You are on page 1of 279
Emico Okuno Elisabeth Yoshimura Bey cree Mecr roel sae MeL Be Hrehatec te ReCo beso ast) Fire cIic os te op eB eRe Boat cera tol cone tel Ret 4 mais importante no dia a dia das pessoas, com Evelectuolepren oar tolio Essent cies cy Pero CCM. eMC ace noctCy PEC TNeCEe Me cue tek Ba erential Re aca rad Pes Be erate Ge crclot Webel Hateeeta sr Se CMO ose Roce atta a Teenie neat lNeed ssn radioisétopos, o decaimento nuclear é a interacao da ica das Radiacées, desde os elementos quimicos e os Feet Tete ola Bre ie MACE rte eee Rete EWM cor tebtollceitoeecieaMel Melatcta ORR colteeTs) pet Ory ee Cer anes te eRe Ce ane ce cee eee a acstete eat CeCe nore horizentes do leitor com as biografias de cientistas de eee O be er Went lL een Tacos (eRe eal exercicios. Uma obra fundamental para alunos de CU Recerca este a acee Yona id Engenharia Clinica, assim como referéncia para todos Peyote anc team ctl Taee iene l | ° ol750¢ Prefacio Somos, com muito orgulho, duas professoras, Costamcs de ensitiar, de dar auies, de interagir com alunos, e fazemos dessa arte ama missio prazerosa, inclusive porque também aprendemos em todo esse proceso. Nesses tempos em que a educacao néo tem zecebido a atencéio que merece, estamos nos esforcando para dar nossa centri- buicdo. Eo minimo que podemos fazer para retribuir a instrugao que recebemos gratuitamente ao longo de nossa vida estudentil, além de acreditarmos ser a educacio o pilar mais importante para ¢ futuro de qualquer nagio, E temos certeza de que fizemos ~ e fazemos - diferenga para muites alunos que passaram pelas nossas maos. Somos também pesquisadoras, o tempo todo, inclusive quando lecionamos e quando escrevemos um livre, Iniciarros ministrando disciplinas relacionadas a Fisica das Radiagdes, a partir de 1987, no Instituto de Fisica da Universidade de So Paulo, ¢ fomos questionadas pelos alunos sobre a existéncia de bibliografia em portugués. Procuramos suprir essa necessidade com apostilas ¢ textos de apoio. A decisdo de transformar esse material em livro-texto veio, finalmente, por nao existir nada similar em lingua portuguesa, pelo aumento do nimero de cursos de Fisica Médica criados recentemente no Brasil e por termos acordado com @ Editora Ofcina de Textos pela publicagio. Essa determinagéo nos trouxe imensa satisfacdo e entusiasmo, mas também muito trabalho e grande responsebilidade. Pelo fato de o projeto deste livro vir sendo pensado e trebelhado hé varios anos, acreditamos ser uma cbra madua, porque muito do contetido do texto e os exercicios j& foram testados com nossos alunos, que serviram de cobaia, no bom sentido. Olivro consta de 13 capftulos. © Cap. 1 6 uma introducao & tecria atémica e & Fisica Nuclear. 0 Cap. 2 discute os raios X e sua atenuagéo. © Cap. 3 discorre sobre elementos quimicos ¢ radioisétopos. 0 deeai- mento nuclear de uma forma gersl é abordado no Cap. 4¢ os tipos de decaimente, no Cap. 5. 0 Cap. 6 apresente uma introducdo acerca da interagdo ca radiacio com a matéria. Mais detalhadamente, os Caps. 7 €8 abordam, respectivamente, a interago de particulas carregadas e de fotons. No Cap.9 sfo apresentadas as grandezas e as unidades de Fisica das Radiagées e, no Cap. 10, os efeitos ioldgicos. Os detectores de radiagdo estiio no Cap. 11; as aplicacées das radiagGes, no Cap. 12 € a introdugao a protegdo radiolégica, no Cap. 13. Entremeanio o texto, ha exercicios resolvidos, para melhor aprendizado e entendimento do aluno, e uma lista de exercicios em quase todos os capitulos, além de historias relativas a cada t6pico. No final de cada capitulo, coletamos dados bibliogréficos de cientistas mais expressivos que colaboraram para a pesquisa ¢ o ensino na drea, e escrevemos uma pequena biografia. f possivel notar que nem todos os capitulos tém 0 mesmo aprofiundamento em cada tema, sendo possivel exploraro livro fora da orem que escolhemos, dependendo das necessidades do leitor. 0 texto no trata de Fisica das radiagGes nao ionizantes. Apresente obra pode ser utilizada em cursos de Fisica, Fisica Médica, Engenharia Clinica, ‘Tecnologia em Radiologia, nos cursos de apr'moramento para fisicos na drea da saiide e nas pés-graduagSes que possuem temas relacionados com a Fisica Médica. Pode-se utilizé-la coms livro-texto ou para consulta ou aprofundamento em alguns de seus tépicos. Também professores de Fisica do ensino médio podem usufruir desta obra para sanar duividas e aumentar os conhecimentos na area, jé que, apesar da sua importincia no mundo modemo, a Fisica de RadiagSes quase nunca é inclufda nos curriculos das licenciaturas em Fisica Nosso desejo mais profundo é que este livro seja, de fato, util para o aprendizado de Fisica das Radiacées lonizantes pela comunidade envolvida profissionalmente com o tema, Nos varios anos dedicados & produgdo deste livro, foram muitos os colegas ¢ amigos que nos auxiliaram das mais diversas maneiras - com cessio dz material, sugestdes de bibliografias, discussées, incentivos e palavras amigas ~, que no vamos conseguir nomear ¢ agradecer a todos, Para simbolizé-los, escolhemos um amigo, 0 nosso primeiro leitor, Almy A.R, da Silva, a quem agradecemos os comentérios, a dedicagdoe a rapidez com que nos deu retorno. Agradecemos também aos nossos ex-alunos do Instituto de Fisica da USP, por terem ajudado na producio do texto e por manterem em nés o entusiasmo pela docéncia. A toda equipe da Editora Oficina de Textos, representada pela Shoshana Signer, pelo esmero # eficiéncia na producio da presente obra, o nosso muito obrigado. Somos gratas, ainda, a nossos familiares, que nos deram retaguarda para essa tarefa intensa, principalmente durante a rete final. Sao Paulo, 19 de fevereiro de 2010 Emico Okuno Elisabeth Mateus Yoshimura Sumario Radiacéo, 11 1.1~Ieteopugio, 11 1.2 RADIAGRO LETROMAGNETICA E © CORFO HUMANO, 12 1.3 Aromos, mouicutas 5 fons, 16 1.4 —ATSTRUTURA ATOMICA, 20 1.5 MODELOS ATéMICOs, zo 1.6 ~ MopeLo br Bou po Aromo De sipaocémo, 22 Raios X, 33 2.1~InTRODUGRO, 33 2.2 PiopugA0 De nALOsX, 36 2.3 Arenvacho Dos Ratos X, 40 Radioisstopos, 53 3.x InTRODUCHO, 53 3.2 ~ eG TorOS = napiowsror0s, 54 3.3 Un Pouce De msréRta, 55 3.4 PRODUGAO ARTIFIGISL DS RADIOISOTOFOS, 59 3.5 -NGIA-VIDA FISICS, MBIA-VIDA BIOLOGICA = MBIA-VIDA BFBTIVA, 61 3.6— CoNTAMMNAGHO AWATENTAL CoM RADIOISOTOPOS, 62 Desintegracdo nuclear, 69 4.1 ITRODUGAO, 69 4.2—Massas arénacas,73 4.3 RAZORS PARA A DESINTEGRACAO NUCLEAR, 74 4.4~ DecammeNTo NUCLEAR, 77 4.5 ~ ATIVIDADE DE UMA AMOSTRA RADIOATIVA, 79 4.6~Decanaenros sucessivos, 81 Tipos de decaimento, 87 ‘5:1 ~ ESTADO DA ARTE EX Fisica DE 1900 4 1940, 87 5.2-Det 5.3 DECAIMENTO BETA, 92 ZNTO ALFA, 88 5.4—EuissAo ne stfrzons AUGER, 93, 5.5 —DECAIMENTO GAMA, 101 5.6 ~ IISTARLLIDADE DE EADIOISOTOFOS, 102 Interagéo da radiacio, 109 6.1 InTRopUGKO, 109 6.2 ~ RADIACAO DINETAMENTE IONIZANTE: PARTICULAS CARREGADAS RAPIDAS PESADAS, 370 6.3 — RaDIAGAO DIRETAMENTE IONIZANTE: PARTICULAS CARREGADAS RAPIDAS LEVES, 122 6.4~ RADIAGAO INDIRETAMENTE IONIZANTE: FOTONS, 123 6.5 — RADIAGRO INDIRETAMENTS ONIZANTE: NEUTRONS, 116 6.6 —DePosigAo DE ENERGIA NO MEIO PELA RADIAGAO! DOSE ABSORVIDA, 127 Interagio de particulas carregadas répidas com a matéria, 125 7.1 ~ CARACTERIZAGAO DAS INTERAGBES, 15 7.2 — PODER DE FREAMENTO, 127 7.3 - PARTICULAS CARREGADAS PESADAS, 128 7-4.~ PARTICULAS CABREGADAS LEVES: ELETRONS E POSITRONS, 134 7.5 — DEPOSIGAD DE ENERGIA NA MATERIA POR PARTICULAS GARREGADAS, 141 Interagdo de raios X e garia com a matéria, 151 8.1 ~ ATENVAGAO DO FEIXE DE 7OTONS, 151 8.2 - ESPALHAMENTO COERENTE OU RAYLEIGH, 153 8.3 —_ErEITo Compron, 153 8.4 —EFEITO FOTOELETRICO, 159 8.5 PRODUGKO DE PAR ELETRON-POSITRON, 162 8.6 - O COBMIGIENTE DE ATENUAGAO, 164 8.7 ~ ENERGIA TRANSFERIDA AG MEIO NAS INTERAGBES DE RAICS X E.GAMA, 768 8.8— Aruicagbes , 169 Grandezas e unidades, 181 9.1 ~Intz0DUGhO, 181 9.2 ~ GRANDEZAS £ UNIDADES, 182 9:3 - GRANDEZAS FISICKS, 783, 9.4 ~ GRANDEZAS DE PROTEGRO, 193 9.5 ~ GRANDEZAS OPERACIONA’S, 195 9.6 ~ Resume, 197 Efeitos biolégicos das radiagdes nos seres vivos, 203 30.1 ~ INTRODUGAO, 203 10.2 ~ 08 ESTAGIOS DA AGRO, 204 10.3 MECANISMOS DE AGRO EAS RADIAGOES, 204 10.4 ~ NATUREZA DOS EFEITOS at Go1cos, 22 30.5 ~ INDUGO DE OUTRAS DOENCAS AESULTANTES DE EXFOS:GA0 A RADIAGHO IONIZANTE, 275 10.6 ~ RESULTADOS RECENTES DOS EPEITOS BIOLEGIGOS, 220 10,7 = RESUMO DA DIFERENCA INTRE O$ EFEITOS DE DOSE ALTA F DOSE BAIXA, 221 10.8- HORMESIS, 227 Detectores de radiagao, 231 21.2 INTRODUgO, 237 1.2 DETEGTORES A GAS E © CONTADOR GEIGER-MULLER, 235 11,3 ~ DETECTORES CINTILADORES, 238 11.4—DETECTORES DOSIMETRICOS: DETECTORES LUMINESCENTES E CALORIMETRO, 242 Aplicacées da radiacio ionizante, 249 I-A -AOES INDUSTRIAIS, 249 12.2 AnLicagaes MEDICAS, 254 Protecio radiolégica, 263 33,1 InzRoDUGAO, 263 13.2 EVOLUGKO Dos VALORES ne LinazE DE Dost, 264 13.g~ MovEl0 DA RELAGAO ENTRE EFEITO E DOSE, 266 13.4~ CALCULO DE Bisco, 270 13.5 BASE £ ESTRUTURA Do SISTEMA DE PROTECAO RADIOLOGICA, 272 13.6- ExosigKo ocupaciowal, 273 13.7~ ReGRAS BASICAS DE PAOTEGAO RADIOLOGICA, 274 Bibliografia, 283 Indice remissivo, 291 Radiacao 11 INTRODUCGAO Podemos afirmar que radiaco é energia em ténsito, da mesma forma que calor é energia térmica em transito © vento é ar em transite. Portanto, radiagao uma forma de energia, emitida por uma fonte e transmitida através do vacuo, doar cu de meios materiais. Consideram-se radiacées particulas atémicas