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SA Ferreira; GD Germinari. VIII CIH.

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FORMAÇÃO DE PROFESSORES E DIDÁTICA DA HISTÓRIA: O


CURRÍCULO COMO FONTE
Doi: 10.4025/8cih.pphuem.3749

Silvéria da Aparecida Ferreira, UNICENTRO


Geyso Dongley Germinari, UNICENTRO

Resumo

Esta reflexão constitui-se em parte da pesquisa que está sendo


gestada na dissertação provisoriamente intitulada “Didática da História: os
currículos e a formação inicial nas Universidades Estaduais do Paraná”
desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Educação, da
Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná – UNICENTRO. Para
tanto, inicialmente propomos uma reflexão acerca dos embates na formação
docente a partir dos anos de 1980/1990, utilizando como fonte as Diretrizes
Curriculares, leis e bibliografia sobre o tema. A pesquisa tem por objetivo
desenvolver uma investigação que possibilite pensarmos uma Didática da
Palavras Chave: História ancorada nos princípios epistemológicos da Ciência da História,
Didática da História; para além das técnicas e métodos pedagógicos de ensino, dessa forma
Ciência da História; utilizamos a teoria desenvolvida pelo historiador e filósofo alemão Jörn
Currículos; Formação Rüsen e seus interpretes no Brasil, justificando que há uma dimensão
docente. didática própria da ciência da História que pode contribuir para a formação
de professores de História. A dissertação está em andamento, apresentamos
nesse texto alguns dos resultados alcançados ao analisarmos os Projetos
Pedagógicos dos Cursos de Licenciatura em História –PPCH, mais antigos
de cada uma das sete universidades estaduais do Paraná.
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que trouxe consigo muitos


Introdução
questionamentos. As proposições de
Esse artigo consiste em um Ensino, que estavam até então impostas
resumo das questões que estão sendo pelo antigo governo ditatorial, foram
problematizadas na dissertação de colocadas à prova, no que diz respeito à
mestrado em Educação da Unicentro, que área de História não foi diferente, tanto na
intitula-se provisoriamente como formação básica, quanto no ensino
“Didática da História: os currículos e a superior, incumbido da formação inicial
formação inicial nas Universidades de professores.
Estaduais do Paraná”. O recorte pode ser A disciplina de História ficou por
considerado como um dos limites do texto muito tempo mesclada à de Geografia
visto a impossibilidade de apresentar a com a criação, no período em que o Brasil
pesquisa em sua totalidade, e também fora comandado pela Ditadura Civil
porque ainda não está concluída, no Militar (1964-1985), das licenciaturas
entanto nossa tentativa é expor os rumos curtas em Estudos Sociais. O objetivo
e com possíveis críticas construtivas dessa junção no contexto ditatorial
melhorar os caminhos da pesquisa. constituía-se em formar professores
O texto está estruturado em três “polivalentes”, no entanto, essa ação
momentos. Inicialmente, a discussão descaracterizou ambas as ciências, lesou a
sobre a formação de professores no Brasil formação e causou “generalizada
após 1990 buscamos realizar um ignorância” (GLEZER, apud: CAIMI,
diagnóstico, sucinto, de alguns dilemas e 2001, p. 103).
da legislação que norteiam a Formação de Com base em Caimi (2001),
Professores de História no país até os dias percebe-se que a criação de cursos de curta
atuais. Posteriormente, refletimos sobre o duração, que formavam professores para
campo da Didática da História, seus trabalhar em mais de uma área, acarretou
desdobramentos e as variadas concepções significativos problemas para a formação
pela qual passou. Por meio dos escritos de de professores, para o ensino e para a
Jörn Rüsen e seus colaboradores profissão em geral, isso porque contribuiu
definimos o conceito que corroboramos. para o enfraquecimento da qualidade dos
Por fim, a luz dessas teorias analisou-se os cursos e também formou professores com
objetivos, competências e habilidades pouco embasamento teórico, que não
almejadas em dois PPCs de História do dominavam nenhuma das duas disciplinas.
Paraná, a saber: do curso da UNIOESTE Assim, o curso de Estudos sociais auxiliou
e da UENP. para a descaracterização das disciplinas
específicas de História e de Geografia,
Formação de Professores de tornando-as superficiais, acríticas e a-
História no Brasil históricas, sem sentido para a vida dos
alunos (CAIMI, 2001).
A formação de professores
Para pensarmos a formação de
passou por muitas embates no Brasil,
professores depois de 1980-1990 é
conscientes disso necessitamos delimitar
imprescindível destacarmos que para o
nosso recorte temporal. Dessa forma,
ensino a realidade era contraditória
escolhemos trabalhar a partir da década de
(FONSECA, 2003), já que a legislação
1990 até os dias atuais, tratando alguns
continuava aos moldes autoritários da
aspectos da formação de professores
ditadura e a necessidade de pensar,
desse período. A década em questão é
debater, ressignificar as diversas áreas de
compreendida por alguns historiadores
ensino estava cada vez mais gritante.
como um momento de
“redemocratização”, ocasião em que a Aos poucos os currículos por
democracia desabrochava novamente e todo o país foram sendo afetados com a

