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FAU - UNB Estética e História da Arte - Miguel Gally 2023

Ana Carolina de Felice - 170098753

(1990) “Arte e Interatividade: Autor-Obra-Recepção”. Republicado em Revista de


Pós-graduação, CPG, Instituto de Artes, Unicamp, 2000.

Julio Plaza discorre a respeito dos efeitos e formas que ocorrem o diálogo entre autor obra e
espectador, tendo sua recepção como pauta e objeto

O tema da "recepção" percorre a história e desde o século XX M. Duchamp já afirma que "é o
espectador que faz a obra. Segundo Plaza a abertura da obra a recepção se dá de três formas
quanto a sua fase produtiva: Artesanal como primeira geração, Industrial, como segunda
geração e Eletro-eletrônica. como terceira geração A obra aberta se dá também em três graus
sendo a primeira a partir da riqueza de sentidos e significados que o objeto gera à recepção, a
segunda tendo alterações estruturais que incorpora o espectador de maneira menos radical,
sendo uma arte de participação em que a manipulação física acrescenta os ditos atos de
liberdade sobre a obra e a terceira parte da intervenção da máquina como agente de
instauração estética.

A inclusão do espectador se dá seguindo o fluxo: participação passiva, sendo a contemplação,


participação ativa, como a manipulação do objeto e sua intervenção, participação perceptiva e
interatividade. E este entendimento crítico se repete sob o formato virtual. O pertencimento do
observador à obra e o processo criativo se dão como uma nova forma de comunicação que
desconstrói o processo criativo inicial, então aos artistas é dada a oportunidade de tornar os
momentos de comunicação perceptíveis: a emissão da mensagem, sua transmissão e sua
recepção.

A abertura de primeiro grau

Nos anos vinte e no campo dos estudos da linguagem a obra de Mikhail Bakhtin inaugura o
dialogismo. Para ele a primeira condição da intertextualidade é que as obras se deem por
inacabadas, sendo, assim, a abertura dialógica para que sejam prosseguidas. Segundo o autor
o que caracteriza a intertextualidade é um novo modo de leitura, “a intertextualidade fala uma
língua cujo vocabulário é a soma dos textos existentes.”

Na teoria da Obra Aberta, de Umberto Eco, o autor define a arte como “uma mensagem
fundamentalmente ambígua, uma pluralidade de significados em um só significante” e é este
conceito que inaugura a chamada abertura de primeiro grau em que os graus de abertura
permitem equacionar a participação.

Surge a “poesia de participação” onde uma chave verbal mínima encoraja e provoca uma
expressão do leitor:
Petróleo” de José Lino Grunewald (1957)

“Cubagrama” de Augusto de Campos (1960-62)


Surgiu também em 1967 a “Poesia de processo” de W. Dias Pino “Não se busca o definitivo,
nem ‘bom’ nem ‘ruim’, porém a opção. Opção: arte dependendo da participação, o provisório: o
relativo. Ato: sensação de comunicação, contra o contemplativo” e fica nítido que a
necessidade de uma obra finalizada não se faz, porque é a capacidade de vários comunicados
em um único objeto que indica seus diferentes processos.

No final dos anos sessenta alguns teóricos criam a Estética da Recepção que indica que os
atos de leitura e recepção podem gerar interpretações diferenciadas e atos criativos diversos,
colocando o receptor na função de co-criador. Na Teoria de Recepção “nenhum texto diz
apenas aquilo que deseja dizer” assim como de acordo com a poética de tradução a obra é
recriada, o que significa que mesmo traduzir é transcriar.

O autor de uma obra é então instigador e não dono de um único significado, desta forma a obra
não está completa sem a participação do espectador, participação essa que é por si só uma
linguagem, não apenas ferramenta técnica. E ainda, elevar uma percepção, sugerir: por quanto
o que se sugere não se deve dizer, não se deve afirmar e limitar seus significados, Mallarme:
"Nomear um objeto é suprimir très quartas partes do gozo de um poema e Paul Valéry: "Não há
um verdadeiro sentido para um texto

Ao longo do texto. Julio Plaza evidencia algumas diferentes interpretações quanto ao “espaço”,
seja a visão geométrica ou poética, mas além do “espaço entre dois pontos” ou “espaço de
tempo entre dois fatos” o “intervalo” carrega um significado mais conciso em Estética: não
sendo um vazio, é a interpretação entre um texto e seu receptor.

Abertura de Segundo Grau

As noções de ‘ambiente’ e ‘participação do espectador’ são propostas típicas da década de


sessenta. Além dos significados rasos de ambos, ambientes artísticos acrescidos da
participação do espectador contribuem para a desmaterialização da obra, que é então
substituída pela situação perceptiva: a percepção como recriação. Nos ambientes é o corpo do
espectador, não apenas seu olhar, que se inscreve na obra.

A noção de arte de participação encurta a distância entre criador e espectador, na participação


ativa o observador é convidado e induzido à manipulação do objeto artístico ou de seu espaço.
A obra não é mais o objeto avulso e sim as consequências das ações que for afligida. Lygia
Clark: “No meu trabalho, se o espectador não se propõe a fazer a experiência, a obra não
existe”. O papel do situacionista, daquele que introduz a participação total, será o de
amador-profissional em que todo o mundo se converte em ‘artista’.
Parangolés, Hélio Oiticica

Arte e Interatividade: a abertura de terceiro grau

Cybernetic Serendipity, Max Bense e Jasia Reichardt (1968)

Quanto a abertura de terceiro grau alguns críticos afirmam que "essa forma de expressão não
proporciona mais que uma sucessão de atos", mas a possibilidade de criação ampla com
interesse na exploração estética e não na obra acabada, não é o ápice da interatividade,
mutabilidade e intervisualidade de um objeto?
A materialidade da obra neste novo modo garante maior acesso e reprodutibilidade sem limites,
chamadas como artes da comunicação, produzem diferentes atuações de experimentação e
oferta possibilidades inéditas para recepção, situação que mais uma vez questiona as noções
de artista-autor

Segundo Plaza "uma obra de arte interativa é um espaço latente e suscetível a todos os
prolongamentos sonoros, visuais e textuais as transformações podem ocorrer de maneira
programada ou a depender de uma resposta do espectador, a interatividade não é então uma
comodidade funcional mas age como prática de transformação. Agora a fluidez entre o autor e
o co-autor demonstra a estrutura de transformação coletiva que traz liberdade e evidencia
aquilo que temos em comum ou não.

“A questão autoral é vista por Couchot da seguinte forma: num processo dialógico ou de troca
interativa, o estatuto da obra, do autor e do espaçador sofrem fortes alterações. Na metáfora
geométrica ou no triângulo delimitado pela obra, o autor e o espectador vêem a sua geometria
questionada, pois esse triângulo pode se tornar um círculo onde os três elementos não ocupam
posições definidas e estanques, mas trocam constantemente essas posições,cruzam-se,
opõem-se e se contaminam.”

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