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Nº 359 Julho de 2019 Órgão Oficial do Corecon-RJ e Sindecon-RJ

Nova recessão?
Adhemar Mineiro, Plínio de Arruda Sampaio Jr., Antonio Lacerda e Maria Lucia Fattorelli discutem
a reversão da expectativa de recuperação econômica em 2019 e a possibilidade de o Brasil voltar a entrar
em recessão. Eduardo Bastian analisa a crise argentina e suas diferenças em relação à brasileira.

Fórum verifica se o Rio respeita a vinculação orçamentária da Manutenção e Desenvolvimento do Ensino


2 Editorial Sumário

Nova recessão? Nova recessão?................................................................................. 3


Adhemar S. Mineiro
Após a acentuada recessão em 2015-2016 e a tímida retomada em 2017- Os números recentes do PIB e a continuidade da
2018, a expectativa era de uma recuperação consistente da economia em política contracionista
2019. Não é isso que indicam os resultados deste ano, que não excluem a pos-
sibilidade de uma volta à recessão e o agravamento do já nefasto quadro social. Nova recessão?................................................................................. 5
Adhemar Mineiro, da UFRRJ, constata que o que está se colhendo é exa- Plínio de Arruda Sampaio Jr.
tamente o objetivo esperado da política fiscal contracionista vigente há quatro O espectro da estagnação estrutural
anos e meio: contração econômica. O tripé que ancorava a política econômi-
ca desde 1999 foi substituído na prática pela política contracionista, que não
Nova recessão?................................................................................. 7
só fracassou em produzir superávit primário como tem ampliado o déficit.
Plínio de Arruda Sampaio Jr., do IE/Unicamp, avalia que a estagnação Antonio Corrêa de Lacerda
no primeiro trimestre jogou uma pá de cal na narrativa da recuperação da Alternativas para a crise brasileira
economia. O suposto “choque de confiança” provocado pelas reformas libe-
rais, como a Previdência, não vai levar à recuperação do crescimento e em- Nova recessão?................................................................................. 9
prego. A correlação entre liberalismo e crescimento econômico é negativa. O Maria Lucia Fattorelli
primeiro passo é romper o bloqueio mental que naturaliza o neoliberalismo. Por que o Brasil não consegue retomar o cresci-
Antonio Lacerda, da FEA-PUCSP, propõe a redução da Selic, tendo em
mento econômico?
vista a anemia da demanda, capacidade ociosa e ausência de grandes cho-
ques de oferta. Insistir no discurso autofágico dos cortes de gastos, princi-
palmente de investimentos públicos, que já se estão no menor nível histó- Nova recessão?............................................................................... 11
rico, não contribui para reverter o quadro adverso. É preciso realizar uma Eduardo F. Bastian
ampla reforma tributária. Governo Macri e o ocaso do neoliberalismo retrô
Maria Lucia Fattorelli, da Auditoria Cidadã da Dívida, conclui que, pa-
ra voltar a crescer, o Brasil precisa reformar a política monetária suicida do Fórum Popular do Orçamento ........................................................ 13
BC, que é a responsável pela crise, impedir a aprovação da emenda da Previ- Educação não se vende, se defende
dência e revogar o teto de gastos e a reforma trabalhista.
Eduardo Bastian, do IE-UFRJ, explica a crise argentina e o colapso da
estratégia econômica de Macri. O problema segue sendo a restrição externa. Rede Pró-Rio articula esforços da academia,
A explosão de endividamento de 2016-2017 – somada à saída de capitais gestores públicos e sociedade civil ............................... 16
em 2018 – só não levou o país ao default em função do suporte do FMI. O
Brasil corre poucos riscos de repetir a crise argentina, porque tem uma vul- Balanço Patrimonial
nerabilidade externa muito menor.
O artigo do Fórum verifica se o município e estado do Rio respeitaram a
vinculação orçamentária da Manutenção e Desenvolvimento do Ensino, es- O Corecon-RJ apóia e divulga o programa Faixa Livre, apresentado por Paulo Passa-
tabelecida pela Constituição em 25%, e mede a sua eficácia na comparação rinho, às segundas de 9h às 10h e de terça a sexta de 8h às 10h, na Rádio Bandei-
com indicadores de qualidade da educação. rantes, AM, do Rio, 1360 kHz ou na internet: www.aepet.org.br.

Órgão Oficial do CORECON - RJ Conselheiros Efetivos: 1º TERÇO: (2017-2019) Arthur Camara Cardozo, João Manoel Gon-
E SINDECON - RJ çalves Barbosa, Regina Lúcia Gadioli dos Santos - 2º TERÇO: (2018-2020) Antônio dos Santos
Issn 1519-7387 Magalhães, Flávia Vinhaes Santos, Jorge de Oliveira Camargo - 3º TERÇO: (2019-2021) Carlos
Henrique Tibiriçá Miranda, Thiago Leone Mitidieri, José Antônio Lutterbach Soares. Conselheiros
Conselho Editorial: Sidney Pascoutto da Rocha, João Manoel Gonçalves Barbosa, Carlos Henrique Suplentes: 1º TERÇO: (2017-2019) Andréa Bastos da Silva Guimarães, Gisele Mello Senra Rodri-
Tibiriçá Miranda, Marcelo Pereira Fernandes, Gisele Rodrigues, Wellington Leonardo da Silva, Pau- gues, Marcelo Pereira Fernandes - 2º TERÇO: (2018-2020) André Luiz Rodrigues Osório, Gilberto
lo Passarinho, Sergio Carvalho C. da Motta, José Ricardo de Moraes Lopes e Gilberto Caputo San- Caputo Santos, Miguel Antônio Pinho Bruno - 3º TERÇO: (2019-2021) José Ricardo de Moraes
tos. Jornalista Responsável: Marcelo Cajueiro. Edição: Diagrama Comunicações Ltda-ME (CNPJ: Lopes, Clician do Couto Oliveira.
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Nova recessão? 3

Os números recentes do PIB e a


continuidade da política contracionista
Adhemar S. Mineiro* econômica adotada de forma com- e déficit, além de inexistirem me-
binada entre o Ministério da Fazen- tas de inflação, orientações adotadas

N o último dia 30 de maio o


IBGE divulgou os números
do PIB para o primeiro trimestre
da (atual Ministério da Economia) e
o Banco Central, e que agora já vai
quase para quatro anos e meio de
progressivamente apenas quando da
crise de balanço de pagamentos que
resultou no acordo com o FMI em
de 2019. Um resultado trimestral implementação, vem obtendo o que outubro de 1998 e na desvaloriza-
negativo, um recuo de 0,2% para se propõe a obter: a contração da ção do real em janeiro de 1999, a
o conjunto da economia brasilei- economia. Mudaram governos (se partir do segundo mandato). Va-
ra, desalentando mais uma vez os está longe aqui de dizer que os go- le lembrar um passado que hoje já
analistas que vinham apontando vernos de Dilma Rousseff, Michel vai ficando distante, em que qual-
uma possível retomada da econo- Temer e Jair Bolsonaro são a mesma quer proposta de flexibilizar a po-
mia com a manutenção da política coisa), mas não mudou a essência da lítica econômica organizada pelo
fiscal contracionista e a profissão política econômica, apenas a com- chamado “tripé macroeconômico”
de fé liberal por parte da equipe binação dos instrumentos, uma ho- era vista quase como um anátema.
econômica do Governo Bolsonaro ra juros mais altos, outra hora mais De fato rompemos com essa política
e sua orientação de mais reformas corte de gastos, ao longo desse pe- desde 2015 mas nenhum dos ana-
liberais no Congresso, a come- ríodo. Como é de se esperar nesses listas que antes se mostravam abso-
çar pela reforma previdenciária, e casos, a política adotada também lutamente rígidos na sua defesa vie- projeções, que já iam, com um mês
o eventual avanço do que agora o não serviu para ajustar as contas pú- ram vigorosamente a público para corrido no ano, sendo rebaixadas
governo chama de “programa de blicas, uma vez que em quadros de fazer qualquer crítica, em especial para 2%, com uma trajetória prová-
desinvestimentos”, uma recicla- queda da atividade econômica, aos desde a gestão Meirelles no Minis- vel parecida com a de 2018, agora
gem de rótulo para o conhecido cortes de gasto corresponde redução tério da Fazenda (Governo Temer). caem para menos de 1%, com re-
programa de privatizações. da atividade econômica, que tem Assim, o tripé que ancorava a políti- cuos sequenciais até se aproxima-
Mais o que se deveria de fato es- como consequência queda na arre- ca econômica desde 1999, e que su- rem novamente da estagnação da
tar sendo perguntado é: afinal, por cadação. Assim, a política contra- cedeu a chamada “âncora cambial” qual não conseguimos sair depois da
que o desalento? De fato, o que está cionista do ponto de vista da produ- foi substituído na prática pela políti- aguda recessão iniciada com a crise
se colhendo nesse momento é exata- ção também contraiu a arrecadação ca contracionista, onde a contração política, e é provável que os meses
mente o objetivo esperado de uma e resultou em déficit público, o que da atividade produtiva está longe de que vão se seguir mostrem outras re-
política fiscal contracionista: con- é lido pelos gestores da política ado- resultar em superávit primário (ao calibragens de avaliações para baixo.
tração econômica. Aliás, se tivés- tada como uma necessidade de mais contrário, tem ampliado o déficit). Para além da informação agre-
semos observado alguma mudança ajuste nas contas públicas e, portan- Assim, depois das quedas do gada, vale a pena dar uma olhada
no cerne da política econômica, po- to, mais contração da economia e PIB de 3,5% em 2015 e 3,3% em nos dados desagregados que apa-
deríamos estar discutindo sobre re- mais necessidade de ajuste. 2016, e da estagnação que repetiu recem nas informações das contas
sultados inesperados. Não foi o que De fato, e já não se fala mais nis- dois resultados de 1,1% em 2017 e nacionais do IBGE.
aconteceu. Aliás, não é o que acon- so, a adoção da politica contracio- 2018, agora em 2019 tivemos um Os dados para o primeiro trimes-
tece desde 2015, quando se iniciou nista, ao gerar e cristalizar o déficit resultado no primeiro trimestre um tre de 2019 são significativamente
uma política contracionista clássi- público elevado, desfez na prática o resultado de -0,2%, o que não ape- piores do que os apresentados para
ca, com juros altos e cortes de gastos chamado “tripé macroeconômico” nas jogou por terra as previsões oti- o primeiro trimestre do ano passa-
ainda no início do segundo manda- (lembrando: câmbio flutuante, ju- mistas, como aponta um ano pro- do nos dados desagregados mais re-
to da Presidente Dilma, com o en- ros orientados pela política de me- vavelmente pior do que o ambiente levantes. Em especial o consumo das
tão Ministro da Fazenda Joaquim tas de inflação e superávit primário), da estagnação dos dois anos anterio- famílias e a formação bruta de capi-
Levy. Essa política resultou ao lon- que era a política adotada desde o res. As previsões das instituições fi- tal fixo (investimento), dados essen-
go dos anos, desde então, em reces- segundo mandato do Presidente nanceiras para 2019 começam a ser ciais quando se está pensando em
são e estagnação (dependendo do Fernando Henrique (no primeiro recalibradas, e dos valores próximos crescimento, caíram a menos da me-
período), mostrando que a política mandato, havia câmbio controlado a 2,5% do final do ano passado, as tade dos valores de um ano atrás. A

