pode ‘compreender este povo, sem vislumbrar a interferéncia de Deus om suas vides. Para cles, Deus escolhia os Iideres, Deus escoliia 0 lugar onde ficariam, Deus dava fartura ou nao, Deus, depencende de seu merecimento, dava a vitéria ou a derrota na guerra, Néo ¢ de estranhar, portanto, que para este povo a lel tenha sido inspirada por Deus ¢ ir contra ela seria o ecuivalente a ir contra Deus. Entho, leiga e © divino intoragem de tal made que pecado ¢ orime se confundem, o direito é imutavel, somente Deus pode modified-to. Os rabinos (chefes religiosos) podem até interpreticlo para adapti-lo a evoluigtio social, entrotanto nunca podem modificé-to. 2. A Sociedade e a Vida Econémica Os hebrous, a principio, se diviciam em tribos de acordo com os niimeros de filhos de Jaoé (12); astas tribos se subdividiam em familias @ toda @ organizagao politica e social girava em tomo deste status quo. Das doze tribos, onze cuidavam, basicamente, da agriculture e do pastoreio, a décima segunda nao tinha terrae, ora a tribo dos levitas ‘ue tinkam fungdes sacerdotais (ou melhor dizendo, de auxiliares dos sacerdotes que descendiam de Aardo). Havia também outras duas camadas sociais: a dos escravos e a dos estrangelras. Os primoiros podiam cor distintos entre os eseravos hebreus (provavelmente tomados como escravas pelo nao-pagamento de uma divida) estrangeiros. Ambos tinham tantos direitos que mui- tos autores confessam hesitar em chamé-los de escravos, pois, embora tenham as prineipais caracteristicas, eram cercados de muitas con- sideragdes, inclusive direitos. "A ambos assistiam certos direitos assegurados quer pela propria logislago mosaica quer pelo costume. Assim, por examplo, entre of direitos do escravo estrangeiro salvaguardades pela tadigao judaica, podomos enumorar: casar-se com uma escrava, possuir bans, converter-s0 40 judaismo, receber liberdade, em determinadas eucunstancias."50 3D GTORDAWL M,C. Mlsiria da anciguidade ovata 116d, Fetpole Wares, 200% 28 Mitris do Dirito Goro rast Os estrangeizos, livres néo gozavam do mesmo dircito dos he brous. Dois tipos de estrangeiros oram distintos: o¢ que tinham alguma ligago com alguma tribo de Tsrael e, portanto, desfruravam de alguns direitos, ¢ o5 que nao tinham quaisquer ligagbes nao tendo diteito algum. ApOs of quarenta anos no desorto, depois de se libertarem da escravidao no Egito, ao chegarem 4 Terra Prometida, 05 Israelitas pas- saram de somente pastores (como eram antes, pelo seu nomadismo) a agricultores-pastores. Entretanto, se por séculos estas atividades agro- pastoris foram 0 cerne da economia desta sociedade, a iniistria tam bém conheceu um certo desenvolvimento, principalmente aquela ane utilizava 0 cobre como matéria-prima, © comércio atingiu seu auge no pericdo de Davi e Salomao 0 sempre fol presente na vida deste povo, visto que a regio que habitam 6 uma verdadeira encruzithada nes rotas da Mesopotimia, Egito, Mar Varmolho 0 do deserto. 3. A Lei Mosaica Por volta de 1800 a.C. fortos secas obrigaram os Hebrovs a sairom da Palestina em diregdo ao Egito. Nesta época um povo, chamado Hicsos, tentava conquistar as planicies do Nilo; nao se salae se os He- brous enirontaram ou 2 aliaram aos hicsos; sabemos, entretanto, que em 1580 a.C., depois da expulsao destos, os Hebreus passaram a ser perseguidos no Egito, passando a pagar pesados impostes e chegando até mesmo a escravidio.5t ‘Moisés lideraria este povo, aproximadamente em 1250a.C., de vol- ta a Palestina, em um episédio chamedo éxodo, ou fuga. Conta a Biblia que Moisés teria sido criado por uma princesa egipcia que 0 havia encontrado em uma cesta botando no rio e que, apés chegar & idade adulta, teria tomado consciéncia de suas raizes hebraicas e, depois de um exilio, teria voltado ao Bgito para liderar a libertago dos Hebrous, Antes de chogarom Palestina, segundo a Biblia, os Hebreus terfam passado quarenta anos no dosorto ¢ ai teriam forjado, sob a lideranga de Moisés, toda a base de sua civilizagao, inclusive suas leis, 51 A tibia conta a histéva da a pata» Egito a pati do histvia de Jové que eta sido Yontido pelos cous iemiio com eocrave inde paar no Eyito eebesned 2 ate fi lone do fed (ef Gon, Canitules de 37 0 50, ‘Riva Lager do Castro Acreditam alguns que a Tora (que contém a lei dos Hebreus) foi criada pelo préprio Moisés e, embora este dado esteja um tanto desa- creditado hojo om dia, continuamos denominando a logiclagio do ‘Mosaica”, mesmo porque, provavelmente, fol apés a saida do Egito que este povo comegou