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Jornal Dos Economistas - Coreconrj Julho2019
Jornal Dos Economistas - Coreconrj Julho2019
Nova recessão?
Adhemar Mineiro, Plínio de Arruda Sampaio Jr., Antonio Lacerda e Maria Lucia Fattorelli discutem
a reversão da expectativa de recuperação econômica em 2019 e a possibilidade de o Brasil voltar a entrar
em recessão. Eduardo Bastian analisa a crise argentina e suas diferenças em relação à brasileira.
Órgão Oficial do CORECON - RJ Conselheiros Efetivos: 1º TERÇO: (2017-2019) Arthur Camara Cardozo, João Manoel Gon-
E SINDECON - RJ çalves Barbosa, Regina Lúcia Gadioli dos Santos - 2º TERÇO: (2018-2020) Antônio dos Santos
Issn 1519-7387 Magalhães, Flávia Vinhaes Santos, Jorge de Oliveira Camargo - 3º TERÇO: (2019-2021) Carlos
Henrique Tibiriçá Miranda, Thiago Leone Mitidieri, José Antônio Lutterbach Soares. Conselheiros
Conselho Editorial: Sidney Pascoutto da Rocha, João Manoel Gonçalves Barbosa, Carlos Henrique Suplentes: 1º TERÇO: (2017-2019) Andréa Bastos da Silva Guimarães, Gisele Mello Senra Rodri-
Tibiriçá Miranda, Marcelo Pereira Fernandes, Gisele Rodrigues, Wellington Leonardo da Silva, Pau- gues, Marcelo Pereira Fernandes - 2º TERÇO: (2018-2020) André Luiz Rodrigues Osório, Gilberto
lo Passarinho, Sergio Carvalho C. da Motta, José Ricardo de Moraes Lopes e Gilberto Caputo San- Caputo Santos, Miguel Antônio Pinho Bruno - 3º TERÇO: (2019-2021) José Ricardo de Moraes
tos. Jornalista Responsável: Marcelo Cajueiro. Edição: Diagrama Comunicações Ltda-ME (CNPJ: Lopes, Clician do Couto Oliveira.
74.155.763/0001-48; tel.: 21 2232-3866). Projeto Gráfico e diagramação: Rossana Henriques (rossa-
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Conselho Fiscal: Jorge de Oliveira Camargo, Luciano Amaral Pereira e Regina Lúcia Gadioli dos
Presidente: João Manoel Gonçalves Barbosa. Vice-presidente: Flávia Vinhaes Santos. Santos.
A estagnação da produção no
primeiro trimestre de 2019
jogou uma pá de cal na narrativa
A letargia econômica e o enci-
lhamento financeiro do setor pú-
blico são condicionados pelo agra-
substanciais nas despesas reais da
administração pública.
Sem ter como estimular a re-
de que, após a severa contração re- vamento da crise de valorização do cuperação do mercado interno, o
gistrada em 2015 e 2016, a eco- capital que abala a vida nacional – dinamismo da economia fica in-
nomia brasileira estaria a caminho a mais profunda e longa da histó- teiramente dependente das ex-
de uma recuperação. O aumento ria moderna do país. Após retração portações. No entanto, o cená-
de 1,2 milhão no contingente de de 8% do PIB em 2015 e 2016, a rio externo não é nada favorável.
trabalhadores marginalizados do economia encontra-se deprimida O baixo crescimento da economia
mercado de trabalho em apenas no mesmo patamar de 2010. No mundial; o risco de elevação dos
seis meses, que elevou para 28,4 ritmo da tão comemorada “recu- juros dos Estados Unidos; o acir-
milhões a quantidade de pessoas peração” dos últimos dois anos, o ramento do conflito comercial en-
sem ocupação regular, acendeu o Brasil precisaria de 38 anos para tre os Estados Unidos e a China;
sinal vermelho de que o Brasil es- voltar à renda per capita de 2013. bem como a aguda crise econômi-
taria entrando em novo mergulho E, ainda assim, o oceano de pesso- ca argentina não deixam margem
recessivo. Os efeitos devastadores as desempregadas, desalentadas e para uma expansão vigorosa do
da crise econômica sobre as finan- subutilizadas – que aumentou em comércio internacional.
