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sugestoes-para-incentiva-las
Publicado em NOVA ESCOLA 28 de Fevereiro | 2023

Dia da Mulher

Meninas e Matemática:
sugestões para incentivá-
las
Lutar contra o cenário de preconceito e desestímulo não é
fácil, mas há caminhos possíveis, que começam na sala de
aula
Rosiane Prates

Foto: Getty Images


Olá, colegas! Como mulher e professora de Matemática na Educação Básica, o
tema meninas na área de Exatas é sempre muito presente no meu dia a dia.
Porém ele ganha ainda mais relevância agora, no mês de março, no Dia
Internacional da Mulher, data que nos faz refletir mais profundamente sobre a
atuação, as vitórias e os desafios das mulheres na sociedade.
Quando consideramos as conquistas femininas ao longo dos séculos, em
especial nessa área, ficam evidentes dificuldades, preconceitos e ações
excludentes. Apesar de não existir nenhum estudo científico que ateste que os
meninos são melhores que as meninas com números, a sociedade muitas vezes
defende essa ideia e os incentiva mais. E pior: desencoraja e cria barreiras para
as garotas.
Segundo dados da Unesco, do total de estudantes matriculados em cursos de
Ciência, Tecnologia, Engenharias e Matemática (STEM) no mundo, somente 35%
são mulheres. Já no Brasil, apenas 31% dos cargos profissionais STEM são
ocupados por elas.
Por muito tempo, a figura da mulher foi culturalmente (e de forma exclusiva)
vinculada ao ser que cuida do lar, dos filhos e do esposo, e o envolvimento com
a área científica era majoritariamente masculino. Mesmo que alguma mulher
fugisse a essa regra – e temos excelentes exemplos –, muitas ficaram
invisibilizadas e só foram reconhecidas tempos depois.
Leia mais: Da Antiguidade a 2020, uma linha do tempo para mostrar que a
ciência também é delas
“Coisa para menino”?
Tudo isso nos permite uma reflexão ampla sobre as dificuldades e preconceitos
enfrentados por nós, mulheres. Eu, por exemplo, ainda no Ensino Médio,
identifiquei o apreço que tinha por estudar Matemática e Física, mas, quando
era oportuno expressar essa preferência, em boa parte escutava que era “coisa
para menino” e que seria melhor fazer outra formação que combinasse mais
com o perfil de menina. Sem dúvida, isso não foi um estímulo!
Porém o fato de ter seguido minha vontade e debater o assunto com vocês
hoje é um momento honroso, pois caracteriza a quebra de paradigmas e
estereótipos de gênero relacionados à docência e à pesquisa em Matemática.
Todo esse cenário mostra a necessidade de expandir o debate sobre a presença
feminina nas Ciências Exatas desde a Educação Básica.
Por isso, ter propostas e ações com foco em apoiar o desenvolvimento e o
engajamento das alunas é algo necessário e urgente, que deve ter início desde
o Ensino Fundamental.
Precisamos mostrar que elas também podem seguir a área científica, em
especial por meio da Matemática, ainda na fase escolar, com intuito de
descortinar muitas possibilidades de atuação e desenvolvimento profissional,
mesmo nos campos ainda dominados pelos homens.
Quando acreditamos no envolvimento e no desenvolvimento de garotas com e
por meio da Matemática, estamos valorizando a atuação da mulher na
sociedade e ajudando na desconstrução de preconceitos. Fora isso, também
estamos incentivando políticas públicas e a ação de entidades que tenham
como princípio apoiar e ampliar a presença delas em projetos e ações
científicas.
Mas faço aqui um alerta! O Brasil é grande em extensão territorial e
diversidade, aspecto positivo e ao mesmo tempo desafiador, pois o acesso a
essas propostas pode não acontecer no mesmo ritmo, gerando, assim,
desigualdades ou até mesmo centralização de políticas de apoio a meninas e
mulheres nas áreas de Exatas e científica. Por isso é cada vez mais urgente falar
sobre o assunto considerando também as questões de raça e
socioeconômicas.
Estratégias para engajar as meninas nas atividades
Lutar contra esse cenário não é fácil, mas há caminhos possíveis que começam
na sala de aula. Cara professora e caro professor, um primeiro passo é debater
o tema entre grupos, com intuito de aproximar os estudantes dessa realidade.
Leitura e pesquisa
Como alternativa, é interessante um planejamento que tenha como proposta a
leitura e a pesquisa sobre quem foram as mulheres que ganharam destaque
no decorrer dos séculos e na atualidade por suas descobertas científicas e
atuação na Matemática.
Mesmo sendo uma tarefa simples, isso permitirá o contato dos estudantes com
a temática. Sempre que recorro a essa prática, percebo algo relevante. Da
última vez que a apliquei em sala, foi notável como era algo inédito para
meninas e meninos, e, quando consideramos a presença feminina na
Matemática, é interessante que a discussão chegue a todos.
Assista a um filme com a turma
Nesse sentido, que tal trabalhar com o filme Estrelas além do tempo? Baseada
em fatos, a produção (dir. Theodore Melfi, 2h07) conta a história de três
cientistas negras que trabalharam na NASA durante a década de 1960, época
em que computadores ainda não eram utilizados para realizar cálculos
complexos, e colaboraram para a conquista espacial. Pode ser enriquecedor!
Dê voz às meninas
Outro ponto: não se esqueça de incentivar as meninas a participarem das
aulas! Crie estratégias para que elas possam se expressar, apresentar soluções
e compartilhar sem medo. Eu também incentivo a participação das minhas
alunas em olimpíadas de Matemática e tenho visto ótimos resultados.
Matemática e tecnologia
Sei que esta pode não ser a realidade de todas as escolas, mas, quando
possível, acho importante buscar parcerias com programas de formação e
capacitação que envolvam a Matemática e a tecnologia como recurso didático.
Por exemplo: atividades de robótica e uso de Arduíno, Scratch e linguagem
Python, bem como de aplicativos como Geogebra. Isso faz com que os alunos,
em especial as garotas, se familiarizem com esse universo e percebam que, se
quiserem, esse pode ser um caminho para se aprofundarem.
Compartilhei algumas sugestões para aplicar em sala. E você, como atua para
incentivar o protagonismo das suas alunas na área de Exatas? Aproveito para
desejar um Feliz Dia da Mulher para todas as colegas de profissão, alunas, para
todas as mulheres! Forte abraço e até a próxima!
Rosiane Prates é professora de Matemática dos Anos Finais do Ensino
Fundamental, atua há mais de dez anos na rede pública e já integrou o Comitê
de Avaliação do Município de Pinheiros (ES). Em 2022, participou da 4ª edição
do Mulheres na Ciência e Inovação, programa de formação para pesquisadoras
no Brasil realizado pelo Museu do Amanhã e o British Council. Também foi
professora-autora no projeto Planos de Aula de Matemática, realizado pela
Associação Nova Escola. Além disso, tem participação como voluntária em
projetos socioeducacionais e de empreendedorismo. É licenciada em
Matemática e Pedagogia, graduada em Administração, especialista em Ensino e
Currículo e em Matemática na Prática.

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