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CAPITULO 11 O Eletrocardiograma Normal Quando o impulso cardiaco pas: através do coragdo, uma corrente elétrica também se propaga do coragao para os tecidos adjacentes que o circundam. Pequena parte da corrente se propaga até a superficie do corpo. Se eletrédios forem colocados sobre a pele, em lados opostos do coragao, ser possivel registrar os potenciais elétricos gerados por essa corrente: esse registro é conhecido como eletrocardiograma (ECG). A Figura 11-1 mostra o registro de dois batimentos cardiacos de um ECG normal. Atrios Ventriculos: Intervalo BR 3 2 = Intervalo P»R=0,16s ° 02 04 O86 08 10 12 14 16 ‘Tempo (s) Figura 11-1, Eletrocardiograma normal. CARACTERISTICAS DO ELETROCARDIOGRAMA NORMAL O ECG normal (Fig. 11-1) é composto por onda P, complexo QRS ¢ onda T. O complexo QRS apresenta, com frequéncia, mas nem sempre, trés ondas distintas: a onda Q, a onda R ¢ a onda S. A onda P é produzida pelos potenciais elétricos gerados quando os atrios se despolarizam, antes de a contragao atrial comegar. O complexo QRS é produzido pelos potenciais gerados quando os ventriculos se despolarizam antes de sua contra¢ao, isto é, enquanto a onda de despolarizagao se propaga pelos ventriculos. Portanto, tanto a onda P como os componentes do complexo QRS sao ondas de despolarizagao. A onda T é produzida pelos potenciais gerados, enquanto os ventriculos se restabelecem do estado de despolarizagdo. Esse processo no misculo ventricular normalmente ocorre 0,25 a 0,35 segundo apés a sua despolarizagdio, e a onda T é conhecida como onda de repolarizacao. Assim, 0 ECG é formado por ondas de despolarizagdo e por ondas de repolarizagéo. Os principios da despolarizagdo e da repolarizagéo foram discutidos no Capitulo 5. A distingao entre as ondas de despolarizagao ¢ as ondas de repolarizagéo é tio importante na eletrocardiografia que esclarecimento adicional se faz necessario. Ondas de Despolarizacao versus Ondas de Repolarizacao A Figura 11-2 mostra uma fibra muscular tinica do coragio em quatro fases diferentes do processo de despolarizagao e de repolarizagao. Nessa figura, a cor vermelha indica a despolarizagao. Durante a despolarizagao, o potencial negativo normal presente no interior da fibra se inverte, ficando levemente positivo no interior e negativo no exterior. Na Figura 11-2A, a despolarizagao representada pelas cargas positivas vermelhas, no interior, ¢ pelas cargas negativas vermelhas, no exterior da fibra, esta se deslocando da esquerda para a direita. A primeira metade da fibra ja se despolarizou, enquanto a metade restante ainda esta polarizada. Entretanto, o eletrédio esquerdo, situado no exterior da fibra, esta em drea negativa, ¢ o eletrédio direito esta em area positiva, 0 que faz com que 0 aparelho registre valor positivo. A direita da fibra muscular, evidencia-se 0 registro das variagdes que ocorrem no potencial entre os dois eletrédios como mostra o aparelho registrador de alta velocidade. Na Figura 11-2A, observe que, quando a despolarizagdo alcanga a metade do comprimento da fibra, 0 registro sobe até o valor positivo maximo. Na Figura 11-2B, a despolarizagdo j4 se estendeu por toda a fibra muscular, © 0 registro 4 direita retornou a linha de base zero, porque ambos os eletrédios estdo agora em dreas igualmente negativas. A onda completa é uma onda de despolarizacdo, pois resulta da propagacdo da despolarizagiio ao longo da membrana da fibra muscular. A Figura 11-2C mostra metade do trecho da mesma fibra muscular j& repolarizada. A positividade est retornando para o lado externo da fibra. Nesse momento, o eletrédio esquerdo est em area positiva, ¢ o eletrédio direito em rea negativa. Essa polaridade agora é oposta 4 polaridade mostrada na Figura 11-2A, Como consequéncia, o registro mostrado a direita fica negativo. Na Figura 11-2D, a fibra muscular se repolarizou completamente, e ambos os eletrédios esto