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EXCELENTÍSSIMO SENHORA DOUTORA JUIZA DE DIREITO DA 1º VARA

CRIMINAL DESTA COMARCA DE PARAÍSO DO TOCANTINS ESTADO DO


TOCANTINS.

AUTOS Nº 00037232820188272731.

LARA BEATRIZ VANDERLEY AQUINO, já qualificada nos autos em epígrafe,


por intermédio de sua advogada que a esta subscreve, vem, mui
respeitosamente perante a elevada presença de Vossa Excelência,
apresentar sua:

ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAIS


Aduzindo em suas razões o quanto segue;

SÍNTESE DOS FATOS

Consta na exordial que a Acusada no ano de 2021 a agosto de 2022, junto


com outros denunciados, agiram voluntariamente e com consciência de ilicitude
de associaram-se para prática de tráfico local de drogas.

No prosseguimento do feito não houve absolvição sumária, foi designada data


para audiência de instrução e julgamento.

Em juízo foram ouvidas as testemunhas de acusação e defesa, seguido dos


respectivos interrogatórios.

A defesa preliminar foi apresentada no evento 18, não foi caso de absolvição
sumária, seguiu-se a instrução que ocorreu sem nenhuma nulidade.

O Ministério Público em seus Memoriais no evento 147, requerendo


a procedência da pretensão punitiva do estado, nas penas do art. 33, caput,
c/c art. 40, inciso V e art. 35, da Lei 11.343/06 na forma do art. 69 do CP, tendo
os autos sido remetidos à defesa para apresentação das alegações finais.

PRIMEIRAMENTE

DA ILEGALIDADE DAS PROVAS COLHIDAS

Em depoimento o condutor Jean Carlos Gomes Correia agente de polícia civil


lotado em Araguaína/TO detalha como aconteceu a prisão em flagrante.

De acordo com ele, no dia da prisão tiveram informações que tinha chegado
um carregamento de drogas para RAFAEL REIS ANDRADE no dia anterior,
com essas informações foram atras de localizar RAFAEL REIS ANDRADE e
não encontraram ele nas residências investigadas e, portanto, foram em mais
locais que sabiam que ele estava andando.

Ao sair em diligência para localizar as drogas e RAFAEL decidiram ir até a


casa da genitora do denunciado WATHYLA na AV. Tiradentes qd07 lote15, Ao
chegarem no local e segundo depoimento da testemunha perceberam um fluxo
grande de pessoas o que para eles foi interpretado como movimentação típica
do tráfico de drogas.
MERITÍSSIMO, diante dos fatos conclui-se que a abordagem policial se deu de
modo a configurar invasão de domicílio de forma totalmente ilegal.

Ocorre que na referida casa, existe uma mercearia, sendo que na referida
residência residem muitos parentes, entre filhos, irmão, netos, sobrinhos,
sendo, portanto, uma casa que já possui muito movimento, O QUE NÃO
SIGNIFICA QUE ALI FUNCIONA UM PONTO DE APOIO AO TRÁFICO como
afirmado pelas testemunhas de acusação, o que restou evidente a invasão de
domicilio no imóvel.

Ressalta-se que as investigações assim como afirmou o investigador de polícia


Jean Carlos Gomes Correia e Haroldo, que apenas RAFAEL REIS ANDRADE
estava sendo monitorado/investigado a mais de ano

Não obstante, a Acusada LARA BEATRIZ não foi encontrada com nada
em seu poder, pois havia acabado de adentrar no local.

Requer enfim o reconhecimento da ilicitude das provas colhidas pela


autoridade policial ao não respeitar o devido procedimento legal, bem como
consequência a anulação do processo em epígrafe absolvendo assim a
Acusada dos crimes imputados na denúncia.

NO MÉRITO

DA ACUSAÇÃO DO TRÁFICO

Consta dos autos que a Acusada, juntamente com os demais Acusados,


durante o lapso temporal de 1 anos, forneceram droga conhecida como
cocaína para os traficantes locais.