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4 Nova recessão?

governo central). Assim, a princi-


pal variável autônoma com a qual a
política econômica poderia buscar
ativar a economia fica emparedada.
Por fim, teríamos o investimen-
to, uma variável também autôno-
ma, mas que depende menos da
vontade política dos gestores do go-
verno, e mais das decisões das em-
presas. Bem, o investimento empre-
sarial é função de suas expectativas
quanto ao desempenho futuro de
seus mercados, das suas avaliações
sobre seus ganhos futuros, da preo-
cupação com a ocupação dos mer-
cados por eventuais competidores, e
uma função inversa do nível de ca-
pacidade ociosa, que parece estar em
níveis altos, como apontam inclusi-
ve as atas do Copom (Comitê de Po-
lítica Monetária do Banco Central),
que discutem a definição dos níveis
da taxa básica de juros. Em um qua-
perda de qualquer dinamismo (não baixo em três anos, e onde o co- tos vindos da União Europeia. dro em que as avaliações vão de no-
estamos falando de uma situação mércio e o investimento teriam ti- Do ponto de vista do consumo vo convergindo para a estagnação, e
anterior de crescimento vigoroso, do um desempenho abaixo do es- das famílias, a situação também com forte restrição ao financiamen-
mas de uma situação que já era de perado no início do ano. Ou seja, não vem evoluindo positivamen- to dos investimentos (pela desidra-
estagnação) fica absolutamente cla- a situação internacional está abaixo te. Os dados da Pnad Contínua tação do BNDES), por que os em-
ra. Mudou o governo, a orientação do que se imaginava no início do divulgados pelo IBGE no período presários investiriam?
da política econômica foi radicaliza- ano, o que só piora as perspectivas mais recente mostram a estagna- Assim, os componentes da de-
da (em seu sentido contracionista) e para o setor externo brasileiro. ção da renda (o rendimento médio manda agregada não apontam
se conseguiu aparentemente o efeito É importante agregar aqui ain- trimestral caiu ligeiramente nos perspectivas particularmente oti-
desejado dessa política, aprofundar a da dois elementos importantes pa- últimos dois trimestres medidos, mistas para 2019, e mesmo as
contração econômica. ra a avaliação do setor externo entre dezembro / 2018-janeiro/ projeções de crescimento anual da
Vamos tentar observar agora brasileiro. A primeira é a crise ar- 2019-fevereiro/2019 e fevereiro / pesquisa Focus do Banco Central
mais detalhadamente os compo- gentina, onde a recessão só se apro- 2019-março / 2019-abril / 2019) e (que, já na divulgação do primei-
nentes da demanda agregada, ini- funda, atingindo um de nossos a manutenção do alto desemprego ro dia útil de junho, apontava pa-
ciando pelo setor externo. A apos- principais parceiros comerciais. O (a taxa de desocupação oscila entre ra 1,1%, mesma taxa dos anos de
ta na demanda externa (isto é, um outro, ainda por vir, mas que vem os valores de 12,4% e 12,7% no 2017 e 2018) soam a esta altura
crescimento grande do saldo co- sendo fortemente defendido pe- mesmo período). como excesso de otimismo face ao
mercial com o exterior via cres- lo atual governo brasileiro, é o fe- Restariam então as duas variá- agravamento da situação interna e
cimento das exportações) se con- chamento de um acordo comercial veis mais autônomas, o gasto pú- do quadro internacional.
frontou com o que já se sabia entre e Mercosul e a União Euro- blico e o investimento. Para o se-
desde o início da crise financeira peia. Se de fato este acordo for fe- tor público, as palavras-chave são * É economista e doutorando do PPGC-
internacional em 2008. O comér- chado, terá um forte impacto ne- ajuste fiscal, redução do papel do TIA/Universidade Federal Rural do Rio
cio internacional recuou, e o Ban- gativo sobre a economia do Brasil, Estado e manutenção da emenda de Janeiro.
co Mundial, em documento sobre ao menos no curto prazo (e prova- de teto de gastos (Emenda Cons-
o cenário internacional divulgado velmente não apenas nele), já que o titucional 95) e da Lei de Respon- 1 The Global Economy: Heightened Ten-
sions, Subdued Growth, em http://www.
em 4 de junho deste ano1, fala em país vai ser atingido no curto prazo sabilidade Fiscal (embora já nes- worldbank.org/en/news/immersive-
uma economia global que teria de- por uma avalanche de importações se começo de governo, os Estados -story/2019/06/04/the-global-economy-
sacelerado para o seu ritmo mais dos mais variados tipos de produ- estejam de pires na mão junto ao -heightened-tensions-subdued-growth)

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O espectro da estagnação estrutural


Plínio de Arruda Sampaio Jr.* lizar a economia, só reforçaram a de de medidas anticíclicas como
tendência estrutural à estagnação. impõem a necessidade de cortes

A estagnação da produção no
primeiro trimestre de 2019
jogou uma pá de cal na narrativa
A letargia econômica e o enci-
lhamento financeiro do setor pú-
blico são condicionados pelo agra-
substanciais nas despesas reais da
administração pública.
Sem ter como estimular a re-
de que, após a severa contração re- vamento da crise de valorização do cuperação do mercado interno, o
gistrada em 2015 e 2016, a eco- capital que abala a vida nacional – dinamismo da economia fica in-
nomia brasileira estaria a caminho a mais profunda e longa da histó- teiramente dependente das ex-
de uma recuperação. O aumento ria moderna do país. Após retração portações. No entanto, o cená-
de 1,2 milhão no contingente de de 8% do PIB em 2015 e 2016, a rio externo não é nada favorável.
trabalhadores marginalizados do economia encontra-se deprimida O baixo crescimento da economia
mercado de trabalho em apenas no mesmo patamar de 2010. No mundial; o risco de elevação dos
seis meses, que elevou para 28,4 ritmo da tão comemorada “recu- juros dos Estados Unidos; o acir-
milhões a quantidade de pessoas peração” dos últimos dois anos, o ramento do conflito comercial en-
sem ocupação regular, acendeu o Brasil precisaria de 38 anos para tre os Estados Unidos e a China;
sinal vermelho de que o Brasil es- voltar à renda per capita de 2013. bem como a aguda crise econômi-
taria entrando em novo mergulho E, ainda assim, o oceano de pesso- ca argentina não deixam margem
recessivo. Os efeitos devastadores as desempregadas, desalentadas e para uma expansão vigorosa do
da crise econômica sobre as finan- subutilizadas – que aumentou em comércio internacional.
ças do Estado, num contexto em 2,6 milhões desde 2017 – conti- A perspectiva histórica refor-
que a dívida pública cresce como nuaria crescendo ano a ano. ça a correlação negativa entre libe-
bola de neve pelos efeitos retroali- O horizonte de curto prazo é ralismo e crescimento econômico.
mentadores da própria dívida, co- sombrio. Embora a presença de O caso brasileiro é emblemáti-
locaram na ordem do dia a possi- ampla capacidade ociosa no par- co. Depois de quase quatro déca-
bilidade iminente de um colapso que produtivo permitiria que uma das de ajuste às exigências da or-
das políticas públicas e a inevita- política de estímulo à demanda dem global, a promessa de uma
bilidade de um acirramento dos agregada promovesse uma rápida nova era de prosperidade e pro-
conflitos sociais. expansão da produção e do em- gresso não se cumpriu. O baixís-
Desconsiderando a gravidade prego, todas as frentes de gasto simo dinamismo do padrão de
da situação econômica e social, os que poderiam revitalizar o merca- acumulação liberal-periférico fica
grandes meios de comunicação – do interno se encontram bloque- evidente quando se constata que,
atiçados pelos interesses empresa- adas. A tendência decrescente da entre 1981 e 2018, o crescimen-
riais – vêm associando a deterio- taxa de lucro, o elevado grau de to do PIB foi de apenas 2,1% ao
ração do emprego e da renda às endividamento das empresas e as ano. No mesmo período, a ren-
dificuldades para a aprovação da incertezas econômicas e políticas da per capital ficou praticamente
Reforma da Previdência. Não exis- em relação ao futuro deprimem os estagnada, aumentando só 0,7%
te nenhuma base real para imagi- investimentos em patamar abai- ao ano. É um desempenho mui-
nar que um suposto “choque de xo de 14% do PIB. Apesar da de- to inferior ao que havia ocorrido
confiança” provocado pelas refor- manda reprimida pela longa re- nos vinte e cinco anos anteriores.
mas liberais possa levar à recupe- cessão, o desemprego e o arrocho Entre 1956 e 1980, impulsiona-
ração do crescimento e do empre- salarial inibem o consumo das fa- dos pela industrialização por subs-
go. Na verdade, a história recente mílias – que regrediu em termos tituição de importações, o PIB e
indica o oposto. As últimas “refor- reais ao nível de 2013. Por fim, a renda per capita cresceram 7,5 e
mas” – o ataque à CLT e o con- o congelamento do gasto público 4,7% ao ano, respectivamente.
gelamento dos gastos públicos por por vinte anos e a Lei de Respon- Ademais, o reduzido cresci-
vinte anos –, também apresenta- sabilidade Fiscal não apenas cri- mento da era liberal veio acom-
das como panaceias para revita- minalizam qualquer possibilida- panhado de recorrentes crises re-