agora em Areas positivas, de modo que nao existe diferenga de potencial entre eles para ser registrada. Assim, no registro a direita, o potencial retorna novamente ao zero. Essa onda negativa completa é uma onda de repolarizagdo, porque resulta da propagagao da repolarizagao ao longo da membrana da fibra muscular. Onda de | despolarizagto + Fettttete Onda de eeeeteeee eee t et + repolarizagac jas D ttttttetr teeters 0,30 segundo Figura 11-2, Registro da onda de despolarizacao (A e B) e da onda de repolarizaco (C e D) de fibra muscular do corago. Relacao entre o Potencial de Acgaéo Monofasico do Misculo Ventricular e as Ondas QRS e T do Eletrocardiograma Padrao. O potencial de acdo monofasico do miusculo ventricular, discutido no Capitulo 10, dura normalmente de 0,25 a 0,35 segundo. A parte superior da Figura 11-3 mostra um potencial de agdo monofasico registrado por um microeletrédio inserido no interior de uma fibra muscular Unica ventricular. A deflexao inicial, ascendente e ingreme desse potencial de agéio é produzida pela despolarizagao, e 0 retorno do potencial a linha de base é causado pela repolarizagao. A parte inferior da Figura 11-3 mostra o registro do ECG simultaneo desse mesmo ventriculo. Observa-se que as ondas QRS surgem no inicio do potencial de ag&o monofasico, aparecendo a onda T no final. Observe, sobretudo, que nenhum potencial é registrado no ECG quando 0 misculo ventricular esta completamente polarizado ou completamente despolarizado. Somente quando o miisculo esté em parte polarizado e em parte despolarizado é que a corrente flui de uma parte dos ventriculos para outra e, consequentemente, flui também até a superficie do corpo, permitindo o registro ECG. e410 SEALE Despolarizacao Repolariza Figura 11-3. Acima, Potencial de acéo monofasico de fibra do misculo ventricular durante a fungo cardiaca normal, mostrando a despolarizacdo rapida, seguida pela repolarizacao lenta, durante a fase de platé, e pela repolarizagio répida, jé préximo do final do processo. Abaixo, Registro eletrocardiografico feito simultaneamente. Relacao entre a Contracao Atrial e a Vent Ondas do Eletrocardiograma ular e as Antes que a contragio do misculo possa ocorrer, é preciso que a despolarizagao se propague pelo misculo para iniciar os processos quimicos da contragdo, Voltando a Figura 11-1: a onda P ocorre no inicio da contragao dos Atrios, ¢ 0 complexo QRS de ondas ocorre no inicio da contragiio dos ventriculos. Os ventriculos permanecem contraidos até que a repolarizagao tenha ocorrido, ou seja, até o final da onda T. Os atrios se repolarizam cerca de 0,15 a 0,20 segundo, apés 0 término da onda P, coincidindo aproximadamente com 0 momento em que o complexo QRS esta sendo registrado no ECG. Como consequéncia, a onda de repolarizagio atrial conhecida como onda T atrial é em geral encoberta pelo complexo QRS que é muito maior. Por essa razdo, raramente se observa uma onda T atrial no ECG. ‘A onda de repolarizagio ventricular € a onda T do ECG normal. Normalmente, a repolarizago do musculo ventricular comeca em algumas fibras, cerca de 0,20 segundo apés 0 inicio da onda de despolarizagao (0 complexo QRS), mas em muitas outras fibras demora até 0,35 segundo. Assim, 0 processo de repolarizagao ventricular se estende por periodo longo, cerca de 0,15 segundo. Por isso, a onda T do ECG normal é uma onda de longa duragao, mas sua voltagem é consideravelmente menor que a voltagem do complexo QRS, em parte por causa de sua duragdo prolongada. Calibragao da Voltagem e do Tempo do Eletrocardiograma Todos os registros ECG sao feitos com linhas de calibragao apropriadas no papel de registro, Essas linhas de calibrago jé podem estar tragadas no papel, como ocorre quando se utilizam aparelhos com pena inscritora, ou sao registradas no papel ao mesmo tempo em que o ECG é registrado, como ocorre nos eletrocardiégrafos de tipo fotografico. Como mostrado na Figura 11-1, as linhas de