Capitulo 1
Levantando problemas e possiveis solugées
No cenario educacional brasileiro dos Ultimos 20 anos, pode-se
verificar um grande e crescente numero de escolares que apresentam
baixo rendimento académico. O Programa de Avaliagao Internacional
de Alunos (PISA, do inglés Programme for International Student
Assessment), proposto pela Organizagao para a Cooperagao Econémica
e o Desenvolvimento cuja sigla é OECD (do inglés Organisation for
Economic Co-operation and Development), avalia escolares praticamente
do mundo todo entre 15 e 16 anos de idade (OECD, 2009). E
imensamente preocupante saber que o Brasil sempre ficou entre os 5e
10 piores paisesdo mundo em compreensdo de leitura em todas as
medigées realizadas até hoje (OECD, 2003, 2006, 2009).
Nos critérios do PISA ha 7 diferentes niveis gerais de dificuldades
na proficiéncia de leitura. O nivel 1b é 0 mais baixo de todos, seguido
pelo nivel 1a, nivel 2,e assim sucessivamente até o nivel 6.De acordo
com 0 PISA (2009), no nivel 1b 0 leitor precisa identificar somente um
aspecto da informagao afirmada explicitamente em uma posi¢ao
proeminente de um texto curto e sintaticamente simples, dentro de um
contexto familiar e ainda com suporte da repeticdo da informagao,
figuras e simbolos familiares.
No nivel 1a as tarefas requerem que leitor identifique um ou mais
aspectos independentes da informagao afirmada explicitamente
reconhecendo o tema principal de um texto que é proeminente e se
relaciona a um topico familiar do dia-a-dia. No nivel 2 0 leitor precisa
identificar um ou mais aspectos da informagao as quais podem
necessitar de inferéncias ou reconhecer a principal ideia por meio de
relagdes e construg¢ao de significados quando a informagao nao é
proeminente, mas requerendo um nivel baixo de inferéncia. No nivel 3 0
leitor j4 necessita extrair mais de um aspecto da informagao e
estabelecer relagdes entre esses aspectos, elaborando um nivel um
pouco maior de inferéncia.Esses aspectos vao se tornando gradualmente mais mais complexos até
se chegar ao nivel 6.
Segundo os dados do PISA 2009 (OECD, 2009) em média cerca de
80% dos estudantes de 15 a 16 anos dos paises da OECD chegam ao
nivel 2 e cerca de 60% deles desempenham no nivel 3 ou acima (OECD,
2009, p. 52). No Brasil, entretanto, cerca de 20% dos escolares de 15 a 16
anos estao lendo somente nos niveis 1b e la e 58% ainda estao no nivel
2. Em outras palavras, quase 80% dos nossos escolares de 15 a 16 anos
estao nivel 2 ou abaixo. Certamente que este lamentavel quadro de baixo
nivel de leitura nos escolares brasileiros de 15 a 16 anos é um reflexo da
precariedade na formagao de leitores no ensino fundamental.
De acordo com a escala de proficiéncia elaborada pelo Sistema de
Avaliagao da Educagao Brasileira (SAEB) do ano de 2003, que avalia os
desempenhos dos escolares do 5°ano e do 8° anos do ensino .