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tensão dos questionamentos e greves dos os cursos, para o de História produziu-se


profissionais da Educação. Porém, as duas até o momento: Diretrizes
disciplinas de Geografia e História só Curriculares Nacionais para a Formação
conseguiram autonomia e legitimação a de Professores da Educação Básica, em
partir de 1990 com a extinção das Nível Superior, Curso de Licenciatura, De
disciplinas OSPB, EMC e EPB1 Graduação Plena (BRASIL, 2002) e as
(FONSECA, 2003). Diretrizes Curriculares para os Cursos de
A História ressurge lentamente História (BRASIL, 2001).
nos currículos e escolas, como disciplina Conforme Caimi (2003) embora
autônoma, todavia com muitos limites, ambas as Diretrizes sejam destinadas aos
porque a categoria docente que estava em profissionais de História, são
atuação fazia parte da política de formação contraditórias, já que as Diretrizes
polivalente. Houve uma massificação de Curriculares Nacionais para a Formação
esforços na busca de “re-valorização” da de Professores da Educação Básica, em
História enquanto saber autônomo e nível superior, curso de licenciatura, de
disciplina que auxilia na formação crítica graduação plena (2002) demostram que o
dos cidadãos (FONSECA, 2003). processo de formação do docente deve ser
priorizado – formação para o Ensino, em
Nesse sentido, ocorre em 1996 a
implementação das Leis de Diretrizes e contraponto as Diretrizes Curriculares
para os cursos de História (2001)
Bases da Educação LDB– 9394/96 e dos
Parâmetros Curriculares Nacionais – priorizam a formação do historiador, da
pesquisa em detrimento do ensino que é
PCN’s, publicados em 1997. Diante da
reformulação das políticas educacionais o visto como um dos fins – Formação para
a pesquisa (CAIMI, 2013). Isso demostra
ensino de História nas instituições
o intenso debate de duas perspectivas que
educacionais é reelaborado, incorporam-
pensam o processo de formação inicial em
se novos objetos, fontes e problemas
História de forma distinta.
(FONSECA, 2003). O ensino de História
estava longe de ser homogêneo no país, A perspectiva que pretendemos
mas nesse período começa a aproximar-se desenvolver na dissertação, que está em
mais das problemáticas debatidas na andamento, não considera a separação
academia. Licenciatura x Bacharelado Isso
Embasados principalmente na teoria
A LDB 9394/96 abrange e
desenvolvida pelo filósofo e historiador
norteia todos os níveis de educação no
Jörn Rüsen (2001) buscamos, por meio
Brasil, foram incorporados e retirados
das contribuições do campo teórico da
alguns pontos, mas é em essência o
Didática da História, compreender que
mesmo documento de 1996 até hoje. O
não há sentido na divisão Bacharelado X
documento aponta exigências que devem
licenciatura, visto que o
ser cumpridas pelos estabelecimentos de
Ensino/aprendizagem está em todos os
ensino, em qualquer modalidade, uma
processos, não há separação, esses
delas é a obrigatoriedade do currículo na
“extremos” na verdade são, nessa
Educação Básica e Superior, importante
para nós, pois os Projetos Pedagógicos perspectiva, vistos como complementares.
dos Cursos de História do Paraná – Nossa discussão abrange outros
PPCsH são compreendidos como fontes. elementos, mas por enquanto nos
prenderemos na questão de que não há
Dentre as regras previstas na
sentido a separação dicotômica entre
LDB está a confecção de Diretrizes para