calibragdo horizontais do ECG padrao esto dispostas de tal modo que cada 10 linhas horizontais correspondem a 1 milivolt, as linhas horizontais acima da linha de base indicam valores positivos, ¢ as que est&io abaixo da linha de base indicam valores negativos. As linhas verticais do ECG sao as linhas de calibragao do tempo. Um ECG tipico tem velocidade de impressiio de 25 milimetros por segundo, embora as vezes sejam usadas velocidades maiores. Portanto, cada 25 milimetros na diregiio horizontal correspondem a 1 segundo, e cada segmento de 5 milimetros indicado por linhas verticais escuras representa 0,20 segundo. Os intervalos de 0,20 segundo esto, por sua vez, divididos em cinco intervalos menores por linhas finas, ¢ cada um desses intervalos menores corresponde a 0,04 segundo. Voltagens Normais do Eletrocardiograma. As voltagens das ondas registradas no ECG normal dependem da maneira pela qual os eletrédios sao postos em contato com a superficie do corpo e de quao préximos eles esto do coragaéo. Quando um eletrédio é colocado diretamente sobre os ventriculos e um segundo eletrédio é disposto em outro lugar do corpo, distante do coragdo, a voltagem do complexo QRS pode atingir 3 a 4 milivolts. Inclusive essa voltagem é pequena quando comparada com o potencial de agdo monofasico de 110 milivolts registrado diretamente na membrana da fibra muscular cardiaca. Assim que ECGs sao registrados por eletrédios colocados nos dois bragos ou em um brago e uma perna, a voltagem do complexo QRS € geralmente de 1,0 a 1,5 milivolt desde o pico da onda R até 0 ponto mais baixo da onda S. Jé a voltagem da onda P permanece entre 0,1 ¢ 0,3 milivolt, ada onda T fica entre 0,2 e 0,3 milivolt. Intervalo P-Q ou P-R. O tempo decorrido entre 0 inicio da onda P e 0 inicio do complexo QRS corresponde ao intervalo entre 0 comego da estimulagio elétrica dos atrios 0 comego da estimulagao dos ventriculos. Esse periodo ¢ denominado intervalo P-Q. O intervalo P-Q normal é de cerca de 0,16 segundo. (Com frequéncia, esse intervalo é chamado intervalo P-R, porque é comum a onda Q estar ausente.) Intervalo Q-T. A contragao do ventriculo dura aproximadamente do inicio da onda Q (ou da onda R, quando a onda Q esta ausente) até o final da onda T. Esse periodo é denominado intervalo Q-T e tem normalmente cerca de 0,35 segundo. Determinacao da Frequéncia dos Batimentos Cardiacos por meio do Eletrocardiograma. A frequéncia dos batimentos cardiacos pode ser determinada com facilidade no ECG, visto que a frequéncia cardiaca corresponde ao inverso do intervalo de tempo entre dois batimentos cardiacos sucessivos. Se, de acordo com as linhas de calibragdo do tempo, o intervalo entre dois batimentos for de 1 segundo, a frequéncia cardiaca sera de 60 batimentos por minuto. O intervalo de tempo normal entre dois complexos QRS sucessivos de adulto é de cerca de 0,83 segundo, o que corresponde a uma frequéncia cardiaca de 60/0,83 vezes por minuto, ou 72 batimentos/min. O FLUXO DA CORRENTE AO REDOR DO CORACAO DURANTE O CICLO CARDIACO Registro de Potenciais Elétricos de uma Massa de Masculo Cardiaco Sincicial Parcialmente Despolarizada A Figura 11-4 mostra uma massa sincicial de muisculo cardiaco que recebeu um estimulo na regido central. Antes da estimulagdo, a parte externa das células musculares estava positiva, ¢ a parte interna, negativa. Pelas r apresentadas no Capitulo 5, durante a di Jo sobre os potenciai membrana, a sim que uma érea do sincicio cardiaco fica despolarizada, cargas negativas escapam para o lado externo das fibras musculares despolarizadas, tornando essa parte da superficie eletronegativa, conforme representado pelos sinais negativos da Figura 11-4. O restante da superficie do coragio ainda polarizado € representado pelos sinais positivos. Por isso, quando o terminal negativo de um medidor € conectado a Area de despolarizagao ¢ 0 terminal positive é conectado a uma das Areas ainda