fundamental, o nivel de desempenho dos alunos é dividido em quatro
estagios. A pontuagao entre 0 a 125 é considerada um nivel muito critico
(auséncia de habilidades minimas de leitura condizentes com a
escolarizagao), entre 125 a 175 esta em um nivel critico (entendimento
de frases simples, mas nao condizente com a escolarizagao), de 175 a
250 corresponde ao nivel intermediario e acima de 250 um nivel
adequado (Horta Neto, 2010, p. 84). Os resultados do SAEB 2003
mostraram que aproximadamente 55% dos alunos de 4? série (5° ano) de
escola publica apresentam niveis altamente insatisfatorios de
alfabetizagao, dos quais 19% estavam no nivel muito critico
(praticamente analfabetos) e 37% no nivel critico. Os resultados do SAEB
2011 (INEP, 2011), infelizmente, ainda mostram que 41% dos alunos do
5° ano estado em niveis profundamente insatisfatorios, correspondendo
aos niveis 0 (abaixo de 125), 1 (entre 125e 1500 e 2 (150
a 175) e quase 20% em niveis que podem ser considerados
insatisfatorios (nivel 3, entre 175 e 200) (veja Horta Neto, 2010).Inumeros sao os fatores para esse fracasso que doravante iremos
referir como baixo rendimento escolar (BRE) na aquisigao e
desenvolvimento da linguagem escrita. Dentre eles podemos destacar
fatores ambientais ou extrinsecos ao escolar, tais como desvantagens
socioeconémicas e culturais, oportunidades educacionais inadequadas,
inadequagdo metodoldgica, fatores de ordem emocional-afetiva.
Entretanto, um pequeno, mas significativo numero de escolares
apresenta BRE na linguagem escrita em fungdo de fatores individuais Ou
intrinsecos aos aprendizes, O que representa OS transtornos de
aprendizagem de origem constitucional, isto é, de origem genético-
neuroldgica (Alves, Mousinho & Capellini, 2011).
A partir deste momento chamamos a atengao do leitor para a
importancia fundamental da identificagao diferencial por parte dos
educadores e profissionais envolvidos com a educagao e aprendizagem,
entre o que chamamos de "dificuldades de aprendizagem" e o que
chamamos "transtornos de aprendizagem' (TA). 0 termo dificuldades de
aprendizagem sera usado para os casos de BRE plenamente atribuiveis a
fatores desencadeantes extrinsecos a crianga (ambientais), tais como
condig6es socioeconémicas e culturais, ambiente familiar, ambiente
escolar, metodologia de ensino, etc., bem como problemas de ordem
eminentemente emocional que podem estar ligados ou nao a fatores
extrinsecos. Por outro lado, o termo "transtornos da aprendizagem',
doravante TA, sera usado para se referir ao BRE decorrente de fatores
intrinsecos ao estudante, isto é, fatores genético-neurolégicos.
Embora fatores ambientais possam se constituir em agravantes na
manifestagao de TAs, os desencadeantes primarios sao disfungées
neuroldgicas sutis de origem genética que afetam de modo relativamente
especifico certos mecanismos cognitivos fundamentais na aquisi¢ao de
certos conteUdos académicos. Uma nogao central aos TAs é que estes
se caracterizam por serem inesperados.
De fato, a nogao de "inesperado" é fundamental na construgdo do
conceito de TA, pois estes ocorrem em criangas sem nenhum déficit
sensorial e neuroldgico aparente, que sao inteligentes e possuem
oportunidades educacionais adequadas (Alves et al., 2011; Fletcher &Lyon, 2008) e até mesmo condigées socioeconémicas e culturais
privilegiadas (Andrade, Prado & Capellini, 2011). Outro aspecto relevante,
e que reforca a nogao de inesperado nos TA, é que os problemas
académicos podem ser relativamente especificos de dominio, isto 6,
muito mais nitidos em um dominio académico do que em outro e as
vezes até mesmo restritos a um dominio académico, como a linguagem
escrita (dislexia) ou a matematica (discalculia), etc. (APA, 2002; OMS,
1999). Sabemos também que apesar de o Transtorno do Déficit de
Atengdo/Hiperatividade (TDA/H), o mais comum transtorno
neuropsiquiatrico da infancia, ndo ser considerado um TA, este
transtorno também pode contribuir para ou esta associado a prejulzos
significativos na aquisigao e desenvolvimento da linguagem escrita
(Alves et al., 2011). O TDA/H pode estar associado ao baixo rendimento
na aquisicao da linguagem escrita particularmente quando ha a presenca
de déficit atencional, caracteristico nos subtipos desatento (em que
predomina o déficit atencional) e combinado (hiperatlvidade com déficit
atencional). O defict atencional no TDAH esta sistematicamente
associado a prejuizos na memoria de trabalho (ou operacional)
fonologica e na habilidade de nomeagao rapida (figuras, digitos, etc.),
processos cognitivos fundamentais para a aquisi¢ao da linguagem
escrita (Willcutt et al., 2010; Capellini et al., 2007). Assim como nos TA, O
TDAH € um transtorno que também pode ocorrer apesar de inteligéncia
normal auséncia de problemas neuroldgicos aparentes e adequadas
condigdes socloeconémicas, afetivas e educacionais (Andrade, Prado &
Capellini 2011; Andrade, Andrade & Capellini, 2013; APA, 2002; OMS,
1999).