a estruturar as bases de seu dircito, Abas moral da Logislagao Mosaica pode ser encontrada nos Dez ‘Mandamentos, que teriam sido escritos “pessoalmente" por Deus no Monte Sinai, como forma de Alianga entre Ele e 0 Povo Escolhido ‘A Tord, também chamada Fentateuco, é formada pelos cinco primeiros livros da Biblia: 0 Génosis, 0 dxodo, 0 Lovitico, 0 Nimeros ¢ 0 Deuteronémio. Em toda a ‘Tord encontramos leis; entretanto, hia no iltimo livo uma reunido maior de leis, repetindo inclusive alguns preceites vistos nos outros livros, mesmo porque é esta a intengao do Deuteronémio, que significa "sogunda loi”. “lo simplicidade} se reflete poderosamente na lei ‘mosaica, cuja virtude principal reside no fato ce ter transformade num veidadeiro cédigo as normas nio escritas da primitiva sociodade de ndmades, "2 ‘A meioria dos autores afirma nao ser a lei do Moisés uma logis. lagao que distinga entre diteito sacro 6 profano, apontado-a como um direito religioso, Isto é fato; entietanto, apenas definir este direito des- ta forma simptifica uma visio que pode ser ampliacia e pode auxiliar-nos zha compreensao desta sociedacdo 0 sua rolagao com a loi ¢ a raligiso. Se analisarmos o povo hebrew, poderemos constatar, como ja afi mado anteriormente, que é um povo que traz em tudo 0 fator religioso @ isto se da, principalmente, porque sua teligiéo, e a esséncia desta, © monoteismo, foi durante muitos séculos exclusividade do povo israo- lita, Desta forma, ao se tentar definir os hebreus, passaremos, obrigato- riamente © primairamonte, pela questao religiosa. ‘Assim a religido néo é somente uma das caracteristicas dos israo- litas, mas pode ser indicada como “a” caracteristica, aquela que da ali- cerco 0 6 0 ponto de convergincia te toda uma sociedade. Tanto foi as- sim que, praticamente, todas as vezes que este povo descuidou-se da religido, problemas sociais ¢ politicos aconteceram. Hles, obviamonto, explicavam tais “coincidéneias” como uma vinganga ou desaprovagao 2 RAO.V.Op oie.p. 17. » Mstéria do Dito Gora o Bros da divindade; entretanto, qualquer que fosse a caracteristica primor- dial de um povo. se fosse desdonhada, docunitia a sociedacie trans- formando-a om alvo facil para problemas internos ou externos, 4. A Formacao do Dircito Hebraico ~ da Legislagdio Mosaica aos dias de hoje A tradigao indica Moisés como autor do Pentateuco, portanto autor de Deutoronémio, das chamadas Leis Mosalcas, Esta obra devera ter entito a Idade de seu criador ¢ deve ser datada no século Xil! a.C. ‘Mas 08 anos de 586 a.C. e os soguintes foram primorciiais tambéan para a formagio de uma legislagao “extra mosaica”. Em $96 a.C., apés um cerco que durou mais de um ano, o10i da Da- bilénia, Nabucodonosor, eonquistou 0 reino dos hebreus ¢ estes foram levados - em ntimero pequeno, mas significative, visto que repre- sontavam a elite social e religiosa da nagao — para a Babilé Este cativetro fol o ponto de partida para a formacao de um diroito hebraico novo, oral, visto que ao entrarem em contato com diversas culturas diferentes e fortes (notadamente persas, gregos e romarios) os hobrous scntican @ necessidade de afirmar sua cultura, a0 mesmo tempo que procuraram adapti-la dentro dos parémotros das influén- cias que estavam recobendo. Este proceso, iniclade na Babilénia, ‘somente iria terminar 900 anos mais tarde. lel oral (Torah Cheb‘al Pé) atuava ao lado da escrita, isto €, mosaica (Tora Chobikhtavl. Esta continuou a ser considerada, séculos afora, a loi Suprema, infalivel, sacroscanta, Prevalecia sem- Pre (mesmo depois da codificagao da lei oral) cin ‘qualquer conflito que se verificasse entre as duae, A lei oral, formada polo Sofrim (oscritores). An cchei Halnessct Hagdotat (os homens da Grande Assembléia) © Tanaim (cébios), teve sempre am. ‘cariter subsidisrio, "63 55 WAO.¥.Op.ci p. 178, a Ae ee ee ee PRR RRP ORR ERROR ERO SE OCE OPC OSERE OS. ‘via Lapos de Castro A primetra codificagfio do diteito oral foi chamada de Michna (ropetigéo) foi feita pelo tikimo cos Tanaim em 192 d.C. Esta codifica- {G40 se divice em sois partos, nas quais a primeira, a terceira o a quarta Constituem, segundo poderiamos comparar hoje, © corpa de Direita Civil. A primeira trata de leis rurais ¢ propriedade imobiliéria, a texceira ecupa-se do direito matrimonial ¢ do divércio, a quarta trata de obrigagbes civis, usura, anos A propriediade, sticessao, organizagao os tribunais, processo etc. Fara guardar a fidelidade a Legislagdo Mosaica no uso da codifica- fo nova, os séculos seguintes produziram discussoes, interpretacoes € aprofundamentos do texto da Michnd que deram origem as Guemaras que juntamente com a Michné a propria Tord contituem © Talmud (que significa estudo), que é 0 verdadeico corpo da Legislagéo Hebraica. Entietanto, com a elaboragao co Talmud, nao se encerrou a histéria do direito judaico; ela continuou durante todos os séculos subse- qiuontos, aposar do os judous ostarom disperros polo mundo. Hojo, ap6s o estabelecimento do Estaco de Israel, o Parlamento Israelita, chamado Knesset, € 0 poder legistativo na concepgéo moderna do termo. 