ças do Estado, num contexto em 2,6 milhões desde 2017 – conti- A perspectiva histórica refor-
que a dívida pública cresce como nuaria crescendo ano a ano. ça a correlação negativa entre libe-
bola de neve pelos efeitos retroali- O horizonte de curto prazo é ralismo e crescimento econômico.
mentadores da própria dívida, co- sombrio. Embora a presença de O caso brasileiro é emblemáti-
locaram na ordem do dia a possi- ampla capacidade ociosa no par- co. Depois de quase quatro déca-
bilidade iminente de um colapso que produtivo permitiria que uma das de ajuste às exigências da or-
das políticas públicas e a inevita- política de estímulo à demanda dem global, a promessa de uma
bilidade de um acirramento dos agregada promovesse uma rápida nova era de prosperidade e pro-
conflitos sociais. expansão da produção e do em- gresso não se cumpriu. O baixís-
Desconsiderando a gravidade prego, todas as frentes de gasto simo dinamismo do padrão de
da situação econômica e social, os que poderiam revitalizar o merca- acumulação liberal-periférico fica
grandes meios de comunicação – do interno se encontram bloque- evidente quando se constata que,
atiçados pelos interesses empresa- adas. A tendência decrescente da entre 1981 e 2018, o crescimen-
riais – vêm associando a deterio- taxa de lucro, o elevado grau de to do PIB foi de apenas 2,1% ao
ração do emprego e da renda às endividamento das empresas e as ano. No mesmo período, a ren-
dificuldades para a aprovação da incertezas econômicas e políticas da per capital ficou praticamente
Reforma da Previdência. Não exis- em relação ao futuro deprimem os estagnada, aumentando só 0,7%
te nenhuma base real para imagi- investimentos em patamar abai- ao ano. É um desempenho mui-
nar que um suposto “choque de xo de 14% do PIB. Apesar da de- to inferior ao que havia ocorrido
confiança” provocado pelas refor- manda reprimida pela longa re- nos vinte e cinco anos anteriores.
mas liberais possa levar à recupe- cessão, o desemprego e o arrocho Entre 1956 e 1980, impulsiona-
ração do crescimento e do empre- salarial inibem o consumo das fa- dos pela industrialização por subs-
go. Na verdade, a história recente mílias – que regrediu em termos tituição de importações, o PIB e
indica o oposto. As últimas “refor- reais ao nível de 2013. Por fim, a renda per capita cresceram 7,5 e
mas” – o ataque à CLT e o con- o congelamento do gasto público 4,7% ao ano, respectivamente.