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6 Nova recessão?

cessivas. Nos últimos trinta e oito micos do país decorrem do exces- ção das empresas e serviços públi- ve organizar um ambicioso pro-
anos, o Brasil registrou expansão so de travas ao funcionamento do cos; e garantir a sustentabilidade grama emergencial de geração de
sustentada da renda per capita em “mercado” é mera ideologia. O ne- da especulação financeira com títu- emprego, combate à pobreza e er-
apenas quinze anos – 1993-1997 oliberalismo transformou a acumu- los públicos, subordinando o orça- radicação da desigualdade social,
e 2004-2013. Nos outros vinte e lação de capital em um fim em si. mento fiscal às exigências dos cre- articulado a uma série de medidas
três anos, a economia brasileira vi- Na lógica dos negócios das grandes dores do Estado. que permitam reorganizar a econo-
veu penosos períodos de estagna- corporações que comandam o Esta- Ao desvincular radicalmente os mia nacional, tais como: a imedia-
ção – 1981-1992, 1998-2003 e o do, tudo e todos ficam subordina- negócios do desenvolvimento na- ta revogação da reforma trabalhista,
que começou em 2014 e não tem dos aos seguintes objetivos: aumen- cional, o neoliberalismo condena da Lei de Responsabilidade Fiscal
prazo para terminar. Em contra- tar a taxa de lucro do capital pelo o Brasil à estagnação estrutural. Se e do congelamento dos gastos pú-
partida, entre 1956 e 1980, a traje- rebaixamento do nível tradicional não houver uma mudança radical blicos por vinte anos; a reversão do
tória expansiva da renda per capi- de vida dos trabalhadores; especia- no rumo da política econômica, processo de liberalização comercial
ta foi interrompida em apenas três lizar as forças produtivas nacionais não há como superar os bloqueios e financeira; a suspensão do paga-
anos – 1963 a 1965. numa posição mais degradada na que paralisam o país. O primeiro mento da dívida pública; a centrali-
A análise fria do desempenho divisão internacional do trabalho passo para uma política preocupa- zação do câmbio, a democratização
da economia brasileira revela que pelo incentivo à produção de mer- da com a geração de emprego e a do Banco Central; a nacionalização
a ideia de que os problemas econô- cadorias de baixo conteúdo tecno- melhoria do bem-estar da popu- efetiva da Petrobrás; a estatização
lógico – agronegócio e extrativismo lação é romper o bloqueio mental do sistema financeiro; a expropria-
mineral; abrir oportunidades de ne- que naturaliza o neoliberalismo. O ção da Vale do Rio Doce e de todas
gócios para o capital pela privatiza- segundo é quebrar a teia institu- as empresas envolvidas em crimes
cional que sustenta o Plano Real – ambientais e delitos de corrupção;
uma verdadeira arapuca que deixa bem como o planejamento público
a sociedade brasileira a reboque do dos investimentos. Evidentemen-
grande capital internacional e na- te, uma mudança dessa envergadu-
cional e inviabiliza qualquer ini- ra supõe uma intervenção popular
ciativa anticíclica. que mude radicalmente as bases do
Uma estratégia alternativa pa- Estado brasileiro.
ra enfrentar a crise econômica de-
* É professor aposentado do Instituto de
Economia da Universidade Estadual de
Campinas (IE/Unicamp).

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Nova recessão? 7

Alternativas para a crise brasileira


Antonio Corrêa de Lacerda* historicamente baixo para padrões anos. O nível médio atual da pro-
brasileiros. dução industrial atual é semelhan-

A queda de 0,2% no Produto


Interno Bruto (PIB) ocorri-
da no primeiro trimestre de 2019
Também chama a atenção a
ausência de políticas e medidas
que impulsionem a produção, os
te ao de dez anos atrás, quando o
Brasil começava a superar os im-
pactos dos efeitos da crise subpri-
comparativamente ao do último investimentos e o consumo. Na já me norte-americana. Vários fatores
trimestre do ano anterior confir- mencionada problemática do cré- estruturais têm impactado negati-
ma a expectativa de mais um ano dito, por exemplo, há muito a ser vamente a indústria brasileira, que
de baixa atividade. Depois da cri- feito, mas, pelo contrário, as pou- vive os efeitos da desindustrializa-
se 2014-2016, na qual, no acumu- cas medidas em curso têm sido no ção precoce. Crédito caro e escas-
lado, houve uma queda de quase sentido de contraí-lo ainda mais, so, política cambial errática e lon-
7% na atividade econômica, 2017 considerando a atrofia dos bancos go período de valorização do real,
e 2018 apresentaram crescimento públicos. mais as agruras do “custo Brasil”,
de apenas cerca de 1% ao ano. In- se encarregaram de agravar o apro-
felizmente, pelo andar da carrua- A longa crise fundamento da crise. Condições
gem, 2019, no melhor dos casos, na indústria macroeconômicas desfavoráveis
terá desempenho equivalente aos No que se refere à indústria, e políticas industriais titubeantes 2015, 2016 e os anos seguintes
dois anos anteriores. E isso vai de- por exemplo, uma visão “sen- tampouco reverteram a situação. a crise brasileira trouxe um fator
pender muito de uma reação a par- so comum” da crise questionaria O resultado foi o avanço das conjuntural que impactou forte-
tir do terceiro trimestre. por que a redução da taxa bási- importações, especialmente ad- mente a indústria brasileira. Des-
O desempenho pífio da eco- ca de juros (Selic) de 14,25% em vindas da China, substituindo a de então a “recuperação” segue
nomia nos últimos anos tem im- 2015 para 6,5%, menor nível no- produção local. As exportações de adiada, como denotam os dados já
pactado diretamente o mercado minal histórico brasileiro e já vi- industrializados, também prejudi- mencionados.
de trabalho. O desemprego atinge gente há quinze meses, não fo- cadas pelos mesmos fatores men-
13,2 milhões de pessoas, o equiva- mentou uma reação no setor. cionados, perderam espaço ou Como sair da crise?
lente a 12,5% da População Eco- Embora a taxa básica de juros seja estagnaram em um mercado in- O Governo e a equipe econô-
nomicamente Ativa (PEA), em relevante e uma condição neces- ternacional hipercompetitivo. A mica têm enfatizado seu discurso
média, considerando o trimestre sária, ela não é suficiente, por si balança comercial brasileira segue no papel da reforma da Previdên-
encerrado em abril, com base na só, para estimular a produção. Há superavitária, influenciada pelo ex- cia como fator de “confiança”, re-
Pesquisa Nacional por Amostras outros fatores relevantes a serem celente desempenho dos comple- versão das expectativas e retomada
de Domicílios (PNAD), do Insti- considerados. Uma Selic mais bai- xos agro, mineral e de carnes. Mas das atividades. Trata-se, no entan-
tuto Brasileiro de Geografia e Es- xa é importante para as decisões a questão aqui não é “ou”, mas “e”. to, de superestimar o seu efeito so-
tatística (IBGE). Em um conceito na produção e sempre lembrada O Brasil é um dos poucos países bre as expectativas, assim como na
mais amplo, considerando o total e reivindicada pelos agentes, uma que pode manter ampla pauta de ação do mercado para isso.
das pessoas desalentadas e subuti- vez que diminui o “custo de opor- produção e exportação nos setores É preciso ir muito além do que
lizadas, chega-se a um universo de tunidade” do capital. em que já mantém posição de des- medidas paliativas como a anun-
28,4 milhões de pessoas! Sendo a base de remuneração taque, sem, no entanto, fazer isso ciada intenção de liberar con-
Como cada desemprego a mais das aplicações financeiras, o inves- em detrimento da indústria e ser- tas inativas do Fundo de Garan-
é um consumidor a menos, a re- timento na produção, em tese, pas- viços sofisticados. tia por Tempo de Serviço (FGTS)
tração do consumo dos que se en- saria a ser estimulado. Porém, há Os industriais brasileiros, aque- e do Programa de Formação do
contram sem ocupação e o maior ainda um aspecto significativo do les que não atuaram em setores di- Patrimônio do Servidor Público
receio dos que permanecem em- verdadeiro “vicio brasileiro”, que é retamente ligados a commodities (Pasep). Embora possa ter algum
pregados faz com que a demanda a enorme distância entre o nível da ou setores oligopolizados, foram efeito pontual positivo sobre a de-
desabe. Além disso, o crédito con- taxa básica de juros e aquelas ofe- “empurrados”, por sobrevivência manda, representa um impacto li-
tinua muito caro, a despeito do recidas ao tomador final. ou senso de oportunidade, para a mitado e localizado, sem poder pa-
fato de que a taxa de juros bási- A crise no setor industrial bra- importação e o rentismo. ra representar uma reversão do
ca (Selic) se encontre em patamar sileiro é estrutural e persiste há Mais recentemente, entre quadro de apatia vigente.