5, Algumas Leis do Deuteronémio a) Jastiga A Legislago Hebraica é bastante rigorosa na questo da justice, prevendo, inclusive, a obrigatoriedade ca imparcialicade no julga- mento: "Ao mesmo tempo, ordenei a vossos juizes: ‘Ouvi- ols vossos irmos para fazerdes justiga entie itn homem ¢ seu inméo, ou o estrangeito que mora com ele. Nao fagais acepeao de pessoa no julga- mento: ouvireis de igual modo 0 pequeno e 0 grande (..)."54 Para a operacionalizagio da justiga fica estabelecido que cada cidade teré, obrigatoriamente, que contar com juizes e que estes nao GE Dawiondiio 1, 16-17 itn li. So Pao: Paina, 88. (gute nose) a | ! ieia do Die arate Brit Podorio corromper-so. A Legislagio Mosaica explica esta avai suborno mostrando a légica incompatibilidade enixe o que 6 justo e a comupgio. "Estabolocerds juizos © oseribas em cacla uma das cidades que fahweh ten Deus vai dar para as twas tnbos. Eles julgarde © povo com sentengas justas. Nao perverteris © direito, nao fare ‘acepgio de pessoas no julgamento e nem accita- rs suborno, pois 0 suborno caga 0 alhor dos sdbios ¢ falseia a causa dos justos. "55 b) Proceso A. quostao da justiga, ou melhor, de nao cometer injusticas, 6 muito cara aos Hebreus, mesmo porque ter o "sangue de um justo nas ios” 6 um pecado gravissimo para elos. Neste sentido, este povo se difere Jum pouco de outros. j4 que, praticamente, nfo admite julgamonto sem ‘investigagao ou julgamento por forcas naturais ou deuses. No exemplo a seguir parte-£0 da possibilidade do cometimento de ‘um crime considerado extremamente grave, 0 do uma cidade aclorar a outros douses © é prevista uma punigdo pesada, mas nao sem antes ficar provado através de acurada investigacao. “Caso ougas dizer que, numa das cidades que Jaweh teu Deus te dari para ai morar, homens vagabundos, procedentes do teu meio, secuziran, os habitantes de tua cidade, dizendo: ‘Vamos. servir a outros deuses", que nao eonhecestes, dle- verés investigar, fazendo uma pesquisa inter. rogando cuidadosamente. Caso zeja verclude, 2¢ 0 fato for constatado, se esta abominacae fot pra- ticadla em tew meio, devoris entio passer a fio de espada os habitantes daquela eidado. 2) Pena de "Talide & a Biblia que primoizo descreve o Principio da Pena de ‘Talido (embora o uso fosse mais antigo) Dewi, 10.19. 56 Devt 12,1340 ( fo nosso) Confit tamsion Dt. 1,25, Fis tagos do Castro Jue teu olho nao teaha piedade, Vida por vida, othe por olho, dente por dente, mao por mao, pe por pa."s? Entretanto, embora este principio fosse utilizade entre os He- breus, o era de maneira mais amena que entre outros povos porque ‘outros prineipios limitavam sua aplicagac, como veremos a seguir. 4d) Individualidade das Penas “Os pais ndo serio mortos no lugar dos filhos, nem os filhos em lugar dos pais. Cada um sora exeeutado por seu proprio crime.”39 Este principio que individualiza as penas minimiza 2 ago do Principio da Pena de Talido entre os Hebreus, fazendo com que aplica: gies da Pena de Taliio como no caso visto no capitulo anterior em Hammurabi — quo 0 filho do consteuter morra por causa da casa que o pai fez, © quo ao cair matou o filho do dono da casa ~ no seja possivel Depois dos Hebreus (¢ um pouco os romanos), praticamente 86 no século XVIII d.C. vamos encontrar de novo a aplicagéo de to valoroso @ légico principio. e) Lapidagio Lapidagae 6 0 nome que se di a pena mais comum do Antigo ‘testamento. & a morte por apedrejamento. Para os israclitas morreriam dosta forma os idélatras (Deut. 17, 6-7), os feiticeiros (Lev. 20, 27), os fills rebeldes (Dout, 21, 18-21) ¢ as aditeras. f) Cidades de Refiigio A preocupagie desta legistagtio com a justiga chega ae ponte de prever e obrigar 0 ostabelecimento de cidades do refiigio (ou asilo), onde pessoas com problenias poderiam se refugiar para que fosse foita ‘a justica com ealma e nao no calor de fortes emocoos. WT Dow toa, 8 Dout 25,16 m tia do Dscto Qzrale Bras! juando Tahweh