gelamento dos gastos públicos por por vinte anos e a Lei de Respon- Ademais, o reduzido cresci-
vinte anos –, também apresenta- sabilidade Fiscal não apenas cri- mento da era liberal veio acom-
das como panaceias para revita- minalizam qualquer possibilida- panhado de recorrentes crises re-
cessivas. Nos últimos trinta e oito micos do país decorrem do exces- ção das empresas e serviços públi- ve organizar um ambicioso pro-
anos, o Brasil registrou expansão so de travas ao funcionamento do cos; e garantir a sustentabilidade grama emergencial de geração de
sustentada da renda per capita em “mercado” é mera ideologia. O ne- da especulação financeira com títu- emprego, combate à pobreza e er-
apenas quinze anos – 1993-1997 oliberalismo transformou a acumu- los públicos, subordinando o orça- radicação da desigualdade social,
e 2004-2013. Nos outros vinte e lação de capital em um fim em si. mento fiscal às exigências dos cre- articulado a uma série de medidas
três anos, a economia brasileira vi- Na lógica dos negócios das grandes dores do Estado. que permitam reorganizar a econo-
veu penosos períodos de estagna- corporações que comandam o Esta- Ao desvincular radicalmente os mia nacional, tais como: a imedia-
ção – 1981-1992, 1998-2003 e o do, tudo e todos ficam subordina- negócios do desenvolvimento na- ta revogação da reforma trabalhista,
que começou em 2014 e não tem dos aos seguintes objetivos: aumen- cional, o neoliberalismo condena da Lei de Responsabilidade Fiscal
prazo para terminar. Em contra- tar a taxa de lucro do capital pelo o Brasil à estagnação estrutural. Se e do congelamento dos gastos pú-
partida, entre 1956 e 1980, a traje- rebaixamento do nível tradicional não houver uma mudança radical blicos por vinte anos; a reversão do
tória expansiva da renda per capi- de vida dos trabalhadores; especia- no rumo da política econômica, processo de liberalização comercial
ta foi interrompida em apenas três lizar as forças produtivas nacionais não há como superar os bloqueios e financeira; a suspensão do paga-
anos – 1963 a 1965. numa posição mais degradada na que paralisam o país. O primeiro mento da dívida pública; a centrali-
A análise fria do desempenho divisão internacional do trabalho passo para uma política preocupa- zação do câmbio, a democratização
da economia brasileira revela que pelo incentivo à produção de mer- da com a geração de emprego e a do Banco Central; a nacionalização
a ideia de que os problemas econô- cadorias de baixo conteúdo tecno- melhoria do bem-estar da popu- efetiva da Petrobrás; a estatização
lógico – agronegócio e extrativismo lação é romper o bloqueio mental do sistema financeiro; a expropria-
mineral; abrir oportunidades de ne- que naturaliza o neoliberalismo. O ção da Vale do Rio Doce e de todas
gócios para o capital pela privatiza- segundo é quebrar a teia institu- as empresas envolvidas em crimes
cional que sustenta o Plano Real – ambientais e delitos de corrupção;
uma verdadeira arapuca que deixa bem como o planejamento público
a sociedade brasileira a reboque do dos investimentos. Evidentemen-
grande capital internacional e na- te, uma mudança dessa envergadu-
cional e inviabiliza qualquer ini- ra supõe uma intervenção popular
ciativa anticíclica. que mude radicalmente as bases do
Uma estratégia alternativa pa- Estado brasileiro.
ra enfrentar a crise econômica de-
* É professor aposentado do Instituto de
Economia da Universidade Estadual de
Campinas (IE/Unicamp).
Se quiser, como é necessário, em qualquer país do mundo, mais tas, contempla 39 artigos em suas e os paraísos fiscais; tributação das
criar um ambiente mais favorá- ainda no Brasil, dadas as nossas 804 páginas1. transações financeiras; e tributação
vel ao crescimento para 2020, a desigualdades regionais e de ren- A análise destaca o caráter re- da propriedade e a riqueza); 4) re-
equipe econômica precisa diver- da. No entanto, a despeito da di- gressivo do nosso sistema tributário dução da tributação indireta; 5) res-
sificar suas estratégias e medidas, ficuldade em fazê-lo, é necessário e propõe uma ampla reforma, con- tabelecer as bases do equilíbrio fe-
uma vez que muitas delas têm enfrentar o desafio, sem subterfú- templando oito premissas: 1) a pers- derativo; 6) considerar a tributação
um tempo de maturação conside- gios e falsas soluções. pectiva do desenvolvimento; 2) for- ambiental; 7) aperfeiçoar a tributa-
rável. Há especulações no merca- Uma boa referência para dis- talecer o Estado de Bem-estar Social; ção sobre o comércio internacional;
do sobre uma possível redução da cussão de uma efetiva reforma tri- 3) promover a progressividade, am- e 8) revisão das renúncias fiscais e
taxa Selic. Tendo em vista a ane- butária pode ser encontrada na pliando a tributação direta (tribu- combate à evasão fiscal.