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OSPB: Organização Social e Política Brasileira,
EMC: Educação Moral e Cívica e EPB: Estudos
dos Problemas Brasileiros - EPB.

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Teoria e prática, ou entre licenciatura e aprendizagem eram elementos culturais,


bacharelado, visto que o professor “[...] fenômenos e o processo fundamental
historiador deve procurar responder da cultura humana” (RÜSEN, 2006, p.8),
problemas práticos da vida, gerando ou seja, que não estava restrito a um
aprendizagem e orientação temporal para espaço específico, tal como o espaço
os sujeitos. O historiador e o professor são escolar. Dessa forma, defendiam que os
as mesmas pessoas, não há sentido atribuir “problemas históricos”, que geravam a
um papel ao historiador e outro ao escrita da história, partiam da vida prática
professor, bem como não faz sentido (RÜSEN, 2006), assim a ciência da história
diferenciar teoria e prática, é preciso possuía uma dimensão didática intrínseca,
compreender as relações necessárias entre a aprendizagem histórica servia para
a epistemologia e o ensino de História. orientar a vida.
Estamos defendendo a Didática da
Esse panorama do
História embasada na epistemologia da
reconhecimento das dimensões didáticas
História, que nos permite pensar e
da ciência histórica sofreu alterações no
problematizar os processos de ensino e
século XIX, quando a História ganha
aprendizagem da História de forma
caráter científico, decorrente do processo
abrangente em contraponto a
de profissionalização da ciência que
mecanização da didática enquanto
contribui para a transformação da noção
disciplina técnica e metódica. de Didática da história (ALVES, 2003).
Assim, a pesquisa, baseada no método
Didática da História: elementos
passou a ser mais valorizada em
epistemológicos da ciência detrimento à Didática.
Histórica
As tentativas de ascender o status
O campo teórico da Didática da e legitimar as ciências humanas
História tem crescido nos últimos anos interferiram, especificamente no caso da
significativamente, no Brasil. Já na História, na compreensão e no trato à
Alemanha os debates em torno dessa didática própria da ciência. Para isso
temática estão mais consolidados, mas precisamos entender o processo de
nunca foram homogêneos. Um dos profissionalização do Historiador, que
principais teóricos que influenciam o trouxe regras rígidas e acarretou na
pensamento no Brasil é o historiador e separação entre Ciência da História e
filósofo Jörn Rüsen, isso porque há uma Didática da História, nos seguintes
quantidade razoável de traduções dos seus termos: a primeira com função
escritos para o português, no entanto, metodológica ligada a pesquisa e a segunda
Rüsen faz parte de um vasto grupo de restrita a metodologia de ensino.
intelectuais alemães que discutem a um No pensamento positivo do
bom tempo questões da Didática e sua século XIX a racionalidade imperava, a
relação íntima com a epistemologia da busca pela objetividade, neutralidade
História (SADDI, 2014). baseada em documentos e métodos são
Pretendemos esboçar um pouco fundamentos que dão credibilidade as
da teoria e do conceito de Didática da ciências, em especial a Ciência da História
História. Para compreender seus que almejava o estatuto científico. No
caminhos torna-se imprescindível entanto o intelectual, compreendido a
entender que, até o início século XIX os partir da legitimação da ciência como
filósofos da história incluíam nas suas historiador, sobe em uma espécie de
reflexões acerca dos fundamentos da pedestal, sua forma de pensar
ciência histórica os problemas didáticas historicamente é colocada como superior
sobre ensino/aprendizagem de história. as demais e a pesquisa ocupa lugar de
Consideravam que o ensino e a hegemonia, enquanto o ensino-