A Acusada nega a prática dos delitos a ela imputados, afirmando ainda, que
não conhecia os demais acusados até o dia 02 de agosto de 2022, bem como,
não é usuária de entorpecentes.

Contudo não consta dos autos qualquer outro indício de que a Acusada LARA
BEATRIZ tenha qualquer envolvimento com as atividades de tráfico.

Não restaram claro e evidente os elementos que caracterizem qualquer um dos


verbos descritos no art. 33 da Lei nº 11.343/06.
Inexiste nos autos qualquer elemento in concreto que possa confirmar
participação ativa do denunciado na mercancia de entorpecentes.

Outrossim, a Denunciada tomou conhecimento que seu namorado o Acusado


tinha envolvimento com drogas dois (02) dias antes da prisão em flagrante, o
qual a deixou muito preocupada, no entanto

Ademais o print de apenas uma pergunta da Acusada para o Acusado Rafael,


“a droga esta no fundo”? e depoimento dos agentes não foram capazes de
comprovar a suposta atividade de mercancia da ora Acusada.

Diante da insuficiência das provas, não há como imputar a Acusada a autoria


pela prática do crime de tráfico de drogas, de forma que, nos termos do art.
386, V e VII do CPP, Vossa Excelência deverá absolvê-la quanto ao crime de
tráfico.

DO IN DÚBIO PRO RÉU

Caso não seja este o entendimento do MM. Juízo, torna-se incontestável então
a necessidade de aplicação do princípio do in dúbio pro réu, uma vez que certa
é a dúvida acerca da culpa a ele atribuída com relação à acusação de Tráfico
de Drogas, pois a Acusada não fora encontrada em atividade de traficância e
muito menos com qualquer outro elemento que levasse a crer ser uma
traficante.

Assim, pelo acima exposto, deve ser aplicado o princípio do in dúbio pro
réu, vez que não houve apreensão de tóxicos em poder da Acusada.

Não obstante, a simples fala no depoimento dos agentes de que a


Acusada ostentava nas redes sociais, também não possui o condão de
uma condenar por tráfico e associação ao tráfico.

Destaca-se que a Acusada sempre laborou, exercendo atividade lícita


para manter suas vaidades, como é normal em todas as jovens.

DA ASSOCIAÇÃO AO TRÀFICO

Noutro giro, quanto ao delito do art. 35 da Lei Antidrogas, o crime de


Associação ao Tráfico, temos que, para maioria da doutrina e jurisprudência, o
artigo 35 da Lei 11.343 de 2006 exige que para ocorrência do delito, haja
estabilidade e permanência.
Sendo assim, não se admite a ocorrência do mencionado crime quando a
atuação se dá de forma individual e ocasional.

Exige-se animus associativo prévio entre os indivíduos formando uma societas


sceleris, em que todos agem de modo coeso e, com uma conjugação de
esforços, unem suas condutas para a prática de atividades criminosas agindo
com o fim colimado: praticar o ato ilícito de substância entorpecente.

É necessário, pois, que a união dos envolvidos esteja qualificada por um


vínculo associativo, duradouro e estável, distinto da comunhão de esforços
meramente ocasional. Nesse sentido:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PENAL.


TRÁFICO DE DROGAS E ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO.
NECESSIDADE DE ESTABILIDADE E PERMANÊNCIA PARA A
COMPROVAÇÃO DO DELITO DESCRITO NO ART. 35 DA LEI
ANTIDROGAS. MERO CONCURSO DE AGENTES. ABSOLVIÇÃO.
REVALORAÇÃO DE PROVAS. POSSIBILIDADE. MINORANTE PREVISTA
NO ART. 33, § 4.º, DA LEI N.º 11.343/06. REINCIDÊNCIA.
INAPLICABILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. Esta Corte
Superior possui entendimento no sentido de que não só há necessidade da
comprovação da estabilidade, mas também, da permanência na reunião dos
sujeitos do delito, não podendo a simples associação eventual ser considerada
para fins de configuração do crime descrito no art. 35 da Lei n.º 11.343/76. STJ
Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 18/06/2014, DJe
01/08/2014) (grifo nosso)

Desta forma o tipo subjetivo do referido dispositivo legal é o dolo, ou seja,


animus associativo, divisão de tarefas, aliado ao fim específico de traficar
drogas ou maquinário.