polarizadas, como mostrado & direita na figura, 0 registro é positive. A Figura 11-4 também evidencia as leituras de dois outros medidores com terminais em posigées diferentes da anterior. Essas localizagdes de eletrédios ¢ leituras correspondentes devem ser estudados cuidadosamente, ¢ 0 leitor precisa ser capaz de explicar as causas das leituras de cada medidor. Pelo fato de a despolarizagio se propagar em todas as diregdes pelo coragiio, as diferengas de potencial mostradas na figura s6 persistem por poucos milésimos de segundo, ¢ as mediges da voltagem real sé podem ser realizadas com aparelho para registros de alta velocidade. presnee ee ee thee Het 44 Ee Hate ae? Seer Figura 11-4, Desenvolvimento de potenciais instanténeos na superficie de uma massa de misculo cardiaco despolarizada na regio central. O Fluxo das Correntes Elétricas no Térax ao Redor do Coracao A Figura 11-5 mostra 0 misculo ventricular dentro do térax. Mesmo os pulmées, que estdo, em sua maior parte, cheios de ar, conduzem eletricidade em grau surpreendente, e os liquidos presentes nos outros tecidos que circundam 0 coragdo conduzem eletricidade ainda com maior facilidade. Portanto, 0 coragdo esta de fato suspenso em meio condutor. Quando parte dos ventriculos se despolariza ¢, como consequéncia, fica eletronegativa em relagdo ao restante, a corrente elétrica flui da rea despolarizada para a area polarizada por meio de grandes curvas, como pode ser observado na figura. Vale lembrar aqui o que foi discutido sobre o sistema de Purkinje no Capitulo 10. O impulso cardiaco chega primeiro ao septo ventricular e, logo em seguida, propaga-se para as superficies internas da parte restante dos ventriculos, como mostram as areas vermelhas ¢ os sinais negativos da Figura 11-5. Esse processo faz com que a parte interna dos ventriculos fique eletronegativa; e as paredes externas dos ventriculos, eletropositivas, com a corrente elétrica fluindo pelos liquidos que banham os ventriculos, seguindo percursos elipticos como mostrados pelas setas curvas da figura. Se for calculada algebricamente a média de todas as linhas do fluxo da corrente (as linhas elipticas), sera constatado que o fluxo médio da corrente é negativo em diregdo a base do coracdo e positivo em diregdo ao dpice. Durante a maior parte do restante do processo de despolarizagdo, a corrente também continua a fluir nessa mesma diregdo, enquanto a despolarizagdo se propaga da superficie do endocardio para o exterior do érgio pela massa do musculo ventricular. Em seguida, pouco antes de a despolarizagao completar seu curso pelos ventriculos, a diregdo média do fluxo da corrente se inverte durante cerca de 0,01 segundo, fluindo do Apice ventricular em diregdo a base, pois as paredes externas dos ventriculos, situadas junto A base do coragiio, sio a tiltima parte desse drgao a ser despolarizada. Assim, nos ventriculos normais, a corrente flui das areas negativas para as areas positivas, principalmente da base do coragao para o apice, durante quase todo o ciclo de despolarizagao, exceto bem préximo do final do processo. E, se um aparelho medidor for conectado a eletrédios posicionados na superficie do corpo, como mostrado na Figura 11-5, 0 eletrédio que estiver mais préximo da base ficard negativo, ao passo que o eletrédio que estiver mais proximo do pice ficard positivo, e 0 aparelho medidor mostrara registro positive no ECG. Figura 11-5. Fluxo da corrente no térax ao redor dos ventriculos parcialmente despolarizados. A e B so eletrédios. DERIVACOES ELETROCARDIOGRAFICAS As Trés Derivacées Bipolares dos Membros A Figura 11-6 mostra as conexées elétricas entre os membros do paciente ¢ 0 ECG, para obteng’o dos registros eletrocardiograficos das chamadas derivagdes bipolares padrao (ou standard) dos membros. O termo “bipolar” quer dizer que o eletrocardiograma é registrado por dois eletrodios posicionados em lados diferentes do coragao — nesse caso, nos