mia da demanda, a existência de publicação "A Reforma Tributária tação da renda das pessoas físicas e Os desafios que se apresentam
capacidade ociosa na economia e Necessária: Diagnóstico e Premis- das pessoas jurídicas; tributação in- para o futuro, portanto, envolvem
ausência de grandes choques de sas". Elaborada por 42 especialis- ternacional para combater a evasão não apenas a correção dos graves
oferta, o risco inflacionário é bai- desequilíbrios sistêmicos brasilei-
xo. Portanto, seria uma medida ros e seus impactos na indústria,
de baixo risco. mas a definição e implementação
Mas, para além disso, o Gover- de políticas de competitividade
no carece de melhorar a articula- (políticas industrial, comercial e
ção, tanto internamente, quanto de inovação) nos moldes das me-
na sua relação com os demais po- lhores práticas internacionais e lo-
deres e os agentes econômicos. Da cais. Seria equivocado apostar que
mesma forma, precisa ir além do apenas as “forças do mercado” e a
“samba de uma nota só” do dis- “fé” na abertura comercial pode-
curso da necessidade da reforma riam por si só nos recolocar no ca-
da Previdência e apresentar um minho do desenvolvimento. Não
conjunto mais abrangente de me- foi assim nas melhores experiên-
didas para acelerar a recuperação cias internacionais conhecidas.
da economia. Os pressupostos da chamada
A questão fiscal é relevante, Indústria 4.0 estão a nos exigir es-
mas é preciso lembrar que, sem tratégias ousadas, mas, igualmen-
crescimento econômico, qual- te, seria um equívoco desconsi-
quer tentativa de ajuste esbarra derar a experiência da indústria
no impacto restrito da arrecada- tradicional e resiliente no Brasil.
ção em função da fraca atividade Isso não vai se dar somente pelas
econômica. Portanto, fomentar a “forças do mercado”. Uma boa es-
atividade econômica, dado o seu tratégia pressupõe o diagnóstico
efeito multiplicador, produz im- adequado. Do contrário, avalia-
pactos positivos sobre a arrecada- ções equivocadas nos levarão, ine-
ção tributária e, portanto, sobre o xoravelmente, a falsas soluções.
quadro fiscal.
Na contramão, insistir no dis- * É professor doutor e diretor da FEA-
curso autofágico dos cortes de -PUCSP, conselheiro e atual vice-presi-
dente do Conselho Federal de Economia
gastos, principalmente de inves- (Cofecon) e coautor, entre outros livros,
timentos públicos, que já se en- de Economia Brasileira (Saraiva, 6ª. Edi-
contram no menor nível histórico, ção, 2018). Site www.aclacerda.com
não contribui para reverter o qua-
1 Publicação disponível para download
dro adverso que persiste há anos.
no site http://plataformapoliticasocial.
É preciso realizar uma ampla re- com.br/wp-content/uploads/2018/05/
forma tributária. Trata-se inega- REFORMA-TRIBUTARIA-SOLIDA-
velmente de uma matéria difícil RIA.pdf
uma vez que a instituição passou ocorreu o abandono das metas de 55% nos 12 meses encerrados em ser observado a partir de indicado-
a ter que oferecer altas taxas de ju- inflação e sua substituição por um abril – e dar alguma chance ao go- res de liquidez e solvência externa.