Não basta a simples convergência de vontades para a prática das infrações


constantes dos art’s. 33 e 34. É requisito a intenção de se associarem, duas ou
mais pessoas, para o cometimento das infrações, isto é, é extremamente
necessário o dolo específico.

Assim, para haver a caracterização do delito previsto no art. 35, é necessário


que o animus associativo seja efetivamente provado, pois integra o tipo penal e
é indispensável para sua caracterização.

Desta forma, não restou comprovado o animus associativo, uma vez que não
houve flagrante e a Acusada não possui qualquer vínculo com os demais
denunciados desta Ação Penal.
Assim, diante da insuficiência das provas, não há como imputar ao
denunciado a autoria pela prática de associação ao tráfico de drogas, de
forma que, nos termos do art. 386, V e VII do CPP, o juiz deverá absolve-
la quanto ao crime de tráfico.

DO TRÁFICO PRIVILEGIADO

Embora nítida a tese da absolvição por não estar comprovado o crime de


tráfico, convêm demonstrar outras situações que devem ser observadas por
Vossa Excelência.

Verificando a situação da Denunciada, é possível concluir que esta é Ré


primária, possui bons antecedentes, tem residência e emprego fixos, e jamais
fez parte de organização criminosa, muito menos se dedica a atividades ilícitas,
por fim, é inocente de tais acusações, pela qual se postula, com supedâneo
nas situações favoráveis anteriormente aventadas, e por ser questão de justiça,
admitindo-se eventual condenação no artigo 33, caput, da Lei de Drogas, seja-
lhe aplicável a causa de diminuição prevista no parágrafo 4º do precitado
artigo, em seu grau máximo, qual seja 2/3 (dois terços), ainda que seja
reduzida a pena final abaixo do mínimo cominado.

DA DOSIMETRIA DA PENA

De acordo com o art. 68 do Código Penal, a dosimetria da pena deve


respeitar o procedimento trifásico.

Da análise das circunstâncias judiciais do artigo 59 do Código Penal, verifica-


se que todas são favoráveis A Acusada, não havendo elementos nos autos
para que se possa fazer um juízo valorativo objetivo sobre a personalidade da
Acusada, razão pela qual a defesa pugna pela aplicação da pena-base no
mínimo legal.

Por fim, pleiteia-se, ainda, a dispensa de dias-multa e custas, em razão da


hipossuficiência da Acusada.
EX POSITIS, ante o exposto, a defesa requer a Vossa Excelência:

Seja acolhida a preliminar arguida para decretar a invalidade da materialidade


delitiva obtida pela busca domiciliar sem autorização na origem da ação, sem
justa causa, fora dos casos previstos em lei e sem filmagem da ação policial,
com a respectiva NULIDADE do inquérito policial e consequentemente da ação
penal, por afrontar ao inciso XI, da Constituição da República;

Absolver a Acusada LARA BEATRIZ VANDERLEY AQUINO, pela ausência de


provas de que esta concorreu para a prática dos crimes previstos nos art’s. 33
e 35 da Lei 11.343/06, nos termos do art. 386, V do CPP;

Caso não seja este o entendimento, que seja absolvida por não existir prova
suficiente para a condenação, com base no art. 386, VII, do CPP;

Por necessário, ad argumentum, em caso de condenação, seja aplicada a


causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da referida Lei de Drogas, por ser
a Acusada primária, possuir bons antecedentes, nunca ter se dedicado às
atividades criminosas nem ter sido integrante de qualquer organização
criminosa;

Por fim, requer a aplicação do REGIME ABERTO para o cumprimento da


pena, bem como a SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE
POR RESTRITIVA DE DIREITOS, conforme entendimento sedimentado do
Supremo Tribunal Federal.

Termos em que,

Pede deferimento.

Araguaína, 01 de Agosto de 2023.

CLAUZI RIBEIRO
OAB/TO 1.683

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