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aprendizagem é colocado à margem, como profissão dos historiadores (RÜSEN,


consequência a Didática da História fora 2006).
condicionada aos problemas técnicos e O historiador passou a
metodológicos de ensino. representar aquele que detinha o
Esse momento simboliza a conhecimento incontestável, empírico,
ruptura da História Ciência com a Didática neutro e verdadeiro, o detentor do saber.
da História, cuja ênfase recaiu sobre os Enquanto o lugar do professor de História
problemas metodológicos da pesquisa e da fora condicionado ao fazer, deveria assim
prática investigativa (RÜSEN, 2006). aprender o conhecimento científico
Deste modo, sufoca-se o caráter didático pronto e acabado e transportar
da história como ciência, tornando-se uma didaticamente aos alunos, entendidos
demanda educacional apenas, vinculada a como “recipientes vazios” de
outras ciências como a Pedagogia e a conhecimento (RÜSEN, 2006). Logo é
Psicologia. atribuído a Didática da História o campo
da metodologia, restrita as técnicas e
A Didática da História passou a
procedimentos que se propõe a facilitar o
servir como auxiliar técnica da ciência da
ensino-aprendizagem escolar, baseado na
história, a qual relegou o papel de mediar
conhecimentos, “a esse respeito, a transposição didática2.
cientifização da história excluiu da A proposição de que a Didática
competência da reflexão histórica racional da História constitui-se em sinônimo de
aquelas dimensões do pensamento metodologias e técnicas que auxiliam na
histórico inseparavelmente combinadas transposição didática acabou por acentuar
com a vida prática” (RÜSEN, 2006, p. 9). a dicotomia entre teoria e prática,
Esse processo é entendido por Rüsen tornando-as categorias opostas e
(2006) como a “irracionalização da assimétricas, a primeira hegemônica –
História”, mesmo que essa, enquanto detentora do “saber magnífico” e a
ciência estivesse preocupada com a segunda como campo de aplicação de
“racionalização” do saber histórico, a parte “mastigada/facilitada” desse
relação com a vida prática submerge e aos conhecimento.
poucos afasta-se da busca pelo sentido
Essa dicotomia está presente nos
histórico e de sua função de orientação
documentos norteadores dos cursos de
existencial. História, como acentuado na primeira
A partir do processo de parte desse trabalho. Em contraposição a
profissionalização os historiadores essa visão está ocorrendo uma busca da
“começaram a perder de vista um especificidade da Didática da História,
importante princípio, a saber, que a tema recorrente em muitas pesquisas nos
história é enraizada nas necessidades últimos anos, contudo, não desmerecemos
sociais para orientar a vida dentro da de forma alguma a Didática em termos
estrutura tempo” (RÜSEN, 2006, p.8), é amplos e gerais, pois compreendemos que
nesse contexto que se diminui a as técnicas metodológicas são necessárias,
importância da Didática da História mas condicionar o entendimento a essa
enquanto parte inerente da Ciência da forma fixa nos conduz a sérios problemas,
História, pois a mesma perde seu lugar pois “limita ideologicamente a perspectiva
central de reflexão sobre a própria dos historiadores em sua prática e nos

Reconhecemos que a matemática já consolidou a


2
O conceito de transposição didática fora discussão sobre como os sujeitos aprendem, mas
consagrado pelo matemático Yves Chevallard do a ciência da história ainda está por engatinhar em
qual o conhecimento acadêmico deve passar por relação à cognição histórica e é nesse sentido que
um processo facilitador e didático para tornar-se buscamos avançar
ensinável aos alunos (URBAN, 2011).