ros para atrair dólares que antes es- regime baseado em uma (obsoleta) verno nas eleições presidenciais des- Calculando para dezembro de 2018
tariam garantidos3. A taxa de câm- combinação de banda cambial com se ano. Contudo, a inflação alta e a a razão Dívida Externa de Cur-
bio se desvalorizou de 18,74 pesos metas monetárias, levando a uma expectativa de nova queda do PIB to Prazo sobre Reservas Internacio-
por dólar no começo de 2018 para política monetária fortemente res- apontam para um cenário eleitoral nais (indicador de liquidez externa),
20,54 em 24 de abril e depois para tritiva. A taxa de câmbio se estabi- difícil para a situação. encontra-se o valor de 1,36 para a
25,57 no começo de junho. lizou no último trimestre de 2018, O que explica a crise argentina Argentina e 0,18 para o Brasil. Ao
Diante da disparada do câmbio, mas voltou a apresentar trajetória e o colapso da estratégia econômica mesmo tempo, a razão entre o Sal-
a Argentina recorreu ao Fundo Mo- ascendente em 2019. Os resultados de Macri? O grande problema ar- do em Conta-Corrente e as Expor-
netário Internacional. Em junho, o em 2018 foram péssimos. O PIB gentino segue sendo a restrição ex- tações de Bens e Serviços (indicador
país fechou um acordo, obtendo li- caiu 2,5% e a inflação fechou em terna. Em uma economia com res- de solvência externa) para o final de
nhas de crédito da ordem de US$ 47,6%. O dólar fechou 2018 valen- trição externa, era inconsistente a 2018 aponta para –-0,37 no caso ar-
50 bilhões. Uma nova corrida con- do 38,85 pesos. combinação de liberalização co- gentino e -0,05 para o Brasil5. Em
tra o câmbio em agosto levou, no Em abril de 2019, o governo ar- mercial e financeira, realismo tari- suma, o Brasil tem um nível de vul-
final de setembro, a uma ampliação gentino apelou para congelamento fário, retirada de retenções e metas nerabilidade externa extremamente
da ajuda do FMI, totalizando agora por seis meses de preços de 60 pro- de inflação. As desvalorizações cam- menor do que a Argentina.
US$ 57,1 bilhões. Ainda em setem- dutos da cesta básica. Trata-se de biais – combinadas ao reajuste de Menos de vinte anos depois do
bro, o governo retomou as reten- uma medida desesperada para ten- tarifas em um contexto já inflacio- colapso do modelo neoliberal im-
ções. Por fim, no fim de setembro, tar conter a inflação – que alcançou nário – alimentaram a inflação que, plantado pelo presidente Carlos
por sua vez, foi realimentada pelas Menem, a Argentina optou por um
pressões por reajustes salariais pa- retorno a esse modelo, ainda que
ra repor perdas inflacionárias. Esse com roupagem diferente. Não é de
quadro foi agravado pela retirada, estranhar o novo desfecho melan-
no começo do governo, das reten- cólico. O filósofo inglês Bertrand
ções, dado que elas forneciam uma Russell costumava brincar: “Para
certa blindagem aos impactos infla- que cometer erros antigos se há tan-
cionários de desvalorizações cam- tos novos a escolher”? Na República
biais. Somente houve crescimento Argentina, os erros antigos parecem
e queda da inflação quando a taxa ter um apelo irresistível.
de câmbio real se apreciou, mas is-
so acentuou o déficit em conta-cor- * É professor adjunto do Instituto de Eco-
rente, acompanhado por uma ex- nomia da UFRJ (IE-UFRJ) e doutor em
Economia da Indústria e da Tecnologia pe-
plosão no endividamento externo. lo IE-UFRJ, com doutorado sanduíche na
O boom de IDE não ocorreu e o Faculdade de Economia da Universidade
que veio mesmo foi capital especu- de Cambridge e estudos de pós-doutorado
lativo para fazer operações de carry- no Instituto de Estudos Latino-America-
nos da Universidade Columbia.
-trade. A explosão de endividamen-
to de 2016-17 – somada à saída de 1 Agradeço os comentários de Eduardo
capitais em 2018 – só não levou o Crespo, Luiz Carlos Prado e Numa Mazat.
país ao default no ano passado em Erros e omissões remanescentes são meus.
função do suporte do FMI4. 2 Devo esse ponto a Fabian Amico.
Por sinal, as questões externas 3 Ver Bortz, P. & Zeolla, (2018, p.4). Ar-
gentina: from the confidence fairy to the (still
explicam os porquês de o Brasil cor- devilish) IMF. Critical Macro Finance.
rer poucos riscos de repetir a cri- 4 Devo esta última observação a Eduardo
se argentina. Se, em dezembro de Crespo.
