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Degen ati! RAAEYYYE2 De quem é essa est6ria?» Eon Hi cerca de 29 anos srs QAO BSIOREBE nevaram a sentir um cabec certo’ lum peso de papel para nim. Filmes dialégicos em seu formato interno, justapondo as vozes te comegaram a abris mais do autor e da personager, podem ser igual- seus trabalhos para as vozes de seus objetos mente diabdlicos na sia aparéncia externa, rativos. A época, observou-se ut tomando-se uma coisa completamente diferen: em favor das construgdes dialégicas ¢ te para cada um deles. Tenho um cartio postal polifdnicas na etnografi. Mais recentemente, fotogrfico da década ce 30 que mostra um alguns observadores tém argumentado que Maasai com uma langa ¢m uma das méos, um ‘nesses trabalhos as vozes nativas permanecem —cajado de pastor na outa ¢ uma lata de leite tio subjugadas quanto antes, encampadas —_condensado Nestlé enfiada no Jobulo de uma de forma pouco honrosa pelo que cons- das orelhas. ssa fotografia (foto 1) e suas titui, enfim, nossos projetos. Isso tem conotagdes podem ser Idas em diferentes ni dado lugar a uma nova rodada de eis, desde o da piada ofginal (um “selvagem’ autocriticas que resultam, algumas vezes, cometendo um erro em relacio a um objeto em dividas fundamentais sobre a possi- familiar para nds) até 9 que hoje sabemos bilidade de descrigao cultural; outras sobre o impacto das formulas infantis da Nestlé veres, tem dado origem a um sentimento no Terceiro Mundo. Mis 0 que vejo nesse de culpa paralisante ¢, em alguas mo- momento € a apropriagio de um produto ‘mentos, 20 proselitismo, cultural para uso do outro. Essa imagem € paradoxal e surreal, como éncia pode também conduzir a uma@@@i) chuva2 (CAAA cisidamente con- eestor rn sentam un puredoxo seria 2 EGG) ere gem, como 0 trocacilho visual bem canhecido do pato que € também coelho. Na verdade, as Max Ernst, ou fas essa consci- uma uma funerfria sada como = ada- Cadernos de Antropologia Imagem, Rio de Janeiro, 5(2): 93-105, 1997 "Ee aig fo publica ginal m0 live Vsuabng Toor: Select sah fom VAR, 19901994, edad or Lucien Tayo, ew Yar Rouge, 199, tas Hes 1832, earl 6 provcatvaente Sei om si presenta de Suse © isi eps sb 0 slsarce de um arate de vag, ‘ampuadi pela “ate sui” sia lacs ope, nese a9, 2 Que Sint de atin, _3| 20 Aime lito como Tse Henan A300. pode se dizer que esses filmes existem como dois objetos culturais completamente separa- dos, cada um deles se apropriando de cenas caracteristicas do outro. A Antropologia, na sua travessia por reali- dades culturas distintas, esté sempre 3 beira do surreal, mas tenta neutralizar 0 que ‘Malinowski denominou ‘coeficiente de estranhe- 22" por meio dos principios da traducio cultural (Cifford, 1986.51). A lio do surelismo € que a experincia do paradoxo € significatva em si mesma e deve ser entendlca 2 fim de ‘gerar novas perspectvas. Se esses filmes tém um valor especial, seja anfropologicamente ou em um sentido mais amplo, & porque nos capacitam de alguma forma a confrontar a in- tersegio dos mundos que descrevem, Fsses mundos exercem por vezes forgas gravitacionais contraditérias © perturbadoras sobre 0 material etnogrifieo que criamos. As GiegpaRART ENOTES) alver ais do que as descrigdes eseritas, parecem predispostos a distoredes dessa natureza, por causa da cont ‘nuidade que mantém com a vida fisica e sen- sorial de seus referents. Fsses vinculos com uma outra existéncia, ao mesmo tempo sub- versivos © em conflto com as intengdes do realizador, frequentemente também seus cim- plices, podem se transformar na forca ou na morte de muit Utilizare- ‘mos um sendo re clamado € reivindicado pelas vides que 0 ‘peraram, ra 05 Em outubro de 1978, lmamos em um posto aborigene no norte da Austria, onde um Pequeno pruso de pessoas tentava se reassentar nas terra tradicionais de seu cl Seus planos dependiam de uma poucas jardas de paso, abondonadas desde a época dos missionérios, ue seriam vansformadas em um recurso eco- ‘némico a0 reunir 0 gado selvagem que vagava nas redonderas, Fica clara a precariedade das estratégias de sobrevivéncia desses pequenos grupos abori- genes, tanto em termos culturais quanto eco- rnémicos. No povoado que esse grupo abando- nara, 50 quilbmettas a0 nore, os 800 babitan- tes falavam sete linguas aborigenes diferentes. Alguns clés contavam apenas com um punha- do de pessoes, ¢ seu futuro como grupos au- ‘nomos depencia da forca e das ambigbes de uns poucos membros ativos da famti. Viviam 16 cerca de trita pessoas, muitas eles jovens e sem experiéncia de lidar com sgado. Bram guiados por um velho aborigene que fora condutor e criador de gado por toda 4 vida, Hes mio eram mais fsicamente higids, € 0 que ficou claro desde logo foi que @ maior parte do trabalho no posto estava, na verdade, sendo feita pelo filho de seu sobrinho, um garoto de treze anos chamado Ian Pootchemunka, Tan trabalhava duro, era um ‘exemplo para 0$ outros, viz-se como suces- sor do velho. Como em grande parte da vida abotigene, as perspectivas do grupo pareciam

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