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As origens do atomismo cientifico: contribuigdes da Quimica Cannizzaro antecipou a sintese da Quimica eda Fisica que #stme por vir. quando, no enconéry de Karlsruhe, negou gue howesse qualquer sentido na distingéio entre 0 “dtomo quimica” e 0 ‘atomo fisien’. Mary Joe Nye 1 Descartes contra o atomismo E impossived haver dtomos, isto é, particulas de matéria que sejam, por sua pripria natureza, in. divisineis; pois, se de falo houvesse dtomnos. © ndo importa quo misisewos possamos tmagi- né-los, terion necessariamente de ser extensos portanto, poderiamos (...) reconhecer sua divist- bilidade. René Descartes, No mundo de Platio ¢ de Aristételes havia uma forte tendéncia & exaltacio da racionalidade como critério central de buses da Verdade, na qual a Geometria «2 14jgica desempenharam um papel muito importante. No mundo cristio, no entanto, construiu-se, a partir do séeulo 1 dC., uma Sociedade teocéntrica, impregnada de uma cosmovisde mligiosa, que se constituiré na form, ante de pensamento no Ocidente por mnitas séeulos. Somente no final da Idade Média & que esse estado mental, essencialmente religioso, comegara a dar lugar a um outro, que prepararé. 6 caminko para o Renascimento ilaliano ¢ para a Revolugao Cientitica. Por sua vez, um pape muito importante na difusia do conhecimento cientifivo foi desem- penhado pela inyengiio da imprensa, er meados do séenlo XV, Paralclamente, surge uma tnidéncia de geometsizar @ desenho que antecede a pintura, evidante na obra de tantos pintores rounscentistas italianos, como Masaceio, Piero della Francesca, Pollainolo e Raffaello, mareadas pelo uso da perspectiva (Figura 2.1). Hssa tendéncia deve ser extendida como um prességio de uma nova geornetrizugdo da Fisica depois de Plato (Segao 1.3.2). 24 24 Caruso « Oguri ase Figura 2.1: “Escola de Atenas” ge Raffaello. Destaca se a perspective © a estrutuira geometrice da pintura, aiém 0 lato de © proprio Raffaciio ter se colocado no cante direito Inferior do quadta, sréximo a Ptolomey, Junto 8 grupe que eet estudando Geometris com Fuclides A nova concepgao artistica caracterfatica do Renasciane de relacionamento do homem com a Natureza e, de corta f cosmonisao religiosa, que dominou Lola a Idade Média, wa forma diferente ruptura com a ito espelha ntecipa 3 rm, A Astronomia, com Copérnico e Kepler, muito contribuiu para essa segunda geometrizagio, com grande impacto sobre a Fisica ¢ sobre © homem (Segio 1.3.3). Entretanto, é digna de des- taque uma outra valorizagiv da Geometria: a de Descartes, fundador da Geometria Analitics © de uma nova Filosofia, Nos seus Principia Philosophive, de 1611, Descartes apresenta os fundamentos «lv seu sistema filoséfico © cientifico, ox principios gerais da Fisica e detalhadas considerages acerca de fendmenos terrestres ¢ celestiais. A influencia dessa obra, a partir do séeulo XVII, pode ser ferida pelo fato de que ni ha livro de Misica publicalo entre 1650 ¢ 1720 (ineluindo os Principia Mathematirn dhe Newton) em que os problemas levantadus ¢ analixadus por Descartes, sob sua ética mecanicista, nao fossem considerados, Contudo, os Principia de Descartes atribuiam win caréter de certexa a intuighes ou espect- lagdes, sem qualquer dependéncia direis du experiencia ¢ foram, por isso, fortemente combatidas por Galileu ¢ Newton. O projeto filoséfico cartesiano buscava fundamentar as bases de um mecanicismo que explicasse todos os fendmenos fisicos a partir de interagies entre particulas on “corptisculos” que niio devem, absolutamente, ser identificaclos com os de dtomos. Aw contrétio dos atomistas, Descartes uio aceitava a idéia de particulas indivistveis. Sua extrema conceps do mundo reduz a maléria i extensdo, considerada, por ele, em lugar da massa, a propricdade fundamental da matéria, Ea extensiv da matéria ~ aquilo que tem dimensoes - do espago geométrico continue, deve ser infinitamente div de cxistirem Stomos, como atesta a epigrafe desta seco. como no case, vel. Segue-se dai a impossibilidade 2._ AN ORGENS DO ATOMIEMO CIENTIFICO: CONT RURUIGOES DA Quivica 25 Ao renegar também a existéncia do vazio, 0 fildsofo francés supera a dicotomia introduzida pelos atomistas, ou seja, 0 fato de considerarem 0 espago separada e independente da matérin, uma vez que Descartes redux sua esséncia A ertensio: A mutéria é constituida essencictmente de seu comprimento, largure € profundidade, Desta forma, 0 conceito de Jorca nio é essencial na Fisica cartesiana, sendo entendido como algo relacionado & mudanga de lugar. Foi Newton quem ampliou a nogao de forga, que passou a ser qualquer agente que produ ima alterago no estado de movimento do corpo. A geomectrizaqao extremada de Descartes o Ievou a um beco sem saida, Considerem-se, do ponto de vista estritamente geométrica, dois curpos idénticos A ¢ B interagindo com um Lerceiro corpo @. Se tudo se reduz & Geometria, de que forma explicar a sitnagdo em que 0s resultados empiricos da colisio de AC e BC sao distintos’ Faltava a Deseartes © conceitu de massa. Neste exemplo, as formas geométricas dos dois corpos Ae B podem ser idénticas, mas as suas massas, diferentes; portanto, para colisdes nas mesitias condigées ¢ com um mesmo corpo, as aceleragoes resultantes serdo diferentes, como explicaré Newton. Em. tina perspectiva historica, essa cosmovisio gcométrica de Descartes niio foi capaz de gerar uma teoria quantitativa da Fisica. Seu projeto mecanicista de explicar a phuralidade dos fenbmenos fisicos a partir de interagdes entre partfculas, ao entanto, sobrevive; ¢ retomado, por exemplo, no programa cinsteiniano de geometrizar a Gravitagio, Coube a Newton langar as bases de uma nova cosmovisiio ¢ iniciar uma nova fase do Mecanicismo (Segdo 2.3). Antes, porém, & preciso analisar as contribuicdes de trés expocntes do atomismo no século XVII: 0 grande italiano Galilou Galilei, o matemitieo froncés Pierre Gasser ¢ 0 fisica © quimico irlandés Robert Boyle, 2.2 O atomismo de Galileu, Gassendi c Boyle A discusséo sobre a divisibitidade da matéria parece ter sido. em grande -, mesmo sc de Jorma inconseiente, um debate acerca do valor ‘cxistenial da dedugdo matemdtica ou ldgica. Adolph Snow A partir dos primeiros séenlos da era cristi, 0 pensamento humano, de alguma forma, afustou-se dos problemas da origem do Mundo, da busca de princ{pios substancialistas ¢ das preocupagdes com a esséncia da matéria e csteve muito mais voltado para problemas morais © toligicos; somente na Tade Média, a questdo dos elementos fundamentais foi recolocada pelos alquimistas. Por exemplo, 0 médicu snigo Paracelso! defenden a idéia de que os elementos principais do Cniverso deveriam encontrar-se em princfpios ou quatidades das substancias, ¢ no nag substaneias m si. Assim, por exemplo, 0 cnxofre seria o principio da combustao (fog). Com 0 inicio da Renascenga italiana, surge um crecente interesse com relagao & Natureze. Koi mais exatamente nos séculos XVI e XVIL que a Ciéneia Natural tomou grande impulso. través de varias descobertas, como as observacées astronomicas, as quais permitiam descrever 0 aspecto montanhoso da superficie lunar, ¢ a revclacéo de imimeras estrelas até entao desconhecidas, é que comegam # ocorrer inovacées na Fisica ¢ na Astronomia aristotédlicas, puramente especulativas. hurcdlus Bombastus von Hohenheins, 26 Feica Modena Caruso © Oguri HsevER FB a partir dai, no sdenlo XVIT, que Galilen comega a explicar os fenomenos atraves de causas naturais, procurando prescindir de cansas religioss. O fato, por exemplo, de terem sido descobertas manchas no Sol rompe com a idéia vigente da perfcicao do Universo prigada pela Igreja, pois, se Deus criow o Universu, ele o fez & luz da perfeigio. O interesse em combinar 0 conhecimento empiric com » Matemética, como ocorren no trabally de Galileu, foi talver em. parte devido possibilidade de se chegar. dessa mancira, a algum conhccimonto que pudesse ser mantide completamente afasiade das disputas teokigicas que se sucedia durante a Reforma. ‘itidade, e a doutrina atomista nio foi exeegiv. Os prineipios do atomismo ¢ do materialismo comegam, nessa Gpoca, a intcressar os cientistas ¢ so combinados, ora com o conhecimento alquimico, come cm Paracelso, ora com coucepgies metafisieas, como em Giordano Bruno, ora, sinda, com teorias Teligiosas. como em Galileu ¢ Newton. Grosso modo, pode-se dizer que esse interesse provinha, em tiltima andlise, da possibilidade de fundamentar uma filosofia mecanicista, capaz: de esindar os fenémenos com base na matéria ¢ no movimento, tal como sugeria a nora filosofia de Descar No pensaimento renascentista, renow-se 0 interesse por varius idéias da Ant leu tem, no processo de transi¢go entre a Fisica Medieval ¢ ado perfodo da Revolugao cntifica, um papel fundamental, ao langar as bases de um novo método cientifies no qual combina, de forma indissohivel, a Matemstica ¢ 0 conhecimento empirico. Para ele, a Matemsitica 6 necessriamente um instrumento de busca da Verdade & qual a Ciéneia se dediea, como alesta ‘0 seguinte fragmento de sua obra I Sagyiatore, publicaca pela primeira. ver ems 1623: O grandissimo tivro {da naturexa) extd escrito em lingua matemitica ¢ ox caracteres sito ox tridngulos, céreulos © ontras figuras yenmbtricas (...) sem as qunis se estar vagueando em wio por um obscero labnrinto. Ainda sobre a questio da verdade cientitica, Salviati que representa a vor, de Galilew afirma em seu Pidlogo, de 1632. que (..) mas eiéneias naturais, cujas eonclusdes so terdudeirus ¢ nécessiirias ¢ ndo tém qualquer relagio wm o urbitrio humanv, € preciso precaver-se para néo se colocar em defesa do faiso (...). Outro aspecto fundamentalmente valorizado no método cientilico galileano 6 a experi- mentagio, cuja relevincia, considerado © caminho da honestidade intelectual, j4 havia sido expressa, com muita clareza, pelo genial pintor c cientista italiano Lecnardo da Vinci Meu propésito 6 resolver unt probleme [cientffico] em conformudade com a eaperiéncia ¢ devemos conauitar a exper cirvunstincias, até podermos extrair deles uma reyra geral que esteja contida nos mesmos (...