Novamente, é importante reiterar que quando usamos 0 termo
transtorno de aprendizagem, estamos falando de problemas de
aprendizagem que ocorrem independentemente de fatores ambientais
como condicgées socioecondémicas e culturais, metodoldgicas/
pedagdgicas e emocionais (Andrade, 2010; Andrade, Prado & Capellini,
2011).Embora nao sejam desencadeantes do BRE nos TA, esses fatores
ambientais frequentemente podem aparecer como agravantes. Nesse
sentido, é fundamental identificarmos quais sao os fatores
preponderantes subjacentes aos altos indices de fracasso escolar que
aflige nosso pais. Precisamos saber de que forma e em que extensdo
ocorre a contribuigdo dos fatores ambientais e de que forma e em que
extensdo ocorre a contribuigdo de fatores neurobioldgicos ou de origem
constitucional para este quadro lastimavel de fracasso escolar no ensino
brasileiro.
De antema podemos dizer que tamanha proporc¢ao de fracasso
escolar no Brasil nao pode ser atribuida a problemas de aprendizagem de
origem constitucional, pois os TA em geral afetam em média de 2 a 10%
da populagao mundial segundo o Manual Diagnéstico e Estatistico de
Transtornos Mentais (DSM-IV) (APA, 2002) ou 3% segundo a
Classificagao Estatistica Internacional de Doengas e Problemas
relacionados a Satide (CID-10) (OMS,1999). Por outro lado, é importante
destacar que a dificuldade com a aquisi¢ao de leitura e escrita é um
sintoma pervasivo, isto 6, comum aos varios tipos de TA, de modo que
aproximadamente 80% dos escolares identificados com TA também
apresentam dificuldades de leitura e escrita (Fuchs & Fuchs, 2006;
Shaywitz & Shaywitz, 2008). Portanto, isto torna a prevaléncia de
transtorno de leitura (ou dislexia) mais alta que os outros TA.
Especificamente com relagdo a dislexia (APA, 2002), ou transtorno
especifico de leitura (OMS, 1999), cuja principal caracteristica é 0
prejuizo na fluéncia (palavras lidas corretamente por minuto isto é
velocidade e nao fluéncia, acho que nao tem que definir fluéncia pois
este termo é facil mente compreendido pelos professores) e na acuracia
(precisao se tiver que redefinir sugiro palavras lidas corretamente) de
leitura, resultantes principalmente de prejuizos no processamento
fonoldgico que, por sua vez, acarretam dificuldades na decodificagaografo-fonémica, sua prevaléncia gira em torno de 6 a 17% da populagao
mundial em idade escolar. A ocorréncia da dislexia é predominante no
sexo masculino numa proporgao de 1,5:1 segundo as estimativas
descritas na literatura (Alves, Siqueira, Lodi & AraUjo, 2011). Um dos
principais fatores dessa variagdo na prevaléncia da dislexia acima
apontada é 0 tipo de ortografia. Os prejuizos de leitura nos disléxicos sao
principalmente proeminentes em ortografias profundas (ou mais
Opacas), como a do inglés e francés, nas quais as relagdes letra-som sdo
mais variaveis, ao passo que os prejuizos sao menores em ortografias
mais transparentes como O italiano e espanhol, e em um grau um pouco
menor a do portugués (Alves, Siqueira et al. 2011).