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princípios de disciplina” (RÜSEN, 2006, Universidades Estaduais do Paraná são


p. 8). Posto isto: documentos norteadores da formação de
professores e por isso merecem atenção.
[...] a Didática da História não pode
ser vista como um mero facilitador A formulação dos projetos pelos
da aprendizagem. Ela não é o membros da instituição de ensino é
‘facilitador’ da transferência do obrigatória, está prevista na legislação, a
saber erudito à escola, Lei de Diretrizes e Bases 9.394/96 faz
simplesmente porque se reconhece menção em vários momentos da
que não há um processo de essencialidade do Projeto Pedagógico, e
transferência a ser facilitado. Se a isso se reflete em outros documentos a
História escolar é uma criação da
posteriori, como as Diretrizes Curriculares
escola, e não uma versão
simplificada da ‘História dos
Nacionais para a Formação de Professores
historiadores’ a Didática da História da Educação Básica, em Nível Superior,
não pode ser um conjunto de Curso de Licenciatura, de Graduação
métodos [...] utilizáveis tanto no Plena (2002) e nas Diretrizes Curriculares
ensino de História quanto no de para os Cursos de História (2001), o
outras disciplinas escolares. último é um manual de orientação para a
(CARDOSO, 2008, p.158). construção do PPC.
Além disso, a Didática da Para a dissertação analisaremos
História não está presa à escola, sua os Projetos Pedagógicos dos Cursos de
proposta busca compreender seus usos História ao todo, com base no campo
públicos. Assim, o campo da Didática da teórico da Didática da História, portanto,
História é muito mais amplo, contudo a os processos de aprendizagem devem
aprendizagem histórica (objeto da perpassar todas as disciplinas e o todo dos
Didática da História) e o pensamento pressupostos norteadores dos cursos de
histórico devem estar próximos da ciência História. Contudo desenvolveremos aqui,
da História na escola, mas as relações por enquanto, uma sucinta análise dos
temporais que geram orientação para a objetivos e das competências e habilidades
vida também são possíveis em outros que são esboçadas nos PPCsH de duas
âmbitos da sociedade. universidades Estaduais do Paraná, na
tentativa de compreender qual a
Embasados nessas teorias sobre
perspectiva de teoria e prática almejadas e
formação de professores e Didática da
quais as competências que o profissional
História fundamentada na epistemologia
formado em História deve desenvolver no
da ciência de referência, buscaremos
decorrer do curso.
compreender qual a perspectiva de teoria
e prática almejadas e quais as Os PPCs apresentam
competências que o profissional de praticamente a mesma estrutura,
História deve desenvolver no decorrer do utilizaremos aqui o Projeto Pedagógico
seu processo de formação inicial em dos cursos de História, da Universidade
História, a partir dos Projetos Pedagógicos Estadual do Oeste do Paraná –
de duas universidades estaduais do Paraná, UNIOESTE (MARECHAL CÂNDIDO
a saber: UNIOESTE e UEPN. RONDON, 2015); e da Universidade
Estadual do Paraná – UENP
O currículo como fonte (JACAREZINHO, 2013).
De modo geral, os PPCs em
O currículo é um documento
questão apresentam no início do
obrigatório em todos os níveis de ensino.
documento os objetivos e em seguida as
E para esse estudo é a fonte principal de
competências que devem ser
análise, pois os Projetos Pedagógicos dos
desenvolvidas no decorrer do curso. Há
Cursos de História – PPCsH das
uma tendência comum de criticar o

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modelo de formação de professores habilidades no PPCH da UENP:


baseado na transposição didática de
conteúdos, no qual esse professor teria • Conhecer diversas teorias do
que ser facilitador da aprendizagem, assim: conhecimento, especialmente às
referentes ao conhecimento histórico;
A formação do licenciado em
História pressupõe, antes de tudo, a • Ter capacidade de desenvolver uma
indissociabilidade entre ensino, pesquisa histórica voltada tanto para a
pesquisa e extensão, além do caráter divulgação social como para o ensino;
prospectivo da produção do
conhecimento histórico. Neste • Ser capaz de organizar e manipular
sentido, o modelo de professor acervos, arquivos, bibliotecas, museus
enciclopédico, ou do professor como fontes de informação para a
reprodutor de conhecimentos produção do conhecimento histórico;
produzidos alhures, cede espaço a
um profissional capaz de conduzir • Atender às necessidades de um perfil
seus alunos, seja no ensino do graduando de História leva em
fundamental ou médio, quiçá, no conta as necessidades regionais,
ensino superior a refletir podendo ou não, serem necessidades
historicamente sobre os dados da gerais;
realidade, superando o mito do
saber acabado e da história absoluta • Ser capaz de refletir sobre o saber
(MARECHAL CÂNDIDO histórico escolar e as possibilidades de
RONDON, 2015, p.7). aprendizagem conforme o
desenvolvimento cognitivo de
Dessa maneira a formação estudantes do ensino básico
rompe com a noção de transposição de (JACAREZINHO, 2013, s/p).
conhecimento e basea-se na produção do São várias as capacidades
mesmo, parte da ideia de que os alunos ressaltadas no PPC, no entanto, embora a
não são recipientes vazios, como bem ideia seja ultrapassar a noção de teoria e
lembra Rüsen (2006) e que são detentores prática, licenciatura e bacharelado, não há
de conhecimento histórico, embora especificamente nenhuma capacidade a
precisem com a história ciência ser desenvolvida atrelando a teoria e a
desenvolverem pensamento histórico prática, ou a teoria e o Ensino, ou que seja
científico. destinada ao Professor e que é, também
Na apresentação de ambos os historiador. A única menção à
Projetos expõe-se a preocupação com a aprendizagem faz-se no último tópico da
dicotomia teoria e prática, dessa forma citação, no qual percebemos uma certa
demostram que ocorre um esforço para hierarquização da capacidade cognitiva
romper com tal separação, corroborando dos alunos, já que é preciso refletir sobre
com a noção de que não há sentido tal o saber histórico escolar e possibilidades
separação já que a teoria e a prática devem cognitivas dos alunos.
ser complementares e uma advém da Rüsen (2010) destaca que a
outra. principal capacidade que os sujeitos
Em se tratando das capacidades podem adquirir pela aprendizagem
almejadas para os profissionais em Histórica deve ser o aumento da
processo de formação em História experiência, interpretação e orientação
algumas incoerências foram encontradas, existencial e temporal, ou seja, o
principalmente, no que diz respeito as desenvolvimento da consciência histórica.
competências que deveriam ser específicas O PPCH (2015, p. 8) da UNIOESTE
para os profissionais de história, ou seja, aproxima-se desse debate de maneira
professores de História já que são cursos muito interessante, quando objetiva
de licenciatura. Competências e formar profissionais capacitados em:

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a) Compreender e muros da escola e da universidade e está