}. Elus wos conduzem a ulteriores investigacdes da neturesa e ¢ criagies da arte. fmpede-nos de iludirmes a nds mesmos, ou a outros, ao arenarmos com resultados que néo possum ser oblidos. neta em uma certa variedade de casos © Essa atitude em relagio & Natureza vai se difundir a tal ponto que muitos livros, principal mente dos séculos XVIHT © XIX, inician-se cot epigreles ou com gravuras que sintetizam ease valor leonardiano atribuido & experimentagio - ao que oferece a Mic Natureza -, que pode ser As ORIGENS DO _ATOMISMO CHeNTiNOD: CORermENLIGTHET HA Quimer oT Ihetn exemplificade aqui pela gravure reproduzida na Figura 2,2, O saudoso fisico brasileiro Cesar Lattes gostava de incentivar us jovens 4 seguir essa postura de Leonardo da Vinei: vd aprender suus ligées na Natureza, puis toda teoria é provisdria, mas 0 resultado empirico, uéo. Figura 2.2: A Mae Natureza como fente da Veraade. conforme frontizelcio ¢e um livre do sécule XVIII Galileu refere-se aos ftomos em duas de suas obras mais que, cxeluindo 0 som, & possivel se chegar a wma teoria corpuscular dos feudmenos fisioos, conhecidos até entao, e admite a hipdtese atmica (a existincin de silomos « do vizio), desenvol- sid uma teoria corpuscular para o calor ¢ para a luz. Ele reserva, na verdaite, 0 termo dtome pare as particulas luminosas. importantes. No Seggiatore, alirnia 14 no Didlogo, Galileu, admitindo que os atomos possuem apenas qualidades mutenuiticns, chama-os de dtomos sem quurtidade, desprovidos de extensan, dimcasio ¢ forma. Observase, portanto, uma significativa mudanga de concepgao acerca do atomisino, doutrina esta certameate Esica Moderna Caruso ¢ Oguri ELSEVIER conveniente ao prujeto galileano «le matematizar também os movimentos terrestres, e no apeuas os celestiais.” Galileu néio mais defende as idéins filoséticas dos atomistas antigos. pols, segundo ele proprio, causum-lho apenas desgaste. Prefere, assim, adotar um atomisme “mais pragmético”, reduzindo os flomos a pontos matemsticos. Essa idéia serd de grande utilidade para a construgao do atomismo cientifico ¢ no estabelecimento da Teoria Cinétira dos Gass, no séoulo XIX (Capititlo 3) A concepgao atomistica da matéria de Galileu esté na origem de seu problema com a Inqui- sigio, segundo @ tese do historiador italiano Pietro Redondi, pois, nma vez que os atomos sao imutaveis ¢ indivisiveis,? isso impossibilita a trausformagio do plo e do vinho, respectivamente, na carne # no sangue de Cristo, pondo, assim, em diivida um importante dogma da Igreja: a encaristia. Influcneiado pelo método de Galileu, Gassendi escolhe para seus propésitos a doutrina atomista de Epicuro. Mais do que nos dtomos, Gussendi estava interessado no significado do atomismo, Ele admitia a necessidade de elementos indivisiveis, 0s quais deveriam ser «etados de tamanho, forma (como para Deindcrite) © peso (como para Epicuro). Admitia também que os atomos podem ser matemsticamente divisiveis ad infinitum, embora, na realidade, sejam indivisiveis e se movimentem ¢ se combinem no vazio. Pode-se afirmar que Gassendi tornou © atomisuio aceitaivel A sua época, Uma de suas contribuigdes dignas de nota ~ retomada por outros pesquisadores mais tarde ~ foi a alirmagio de que algumas moléculas seriam formadas a partir de dtomes, As moléculas, diferentes cntre si, seriam as sementes da variedade de cnisas. Boyle também sdmite que a matéria é indestrutivel e composta de stomos + vazi. Ele percebwea cedo a importancie fundamental da Matemstica como linguagem da Ciéncia, incluindo wou papel na descrigdo dos resultados experimentais ¢ como um instrumento relevante para © estabelecimento de uma visio atomistica do mundo, de cunho mecanicista, uo ambto da Quimica. Ele considera que o mundo opera segundo dois principios nobres ¢ mais unin matéria & movimento wersais: Embora compartilhe da maioria das idéias de Gassendi c de Descartes, a tendéncia de Boyle 6 buscar descrever propriedades quimicas espeeificas dos &tomos, sem se ater tanto as suas propriedades mecnicas. Para cle, havia ainda muito a ser testado, tanto do ponto de vista da filosofia mecanicista quanto da Quimica; a» feudmenos quimicos, em especial, ainda estavam Jonge de serem compreendidos & luz do atomismo (Segoes 2.5.1 a 2.5.5). Apesar disso, Boyle jé acreditava, por exemplo, que havia distingaio entre elementos © compostos quimicus. Os ritomos dos compostos seriam formados de détomos dos cleneuvos. Ele chega a evocar indicagdes empiticas, a partir de reagdes quimicas, para justificar « divisio da. matéria cm corptisculos ou partfculas, Em suma, sua abordagem do atomiano tende mais para a Quimica do que para a Fisica, ¢ sua contribuigio, a partir de 1054, visando estencler a filosofia FA evidente matomatzagao da Astronomia ¢ da Cosmotogis de Kepler (Seco 1.3.3) advém de harsonias ‘que se traduzem por relaqoes geométticns entre curpas colestes ¢ entre suas cyrrespondentes posioes. Niin houve, portanto, qualquer necessilade de alusio & constituicao dos corpor. Podo-se sfirmar que, nessa epoca, Cusmologia @ 0 que s poderia chamar de “Fisica ie Particulas” (atonnismo) eram completamente disscindas. *"Suponde corrsta « two de Kedoadi, podese imaginar que 8 concepgao wal do parkioolas clomenteres, 29 qual a elenentardadr nio esti mais rolacionada i indestrutibilidade: dos constitutes ditimas da matéria, pode er sido considerada na revisiw do prucesso de hereda de Galilen » ter contribuido. de alguna forma, pars a sua absolvieao, por parte do Vaticaao. A tose de Redondi contrapoe-se 4 tese mais acwita de que a coudlenacio de Galiew ters a ver com seu eaulose a0 heliocentristno de Copérnieo 2._AS ORICENS DO ATOMISMO CIENTIFICO: CONTRIBUIGOES DA QUIMICA 29 mecanicista & Quimica, foi importante ¢ pioncira, cm uma lentativa cousciente de afasté-la de suas raizes filoséfieas imbrieadas na Alguimia. 2.3 A cosmovisao mecanicista e o Atomo de Newton Newton den aux tomos ur significado mateméti- co, concebende os dtomos simples como pontos, € as relagies dos dlomos uns com os outros como relagées geometricas, Adolph Snow No que diz respeito & descricio da matéria, o clemento base da filosofia newioniana. ¢ a lei do movimento, ¢ nay substancias, particulas ou formas geumétricas, coo ua filosofie grega. Os Atomos sio criados por Deus e simplesmente aceitos por Newton, como se apreende da passagem da “Questo 31" do sew Optiks: Parece provdvel que Deus, no inicio, formou a matéria em Particulas sdtidas, massivas, duras, impenetriveis, andveis, de Yamnanhos © Formas tais, © com tais outras propriedades, € em tais Proporgées em relacdo ao espago, como fora mais conveniente av Fim para o qual as formon (..).' Nesse fragmento, nota-se que Newton buscava apenas uma descrigao puramente causal do movimento dos corpus ¢ fornuas, nevitancdo, sem questionamento, a visio atomista do Mundo. No entanto, ao accitar » stom matemiitico de Galilen, concebido como pontes, vai além e busca compreeuder as relagdes wulre eles a partir do movimento, Newton combinon 6 atomismo clissico com sou conccite de gravidade p de densidade da matéria, Embora, em sua obra, as particulas basilares nao tivessem qualquer relagdo direta com as substincias quimicas observadas, elas ofereceraim ma base conecitual para as explicagics quimicas por um bom tempo. Mais que isso, 0 fisico inglés vishimbrou, na mesma “Questao 31", a possibilidade de exis |, enLre as menores particulas da matéria, forgas alrativas ¢ ropulsivas de outra natureza que nao a gravitacional e a eletromagnética: meplicnr a varingios Nao tém as pequenas Particulas dow Corpo delermninados Poderes, ou Forgas. por meio dos quais ogem {...) umas sobre as outras, para produsir wma grande Parte dos Fenimenos da NaturezaY Pois sube-se que os Corpos agem, uns sobre os outras, poles Atrucies da Gravidade, do Magnetismo e da Bletricidade; (...) e nie fazem que seja improvével que possarn existir Poderes mais atrativos do que esses (...) Como essas atragées podem se realizar ew ndo vow considerar ogui (...) As Alracées da Gravidadr, do Magnetismo e da Eletricidade atingem distancias considerdveis, {_.! ¢ podem existir outros que atinjam distansins tite pepvenas que até hoje escaparam 4 nossa observagio f...).