membros. Assim, uma “derivado” nfo é um s6 fio conectado ao corpo, mas a combinagao de dois fios e seus eletrédios para formar um circuito completo entre 0 corpo ¢ o eletrocardiégrafo. Em cada exemplo, o eletrocardiégrafo esta representado por aparelho elétrico de medida, embora o verdadeiro eletrocardiégrafo seja um sistema informatico de alta velocidade, associado a mostradores eletrénicos. Figura 11-6. Disposico convencional dos eletr para o registro das derivacées eletrocardiograficas padro. O tridngulo de Einthoven esté sobreposto ao térax. Derivagao I. No registro da derivagdo I dos membros, o terminal negativo do eletrocardiégrafo € conectado ao brago direito, eo terminal positive, ao brago esquerdo, Portanto, quando a area pela qual o brago direito se une ao trax est eletronegativa, em relagdo a area pela qual o brago esquerdo se une ao térax, 0 eletrocardidgrafo registra valor positivo, isto é, valor situado acima da linha de voltagem zero do ECG. Quando ocorre 0 oposto, 0 eletrocardiégrafo registra valor situado abaixo da linha. Derivagao II. Para registrar a derivagdo II dos membros, o terminal negativo do eletrocardiégrafo é conectado ao brago direito, e o terminal positivo, a perna esquerda. Portanto, quando o brago direito estA negativo em relagdio a perna esquerda, o eletrocardiégrafo exibe registro positivo. Derivagao III. Para registrar a derivagdo III dos membros, o terminal negativo do eletrocardiégrafo ¢ conectado ao brago esquerdo, ¢ o terminal positivo, a perma esquerda. Essa configuragdo significa que o eletrocardiégrafo apresentara registro positivo quando o brago esquerdo estiver negativo em relagdo a perna esquerda. ngulo de Einthoven. Na Figura 11-6, um triangulo, denominado tridngulo de Einthoven, esta tracado ao redor da area do coraco. Essa figura geométrica mostra que os dois bragos ¢ a perna esquerda formam os dpices de um triangulo que circunda 0 coragao. Os dois apices da parte superior do triangulo representam os pontos pelos quais os dois bragos se conectam eletricamente aos liquidos situados ao redor do corago, ¢ 0 dpice inferior é 0 ponto pelo qual a perna esquerda se conecta a esses liquidos. Lei de Einthoven. A lei de Einthoven afirma que se os ECGs forem registrados simultaneamente nas trés derivagées dos membros, a soma dos potenciais registrados nas derivagées I e III é igual ao potencial da derivagéo Il. Potencial da derivacéo I + Potencial da derivacio III = Potencial da derivacao IL Por outras palavras, se os potenciais elétricos de duas das trés derivagées eletrocardiograficas bipolares dos membros forem conhecidos em um dado momento, o potencial elétrico da terceira derivacdo podera ser determinado pela simples soma dos dois primeiros. Note, entretanto, que os sinais positivo © negativo das diferentes derivagdes precisam ser levados em consideragéo quando a soma for realizada. Por exemplo, suponha-se que, momentaneamente, como mostrado na Figura 11-6, 0 brago direito apresente —0,2 milivolt (negativo) em relagdo ao potencial médio do corpo, o brago esquerdo apresente *0,3 milivolt (positive) ea perna esquerda apresente *1,0 milivolt (positivo). Ao observarmos os medidores da figura, veremos que a derivagao I registra potencial positivo de *0,5 milivolt, porque essa é a diferenga entre —0,2 milivolt do brago direito e *0,3 milivolt do brago esquerdo. De modo semelhante, a derivagao III registra potencial positivo de *0,7 milivolt, e a derivagao II registra potencial positivo de 1,2 milivolt, porque essas sao as diferengas instantaneas de potencial entre os respectivos pares de membros. Agora, note que a soma das voltagens das derivagées I e III é igual a voltagem da derivagao II, ou seja, 0,5 mais 0,7 sio iguais a 1,2. Matematicamente, esse principio, denominado lei de Einthoven, é valido em dado momento enquanto os trés ECG bipolares “padrao” esto sendo registrados. Eletrocardiogramas Normais, Registrados pelas Trés