teu Deus houver eliminado as nagées (..), € as conquistares @ estivoros moran- do om suas cidados ¢ casas, separaris tits cida- des no mato da torra cuja posce Iahweh teu Deus te daré. Estabeleceris 0 caminho, medixée ao istancias © dividirds em tés partes o temit6rio (..4; {sto para que nola se refugie © homicida."69 A utilidade destas cidades pode ser melhor compreendida em conjunto com o préximo ponto, @) Homicidio Involuntario @ Homicidio ata logislagéo preva, como de resto todas ab oxt39, 0 honsio o. na Anigidads 9 Pins da bon Ue Tao era utes base na penaizagge dasto dat, Entretanio. os Helaeve nao peraree & penalizacao do que cometau homicido “som querer Nie ws dave uillza o termes “culposo™ para poun quo nde concabia egiinbacta ‘mporicia ou imprudéncia como causas de homicidios ou danos, : "Bata 6 0 ¢aso do homcida que poderd se lugar lipara se manor vive: aquele quo mata seu ps imo invohuntariamente, som too edad antes {Por oxompe:alguém vi com sou proxi cortar lonha;impetindo com forgac machad para corar € drvore. 0 fer escapa do eabe, atinge o comme: nei oe mete} ele poducdentio se tongiar mu tna daquolas cidade, feando com a vide sale ava que o vingador do angio, enfucesi, nie Dota o homicida eo aleanot, porque 6 carina @ longo ~ teando-Ine a vida sem mocha cients pols antes nto ora inmige de outa" “Contudo, se alguém 6 inimigo de seu préximo & The arma uma cilada, levantando-so 0 ferindo-0 ‘mortolmonte, © a seguir se refugia numa daquo- Jas cidades, os anciaos da cua cidade enviasio Dat 1,13, 0 Deut 19,46 3 AAEREKGE DRO RRR EREAMAKBRRK AKO KM ROO © WOO OOOO OO SHOE HCUOOKUH HES HHHKEEHEVE Plivie tages de Casto pessoas para tiré-lo e entregé-lo ao vingador de sangue, para que soja morto."5! 1h) Testomunhas A prova testemunhal era primordial na Antiguidade os Hebreus tm um preseite legal que até hoje pode ser visto, inclusive em nossa legislacao: “Uma tinica testemunha nao é suficionte contra alguém, em qualquer caso do iniqiiidade ou de pecado que haja cometido. A causa seré esta- belecida pelo depoimento pessoal de duas ou tres ‘testamunhas. "62 Com tamanhe importéncia dada 4 prova testemunhal, as penas para falso testomunho oram posadas geralmento, condo quo, na Logis- Jago Mosaica, a pena para falso testemunho é equivalente & pena que © acusado teria se fosse condenado (Principio da Pena de Talido), “Quando uma falsa testemunha se levantar cor tra alguém (... as duas partes em litigio se apre- i sentardo diante de Iahwen, diante dos sacerdo- tes e dos juizes que estiverem em fungao na- quolos dias. Os juizes investigarso euidado- samente. Se a testemurha for uma testemunha falca, o tivor caluniado seu irméo, entéo vos a tratareis conforme ela propria maquinava tratar . sou préximo,"62 i) Matrimonio 4 interessante notar que nao ha em hebraico uma palavra que seja sindnimo de matrimAnio; no Antigo ‘Testamento falta © conceite que hoje temos. Este ndo era de direito religioso ou civil, mas era um assunto puramente particular entre duas familias.6 Br Dear e112, 82 Deut 19,15. 83 Deut 19, 16:19. Novesso que a quustio da investaagse &retoreata 1 BORN, A Van Den. Dicondrie enciclopédiea da iba Ptronelie Yarns 1971. p. 988 26 Mita co Dieta Geral Beast 5) Adultério Embora nesta sociedade como na de Hammurabi o paso maior do crime de adultério esteja sobre a mulher casada, hé um certo puritans ‘mo neste povo que leva o peso clo crime também para o homem, “Se umhomem for pegoem flagrante eeitado com. ‘uma mulher casada, ambos sexdo mortes. 0 ho- ‘mem que se deitou com a mulher @ a mulher."®5 }) Divéreio ‘Todos os poves da Antiguidade prevéem divércio. Este £6 co- megou a sor proibido a partir do cristianismo. Na Legislagdio Mosaica, entretanto, somente os homers podem divorciar-se, as mulheres nao cabe a iniciativa. Mesmo assim teria que havor algo “vergonhoxo" (0 que pode ser interpretado de viirias maneiras) na esposa para que 0 esposo pudosse repudié-la “Quando wm homom tiver tomado uma mulhor © consurmado 0 matrimdnio, mas este logo depois ‘do encontra mais graga a sous olhos, porque vit nela algo de inconveniente, ele Ihe eserover entio uma ata de divércio ¢ a entregara, dei- andova salt de sua casa em liberciade. "66 1) Concubinato No deuteronémio o concubinato considerade como algo normal (somonte 0 Lovitico ~ 18, 185s ~ ordenava que as dias — esposa e con- Gubinia ~ nao fossem irmas), "Se alguém tiver duas mulheres (..), ¢ ambas Ihe ‘iverem dado fithos (..)