° ‘Um dos méritos de Newton foi o de despertur vérias tentativan no sentido de se quantificar a lei de forga da atracio quiiica, fato que teve inegdvel impacto no proprio desenvolvimento © O préprio John Dalton transereveu essa passage ei sett calersio de: wotas 5 0 séeulo XX evidencion dois uovos Lipos de Interagao de curto aleance (resteitas A escata dos miicleos ‘stdanicus): as interngSae fortes, ot miclosras, « ax fracas. A primeira é rexpomivel pela estabilidade do nticleo atémico, # « seguncla, pelos decaimentos radioatives (Capitulo 9), 30 Fisiea Moderua Caruso # Oxi Fv da Quimica. Sua conteibuigio vai ainda mais longe. Quanto a estrutura da matéria, suas idéias fluenciaram grandes expoentes da Quimica, como o francés Antoine Laurent Lavoisier © 0 isis John Dalton, como sugere a seguinte citagso: As expeculagies de Newton sobre o éler deram wma imensa contribuigéo & orga- nisucdo de uma vasta ¢ creseente massa de dados cxperimentais sobre o calor, a lus, 0 fogo, 0 magnetiemo ¢ a eletricidude. Em particular, 0 (ler neutoniuno servia como modelo para a teoria eatérica do calor. Tal teoria passou a fazer parte da nova concepgio de Lawisier sobre a cumbustdo ¢, sucessivamente, se mostrou essenciat a0 desenvolvimento da tooria atémica de Dalton. Mas, na verdade, a influéncia newtoniana tranacende em muito as concepyiies acerca da constitui¢o da matéria, na medida em que da origem a uma cosmovisio cientifica de cuuho mecanicista, largamente difundida ¢ aceita até o final do século XIX. De fato, mesmo na grande sintese do fisico escocés James Clerk Maxwell sobre a Eletricidade © 0 Magnetismo, hi urna tentaliva de explicar os fendmenos eletromagnéticas em lermos de uma agin mecénicn, Iransrnitida de um compo pam outro por intermédia de um meio ocupanda 0 espaco entre cles. Em geral, Newton ¢ os newtonianas buscam determinar as forgas que geram as nudancas de estado dos movimentos. Hsquematicamente, podese dizer que essa busea, originada em Descartes, ganha corpo em Newton, é formalizada pelo matematicn suigo Leonhard Huler © culmina com o francés Pierre-Simon «le Laplace. Durante essa evelugéo, vai se alirmando a idéia de um determinismo absoluto, de cunho mecanicista. De acordo com Laplace: Nés devemos considerar o estado presente do Universo como efeito de seu estado anterior, © causa do que se deve seyuir, Uma Inteligéncia que, por um dado instante, conkecesse todas as foryas de que a naiureza € animaia ¢ a situacdo respeotiva dos seres que a compéem, se fosse suficientemente vasta paru submeter esses duos a0 ciieulo, abragaria na mesma formula os movimentos dos meiores corws do Universo @ 09 do dtomo mais leve: nuda seria incerta para cla ¢ v futuro, como 0 passudo, alaria presente aos acus ols. Talvex melhor sintese do impacto do mecanicismo na Fisica até os primeiros anos do século XX seja a afirmativa do inglés William Thomson, mais conhecido como Lord Kel: de que entender um problema de Fisica significa ser eapaz. de fazer um modelo mecanico dele, A idéia de um sistema explicativo da Natureza haseado na causa efficiens — esséncia do determinismo merenicista marca o ambiente culture’ que propiciou o fortalecimento day vis&o atomista da matéria. A titulo de exemplo, pode-se revordar uma. conferéncia intitulada “Os Confins do Conhecimento da Natureza”, proferida ex 1880, na qual o fisidlogo alemao Emil du Bois-Reymond sustenta residir a autenticidade de uma Ciéncia na sia fundamentagio caleada na uecinica dos tomo Se imagindssemos todas as tronsformagies do mundo material resolvidas em movinualus de Gomos, produzidas por uma forca central constanie, 0 universo seria cieniificamente comhecido, O estado do wnundo durante um diferencial de tempo apareceria como imediato efeito de seu estado durante v diferencial de tempo precedente, ¢ como causa directa do eu estado durante o diferencial de trmpo suces- sivo. Lei ¢ acaso seriam somente diferentes nomes da necessidade mecénica, 31 [As ORIGENS Do groMISMO ClENTIFICO: CONTIUSUIGDES DA QuiaICA Rsse determinismo mecanicista, por mais sucesso que tenha alcangado, nio est livre de criticas. No que se refere especificamente ao conccito basilar de forca, jd na obra de Galilou, cneontra-se uma critica epistemoldgica muito perspicaz, que diz respcito ao total deseonlwcimento da natnroza intema ou da esséneia da jorca. Talvez. a esse Fato se apliqne bem a maxima de Newton nda fago hipdteses. Nao fazer hipsieses subre essa esséncia 6, sem diivida, Av mesmo tempo, 0 ponto forte ¢ © ponte fraco da Fisica newtonlana, Se, por um lado, abrin perspectivas revoluciondrias para 0 conhecimento cientifico e filosdfico, por outro, restringiu os limites do conhecimento newtoniano aos efeitos quantitatives das forgas, expresses em termos do movimento. ‘Aos poucos, o sentido de realidade atribuido as forgas sera também atribufdo aos campos. tanto a partir des estudos da propagagdo do calor (Seqio 5.5). pelo matemético francés Jean Baptiste Joseph Fourier, quanto da teoria eletromegnética do fisico ¢ quisico inglés Michael Faraday e de Maxwell (Capitulo 5), alm da Teoria da Relatividade (Capftulo 6) e da Mecanica Quéntica (Capitulos 13-14), Segundo 0 fisico americano Steven Weinberg, Da fusio da Relutividute com a Mecénica Quéntica resullow on wna nova visio de mundo, na qual a matéria pendeu seu papel central. Esse papel foi usurpade por princfpias de simetria, alguns deles ocultos @ visto no presente estado do Universo. 2.4 A combustao: o flogistico e o calérico Uma conezéo invistvel é mais poderosa do que uma vistvel. Hipélito Antes de se passar & descricéo do atomisme cientificy de Dalton, € importante se abordar outro aspeeto das reacdes quimieas. Se, por um Iado, a busca da compreensii» racional dessas reagdes levon a identificagio de uma série de dementos ¢ compostos quimicos, por outro, era. preciso imaginar, também, qual scria 0 agente transformador que atuaria sobre a matéria. Elementos matcriais ¢ principios transformadores, como se vin no Capitulo 1, ha muito j4 faziam parte das tentativas de claboragdo de explicagées cientificas para os fatos observados. 1ss0 6 particularmente verdadciro para o estudo da, combustdo. Uma das explicagées mais engenhosas ¢ inlluentes acerea dese proceso teve origem, em 1681, a partir de uma idéia do quimico industrial alemao Johann Joachim Becher. Certamente ainda inspirado na teoria dos quatro elementos primordiais, cle supunhe que os corpos eran. constituidos de ar, figua ¢ trés tipos de texa: terra mercuriatis (Lerra mercurial), terre Iapidia (terra vitrea) e terra pinguis (cera sorta, ou inlamivel). Para Becher, a combustio nada mais era do que a transformagio do corpo queimado a partir da expulsao de sua parte mais volétil, a terra pingois, eliminada pelo fogo. Com base nessas idéias, o quimico akmio Georg Ernst Stahl desenvolven, a partir de 1697. a Leoria do flogisticn, aceitando que as substincias combustiveis teriam, como proposto por Becher, ama matéria ignea uma terra pinguis A qual deu o nome de flogistico, termo que derive do verbo grego ue significa “inflamar” A grande maioria dos quimivos do século XVIII acrediton nessa teoria. Apesar de equivocada, teve © mérito de servir de base para a explicagio de muitos fatos experimentais da época, 32, Fisica Moxerma Cartso © Ogu _BLSWIER aléin de ter, de alguma forma, fomentalo o desenvolvimento da anélise quimica, ainda que alguns historiadores sustentem que cla representou, na verdade, um atraso considerivel para 0 desenvolvimento da Quimica. De qualquer forma, ha de se concordar com aqueles que afirmam que Stahl foi um dos primeiros a formular um sistema racional para esta Ciéncia, E importante notar que, embora dominante, a tcoria do flogistico tinha opositores. Um deles foi um contemporanco de Stahl, 0 médico, botdnico e quimico holandés Hearman Boerhaare, quem eonsideron 0 fogo como ua substincia imponderavel, cuja composi¢io nada tinha a ver com os étumos da materia ponderivel. Este fogo de Bochaave foi, mais tarde, denominado, por outros cientistas, de calérico, entendido como o agente fisico ou dindmico responsivel pela mudanga de estado da matéria, Ascim, durante muito tempo, coexistiram as idfiaa do flogistico do calérico. Com a teoria do Aogistico, conseguia-se explicar a oxidagio de um metal, durante a combustéo, supoudo que ele serio constituido de seu éxide mais o flogistice. O mecanismo oposto, ou seja, a obtencéo do metal a partir de seu aquecimento com carvio, também era comprcendide admitindo-se que 0 carvao, rico em flogistico. cedia-o a0 Gxido, regenerando o metal ¢ um exeedente de carvao “deflogisticado”. Tambeéin a diminnigéo da massa na combustéo de materiais, tais como a madeira e 0 proprio carvao, era facilnente ententida pela hipétes: da liberagio do flogistico. O que niv era compreendido era o aumento da massa observado, por exemplo, na. combus de metais. uma vez que 0 metal, perdendo flogistico, deveria ter sua massa diminufda. Houve, por parte de defensores dessa tooria, uma tentative malsucedida de atribuir, nesses easos, peso negativo a exsa substancia. Contudo, foram a descoberta do oxigénio e os trabalhos de Lavoisier que deram origem ao abandono da teoria do flogistico, O oxigénio foi isolado, cm 1774, pelo quimico inglés Joseph Priestley, que, ironicamente, ora partidario da teoria do flogistico. Priestley notou que, durante o aquecinento dle éxido de meretirie, cm ur recipiente fechado, havia » Hiberagio de um gas, o qual, ele perceben depois, ora capas de avivar muito a chama de uma yela, Além disso, notou que esse gés era. inelhor para a respitagao do que o ar que normalmente se respira. Sendo assim, ele