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8 Nova recessão?

Se quiser, como é necessário, em qualquer país do mundo, mais tas, contempla 39 artigos em suas e os paraísos fiscais; tributação das
criar um ambiente mais favorá- ainda no Brasil, dadas as nossas 804 páginas1. transações financeiras; e tributação
vel ao crescimento para 2020, a desigualdades regionais e de ren- A análise destaca o caráter re- da propriedade e a riqueza); 4) re-
equipe econômica precisa diver- da. No entanto, a despeito da di- gressivo do nosso sistema tributário dução da tributação indireta; 5) res-
sificar suas estratégias e medidas, ficuldade em fazê-lo, é necessário e propõe uma ampla reforma, con- tabelecer as bases do equilíbrio fe-
uma vez que muitas delas têm enfrentar o desafio, sem subterfú- templando oito premissas: 1) a pers- derativo; 6) considerar a tributação
um tempo de maturação conside- gios e falsas soluções. pectiva do desenvolvimento; 2) for- ambiental; 7) aperfeiçoar a tributa-
rável. Há especulações no merca- Uma boa referência para dis- talecer o Estado de Bem-estar Social; ção sobre o comércio internacional;
do sobre uma possível redução da cussão de uma efetiva reforma tri- 3) promover a progressividade, am- e 8) revisão das renúncias fiscais e
taxa Selic. Tendo em vista a ane- butária pode ser encontrada na pliando a tributação direta (tribu- combate à evasão fiscal.
mia da demanda, a existência de publicação "A Reforma Tributária tação da renda das pessoas físicas e Os desafios que se apresentam
capacidade ociosa na economia e Necessária: Diagnóstico e Premis- das pessoas jurídicas; tributação in- para o futuro, portanto, envolvem
ausência de grandes choques de sas". Elaborada por 42 especialis- ternacional para combater a evasão não apenas a correção dos graves
oferta, o risco inflacionário é bai- desequilíbrios sistêmicos brasilei-
xo. Portanto, seria uma medida ros e seus impactos na indústria,
de baixo risco. mas a definição e implementação
Mas, para além disso, o Gover- de políticas de competitividade
no carece de melhorar a articula- (políticas industrial, comercial e
ção, tanto internamente, quanto de inovação) nos moldes das me-
na sua relação com os demais po- lhores práticas internacionais e lo-
deres e os agentes econômicos. Da cais. Seria equivocado apostar que
mesma forma, precisa ir além do apenas as “forças do mercado” e a
“samba de uma nota só” do dis- “fé” na abertura comercial pode-
curso da necessidade da reforma riam por si só nos recolocar no ca-
da Previdência e apresentar um minho do desenvolvimento. Não
conjunto mais abrangente de me- foi assim nas melhores experiên-
didas para acelerar a recuperação cias internacionais conhecidas.
da economia. Os pressupostos da chamada
A questão fiscal é relevante, Indústria 4.0 estão a nos exigir es-
mas é preciso lembrar que, sem tratégias ousadas, mas, igualmen-
crescimento econômico, qual- te, seria um equívoco desconsi-
quer tentativa de ajuste esbarra derar a experiência da indústria
no impacto restrito da arrecada- tradicional e resiliente no Brasil.
ção em função da fraca atividade Isso não vai se dar somente pelas
econômica. Portanto, fomentar a “forças do mercado”. Uma boa es-
atividade econômica, dado o seu tratégia pressupõe o diagnóstico
efeito multiplicador, produz im- adequado. Do contrário, avalia-
pactos positivos sobre a arrecada- ções equivocadas nos levarão, ine-
ção tributária e, portanto, sobre o xoravelmente, a falsas soluções.
quadro fiscal.
Na contramão, insistir no dis- * É professor doutor e diretor da FEA-
curso autofágico dos cortes de -PUCSP, conselheiro e atual vice-presi-
dente do Conselho Federal de Economia
gastos, principalmente de inves- (Cofecon) e coautor, entre outros livros,
timentos públicos, que já se en- de Economia Brasileira (Saraiva, 6ª. Edi-
contram no menor nível histórico, ção, 2018). Site www.aclacerda.com
não contribui para reverter o qua-
1 Publicação disponível para download
dro adverso que persiste há anos.
no site http://plataformapoliticasocial.
É preciso realizar uma ampla re- com.br/wp-content/uploads/2018/05/
forma tributária. Trata-se inega- REFORMA-TRIBUTARIA-SOLIDA-
velmente de uma matéria difícil RIA.pdf

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Nova recessão? 9

Por que o Brasil não consegue retomar


o crescimento econômico?
Maria Lucia Fattorelli* Diante disso, o que explica a fa- passamos a ter déficits primá-
lência de inúmeras empresas de to- rios (Gráfico 2):

O Brasil entrou em forte crise a


partir de 2014. Empresas de
todos os ramos quebraram; o de-
dos os ramos, o desemprego recor-
de, a queda de mais de 7% do PIB
em apenas 2 anos (2015-2016), e
4) Apesar do superávit primário de
mais de R$ 1 trilhão no período
de 1995 a 2015, a dívida inter-
semprego bateu recorde; o PIB es- queda do PIB per capita em cerca na aumentou de R$86 bilhões
tacionou em 2014, caiu mais de de 10%? Como justificar a explo- para quase R$4 trilhões no mes-
7% em 2015-2016 e segue estag- são do estoque da dívida pública mo período, e seguiu crescendo,
nado; as privatizações de patrimô- interna federal se os investimentos principalmente devido aos me-
nio público aceleraram, e o estoque estão completamente estagnados? canismos de política monetária
da dívida pública interna explodiu. Afinal, o que produziu essa cri- do Banco Central, responsáveis
Em meio a tudo isso, o lucro se, se possuímos cerca de R$ 4 tri- por déficit nominal brutal, co-
dos bancos atingiu recorde de R$ lhões líquidos em caixa? Em de- mo mostra o gráfico, e pela fa-
96 bilhões em 2015, além de provi- zembro/2018, possuíamos1: bricação da “crise” (Gráfico 3).
são exorbitante de R$ 187 bilhões. • R$ 1,27 trilhão no caixa do Te-
Em 2018 bateram novo recorde de souro Nacional; Como a política
lucros próximos a R$ 100 bilhões, • R$ 1,13 trilhão no caixa do monetária do Banco tral foi elevando o volume das Opera-
enquanto toda a economia patina. Banco Central, e Central produziu ções Compromissadas, que simples-
As medidas encaminhadas para • US$ 375 bilhões (R$ 1,453 a crise no Brasil? mente dobraram de 2013 a 2016,
contornar essa crise – EC 95/2016, trilhão) em Reservas Interna- quando atingiram R$ 1 trilhão!
Reforma Trabalhista, da Previdên- cionais! Em 2013, a taxa básica de ju- Na prática, as Operações Com-
cia, Privatizações etc. – têm agrava- Importantes fundamentos eco- ros Selic era de 7,25% ao ano, en- promissadas têm funcionado como
do ainda mais os problemas econô- nômicos passaram por brusca mu- quanto o mundo todo vinha prati- um mecanismo de remuneração
micos e sociais do Brasil. Além de dança: cando, desde 2008, taxas próximas diária da sobra de caixa dos bancos,
não enfrentarem a real causa da cri- 1) Até 2013 o PIB cresceu, em de zero ou até negativas. provocando diversos danos às con-
se, tais medidas têm aprofundado a média, quase 4% ao ano. Em Após abril/2013, o Banco Cen- tas públicas e à economia do país,
inanição da economia, ao mesmo 2014 crescemos apenas 0,5% e, tral elevou continuamente a taxa pois, ao mesmo tempo, geram:
tempo em que aumentam os privi- de repente, encolhemos quase Selic até chegar ao absurdo pata- • aumento da Dívida Pública,
légios do setor financeiro. 4% em 2015 e mais de 3% em mar de 14,25% em julho/2015, tendo em vista que o BC rece-
Neste artigo, apresento estu- 2016, estagnamos em 2017 e no qual permaneceu por mais de be a sobra de caixa dos bancos
dos sobre a principal causa da crise 2018 e novamente estamos en- um ano, até outubro/2016, quan- (cerca de R$ 1,2 trilhão atual-
brasileira, a qual decorre da polí- colhendo em 2019. do começou a reduzir lentamente, mente) e entrega títulos da dí-
tica monetária do Banco Central. 2) As contribuições sociais e previ- apesar da recessão e queda do PIB. vida pública interna como ga-
Para voltar a crescer, teremos que denciárias destinadas ao finan- Simultaneamente, o Banco Cen- rantia de remuneração;
enfrentá-la. ciamento da Seguridade Social
cobriam todos os gastos com
Gráfico 1
O que produziu a crise Previdência, Assistência e Saú-
no Brasil? de e ainda sobravam, todo ano,
Não tivemos aqui nenhum dos dezenas de bilhões de reais. Em
principais fatores que produzem 2015 a sobra caiu para cerca
crise no capitalismo. Não tivemos de R$ 13 bilhões e a partir de
quebra de bancos, que foi inclu- 2016 o orçamento fiscal preci-
sive a principal causa da crise nos sou complementar os recursos,
EUA a partir de 2007. Não sofre- como previsto no Art. 195 da
mos pestes ou adoecimento que Constituição (Gráfico 1).
impedissem a nossa população de 3) De 1995 a 2015 produzimos
trabalhar. Não tivemos quebra de mais de R$ 1 trilhão de supe-
safra, ao contrário, temos batido rávit primário, ou seja, gasta-
sucessivos recordes de safra. Tam- mos bem menos do que arreca- FONTE: ANFIP - https://www.anfip.org.br/wpcontent/uploads/2018/12/
Livros_28_11_2018_14_51_18.pdf , pág 187
bém não tivemos guerra. damos. De repente, em 2015,

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10 Nova recessão?