Derivagées Bipolares Padrao dos Membros. A Figura 11-7mostra os registros dos ECG nas derivagées I, II e II. E dbvio que os ECG, obtidos por essas trés derivagdes, so semelhantes entre si, porque todos eles registram ondas P e T positivas, e a parte principal do complexo QRS também é positiva. Quando se analisam os trés ECG, é possivel mostrar, por meio de medidas cuidadosas e da observagdo adequada das polaridades, que, em dado momento, a soma dos potenciais nas derivagées I e III ¢ igual ao potencial na derivagao II, demonstrando assim a validade da lei de Einthoven. Pelo fato de os registros obtidos pelas derivagdes bipolares dos membros serem semelhantes entre si, nao importa muito qual derivagdo esté sendo registrada quando se quer diagnosticar diferentes arritmias cardiacas, pois 0 diagnéstico das arritmias depende principalmente das relages temporais entre as diferentes ondas do ciclo cardiaco, Entretanto, quando se busca diagnosticar lesio no misculo atrial ou ventricular ou no sistema de condugao de Purkinje, é muito importante saber quais derivagées esto sendo registradas, pois as anormalidades da contragdo do mtisculo cardiaco ou da condugao do impulso cardiaco alteram muito os padrées de algumas derivagdes, porém podem nio afetar outra: . A interpretagdo ECG desses dois tipos de distirbios — miopatias cardiacas e arritmias cardiacas — € discutida separadamente nos Capitulos 12 e 13. "pode Figura 11-7. Eletrocardiogramas normais, registrados das trés __derivagdes. eletrocardiograficas padra As Derivacées Toracicas (Derivagées Precordiais) Com frequéncia, os ECGs sao registrados pela colocagdo de eletrédio na superficie anterior do térax, diretamente sobre 0 coragéio, em um dos pontos mostrados na Figura 11-8. Esse eletrédio é conectado ao terminal positivo do eletrocardidégrafo, ¢ 0 eletrédio negativo, denominado eletrédio indiferente, é conectado, simultaneamente, ao brago direito, ao brago esquerdo ¢ a perna esquerda, por meio de resisténcias elétricas iguais, como mostrado na mesma figura. 'm geral, faz-se o registro de seis derivagdes toracicas padrdo, uma por vez, na parede anterior do térax, colocando-se o eletrédio toracico de forma sequencial nos seis pontos mostrados no diagrama. Os diferentes registros sao conhecidos como derivagées V,, V>, V3 Wg V5 ¢ Vou A Figura 11-9 mostra ECG de coragio saudavel, registrados por essas scis derivagdes tordcicas padrao. Pelo fato de as supertficies do coragio estarem proximas da parede do térax, cada derivagao tordcica registra principalmente © potencial elétrico da musculatura cardiaca situada imediatamente abaixo do eletrédio. Por essa razio, anormalidades relativamente pequenas dos ventriculos, em especial na parede ventricular anterior, podem provocar alteragdes acentuadas nos ECG registrados pelas derivagdes_ tordcicas individuais. Nas derivagdes V, ¢ V,, 0s registros do complexo QRS do coragio normal so na maioria das vezes negativos, porque, como mostrado na Figura 11-8, 0 eletrédio tordcico dessas derivagées esta mais proximo da base cardiaca que do pice, e a base do coragiio permanece eletronegativa durante a maior parte do processo de despolarizagao ventricular. De modo oposto, nas derivagdes V,, Vs © Vo, 08 complexos QRS so em sua maior parte positives, porque 0 eletrédio tordcico dessas derivagdes est mais proximo do apice do coragio que permanece eletropositivo durante a maior parte da despolarizagao. BD . ‘ Yea 5.000 ohms, 5,000 KAR ohms | \ 5.000 Ht ohms } | w Ww Figura 11-8. Conexdes do corpo com o eletrocardiégrafo para o registro das derivages tordcicas. BD, braco direito; BE, braco esquerdo. yee e ht v4 Vp Vs Vy Vs Ve Figura 11-9, Eletrocardiogramas normals registrados pelas seis derivagées tordcicas padréo. As Derivacées Unipolares Aumentadas dos Membros Outro sistema de derivagdes muito utilizado consiste na derivagdo unipolar aumentada dos membros. Nesse tipo de registro, dois dos membros