considerou que esse ss nio poderia conter flogistico, chamando-o, entao, de “ar defiogisticado”. A verdadeira composigio do gas, 10 entarto, 6 foi compreendida por Lavoisier, que consegui reconhecer ¢ interpretar o papel do oxigénio nos processos de clcinagio e combustao ¢, até yesmo, da respiracio. Av contrario de Priestley © outros, Lavoisier teve sucesso pois atevo- se, 0 maximo possivel, aos fatos experimentais, Em particular, ele foi capaz de estabelecer as relagdes de peso nas reagées de oxidorreducio o, a partir daf, a validade da conservagao de massa (Secio 2.5). Lavoisier aceita 0 calérico como substincia imponderdvel, a qual, combinada com as substducias quimicas, di conta das mudangas de estado quando no hii mudanca de peso no processo. As particule desse fuido se repelim, contrabnlangando a forca.gravilacional - sempre atrativa -, impedindo, assim, 0 colapso de todos os corpos em uma massa sélida homogénea Essus idéias levarain a uma teorla segundo a qual 0s atomes seriam eircundados por uma nuvern d> calérieo, mais ou menos densa, cuja densidade diminuiria com 6 distancia r ao centro do Stomo como I/r" (n > 2). Comparada a gravidade, essa mavem daria lugar a uma forga de eurto alcance. Com essa teoria, era facil compreender a expansio das substéncias, devida ao aquecimento, ¢ a contragiio, com 0 resfriamento. Entretanto, a teoria do calérico também estava com scus dias contados, a partir dos estudos de Benjamin Thompson — 0 conde Rumford - sobre a produgio de calor por atrito e os de AS ORIGENS DO ATOMBMO CHRVETPLCO: CONTAIBUIGORS DA Quivica 33 Humphrey Davy, sobre a fusiio do gelo também por atrito, Ambos evidenciaram que 0 fluxe de calor de um corpo é inexaurfvel. Prevaleecu, assim, a fio de que 0 calor eri 0 resultado de movimentos imperceptiveis das moléenlas da matéria (Capitulo 3) 2.5 O dtomo quimico Na Quimica, apenas as razies das masses atémicas desempenhavam um papel, ¢ néo 2 sua grandeza absoluta. Portanto, a teoria etémica podia ser encarada mais como um simbolo visual do que como conhecimento sobre a composicao tal da materia. Albert Einstein Durante seu percurso milenar, a Alquimia criou um vocabuldrio, uma notagio, uma pritica ¢ um instrumental (Figura 2.3), que foram herdados ¢ conservaras, de certa Forma, pela Qu Figura 2.3: “Laboratérie de um alquimista’, quadro do pintor belga Grougel, o Velho. Entretanto, como chama a atengio o historiador francis, de origem russe, Alexandre Koyré, 0 alquimistas nunca conseguiram fazer uma experiencia precisa, pelo simples fato de nunea terem, tentado, O proprio Koyré alivma: Nao ¢ 0 lermémeiro que falta fao alquimista), ¢ a idéia de que 0 calor seja susceptivet ile medida excta, Assim, contenta-se com os termas do senso comum: fogo vivo, fogo lento ete... ¢ néo se serve, ou quase nunca, da balunca, .. ¢, todavia, 2 balanga jé existial MM Pisiea Modorna Carwo ¢ Oguri mawir No soul XVIH, Lavoisier myolucionou a Quimica, trazendo importantes contribuigies para sua sistematizagio ¢ quantificagdo ¢, a0 mesmo tempo, abrindo novas perspoctivas de pesquis fas descobertas dos gases, dos cousideradas isoladamente; cra preciso estabelocer um nevo objeto de estudo, composto da Lotalidade das substéncias e de suas relagdes. Ao construir seu sistema, adotou uma abordagem modema, que se contrapunha as idéias de transformagées misteriosas da matéria, H4 quem atribua a origem dessa abordagem a (@ que Lavoisier tinlu: na balance (Figura 2.4). aparelho de medigio mais preciso daquela época.’ Para o quimico frandés, toda mudanga podia e devia ser explicada e mensurada. jerais ¢ dos compostor orginicos no deveriam mais ser Figura 2.4: Oesenho de uma balanca cientifica do seculo XIX. Segundo Lavoisier, um elemento quimico é 2 menor porcao de uma substancia que ainda apresenta as mesimas propriedades quimicas © niio pode ser sabdividido em outro elemento: com @ palacrs ‘elementos’ ox ‘princivios dos corpos’ associamos a nogéo da tillima entidade & qual se chega pela andlise; todas as substincias que ainda nin decompusemos por quaixquer meios considerumos elementos. 2.5.1 © atomo de Dalton ‘Talvex 0 desenvolvimento mais noliivel dos fundamentas dessa “nova” Quimica, langada por Lavoisier, seia o trabalho de Dalton, um dos primeiros cieatistas a formular, em 1808, uma teoria atomica nao especulativa, mas cientifics. Ele reconheceu as virtuces de uma convepgio atomistica da Quimica, de consolidacao lenta ao longo do século XIX. apesar do esfurgo de muitos: outros quimicos. Nesse proceso, desempenhou iim papel importante o desafio da medigio do peso atémico cox elementos quimicos, reflexo do fabuloso sucesso da Teoria. da Gravitagio de Newton, que atribuiu ui lugar de destaque & forga peso. Lavoisier, ao afirmarque a determinagiw dos pesos das matéries e dos produlos antes ou depois das experiéncias {éj « base de tudo o que se pode fazer de itil e de exato na Quimica, dé uma idéia conereta dessa influéncia. No inicio do século XX, levando essa idéia ao cxtremo, o quimico ¢ filésofo da citncia polonés Emile Meyerson, defende a opinido de que a definigao do termo watéria deve sor: aquilo que é pesado. * Para se ter una idéia comparativa quante A precislio das balancas cientificas, basta ver que, no final do skeule XIX, enquanto o linite de erro de ume balauya comam em 10-3, 0 de ume balanga ciontifive ore da orleans de 10°*, ou seja, 100 mil vezes mais precisa, conrimmuicoes Da Quiica, 35 ‘A teoria de Dalton foi capaz, de predizer e explicar quantitativamente um série de fendmenos quimicos conhecidos na época, partindo da seguinte idéia basilar: AS purticulas iltimas de todos os corpos homogéncos sdo perfeitamente semeihantes em peso, forma etc. Em otras palavras, toda particula de dqua & como qualquer outa particula de équa; toda particule de hidrogénio é como qualquer outra partécula de hidrogénio (...). Apesar do indiscutivel sucesso ¢ do impacto da obra de Dalton no desenvolvimento da Quimica, pode-we dizer que a sua teoria foi, de inicio, uma teoria atimica fisica, & qual, além da j4 eitada influéncia newtoniana, cle incerporou algunas idéias difusas na Fisica ¢ na Quimica do. século XVII. De foto, para dar conta de que a matéria exibe propriedudes eldsticas, como se viu na segao anterior, Dalton também admite que os étomos sio envoltos por uma nuver imponderdvel de calsrica, (...) do mesmo modo que a Terra, ou qualquer outro planeta, possut sua almosfern de ar circundando-a (...) A motivagao iiltima dessa hipdtese ¢ a descrigéo de propriedades da matéria empiricamente dcterminadas ~ a clasticidade, no caso a partir de algo responsivel pela interacao entre os constituintes primeiros da matéria, aqui representado pelo calérico. Esse tipo de idéia, em outro contexto, envolyendo © conccito de campo, sera reencontrado na Fisica de Particulas: Elementares (Capitulo 17), O que se deseja enfatizar aqui é que uma compreensiio mais ampla da constituigao da matéria, que comega a se delinear no século XVII, envolve nao apenas os seus tijolos fundamentais, mas também os mediadores de suas interagées uma espécie de “cimento”- De volta ao atomismo de Dalton, ele pressupae, ainda, que da razdo dos pesos denim da massa {do composto! poderm-se dedusie os pesos relativos das particulas xiltimas aw dos dtomos dos corpos e, com esse dado, 0 peso eo nimero desses dlomux em oulras combinagaes (...). Os seguintes postulados resumem os principais pontos da teoria de Daltor (i) todo elemento quémico é composto de poquenas particulas chamadas dtomo: (i) todos os dtomos de tm mesmo elemento apresentam as mesmas propriedades; (iii) dtomos de diferentes elementos tém propricdades quimicas diferentes,* (i) durante uma reagdo quimica, neulum dtomo de determinado elemento desaparcee on se transforma cm um dtomo de outro elemento; (2) formam-se substincias compostas quando se combinam dtomos distintos de mais de um elemento; (vf) em um dado cumposte quimico, os miimeros relativas de étomos dos seus elementos so definidos ¢ constantes ¢, em geral, podem expressurst como inteiros ou fragdes simples; (wif) quando dois clementos se unem para formar uma. terceira substancia, presume-se que apenas um dtomo de um elemento se combine com arn dtomo de outro elemento. O postulado (wi) é, na verdade, uma expresso da lei das proporgées amiltiplas de Dalion. Polos postulados (1) ¢ (ii), nota-se que o dtomo de Dalton é bastante semelhante ap étomo dos FH autores que enuncian essex moses postularios substituindo a expressio “propriedades quiuicas” por “massa”, No cutanto, a primeira forma foi adotada por estar mais de aconlo cei 0 contexto da propria tearin de Dalton, 36 Fivien Moderta Caniso © Oguri HIER filésofos gregos, no que diz respeito A indivisibilidade c A eternidade, embora as propriedades que os diferenciam cntre si nao scjam as mesmas.* Os postulados (i-ie) sio suficientes para explicar a lei de Lavoisier, de 1772, ¢ a lei das proporcdcs ciefinidis do frances Joscph Louis Proust, de 1799, quais sejam: Lavoisier - A somu das massas dox produtos da reagao & constente, quando a reagia se realiza cm. sistemas fechados. Sua lei, no entanto, é mais popular pela sia. versio na nuturesa nade se cria, nada se perde: tudo se transforma? Figura 2.5: A lei de Lavosier. Cabe aq} um comentario sobre a contribui¢io de Lavoisier. O poeta latino Priblio Ovidio ‘aso, por exemplo, afirmou em seu kyro Metarnorfoses que tudo muda, nada morre.!