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4a Apostila Obrigacoes Adimplemento e Extincao
4a Apostila Obrigacoes Adimplemento e Extincao
PAGAMENTO
Conceito Como já vimos, pagamento é o mesmo que execução e adimplemento. O pagamento puro e
simples é aquele em que não há modificação relevante fundada em lei, não há alteração da substância do
vínculo. É a solutio. Isso porque aquele que deve tem que pagar.
“Extinção Normal das Obrigações: o pagamento como meio normal ou ordinário de extinção
das obrigações. O sentido estritamente técnico do termo pagamento nos arts. 304 ss (arts. 930 ss) do
Código, a solutio, forma de cumprimento da obrigação.” (Sílvio de Salvo Venosa)
Natureza jurídica do pagamento: “É um fato jurídico. A doutrina não se entende, pois alguns falam
que dentro da noção de fato é um ato jurídico em sentido estrito e outros dizem ser ato negocial.”
(Pablo Stolze)
OBS.: para o doutrinador Pablo Stolze o pagamento tem uma natureza negocial. Asseverando que uma
das vantagens em se reconhecer a natureza negocial do pagamento é a possibilidade de se aplicar a ele os
defeitos do ato negocial, a exemplo, do ato por erro.
Para Sílvio de Salvo Venosa:
a natureza ordinária do pagamento, podendo constituir-se na transferência de um
numerário, na entrega de uma coisa, na elaboração de uma obra, na apresentação de uma
atividade e até mesmo numa abstenção.
a realização real da prestação vista em cada caso concreto;
ato unilateral do solvens nas obrigações negativas;
o pagamento será sempre um fato jurídico, que é gênero do ato e do negócio jurídico.
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Segundo esta teoria, que tem sido aplicada inclusive para alienação fiduciária (RESP 469577/SC)
também de possível aplicação ao contrato de seguro, em respeito aos princípios da boa-fé objetiva e da
equivalência material (que traduz o necessário equilíbrio entre as prestações) não se reputa justo resolver
um contrato quando o devedor posto, não haja cumprido a prestação de forma perfeita, substancialmente a
realizou.
Sujeito ativo: é aquele que deve pagar (solvens), é aquele que deve efetuar o pagamento. O devedor que
tem o principal interesse e a própria obrigação de pagar, cabendo ao credor a obrigação de quitar.
OBS.: Caso a obrigação seja personalíssima, somente o obrigado pode efetuar o pagamento; não sendo,
qualquer um pode pagar, até os herdeiros.
Na realidade, pouco importa para o credor quem faça o pagamento, desde que o faça corretamente.
Para o credor, o importante é receber o que lhe é devido, isto é, o seu crédito. O devedor também só tem
vantagens, pois vê a dívida retratada, já que sua obrigação em nada se agrava, só atenua. Do ponto de
vista social, o cumprimento da obrigação também só traz vantagem, já que a ação judicial é um elemento
de intranqüilidade social.
Se o terceiro não interessado paga a dívida em seu próprio nome, com fundamento no artigo 304,
tem direito ao reembolso, porém sem qualquer sub-rogação nos direitos do credor. Não há animus
donandi. Quis apenas ajudar o devedor.
O credor não pode recusar o pagamento efetuado pelo terceiro não interessado, desde que seja
feito em nome do devedor. Esse terceiro não interessado é aquele que não tem vínculo com o contrato.
O cumprimento da obrigação, por qualquer um, é elemento de paz social, de forma que é sempre
estimulado pelo Direito.
O artigo 305 do Código Civil diz que o solvens não se beneficia com a sub-rogação porque,
quando paga ao credor, desaparece a relação jurídica originária e surge outra, sem relação direta com a
anterior.
No pagamento com sub-rogação, a relação jurídica originária não se extingue, subsistindo o
vínculo obrigacional entre o devedor e a pessoa que sub-roga, já que o sub-rogado assume o lugar do
credor, satisfeito na obrigação.
OBS.: O devedor poderá se opor ao pagamento feito por terceiro, nos termos do art. 306, do C Civil: “O
pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou oposição do devedor, não obriga a reembolsar
aquele que pagou, se o devedor tinha meios para ilidir a ação.”
Argumentos que o devedor pode utilizar para se opor ao pagamento, entre outros:
notifica o terceiro dizendo que a dívida já foi paga;
alegar a prescrição.
Sujeito Passivo: é aquele a quem se deve pagar (accipiens), ou que deve receber. Para BEVILÁQUA, o
credor é também o sucessor causa mortis ou inter vivos, a título particular ou singular.