O economista Thomas Piketty3 para a Capitalização. No Chile,


Gráfico 2 afirmou que seria um suicídio, em foi de 136% do PIB. Aqui no
tempos de crise, o Banco Central não Brasil isso representaria quase
reduzir os juros e abrir mão de emitir R$ 10 trilhões e quebraria o país.
moeda para irrigar a economia. • Fim da arrecadação das Con-
A desculpa de que as Opera- tribuições ao INSS (de empre-
ções Compromissadas serviriam pa- gados e empregadores) devido
ra “controlar a inflação” foi desmasca- à migração para o regime de
rada em 2017, quando a inflação foi Capitalização.
quase zero e o IGP-M negativo. Con-
traditoriamente, naquele ano, o volu- Conclusão
me das Operações Compromissadas Para voltar a crescer, o Brasil
atingiu recorde de R$ 1,23 trilhão4. precisa reformar completamente
Diante dessa flagrante incon- a política monetária suicida pra-
sistência, o Banco Central en- ticada pelo Banco Central. Além
viou ao Congresso o projeto de disso, precisa impedir a aprova-
lei 9.248/2017, que visa legalizar ção da nociva PEC 6/2019, e re-
Fonte: Tesouro Nacional https://www.tesourotransparente.gov.br/historias/entenden-
do-os-graficos-resultado-primario-e-estoque-da-divida-publica-federal o “Depósito Voluntário Remune- vogar o conjunto de medidas que
rado”, de tal forma que os bancos foram aprovadas sob a justificati-
depositarão sua sobra de caixa no va de combater a crise, mas que na
Gráfico 3 Banco Central e este continuará verdade aprofundam o cenário de
remunerando diariamente. Temos escassez, a exemplo da EC 95 e a
dinheiro sobrando para isso? Reforma Trabalhista, que não ge-
rou nenhum emprego.
A PEC 6/2019
quebra o Brasil * É coordenadora nacional da Auditoria
O cenário de crise fabrica- Cidadã da Dívida (www.auditoriacidada.
org.br e www.facebook.com/auditoriaci-
da tem sido propício para medi- dada.pagina) e foi membro da Comissão
das insanas como privatizações em de Auditoria Oficial da Dívida Equatoria-
massa e desfiguração completa da na, nomeada pelo Presidente Rafael Cor-
Seguridade Social. rea (2007/2008), assessora da CPI da Dí-
Ao contrário de resolver qual- vida Pública na Câmara dos Deputados
Federais no Brasil (2009/2010) e membro
quer problema fiscal e tirar o Bra- da comissão criada pelo parlamento Helê-
Fontes: Banco Central – Séries Temporais nº 16953 e 16962; Tabela – Necessidades
sil da crise, como diz a propagan- nico para realizar a Auditoria da Dívida da
de Financiamento do Setor Público – https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/ da, a PEC 6/2019 quebra o Brasil, Grécia (2015).
Documents/Tabelas_especiais/Nfspp.xls haja vista os danos que ela provo-
ca, por exemplo: 1 Fonte: dados Op. Compromissadas no
• geração de rombo às contas riam os juros para conseguir em- Banco Central e Conta única do Tesouro
1) danos às pessoas: Nacional https://bit.ly/2ZepGfY e Reser-
públicas no valor de R$ 754 prestar para empresas e pessoas. • A “economia” que Guedes vas Internacionais https://bit.ly/2XDj5L4
bilhões em 10 anos (sem atu- Empresas não tiveram acesso quer fazer corta R$ 1 trilhão 2 Tema tratado em audiência pública no
alização), pago com recursos a crédito, que se tornou excessi- em aposentadorias, pensões e Senado Federal em 29/11/2016, confor-
públicos, conforme balanços vamente caro e raro. Quebraram, benefícios da Seguridade So- me telas de Power Point disponíveis em
do Banco Central. Se atuali- provocando desemprego recorde. (https://auditoriacidada.org.br/conteudo/
cial, atingindo principalmente palestras-da-auditoria-cidada-2016/) e ví-
zarmos, chegamos próximos O governo tentou incentivá-las os mais pobres. deo disponível em https://www.youtube.
de R$ 1 trilhão; com desonerações fiscais e provo- • Sujeição a regime de Capitali- com/watch?v=_TMogIGWxKI
• escassez de moeda na econo- cou queda de arrecadação. A aus- zação de alto risco e alto custo5. 3 PIKETTY, Thomas. É possível salvar a
mia, pois a moeda que deveria teridade fiscal impediu a realiza- 2) Danos à economia do país: Europa? Rio de Janeiro: Editora Intrínse-
estar nos bancos fica esteriliza- ção de investimentos essenciais, ca, 2015.
* O corte de R$ 1 trilhão deixará 4 Notícia disponível em http://www.va-
da no BC; enquanto uma fortuna era desti- de irrigar as economias locais, lor.com.br/financas/5145488/concentra-
• elevação brutal dos juros de mer- nada a remunerar a sobra de caixa prejudicando mais de 80% dos cao-de-aplicacoes-no-bc-alcanca-inedito-
cado, porque bancos têm garan- dos bancos e cobrir prejuízos com municípios, com reflexos para -r-123-trilhao
tia de remuneração diária pa- questionáveis contratos de swap a arrecadação de tributos inci- 5 Capitalização só favorece o setor fi-
ga pelo BC. É evidente que se o cambial2. Fabricaram a “crise”, o nanceiro https://auditoriacidada.org.br/
dentes sobre o consumo. conteudo/folha-de-s-paulo-capitaliza-
volume de R$1,2 trilhão perma- PIB caiu, mas os bancos continu- 3) danos às finanças públicas: cao-so-favorece-o-setor-financeiro-por-
necesse nos bancos, esses reduzi- aram batendo recordes de lucros. • Elevadíssimo custo de transição -maria-lucia-fattorelli/

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Nova recessão? 11

Governo Macri e o ocaso


do neoliberalismo retrô1
Eduardo F. Bastian* retirada das retenções (que funcio- Ao mesmo tempo, a economia se
navam como uma espécie de im- recuperou e o PIB cresceu 2,7%.

O prêmio Nobel de Economia


Simon Kuznets costumava
dizer que há quatro tipos de países
posto sobre os bens exportados) de
quase todos os bens agropecuários –
exceto a soja; 3) liberalização de im-
Contudo, a combinação de uma
taxa de câmbio real mais aprecia-
da com crescimento econômico
no mundo: desenvolvidos, subde- portações; 4) promoção de um for- trouxe novamente os problemas
senvolvidos, Japão e Argentina. A te reajuste de tarifas; 5) introdução nas contas externas: as importa-
afirmação de Kuznets soa como – a partir de setembro de 2016 – ções cresceram quase 20% no ano
uma brincadeira, mas dá um pou- de um regime de metas de inflação e a balança comercial registrou um
co o tom da trajetória idiossincrá- com metas cadentes; 6) adoção de déficit de mais de US$ 8 bilhões,
tica de nossos vizinhos. De fato, uma política gradualista de ajuste contribuindo para um déficit em
nos últimos 50 anos, a Argenti- fiscal. A agenda econômica incluía conta-corrente de pouco mais de
na viveu toda sorte de crise: hipe- também outras reformas, como a US$ 31,5 bilhões, valores mui-
rinflação, recessão profunda, cri- previdenciária e a trabalhista. No to superiores aos de 2015. O dé-
se cambial aguda. O país foi um coração do programa macrista esta- ficit foi financiado com aumen-
verdadeiro laboratório de estudos va a ideia de que a combinação de to do endividamento externo. Em
para macroeconomistas. Ao mes- reformas liberalizantes com ortodo- particular, houve um grande au-
mo tempo, outro traço marcante xia macroeconômica traria para a mento do endividamento público
foi oscilar entre versões de mode- Argentina uma enxurrada de inves- externo e uma explosão de opera-
los de desenvolvimento, ora abra- timento direto estrangeiro (IED), ções de carry-trade envolvendo as
çando agendas do tipo neolibe- o que ajudaria a fomentar o cresci- Letras do Banco Central (Lebacs).
ral, ora embarcando em projetos mento econômico e evitar proble- No primeiro trimestre de
desenvolvimentistas. Trata-se do mas de balanço de pagamentos. 2018, houve uma combinação
“pêndulo argentino”, como suge- O choque cambial e de tarifas de fatores que detonou a fortíssi-
riu Marcelo Diamand. do começo do governo Macri fez ma depreciação do peso argenti-
Nesse contexto, a eleição de a inflação saltar de um patamar no. Primeiramente, a expectativa
Maurício Macri em novembro de de 20% em 2015 para 33,1% em mais alta de inflação nos EUA ele-
2015 não foi diferente e signifi- 2016. Ao mesmo tempo, o PIB vou as taxas de títulos de 10 anos
cou um rompimento com o mo- caiu 2,1%, contra um crescimento do governo americano, iniciando
delo econômico do casal Kirchner de 2,7% em 2015. De positivo no uma onda de desvalorizações de
e um retorno ao modelo neoliberal primeiro ano de governo, o cres- moedas em emergentes, justo de-
dos anos 1990. A vitória eleitoral de cimento das exportações e o sal- pois de o Banco Central argentino
Macri inaugurou uma onda de neo- do positivo na balança comercial ter baixado duas vezes as taxas de
liberalismo retrô no continente que de US$ 2 bilhões em 2016, contra juros. Em segundo lugar, a intro-
logo depois chegaria ao Brasil, com um déficit de quase US$ 3,5 bi- dução dos impostos para não-re-
a ascensão de Michel Temer à presi- lhões em 2015. sidentes nas participações das Le-
dência. No governo, a partir de de- A necessidade de fazer a infla- bacs, que entrou em vigência em
zembro de 2015, a equipe econô- ção cair em 2017 – diante de uma 25 de abril e detonou a corrida pa-
mica macrista rapidamente colocou meta de inflação de 17% para o ra o dólar2. Nesse contexto, as me-
em prática a sua agenda. Entre ou- ano – provocou mudanças. Assim, didas de liberalização financeira –
tras coisas, destacam-se: 1) a eli- o Banco Central argentino con- como a abolição do requerimento
minação das restrições no merca- trolou a taxa de câmbio nominal que exportadores vendam as suas
do cambial (cepo cambiario), o que – deixando a taxa de câmbio real divisas no mercado cambial – difi-
promoveu uma rápida desvaloriza- se apreciar –, o que foi crucial pa- cultavam a tarefa do banco central
ção cambial da ordem de 40%; 2) ra a queda da inflação para 25%. de contenção da desvalorização,