° Ja o filésofy britinico Francis Bacon, no seu Clogitationes de Natura Rerum, cmuncia algo muito parecido com a conclusio de Lavoisier, ow se), que fodas as caixas mudam, + que nade realmente pereor, © que @ soma da metiria permancer a mesma é suficiontements certo. Onde os portanto, a originalidade clo quimico francés? Ela eucontra-se precisamenté na justificativa da exorestio sificientemente corto. Enquanto, para Bacon, a certeza era fnito de argumentos especulativos, Lavoisier yai buscar sia confirmagio na Natures, dando ur embasamento experimental a uma antiga idéia, A partir de medidas precisa de peso ele atribui um status jentifico, 110 sentido galileano, uo clary emniciado de Bacon, Proust £m uma mesma reaciio quiinica, seja la quel for. ax massas das substincias pai ticipantes guardam entre se ume relagio fia, Assim, por vxemplo, se via massa AS de Agua 6 formada de N compostos do tipo H,0,, em que a é 0 mimero de élomos de hi nic" (H),eb © niimero de étomos ie oxigénio (0), essa massa ser exptessa em termos das massas mp ¢ mag, idrogi Exist una plararidade bens malor a iferenpis de forma, nosipio e disposisio do atoonishu> grexo. * A lei de Lavoisier envolve dois ispectos: i) a aditividade da miosa; i) a conservaciy da mass, devido ao aparcate fate de a mutéria nio porks uunca ser criada nem destrulia, apenna tenusformnds. Com relagie @ (7, sabese hoje qio & tama lei aproximada, a qual depende da energin snvolvida wa reagiv, pois. seguinle a Teor, da Kolatividad: Restrita de Einstein, a massa de um sistema comprsto nio ¢ igual a sora das massas de seus constituintes (("apitulu G), Com relagiv uo aspecto (i), a Wworia Quintiea Relacivities dr Dirae extabeleew que particulas ¢ atniparticalas maleriais poclem se sniquilar ¢ podem sor criada « partir de processes le decaimentos ou colsdos de oateas partcnlas (Capitulo 16) * Gmnta maidandur nate inter +1 nome lidrogénio foi eunhado por Lavoisier, do pretixo grego hydro, que quer dizer Agus, € sulixo gen, que ‘quer dizer gerador. cansador, criador. do se considera 0 conjenta de prepricdaden quiniens, comparutls is 2. As ORIGENS DO ATONTAMO CIENETICO: CONTRIREIGORS DA Quimica 37 dos dtomos de hidrogénio e de oxigénio, da seguinte forma: M =N(amy + bm) ‘Uma vez que todos os termos da expresso anterior siio copstantes, a razio entre as massas aime bing também 6 constante, ow seja, vale a lei de Proust. Entretanto, come pode ser visto do exemplo anterior, a lei de Proust no determina por sis6 a razao cntre as massas dos étomos que formam um composto, a nao ser que se saiba a relacio entre tas mituneros de étomos do composto, Nesse estdio do coniccimento, faz-se, portanto, necesséria uma hipotese adicional: o postulado (wi). Naturalmente, essa escolha deve ser compativel com. oulros resullados conhecides da Quimica. Dalton, baseado no fato de que apenas um composto é formado pelos elementos hidrogénio ¢ oxigénio ¢ convicto de sua hipdtese arbitraria sobre a combinagao de dois elementos, escollieu, @=1eb=1, que corresponde i composigao HO (um atomo de hidrogénio para. um de oxigénio) para a dgua, om yor de H20,!? como determinado mais tarde, Nao demorou muity para yue © postulade (vii) de Dalton se mostrasse incompativel no caso de elementos que poderiam se combinar para formar diferentes compostos, o que foz cam que cle © reviss. Pode-se ver que a teoria de Dallon é essencialmente diferente da pura cspeculagao metafisica dos filésofos antigas, pois baseia-se om resultados experimentais quantificados, Além disso, embora alguns elementos quimicos por ele considerados™ (Figura 2.6) fossem, na verdace, com- postos. suas hipéteses cram compativeis com as leis empiricas conhecidas na época, como as de Lavoisier e de Proust. Por dltimo, cabe notar que Dalton no chega a fazer, em sua obra, qualquer alnsio a uma possivel estrutura elétrica do dtomo. Sua énfase foi dada A questio das expansdes térmicas. Ess: caminho do estudo do calor levou, bem mais tarde, ao desenvolvimento de uma Teoria Cinética dos Gases, que muito contribuit para a consolidagéio do atomismo (Capitulo 3). Por outro Indo, outros avangos centificas do inicio do séeulo XIX, como a invengio da pilha de Volta ec adescoberta da eletrdlise, iriam delinear um outro caminho mois fértil para a compreensio do Atom, a partir de um melhor entendimento das interagies elétricas, A medida que apontou para. um stomo divisivel, um dtomo com uma estrutura interna, eletricamente carregada (Capitulo 7) 2.5.2 As massas atémicas Dois foram os principais problemas envolvidos na falta de precisiio na determinagiio des maseas ‘ou dos pesos atémicos!* durante boa parte do séeulo XIX. "2 Dalton chino de dtome a menor parte de win compnsta ane conserva a8 suas propriedads, a que 6 li falar, por exemplo, em stomo 'éguay os termos dtomo e moléoula eram muitas veces empregados como sindnimos nessa Epoca, * Foi Dalton quem imaginow « primeira representagao simbélics, marcada pela simplicidade, ligada av siscema de dtomus ¢ dss labela de pesos abomicos (Figura 2.6). Ha autores quealiraam que essas representtuches sugerent, mesmo, ams corte estrittira molrenlar, nogin que «i aparecers cere de 50 anos mais tae 44 Embora na Fisica massa ¢ peso sejam coneeites distintos, na Quimica, historicamente, ambos sio utilizados indistintamente, uora vez que a escala de massa o1 de prsv audunico & seanpee rWativa a un padray, caso cin que fas duas opgées se confundem. O leitor encontrar referfacia sis dims expressfies neste capitulo, 38 Fisiea Moderaa Camiso # Oguri tasevneR ELEMENTOS Figura 2,6: Simbolos © pesos atomicos atribuldos per Dulton aos clementas quimicos, © primeiro deve-se A grande confusdo entre massa atémica ¢ molecular. Em particular, 6 tuportante lembrar que varios elementos comuns na natureza sio encontrados na forma. diatémiica. Neste sentido, de particular importincia é a molécula de hidrogénio Hy, considerada, por muito tempo, como padrio dax massas atomicas (Seco 2.5.3). Se a esta molécula se atribuir tuna massa relitiva 1, em ver de 2, as massas atomicas relativas de outros elementos, comparados idrogi eriam a metacle do que deveriam ser. O segundo pouto sefere-s0 i utilizagio, freqiiente naquela época, do conceito de equivalente ou “peso de combinagio”. O equivalente 0 mimero em gramas de umn elemento que se combina com 8 g de oxigénio. Essa escolba foi determinada, em parte, pela caracteristica da 4gua, em cujo proces de formagav combinam-se 8 g de oxigéniv com 1 g de hidrogenio, Neste sentido. diz-se que 8 ¢ de oxigénio sio 0 equivalente de 1 g de hidrogénio. Por outro lado, cra mais {éeil, na priticn, medir o peso de um clenento que sc combina com o oxigénio do que com 0 hidrogénio. Assim, a partir desse métoclo de medida, determinava-se o peso atomico simplesmente multiplicando-se o peso cquivalente de um elemento pela sua valencia (Seco 2.5.4). Claro esté que, mesine dispondo de medidas precisas para « peso equivalente, se a valencia estivesse errada, resultaria um pes) atomico incorreto, Na Tabela 2.1, foram colocadas Indo a tudo algumas das principais determinagées clos pesos atémicos ¢ dos equivalentes, para que se tenha nocio do dificil caminho percorrido até se chegar aos valores compardveis ans dt referéncia em 1871, indicando © quio confusa era » determinacao dos pesos at6micas durante 0 perfodlo comprceadido entre os trabalhos de Dalton e do russ0 Dmitri Mendeleiev. 39 2._As ONIGENS DO ATOMISMO CIENTIFICO: CONTRIBUICOES DA Quinc: 201,165 16.120 (Newlands se refare a esses velores como ‘os wahos nGmaron equvalenes” jomodos, com uma ou dura exega0, da obava feaigdo do Manual de George Fownes Tanela 2 1: Valores stribuidos 305 pesos atomicos de alguns clementos por diferentes autores durante 0 periode de 1802 a 1871 comparados com 6s valores aLuals Em 1814, 0 quimico sueco Jakob Berzelius elaboron uma tabela de pesos atémicas surpreendentemente acurada: a segunda edigio Ranecsa de scu livro, de 1835, atribufa aos elementos, com excecio de poncos, valores de pevos atémicos préximos aos de hoje. Esses valores foram aperfeigoados a partir de andlises quimicas sistematicas ¢ cuidallosas realizadas pelo quimico belga Jean Servais Stas. © quimico industrial inglés John Alexander Reina Newlands preferia usar o conecito de ‘equivalente, atribuindo ao carbono, em 1865, 0 valor 5 g. No entanto, sabe-se que 0 equivalente do carbonw & 3 x, pois & ext quantidade que se combina com 8 ¢ de oxignio. Por outro lado, 0 carbono ¢ tetravalente (valéncia — 4), porque, como foi visto, forma uma moléculs dle metano (CH). Portanto, sua massa atdnica relativa ¢ 3X 4 = 12, enquanto utilizando-se 0 valor determinado por Newlands se encontraria 5 x 4 = 20. ‘Outra coisa que salta. aos olhos, obscrvando-se a ‘Labela 2.1, é que tanto © potéssio quanto a praia uparecem com o peso atémica quatro vezes maior que o atual. Muitas dessus quostics 86 foram esclarecidas a partir do Congreso de Karlsruhe. Outro aspecto digno de nota é que essa etapa de sistematizagdo da Quimica, iniciada. no século XIX, ganhou ainda mais forca quando Berzclius introduziu, em 1814, 08 simbolos modcrnos dos clementos. Foi sua a idéia de usar a inicial maitiseult do nome latino para cada elemento, acrescentando