“A regra geral que o pagamento deve ser feito ao credor e as situações em que esteja inibido de
receber (art. 308); a autorização singela para receber, fornecida e concedida pelo credor, equivale à
situação do representante mencionado na lei (art. 311).” (Sílvio de Salvo Venosa)
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O princípio está no artigo 308, quando esse dispõe que o pagamento deve ser feito ao credor ou a
quem de direito o represente, sob pena de só valer se ratificado pelo credor ou se reverter em proveito
dele.
“É uma forma de conservar a segurança das relações jurídicas.” (Nelson Nery).
Caso não haja, portanto, pagamento corretamente feito ao credor ou seu representante, compete ao
devedor provar que houve ratificação ou que houve reversão em proveito do credor.
Aplica-se o velho brocardo de que “quem paga mal, paga duas vezes.”
Nem sempre, portanto, a regra geral de que o pagamento deve ser efetuado ao credor é válida. O
pagamento, às vezes, efetuado ao credor não é válido (Ex: pagamento ao menor que não pode quitar).
O pagamento efetuado para terceiro, às vezes, quita. (Ex.: credor ratifica pagamento ao credor
incapaz). Caso seja feito o pagamento a um terceiro, para que tenha eficácia, o credor deverá ratificá-lo
ou, não o ratificando, poderá o devedor provar que o pagamento reverteu em proveito do credor.
OBS.: Credor putativo: a mera aparência de credor ou de pessoa autorizada a receber o pagamento (art.
309).
Quitação: A quitação é a prova de que a obrigação se extinguiu, total ou parcialmente, pelo seu
adimplemento.
OBS.: No caso do mútuo de dinheiro, nos termos do art. 592, II, CC, não se estipulando o vencimento, o
prazo do pagamento é de 30 dias. O credor não pode exigir o pagamento imediato em mútuo de dinheiro.
O Brasil adotou o princípio do nominalismo em seu Código Civil, segundo o qual, nas obrigações
em dinheiro, o devedor se libera pagando em moeda corrente em lugar do cumprimento da prestação,
conforme preceitua o artigo 315 do Código Civil combinado com o artigo 586 do mesmo diploma legal.
Porém, o artigo 316 determinou que as partes podem convencionar aumento progressivo de
prestações sucessivas.
O artigo 317 disciplina a teoria da imprevisão autorizando o juiz a corrigir distorções em relações
jurídicas de trato sucessivo.
A cláusula de escala móvel A cláusula de escala móvel é aquela que traz uma variação na prestação
do devedor, segundo os índices de custo de vida ou segundo os preços de determinadas mercadorias. Para
fugir do efeito inflacionário, o credor estipula o pagamento em moeda, em valor que corresponda ao de
determinadas mercadorias – tais como cesta básica –, gêneros que são sensíveis à desvalorização da
moeda. Outro fator de indexação utilizado é o salário mínimo, muito embora ele seja descaracterizado
como fator de correção monetária pela Lei nº 6.205/1975 que, ao lado de proibir o reajustamento
clausular com base no salário mínimo (artigo 1.º), autorizou a aplicação da ORTN (Obrigações
Reajustáveis do Tesouro Nacional). A Lei nº 6.423/1977 proibiu a estipulação em qualquer escala móvel
que não fosse a ORTN. Com a criação do Plano Cruzado (Decreto - Lei nº 2.284/1986) ficou proibida,
sob pena de nulidade, cláusula de reajuste monetário nos contratos inferiores a um ano. Com o Cruzado
Novo (Lei nº 7.730/1989) houve o congelamento de preços, de forma que não havia mais correção
monetária no sistema e só os contratos com prazo superior a 90 dias poderiam sofrer reajuste. A Medida
Provisória nº 57/1989 e a Lei nº 7.777/89 fixaram o BTN, até mesmo o BTN Fiscal.
Há divergência doutrinária quanto à conveniência da utilização da escala móvel. Para o
doutrinador Sílvio Rodrigues a cláusula de escala móvel gera inflação, enquanto Caio Mário da Silva
Pereira e Arnold Wald defendem o instituto. Não há nada na lei brasileira que invalide a cláusula de
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escala móvel, de maneira que a mesma é lícita, segundo a opinião do Professor Villaça.
Este princípio é amplamente flexibilizado por mecanismos de correção monetária, a exemplo do
IGPM, do INPC, etc. Com isso, tenta-se evitar a depreciação do poder aquisitivo da moeda.
Correção monetária é atualização, não é plus. Juros = plus. O juro aumenta a base, significa
acréscimo.
OBS.: A correção monetária foi consagrada no Brasil pela famosa Lei nº 6.899/81 que estabeleceu a sua
incidência nos débitos decorrentes de decisão judicial.