ou subatémicas ener géticas, tais como particulas a, elétrons, pésitrons, prétons, néutrons etc,, denominadas radiagdes corpusculares, ¢ as ondas eletromagnéticas, também chamadas radiagdes ondulatérias. As particulas a (niicleo do dtomo de hélio), 6 (elétrons) e B+ (pésitrons) so emitidas espontaneamente de mticleos instaveis de atoms. Além disso, feixes dessas e de outras particulas podem ser produzidos em aceleradores de particulas ou em reatores nucleares. ‘Uma onda eletromagnética é constituida de campo elétrico e campo magnético oscilantes, perpendiculares entre si, que se propagam no ‘vacuo com velocidade da luz ¢ = 3x 10° ms~ Dependendo da frequén- cia da onda, ela recebe denominagées diferentes, como micro-ondas, radiagdo infravermelha, luz visivel, radiagao ultravioleta, radiacao gama, em ordem crescente de frequéncia. A radiagao eletromagnética 6 também denominada energia cletromagnétice ou energia radiante. Durante varios séculos, houve discussGes acaloradas sobre a natu- reza da luz entre os adeptos da teoria ondulatéria ¢ da teoria corpus- cular, A teoria meis modema foi desenvolvida a partir do trabalho de Max Kaz] Ernst Ludwig Planck, em 2901, e de Albert Einstein, em 1905, com a formulagao da teoria dos quanta. Segundo esse teoria, a radiagdo eletromagnética ~e portanto a luz - € emitida e propage-se em forma de pequenos pulsos de energia - ou quantum de energia - chemados fétons, que sdo particulas sem carge e com massa de repouso nula, que se propagar com a velocidade da luz. 12 A sohugio unificada, a qual s luz pode ser uma onda e, 20 mesmo tempo, um corpiisculo, dependendo da forma como o observader interage com 0 fendmeno luminoso, surgiu com a teoria da dualidade onda-particula, desenvolvida a partir de 1924 por Louis-Victor de Broglie. Essa dualidade foi estendida a todas as particulas, com a afirmacGo, por Louis de Broglie, de que: a toda particula esté associada uma onda, ¢ a toda onda est associada uma particula. A radiacdo interage com corpos, inclusive o humano, depositando neles sua energia. 1.2 RADIACAO ELETROMAGNETICA E © CORPO HUMANO. No caso da radiacdo elecromagnética incidente em corpos no ar, parte de sua intensidade pode ser refletida na interface ar-pele e perte, transmitida através do compo. Intensidade de uma onda é a quantidade de energia propageda por unidade de drea e tempo, expressa em W/m*. Os coeficientes de reflexéio e de transmissao que indicam os percentuais de intensidade refletida e tansmitida, respectivamente, dependem muito da frequéncia v da onda eletromagnética e do meio que absorve a cnda. A Fig. 1.1 mostra o espectro eletromagnético com frequéncia v, comprimento de onda A da onda eletromagnética e energia E do foton correspondente cbtida pela Eq (1.1). Ela foi proposta por Albert Einstein, que se baseou 20 conceito de quantizacao introduzido por Max Planck, iz E=nvehs ay onde h é a constante de Planck e vale 6,63 x 10-™ J-s = 4,14 x 10-15 eV's, ec &a velocidade da luz no vacuo, igual a 3 x 10®m-s~*, Aqui usamos a correspondéncia: 1eV = 1,602 x 10-19}, A unidade elétron-volt nao perience ao SI, mas sew uso traz facilidades, porque a energia de um foton de 500 nm 2,48eV, e em joule, um niimero muito Ppequeno: 3,98 x 10-"9), - Infravermelhc alos Xe Gama Ukravioleta | 124xt0% eV 124x004 eV 12,4e¥ 1,24Mev_ Energia do foton G nto Ter sor 10 08 to? to* e+ s9# 10% 10" Seon ait i = 3x10? 3xd0* sct0* 3108 3x10" asto™3.aol*sxior*aaoMaag” —Frequendia (Hz) [Energia | Forno de i elewica | |micro-ondas 60 Hz 2.450 MHz Rédio AM ‘Telefone celular 53.a 1.606 kHz 900 MHz Radio, TV, FM Radiagio| Radiacao 88-108MHz ——naoionizante’ ionizante Fig. 1.1 Espectro da -adiacso eletromagnética Podemos agora definir intensidade de radiacdio eletromagnética monoenergética, também conhecida como monocromética, como o ntmero de fétons N, multiplicado pela energia de cada foton, por unidade de érea e tempo: Fisica DAS RADIAGOES re EL Nay At AE A Tab. 1.1 lista as principais faixas do espectro eletromagnético com suas respectivas frequéncias, comprimento de onda da onda eletromagnética e energia do féton. A separacdo em faixas nao é muito rigorosa, podendo haver sobrezosicao entre elas, De forma muito geral, podemes dizer que as denominacées diferentes por faixas de frequéncia refletem tipos diferentes de interacSo, Tab. 1.1 SEPARAGAO DO ESPECTRO ELETROMAGNETICO EM FAIXAS Radiacggo Frequéncia Comprimento Energia do féton eletromagniéstica de onda ev) raios X e gama > 3PHz < 100 nm >12 Ultravioleta vc 3PH2-1,07PH2 = 100nm—280nm 12,42 4,42 uve 107 PH2-0,952 PH2 —_280nm—315nm 4,42 -3,94 UA O.952PH2-0,75PH2 ——-315nm—400nm 3,94-3,10 . O.75PHz~0,A28PH2 = 400nm—700nm 3,10-1,77 luz visivel Infravermelha IVA 3857Hz - 214 THz 780am—1,4pm 1,59 -0,88 vB 214TH2— 1007Hz 1,4um— 3,0 um 0.88-0,414 NC 100 THz ~300GHz 3.0pm—1,0mm 0,414 -1,24x10-3 radiofrequencia 300GHz — 10kHz 1mm —30km muito pequena Imicro-onea 300GHz—300MHz 4 mm—1m: frequéncia extrema- 3002-0 10 m-—+ 0 extremamente mente baina pequena 0: M (mega) = 10°: 6 (Giga) = Thera) = 10%; ? (pet A identificacdo das radiagSes por faixa de frequéncia como sendo onda eletromagnética foi feita por diferentes cientistas a partir de 1861, conforme relecionado no Quadro 1.1. Max von Laue realizou experimentos de difragio de raios X com cristais de sulfato de cobre que serviram de rede de diftagio. As figuras obtidas mostraram pontos de interferéncia, que o levaram a estabelecer a natureza eletromagnética dos ra:os X. 0 titulo do discurso de Prémio Nobel proferido por von Laue durante a premiacdo em 1914 foi: Concerning the detection of X ray interferences. Em 1913, E, Rutherford e E. Andrade estabeleceram a Quadro 1.1 RADIAGAO, AUTCR € ANO DE IDENTIFICACAC Radiagao Autor Ano luz visivet ames Clerk Mawel 1861 Radiacao infravermelna Friedrich Wilhelm Herschel 1880 Radiacdo ultravioleta’ Johann Wilhelm Ritter 1881 Raios X Max Theodor Felix von Laue 1912 Raios game Emest Rutherford e Edward Andrade 1913. 1 Radixao 3 4 natureza eletromegnética dos raios gama, com experimentos de difracdo. No perfodo 1886- 1892, Heinrich Redolf Hertz e Guglielmo Marconi realizaram experimentos com ondas eletromagnéticas ne faixa de micro-ondas. Entretanto, a palavra micro-onda s6 foi usada pela primeira ver em 1932, por Nello Carrara, em um artigo cientifico. 1.2.1 Absorcio da radiagao eletromagnética © conceito intuitive e muito comum de que, em um dado meio, quanto maior a energia a radiagio eletromagnética, maior 2 penetraco, é errado, Em primeizo lugar, temos que considerar 0 meio, Costumamos dizer que um dado material é transparente quando ele transmite luz visivel, isto é, ndo a absorve, como é 0 caso do vidro, por exerplo. O vidro & também bastante transparente as ondas de rédio, mas razoavelmente opaco as radiagdes UV eIV. Um centimetre de vidro comum bloqueia cerca de 50% da radiacio UV de 316nm. ‘As micro-ondas penetram facilmente os vidros, mas sao fortemente absorvidas pela 4gua. A radiacio IV é fertemente absorvica tanto pelo vidro quanto pela agua. Como se pode cbservar, a penetracdo ou transmissio de um dado material ndo é fungéio monotonicamente crescente ou decrescente com a frequéncia da onda eletromagnética. Quando a absorcio & grande, é porque a probabilidade de interaco é grande e,em razdo disso, a transmissio & pequena. A transmissio de uma onda eletromagnética em um meio obedece, em termos gerais, a uma lei exponencial. Por esse motivo, define-se « profundidade de penetracio de ume onda cletrorragnética em um dado meio como a disidincia percorrida por ela até que sua intensidade seja reduzida a 1/e (cerca de 36,8%) do valor de entrada, ou a distancia até a qual 63,2% da energia radiante é absorvida pelo meio. Nosso corpo absorve radiagio eletromagnética de todo espectro diferentemente em forma e grau. As células do corpo respondem de forma diferente a radiacdo eletromagnética de uma determinada faixa do especto. Os campos elétricos das ondas eletromagnéticas com frequéncia de 60 Hz, emitidos pelos condutores de energia elétrica, por quase nao penetrarem ¢ corpo humano, agem na superfi- Cie, diferentemente dos campos magnéticos de mesma frequéncia, que penetrem facilmente sem, no entanto, softer atentiacio significativa, visto que a permeabilidade magnética do meio biolégico, inclusive do corpo humano, é quase idéntica & do ar. Ambos 0s campos induzem movimento de cargas elétricas, podendo criar distribuicdes nao homogéneas de carga no meio. A profundidade de penetraco em tecido com alto contetido de gua, como o muscular, das ondas curtas com frequéncia de 27,12MHz, utilizadas em fisioterapia, é de 14,3cm; das ondas ao redor de 900 MHz, de telefonia celular, € de 3,0cm, e das micro-ondas de 2.450 MHz usadas em fornos é de 1,7. cm, como mostra a Fig. 1.2. Em tecidos com baixo contetido de gua, como 0 0880, esses valores sao, respectivamente, 159m, 17,7cm e 11,2cm. Como se pode perceber, a ransparéncia de tecido ne faixa de radiofrequéncia diminui com o aumento da frequancia da onda eletromagnética. Na faixa entre 100 kHz e 1GHz, a interac da radiagdo com ¢ tecido produz aquecimento por meio de processos microscépicos de movimento de mo.