outra letra, mintdscula, nos casos de elementos com a mesma inicial. A Tubela 2.2 fornece uma idéia dessa notagéo de Berzclius para algumas substincias quimicas compostas. O niimero de pontos acima do simbolo indicava 0 nimeto de oxigénios com 0 qual 0 elemento se combina; assim, $ equivale a $02, ua notagio moderna, 40 Fisica Moderm Comuso « Oguri rswvier Tabels 2.2: Notacdo de alguns compastos quimicos © seus respectives pesos atcmicos, segundo Berzelius Com o tempo, o trabalho sistandtico de Berzelius permiliu uma visualizugio das reagdes quénieas de modo mais singles € mais efetine, come se pode observar ua comparain duas notacdes diferentes de uma mesine reagio quimica, a 2.7, na qual se Figura 2.7: Simplificarso da notacto de uma reagso quimics, 36 Ler muis tare a segunta déenda do século XX, é que se consca a compreender © papel central do mimero atémico (Capitulo 12), em detrimento do papel descimpenbado pelo peso atomico vo séeulo XIX, constitnindo-se em ais uma evidencia da, gaudativa perda de prestigio jowtoniana, ie qual 0 peso possuia um status especial. Bsse papel ser descmpeuliado por simetrias abstutas. da gravitag aos poucos, 2.5.3. A hipétese de Prout ¢ os isétopos A construgiio de mina racionalizagéo siste wala de pesos atomicos relativos foi um passo fundamental para uma déticu da Quimica. AS ORIENS DO ATOM CIENTIFICO: CONTRIBLIGOES DA Quisnca, al Pouco depois de Dalton inaugurar a era do atoruisino cientifico, 0 médico inglés William Pron pereeben, cm 1815. que a variedade de pesos atéinicos poderia ser expresta como nntiltiplos inteiros de unm nnidade fimdamental, A seguir, angumenton que essa tnidade fundamental seria © peso do tomo do hidrogénio, Historicamente, a yerificagdio de que 0 elemento cloro (CL) tem peso atémico [raciondrio (cq = 35.5) pos em xeque a hipdtese de Prout, Essa natureza fraciouiria 6 foi compreendida, com a deseoberta dos isétepos — dtomos do mesmo clemento com mrssas diferentes. O termo isétopo (da grego isos ~ mesino, topos = Ingar) foi introduzide polo quimico inglés Frederick Sorldly, cu 1913. Segundo ele, dois isstopos dle clumibo deveriant oeupar y mesmo fugar na Tabela Periddica (Segin 2.5.5), mesmo possuindo propriedades diferentes quanto A radiagio emitida, Nesso mesmo ano, deve-se ao fisico inglés Sir Joseph Jobn Thorson a primeira demonstracio: da cxisténcia de isstopos na natureza. O primero isstopo artificial de um elemento coulecido foi obtido em 1934, bombardeando-se ahuninio coi particulas a (miicleo de He), obtendo-se un radioativo do fSsforo (Seegiio 9.3) incite Por um lado, a descoberta dos is6tapox contraria a premissa de Dalton, jé mencionada, de (que 4s particulas siltimas de todos ox compos homogénens séo perfeitamente semethantes em peso, Jorma (...). Sabe-se hoje, além disso, nio ser o tomo indivisfvel, apesar de o termno grogo ter sido mantido na Quimica ¢ ua Fisica. Por outro lado, @ idéia de que dlumos de anesmo elernente si todos idénticos rin peso wit pode ser posta a prova por métodos quimicos f...}, como observan 0 inglés Francis William Aston. A descoberta dos isdtopes permite, de certa mancira, langar uma nova hiz sobre a hipdtese: de Prout. De fato, em 1919, Aston, utilizando o espectrometro ve massa reptodivide na Figura conseguin isolar dois isétopos do pais nednio (Ne), um de massa 20 ¢ outro de massa 22. Descobrin, mais tarde, isétopos de wu ys Jeqentos ifo-vadiontivos ¢ emunciow a lei dos mimeros inteiros, revivendo a idéia de Prout. Citando Aston, wide avimer de Um fato do maior interesse tedrico (...) fe] que. dus mais de quarcnta diferentes valores medidos eté ogui paru a masse aidmica ¢ molecular, todos, scm uma wnica excecao. resultam em mineros inleirus, ensiderando 0 carbono ¢ 0 erigénio como 12 © 16 ezatamente, permitindo-se cargas miiltiplas. Caso essa relacdo de inlerms se mostre geral, ser um grande pusso para se clucidar a estratura ultima du materia. Por outro lads. parere muita convenicnte fazer uma distingaio satisfatéria entre as diferntes pacticatas atémicas ¢ molecularcs que podem dar origem @ uma mesma linha no espectro de massa, una questi ronsideranctmente dificit. Verificon-se que 0 clue, por exemple. poss unas precisamente, 34.98 € 36,98. A separagio Fisica deses ixitopos Ho expectrometra de massa permilin mostiny que 75.4% das sitomos de cloro si do isdtopo mais leve € os restantes 21.6%, do mais pesado, resultaudo para o peso aldurie do eluro 0 seguinte valor: dois isdtopos com pesos atémicos 35 @ 87 on, Hcy = 0-794 X 34,98 + 0.246 x 16,98 = a7 Apenar de serem considerados ox constilnintes dltinos de un elemento quimico. os dtomos so, ua verdade. coustituidos de protons (p) e néntrons (n) aglutinados em um ticleo, ¢ elétrous!® Eiétron originalmente signitien mbar, em: geego. Q terme foi adocado come alusiw a fendmeno voabwcide pekr gieges de que submeser o ainhar & frlecio © torus capaz de atrair peqraciam pelags de papel ou poeta. Diizese que @ Ambar ficou eltrificado, 42 Fisica Moderna, Caruso « Oguri ULseVIER Figura 28: © espectrometro de Aston (e). Os pritens sio particulas com carga elétrica positive, os udutrons nao possuem carga ¢ tem massa bem préxima a dos prétons; os elétrons tém carga negaliva, igual em médulo i carga do proton, e massa da ordem de 1840 vezes menor que a do priton (Capitulo 8). Contudo, essa subestrutura atémica sé vai ser compreendida na Fisica, mais precisamente, no fnbito da Fisica Quantica, no primeiro quarto do século XX (Capitulo 12). 2.5.4 A hipétese de Avogadro e o conceito de molécula Sabe-se que allei de Proust ¢ a lei das proporgdes multiplas sio vélidas para todos os compostos quimicos, quaisquer que sojam seus estados fisicos, No entanto. quando os reagentes estio no estado gasuse, 0 quimico francés Joveph-Lonis Gay-Lussac estabelecen, em 1808, que existe uma razdo simples entre os volumes dos gases reagentes. Sejam observadas, por exemplo, as seguintes combinagdes: © hidrogéuiv ¢ cloro, para a sintese do Acido cloridrico (cloridreto), na qual as razies entre og respectivos volumes so 1:1:2. 10 mL. (hidrogenis) + 10 mL. (cloro) = 20 mL. (cloridreto) # hidrogénio e oxigénio, para a obtengio de vapor d’igua, na qual as razies entre os respectivos volumes so 2:1:2, 20 wL (hidrogénis) +10 ml. (oxigénio) = 20 mL (vapor) Por que em alguns casos hd contragio de volume ¢ em outros nao? Essas observagies levarant o fisico italiano Amedeo Avogadro a introduzir, cm 1811, 0 conceito de molfrulac a admitir, por hipétese, que dow volumes iquois de dois gases guaisquer contém o mesmo miimero de moléculas, desde que a temperatura ¢ a pressiio sejam as mesmas (Secéo 3.1.3). F importante notar sua distingéo entre ‘moléculas inteiras” hoje em dia, simplesmente, moléculas e “moléculas clementares”, 05 dtomos atuais. Enquanto para Dalton as substincias compostas, como a égua, resaltam da com tomos simples, como 0 tomo de hidrogénio (H) e 0 de oxigénio (0), Avogadro cor menores particulas de égua séo mokeulas do tipo B20, que resultam da combinagio de moléculas de hidrogénio (Hy), constituidas de dois étomos de hidrogénio, ¢ mokéculas de oxigénio (0), compostas por dois dtomos de oxigénio. Nas palavras do proprio Avogadro,!® a molécula de gua serd formada de meia molécula de oxigénio com uma ou, dizendo a mesma coisa, cum duas meias moléculas de hidrogénio. Desse modo, Avogadro estabelece corretamente que as sinteses do dcido cloridries © da Agua, podem ser expressas pelas chamadas formulas molecalares, Hy + Gly -+ 2HCL 2s + Op + 2800 que repiesentam as combinagdes moleculares minimas em uma detcrminada reago quimica. De acordo com a lei de Avogadra, essas expresses implicam a lei de Gay-Lussie. Apesar da hipStese da ignaldade do ntimero de moléculas contido em um dado volume, 18 mesmas condigies de temperatura ¢ pressiio, Avogadro nio propds nenhum procedimento para a sua detcrminagio; apenas sugeriu que, mesmo para volumes ordindsios, csse minmero deveria ser “muito grande”. De fato, 0 niimero de moléculas contido em tum volume igual a 22,4 L de um gas, nas chamadas CNTP ~ condigées normais de temperatura (0°C) e pressio (760 mmig = atm) . denominado mimero de Avogadro (NV, — 6,02 x 1074), sé foi determinado cerca de 50 anos mais tarde (Capitulo 4), Entretanto, cabe ja ressaltar o seu cariter universal, ao qual se refere 0 fisico francés Jean Baptiste Perrin: (...) 