Tabela price Também chamada de sistema francês de amortização. Criada por Richard Price.
Por meio desse sistema, incorporam-se juros a um débito de empréstimo ou financiamento,
permanecendo, todavia, o mesmo valor da prestação mensal.
O STJ em inúmeros julgados, a exemplo do AgRg no Ag 1.118.850/MG, julgado em março de
2009, reafirmou a posição segundo a qual a ilegalidade ou não da tabela price é questão de matemática
financeira a ser resolvida no caso concreto. A existência ou não de capitalização de juros no sistema de
amortização conhecido como Tabela Price, constitui questão de fato, a ser solucionada a partir da
interpretação das cláusulas contratuais e/ou provas documentais e periciais, quando pertinentes ao caso.
Salário mínimo A Constituição Federal (art. 7°, VI) veda a vinculação do salário mínimo para
qualquer fim. O art. 1.710 do Código Civil, também proíbe a vinculação do salário mínimo para o cálculo
da atualização de pensão alimentícia.
OBS.: Essa norma caiu em dessuetudo (desuso), os juízes continuam vinculando a pensão ao salário
mínimo. O próprio Supremo Tribunal Federal – STF, tem admitido a vinculação (RE 170.203 STF).
“O salário mínimo é o critério socialmente mais seguro para o cidadão brasileiro” (Pablo Stolze).
Quitação: A quitação é a prova de que a obrigação se extinguiu, total ou parcialmente, pelo seu
adimplemento. A quitação consiste em um escrito, no qual o credor reconhece o recebimento do que fora
estipulado e libera o devedor até o montante que foi pago. A quitação geral libera o devedor do vínculo
geral que o prendia ao credor.
O recibo é o documento da quitação, ele concretiza materialmente a quitação.
OBS.: O credor incapaz não pode praticar ato jurídico sem estar representado ou assistido, de forma que
não pode, de per si, quitar.
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O artigo 310 do Código Civil considera viciado o ato jurídico, não valendo o pagamento ao menor
que não pode quitar. Ex.: pagamento ao menor impúbere e não ao pai. Não é só a quitação que é inválida,
já que o próprio pagamento é considerado não realizado. A lei prevê uma exceção (artigo 310 C Civil)
quando dispõe que o pagamento efetuado ao incapaz de quitar será válido quando reverter em benefício
desse. O ônus da prova é do devedor desidioso. Ex.: se o menor gastar o dinheiro, o devedor pagará
novamente.
A regra geral visa proteger o incapaz. Tal benefício, porém, para não gerar instabilidade jurídica
ou enriquecimento indevido, não aproveitará ao incapaz, quando ele, apesar da idade, fizer bom uso do
dinheiro.
OBS.: O devedor deve saber que o menor é incapaz ou ter mecanismos para conhecer tal situação. Se o
devedor for induzido em erro quanto à idade, erro escusável, poderá anular o negócio jurídico e o
pagamento prevalecerá. (art. 310 C Civil "cientemente")
O devedor tem o direito de reter o pagamento caso o credor se recuse em fornecer a quitação,
sendo esse o mandamento do artigo 319. Tal retenção não implica em mora, pois o artigo 396 estabelece
que não havendo fato ou omissão imputável ao devedor, não incorre esse em mora. Haverá a mora do
credor por meio da recusa indireta, chamada de mora credendi (art. 394 C Civil).
O artigo 320 do Código Civil apresenta o mesmo formalismo do artigo 940 para quitação, porém
apresenta um parágrafo único que dispõe: "Ainda sem os requisitos estabelecidos neste artigo valerá a
quitação, se de seus termos ou das circunstâncias resultar haver sido paga a dívida".
A quitação, muito mais do que uma obrigação do credor, é um direito do devedor. Além de incidir
em mora, o credor incide em contravenção penal, conforme a Lei nº 4.494/94, artigo 17, inciso II.
Crédito penhorado (art. 312 C Civil): Se o devedor vier a ser intimado da penhora, feita sobre seu
crédito por outras dívidas, não poderá utilizar o bem penhorado para pagar dívidas com terceiros.
O patrimônio do devedor responde por suas dívidas. Tal patrimônio contém bens corpóreos e
incorpóreos (créditos). Tais bens devem estar desobstruídos para pagamento. Portanto, mesmo pagando
ao credor real, se o bem estiver penhorado, tal pagamento será ineficaz.
Tanto a penhora quanto o embargo sobre a dívida retiram do credor o poder de receber.