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12 Nova recessão?

uma vez que a instituição passou ocorreu o abandono das metas de 55% nos 12 meses encerrados em ser observado a partir de indicado-
a ter que oferecer altas taxas de ju- inflação e sua substituição por um abril – e dar alguma chance ao go- res de liquidez e solvência externa.
ros para atrair dólares que antes es- regime baseado em uma (obsoleta) verno nas eleições presidenciais des- Calculando para dezembro de 2018
tariam garantidos3. A taxa de câm- combinação de banda cambial com se ano. Contudo, a inflação alta e a a razão Dívida Externa de Cur-
bio se desvalorizou de 18,74 pesos metas monetárias, levando a uma expectativa de nova queda do PIB to Prazo sobre Reservas Internacio-
por dólar no começo de 2018 para política monetária fortemente res- apontam para um cenário eleitoral nais (indicador de liquidez externa),
20,54 em 24 de abril e depois para tritiva. A taxa de câmbio se estabi- difícil para a situação. encontra-se o valor de 1,36 para a
25,57 no começo de junho. lizou no último trimestre de 2018, O que explica a crise argentina Argentina e 0,18 para o Brasil. Ao
Diante da disparada do câmbio, mas voltou a apresentar trajetória e o colapso da estratégia econômica mesmo tempo, a razão entre o Sal-
a Argentina recorreu ao Fundo Mo- ascendente em 2019. Os resultados de Macri? O grande problema ar- do em Conta-Corrente e as Expor-
netário Internacional. Em junho, o em 2018 foram péssimos. O PIB gentino segue sendo a restrição ex- tações de Bens e Serviços (indicador
país fechou um acordo, obtendo li- caiu 2,5% e a inflação fechou em terna. Em uma economia com res- de solvência externa) para o final de
nhas de crédito da ordem de US$ 47,6%. O dólar fechou 2018 valen- trição externa, era inconsistente a 2018 aponta para –-0,37 no caso ar-
50 bilhões. Uma nova corrida con- do 38,85 pesos. combinação de liberalização co- gentino e -0,05 para o Brasil5. Em
tra o câmbio em agosto levou, no Em abril de 2019, o governo ar- mercial e financeira, realismo tari- suma, o Brasil tem um nível de vul-
final de setembro, a uma ampliação gentino apelou para congelamento fário, retirada de retenções e metas nerabilidade externa extremamente
da ajuda do FMI, totalizando agora por seis meses de preços de 60 pro- de inflação. As desvalorizações cam- menor do que a Argentina.
US$ 57,1 bilhões. Ainda em setem- dutos da cesta básica. Trata-se de biais – combinadas ao reajuste de Menos de vinte anos depois do
bro, o governo retomou as reten- uma medida desesperada para ten- tarifas em um contexto já inflacio- colapso do modelo neoliberal im-
ções. Por fim, no fim de setembro, tar conter a inflação – que alcançou nário – alimentaram a inflação que, plantado pelo presidente Carlos
por sua vez, foi realimentada pelas Menem, a Argentina optou por um
pressões por reajustes salariais pa- retorno a esse modelo, ainda que
ra repor perdas inflacionárias. Esse com roupagem diferente. Não é de
quadro foi agravado pela retirada, estranhar o novo desfecho melan-
no começo do governo, das reten- cólico. O filósofo inglês Bertrand
ções, dado que elas forneciam uma Russell costumava brincar: “Para
certa blindagem aos impactos infla- que cometer erros antigos se há tan-
cionários de desvalorizações cam- tos novos a escolher”? Na República
biais. Somente houve crescimento Argentina, os erros antigos parecem
e queda da inflação quando a taxa ter um apelo irresistível.
de câmbio real se apreciou, mas is-
so acentuou o déficit em conta-cor- * É professor adjunto do Instituto de Eco-
rente, acompanhado por uma ex- nomia da UFRJ (IE-UFRJ) e doutor em
Economia da Indústria e da Tecnologia pe-
plosão no endividamento externo. lo IE-UFRJ, com doutorado sanduíche na
O boom de IDE não ocorreu e o Faculdade de Economia da Universidade
que veio mesmo foi capital especu- de Cambridge e estudos de pós-doutorado
lativo para fazer operações de carry- no Instituto de Estudos Latino-America-
nos da Universidade Columbia.
-trade. A explosão de endividamen-
to de 2016-17 – somada à saída de 1 Agradeço os comentários de Eduardo
capitais em 2018 – só não levou o Crespo, Luiz Carlos Prado e Numa Mazat.
país ao default no ano passado em Erros e omissões remanescentes são meus.
função do suporte do FMI4. 2 Devo esse ponto a Fabian Amico.
Por sinal, as questões externas 3 Ver Bortz, P. & Zeolla, (2018, p.4). Ar-
gentina: from the confidence fairy to the (still
explicam os porquês de o Brasil cor- devilish) IMF. Critical Macro Finance.
rer poucos riscos de repetir a cri- 4 Devo esta última observação a Eduardo
se argentina. Se, em dezembro de Crespo.
2018, a Argentina tinha um mon- 5 Os indicadores utilizados foram sugeri-
tante de reservas internacionais da dos em Medeiros, C.; Serrano, F. (2001).
Inserção Externa, exportações e crescimen-
ordem de US$ 60 bilhões, o Brasil to no Brasil. In: Fiori, J.L.; Medeiros, C.
possuía aproximadamente US$ 374 (org.). Polarização Mundial e Crescimen-
bilhões em reservas. O mesmo pode to. Petrópolis: Vozes.

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Fórum Popular do Orçamento Indústria 13