éculas, como rotago e torgéo em meio viscoso. Fisica vas RADIAGOES Profundidade de penetracio (m) 1 10 100 1.000 10.000 Frequéncia (MHz) - Tecido com baixe contedde de agua Tecido com alto contetido de agua Fig. 1.2 Frofundidade de penetracdo da radiacdo eletromagnética em tecido com alto e beixo conteido de agus em funcSo ds frequéncia ds onda de 1 a 10* MHz Continuando a aumentar ¢ frequéncia da onda eletromagnética, passamos para a faixa da radiaco infravermelha (IV) € luz visivel. A radiagao IN, que também causa aquecimento por meio do aumento de atividade rotacional de moléculas, é mais fortemente absorvida do que as micro-cndas pelo corpo. A maxima penetracdo na pele pode chegar a Smm. para IVA e diminui na regio do IVB e IVC. Para luz visivel na regiao do vermelho de 7001nm, também a profundidade de penetracdo pode atingir ao redor de 3mm. A Fig. 1.3, mostra o grafico de profundidade de penetragdo em funcdo do comprimento de onda da huz visivel ¢ infravermelha, Pela figura, vemos que a penetracdo da radiagio depende, de forna complicada, do comprimento de onda. Comprimento de onda {nm) 1.000 2.000 3.000 4.000 5.000 6.000 7.000 Eg 7 +") Camadacémea as ve piderme eS wo zs ae Derme ge ae Ba Se 4 js pee a Camada subeutanea Se = Fig. 1.3 Profundidad: de penetracdo da radiagdo infravermelhe ne tecido em fungéo do comprimento de once Fonte: amos for infrared cabins; adaptado do folheto da Philips Lighting 1. Radiacao. 15 ‘A seguir, em frequéncias mais altas, vem a radiagao UV. Sua penetracéo na pele é muito menor do que a éa RIV ou a da luz visivel, ¢ é tanto menor quanto maior for a energia do féton, como se pede ver na Fig. 1.4. No caso do olho, 2 radiagas UVC deposita toda a WA UNS UVC energia na cémes; jé para @ UVB de 30am, 92% da r 0 50% ase Is energia é depositada na cérnea, 6% no humor aquoso a0 2 2% no cristalino. A radiagao UVA de 340 nm deposita e 9.5% Late a A oe = | FE % 37% da energia na cémea, 14% no humor aquoso, 48% 3 no cristalino e 1% no humor vitreo. A radiacao UV \ 120 3 nao a‘inge a retina, motivo pelo qual nao a vemas. 160 5 Lembramos que os insetos de uma forma geral enxer- é gam aradiacdo UY. ¥ , 5 200 Passando pare raios X e gama, cujos ftons pos- S suem energia maior do que 12 eV, de novo a penetracio volta a aumentar, Fétons de raios X e gama podem 1% - atravessar 0 corpo e, em exames radiol6gicos, #0 Sukcuténeo J detectados por filmes de raios X. Fig. 1.4 Porcentagem de penetracgo da rediacéo ultravileta Neste livro néo trataremos de radiacdes eletromag- napale néticas nao ionizantes. 1.3 ATOMOS, MOLECULAS E [ONS Tudo que existe na natureza € feito de étomos que, com grande frequéncia, se unem para formar moléculas, A neutralidade elétrica que existe nos atomos é mantida na molécula, uma vez. que o ntimeroée cargas positivas (prétons) é 0 mesmo que o de cargas negativas (elétrons) de uma molécula, mesmo que algumas partes sejam localmente mais negativas ou positivas. Se uma ligagao cuimica que mantém uma molécula coesa for rompida, os fragmentos resultantes poder: ndo mais manter neutralidade elétrica, tendo um dos fragmentos ma‘s ou nienos elétrons que outro fragmento. Quando um atomo perde ou ganha um elétron, diz-se que ele se transformou em um fon, que é positive no primeiro caso e negativo, no segundo. Se uma molécula perde um elétron, uma ligagdo quimica entre os étomos de uma molécula pode ser rompida e, como consequéncia, haver a formacao de fons moleculares, denominados radicais. Tanto os fons atémicos como os moleculares sao entidades muito mais reativas do que dtomos ou moléculas neutros, 1.3.1 Radiagbes ionizantes Uma radiagao é considerade ionizante se for capaz de arrancar um elétron de um dtomo ou de uma moléculs, a0 qual ele est ligado por forga elétrica; caso contrario, é considerada nao ionizante, Quando um elétron é ejetado de um atomo, forma-se o par fon positive - fon negativo (elétron). 0 termo radiagao ionizente refere-se a particules capazes de produzir 16 Fisica bas RaDiacoes ionizacdo em um meio, sendo diretamente ionizantes as particulas carregadas, como elétrons, pésitrons, prétons, particulas a, ¢ indiretamente ionizantes as particulas sem carga, como fétons ¢ neutrons. Com esses tltimos, a ionizagdo em série é produzida pela particula carregada que se origina de sua interacdo com a matéria. Neste livro utilizaremos simplesmente o termo radiago para todas as radiacdes direta ou indiretamente ionizantes. Lembramos que a energia total de um eléton em um dtomo é regat va, significando que o elétron esté ligado ao 4tomo. A energia total do elétron no estado de menor energia, chamade estado fundamental, do étomo de hidrogé é de ~13,6eV. Para arrancer esse elétron, precisamos fornecer-Ihe energia de modo que, no limiar de libertagio da atrag arrancar esse elétron do dtomo de hidrogfnio, precisamos fomecer-Ihe no minimo +13,6eV, , Por exemnpl coulombiana do préton, sua energia fique igual a zero, Isso significa que, para que é chamada energia de ionizacdo. Se a energia fornecida for maior do que +13,6¢V, 0 elétron sai com ensrgia cinética. Pars elétrons das camadas mais internas, nos casos de atomos com mais de trés elétrons, costumamos usar 0 termo energia de ligaco, em vez de energia de ionizacio. Novamente seu valor é o mesmo que o valor da energia total do elétron naquele temo com sinal positive. Aenergia necessdria para arrancar um elétron da tiltima camada eletronica de um atomo, ow seja, da camada em geral mais afastada do micleo e, portento, mais fracamente ligado, varia de dtorno para étomo, sendo no maximo de 24,6eV para o caso do He, eno minimo de 3,9 eV para o Gs. Em geval, os elementos alcalinos, ott seja, Li, Na, K, Rb e Gs, so os mais facilmente ionizaveis, pois eles tém um tinico elétron na tiltima camada, fracamente ligado a0 nicleo: 08 outros elétrons fazem blindagem do campo elétrico atrativo do niicleo, ea forga que liga o tiltimo elétron ao tomo é equivalente a atracio coulombiana entre ele e um proton no mticleo. Os elernentos com cariada completa (como os gases nobres) so aqueles que necessitam de maior energie de ion'zagdo, como mostra a Fig. 15. Periode Periodo wpe ripe Perfodo Periodo Numero atomico Z Fig, 1.5 Energia de ionizacto de elétron de valencia versus nimero atOmico. 1. Ratiageo ” 18 Por outro lado, para arrarcar um elétron das cemadas mais internas, que também ocorre em interacdes com a radiacio ionizante, a energia necesséria é da ordem de keV, € 0 valor aumenta a medida que aumenta o ntimero atfimico. Como na camada eletrénica K s6 hd dois elétrons, eles sentem a ‘orca de atracdo clétrice devida a praticemente todos os prétons do aticleo. A Tab. 1.2 mostra alguns elementos quimicos com seu nimero atémico Z, energia de ligagdo Bg, de um elétron da camada K, Bi, de um elétron da camada L e energia de ionizagdo Wy para arrancar um elétron de valéncie (da tiltima camada). Pela Tab. 1.2, pode-se observar que Bx ¢ 8 aumentam & medida que 0 Z aumenta, o que nao é verdade para Wy. Tab. 1.2 ENERGIA DE LIGAGAG DE UM ELETRON (15) DA CAMADA K, DE UM ELETRON (25) DA, AMADA L E DE IONIZAGAO DE UM ELETRON DA CAMADA DE VALENCIA DE ALGUNS ELEMENTOS QUIMICOS Elemento Numero Energia de Energia de Energia de quimico atémicoZ —_—ligago Bx (keV) —_ligacao Bi (keV) —_ionizacéo Wy (eV) c 6 0,29 0,016 3 Al 13 1,56 0,12 60 cu 29 8,99 1,10 aw Mo 42 20,0 2,87 am Rh 45 23,2 3,42 74 Ag 47 255 381 76 w 4 69,5 121 79 Po 82 88,0 158 74 A energia necesséria para formar fons de moléculas pequenas é da mesma ordem de grandeza que a energia de ionizacio dos étomos constituintes. For exemplo, as energias de jon:zagao das moléculas Nz, 02 & CO? so 15,6eV, 12,1eV e 13,8eV, eas de 4tomos de N, Oe C sao 14,5 eV, 13,6 eV e 11,3eV, respectivamente. 1.3.2 A radiagao ultravioleta no contexto da radiobiologia H4 muita polémica quanto & radiacdo UV ser ionizante ou nao. Pela seco anterior, percebe-se {que isso estd intimamente relacionado aos étomos do meio. A radiagtio UV, cuja faixa de comprimento de onda vai de 100 nm a 400nm e esté no limite entre a radiagdo ionizante © ando ionizante, é considerada no ionizante usualmente no contexto da radiobiologia (Attix, 1986), por ter uma capacidade de penetregio na pele menor que a da luz visivel. Além disso, os fétons da radiagdo ultravioleta provenientes do Sole que atingem a Terra (UVA e UVB), aos quais os seres vivos estdo mais expostos, tém energia no intervalo de 4A2a3,10eV, A Tab, 1.3 lista os quatro principais elementos em percentual de peso do corpo humano ¢ suas respectivas energias de ionizacao. Nenhum desses elementos pode entéo ser ionizado porum féton da radiaco UVA ou UVB, e praticamente nem mesmo por um féten UVC, cuja energia maxima é de 12,42ev, Fisica DAS RADIACOES A International Commission on Radiation Units Tab. 1.3 OS QUATRO PRINCIPAIS ELEMENTOS QUIMICOS ‘and Measurements (ICRU), em sua publicago 60(1998), CONSTITUINTES DO CORPO HUMANO sugere que a escolha do limiar de energia abaixo do Elemento % de peso do Energia de qual a radiaco nao é mais ionizante deperde da quimico corpo humana —_ionizacéo (eV) aplicagéo, e que, em radiobiologia, o valor de 10eV 4 105 13,6 pode ser apropriado, Para a zadiacdo eletromagnética, ° 67,7 13,6 © limite entre radiacdo ionizante e no ionizante é = i Na N Ba 145 considerado 12,42 eV, energia maxima dos fotons de radiagao UVC. 1.3.3 Energia média para formar um par de ions Accnergia média W necesséria para formar um par de fons num gés por uma partinula carregada ‘com energia cinética inicial K 6 dada por: wes 1.2) i 4.2) onde WV é 0 ntimero médio de pares de fons formados no gés, quando a energia