."67 Dew 22.72, 66 Dow. 24.1, (67 Dent 22, ‘livia tapes de Casto Hisedeia do Ciao Gera Basil 1m) Estupro! virilidade ¢ 0 direito de primogenitura Ihe per tence."69 (© estupro sem pena para a vitima 6 provisto nesta legislagao, om- bora somente em um caso especifico: o de a muller ter sido violentada 0) Deftoragao em um lugar onde poderia ter gritado sem que ninguém a ouvisse. caso aplica-se a mulher virgem ndo comprometida. “Se houver uma jovem virgem prometida a um homem, e um homem a eneontra na cidade © se ita com ola, trarel ambos: porta da cidade os apedrejareis aué que morram: a jover por nao ter gtitado por socorto na cidade @ 0 homem por ter abusado da mulher de seu proximo, (..) Contudo, {60 © hemom eneonteou 9 jovam pramoridla ne campo, violentoura e deitou-se com ela, morrerd *Se um homem encontra uma jovem virgpm que nao esta prometida, e a agarra e se deita com ela fe € pego em flagrante, 0 homem que se deitou ‘com cla dara ao pai da joven cingitenta ciclos de rata [570 gr. de prata aproximadamente}, @ ela ficari sondo sue mullet, wna vee que alunun dela, Ele nao podera mandé-la embora durante ‘somente 0 homem que s¢ deitou com ela; nada faris A Jovem, porque ela ndo tem pecade que merega a morte. (..) Ele a oneontrou no campo, © pieaaeon: a jovem prometida pode ter gritado, sem que houvesse quem a salvaase."6# toda a sua vida." Em Israel, os prisioneiros de guorra nao israglitas eram vendidos como escravos (Deut. 21, 10) ou podiam ser comprados em Tiro, Gaza ou Ago; 0 trafico de escravos estava, principalmente, nas maos dos Benicios. Era protbida a compra de oscravos israolitas por ieraelitas, embora um istaelita pudesse vender a si mesmo (provavelmente para pagamento de divida) como escravo, A lei indicava que esta escravidao 1ndo poderia ser eter 1) Horanga e Primogenitura © primogénito era boneficiade em detrimento dos outros filhos (homons, ja que mulheres tinham diteito apenas ao dote), Esto bene- ficlo era garantido mesmo que o primogénite tivesse como mac uma das mulheres do pai que este “nao gostass “Se alguém tiver duas mulheres, amando uma e no gostando da outra, e ambas Ihe tiverem dado fithos, se o primogénite for da mulher da qual ele do gosta, este homem, quando for repartir a heranga entce seus filhos, nao poderd tratar o filho da mulher que ele ama como se fosso 0 mais vyolho, om dettimento do filio da mulher que ele do gosta, mas que é © verdadeiro primogénito. Reconhecerd como primoginito o fiho ca mulher da qual ele nao gosta, dando-the porgao dupa do tude quanto possuie, pois ele é a primicia da sua "Quando um dos tous irmaos, hebzeu ou hebréia, for vendico a ti, ole te servird por seis anos. No sétimo ano tu o deixards ir em liberdade, no © dospegas do mios vasios: carrega-lhe 0 ombto ‘com presentes do produto do teu rebanho, da tua ira ¢ do tou lagar."7? eta indicagae de que o escravo deveria receber algo ao deixar a asa do senhor pode parecer, para alguns, como uma forma de pa- gamento, pelos seis anos de servigos prestados, mas nao o 6, Eseravo Sosa, Bast 22.13.17 eva, 20.27 Nan pei sem ied ca a uaa pie fate da hora extupiada na cidade nioter giao, erry y terrier tree Tee ee Te Ee Ce Te ere ce © OOOOH OO EHO SHH OHOUOHEHHEESHHHKKEHHESHE | Bote estabelecimento de uma ajuda para o recém ex-escravo parece ser uma forma de possibilitar que a lei seja de fato cumpricia, visto que, sem isso, 0 escravo, sem ter para onde ir @ como sobreviver, doixaria 92 escravizar pelo resto da vida. Alias, esta ¢ uma apcae do escravo: “Mas se ele [escravo} diz: nio quero detxar-te, so. ole te ama o tua case, ¢ est bem contiao. tomards entao uma sovela e the furaris a oraiha ‘contra a porta, ¢ ele ficard sendo teu Sempre. O mesmo faras com tua sorva, q) Caridade: Entre os hebreus a caridade é prevista em lei, mesmo porque trata-se de um povo que se pauta e tem sua identificagao enquanto sociedade na quostao religiosa, “Quando houver um pobre em teu meto, quo soja ‘um 86 dos teus irmaos numa 36 de tuas cidades, (..) ndo endureceras teu coragio, nem fecharas a mio para com este teu irmao pobre; pelo contri io: abre-Ihe a mao, emprostando © que Ihe falta, na medida da sua necessidade,"72 1) Governo Geralmente, quando se trata de uma religiéo revolada, ou soja, quando a prépria divindade se mostra para os figis por livre vontade, a interferéncia da divindado no dia-a-dia do povo é muito grande. Neste caso, 0 dos Hebreus, quem institu! 