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Aula 3 – Obrigações

1) MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES PARTE 1


a) DO ATO ILÍCITO CIVIL TRATADO PELO ART. 186 DO CÓDIGO CIVIL

A responsabilidade civil, no Código Civil de 2002, está estribada em dois conceitos estruturais,
tratados em sua Parte Geral, quais sejam o ato ilícito (art. 186) e o abuso de direito (art. 187).
ambas as categorias têm incidência não somente na responsabilidade contratual, mas também
na extracontratual.

Art. 186 do Código Civil de 2002

“Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”

O significado de dano pode ser especificado em três distintas noções:

a) um evento lesivo, ou seja, um resultado material ou jurídico no qual se concretiza a lesão


para um interesse juridicamente apreciável;

b) um efeito econômico negativo, isto é, um sofrimento patrimonial que o evento lesivo


determina a cargo dos credores;

c) uma liquidação pecuniária do efeito econômico negativo.

Somente haverá direito à indenização e o correspondente dever de reparar, se esse elemento


objetivo estiver presente. Em síntese ainda maior, sem a presença do dano, não há que
reconhecer a responsabilidade civil da parte.

Há responsabilidade civil sem dano?

Não se pode negar a existência de forte corrente doutrinária que prega a existência da
responsabilidade civil sem dano.

Demonstrando essa tendência e esse debate, em 2014 inaugurou-se em sede de Superior


Tribunal de Justiça posição que entende existir responsabilidade civil na situação concreta em
que o consumidor encontra um corpo estranho em um produto, mas não o consome, caso de
um inseto ou outro animal. Até então, considerava-se que o dever de indenizar do fabricante
somente estaria presente nos casos de consumo do produto.

A responsabilidade civil seria derivada não de um dano em si, mas de um perigo de dano. Em
outras palavras, estar-se-ia admitindo a responsabilidade sem dano, ou, segundo os italianos, a
responsabilidade sem dano-consequência.

Em 2021, a temática foi pacificada na Corte, no âmbito da sua Segunda Seção, julgando-se
que:
b) DO ABUSO DE DIREITO PREVISTO NO ART. 187 DO CÓDIGO CIVIL

O art. 187 do atual Código Civil brasileiro dispõe que “Também comete ato ilícito o titular de
um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”.

Trata-se de consagração do abuso de direito ou abuso do direito como ato ilícito equiparado.

“Abusa, pois, de seu direito o titular que dele se utiliza levando um malefício a outrem,
inspirado na intenção de fazer mal, em proveito próprio. O fundamento ético da teoria pode,
pois, assentar-se em que a lei não deve permitir que alguém se sirva de seu direito

O ato ilícito é uma ação ou omissão voluntária, ou que implique negligência ou imprudência,
cujo resultado acarrete violação de direito ou que ocasione prejuízo a outrem. Finalmente, o
abuso de direito consiste em um ato jurídico de objeto lícito, mas cujo exercício, levado a
efeito sem a devida regularidade, acarreta um resultado que se considera ilícito”.

O abuso de direito está amparado em cláusulas gerais, conceitos abertos e indeterminados


que devem ser preenchidos pelo aplicador caso a caso.

Ex. Abuso de direito e imprensa. O abuso do direito de informar

“Direito Civil. Indenização por danos morais. Publicação em jornal. Reprodução de cognome
relatado em boletim de ocorrências. Liberdade de imprensa. Violação do direito ao segredo da
vida privada. Abuso de direito. A simples reprodução, por empresa jornalística, de informações
constantes na denúncia feita pelo Ministério Público ou no boletim policial de ocorrência
consiste em exercício do direito de informar. Na espécie, contudo, a empresa jornalística, ao
reproduzir na manchete do jornal o cognome – ‘apelido’ – do autor, com manifesto proveito
econômico, feriu o direito dele ao segredo da vida privada, e atuou com abuso de direito,
motivo pelo qual deve reparar os consequentes danos morais” (STJ, REsp 613.374/MG, 3.ª
Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 17.05.2005, DJ 12.09.2005, p. 321).

2) PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL


A) AÇÃO OU OMISSÃO: INFRAÇÃO A UM DEVER

Para Silvio Rodrigues, a ação ou omissão do agente, que dá origem à indenização, geralmente
decorre da infração de um dever, que pode ser legal (disparo de arma em local proibido),
contratual (venda de mercadoria defeituosa, no prazo da garantia) e social (com abuso de
direito: denunciação caluniosa).

Para que se configure a responsabilidade por omissão é necessário que exista o dever jurídico
de praticar determinado fato (de não se omitir) e que se demonstre que, com a sua prática, o
dano poderia ter sido evitado. O dever jurídico de agir (de não se omitir) pode ser imposto por
lei (dever de prestar socorro às vítimas de acidente imposto a todo condutor de veículo pelo
art. 176, I, do Código de Trânsito Brasileiro) ou resultar de convenção (dever de guarda, de
vigilância, de custódia) e até da criação de alguma situação especial de perigo.
b) DANO

O dano injusto é a ofensa ao patrimônio jurídico do indivíduo, sendo dividido entre dano
patrimonial (material) e extrapatrimonial (moral), sendo eles indenizados de formas
diferentes.

c) CULPA

Para que haja obrigação de indenizar, não basta que o autor do fato danoso tenha procedido
ilicitamente, violando um direito (subjetivo) de outrem ou infringindo uma norma jurídica
tuteladora de interesses particulares. A obrigação de indenizar não existe, em regra, só porque
o agente causador do dano procedeu objetivamente mal. É essencial que ele tenha agido com
culpa: por ação ou omissão voluntária, por negligência ou imprudência, como expressamente
se exige no art. 186 do Código Civil.

Se a atuação desastrosa do agente é deliberadamente procurada, voluntariamente alcançada,


diz-se que houve culpa lato sensu (dolo). Se, entretanto, o prejuízo da vítima é decorrência de
comportamento negligente e imprudente do autor do dano, diz-se que houve culpa stricto
sensu.

Em qualquer de suas modalidades, entretanto, a culpa implica a violação de um dever de


diligência, ou, em outras palavras, a violação do dever de previsão de certos fatos ilícitos e de
adoção das medidas capazes de evitá-los.

Elementos da Culpa:

- O dever de cuidado

O ponto de partida da culpa é a violação de uma norma de conduta por falta de cuidado; geral,
quando contida na lei; particular, quando consignada no contrato, mas sempre por falta de
cautela.

Jamais poderá ser exigido do agente um cuidado tão extremo que não seria aquele
usualmente adotada pela pessoa comum.

- Previsão e previsibilidade

Só se pode cogitar de culpa quando o evento é previsível. Se, ao contrário, é imprevisível, não
há cogitar de culpa.

Embora involuntário, o resultado poderá ser previsto pelo agente. Não o sendo, terá de, pelo
menos, ser previsível. Esse o limite mínimo da culpa – a previsibilidade, entendendo-se como
tal a possibilidade de previsão. Embora não previsto, não antevisto, não representado
mentalmente, o resultado poderia ter sido previsto e, consequentemente, evitado.

Não havendo previsibilidade, estaremos fora dos limites da culpa, já no terreno do caso
fortuito ou da força maior. Ninguém pode responder por fato imprevisível porque, na
realidade, não lhe deu causa.

- Imprudência, negligência e imperícia


A culpa stricto sensu ou aquiliana abrange a imprudência, a negligência e a imperícia.

Imprudência é a precipitação ou o ato de proceder sem cautela. É conduta positiva,


consistente em uma ação da qual o agente deveria abster-se, ou em uma conduta precipitada.

Negligência é a inobservância de normas que nos ordenam agir com atenção, capacidade,
solicitude e discernimento. Consiste em uma conduta omissiva: não tomar as precauções
necessárias, exigidas pela natureza da obrigação e pelas circunstâncias, ao praticar uma ação.
Por exemplo, a pessoa que faz uma queimada e se afasta do campo sem verificar se o fogo
está completamente apagado.