0 ntimero invaridvel {N',] € wma eonstante universal, 0 qual poderin ser apropriadamente chamada de constante de Avogadro. A idéia de que 0 hidrogénio © vutros gases sio compostos de moléeulas diatémicas nde foi aceita, de inicio, por Dalton ¢ por vérios outros quimicos, por niiv admitirem a combinagio do dois on mais dtomos de mesma espécie para constituir uma, ontra substancia, ntilizando 0 seyninte argumento: se dois Atomos de hidrogénio, contidos em um recipiente, podem se jurtar, por que nao hé um agrupamento de todos tal que se condensem, formando um liquide? A solugao desse problema depende da compreenso da estrutura cletronica dos atomus ¢ $6 foi possivel ao final do primeiro quarto do século XX, com a introduco do conceit de spin e do principio de excinsao de Pauli, na Mecanica Quantica. (Capitulo 16). A partir da aceitagio do conceit de molécula, puceram ser estabelecidas, por exemplo, as forraulas moleculares do Gxido de sddiv, do éxido de célcio, do doreto de sédio, do deido cloridrico ¢ da gna, respectivamente, Na20, CaQ, NaCl, HCL e Ho0. Desse conjunto de formulas conelui- se que um dtomo de oxigénio tem capacidade para se combinar com dois dtomos de sédio (Na) ~ 16 “Tris anos mais tarde, Faraday faz proposta semelhante a essa. 4 Fiica Moderna Caruso « Oguri ELSEVIER ou hidrogé capacidade para se combi jo. ¢ com um ditomo de calcio (Ca). Por outro lado, um atomo de hidrugénio (#1) tem ar com um éitomo de cloro (CL), ¢ este com um domo de sili (Ha) Desses resttltadas, surge 0 conccito de valencia, ou soja, a propriedade que indica a eapacidade cm potcucinl de os dtomos se combinarems. Os dtomes Na, GL c H sfiy ditos de valéncia L ou monovalentes, ¢ os dlomas de 0 ¢ de Ca sao ditos de valéncia 2 ou bivalentes, Atribui-ve ao quinico britanico Edward Frankland formulagio «lo conceito de valencia. termo cunlude em 1868 por Hermaun Wichelliaas. Embora a idGa tenha surgido para eselarocer a uamnreza de alguns compostos orginicos. a aplicabilidade do conceito de valencia se amplion ¢ teve grande importncia no trabalho de classificagho de Mendeleiev (Segao 2.5.5), que observon «ue 0 arranjo dos eiementos. on grupos de clomeutos. de acordo com seus pesos atémicas, corresponde és suas valencia. Mas a accitago da idéia de Avogadro nao foi imediata. Segundo o russo Isaac Asimov. durante meio séeulo depois de Avogadro, sua hipdtese permanceeu ignomda, © a distingao entre dteinos ¢ moléculas de elementos gasosos importantes nio estavu definida claramente no pensamento de vérios quimicos. persistindo, assin, a incertezs acerca doy pesos ulémicos de alguns dos elementos mnis importantes (Tabela 2.1). Uma justificativa plausivel encontra- a segutinte observacao do fisico Abraluum Pais: A kei de Avogadro é a primeira em ontem cronolégiea das leis quitmico-fisicas que se basviom na hipstese explicita da reulidade das motieulas, O atraso com o qual a let foi aevita pelas quimicos ¢ um indicador evidente da difusa msisténcia a iddia da rratidade molecular. Fm 1858, © qnimico italiano Stanislao Cannizzare dew importaute coutribnigho para a aceitagao da hipétese de Avogadro ao extabeler a diferenga entre a peso atdinico e o molecular © trabalhy de Cannizzaco foi eseucial para « posterior classificagio don elementos om orden creswwnte de pesos atdmicus, Segundo a lei de Avogadro. comparando-se as maswis (através de medidas macroseépicas) wt ignais (V) do dois gases distintes, co! de. yolu obtém-se por exemple. © oxiginio © 0 hidrogi peso oxignio \) __maisa moleeniar oxiginio 5 peso hidrogénio ),.~ massa molecule hidrogenio ~ ‘Uma vez. que 4 massa uvlecular do hidrogénio & 2 2x (1,06053873 + 0,00000013) x 1077 ky, HE, © ambas ws moléculas sio diatomicas, ter ~Ru => pg =160 7” Até 1001, os fisicos © quimicas utilizacam esealas distintas, ¢ somente a partir de entRo passaram a utile mesma reala relative de peso athmico, wa qual « unidile fimdamental. chamadn wnidade de massa atémice fu), € igual a 1/12 da massa de RGtopo 12 der carbuna, Sube-se hoje que seu adcleo € constirnide de 6 prétuns ¢ 6 neutrons, AS ONIEERY DO ATOMISNO CHENTINCO: CoNTRIBLIGHRE ba Quiser a Desse modo, conhecendo-se a massa molecalar de in iis, a partir da masse de nma certa quantidade desse gis, por exemplo, M(H), pode-se estimar 0 mimero de moléenlas (2V) do gis om uma quantidade cuja masse ¢ igual a AF gramas, como AE(Hs) 18, De acordo com a cquagio (2.1), esse numero, também chamado de mot, ¢ aproximadamente igmal ao misnero de Avogadro. Assim, pode-se eserever AM{L mol de Hy) — 2 y= Ny sa, De modo geval, AL(1 mol de um gis) = valor da maser molecular (g) © terme mol foi introduzido, cm 1900, pelo quimico alemio Wilhelm Ostwald. para quem © peso molecular de uma substincia, expresso cen ramus. serd (u.) chamado mote. 8617 anos mais tarde o sal passa a ser relaciouado ao gés ideal: a quantidade de qualquer gés que ‘ocupe tm volume de 22414 mL em condicées normais é chumada mole, A partir de 1959-60, 08 cos © quimices concontaran en definir © mol como a quantidade de matéria de nin sistema contendo tantas entidades elementares quantos dtomos crister em 0,012 kg de earbono 12. Essa & a unidade basica de quantidade de matéria aclotada no sistema internacional de unidades (SI). Em resume. os Lraballios de Lavoisier, Dalton, Gay-Lussac, Avogadro « Cannizzaro constituem, ay bases de uma teoria atomica quantitativa, Se, por um lado, como foi mencionado, houve resistéucin quanto A aceitagao desta teotia, havia tambérn aqueles cientistas que, desde cedo, compreendram sexi potencial preditive. Dewsre cles pode-se citar o fisico ¢ quimico francs Pierre Louis Dulong que estidou os calares especttivas dos solidos ¢ mostrow que medidas dessa grandeza fisica possibilitaram um novo tipo de verificacio das massas atOmicas (Sogie 10.3.2), Em ui certs escrita a Berzelins em 1820, cle afirmou exiar convencidly de que esta leoria fatémical é a mais importante concepean do século © yue dagui a vinte anos estord inlegrada em todas as partes das rieucias fisices em uma exlensio incaleuldved Apenas 0 praze cotipulalo estava equivocado, Ax coisas, uo entanto. nao foram assim tao ripidas. ‘Yodo esse couhecimento acumulado até 1869 permitin, em tiltima anilise, que Mendeleiev dese mais um importante passo no sentido dx, consplidagiio da teoria atémica, ao conseguir classificar os clementas quimicos segundo a Orden crescente de seus pesos atomicos (ordenamento horizontal) ¢ segundo caracteristiens fisico-cimicas comuns « recorrentes (ordenamento vertical), na famosa fubela periddica. 2.5.5 A classificacéo dos clementos quimicos: de Lavoisier a Mendeleiev A Tubela 2.3. publicada em 1789 por Lavoisier cm seu tratado de Quimica, resume a ordenagio de 31 clementos qnimicns couhecidos na époce -ubstincias simples da Natureza polo quinico frances, além da fue @ do caldrico, considerados cnn 9s Decorrides 26 anos da publicagdo da Tabela dos Flementos de Lavoisier, o fisico francés André-Marie Ampire dedicase, durante o ano de 1815, 0 classificar um mimero bet maior de elementos (48), motivade, imuite provavelmente, por seu expirito enciclopedista ¢ por scu Interesse na classificagéo de plantas. Cabe destacar que, embora, o ntimero de elementos teu 46 Fisica Moderna Caruso « Oguri SVIER aumentado, eram ainda muito grandes as incertezas ¢ controvérsias acerea da determinacéo dos pesos atdmicos, o que dificultava qualquer tentativa de ciassifieagio dos elementos. | zspm, Mesa eo Be dea err. ic déplogitin, ‘is expe ‘i vil Bale de In vied. ox phlogitd. Bat de Is nofere. Cat nt + Ta i peea | Tabela 2 3: As “sudstanoas simsles", sequads Lavosier Ampére, contrariando Lavoisier, nao mais considera a lt20 0 ealdrico como substéncias simples ¢ busea uma classificagdio “natural” dos elementos quimuicos, como fica evident logo no inicio de suas memérias publicadas em 1816: Parese-me que devemos fazer urn esforco para bunir da Quimica os classificazdes artifioiain, ¢ comecar a airibuir a cada subsldncia simples » lugar gue cla deve ocupar na ordem natura, através da comparagio sucessiva desse lugar com todos os outros © combinando-o com aqueles aos quais estéo relacionados alravés do maior niimero de carneteristicas comuns ¢, acima de tudo, pela importincia dessas earacteristicas. (ENN DO ATORESMO CIENTIFICO: CONTRIBLIGOES DA QUIANCA aT Assim, Ampire espernva que dessus associagdes naturais se pudesse chegar a um conjunto de ‘yeneros”, ou grupos de elementos, que poderiam yer arranjalos ei uma ordem tal que grupos similares fosseam adjacentes uns aos outros, como sugere v ordenamento reportado na Tabela 24, publicada originalmente cm 1816. Tableas des quince genres et des quarantehuitespeees ides Corps simples ponderables, ranges dans Cordre Bore. ‘Gitetin- ‘Magoesion Tobela 2.4: Os elementos quimicos de Ampere: “Tabela dos 15 ganeros ¢ das 48 espécies dos corpos simples ponderdvels, classificades na ordem natural” Apesar dle esforgos como os de Lavoisier e de Ampére, dois foram os pressupostas basieos para se cheyar n construir uma classificacdo satisfatdria dos clean quimicos, 6 alcangados nos anos de 1860: disponibilidade de medidas procisas © confidveis dos pesos atémivos (Tabela 2.1), ce covhecimento de um mimero grande de elementos (‘Tabela 2.12), de modu a tornar aparente as relagdes de semelhanga « as difercngas. toss [Jenene Garo] A [Bonane Qamica] 1 [Beers Guico] A xJE] citcio | 0 [E] tio | 7 [Ee] Féstoro | at cc re FAB wire [ar | peso [ae | ori a0 Tabela 2.5: As “triades de Débereiner" Fitre a contribuigdo de Cannizzaro ¢ © trabalho de Mendeleicv, houve vérias teatativas de classificar os elementos quimiens cm ordem crescente de seus pesos atémicns, dentre as quais destacam-se a do quimico aleméo Johann Wolfgaug Daberciner, a do rodiogo francés Ak Emile Béguyer de Chancourtois ¢ a de Newlands. andre 8 Fisien Moderna Caruso « Oguri Fister Daberciner, em 1829, buscando uma relag3o matemitica cavolvendo o peso atomico de elementos com propriedades semeltiantes, verificou que havia uma relngio numérien entre os pesos atomicos «le elementos quimicos de uma mesma “familia”. A Tabela 2.5 apresenta wes grupos de elementos com os valores cle xcus respectivos pesos atimicos. Débereiner verificou que a média aritmética dos pesos atOmicos dos elementos X « Z de cada familia indicada