2018, a Argentina tinha um mon- 5 Os indicadores utilizados foram sugeri-
tante de reservas internacionais da dos em Medeiros, C.; Serrano, F. (2001).
Inserção Externa, exportações e crescimen-
ordem de US$ 60 bilhões, o Brasil to no Brasil. In: Fiori, J.L.; Medeiros, C.
possuía aproximadamente US$ 374 (org.). Polarização Mundial e Crescimen-
bilhões em reservas. O mesmo pode to. Petrópolis: Vozes.
Fonte: Parecer do TCM sobre as Contas de Governo (2012-2017); RREO 2018; LOA 2019. Fonte: Parecer do TCE sobre as Contas de Governo (2012-2018); LOA 2019.
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Jornal Economistas / Julho
Economistas 2019
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14 Fórum Popular do Orçamento
Gráfico 3 – Evolução das metas físicas Gráfico 4 – Evolução das metas físicas
no MRJ x Investimento na SME: no ERJ x Investimento na SEEDUC:
Fonte: Relatório de gestão e avaliação (MRJ) 2012-2017 e FINCON. Fonte: Relatório de Produtos das Ações Realizada (ERJ) 2012-2018 e Transparência Fiscal.
desenvolvimento infantil que te- da brusca na construção/reforma foi realizada. O recente decaimen- creche ao ensino médio. São re-
nham sido inauguradas ou refor- de escolas: apenas uma meta foi re- to em ambas dimensões pode ser servados, inclusive, recursos pa-
madas de alguma forma no perí- alizada em 2017. O investimento relacionado com a redução da des- ra educação de jovens e adultos.
odo analisado. Foi acrescentada também atingiu sua menor cifra, pesa com MDE no Estado. Gerenciado pela União e compos-
também a meta "Imóvel alugado", R$ 27,4 milhões, neste ano. Até Contudo, para um estudo ade- to por todos os Estados, o Fundeb
pois, como se encaixa dentro das a data que foi escrito este artigo, quado do ambiente escolar, não tem como principal objetivo pro-
secretarias, supomos que seja re- a prefeitura não havia disponibili- podemos analisar somente sua in- mover a redistribuição pelo país
ferente ao aluguel de imóveis para zado o Relatório de Gestão e Ava- fraestrutura. Também é importan- dos recursos vinculados à educa-
abarcar instituições de ensino. liação do exercício de 2018, o que te que nos atentemos para a qua- ção e leva em consideração o de-
impossibilitou a coleta de metas lidade da atuação profissional. senvolvimento social e econômico
Município físicas. Isso demonstra, mais uma Nesse sentido, o Fundeb se desta- das regiões. Quanto à exigência
Neste âmbito, é difícil coletar vez, uma falta de compromisso ca pelo seu objetivo de valorização de que no mínimo 60% dos re-
informações quanto às naturezas governamental com a transparên- dos professores através da estipula- cursos do fundo sejam utilizados
da despesa da SME em bases de cia. Já o valor investido deste ano, ção de uma porcentagem mínima com a remuneração dos profissio-
dados de livre acesso. Devido a esta apesar de apresentar leve ascensão, que deve ser destinada à remune- nais do magistério da educação
opacidade, tivemos que recorrer ao não retornou aos patamares regis- ração do magistério ativo. básica em efetivo exercício na re-
sistema utilizado internamente na trados anteriormente. de pública, vale dizer que é cum-
Câmara Municipal, o FINCON. Fundeb prida com folga todos os anos em
Os valores investidos por ano da Estado No que diz respeito às fon- ambas as esferas governamentais.