cinética K Ga particula for totalmente dissipada no gés. 0 processo de formacio de pares de fons é estatistico, 0 que leva a necessidade de obter valores médios para NV e W, levando em conta um grande numero de particulas carregadas i ticas interagindo no mesmo meio. O valor de W depende da composicio do gis, do tipo de particula e de sua energia, € tem sido determinada experimental ¢ teoricamente ao longo desses anos. Uma particula carregada em um meio interage causando ionizagio, excitagao e subexcitagdo que aquece o gfs ‘instantaneamente, gastando para isso, respectivamente, cerca de 3/5, 1/5 ¢ 1/5 de toda a sua energia, no caso de gases nobres (He, Ne, Ar). Esses valores sio ligeiramente diferentes para gases moleculares (Hz, Nz, 02, COz), para os quais a energia gasta com ionizaco é pouco mais de 2/5 de K. Dessa forma, como na energie média W gasta para formar um par de fons estd inclufda a parte usada na excitacdo e aquetimento, W é sempre bem maior do que Wy. Em um dos primeiros trabalhos importantes de Louis Harold Gray, publicadc em 1929, ele descreve o principio da equivaléncia entre raios beta e raios gama quanto & deposicao de energia, ¢ introduz o simbolo W para a energia média requerida para produzir um par de fons. O valor de W para fétons e néutrons corresponde ao de particula secundaria carregada produzida pela interagao deles com o meio em questo. Ainda hoje hi pesquisadores trabalhando na determinacdo de W em gases equivalentes a tecidos, isto 6, com composicdo atémica similar ao tecido humano em termes de nimero atmico, principalmente para protons e néutrons © valor de W hoje aceito para qualquer feixe de fotons e elétrons no ar seco, para a regio em que independe da energia, isto 6, pera energia do elétron acima de 10keV, é de (33,97 +0,05) eV, tendo sido reavaliado em 1987 por M. Boutillon e A. M. Peroche-Roux. Para protons no ar seco com energia maior do que 100keY, é recomendado pela TRS-398 (2000) 0 valor de (34,23 + 0,4%) eV, e para particulas pesadas, (34,504 1,5%) eV. 4 Radiaeso 20 1.4 A ESTRUTURA ATOMICA O primeiro conceito de atomo surgi com 28 antigos gregos Leucipo de Mileto e seu discipulo Demécrito de Abdera, ao redor do ano 450 a.C. Ele foi concebido a partir do fato de que, se uma dada subst&ncia fosse dividida ind=finidamente, chegar-se-ia & matéria elementar, & qual derain o nome de atomon, constituinte de toda matéria, que significa indivistval. Eles sugeriram que diferentes substincias eam compostas por diferentes étomos ou combinacGes de dtomos e que uma su2stancia poderia ser convertida em outra por meio de rearranjo de dtomos. Hoje, sabe-se que o étomo é constituido de um niicleo contendo protons € néutrons, e de elétrons fora cele. Os prétcns e os néutrons, por sua vez, sio formados per trés quarks. A primeira particula subatémica foi introduzida teoricamente em 1874, derrubandoa teoria da indivisibilidade do étomo, Em 1891, George Johnstone Stoney batizou-a com o nome elétron. A palavra elétron significa certa quantidade de carga elétrica. Em 1897, Joseph John Thomson mediu experimentalmente a razdio carga do elétron pela massa (e/m)..A carga do elétron foi determinada em 1909 por Robert Andrew Millikan, por meio da experiéncia da gota de é'e0. Em 1920, Ernest Rutherford props o nome préton, que vern do grego proves (primeizo), para outra particula subatémica, constituinte do nticleo, com carga positiva © massa 1.840 vezes maior que a do elétron. Doze anos mais tarde, em 1932, 0 néutron 6 descoberto por James Chadwick, discfpulo de Rutherford. O néutron tem aproximadamente a mesma massa do proton ¢ também faz parte do nticleo. Em 1963, Murray Gell-Mann @ George Zweig propuseram, independentemente, a exist€ncia ie quarks. Até o presente momento, estes s&0 considerados indivisiveis e, portanto, designados particulas elementares, tal como 08 elétrons, ¢ como vieram sendo considerados 0s protons e os néutrons até a proposta da existéncia de quarks. 1.5 MODELOS ATOMICOS Entre 1893 e 1896, 0 fisico japonés Hantaro Nagaoka (1865-1950) havia estado em algumas universidades euzopéias, incluindo o Laboratério Cavendish, Ele foi professor de Fisica da Universidade de Téquio, de 1901 a 1925, e anunciou para a Sociedade de Matemética e Fisica em Téquio, em 1903, o modelo planetério ou o modelo saturnino de atomo. No ano seguinte, publicou seu modelo na revista britanica Philosophical Magazine. Ele se baseava na estabilidade dos enéis do planeta Saturnc, que orbitam ao redor de uum planeta com massa muito grande, O modelo de Nagaoka previa que: & amassa do nticleo atémico ere muito grande em analogia com a massa de Saturno; % oselétrons giravam ao redor do nticleo, ligadas por forgas eletrostaticas em analo- gia aos anéis que giravam ao redor do planeta, ligados por forcas gravitacionais. Um outro modelo de atomo proposta em 1904 foi o do “pudim de ameixas”, de J. Thomson, entdo diretor do Laboratério Cavendish. Ele consistia do pudim propriamence dito, carregado positivamente, e de ameixas embebidas no pudim, que faziam o papel de elétrons. Fisica DAS RADIAGOES Em 1909, Rutherford sugeriu 2 Johannes (Hans) Wilhelm Geiger e Emest Marsden, seus discipulos, a realizagao de um experimento para descobrir qual dos dois modelos representava melhor um tomo. © experimento consistiu em bomibardear uma fina folha de ouro com particulas a, emitidas pelos micleos do polénio, Os resultados obtides mostraram que a maior parte das particulas passava pelo étomo sem sofzer desvio de trajetéria, como esperado se o modelo de pudim de ameixas fosse correto; mas elgumas poucas sofriam grandes desvios. Na realidade, o experimento confirmou as duas previsdes do modelo proposto por Nagaoka: o étomo é constituido de um nticleo minisculo, onde se concentra quase toda a massa do étomo, carregaco positivamente e roleado pelos elétrons, que giram a0 seu redor. Os resultados de experimentos de Geiger e Marsden levaram Rutherford a concluir que um campo elétiico intenso era responsével pela tal deflexio, conforme o artigo de sua autoria, ‘The structure of atom, publicado em 1913 na Nature (v. 92, p. 423), Esse campo era devido & carga positiva do étomo, que estaria concentrada no seu miclec € que contrabalancaria a carga negativa dos elétrons ao redor do miicleo. Entretanto, esse modelo continha protlemas porque, se 0 elétron estd acelerado, uma vez que a direcio do vetor velocidade muda constentemente, pela teoria eletromagrética cléssica uma particula acelerada emite radiacdo eletromagnética continuamente. Com isso, 0 elétron iria perdendo energia e sua trajetéria, espiralando-se, acabando por cair no micleo, 0 que, de fato, ndo acontece, Além disso, ainda segundc a teoria classica, a frequéncia da radiagéo emitida nfo coincidia « daquela efetivamente medida, que era constituida de valores fixos e caracteristicos para cada étomo, ma 1.6 MODELO DE BOHR DO ATOMO DE HIDROGENIO Em 1911, Niels Henrick David Bohr, fis'co dinamarqués recém-doutor, foi passar seis meses em Cembridge, para trabalhar com J. . Thomson depois com £. Rutherford. A partir de entéo, Bohr iniciou a formulacdo de urr modelo de dtomo, una vez que o de Rutherford nao explicava algurs resultados. Bohr comecou pelo mais simples deles: o étomo de hidrogénio constitufdo de um préton ¢ de um elétron, fato este nao aceite unanimemente nequela ép0ca. Quando Bohr tomou conhecimento de um artigo escrito per Johann Jakob Balmer em 1885, tudo pare ele se tornou claro. No artigo, Balmer revelava a dedugdo de uma férmula (Eq. 1.3) para calcular os com- primentos de onda > das raias ou linhas espectrais emitidas pelo étomo de hidrcgénic, separadas por um prisma, Eseas raias estavam na faixa da luz visivel © eram de cores vermelha, azul-verde, azul-violeta ¢ violeta. A equacdo apresentade era empirice, sem nenhum significado fisico, ( ny ) ae ek ‘ x nh nt onde R é uma constante chamada constante de Rydberg = 1,087 x 10-?nm74; nj é um miimero inteizo, que vale 3, 4, 5 ¢ 6 para as referidas raias; e ny & igual a 2. Por exemplo, para + Racin 21 ni =e ny=2, obtém-se A = 657 nm para a raia vermelha, que confirmava o valor medido experimentalmente. Esse conjunto de raias foi depois denominado série de Balmer. Bohr iriciou postulando que o elétron sé pode girar em érbitas permitidas e que, normalmente, permanece na drbita de menor raio possivel, que ele chamou de estado fundamental, Quando 0 étomo de hidrogénio é adequadamente estimulado por algum agente, seu elétron & excitado, passando a girar em érbitas mais distantes do nticleo. 0 elétron fica cerca de 1078s nessas Grbitas antes de sa roe Rien passar para outra mais proxima do niicleo, como se \ f Koes pode ver na Fig. 1.6, Aqui Bohr introduz uma novidade, / / desexcitagac [67 dizendo que, nessa passagem, o elétron libera o ex- 9 | eeeso te evengia eatin wt Tt Por esse Gena, / a teoria do quantum de energia, de Planck-Einstein, j@ havia sido apresentada. Dessa forma, o espectro de linhas do atomo de hidrogénio péde ser explicado Fig. 1.6 llustracio da passage do eiétron para orbita mais como sendo devido a fotons emitidos na transi¢ao aistante do nucleo com absorcéo de energia ea desexcitagdo do elétron de érbitas circulares permitidas com raios ‘com emisséo de um féton maiores para outras com raios menores. 