O devedor ciente da constrição, se efetuar o pagamento, apesar da penhora ou impugnação, se
sujeita a fazê-lo duas vezes. A solução não prevalece sobre o exeqüente ou embargante. Cabe ação
regressiva ao devedor, para devolver (repetir) o que transferiu.
Dívida quesível (quérable): é a dívida que se paga, por princípio, no domicílio do devedor, cabe ao
credor procurar o devedor para a cobrança, como regra geral (art. 327);
Dívida portável (portable): é a dívida que se paga em qualquer lugar determinado, com disposição
contratual em contrário, cabendo ao devedor deve procurar o credor em seu domicílio, ou no local por ele
indicado.
A regra geral é que a dívida seja normalmente quesível, isto é, deve ser paga no domicílio do
devedor. Compete ao credor, portanto, ir até lá para receber o pagamento. Salvo disposição em contrário,
o pagamento deve ser efetuado no domicílio do devedor. (art. 327 C Civil).
As partes podem transformar uma dívida portável em quesível, por estipulação expressa ou tácita
entre as partes. Exemplo: uma dívida está estipulada para ser paga no domicílio do credor; porém, se o
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credor for cobrar a dívida na casa do devedor, transforma a natureza do local de recebimento.
OBS.: O local do pagamento é importante para caracterizar a mora. Se a prestação deve ser cumprida no
domicílio do credor e o devedor não comparece, incide em mora. Porém, se o credor não comparece no
domicílio do devedor para receber a dívida quesível, não há mora, já que não há culpa por parte do
devedor.
ATENÇÃO: "Ocorrendo motivo grave para que não se efetue o pagamento no lugar determinado,
poderá o devedor fazê-lo em outro, sem prejuízo para o credor. O pagamento reiteradamente feito em
outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato". (arts. 329/330 C
Civil)
Princípio do Venire Contra Factum Proprium (Vir contra fato próprio): em respeito aos princípios da
confiança e da boa-fé objetiva proíbe comportamento contraditório.
Obrigações com tempo certo Quando as partes estabelecem data para o pagamento. Não há
dificuldade para saber o vencimento nem o momento em que a obrigação deve ser cumprida – sob pena
de inadimplemento, face à impontualidade.
EXCEÇÕES:
Antecipação do vencimento por força da lei: Não pode o credor exigir a prestação antes do seu
vencimento, já que o prazo, ordinariamente, é o benefício do devedor. A lei pode, porém, para
resguardar direitos do credor, antecipar o vencimento da obrigação, conforme dispõe o artigo 333
do Código Civil.
OBS.: O objetivo da disposição legal não é simplesmente o de proteger o credor, de garantir que ele
venha realmente receber o seu crédito; ela visa precipuamente garantir a segurança das relações de
crédito, preservando o próprio interesse social – tanto que as hipóteses são excepcionais, apresentando o
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disposto em lei numeração taxativa.
Inciso I : o credor pode cobrar desde logo sua dívida, se o devedor falir ou abrir o concurso de
credores, isto é, se tornando insolvente. Isso porque o concurso não só demonstra a
impontualidade do devedor como também que a dívida excede a importância dos bens do
devedor (artigo 955 do Código Civil). Temos, portanto, o binômio impontualidade e
insolvência do devedor. O concurso é um processo, no qual os credores insolventes vão ratear
o ativo para cobrirem, em parte e de forma proporcional, seus créditos. A imperatividade do
vencimento antecipado está no fato de que, se aquele credor tivesse que aguardar o prazo certo
para cobrar o crédito, já não encontraria qualquer bem a executar.
Inciso II : a cobrança antecipada pelo credor pode ocorrer se outro credor executar direitos
reais de garantia. Nessa hipótese, o crédito está resguardado por bem certo e específico, dado
em garantia pelo devedor. Isso garante ao credor preferência sobre outros no rateio de bens. É
lógico, portanto, que, se antes de vencida a dívida um outro credor vier a penhorar o bem já
dado em garantia, não deve o primeiro credor ter que aguardar o vencimento de seu prazo, sob
pena de não lhe ser resguardado privilégio sobre a dívida.
Inciso III : também haverá a antecipação da obrigação se as garantias que asseguram o débito
cessarem, ou se tornarem insuficientes, e o devedor, uma vez intimado, negar-se a reforçá-las.
Isso porque o credor só realizou negócio tendo em vista que o devedor dispunha de garantias
fidejussórias. Se, porém, tais garantias se deterioraram ou se extinguiram, há uma sensível
redução na perspectiva de o credor receber o crédito. Pode, portanto, o credor exigir reforço
na garantia, para defender seus interesses. Com a negativa do devedor, há o vencimento
antecipado para não trazer maiores prejuízos ao credor.