sao conectados ao terminal negativo do eletrocardiégrafo por meio de resisténcias elétricas, e 0 terceiro membro é conectado ao terminal positivo. Quando 0 terminal positivo esté no brago direito, a derivagdo é denominada aVR; quando esta no brago esquerdo, aVL; ¢ quando esta na perna esquerda, aVF. A Figura 11-10 mostra registros normais das derivagées unipolares aumentadas dos membros. Eles so semelhantes aos registros das derivagées padrio dos membros, com excegéio do registro da derivagdo aVR, que é invertido. (Por que ocorre essa inversdo? Estude as conexées das polaridades com 0 eletrocardiégrafo para responder a esta questo.) aVvR aVL aVF Figura 11-10. Eletrocardiogramas normais registrados pelas trés derivacdes unipolares aumentadas dos membros. Métodos para o Registro de Eletrocardiogramas As vezes, as correntes elétricas geradas pelo misculo cardiaco durante cada batimento do coragéo alteram os potenciais e as polaridades elétricos nos respectivos lados do coracao, em menos de 0,01 segundo. Por essa razio, é& essencial que qualquer aparelho para registro de ECG seja capaz de responder rapidamente a essas variagies dos potenciais, Os eletrocardiégrafos.clinicos modernos utilizam sistemas informéticos e mostradores eletrénicos. Eletrocardiograma Ambulatorial Os ECGs padro fornecem uma avaliaco dos eventos cardiacos elétricos, no decurso de um curto periodo de tempo, em geral com o paciente em repouso. Em condigdes associadas a anormalidades raras, mas importantes nos ritmos cardiacos, pode ser Util analisar 0 ECG por um periodo prolongado, permitindo a avaliacao das variagdes nos fenémenos elétricos cardiacos que sdo transitérias e que foram omitidos no ECG padrao, A extensio do ECG para facilitar a avaliacio de eventos elétricos cardiacos com o paciente deambulante durante as atividades diérias cotidianas & chamado eletrocardiograma ambulatorial. © monitoramento do ECG ambulatorial é muitas vezes usado quando um paciente apresenta sintomas, que se suspeitam serem causados por arritmia transitéria ou outras anormalidades cardiacas transitérias. Entre esses sintomas so incluidos dor cardiaca, sincope ou quase sincope, tonturas e batimentos cardiacos irregulares, A informagéo crucial necessdria para diagnosticar arritmias transitérias graves ou outras doengas cardiacas semelhantes é 0 registro de um ECG durante o tempo exato em que ocorre o sintoma. Uma vez que a variabilidade de um dia para o outro na frequéncia de arritmias é importante, a detecco precisa muitas vezes de um monitoramento ECG durante todo o di Existem duas categorias de equipamento de registro de ECG ambulatorial: (1) continuos, normalmente utilizados por 24 a 48 horas para investigar a relaco dos sintomas e episddios do ECG que provavelmente tenham lugar durante esse periodo de tempo e; (2) intermitentes, utilizados durante periodos mais longos (semanas ou meses) para fornecer registros breves e intermitentes, a fim de detectar eventos que ocorrem com pouca frequéncia. Em alguns casos, um pequeno dispositive do tamanho de um pacote de chicletes chamado gravador implantavel de alca, & colocado logo abaixo da pele no térax para monitorar a atividade elétrica do coracao de forma intermitente até 2 a 3 anos. O dispositive pode ser programado para iniciar a gravacao quando 0 ritmo cardiaco desce abaixo, ou se eleva acima, de um nivel predeterminado ou pode ser ativado manualmente pelo paciente quando se percebe um sintoma como tonturas, por exemplo, As melhorias na tecnologia digital de estado sdlido e nos equipamentos de registro com os microprocessadores, permite, atualmente, a transmissio continua ou intermitente de dados digitals de ECG por meio de linhas telefénicas, e sofisticados sistemas de software proporcionam uma anélise computadorizada on-line dos dados enquanto séo adquiridos. Bibliografia Veja as referéncias do Capitulo 13.

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