22 Com base na mec4nica classica de Isaac Newton € na lei de Charles Augustin de Coulomb, Bohr igualou a forga elétrica a forca centripeta, Fez uso também da teoria do foton, de Planck-Einstein. Com isso, deduziu férmulas para calcular a velocidade do elétron em diferentes érbitas, 0 raio das érbitas permitidas [Eq. (1.4)| ¢ @ energia total do elétron em cada Grbita permitida, que ele chamou de niveis de energia Ey [Eq. (1.5)]. Ao postular as 6rbitas pemmitidas, Bohr introduziu um numero inteiro associado a cada érbita, que € 0 nimero quantico principal, n. BE ame tm Th aa) ‘onde rn € 0 raio da érbita permitida com mimero quantico principal n; h a constante de Planck = 3,3 x 10~% J-s; m e e sao, respectivamente, a massa e a carga do elétron; e £5, a permissividade do vacuo = 8,85 x 10-1? C?.N-1.n~?, Substituindo-se esses valores, obtém-se que, para n= 1, rr = 0,053nm, que € 0 raio da menor orbita permitida. Exemplo 1.1 Calcule 0s raios das érbitas permitides, considerando o modelo de Bohr, para estados com ntimeso quantico principal igual a 2,5 e 10. Resolucao Bete Como ry = 0,053 x n?, obtemos facilmente (Tab. 1.4): n (am) 2 o2a2 5 1,35 10 5,30 Fisica DAS RADIAGOES Para a energia total do elétron, somando stia energia cinética e potencial, Bohr obteve: me* gegh2n? as) Ep & a energia total do elétron na orbita permitida com ntimero quantico principal n, também chamado nivel de energia dessa érbita. Substituindo-se as constantes na Eq. (1.5), obtém-se: 13,6 En(ev) =-— (16) 7 sinal “menos” indica que o elétron esté ligado, pela atracdo coulombiana ao préton. Para in = 1, E -13,6eV, que é 2 energia do elétron no estado fundamental. 0 elétron fica em vias de desligar-se da atracao coulombiana do préton quando sua energia tende a zero, Assim, quando o elétron esté no estado fundamental, é necessario estimulé-lo, fornecendo no minimo +13,6eV para liberé-lo da atragao do préton (que é a energia de ionizacao do atomo de hidrogénio). As energias dos estados excitados podem ser obtidas substituindo n na Eq. (1.6) por 2, 3, 4etc., como mostra a Fig. 1.7. Gomo jé foi dito, quando o elétron passa de uma érbita com nj= 3 para ny = 2, haverd liberacdo de um féton com energia hv igual A diferenca de energia entre esses nfveis: a g Hy s 435487 «657 2 nm oom nm 2 AG 124 Fig. 1.7 Transicdes do elétron de niveis de energia corn ntimero quSntico principal maior ou igual a 2 para o nivel final corn N1=2, com emissao de fotons na faixa da luz visivel, que cons tuemn a série de Balmer i h (7) que vem do fato de v (frequéncia da onda eletromagnética) ser igual 2 ¢/A, onde ca velocidad de propagacao da luz no vacuo = 3 x 10° m-s~1, Ao efetuar-se o célculo, obtém-se a 57 nm, que coincide com o valor obtide por Balmer. Note que a Eq. (1.7) é equivalente & (1.3) de Balmer, agora com significado fisico. A Fig, 1.7 mostra as transigdes do elétron que produzem a série de Balmer, ou sej, a desexcitagio do elétron quado passa de niveis de energia com n maiores que 3 para o nivel final, com Exemplo 1.2 2, emitindo fétons de luz visivel, Para nmero quantico n crescente, os niveis de energia vo se aproximando um do outro cada vez mais ¢ as frequéncias dos fétons emitidos obtidas para a série de Balmer ficam todas muito préximas, formando quase um continuum de linhas. a) Obtenhe o valor maximo de frequéncia do foton da série de Balmer, que corres- ponde ao limite desse continuum. ») Galcule 9 comprimento de onda do foton emitido quanco esse elétron efetua a transicao desse estado para ny = 41 Radiagas 23 Resolugéo 2) Consideremos o elétron do atomo de hidrogénio no estado com niimero quantico principal n= oo. Empregando a Eq. (1,7), obtemos que Ejiee (-3.4) frequéncia correspondente vale b) Como hy = he/A, sbtemos que 10-7 m=365nm. hv =E x — Ey =0- 3,4eV. Esse foton iré compor a raia espectral Huw da série de Balmer. A 2.4/h e/ Ejecon = (4,14 x 10-1 x 3 x 108)/3,4 321 PH, Posteriormente, outras séries de linhas espectrais do tomo de hidrogénio foram des- cobertas, mas todas fora da regio visivel do espectro eletromagnético. A Tab. 1.5 mostra Tab. 1.5 SERIES COM AS RAIAS ESPECTRAIS DO ATOMO DE HIDROGENIO Série Regio de espectro ni p lyman ultravoleta 32 1 Balmer visivel 23 z Paschen infravermelho 24 z Brackett infravermelho BS 4 Pfund infravermetho 26 5 of 2 ar 4 aati] Th] seriede Paschen ? . dy 5 4 Série de Balmer e £ “10 HI) Série de Lyman Fig. 1.8 Niveis de energia do dtomo de hidrogénio, com tran- sicbes permitidas do elétron que formar as séries de Lyman, Balmer e Paschen essas séries com satis nomes, os mimeros quanticos iniciais e Snais pera a emissdo das raias espectrais dessas séries. A Fig, 18 mostra o diagrama dos niveis de energia, em escala, do atomo de hidrogénio segundo Bohr, as tansigbes permitidas dos elétrons durante as quais hhaverd emisséo de fotons que compordo as séries de Lyman, Balmer e Paschen. Pelo fato de existirem drbitas permitidas e niveis de energia bem determinados, foi dito que os raios das drbitas as energias dos elétrons do étomo de hi- Grogénio eram quantizados, significands como tendo valores discretos, endo qualquer valor. Apesar de 0 modelo desenvolvido ter sido para 0 tomo de hidrogénio, conhecendo-se os valores dos niveis de energia d outros dtomos é possfvel calcular © comprimento de onda do féton emitido, e partir da diferenga de energia entre os varios niveis envolvidos na transicao do elétron. Bohr conjeturoa que, & medida que o mimero de protons no nticleo aumentava, o de elétrons orbitais também aumentava na mesma proporgao para manter a neutralidade atOmica, e sugeriu que atomos mais pesados, par terem mais prétons no nticleo, teriam maior forga para atrair os elétrons e, por isso, os raios dos atomos eram parecidos, sendo da ordem de 10-*9 mn, De fato, 0 raio do dtomo de hidrogénio com um tinico préton (elétron) é somente cerca de trés vezes menor que o do urénio-238, com 92 protons. Da mesma forma que 0 espectro de emissio, o de absorgao também é caracteristico de cada dtomo, A energia absorvida para o elétron passar de niveis de menor energia para os de maior energia é também quantizeda e coincide com o valor da energia do féton emitido, 0 que 6 explicado pelo modelo de Bohr. 24 Fisica DAS RADIACOES As primeiras indicacGes de que 0 modelo de Bohr do dtorno de hidrogénio apresentava felhas surgiram quando técnicas experimentais de espectroscopia melhozarem com o au- mento da resolugao dos equipamentos. Percebeu-se que algumas raias espectrais observadas anteriormente como sendo uma eram, na verdade, constituidas de duas ou -nais raias muito préximas ume da outra. A tha de 657mm, por exemplo, era compesta de sete raias. A teoria do dtomo de hidrogénio valida hoje foi desenvolvida aplicande-se com grande sucesso @ equactio da onda de Erwin Rudolf Josef Alexander Schrddinger, um dos pais da Mecanica Quantica. Nessa teoria, calcula-se a probabilidade de encontrar o elétron em um determinado lugar e, entre outros, o muimero quantica principal n eperece naturalmente na resolugao do problema, O grande sucesso do modelo de Bohr provém do fato de que as Grbitas permitidas, obtidas com esse modelo, esto de acordc com a teoria quantica, sendo exatamente aquelas de maior probabilidade de o elétron ser encontrado. Além disso, todo o resul:ado é obtido com equacées faceis e dlgebra elementar, snquanto que as da Mecinica Quantica s40 muito complexas. Na resolugao das equactes de onda da Mecdnica Quéatica aplicadas a0 étomo de hidregénio, outros niimeros quanticos emergem naturalmente. A Tab. 1.6 mostra esses mimeros quanticos com suas caracteristicas. Como consequéncia, os niveis de energia petnitidos desdobram-se, formando subcamadas ou orbitais. Os estados com o mesmo nimero quntico principal formam uma camada. As érbitas com n= 1,2, 3,4, 5 etc, foram chamades de camadas K, L, M, Oete,, por razbes historicas. Para cada valor de n, og estados com cada valor de { (ntimero quantico orbital) formam uma subcamada. Assim, cada subcamads é identificada pelo seu mimero quantico principal n acompanhado da letra que corresponde ao seu niimero quantico orbital As letras s, p, d, gh ete. sio usadas para designar as subcamadas com |= 0, 1,2, 3, 4, 5 etc. -espectivamente Essa nomenclatura era usada pelos primeiros pesquisadores de espectrescopia dptica. 0 estado designado por 1s tem on = 1el=0,€ 0 estado 3p,n = 3 e/= 1. Os elétrons que ocupam ceda subcamada tém niimeros quanticos de momento magnético orbital (rm) e/ou de momento magnético de spin (m.) distintos. Esses alimeros quanticos podem ser usados para descrever tados os estados eletrdnicos de um étomo, independentemente da quantidade de elétrons, considerando que dois elétrons de um dado étomo nao podem estar no mesmo estado quantico, ou seja, nao podem tero mesmo conjunto de niimeros quanticos. Algumas vezes, os mimeros quanticos me Tab. 16 NUMEROS QUANTICOS DO ATOMD DE HIDROGENIO Namero de Némero quantico Nome: ntimero quantico —_Valores permitidos estados permitidos n principal 1,2,3,4,5, 6etc qualquer némero L orbital 01,2.3....9-1 n s de spin +1/2 1 m magnético orbital HLH 10.111 244 ms magnética de spin -1/2, 44/2 2 1 Radiacgo 25 _mg so substituidos por outros dois ntimeros quanticos: 0 / ¢ 0 mj, que so, respectivamente, ‘ico de momento omiimero quantico de momento angular total e o nimero quénntico megné angular total. 0 j pode essumir os velores (— 1/2 ou 1+ 1/2, com a excecio de que j= 1/2 quando ( , 2 my, os valores =j, =f 1... 