Educação não se vende, se defende


R ecentemente, houve um re-
torno da ameaça de extin-
ção da vinculação orçamentária da
participação da remuneração do
magistério na despesa com MDE?
Como se deram as evoluções da
na arrecadação. Em 2018, o índi-
ce volta a cair (26,9%), apesar da
continuidade do quadro de baixa
tas de Governo de 2017 e 2018.
Dentre os motivos, inclui-se a
ausência de aplicação do míni-
Manutenção e Desenvolvimento remuneração por professor e das arrecadação. O percentual previs- mo constitucional para o ensino.
do Ensino (MDE), que abarca os relações matrículas/professores e to para 2019 é de 26,5% (gráfi- Neste contexto, as perspectivas
gastos voltados "à consecução dos matrículas/estabelecimentos de co 1), mas os resultados até o 2° para 2019 são desanimadoras: a
objetivos básicos das instituições ensino? bimestre preocupam: até agora, o LOA previu um percentual pró-
educacionais de todos os níveis"1. Todos os dados foram defla- percentual aplicado foi de 20,5%. ximo à fronteira, de 25,2%, mas
Seu propósito é garantir que o per- cionados pelo IPCA de março de até agora (2° bimestre), o índice
centual mínimo de 25% da recei- 2019. Estado atingido foi de 20,9%.
ta líquida de impostos proteja um Em contraste, as despesas com Em suma, os gastos municipais
núcleo de gastos indispensáveis ao A Manutenção MDE diminuíram sistematica- com ensino se mantiveram relati-
aprimoramento do ensino. e o Desenvolvimento mente entre 2013 (R$ 11,53 bi- vamente estáveis, e houve cumpri-
Analisamos o cumprimento do Ensino: lhões) e 2017 (R$ 9,84 bilhões), mento do limite mínimo em todos
constitucional da MDE do Estado Município com parcial recuperação em 2018 os anos analisados. Já o Estado re-
do Rio de Janeiro (ERJ) e do Mu- Os gastos com MDE perma- (R$ 10,76 bilhões) que, ainda as- duziu drasticamente suas despesas
nicípio do Rio de Janeiro (MRJ) neceram relativamente estáveis sim, não permitiu o alcance do ní- e descumpriu a exigência constitu-
a partir da evolução de seus orça- entre 2012 e 2018, com redução vel de gastos de 2013 a 2015. Em cional nos dois últimos anos. Veja-
mentos entre 2012 e 2018. Desta- nas despesas realizadas entre 2016 relação ao percentual de 25%, os mos de que forma estes resultados
camos os seus pesos nos orçamen- (R$ 4,36 bilhões) e 2018 (R$ resultados são ainda piores. Após afetaram os investimentos e a qua-
tos totais e debatemos o papel do 4,06 bilhões). Para 2019, man- se aproximar do limite em 2016, lidade do ensino.
Fundo de Desenvolvimento e Ma- tém-se praticamente inalterado o o ERJ não alcançou o mínimo
nutenção da Educação e de Valo- valor previsto na LOA de 2018 constitucional por dois anos con- Investimento e
rização dos Profissionais da Edu- (R$ 4,48 bilhões), inferior às pre- secutivos (gráfico 2): em 2017, o infraestrutura nas
cação (Fundeb) como fonte de visões dos três anos anteriores. No índice atingiu 24,4%, por conta escolas
recursos. que se refere à exigência constitu- de uma simultânea queda nas des- Contrastamos a evolução dos
Com o intuito de verificar sua cional, o MRJ cumpriu, ao lon- pesas e elevação das receitas; em investimentos na Secretaria de Es-
eficácia na prática, examinamos go de todo o período, o percentu- 2018, alcançou-se 24,8%, pois o tado de Educação (SEEDUC) e na
possíveis indicadores de qualida- al mínimo de aplicação. Após se aumento nas despesas não foi su- Secretaria Municipal de Educação
de da educação: o número de ma- aproximar do limite entre 2012 ficiente para compensar o cresci- (SME) com a ampliação da infra-
trículas aumentou em relação ao e 2015, o índice alcançado subiu mento das receitas. estrutura do sistema educacional.
crescimento da população jovem? consideravelmente nos anos se- Vale destacar que o Tribu- Para tal, analisamos as metas físi-
Quais foram as metas de constru- guintes (28,7% em 2016 e 29,3% nal de Contas do Estado do Rio cas referentes a escolas, unidades
ção e reforma de escolas? Qual a em 2017), sobretudo pela queda emitiu parecer contrário2 às Con- de ensino/escolares e espaços de

Gráfico 1 – Evolução das despesas Gráfico 2 – Evolução das despesas


em MDE no MRJ (2012-2019): em MDE no ERJ (2012-2019):

Fonte: Parecer do TCM sobre as Contas de Governo (2012-2017); RREO 2018; LOA 2019. Fonte: Parecer do TCE sobre as Contas de Governo (2012-2018); LOA 2019.

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14 Fórum Popular do Orçamento

Gráfico 3 – Evolução das metas físicas Gráfico 4 – Evolução das metas físicas
no MRJ x Investimento na SME: no ERJ x Investimento na SEEDUC:

Fonte: Relatório de gestão e avaliação (MRJ) 2012-2017 e FINCON. Fonte: Relatório de Produtos das Ações Realizada (ERJ) 2012-2018 e Transparência Fiscal.

desenvolvimento infantil que te- da brusca na construção/reforma foi realizada. O recente decaimen- creche ao ensino médio. São re-
nham sido inauguradas ou refor- de escolas: apenas uma meta foi re- to em ambas dimensões pode ser servados, inclusive, recursos pa-
madas de alguma forma no perí- alizada em 2017. O investimento relacionado com a redução da des- ra educação de jovens e adultos.
odo analisado. Foi acrescentada também atingiu sua menor cifra, pesa com MDE no Estado. Gerenciado pela União e compos-
também a meta "Imóvel alugado", R$ 27,4 milhões, neste ano. Até Contudo, para um estudo ade- to por todos os Estados, o Fundeb
pois, como se encaixa dentro das a data que foi escrito este artigo, quado do ambiente escolar, não tem como principal objetivo pro-
secretarias, supomos que seja re- a prefeitura não havia disponibili- podemos analisar somente sua in- mover a redistribuição pelo país
ferente ao aluguel de imóveis para zado o Relatório de Gestão e Ava- fraestrutura. Também é importan- dos recursos vinculados à educa-
abarcar instituições de ensino. liação do exercício de 2018, o que te que nos atentemos para a qua- ção e leva em consideração o de-
impossibilitou a coleta de metas lidade da atuação profissional. senvolvimento social e econômico
Município físicas. Isso demonstra, mais uma Nesse sentido, o Fundeb se desta- das regiões. Quanto à exigência
Neste âmbito, é difícil coletar vez, uma falta de compromisso ca pelo seu objetivo de valorização de que no mínimo 60% dos re-
informações quanto às naturezas governamental com a transparên- dos professores através da estipula- cursos do fundo sejam utilizados
da despesa da SME em bases de cia. Já o valor investido deste ano, ção de uma porcentagem mínima com a remuneração dos profissio-
dados de livre acesso. Devido a esta apesar de apresentar leve ascensão, que deve ser destinada à remune- nais do magistério da educação
opacidade, tivemos que recorrer ao não retornou aos patamares regis- ração do magistério ativo. básica em efetivo exercício na re-
sistema utilizado internamente na trados anteriormente. de pública, vale dizer que é cum-
Câmara Municipal, o FINCON. Fundeb prida com folga todos os anos em
Os valores investidos por ano da Estado No que diz respeito às fon- ambas as esferas governamentais.
SME, do Fundeb e da Multirio3, O valor máximo do investi- tes de recursos da MDE, a mais Apesar disso, o valor absoluto
contabilizados separadamente no mento estadual, de quase R$ 450 significativa, excluídos os ordiná- dessa quantia no ERJ caiu conti-
sistema, foram agregados a fim de milhões, se realizou em 2013. As rios provenientes de impostos, é o nuamente desde 2012, com re-
evitar distorção nos dados. metas físicas, por sua vez, só ti- Fundeb, que representa 40,5% e dução de mais de R$ 1 bilhão ao
O pico do investimento acon- veram seu ápice no ano seguin- 43,5% do liquidado entre 2012 e longo do período analisado. Dessa
teceu em 2015, quando chegou a te (gráfico 4), provavelmente pe- 2018 no Estado e no Município, forma, podemos argumentar que,
R$ 712,8 milhões. Enquanto is- lo mesmo motivo que levou a essa respectivamente. O modelo vigo- no âmbito estadual, o Fundeb não
so, o quantitativo de metas físicas defasagem no Município. De 2013 ra desde janeiro de 2007 e expi- exerceu seu papel de melhorar a
só atingiu seu máximo no ano se- até 2017, houve redução de 99,7% ra em 2020, assim, cabe ao Con- qualidade do ensino através da va-
guinte (gráfico 3). Possivelmente, no investimento, com reflexos pre- gresso debater a continuidade da lorização dos professores nos últi-
essa diferença deve-se a obras ini- ocupantes para os últimos dois sua existência. O fundo reflete mos anos. Entretanto, a remune-
ciadas em 2015, mas que só foram anos. Embora a previsão segundo um compromisso entre as esferas ração do magistério é apenas um
concluídas e, por isso, contabiliza- PPA 2015-2018 fosse de 306 me- federal, estadual e municipal pa- dos indicadores da evolução quali-
das como metas, em 2016. Com a tas físicas a serem executadas em ra com a educação básica, ao fi- tativa da educação, que será anali-
mudança de governo, houve que- 2016 e 2017 somados, nenhuma nanciar instituições de ensino da sada mais detalhadamente a seguir.

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Fórum Popular do Orçamento 15