0 governo é Deus; por- ‘tanto, o roi nao pode sentir-se muito acima dos demais mortais, “Quando tiveres entrado na terra que Iahweh tox: Deus te daré, tomado posse dela e nela habitares, © dissores: ‘Guero estabolocer sobre mim um rei, come todas ax negées que me vodeiain’, devoras 72 Deut 15, 16-17, 73 Deve 15.78 “0 stein do Pista Grate Bras estabelecer sobre ti um rei que tenha sido es- colhide por Ichwoh tou Dous; é um dos tous inndos que estabeleceras como rei sobre ti. Nao poderiis nomear win estrangeiro que nao soja tout jnmio."74 De fato, os reis de Israel costumavam, sagundo a tradigio biblica, ‘ser escolhides por Profetas a mando, segundo a crenga istaelita, de Deus. Assim foi com 0 primeiro rei, Saul, consagrado pelo profeta Samuel, segundo Iho ordenara Deus, assim foi eom Davi quo, mbora nem parente de Saul fosse, foi escolhido; mesmo no caso de Salomao, este nao era o primogénito de Davi e foi rei sucedende 0 pai.?S 5) Fraude Comercial e Juros A Logislagao hebraica proihe a utilizagdo de pesos e medidas diversos, bem como o empréstimo a juros entre ieraelitas. "Néo teris na bolsa dois tipos de peso: um pasado @ outro leva. Nao ters om ta enza dois tipos de medida: uma grande e outra pequena."79 j40 emprestes a teu irmAo com juros, quer se trate de empréstimo de dinheiro, quer de viveres fon do qualquer outra coisa sobre a qual é cos- tume exigic um juro, Poderds fazer um omprésti ‘mo com juros ao estrangeiro; contudo, empres- tards sem juros ao teu irmao (..)."77 1) Fauna @ Flora Ha uma preocupagio que poderiamos chamar de tum tanto pre servacionista em algumas lois do douterondmio: “Quando tiveres que sitfar uma cidade durante muito tompo antes de atacé-a e tomila, 7 Bout ¥7, 1036. 75 CLtoM Sommvet et et Ros 76 Bout 25,1514 7 Daut 29 202. ves abater suas arvores a golpes de machado; ali- mentar-teds dela, sem corté-ias (..).") "Se polo caminho encontras um ninho de pas- sates ~ numa drvore ou.no chao ~ com filhotes ou fovos © 2 mao sobre as filhotes ou sobre os ovos, ndo tomaris a me que esta sobre os filhotes, doves primoiro doixar a mao partir om liberciade, depois pegaris os filhotes, para que tude corre ‘bom a tie prolongues os tous dias." CaPiTULO IV O CODIGO DE MANU 1. Introdugao Entender 0 Cédigo de Manu somente lendo-o 6 uma tarefa impos- sivel, mesmo para o mais sdbio dos ocidentais. Este Gédigo, mais niti- damente ¢ mais profundamente que qualquer outro da Antiguidacde, 6 Parte inexoravel da constituicao histérica, social o, principalmonte, religiosa deste povo. Portanto, entender o Codigo de Manu é, antes de mais nada, bus- car a compreenso desta sociedade ~ ¢ sua estrutura - e de sua 1e- ligito. 2, Contexto Histérico ‘As condig6es geogriticas da india ~ um rolativo igolamento — marcaram muito sua formagao na Antiguidade. Contrariamente ao Eg toe Mesopotamia, a india & caracterizacla pela sua diversidade a pala comploxidade das suas condigées naturais.80 ‘A india fica na Asia Moridional o tem duae zonae prineipais: o Sut 0 Norte. 0 Sul ocupa a Peafasuta do Desde a segunda zona encontra- se no continent. Esta regiao esta isolada, por um lado, pelo Himalaia (a mais alta cadeia de montanhas do mundo) 6, por outo, pelos mares, dificultando rnuito a cominicagao com outras povos. Por volta dle 2.500 a.., os dravicianos jé dominavam técnicas do cultivo na Peninsule Indiana, inclusive a do arroz. que posteriormente s0 difunaiu por toda a Asia, No segundo milénio antes de Cristo, vindos co intarior do conti- nente, os arianos invadicam o norte @ tomaram a poninsula. Eles ja 0 DIAKOY V.OVALEV,S. (dc) Histria da Antigdidade~ A sociedade primitiva de Ocha 3: Eetampa 1975, ps U%ee, “ OW © OOOO OU OOOOH EHO OOEHOOCHHKHHHHEHHHEY dominavam o ferro e eram bons guorroites, principalmente excelentes cavaleiros, Da soma da civilizagao dravidiana e dos invasores arlanos nascau 4 civilizagao hindu, que possuiu caractoristieas que ac perpetuam até hoje na sociodade indiana, 3. Sociedade A sociedade Hindu é dividida om Castas ¢, mesmo hoje ~ depois da influgneia de outros povos, outras religies ~ nas regioes onde o hinduismo permanece a es:rutura de castes persiste inalterada, | O sistema de castas nao admite mudanges (ae menos em vical: 0 nascimonto determina a casta que 0 individuo pertencera por toda a sua existéncia, Portanto, nascer em uma casta significa crescer nela, casarse com alguém desta mosma casta, ter filhos somente desta asta © morrer pertencendo a ela. A mnistura de castas é vista como algo hedionclo, nao passivel sequer de qualquer consideragao, mesmo porque, para os Hindus, esta Aivisao foi feita na eriagéo do mundo, quande dos membros