4,J As transig6es de elétrons entre subcamadas devem obedecer a certas regras chamadas segras de selecdo. Feito isso, agora é possivel explicar as varias raias muito préximas entre si emitidas por étomos e observadas com equipamentos de grande resclucéo, antes vistas, como sendo uma tinica raia. Segundo © artigo The conservation of photons, publicado na Nature (v. 118, p. 874-875, de 18/12/1926), 0 préprio autor, Gilbert Newton Lewis, escreve que toma a liverdade para propor o nome féton para o novo dtomo hipctético, que nao é luz, mas tem uum papel essencial em cada proceso de radizcao. Foton Um pouco seria um novo tipo de étomo que no pode ser criado nem destruido, e que de Histéria age como portador de energia radiante. Lewis foi professor de Quimica da Universidade de California ¢ depois reitor dessa mesma universidade. Sua teoria nunca foi aceita porque nao conseguiu comprovacao experimental, mas a palavra féton — do grego dag (fs), cuja tradugHo para o portugués é luz foi aceita e adotada imediatamente por muitos fisicos. Development of the Quantum Theory, proferido por Mex Planck em 2 de junho de 1920, a palavra féton aparece cinco vezes, sendo a primeira aparico usada como sinénimo de quantum de luz. Fim 1905, Finstain intrndnz o canes | No discurso de Prémio Nobel, com 0 titulo The Genesis and Present State of | i ode quantum de lure recebe a Prémin | Nobel de Fisica em 1921, pela teoria de efeito fotoclétrico, Nessa época, Einstein, | 86 usou a expresséio quantum de energia. i Arthur Holly Compton, em seu artigo A quantum theory of the scattering of Xf rays by light elements (Physical Review, v. 21, p. 483-502, 1923), s6 use otermoX = | ray quantum, mas no discurso de Prémio Nobel proferido em 12/12/1927,com | 0 titulo X ray as a branch of Optics, a palavra féton é usada varias vezes, e na | primeira vez o autor assinala: “here we do not think of the X-rays as waves but | as light corpuscles, quanta, or, as we may call them, photons”. | Biografia Niets Henrik DAVID BouR (7/10/1885 - 18/11/1962, DE TROMBOSE) Seu pai foi professor de Fisiologia da Universidade de Copenhague. Niels. Bohr obteve os titulos de mestre e dutor pela Universidade de Copenthague em 1909 ¢ 1911, respectivamente. Seas principais trabalhos foram em Fisica 26 Fisica DAS RADIACOES. teorica. Em 1911, foi pera Cambridge, Inglaterra, para perticipar dos trabalhos experimentais no Laboratério Cavendish, sob a lideranca de J.J. Thomson. Em. 1912, transferiu-se para Manchester, a fim de trabalhar com Emest Rutherford. ‘A sesquisa mais importante que se iniciou 14, baceada no modelo atémico de Rutherford, culminou com 0 desenvolvimento do modelo do étomo de hidrogénio no qual introduziu conceitos quanticos, em 1913. Por esse trabalho, Bohr ganhou o Prémio Nobel de Fisica em 1922, discurso proferido durante a premiagdo teve por titulo A estrutura do dtomo. Durante a perseguicdo aos judeus na Se- gunda Guerra Mundial, pelo fato de sua esposae sua mie serem judias, Bohr fugin para a Suécia @ passou os dois tltimos anos da guerra entre 08 Estados Unidos e a Inglaterra. Golaborou no projeto Manhattan, que produziu trés bombas atimicas, duas das quais langadas pelos ameri- canos nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, no Japio. Werner Heisenberg, alemio, autor do famoso Princfpio da Incerteza, foi trabalher com Bohr em 1920, periodo durante o qual desenvolveu esse prinefpio. Eles tinham uma relagao fantéstica, que havia sido abalada por causa da guerra e por serem de pafses inimigos. Heisenberg visitou Bohr em setembro/outubro de 1941 e a conversa que tiveram nunca foi contada aninguém, nen escrita em lugar nenhum. A suposta converse transformou-se na famosa peca teatral Copenhagen, de Michael Fraya, escrita em 1998. Bohr casou-se em 1912 com Margrethe Norlund, com quem teve seis filhos, um dos quais, Aage Niels Bohs, também fisico nuclear, ganhou o Préimio Nobel de Fisica em 1975. Fonte: em: dez, 2009. Foto: Library of Congress, Prints & Photographs Division, LC-DIG Ggbain-35303, HANTARO NAGAOKA (18/8/1865, JAPAO — 10/12/1950, JAPAO) Foi filho de Jisaburo Nagaoka, samurai do periodo Tokugawa que foi enviado a América e & Europa, pelo governo Meiji, durante 1871-1873, como membro Biografia 1 Radiacio 27 28 de um grupo de inspecdo. Nagacka graduou-se em Fisica pela Universidade de Toquio, em 1887, ¢ doutorou-se em 1893, trabalhando em magnetostri¢ao, que é a deformagéo de estruturas cristalinas devido a aplicacdo de campos magnéticos. Nesse mesmo ano, foi estudar em Viena, Berlim e Munique, onde fez estagio com Ludwig Boltzmann, estudando a teoria cinética dos gases, ¢ tomou conhecimento dos trabalhos de Maxwell sobre a estabilidade dos anéis do planeta Saturno. Ele voltou ao Japo em 1896. Em 1900, aconteceu em Paris 0 Primeiro Congresso Internacional de Fisica, a0 qual foi convidado para apresentar um trabalho sobre magnetostrigio. La encontrou o casal Curie ¢ Henri Poinearé, cujos trabalhos o despertaram para o estudo da estrutura da matéria, Em 1903, apresentou o modelo do tomo que chamou modelo satumino, em analogia i explicacao da estabilidade dos anéis Por orbitarem um planeta de massa muito grande. Escreveu mais de 300 artigos cientificos, Recebeu intimeres honrarias, inclusive no exterior, entre elas a demambro honorério da Physical Society of London e a de Doutor em Filosofia pela Universidade de Cambridge. De 1901 a 1925, Nagaoka foi Professor de Fisica da Universidade de Téquio, onde teve alunos brithantes, como Kotaro Honda, Yoshio Nishina-e Hideki Yukawa. CAULLIRAUX, H. B Hiroshima 45. 6 grande golpe. Da conce Fonte: io do étomo & tragé dia de Hiroshima. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005. ‘YUKAWA, H. Obituério. Nature, v. 168.p. 409, 8 set. 1951, LIsTA DE EXERCICIOS Fisica bas RADIACOES ‘ty (Quel foi a principal falha do modelo témico de Rutherford? O modelo do 4tomo de hidrogénio de Bohr solucionou essa falha? Quais foram os principais pontos fortes do modelo de Bohr? Onde esse modelo falhou? O que é radiacéo? Qual a diferenea entre radiacdo ionizante e nao ionizante? Dé exemplos. Qual s diferenca entre radiagio diretamente ionizante ¢ indiretamente ionizante? © que sdo ondas eletromagnéticas? Discuta a questéo da dualidade orda-particula. © que é foton? O que significa profundidade de penetragdo de uma onda eletromagnética em um dado meio? Como varia a profundidade de penetragio com a frequéncia da onda eletromagnética? 10. Discuta por que a energia para formar um par de fons é maior do que a energia de ionizagao de um elétron de valéncia de atomos. Us féton é emitido quando 0 elétron do dtomo de hidrogénio sofre transigio do estado com nimero quantico principal n= 6 para o estado com n = 2, Galcule a energia do f6ton emitido, o comprimento de onda e a frequéncia de onda eletromagnética associada, usando o modelo de Bohr. A que série pertence a raia espectral que ser composta por esse féton? Considere 0 elétron do étomo de hidrogénio no estade com nuimere quéntico principal n = 10, Usando 0 modelo de Bohr: a. Galeule a energia total desse elétron: ». Aenergia calculada no item (a) é maior ou menor que a do elétron no estado fundamental? c. Qual a energia necesséria para arrancar esse elétron do 4tomo? Que nome recebe essa energia? A série de Lyman do dtomo de hidrogénio 6 constituida por raises espectrais na faixa do ultravioleta que correspondem a emissao de foton quando o elétron efetua a transicdo de estados excitados para o estado fundamental com n = 1. Calcule: a) ‘omaior comprimento de onda ea respectiva energia do féton emitido; b) o menor comprimento de onda e a respectiva energia do féton emitido. Osseis primeiros niveis de energia permitides do elétron mais extemo do étomo de sédio, em ordem crescente, so: ~5,1 eV; ~2,0eV; ~L.9eV; -1,6eV; -14eVe ~11ev. a. Discuta o significado do sinal “menos” nos valores listados acima, b. Qual a energia de ionizago do dtomo de Na, se 0 dtomo estiver no estado fundamental? €. Calcule e comprimente de onda da radiagao emitida quando o elétron, estando no nivel de energia igual a ~1,6eV, efetua a transigio para o aivel fundamental. 4, Em qual transicgo do elétron é emitido o féton que corresponde & raia espectral de cor amarela, que da a cor caracteristica 8 emissio da lampada de sédio com comprimento de onda de 589 nm? Diariamente estamos expostos 8 luz visivel, & radiacdo infravermelha e aos raios ultravioleta emitidos pelo Sel. Estamos também expostos & radiacdo artificial que permeia o meio ambiente, proveniente das ondas de ridio e de TV, além das micro- -ondas emitidas pelos telefones ¢ antenas de celulares. Também somos expostos a0s raios alfa, beta e gama emitidos por radionuclideos naturais existentes nomeio ambiente. Esporadicamente tiramos radiografia de dente ou do pulmao, quando ros expomos aos raios X, a, Defina 0 que é radiacéo. 1 Radiaggo 29 b, O que é radiacdo diretamente iorizante e indiretamente ionizante? Classifique as radiagdes citadas no enunciado acima. ¢. Oqueé radiacdo nio ionizante? d, A energia média para formar um par de fons no ar por um elétron energético é de 33,97 eV. Como se explica isso se a energia de ionizacéo do elétron de valéncia de dtomos 6, em geral, a0 redor de 8 a Sev? 11, Com os valores de energia de ligacio e de ionizacéo de diversos atomos colocados na Tab. 1.2, é possivel verificar que a energia de ionizacao quase nao muda 20 longo da tabela periédica, ao passo que as energias de ligacdo Bx e By crescem bastante Explique por que isso acontece. RESPOSTAS 6. a) 3,02eV; b) 4,11x10-7 m; ¢) 0,73%10°5 s~4; 4) série de Balmer 7. a) -0,136 eV; b) maior; c) + 0,136eV; energia de ionizacéo 8 a) 1,217x10-7 me 10,2eV; b) 0,913x10~? me 13,6eV 9. b) +5,1e¥; c) 355nm; d) de ~3,0eV para —5,1eV 30 Fisica Das RADIACOES A/HISTORIA DO ATOMO (poeta portugues desconhecido) 1 (0s gregos Leucipo e Demécrito, Usando a sua intulgto Comecaram a falar em atomo ‘Mas sem qualcuer experimentacéo. 