Qual o impacto social de matrículas. Isso fez com que a


do gasto com ensino? quantidade de estudantes por es- Quadro 1 – Relação entre a população jovem e o
A partir da relação entre a po- cola também diminuísse, mas por número de matrículas no ERJ e no MRJ (2012-2018).
pulação jovem e o número de ma- motivos diferentes. Isso corrobo-
trículas, produzimos um possível ra os dados apresentados de for-
indicador de qualidade da educa- te queda dos investimentos esta-
ção (quadro 1). O indicador (A) duais. No caso da rede privada, o
mostra que, apesar do número de crescimento do número de estabe-
jovens ter diminuído, a quantidade lecimentos foi positivo e superior
de matrículas diminuiu proporcio- ao aumento de matrículas, o que
nalmente mais. Simultaneamente, também provocou uma queda dos
Fonte: IBGE e Sinopse da Educação Básica – INEP.
as matrículas em escolas privadas estudantes por escola.
apresentaram variação positiva em No que diz respeito à valoriza-
ambos os entes. Isso significa que ção dos profissionais da educação,
a perda real de matrículas se deu a remuneração média mensal do Gráfico 5 – Relação entre Matrículas
na rede pública – 250 mil na re- magistério4 estadual alcançou, em e Docentes (esquerda) e entre Matrículas
de estadual e 35 mil na rede muni- 2018, R$ 3.031, o menor valor de e Estabelecimentos (direita).
cipal. Com isso, a participação do todo período analisado (11% me-
setor privado no ensino básico no nor que o de 2012). No mesmo
ERJ e no MRJ aumentou, respec- sentido, a participação das remu-
tivamente, 3 e 4 pontos percentu- nerações do magistério nos gastos
ais no final do período analisado. totais do MDE passou de 34% pa-
Na mesma linha, se a quanti- ra 23% em 2018. Enquanto isso,
dade de docentes na rede estadu- no município, houve um aumen-
Fonte: Sinopse de Estatística da Educação Básica – INEP.
al diminuiu 11% e na rede muni- to de R$ 1.141,69 na remuneração
cipal, 6%, a rede privada cresceu média mensal, que chegou a R$
em 9% no ERJ e 5% no MRJ. O 6.588,89. Isso fez com que a re- do número de escolas. que configura descumprimento do
ano de maior redução do número muneração, que representava 46% É importante frisar que o mí- PNE. Portanto, é imprescindível
de docentes foi 2015, apresentando do MDE, alcançasse 50%. nimo constitucional é necessá- que a sociedade continue pressio-
as maiores perdas da série analisada rio ao aprimoramento do ensino, nando o poder público, como tem
tanto na rede pública quanto na re- Conclusão mas não suficiente. Ambos os en- ocorrido nas manifestações que to-
de privada. Contraditoriamente, o O cenário acima retratado re- tes devem elevar a prioridade da maram o Brasil em maio de 2019.
ano foi marcado por grandes inves- força a importância da vinculação educação se pretendem alcançar as
timentos graças aos Megaeventos. dos gastos em MDE. Com efeito, metas do Plano Nacional de Edu- 1 http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/
o quadro de degradação da estru- cação (PNE) que, em 2017, foram pdf/Art70Lei9394-96.pdf
Outro possível indicador da
2 Apesar do parecer contrário do TCE-
educação é a relação entre o nú- tura e da qualidade do ensino no descumpridas pelas redes públicas. -RJ, a ALERJ aprovou as Contas de Go-
mero de matrículas e os estabeleci- âmbito estadual acompanha a pro- Por exemplo, de 2015 para 2017, o verno de 2017.
mentos de ensino, ou seja, a quan- gressiva queda nas despesas com índice de desenvolvimento da edu- 3 Empresa municipal que tem como ob-
tidade de estudantes por escola. educação, que culminou no des- cação básica para o 3° ano do En- jetivo a promoção, em diversas mídias e
plataformas tecnológicas, de ações arti-
No Município, simultaneamen- cumprimento do limite constitu- sino Médio da rede estadual caiu
culadas com a política pública de educa-
te à queda do número de matrí- cional nos últimos anos. Por ou- de 3,6 para 3,3, e ficou longe da ção na cidade do Rio de Janeiro como:
culas, abriram-se 151 novas esco- tro lado, a manutenção do nível de meta de 4,1. Além disso, o Parecer séries audiovisuais, animações, jogos, re-
las, o que diminuiu ainda mais o gastos no município acima do mí- do TCE das Contas de Governo portagens, artigos, etc.
número de estudantes por escola. nimo foi suficiente para que alguns de 2018 ressaltou, mais uma vez, 4 A metodologia utilizada para esse dado
foi a remuneração total do magistério for-
Já no Estado, houve uma redução indicadores apresentassem melho- que o ERJ é o único que sequer
necida pelo Tribunal de Contas sobre o
do número de estabelecimentos, rias, como o aumento da remune- tem projeto de lei para aprovação número de docentes, dividido por 13 (nú-
menor que a queda no número ração por professor e a expansão do Plano de Educação Estadual, o mero de salários por ano dos professores).

FÓRUM POPULAR DO ORÇAMENTO – RJ (21 2103-0121). Para mais informações acesse www.corecon-rj.org.br/fpo-rj e www.facebook.com/FPO.Corecon.RJ. Coordenação: Econ.
Luiz Mario Behnken e Econ. Thiago Marques. Assistentes: Est. Amanda Resende, Est. Daniel De Nadai e Est. Laura Muniz

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16

Rede Pró-Rio articula esforços da academia,


gestores públicos e sociedade civil
A Rede de Estudos em Plane- escolhida por ser um dos princi- gurança e o mercado de trabalho. volvimento Econômico e Social
jamento e Política Pública Regio- pais centros de produção de co- A iniciativa recebeu apoio de – GPDES (Ippur/UFRJ); Obser-
nal Orientada ao Rio de Janeiro - nhecimento no Estado. organizações importantes como vatório das Metrópoles (Ippur/
Rede Pró-Rio, estruturada sob o A Rede Pró-Rio é um espaço o Corecon-RJ, que cedeu o audi- UFRJ); e Programa de Pós-gradu-
conceito de um think tank, pro- institucional voltado para sistema- tório de sua sede no Centro para ação em Economia Regional e De-
põe-se a estudar uma série de te- tizar e agregar em um formato de reuniões de trabalho da Rede. Es- senvolvimento do Instituto de Ci-
mas estratégicos para a elabora- rede ampla, integrada por grupos pecialistas externos de notório sa- ências Sociais Aplicadas (PPGER/
ção de uma agenda de políticas de trabalho. A estrutura organi- ber e entidades e instituições já se ICSA) da UFRRJ.
públicas para o estado e municí- zacional sustenta-se sobre um tri- firmaram como parceiros da Rede Já há pesquisas que envolvem
pios. Lançada em um seminário pé: comunidade acadêmica flumi- Pró-Rio, tais como: Casa Flumi- o Rio de Janeiro, mas é preciso ir
em 20 de maio, a organização é nense, grupos de gestores públicos nense; Programa de Pós-graduação além de tratar o estado como estu-
sediada na Faculdade de Ciências e entidades da sociedade civil or- em Políticas Públicas, Estratégias e do de caso e passar a articular or-
Econômicas da Universidade do ganizada. Os grupos de trabalho Desenvolvimento do Instituto de ganicamente um discurso a partir
Estado do Rio de Janeiro e tam- atuam em frentes como a estrutura Economia da UFRJ (PPED IE/ dos interesses regionais. Outras in-
bém possui membros permanen- produtiva do estado, a questão das UFRJ); Programa de Graduação formações estão na página www.
tes em outras unidades da Uerj, finanças públicas, a questão da se- em Gestão Pública para o Desen- facebook.com/pg/rede.pro.rio.

BALANÇO PATRIMONIAL
ATIVO (EM R$) PASSIVO (EM R$)
REFERÊNCIAS MARÇO/2018 MARÇO/2019 REFERÊNCIAS MARÇO/2018 MARÇO/2019
ATIVO FINANCEIRO 8.619.465,25 7.650.581,61 PASSIVO FINANCEIRO 84.348,85 63.800,29
DISPONÍVEL 366.446,86 225.417,49 RESTOS A PAGAR - -
DISPONÍVEL VINCULADO A C/C BANCARIA 8.179.085,27 7.338.627,62 DEPÓSITOS DE DIVERSAS ORIGENS - -
REALIZÁVEL 32.050,54 44.653,92 CONSIGNAÇÕES 24.719,66 11.377,58
RESULTADO PENDENTE 41.882,58 41.882,58 CREDORES DA ENTIDADE 18.601,85 9.591,23
ATIVO PERMANENTE 26.340.960,01 25.972.848,93 ENTIDADES PÚBLICAS CREDORAS 41.027,34 42.831,48
BENS PATRIMONIAIS 1.769.117,78 1.792.795,44 RESULTADO PENDENTE 262.506,64 269.526,51
VALORES 57.098,94 52.320,22 DESPESAS DE PESSOAL A PAGAR 262.506,64 269.526,51
CRÉDITOS 24.514.743,29 24.127.733,27 PATRIMÔNIO(ATIVO REAL LÍQUIDO) 34.613.569,77 33.290.103,74
TOTAL GERAL 34.960.425,26 33.623.430,54 TOTAL GERAL 34.960.425,26 33.623.430,54

DEMONSTRATIVO DAS RECEITAS E DESPESAS


REFERÊNCIAS PERÍODOS EM REAIS REFERÊNCIAS VARIAÇÕES
JAN A MAR/2018 JAN A MAR/2019 (EM R$) (EM %)
RECEITAS CORRENTES RECEITAS
ANUIDADES 3.295.856,02 3.296.122,05 ANUIDADES 266,03 0,0
PATRIMONIAL 128.907,51 (58.627,45) PATRIMONIAL (187.534,96) -145,5
SERVIÇOS 45.796,28 24.528,53 SERVIÇOS (21.267,75) -46,4
MULTAS E JUROS DE MORA 9.075,14 11.437,82 MULTAS E JUROS DE MORA 2.362,68 -
DÍVIDA ATIVA 261.897,12 219.986,60 DÍVIDA ATIVA (41.910,52) -16,0
DIVERSAS 106.761,65 121.124,56 DIVERSAS 14.362,91 13,5
RECEITAS DE CAPITAL - - - -
TOTAL GERAL 3.848.293,72 3.614.572,11 TOTAL GERAL (233.721,61) -6,1
DESPESAS DESPESAS
DE CUSTEIO 1.157.796,28 1.236.742,48 DE CUSTEIO 78.946,20 6,8
PESSOAL 606.165,83 640.317,72 PESSOAL 34.151,89 5,6
MATERIAL DE CONSUMO 16.274,95 8.828,90 MATERIAL DE CONSUMO (7.446,05) -45,8
SERVIÇOS DE TERCEIROS E ENCARGOS 535.355,50 587.595,86 SERVIÇOS DE TERCEIROS E ENCARGOS 52.240,36 9,8
TRANSFERÊNCIAS CORRENTES 735.535,37 723.090,30 TRANSFERÊNCIAS CORRENTES (12.445,07) -1,7
DESPESAS DE CAPITAL 7.929,09 6.480,07 DESPESAS DE CAPITAL (1.449,02) -18,3
TOTAL GERAL 1.901.260,74 1.966.312,85 TOTAL GERAL 65.052,11 3,4
RESULTADO = RECEITAS - DESPESAS 1.947.032,98 1.648.259,26 RESULTADO = RECEITAS - DESPESAS (298.773,72) -15,3

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