na Tabela 2.5 ¢ praticarente igual ao peso atomico do ckmento intermedivirio. ¥. De fato, para 0 que se denotou por familia 1, a média entre os pesos atémicos do cilcio (Ga) ¢ do bario (Ba) ¢ 88,5, a ser comparada com o valor 87 do estroncio (Sr); para a familia I, a meilia. dos clementos extremos é exatamente o valor do peso atémico do sédio (Ra) e, para a familia Ia vale 75,5 e deve ser comparada com 75, que é v peso atOmico do arsénio (As). Essa. constatagio levou-o a dispor alguns elementos qufmicos em grupos de tr's as chamadas Iniades do Débereiner , rexspeitando o fato de pertencerem a uma mesma familia ¢ sendo 0 peso atémico do elemento intermediério igual & médin aritiuética dos outros dis. Entretantu, com os valores dos pesos atomicos eonhecidas na época, nao era possivel estabelccer relaghes entre us triacs Apeser disso, « grande diferenga de peso atémico entre 0 cloro (35,5) ¢ o iodo (127) sugeria a existéncia de um terceiro elemento (halogénio), andlogo a esses do's, com um valor inlermedisrio de peso atomicu. Esse clemento 0 bromo (Br) - foi descoberto alguns anos depois. Por volta de 1850 haviam sido identificadas cerca de 20 triades, indicative de uma regularidade mais ampla, ainda por ser compreendida. PROJEGAO PLARAR D0 PARAFUSO TELURICO reraterts ferrin a I i Figura 2.9: Projecdo planar da hélice telurica de Chancourtols. oe 2,_AS otncens be ATOMISHO CENTIICE: CoNTiasnigte na QuIICA 49 Essas idéias de agrupar os elementos segundo um conjunto de suas propriedades foram retommailas em 1864 por Chancourtois ¢, em 1866, por Newlands, apds o Congresso de Karlsruhe, no qual Caninizearo defondeu o difundin as idéias de Avogadro, dando importante paso para que se dissipassem ciuitas das diividas acerca dos valores dos pesos atomicos. Por outro lado, inuitos de seus participantes, dentre os quais Mendeleiev, passaram a dedicar-se & busea de uma classificagao periddica dos elementos, Esses dois fatos tornaram o Congressso de Karlsruhe um ‘marco na historia da Quimica. Seguindo essa tendéncia, Chancourtois foi o primeiro a dispor os elementos quimicos em orden: crescenle de seus pesos atdmicos. Ele imaginow uma representagio para os elementos em forma. de hélice em torno de um cilindro vertical, cuja citcunferéncia, tomando por base o peso atdmien do ¢ ) cra dividida em 16 segdes, « na qual os clomentas eram dispostos em alturas proporcionais a seus pesos atémicos. Como o teltirio (Te) ocupava o ponto final da hélice, essa representagio foi por ele denominada vis tellurique, isto 6, rosca on parafuso teliirico, Uma projecio planar de sua bélice pode scr vista na Figura 2.9. Ressalte-se que os espages cm branco qne apareciam nessa hélice nao foram interpretados como indicativos de novos elementos; 80 contririo, 0 autor considerava que deveriam corresponder a diferentes variedades de elementos conhecidos, ‘Tabala 2.6: ReoroducSo parcial da Tabsla de Newlands Newlatuls organizou os elementos de acordo com a ‘Tabela 2.6, dispoudo-os em ordem crescente de seus pesos atomices. A organizagio nao foi linear; ele os agrupou em pequenas colninas de sete elementos cada, Excetuando-se o hidrogénio, propricdades quimicas semelhantes eram chservadas para clementos de uma mesina linha horizontal dessa tabela, Assim, dado um clemento, 6 oitavo elemento contado a partir dele teria propriedades scmelhantes, 0 que coresponde a elementos de uma mesma linha. Newlands, vislumbrando nessa organizagio uma hermonia semelhante Aquela das nota musicais, que se repetem de cite em oito, estabeleccu a lei das oitavas. Sun Labela, apresentada. no trabalho intitulado *A Ici das oitavas ¢ as causas das relagGes muméricas entre os pesos atémicos”, cra semelhante A de Mendeleicy. Embora o autor nio tenha ousado deixar espagos: em branco, de certa forma antecipon a coragem de Mendeleiev ao inverter a ordem de certos elementos quando o peso athiico conhecide na época nao condizia com o que ele esperava de sua posigao adequada na tabcla,!® Tais idéias de classificagiio dos elementos quitieos viriam # ganhar uma nova dimensio com © trabalho de Mendeleiev, 1s nde foram Ievadas a sério pela comunidade quimica da época. O © Ambar an clasilicagoes, de Chancouriois e de Newlands, funcioniavien relativamentc bem até o calcio (Ca), ceujo peso atimico #0. 5 Pisce Moderna LLSEVER tom irénico do presidente da London Chemical Society atosta tal fato ao perguntar a Newlands por que tio eaperimentava vscrever os nomes dex elementos em ordem alfabética (...) Talve tassinn descobrisse tumbeéan alguna tet (...)! r relagdes entre as ver, Em 1870, ntos 1 que também se preocupan especialmente em ostabelees dos elementos ¢ seus pesos atémicos foi o alemao Lothar Me cle aprosontou em um gréfico (Figure 2.10) a relagio entre os pesos atémicos dos cles conhecidos € seus volumes atémicas, definidos como a raziio entre 0 peso atimico e a densidade. SOa/MIOIY SOUTION Figura 2.10: Gratico de Lothar Meyer mostiando a relacao entre os pesos ¢ 08 volumes atémicos. Base grifico foi importante pois revelou uma relagio periddica entre os pesos © os volumes atémicos, sngerindo que ontras grandozus, além da valéacia, podem estar relacionadas A periodicidade dos elementos quinicos. Verilicou-se, mais tarde, que 0 ponto ile fusdo, o ponto de os potenciais elotroliticos, ss formas cristalinas, ‘clacionadis 4 periodicidade dos elementos quitnicos. ebuiligéio, 2 condut centre outras, eral ICI aces Pramas Figura 2.11: A contribuigso de Finstein 2 Mendeleley Antecipando-se ao conceito de estrutura cletronica dos atomos, Mendeleiey classificou os clementas quimicos sogunde a ordem croseente de seus pesos aldmicus, colocando aqueles de ira Tabela Periédien. Cutado polos idenia de propriedades semelhantes em cohinas, na sua p sintese © de simetria, cle escreve: bs 2._As OnIGENS DO ATOMISMO CHevrieICO: CONTRIBUCSES DA QUINICA Ey Conceber, compreenden « aprender a simetria total do edificio [da ciéncia}, inehuindo suas porgées inacabadas, € equrvalente a experinentur aguele prazer sO transmitido pelas formas mais clevudus de beleza ¢ verdade. Segundo Gaston Buchelard, foi de grande importincia a percepedo de que as varias oiLavas se comespondem ¢ de que as mais diversas proprisdades se repetem quando se passa de uma para outra. Mendeleiey exprime assim essa relagéio: as propricdades dos eorpos siraples, como as formas ¢ es propriedades das combinugdes, sao uma funcdo periddica da grandeza do peso atémico. ‘Tabela 2.7: A primeira tentativa de Medelciev de classificagio dos elementes quimicas A primeira tabela, na qual os clomontos estiio Tistados em colunas verticais, foi publieada em 1869; uma versio dela, usada para divulgagio pelo préprio Mendcleiev, est reproduzida na ‘Labela 2.7, uma segunda, em novo formato, publicada dois anos mais Lande, na 'Tabela 2.8. Figura 2.1: Regra 66 quadrilstero, Usando um procedimento anilogo ao de Newlands, Mendeleiev estabelecea o que alguns chamnam de regra do quadrildtero, segundo @ qual o atomo ile um elemento, conhecido ou nd0, tord massa atomica igual A média aritmética dos elementos que esto acima ¢ abaixo dele no grupo (linha vertical) c des que esto 4 sua dircita e & sua esqqucrda (horizontal). Considere-se, Caruso « Oguri ia 19) Tabela 2.8: Arranjo horizontal dos elementos praposto par Mendoleiev em 1871. Cada ndmero refere-se 20 peso de um store do elemento em relago 36 stoma da hidrogtnio por exemplo, o selénio (Se). Os quatro elementos que fazem fronteira com sen quadrilatero si o ensofte (8), 0 bromo (Br), 0 teliiria (Te) ¢ 0 arsénio (As) (Figura 2.12) Scguindo a ceyra, a massa atomica do selinio (Se), com valores da época (Tabelit 2.8), 6 obtida corretamente como 32+125 +754 80 312 4 4 Na Tabela 2.8, os elementos de cada Grupo sio apresentados por Mendeleev com uma subdivisio em duas claros cohmes, uma mais A esquerda ¢ outra mats A direita do Grupo. No Grupo VI, por exemplo, temos uma dessas colunas que contém &, See Te, ¢ vutra vou Cr, Ho, &, U. O motivo pelo qual esto todos no mesmo Grupo 6 que todos formam hidretos do tipo RH ¢/ou dxidos do tipo Oj, Entretanto, hii diferengas significativas entre eles. Hoje em dia sabese que a colina que comeca com o ensofre (8) reine elementos niv-metilicos, enquanto 2 que comtega com 0 cromo (Cr) contén metals de Cransigo, Outtos comentarios sobre os acertos © a8 erras do Mendeletey serio feitos na Soci 2.6. O que se dessja enfatizar aqui é que, en 1870, Mendeleiev exorta a comunidade quuimiea russa, incisivamento, a adotar uma poaigin: ¢ necessdrio fazer uma eoisa ot outre - ou considerar a let periddica absolutamente verdadeira € constituindo-se um novo instrumento na pesquina quimica, ow refixtt-fa, As objegdes que cle cafrentava podem ser sintetizacdas na pergunta de tim colega: Pode a natureza ler espazos em brenco? A Tabela 242 resume: o miimero de elementos quimicos conlecides em vérias perfodos histéricos. Em particnlar, no séeulo XIX. estiio destacados os quantitativos ¢ as datas correspondentes aos trabalhos abordados nesta seqao,'" * Lim relacio ao sfeulo XVILL, a diferenca entre o mimero 31 reportado na Tabcla 2,12¢ 0 mimicry de cleanentes itados no texto, 33, devosse ao Fato de Lavoisier ter cunsiderado, en sua tabela, aus e v caldrico como “wubstincias simples"

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