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Mestre em Psicologia
Terapeuta Familiar
Terapeuta Cognitivo-Comportamental
Resumo
Este trabalho tem como objetivo principal discutir o encontro entre paciente e terapeuta e
propor que seja um encontro modificador para ambos os elementos envolvidos. Outro
objetivo é propor a fenomenologia como uma atitude adequada para que se conduza a terapia
com tal ideia. A fenomenologia aparece como referencial teórico neste caso por conta de sua
característica essencial de fazer com que o indivíduo se empreste à compreensão, não à
explicação do que se lhe apresente. Questiona-se aqui a ideia da neutralidade do terapeuta, a
partir da ideia de modificação mútua e da proposta de que tal modificação seja um fator de
aceleração no processo terapêutico. Em vez de simplesmente se colocarem próximos no
consultório, sem que o terapeuta saia modificado, ou afetado, proponho que o terapeuta se
abra subjetivamente para vivenciar os afetos que o paciente lhe cause e para agir norteado por
isso, o que seria uma ação autêntica.
Introdução
Parece lógico e obvio dizer que o principal elemento constitutivo de uma psicoterapia
seja o encontro entre paciente e terapeuta. No entanto, podemos lançar um olhar mais
exigente sobre o que entendemos quando falamos sobre encontros.
Uma questão importante e sempre presente diz respeito à abordagem efetuada pelo
profissional. Cada abordagem irá promover um tipo de encontro diferente. No caso deste
trabalho, venho falar sobre uma abordagem específica, que promove um comportamento
específico do terapeuta na preparação de seus atendimentos.
Pretendo trazer para discussão, neste trabalho, uma abordagem pautada na atitude
fenomenológica, que promove o comportamento de acordo com o tipo de pessoa atendida
pelo profissional.
Alguns temas secundários surgem a partir da nossa reflexão inicial, como a relação de
neutralidade da qual ainda se fala na clínica psicológica; o caminho para que o terapeuta
acesse a realidade vivenciada pelo seu paciente etc.
Alguns desses pontos estarão presentes como pano de fundo da discussão proposta
aqui. Todos eles se voltam para questões relativas à pessoa do terapeuta e ao modo como ele
se coloca na relação cm o seu paciente.
Além disso, interessa discutir o que o profissional costuma fazer quando se depara com uma
relação de maior demanda pessoal. Defendo que a relação terapêutica deva ser mais uma
relação de aglutinação do que de simples acompanhamento (justaposição).
Referencial Teórico
A fenomenologia se apresenta como uma forma de ser e de estar no mundo, como uma
visão de mundo, como uma atitude. Há algum tempo participo de alguns debates informais
com colegas de profissão que tratam a fenomenologia como uma das abordagens teóricas da
psicologia. Deixando de lado o engano filosófico, temos o problema de chegarmos a pensar a
fenomenologia como referência obrigatoriamente para uma terapia fenomenlógico-
existencial e nada mais.
Entretanto, é necessário reconhecer que se torna muito mais simples acessar e estudar
o que chamo aqui de atitude fenomenológica, se olharmos para as teorias que embasam a
terapia fenomenológico-existencial ou a Gestalt terapia. Nas palavras da Psicóloga Teresinha
Perez, encontramos uma boa introdução para o assunto do encontro e da relação interpessoal
e intersubjetiva em psicoterapia:
A existência humana é, em seu nível mais fundamental, inerentemente relacional. Por
isso, a psicoterapia fenomenológica existencial enfatiza a relação inter-humana, de pessoa a
pessoa, um ser frente a outro ser, o encontro. Encontramos referência sobre o encontro na
obra de Binswanger através de um dos modos de ser a partir dos quais o Dasein se revela e
que se exprimem, para ele, através da dualidade, pluralidade e singularidade. O modo dual
"existe no ser-em-relação-de-reciprocidade, tanto no amor como na amizade, uma penetração
de um no outro e não somente uma postura de um ao lado do outro. Essa unidade na
dualidade é possível porque o princípio organizador que rege a relação entre um e outro é o
encontro" (Giovanetti - 1989). Também Medard Boss, ao rejeitar o conceito de transferência,
insiste na necessidade da existência de uma relação inter-humana autêntica entre o
psicoterapeuta e seu cliente. (Perez, T. – Jornal online existencial).
Outro ponto importante tem a ver com o que se propaga como necessidade de uma
postura neutra do terapeuta diante de seu paciente. De acordo com as ideias de Husserl, com
a redução fenomenológica, colocamos os nossos julgamentos ente parêntesis, para que
possamos nos abrir ao que o outro nos conta e, sem deixarmos de ser nós mesmos, sem
interpretar um papel de terapeuta, podemos vivenciar em alguma dimensão o que se
apresenta como fenômeno. Feito isso, pode ser possível apreender a essência do que acontece
com aquela pessoa.