2 Sena palavra *étomo” Se fizer a decomposicso Do grego é “a-tomos” Que quer dizer: sem diviséo. 3 Mas Aristételes, 0 mestre Mandou tudo calar A matéria nie sto stomos Mas terra, fogo, agua e ar. a Por toda 2 idade média Houve grande estagnagdo Quem sabia era Aristoreles A ciéncia era llssho. 5 ‘Quem ousasse inovar Fazendo frente 20 Poder Ficava sem as goelas Para se arrepender 6 Existiam Alquimistas om o elixir triunfal: Meiais vs, seriamt ouro Ea prépria alta imortal 7 ‘Alguém aparece de novo Que as ideias diseutiny Foi o nosso amigo Dalton Que 2 loura toda partiu.. 8 Foi no século dezenove E j8 com grande abertura; Disse Dalton com pujanca Fora das trevas com frescura: a “aristételes nao é Deus J6 no ha esses apegos Fu vou fazer renascer Algo dos atomistas gregos!” 10 © tomo era incisive! Uma esfera, tale qual Assim Dalton pestulou Com uma base experimental, " (Dalton confuncia as cores O que era um fato irdnico: Estudou 0 daltorismo Sendo também um dalténico. 2 Mas Thomson fez exneriéncias E divulgou nos peviddicos (Que descobrira nevas coisas Gragas 20s raios catécicos. 3 “0 atomo € divisive! Ao sequir as radiacoes Eu tenho de concluir Que o atomo tem electrées.” 4 (Os cientistas da Spoca Fizeram gozos e quelxas. E chamaram 20 seu modelo O célebre “pudim de ameixas” 6 © atomo € como um pudim Feito de carga positiva Com as ameinas (clectr6es) Encrostados 8 deriva 16 Rutherford, um seu alune Que era neozelandés Concebeu outro modelo ‘Com as experiénelas que fez. 7 “Fiz experincias vérias Léminas de ouro usei. ‘Quanto ao modelo de Thomson Claro que 0 abanconei.” 1 Radiagao 3 w a “Pa trajetoria das particules Um cientista surgi Que ev bem pude seguir Com um modelo riethor E quase certo, pra mim Sua origem, Dinarrarca Que um nicleo tem de existir!™ Seu nome, Niels Bohr, 9 2B Este ccupa pouco espaco "0 atomo parece estével Face ao dtomo, quase nada Temos de ter solugso. Eno nile, no entanto Vamos super ura érbita Que # massa esté concentrada. Para cade electra.” 20 29 No nicleo ha cargas positivas “Cada electrao tem energia Girando & volta electrées, E um nivel vai definir. Come no sistema planetario, Nao cai no niicleo sem mais Em constantes rotagoes!* Porque nao pode cain.” a 30 Rutherford pensou tambem Isto explica o espestro ‘Que no nticleo havia neutroes Descontinuo e de or. Particulas de carga neutra O electrao salta dum nivel “Moraxdo” ao pe dos protées. Para outro inferior. 2 31 Foi sé Chadwick, mais tarde Nas particulas hidrogenoides Que identificou 0 neutrao. Fez Bohr um brilharete Sem carga e com uma massa Pr’ Atomos poliele:ronicos Semehante & do protao. Enfiou um grande barrete! 23 32 0 modelo de Rutherford Ficou pois um vazio Pareca querer triunfar Iss0 esté bem entendido Mas Favie umas questoes $6 com a Teoria Quantica Que ficariam no ar: Ficaria preenchidot 24 3B “Agirer & volta do nucleo Ea nuvem eletronica 0 electro vai-se despenhar. (© modelo atual £0 atomo ¢ estavel Que em vez de uma érbita Come podemos constatar. Define um orbital 25 34 E assim seria emitida Cada pontinho ca nuver, Radiacdo continuamente Que nao haja confusso, Eo espectro do hidrogénic Representa a probebilidade Revela algo diferente.” De encontrar um electric. 26 35 (Vé-se num belo arco-itis Este 6.9 modelo moderne O espectro da luz solar. (Que assim se desenvolveu. Quam a0 hidrogénio: © modeto do futuro Tem rscas, a contrastar) Poderd até ser teu, 32 Fisica DAS RADIACBES: Raios X 2.1 INTRODUCAO Nos idos de 1890, muitos cientistas estevam pesquisando a natureza dos raios catédicos emitidos por um tubo de vidro evacuado, chamado tubo de Crookes, com dois eletrodes metélicos aos quais se eplicava uma diferenca de potencial. O préprio William Crookes havia percebido que o que passou a ser chamade de reins catédicos eram emanagdes qué partiam do eletrodo negative e se propagavam em linha reta, eque © local do tubs onde esses raios incidiam luminescia. Ele conseguiu também defletir os raios, aplicande um campo magnético que o fez conjeturar se seriam cargas negativas. Philipp Lerard modificou 0 tubo de Crookes, colocando uma janela de aluminio para ver se os raios catédicos safam através dessa janela ‘para o exterior. Para verificar isso, colocou um anteparo fluorescente e verificou que até uma distancia de cm, ele detectava luminescéncia devida aos raios catédicos. Era uma sexta-feira, 8 de novembro de 1895, e a noite chegando, quando Wilhelm Conrad Réntgen, professor de Fisica da Universidade de Wiirzburg, na Alemanha, decidiu repetir o experimento feito por Lenard, Emibrulhou 0 tubo com papel preto, para que a luminescéncia muito forte no vidro no atrapalhasse a visdo de uma tela pintada com platino cianeto de barlo, que fluorescia fracamente quando colocada a cerca de 8cm do tubs. Apagou 2 luz de laboratério, acomodou os olhos 8 escuridio e foi afastando a tela até 2m do tubo, e verificou que a lu- minescéncia persistia. Ligou e desligcu 0 tubo e percebeu que toda vez que desligava a luminescéncia desaparecia. Ficou to intrigado com 0 fendmeno que passou as sete semanas seguintes trabalhande sozinho no laboratério, pois o que ele estava observando no eram os efeitos dos raios cat6dicos: os novos raios emanados do tube eram mais penetran- tes que os raios catédicos e no sofriam desvio com campo magnético. Réntgen observou que os reios emanados do tubo tinham uma capacidade notdvel de atravessar diferen- tes materiais, desde livros, madeiras e placas metélices com diversas espessuras até alguns liquidos. Durante a colocacéo de uma das pecas entre 0 tubo e a tela, ele observou, atinito, que o eontorno dos ossos de seus dedos estava sendo mostzado na tela fluorescente, Conclui que aqueles raios eram parcialmente para- dos pelos ossos, da mesma ferme que por uma placa de vidro contendo Stomos de chumbo. No dia 22 de dezembro, Réntgen chamou sua esposa, Anna Bertha, que esteva intrigadissima, pois ele pouco comiae dor mila, para confidenciar sua descoberta, a convence a radiografar a mao dela (Fig. 2.1), que deveria Scar estética durante os 15 minutos de exposicao. Logo apés o Natal, Rintgen termirou de escrever o artigo On anew kind of rays eo enviou para ser publicado no Proceedings of the Physical-Medical Society de Wiirzburg, No artigo, ele escreve que batizou com o nome de “raios X’ 0 agente responsével pela luminescéncia, por questéo de brevicade, e que esses raios se originavam no vidro justamente onde os raios catédicos incidiam. Fig. 2.1. Digpositiva da radiografia da mao da Sra. Anna Berthe O artigo com a rediografia da mo da Sra. Bertha foi Ludwig, esposa de Réntgen,tireds em 22/12/1895. Ela esté no seneive ai Seni pe sae ee publicado em 28/12/1895. No primeiro dia do ano de Deutsches Museum , . 1896, o préprio Réntgen foi ao correio para enviar c6pias do artigo - contendo, entre varias radiografias, a de uma caixa de pesos de balanga de precisdo (Fig. 2.2) e a da mao de sua espost — para cientistas renomados, como William ‘Thomson (Lord Kelvin), Henri Poincaré e Franz Exner, ex-colega que era, entio, diretor do Instituto de Fisica em Viena. Este havia organizado um jantar informal para seus colegas fisicos, como era seu costume, entre os quais estava Emst Lecher, cujo pai era editor do Jornal Neue Freie Presse, de Viena. Durante ¢ jantar, os convivas ficaram estupefatos ao tomarem conhecimento do artigo e das radicgrafias. Dessa forma, 0 furo jonalistico saiu publicado na primeira pagina do jornal de domingo, 5 de janeiro de 1896, com a noticia da descoberta feita pelo pesquisador alemao W. C. Rontgen sobre uma forma fantéstica de ver o interior de um corpo sem corté-lo, ¢ que a nova técnica seria a ferramenta futura para o diagnéstico médico. O correspondente inglés do London Chronicle, que leu a matéria, telegrafou imediatamente para a Inglaterra e a noticia foi publicada 14 no dia seguinte. Assim, a noticia espalhou-s2 pelo mundo, atravessou o Atldntico, e a revista Nature publicou © artigo, traduzido para o inglés, em 23/1/1396, no volume 53, piginas 274-276. Nesse mesmo volume foram publicados mais trés artigos de outros autores sobre os raios de professor Réntgen. 