SME, do Fundeb e da Multirio3, O valor máximo do investi- tes de recursos da MDE, a mais Apesar disso, o valor absoluto
contabilizados separadamente no mento estadual, de quase R$ 450 significativa, excluídos os ordiná- dessa quantia no ERJ caiu conti-
sistema, foram agregados a fim de milhões, se realizou em 2013. As rios provenientes de impostos, é o nuamente desde 2012, com re-
evitar distorção nos dados. metas físicas, por sua vez, só ti- Fundeb, que representa 40,5% e dução de mais de R$ 1 bilhão ao
O pico do investimento acon- veram seu ápice no ano seguin- 43,5% do liquidado entre 2012 e longo do período analisado. Dessa
teceu em 2015, quando chegou a te (gráfico 4), provavelmente pe- 2018 no Estado e no Município, forma, podemos argumentar que,
R$ 712,8 milhões. Enquanto is- lo mesmo motivo que levou a essa respectivamente. O modelo vigo- no âmbito estadual, o Fundeb não
so, o quantitativo de metas físicas defasagem no Município. De 2013 ra desde janeiro de 2007 e expi- exerceu seu papel de melhorar a
só atingiu seu máximo no ano se- até 2017, houve redução de 99,7% ra em 2020, assim, cabe ao Con- qualidade do ensino através da va-
guinte (gráfico 3). Possivelmente, no investimento, com reflexos pre- gresso debater a continuidade da lorização dos professores nos últi-
essa diferença deve-se a obras ini- ocupantes para os últimos dois sua existência. O fundo reflete mos anos. Entretanto, a remune-
ciadas em 2015, mas que só foram anos. Embora a previsão segundo um compromisso entre as esferas ração do magistério é apenas um
concluídas e, por isso, contabiliza- PPA 2015-2018 fosse de 306 me- federal, estadual e municipal pa- dos indicadores da evolução quali-
das como metas, em 2016. Com a tas físicas a serem executadas em ra com a educação básica, ao fi- tativa da educação, que será anali-
mudança de governo, houve que- 2016 e 2017 somados, nenhuma nanciar instituições de ensino da sada mais detalhadamente a seguir.
FÓRUM POPULAR DO ORÇAMENTO – RJ (21 2103-0121). Para mais informações acesse www.corecon-rj.org.br/fpo-rj e www.facebook.com/FPO.Corecon.RJ. Coordenação: Econ.
Luiz Mario Behnken e Econ. Thiago Marques. Assistentes: Est. Amanda Resende, Est. Daniel De Nadai e Est. Laura Muniz
BALANÇO PATRIMONIAL
ATIVO (EM R$) PASSIVO (EM R$)
REFERÊNCIAS MARÇO/2018 MARÇO/2019 REFERÊNCIAS MARÇO/2018 MARÇO/2019
ATIVO FINANCEIRO 8.619.465,25 7.650.581,61 PASSIVO FINANCEIRO 84.348,85 63.800,29
DISPONÍVEL 366.446,86 225.417,49 RESTOS A PAGAR - -
DISPONÍVEL VINCULADO A C/C BANCARIA 8.179.085,27 7.338.627,62 DEPÓSITOS DE DIVERSAS ORIGENS - -
REALIZÁVEL 32.050,54 44.653,92 CONSIGNAÇÕES 24.719,66 11.377,58
RESULTADO PENDENTE 41.882,58 41.882,58 CREDORES DA ENTIDADE 18.601,85 9.591,23
ATIVO PERMANENTE 26.340.960,01 25.972.848,93 ENTIDADES PÚBLICAS CREDORAS 41.027,34 42.831,48
BENS PATRIMONIAIS 1.769.117,78 1.792.795,44 RESULTADO PENDENTE 262.506,64 269.526,51
VALORES 57.098,94 52.320,22 DESPESAS DE PESSOAL A PAGAR 262.506,64 269.526,51
CRÉDITOS 24.514.743,29 24.127.733,27 PATRIMÔNIO(ATIVO REAL LÍQUIDO) 34.613.569,77 33.290.103,74
TOTAL GERAL 34.960.425,26 33.623.430,54 TOTAL GERAL 34.960.425,26 33.623.430,54