operacionalizar os conceitos e categorias presente nos mais diversos âmbitos sociais
próprias do conhecimento histórico; e saber interpretar os usos públicos da
b) Conduzir o processo de aprendizagem histórica.
ensino/aprendizagem, visando Essas capacidades que o
desenvolver a capacidade de pensar professor/historiador deve desenvolver
historicamente, e de refletir sobre os até findar sua formação inicial são
dados da realidade; extremamente importantes, vão ao
encontro das proposição da Didática da
c) Estabelecer o diálogo
História baseada nos pressupostos
entre presente e passado, pensando
epistemológicos da ciência de referência.
criticamente a realidade, isto
Sendo assim estão muito bem
possibilitando a intervenção nas questões
consolidados no PPCH da Unioeste.
do seu tempo;
d) Considerar as Conclusão
preocupações do presente e os
compromissos de reescrever a história a Buscamos no decorrer do texto
partir da problematização da realidade problematizar a formação do professor de
vivida; História, embasados no campo teórico da
Didática da História. Logo no início
e) Dialogar com outras
destacamos alguns pontos da legislação
disciplinas, promovendo uma
sobre Formação inicial que ressaltam as
diferenciação com o aquilo que é
dicotomias teoria e prática, professor
especifico do campo historiográfico e
(licenciatura) e historiador (bacharelado).
alargando a possibilidade de propor
Tal diferenciação percebe-se também nas
questões e objetos para o estudo da
Diretrizes que embasam a produção dos
História.
Projetos Pedagógicos dos Cursos de
f) [...] História atualmente.
g) Desenvolver a pesquisa e a Propusemos uma aprentação, de
produção do conhecimento histórico, não forma sucinta, sobre o campo teórico da
apenas no âmbito acadêmico, mas em Didática da História e seus
instituições de preservação documental, desdobramentos na escrita da História,
de desenvolvimento de projetos ligados à visto que no século XVIII havia uma
gestão de patrimônio histórico e cultural. preocupação dos filósofos da História
com as dimensões didáticas da escrita da
História, que perdeu-se com o processo de
Se seguirmos os pontos profissionalização do historiador no
estabelecidos na citação acima podemos século XIX, quando relega-se a didática o
perceber que há uma preocupação com a papel de metodológia, contrapondo-se a
(a) epistemologia própria da história; (b) valorização do método cientifico.
desenvolver o pensamento historico
científico baseado na relação com a vida Finalmente, analisamos
prática; (c) Interpretar a experiência no especificamente os objetivos e as
tempo para orientar e intervenção social; competências e habilidades almejadas nos
(d) teoria + vida prática = escrita da Projetos Pedagógicos dos cursos da
história; (e) dialogar buscando novos UENP e da UNIOESTE. Pudemos
objetos e possibilidades, mas levando em perceber que há um esforço qualitativo
consideração as especificidades da ciência para transcender a dicotomização teoria e
da História, que é o que a diferencia de prática, mas que ainda há muito a se
outras, (g) Compreender que o pensar. Há, no currículo da UNIOESTE,
conhecimento histórico extravasa os uma visível preocupação com as

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dimensões didáticas da ciência da história, Ensino de História: entre a formação, o prescrito


destacada já nos objetivos do curso. e o praticado. Antíteses, v. 5, n. 1º, p. 613-634,
jul/dez. 2012. Disponível em:
Esse texto é uma discussão <http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/anti
inicial sobre essas temáticas, portanto teses/article/view/13319/12131> Acesso em:
31/05/2017.
ainda merece muita atenção e
ponderamentos sobre as fontes, os
Projetos Pedagógicos dos Cursos de Fontes:
Licenciatura em História das BRASIL. LEI Nº 9.394, DE 20 DE
Universidades Estaduais do Paraná. DEZEMBRO DE 1996. Estabelece as diretrizes
e bases da educação nacional. Disponível em: <
Referências http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1996/l
ei-9394-20-dezembro-1996-362578-norma-
ALVES, R. C. História e vida: o encontro pl.html > Acesso: 31/01/2017.
epistemológico entre didática da história e BRASIL. PARECER N.º: CNE/CES
educação histórica. História & Ensino, 492/2001. Diretrizes Curriculares Nacionais dos
Londrina, v. 19, n. 1, p. 49-69, jan./jun. 2013. cursos de Filosofia, História, Geografia, Serviço
CAIMI, Flávia Eloisa. "A licenciatura em História Social, Comunicação Social, Ciências Sociais,
frente às atuais políticas públicas de formação de Letras, Biblioteconomia, Arquivologia e
professores: um olhar sobre as definições Museologia. Disponível em: <
curriculares." Revista Latino-Americana de http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES
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http://projeto.unisinos.br/rla/index.php/rla/arti BRASIL. RESOLUÇÃO CNE/CES 13, DE 13
cle/viewFile/189/143> Acesso em: 10/01/2017 DE MARÇO DE 2002.(*) Estabelece as
CAIMI, Flávia Eloisa. Conversas e Diretrizes Curriculares para os cursos de História.
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identidade: uma introdução às teorias do do Paraná, UNIOESTE. Campus Marechal
currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 1999. Cândido Rondon, Paraná – (2015).
SOARES, Olavo Pereira. Os currículos para o

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