34 Fisica DAS RADIACOES Um ano apés a descoberta dos raios X, mais de 1.000 artigos tinham side escritos por cientis:as do mundo todo, e Réntgen foi agraciado com o primeito Prémio Nobel de Fisica, em 1901, Ele préprio publicou, nos anos seguintes, somente mais dois artigos relacionados com raios X. Réntgen havia ficado muito amargurado com Lenard, que insistia que o crédito pela descoberta dos raios X deveria ser dele, Em 1905, Lenard também ganhou o Prémio Nobel de Fisica, pelo seu trabalho com raios catédicos Fig. 2.2 Foto e radiogratia da caiva de pesos da belanca de Réntgen empenhou-se em descobrir a natureza dos _ preciso trada por Réntgen wente cedido por Wilfred C. G. 2. raios X, porém no teve sucesso. Somente em 1912 é Fonte: Gen que a natureza dos raids X fol firmemente estabelecida como serdo onda eletromagnética de comprimento de onda muito menor que o da luz, por Max von Laue (1879-1960), fisico aleméo que concebeu a ideia de usar um cristal como rede de difracdo em experimentos de difracdio de raios X. Ele publicow artigo a respeito em 1912 e recebeu ¢ Prémio Nobel de Fisica em 1914, Entretanto, naqueles anos havia um debate quanto & natureza da luz, se era onda ou particula. Somente em 1920, com a teoria da dualidade onda-particula, é que ficou estabelecido que a luz e os raios X apresentam cardter dual, e fci dado c nome de foton particula associada @ onda eleiromagnétice. Foi também nessa mesma época que se desco- briu que os raios gama emitidos espontaneamente pelos aticleos aos dtomos radioativos sio de igual natureza fisica dos raios X, ou seja, ambos sao ondas eletromagnéticas de frequéncia extremamente alta, maior que a da radiagdo ultravioleta. A diferenca en- tre ambos est na origem, pois os reios X tém sua origem fora éo micleo dos atomos, enquanto que os, raios gama provém do niicleo e da aniquilacao de particulas, {1 ||| 4 4) Fontede Amperimetro alta tenséo Fig. 2.3 Diagram simplificado de um tubo de raios X AFig. 2.3 mostra um esquema simplificado de um tubo emissor de raios X. 0 filamento, ao ser aquecido, emite elétrons que sio acelerados pela diferenca de potencial V entre os eletrodos: catodo e anodo. Quando os elétrons atingem oalvo, que geralmente é feito de metal de alto ponto de fusdo, como o tungsténio ou 0 molibdénio, produzem raios X. Os mesmos componentes de um tubo de raios X sao encontrados em tubos de TV e de monitor de video. Nestes ditimos, a diferenca de potencial aplicada (27V) é tal que os raios X emitidos so de energia baixa, e as paredes do tubo blindam praticemente todo raio X produzido dentro dele. Para a obtencdo de imagens do interior do corpo para fins diagnésticos, os raios X trans Sdos através do corpo so, ainda hoje, os agentes mais utilizados, quer seja em radiografias convencionais, quer em tomografias computadorizadas. 0 contraste que se 2. wisx 35 Tab. 2.1 CLASSIFICACAO 005 FEIXES DE RAIOS X SEGUNDO ‘A TENSAO DE ACELERAGAO DOS ELETRONS QUE OS PRoDUZzEM baixa energia ou ralo X mole 0,1-20kV diagnéstico 20-120 kV ortovoltagem 120 ~ 300 kV energia intermediria 300 - 1.000 kV megavoltagem >1MV 2.2 PRODUCAO DE RAIOS X observa em radiograiias, por exemplo, entre ossos € miisculos, deve-se & diferenca na absorgao dos raios X pelos diferentes tecidos do corpo. Os feixes de raios X podem ser classificados, em termos de tensdo de aceleraco dos elétrons que os produzem, conforme indicado na Tab. 2.1. Em um tubo de raiss X, a maioria dos elétrons incidentes sobre o alvo perde energia cinética de modo gradual nas intimeras colisdes, convertendo-a em calor. Esse é o motivo pelo qual o alvo deve ser feito de material de alto ponto de fusio, como 0 tungsténio (W, do sueco tung sten = pedra pesada, com ponto de fusdo de 3.695) ou o molibdénio (Mo, do grego molybdaina = churibo, com ponto de fusao de 2.896K). Em geral, é ainda necessario resfriar © tubo por meio de diversas técnicas de refrigeracéo, que incluem materiais com grandes massas térmicas, cujo calor é extraido com circuito fechado de éleo e dgua corrente. Os processos Sundamentais envcividos na produgio de raios X sao dois. Em um deles, os raios X produzidos, chamados raios X de freamento, apresentam um especiro continuo de energias, e no outto, chamados raios X caracteristicos ou de fluorescéncia, um espectro de linhas ou de raias, com energias bem definidas, Vale lembrar que toda vez que nos referimos a espectro, estames aludindo a um griifico de quantidade de fétons emitidos em fungo, ou da energia do fton, ou da frequéncia, ou do comprimento de onda da onda eletromagnética. 2.2.1 Radiagao de freamento Uma pequena frecao dos elétrons incidentes no alvo aproxima-se dos niicleos dos étomos, que constituem o alvo. Eles poder: perder, de uma sé vez, uma fragio considerével de sua energia, emi:indo um féton de raio X. Em outras palavras, um foton de raio X é criado quando um elétron sofre uma desaceleragio brusce devido 8 atracdo causada pelo campo coulombiano do niicleo. Os raios X assim gerados séio chamados radiacao de freamento, tradugéo da palavea alemé Bremsstrahlung, e podem ter qualquer energia, que depende do grau de aproximagao do elétron do riicleo e da energia cinética do elétron. Assim, 0 espectro de raios X de freamento € continua, ou seja, os fotons de raios X produzidos podem ter qualquer energia, desde valores préximos de zero até um valor maximo Ems, que & toda a energia cinética K do elétron ao atingir 0 alvo, dado por: K(2létron) = eV = Ec ao fon = Vie = Ac an onde e é a carga do elétron e V é a diferenga de potencial aplicada entre 0 catodo e 0 anodo; V@A sio, respectivamente, a freqaéncia e o comprimento de onda da radiagao X. Essa relago 6 conhecida como Lei de Duane e Hunt. 36 Fisica Das RADIACOES Exemplo 2.1 Calcule 2 energia maxima do féton ¢ 0 comprimento de onda minimo de um feixe de raios ¥ produzidos quando a diferenca de potencial aplicada entre os eletrodos do tubo de raios X for de 35 kV, Resclucdo Emex(foton) = Vmax = EV = €+ 35 KV = 35 keV ou Emax(foton) = AVinix = eV = (1.6 x 1071.¢)(3,5 108 V) = (1,6 x 10-1 x 3,5 x 104)] Como 1e¥ = 1,6 x 10719 j, obtemos, para Emax = 35 keV, Amin = heseV = (4,14 x 10715 eV-s)(3 x 108 m-s“?/35keV =0,35 x 107m =0,035nm Acnergis maxima E;nox do f6ton independe do material de que feito o alvo, e depende somente da diferenca de potencial V. A Fig. 2.4A mostra o espectro continuo de raios X produzidos em um tubo com alve de tungsténio, para trés valores do potencial acelerador. Ele éum grafico de intensidade relativa (ntimero relativo de fétons por comprimento de onda em unidades arbitrérias) em funcao do comprimento de onda dz radiagao de Bremsstrahiung. Nota-se que quanto maior a voltagem, maior a eficiéncia na produgio de raios X, e que o valor de Ami € inversamente proporcional a V. A Fig. 2.4B mostva 0 processo de geragao de um ‘ton de radiagao de freamento. @) Alor tungsténio | (ea Elétron menos Elétron energético SOkKV foy g energético | ¢ (0, $10 ee Pe ey = 5 RaioX de $6 | aoxv' reamento es P 0, = = SS 24 6 8 10 Comprimento de onda (10 m) Fig. 2.4 (A) Espectro continuo de raios X erritides de um tubo com alo de Wi, para ts valores de potencial aceleracir. A intensidads relativa € proporcional ao niimero de fotons de uma dada energia (8) Pracesso de gerecao de um {6ton de raio X de freamento. Observe que quanto ma's perto do niicleo passa o-elétror, maior é 0 freamento e maior é a energia do féton emitide 2.2.2 Raios X caracteristicos Além dos raios X de freamento, outros fotons chamados raios X caracteri simultaneamente produzidos em um tubo, Diferentemente des fétons de freamento, que 8 podem ser independem do material de que é feito o alvo e podem ter qualquer energia corn limite 2 Raiosx 7 38 no valor maximo, os raios X caractaristicos mostram uma assinatura do materiel e tm espectro de energia discreto. Estes foram descobertos por Charles Grover Barkla, que recebeu © Prémio Nobel de Fisica em 1917. Da mesma forma que um féton de luz é emitido quando um elétron da camada mais externa de um dtomno |elétron de valéncia) decai de um nivel de energia mais alto (nivel excitado) para outro de energia mais baixo, um féton de energia na faixa de raio X é emitido quando as transigdes do elétron envolvem camadas mais internas do étomo. No primeizo caso, da emissao de urn féton de luz, a energia envolvida é da ordem de poucos eV, eno segundo, da emissio de um foton de raio X, de muitos keV. Quando um elétron incidente no alvo remove um elétron da camada K, cria-se um buraco em seu lugar, que é imediatamente preenchido pela transicao de um elétron da camada mais externa, por exemplo, da camada L, o qual, por sua vez, seré preenchido por um elétron da camada M, e assim por diante. Para arrancar um elétron da camada K de um dtomo,o elétron incidente deve ter, no minimo, a energia de ligaco do elétron nessa camada. Na transicéo de um elétron da camada L para a X, por exemplo, o excesso de energia é liberado sob a forma de um féton, cuja energia Ejiconfaiox) Corresponde & diferenca entre E, e Ex, que tepresentam as energias totais dos elétrons nas camadas Le K, respectivamente: Efston(reio x} = EL ~ Exe (2.2) No caso dos dtomos de tungsténio W e molilbdénio Mo, as energias totais dos elétrons da camada K so, respectivamente, -69,5 keV e —20,0keV, e da cemada L, de -12,1keVe ~2,87 keV. Exemplo 2.2 Calcule a energia do féton emitido de um tubo de raios X com alvo de molibdénio, quando um elétron da camada K é arrancaco e um elétron da camada L efetua a transigio paraa camada K. Em seguida, calcule o comprimento de onda associado a esse féton, Resolugao No caso do Mo, havendo uma vaga na camada K, aenergia do féton emitido quando un elétron da camada L passa & camada K é de: Av=EL—Ex= 2,87 — (—20,0) = 17,13 keV 0 comprimento de onda do féton emitido é de: A=he/hy =0,725 x 10-? m= 0,0725nm Ovvalor de A = 0,0725 nm do Exemplo 2.2 corresponde ao comprimento de onda associado ao féton de raio X emitide pelo dtomo de molibdénio. Como os niveis de energia sio especificos de cada atomo, os raios Kassim produzidos séo caracteristicos de cada elemento, Fisica Das RADLAGOES

You might also like