Tal postura se baseia no método fenomenológico, proposto por Husserl e que tem
inúmeras implicações na prática clínica. Nas palavras de Sampaio (2004):
Para tanto, Husserl (1947/2000) elaborou o método fenomenológico, que buscava dar
exatidão à descrição da realidade. Em vez de buscar explicar a realidade, a fenomenologia
procura simplesmente descrevê-la. A atitude fenomenológica consiste em indagar o que é
percebido, abstendo-se dos conhecimentos a priori; consiste em questionar o que se
apresenta no mundo como natural, um mundo que não tem sentido sem uma consciência para
lhe dar sentido (RIBEIRO, 1999). (...) No método fenomenológico, mesmo fazendo parte da
vivência, o "eu" fica suspenso, colocado entre parênteses, em um processo chamado de
redução fenomenológica. As influências de tudo o que existe a priori na consciência são
minimizadas para que o fenômeno que aparece seja compreendido. Para que uma pessoa
possa compreender a vivência de uma outra, precisa deixar de lado seus próprios valores e
tentar entender como a outra pessoa, com suas próprias experiências, enxerga o mundo, um
mundo que não é absoluto, mas resultado das vivências desta pessoa, filtrado pela sua
consciência. O mundo deixa de ser existente para ser fenômeno da existência (GILES,
1937/1975). (2004; p. 03).
A questão clínica
Na prática clínica, a utilização do método fenomenológico como orientação para a
psicoterapia, nos leva ao entendimento existencial do paciente. A compreensão
fenomenológica se une à uma tentativa de se relacionar com o paciente que se relaciona com
o mundo. A partir desse encontro é possível a construção de uma nova convivência, de um
novo modo de estar no mundo por parte do paciente.
A grande preocupação deles era saber como se pode ter acesso à realidade existencial
do paciente, já que as teorias eram muito ricas em dizer como era a sua realidade essencial,
mas antes dele existir concreta e temporalmente como ser-no-mundo. Os psicoterapeutas de
orientação científico-naturalista procuravam, muitas vezes, encaixar as pessoas na teoria, ao
invés de voltar-se para uma descrição fenomenológica da existência singular. Essas tentativas
de enquadrar os pacientes nos modelos teóricos eram pródigas em explicações do sofrimento,
mas quase sempre estéreis no sentido de propiciar relações terapêuticas que promovessem
transformações existenciais efetivas. (2006; p. 324).
O encontro em psicoterapia
Uma das ideias mais sustentadas no meio clínico, principalmente da clínica psicológica,
gira em torna da imparcialidade. A própria abordagem gestáltica, que se orienta pela
fenomenologia, ainda dá sinais de manter uma postura rígida em relação ao modo de se
apresentar do terapeuta, diante de seu paciente. A clínica gestáltica se preocupa, sim, com a
consideração humana do paciente como um todo. Nas palavras de Sampaio:
Como dito acima, acredito que a neutralidade relativa que parece sugerir a autora, pode
trazer mais prejuízos que benefícios ao processo terapêutico. Exploraremos esse tema adiante.
O encontro em psicoterapia
Para quem se preocupa em ser um coadjuvante que possa contribuir para novas
construções na vida dos pacientes, a ideia de um encontro é mais profunda do que
simplesmente estarem paciente e terapeuta juntos em uma mesma sala.
De acordo com o que tenho observado, o encontro entre paciente e terapeuta é o mais
importante elemento integrante da psicoterapia. Talvez por isso mesmo seja um ponto tão
discutido e repleto de divergências. As ideias acima expostas refletem a preocupação com o
posicionamento subjetivo algo distanciado do encontro com o paciente.
Não haveria problema em tal procedimento, caso o terapeuta não corresse o grave risco
de evitar justamente aquilo que o paciente mais precisa, quando essa necessidade for de uma
vinculação mais profunda para que os seus limites existenciais sejam ampliados.
A economia de gestos e de informações na vinculação deve ser administrada pelo
terapeuta. Para que o resultado seja promissor, o profissional deve avaliar cuidadosamente a
postura mais adequada ao paciente e à terapia desse paciente.
Ora, penso que nem o terapeuta precise se preservar tanto, nem o paciente precise
falar tudo. A questão da obrigatoriedade, ou necessidade de que tais coisas aconteçam
reprime a autenticidade e faz com que o encontro terapêutico se torne limitado.
O que observamos na maior parte das vezes é uma simples justaposição, quando dois
elementos se juntam, mas não sofrem mudanças. Ainda é possível e talvez até mais comum,
encontrarmos quem trabalhe com uma aglutinação unilateral, onde somente o paciente se
modifique com a terapia.