Assim, de acordo com a Associagao Internacional de Dislexia,
estudos epidemioldgicos recentes utilizando amostragens amplas e
bastante representativas indicam que nos Estados Unidos da América 15
a 20% da populagao apresenta problemas significativos de aquisigao da
linguagem escrita, sendo que 85% desta populagao possui dislexia
(Fletcher, Fuchs & Barnes, 2007). De fato, a literatura reporta que 10 a
17% da populagao americana possui dislexia (Shaywitz, 1998; Shaywitz,
Morris & Shaywitz, 2008; Vellutino et al., 2004), ao passo que no Brasil,
embora estudos de prevaléncia ainda sejam escassos, estima-se que a
dislexia afeta aproximadamente 10% dos escolares (Alves, Siqueira et al.,
2011).
Embora 0 TDA/H nao seja considerado um transtorno de
aprendizagem, como ja notado anteriormente, a sua alta comorbidade
com os transtornos de aprendizagem, em torno de 25 a 40% (Siqueira et
populagao escolar, O Manuat nimemeectasaao boore sua prevalencia na
al., 2011), também justifica uma breve discuss4o sobre sua prevaléncia
escolar. O Manual Diagnostico e Estatistico de Transtornos
Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders - DSM),
na sua quarta edi¢ao (DSM-IV), estima uma prevaléncia de 3 a 7% dascriangas em idade escolar. Revisdes recentes da literatura sobre
prevaléncia de TDA/H indicam uma prevaléncia média da populagado
mundial de 5,29% (Polanczyk et al., 2007). Entretanto, nas populagdes
mais jovens, entre 7 a 18 anos, nos Estados Unidos, Europa e América do
Sul (incluindo o Brasil) a prevaléncia média fica em torno de 8 a 12%
(Akinbami, Liu, Pastor & Reuben, 2011; Faraone, Sergeant, Gillberg &
Biederman, 2003; Polanczyk, Laranjeira, Zaleski, Pinsky, Caetano &
Rohde, 2010), sendo que no Brasil esta taxa é aproximadamente 8%
(Polanczyk et al., 2010).
Com base nos dados sobre a prevaléncia de dislexia e TDA/H
reportados nos paragrafos acima, que ficam em torno de 8 a 10% vemos
que ha um excessivo encaminhamento aos servicgos publicos de saude
de escolares com queixas de problemas de aprendizagem. Um estudo
realizado no Laboratorio de Neuro-Dificuldades de Aprendizagem do
Hospital das Clinicas da UNICAMP mostrou que apenas 30% dos
escolares encaminhados apresentavam de fato um TA e apenas 13% um
um quadro de TDA/H (Lima et al, 2006).
Portanto, a necessidade de todos os profissionais envolvidos com a
educagao e aprendizagem distinguirem conceitualmente entre
“dificuldade de aprendizagem’ e "transtornos de aprendizagem' (TA) e,
também disporem de ferramentas eficazes de identificagdo precoce
daqueles escolares que realmente podem estar com risco para TA e/ou
TDA/H, sao duas condigées fundamentais que serao abordadas neste
livro. Entretanto, o fato é que ainda existe muita confusdo terminolégica
entre disturbios de aprendizagem e dificuldades de aprendizagem no
Brasil, isto é, ambos os termos sao frequentemente usados como
sindénimos, equivocadamente
(Capellini et al., 2009).1. Distinguindo dificuldades e transtornos no contexto escolar
Embora haja um grande numero de criangas com dificuldades de
aprendizager, poucas realmente possuem disturbios. Diferenciar entre o
BRE representado apenas por dificuldades de aprendizagem e o BRE
associado a um TA nao é uma tarefa facil para o professor.
Primeiramente porque os fatores extrinsecos (socioecondmicos e
pedagdgicos) bem como os de ordem emocional, embora sejam os
fatores desencadeantes do BRE nas dificuldades de aprendizagem, eles
também podem estar presentes nos TA como fatores agravantes. Em
segundo lugar, porque é indispensavel o desenvolvimento e
conhecimento de ferramentas de identificagao precoce que permitam ao
professor e a equipe pedagdgica a detecgao de sinais tipicos de risco
para TA em um contexto educacional, e estas ferramentas ainda sao
escassas ou inexistentes no Brasil.