E imperícia é falta de habilidade ou inaptidão para praticar certo ato. Não há responsabilidade
sem culpa, exceto disposição legal expressa, caso em que se terá responsabilidade objetiva. É a
incapacidade técnica para o exercício de uma determinada função, profissão ou arte. Por
exemplo, um médico que desconhece que determinado medicamento pode produzir reações
alérgicas, não obstante essa eventualidade estar cientificamente comprovada.

d) NEXO DE CAUSALIDADE

O dano só pode gerar responsabilidade quando for possível estabelecer um nexo causal entre
ele e o seu autor.

Assim, por exemplo, se o raio provocou o incêndio que matou os passageiros transportados
pelo ônibus, considera-se excluída a relação de causalidade, e o ato do agente (no caso, o
transportador) não pode ser tido como causa do evento. Ou se alguém, desejando suicidar-se,
atira-se sob as rodas de um veículo, seu motorista, que o dirigia de forma normal e prudente,
não pode ser considerado o causador do atropelamento. Foi ele mero instrumento da vontade
da vítima, esta sim a única culpada pela ocorrência.

3) OBRIGAÇÕES PECUNIÁRIAS

Obrigação pecuniária é obrigação de entregar dinheiro, ou seja, de solver dívida em dinheiro.


É, portanto, espécie particular de obrigação de dar. Tem por objeto uma prestação em
dinheiro e não uma coisa.

Preceitua o art. 315 do Código Civil que “as dívidas em dinheiro deverão ser pagas no
vencimento, em moeda corrente e pelo valor nominal, salvo o disposto nos artigos
subsequentes”, que preveem a possibilidade de corrigi-lo monetariamente.

O Código Civil adotou, assim, o princípio do nominalismo, pelo qual se considera como valor
da moeda o valor nominal que lhe atribui o Estado, no ato da emissão ou cunhagem. De
acordo com o referido princípio, o devedor de uma quantia em dinheiro libera-se entregando a
quantidade de moeda mencionada no contrato ou título da dívida, e em curso no lugar do
pagamento, ainda que desvalorizada pela inflação, ou seja, mesmo que a referida quantidade
não seja suficiente para a compra dos mesmos bens que podiam ser adquiridos, quando
contraída a obrigação.

Uma das formas de combater os efeitos maléficos decorrentes da desvalorização monetária é


a adoção da cláusula de escala móvel, pela qual o valor da prestação deve variar segundo os
índices de custo de vida. Foi por essa razão que surgiram, no Brasil, os diversos índices de
correção monetária, que podiam ser aplicados sem limite temporal, até a edição da Medida
Provisória n. 1.106, de 29 de agosto de 1995 (posteriormente convertida na Lei n. 10.192, de
14-2-2001), que, pretendendo desindexar a economia, declarou “nula de pleno direito
qualquer estipulação de reajuste ou correção monetária de periodicidade inferior a um ano”
(art. 2º, § 1º).

Distingue-se a dívida em dinheiro da dívida de valor. Na primeira, o objeto da prestação é o


próprio dinheiro, como ocorre no contrato de mútuo, em que o tomador do empréstimo
obriga-se a devolver, dentro de determinado prazo, a importância levantada. Quando, no
entanto, o dinheiro não constitui objeto da prestação, mas apenas representa seu valor, diz-se
que a dívida é de valor.

A obrigação de indenizar, decorrente da prática de um ato ilícito, por exemplo, constitui dívida
de valor, porque seu montante deve corresponder ao do bem lesado. Outros exemplos dessa
espécie de dívida podem ser mencionados, como a decorrente da desapropriação (o montante
da indenização corresponde ao valor da coisa desapropriada) e a resultante da obrigação
alimentar (cujo valor representa a medida da necessidade do alimentando).

A obrigação de solver dívida em dinheiro abrange também, além das dívidas pecuniárias (que
têm por objeto uma prestação em dinheiro) e das dívidas de valor, as dívidas remuneratórias,
representadas pelas prestações de juros.

Os juros constituem, com efeito, remuneração pelo uso de capital alheio, que se expressa pelo
pagamento, ao dono do capital, de quantia proporcional ao seu valor e ao tempo de sua
utilização. Pressupõe, portanto, a existência de uma dívida de capital, consistente em dinheiro
ou outra coisa fungível. Daí a sua natureza acessória99.

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