superiores do deus Brahma safram as castas suporiores, ¢ dos membros inferiores 4 castas inferiores.21 As castas cram quatro © quem nao pertencia a nenhuma delas era considerado “resto”: \! Brimanes: a casta superior, considerada a mais pura fisica ¢, principalmente, espiritualmente, Tinham fungées como administradores, médicos, lideres espirituais ote. Acs Brimanes, cra dovida obediéncia, indiferenzemente da condigao da tal Bramane. “Art. 793. Instruido ou ignorante, um Bramane 6 uma divindado podorosa, do meemo modo que 0 fogo consagrado ou ndo consagrado ¢ uma poderosa divindado." Para dstar esta ofrmagi, podemos lr no Gdaiga do Manu, Art. SY: “0 flho que un Brémase engendr por Tuziria se unindo a uma mulhor do elacea servi, iad ue sorande da vida, é como um cadaver; es poinin 6 chamacoesdaver vive, a” \._ Ksatryas: exam a casta dos querseitos. \ Varsyas: a casta dos comerciantes, f interessante ressaltar que ‘octa divieao por castas nao depondia de riqueza. Os brémanes eram muito ricos, mas um varsya tambéin poderia sé-lo, mas, mesmo assim, era consideraco inferior aos isatryas, que por sua vox cram inferiores aor brimanes. . \ Sudras: a casta inferior? Eram a mfo-de-obra da india (pediei- 105, agricultores, empregados em geral). Estavam em condigio sorvil, ou seja, ombora nao fossom escravos, estavam obnigadoe a trabalhar para as outras castas, prineipalmente a dos hrd- “Art, 410. Mas, que ele [o brimano] obrigue um Sudra, comprado ou nao, a cumprit es fungoes servis; porque ele foi eriado para 0 servigo do Brimane pelo ser existente por si mesmo." ‘Art, 411, Um Suda, ainda que lberto por sou senhor, nio é livre do estado de servidio: porcue este estado, Iho genclo natural. cuem poderia cele isenta-lo?™ (© “resto” era chamada Chandalas ou pirias, que nao eram cons! derados casta; na prética, néo eram considerados nem gente. Eram ‘lassificados como os mais impuros, cabendo a cles as tarefas também consideradas domasiado impuras para quo um mombro de uma easta as executasse. Bles eram os sapateiros, os limpa-fossas, os curtidores etc. Ou seja, exerciam fungées que lidavam com restos humanos ou de animais, Os rois, om goral, saiam da casta dos Ksatryas, isto porque cram, antes de mais nada, chefes guerroiros. Entretanto, os brémanes podiam mais que o rei, como provam estes artigos do cédigo: “Art. 35. Quando um homem vom dizer com ver- dace: ‘esse tesouro me pertence’ e quando ele rova o que aloga, tesouro tendo siclo achado, 9 todos es entices, poder at mesmo sor constderada wn “prog” A. 220 © pats habirado por um grande nimero de Sudias, Geadertado er aoa, « dosinovis oTisimones, Gtogo descr plas dovastagbes da fone © das ett ise Lages do Castro quer por esse homem quer por outro, 0 rei deve ter dele a coxta ou a duodécima parte, segundo a qualidade desse homem.” “Art. 37, Quando o Bramano instruido vem a des: eobtir um tesouro cutrora enterrado, ele pode tomé-lo integralmente, porque ele & senhor de tudo que existe.” “Art. 38, Mas, quando o rei acha um tesouro anti- gamente depositado na terra e que nao tem dow, que ele dé a metade dele aos Bramanes e deixe entrar a outra metade em seu tesouro." 4. Religiao Para os Hindus (antes das influéncias budistas e, posteriorment cristas) a roligiao era 0 Vediemo, quo vem de Veda, que significa " soma de todo conhecimento”. £ a religiéo que antecece 0 Bramanismo que dominou a fndia posteriormente e que sobrevive até hoje juntamente com as religiées “importadas’ © Vedismo apdia-se na cronga na reencamagéo e, através desta, os Hindus puderam basear e firmar sua ostrutura social © sua legis: lagio. Para eles o reencarnar em uma situagdo boa ou ruim na préxima vida dependia intimamente de ser bom ou nao na vida presente. Esta déia pormoia tudo dos hindus da india antiga - da sociedade religiao, da economia 4 divisdo por castas. Como afirmado anteriormente, esta divisio nao possibilitava mistura nem a mudanga de uma casta para outra. Este deslocamento contro castas 96 era possivel ao individue com a sua morte e cor soquente reencarnacao. Se uma pessoa fosse boa durante sua vida, poderia vir em uma casta melhor em sua prdéxima encarnagdo; se fosse ruim, viria em uma casta inforior. Esta corteza dava & forma da socledade um molde que nao po- deria ser facilmente rompico, visto que, se um individuo estava em ‘uma situagio precaria por ser de uma casta inferior, isto se dovia oxelu ‘sivamente & rosponsabilidade dole proprio e de sua conduta na vida anterior da mocma manaira no havin