Para saber se uma crianga de BRE possui uma dificuldade ou um TA,
é necessario fazer uma série de observagées complexas. Em primeiro
lugar, o professor necessita tanto de conhecimento adequado para
diferenciar entre dificuldades e TA, bem como conhecer os aspectos
particulares dos diferentes tipos de transtorno. Em segundo lugar, é
necessaria uma andlise cuidadosa que inclui tanto o rendimento escolar
do aluno de um modo geral, bem como quais os dominios em que sua
dificuldade se mostra mais acentuada. Em terceiro lugar, é fundamental
a observagdo do seu comportamento na escola e em contextos
extraescolares, bem como buscar informagées sobre seu ambiente
socioeconémico e familiar e assim por diante. Finalmente, é
imprescindivel que o professor disponha de ferramentas
psicopedagégicas adequadas para realizar a tarefa de rastreamento
precoce de criangas de risco para TA. Porém, se levarmos emconsideragao a realidade socioecondémica em que se insere grande parte
das escolas publicas, acarretando dificuldades nao so para os alunos,
mas também para 0 trabalho do professor, a diferenciagao entre
dificuldades e transtornos é uma tarefa ardua.
Por outro lado, além dos problemas inerentes a existéncia desses
dois tipos gerais de causas subjacentes ao baixo desempenho escolar
em qualquer sociedade, isto é, dificuldades e TA, nos deparamos com
outros dois agravantes importantes que devem ser superados na
solugao deste problema. O primeiro é 0 crescente numero de escolares
com baixissimo desempenho em leitura cuja causa podemos atribuir a
fatores nado somente socioecondémicos, mas principalmente
pedagdgicos (Brasil, 2003b; Belintane, 2006). O segundo é a falta de
preparo psicopedagdgico dos professores para enfrentar efetivamente
esses problemas.
Estes dois problemas adicionais também ajudam a recrudescer
ainda mais o quadro de confusao entre dificuldades e transtornos, uma
vez que estamos criando uma falsa percepg¢ao de que muitas criangas
com baixo desempenho na aquisi¢ao da leitura e escrita apresentam
dislexia. Essa falsa percepgao tem contribuido para o que alguns
chamam de "sindrome do encaminhamento’, isto é, 0 encaminhamento
frequente e desnecessario de um grande numero de criangas que sao
inadequadamente consideradas portadoras de TA, particularmente a
dislexia, sobrecarregando o sistema publico especializado.
Outros dois problemas atrelados ao despreparo psicopedagégico e
a sindrome do encaminhamento sao: a) a "rotulagao" indevida de muitas
criangas, 0 que gera problemas de estigma e autoestima (uma vez que o
processo diagnéstico nao pode ser feito pelo professor, mas sim por uma
equipe multidisciplinar) e b) a auséncia de uma abordagem de
identificagao e intervengao precoces dos escolares com um baixo
rendimento escolar comprometedor de seu futuro desempenho
académicoEm suma, juntos estes fatores dificultam a busca por uma solucado
mais efetiva e pontual para o problema. Portanto, uma vez bem
identificados os problemas acima descritos, pareceria natural o
delineamento e as agées para as solugdes, nado fossem certos entraves
capitais descritos a seguir:
- Negacao sistematica de fatores bioldgicos ou constitucionais nos
problemas de aprendizagem;
- Crenga de que a alfabetizagao deve ser realizada por meio de
métodos que enfatizam a leitura da palavra inteira e de textos,
onde o significado é obtido por meio do contexto e adivinhagao.
Nesta visdo, nao se deve dar énfase no cédigo (relagées letra-
som), pois isto seria altamente prejudicial ao aprendizado da
leitura.