cama «e rohelar contra as iscia do Dueteo Gora rash pessoas das eastas superioves, 4 medida que estas fizeram efetiva- mente por merecer em suas vidas passadas. Além da divisao social, 0 proprio Cédigo de Mant apoiava-se nesta crenga. Ser bom ou ruim implicava dirotamente respeitar ou no 0 Codigo: “Art. 750, Uma obediéncta caga As ordens dos Brémanes versados no conhacimento dos Livros Santos, donos do casa e afamados pela sua virtude, @ 0 principal dever do um Sudra a ele felicidade depois da morte.” “Ar 761. Um Sudra, puro de espirito ¢ de corpo, submetido as vontades das clasces superiores, doce em sua linguagem, isento de arrogancia ¢ se ligando principalmente aos Bramanes, obtém um. nagcimento mais eleva.” 5. Alguns Pontos de Cédigo do Manu a) Testemunhas A quostéo das testemunhas para este cédigo 6 tratada com 0 ‘mais intonso cuidado, Uma testemunha nao pode, de maneira alguma, ficar calada, pois isto é considerado equivalente a um falso teste. munko. “Art. 13. 8 prociso ou no vir a0 Ttibuncl ou falar segundo verdade: 0 homem quo nada diz, ou Profere uma mentira, ¢ igualmente culpada,’ ‘As testemunhas devem ser admitidas dentto de parmetros muito estreitos: “Art. 49. Devem-se escolher como testemunhas, Para a causas, om todac az classes, homens dignos de confianga, conheconde todos os scus Goveres, isentos ce cobiga, e rejeltar aqueles eujo © © OOO OO OE OOS UCU OOH OO OCHO ECKEHHOEHEY livia Lagos de Cesta Entretanto, a rejeigao a testemunhas nio ficava restrita a homens cujo “carter fosse duvidoso”. Uma série de tipos de pessoas, de Profissionais, de indivicuos com certas condigées emocionais, também do podia testemanhar: "Art, $0, Nao se devem admitir nem aqueles aue lum interesse pocuniério domina, nem amigos, nem criados, nem inimigos, nem homens cuja ma- ff ceja eanhenita, nem slnantee, nam homane culpados de um crime, “Art. 61. Néo se pode tomar para testemunha nem 6 rei, nom um articta de baixa classe, como um cozinheiro, nem um ator, nem um habil teédlogo, ‘nom um estudante, nem um aseético afastado de todas as relagdes mundanas." ‘Art. 52, Nem um homem inteiamente depen: dente, nem um homem mal afamade, nem 0 que exerce um oficio eruel, nem 0 que se entrega a ‘ccupagées proibidas, nem um velbo, nem uma crianga, nem um homem £6, nem iim homem Pertencente a uma classe misturada, nem aquele Ccufos 6rgdos estao enfracquecicios.” “Art. $3, Nom um infeliz desanimado polo pesar, nem um ébrio, nem um louco, nem um sofendo fome ou sede, nom fatigado om oxcesso, nem o ue esti apaixonado de amor, ot em colera, 02 um ladrio." Algumas pessoas podiam ser tomadas como testemunhas, apesar do nao serem consideradas ideais e somente poderom sor usadas em casos excepcionais e em condicées predeterminadas. ” “Art. 54. Mulheres devem prestar testemunho para mulheres; Dvija da mesma classe para Dvijas, Sudras honestos para pessoas da clasze eorvil; homena pertencentea do classes miste radas para os quo nascoram nessas classes. Mas, se se trata de um fato acontecido nos apozentos interiores ou om uma florasta, ou do Miscéeia do Ditcto Geral e Brest um assassinato, aquole, quem quer que seje, que vin 9 fato, deve dar testemunho entre as duas partes," “Art. 66. Bm tais circunsténeias, na falta de tes temunhas convenientos, pode-se receter o copoimento de uma mulher, ou de uma erianga, eum anciao, de wm diseipuio, de um parente, de uma escrave ou de um eriedo.” No caso de testemunbas mulheres, conforme visto acims, era somonte aceito se o testemunho fosse dado a outra mulher, entretanto mesmo assim olas eram consideradas inconveniontes por sua “inconstancia’ “Art. 62. © testemunho isolado de um homem isento de cobica é admissivel em certos casos; enquanto que © de um grande nimero de mulheres, ainda que honestas, nao o 6 (par causa da inconstineia do espirito delas) como nico é 0 dos homens que cometeram crimes.” ‘Mesmo ao se colocar na posicao de tostomunha, a separagio © a hierarquizagao das castas estavam presentes: “Art, 97. Que o juiz faga jurar um Brémane por sua veracidade; um Keatriya, por seus cavalos, sous olefantes ou suas armas; wm Vaisya, por suas vvacas, seu trigo, seu ouro; um Sudra, por todos os crimes." E, dependendo do caso, a testemunha poderia ter que passar por ‘uma prova: “Art. 99. Ou onto, segundo a gravidade do caso, que ele faga tomar o fogo com a mio Aquele que ele quer exporimentar ou quo ole mande morgut- Ihéclo ma dua ou Ihe faga tocar separadamante a

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