- Acrenga de que TA e TDA/H nao existem. Na educagao brasileira
predomina a nogao de que os problemas de aprendizagem sao
inteiramente decorrentes de fatores socioeconémicos e/ou
educacionais (Ferreiro & Teberosky, 1985; Moysés & Collares, 1997),
e até mesmo a nogao de que a dislexia é simplesmente uma
consequéncia dos métodos que enfatizam a relagao letra-som
(Ferreiro & Teberosky, 1985; para uma revisdo veja Andrade, 2010).
Outros acrescentam a esta ideia a nogdo de que os transtornos sao
uma invengdo imposta pela industria farmacéutica (Moysés &
Collares, 2009).
- Pouca familiaridade dos educadores com o método cientifico e do
conhecimento cientifico produzido na area de ensino-aprendizagem;
- Falta de "ferramentas’ objetivas e praticas para rastreio e
identificagao precoce de escolares de risco para TA pelos educadores,
no contexto escolar.2. Uma solugao baseada na identificagao e intervengao
precoces do risco para Transtornos de Aprendizagem
E importante ressaltar que identificagdo precoce do risco para
TA é a busca sistematica e baseada em evidéncia de sinais
preditores ou de risco antes do encaminhamento do escolar para
avaliagdes realizadas por uma equipe multidisciplinar
(psicopedagogo, psicdlogo, fonoaudidlogo e neuropediatra), para a
confirmagao ou nao de um diagndéstico. Portanto, identificagao
precoce de sinais de risco nao é um diagnéstico, mas sim uma
atitude preventiva que permite uma intervengao precoce baseada em
estratégias pedagdégicas cientificamente fundamentadas e que
permite estimulagdes cognitivo-linguisticas adequadas em um
periodo de maior plasticidade cerebral (a capacidade dos circuitos
neurais se reorganizarem com a experiéncia), independente de o BRE
estar associado a dificuldades ou a Transtornos de Aprendizagem.
Sendo assim, defendemos a ideia de que o professor deve
receber capacitacao para implantar a abordagem de resposta a
intervengao (RTI) ou "responsividade" a intervengao, isto é, uma
atitude de colaborar no processo de identificagao interven¢gao
precoces de escolares de risco para TA, envolvendo estratégias
pedagdgicas e psicopedagdgicas baseadas em evidéncia cientifica
Portanto, o presente livro possui trés objetivos principais:
O primeiro objetivo é fornecer aos educadores e outros
profissionais envolvidos na educagdo uma pequena revisdo da
literatura sobre a relagao entre linguagem oral e escrita, os processos
envolvidos na leitura-escrita e suas implicagdes para a alfabetizagao
e€ para os TA. Pretendemos com isto proporcionar aos educadores
uma visdo cientifica e critica da area e sobre o debate em torno da
escolha dos métodos de ensino da leitura-escrita.O segundo objetivo deste livro é realizar uma revisdo e
discussao da literatura sobre a abordagem de resposta a intervengao
(RTI). Esta revisdo
inclui, além dos aspectos conceituais, uma discussao sobre os
principais
dados empiricos no Brasil e no exterior.
O terceiro objetivo consiste em uma proposta de abordagem RTI
no Brasil com base em nossos estudos de desenvolvimento e
testagem de ferramentas de rastreamento (ou identificagao) precoce
de escolares de risco para TA. Esta proposta de RTI 6 baseada em
atividades pedagogicas coletivas facilmente aplicaveis pelos
professores em sala de aula e que confiavelmente avaliam as
habilidades fonoldgicas, as quais sao reconhecidas como os
melhores preditores da futura aquisigao da leitura-escrita em pré-
leitores e leitores iniciantes. As ferramentas diagndésticas sao
denominadas Ferramentas Alternativas do Educador e doravante
referidas como FAE.
Acreditamos que o material tedrico-empirico e a abordagem de
RTI proposta neste livro facilitardo o trabalho dos educadores de
identificagao e intervengao precoces. Estes materiais também
facilitaréo a interagdo do professor com os profissionaiS
responsaveis pela diagnose e intervencdo terapéutica dos TA.