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10 A radiacao de corpo negro eo retorno a concepgao corpuscular da luz Nuneana histérie da Fésica houve uma interpelagéio mutemilica tio impercep Hivel com iio amplas consegiiéncias fisiens e filosdficas Max Jammer A segunda nuvem A gual Kelvin se refere (Sogo 6.2) diz respeito & teoria de Maxwell- Boltzmann e foi parcialmente dissipade por Planck ao término do ano de 1900. F curioso notar que, apesar de a hipdtese de um quantum de energia, introduzida por Planck, ter tide uma. influéncia marcante na Fisica Atémica ¢ Molecular do século XX, sua descoberta nia esta ligada 208 principais t6picos dessa arca da Fisica, no periodo de 1895-1900. A origem do trabalho de Planck foi 0 estudo da radiagio de calor de um corpo negro,! a tempursturas da ordem de centenas de graus Celsius, ou scja, a anélise de espectros contiauos de emissiio ¢ de absoreiio. Os primeiros resultados da andlise espoctroseépica da cmissiio da radiagio de corpo negro, obtiilos fisico alemio Fiedrich Poschen, cm 1904, envolviam comprimentos de onda relativamente eurtos, da ordem de 5 jum, ua faixa do infravermelho, Dessas observagdes, Paschen ¢ o também alemao Wilhelm Wien sugeriram, independentemente, em 1896, uma férmula semi-empirica que se ajustava is curvas experimentais da intensidade da. radiagio emitida (Figura 10.4). Apesar do sucesso inicial da formula de Wien (Segio 10.2.1), scus limites foram lo- g0 evidenciados quando, no inicio do século XX, mais precisamente em 1900, os dois grupos do Physicalist-Technische Reichsanstalt, de Berlim, constituides de Otto Lummer, Penst Pringsheim, Ferdinand Kurlbaum ¢ Heinrich Rubens estenderam as observagies pare comprimentos de onda maiores, inicialmente até 18 jam e, logo apés, na faixa de 30 a 50 jam (Figura 10,7, a temperataras entre 200° © 1 600°. Os resultados asin obtidos, principalmente por Kurlbaum ¢ Rubens, estabcleceram definitivamente que, para cssas freqiiéncias menores, Dem afostadas da rogiio visivel, em vex da frmula de Wien, Rayleigh (Segio 10.2.8) era a que mais adequadamente se ajustava aos dados. a formula, recém-proposta por 7 Gm corpo negro absorve toda a energla da rudiagio cletromagmética que incide sobre ele 299 300 Fisica Moderna Carmo ¢ Oguri ELSEVIER Foram esses resultados que forgaram Planck a reavaliar seus conceitos e estudos iniciais da tadiagio de corpo negro, em um cléssico ¢ frutfiexo exemplo de interagéio entre experimento ¢ teoria Assim, 20 final do vero curopeu de 190, Planck obteve a iGrmula de interpolagao, enjos limites cram a expresso de Rayleigh (para baixas freuiténcias) ¢ a de Wien (para altas freqiiéncias), e partin em busea de uma interpretacao fisica para a sua lei de comportamento da, intensidade da radiagéo de corpo negro (Segio 10.2.4), Desde 0 inicio, a abordagem de Planck baseava-se cm um modelo no qual « matéria. seria constituida de oxciladores clementares, cujas vibragdes dariam origem Aradiagio, em unt processo no qual a matéria e a radiagio estariam em equilibrio térmico; esses osciladores, em ciltima instancia, seriam o8 Stomos, apesar de sua resisténcia & hipstese atomic: Com os resultados experimentais dos grapos de Berlim, Planck vé-se obrigado a abandonar sua visio sobre a constituigio da matéria ¢ a adotar a abordagem estatistica de Boltzmann para defini¢io de entropia de um gés (Seco 10.1.1), Assim, conelui que a freaiiéncia de cada componente mouocromatica da radiacio emitida seria igual A freqii@ncia naLural de vibracio de osciladores elementares, cujas cncrgias sé poderiam assumir valozes discretes, multiples intciros a proporcional @ de um quantum ile ener sa. frogiiéneio. ante fundamental da Teoria da Do mesmo modo que a velocidade da luz no vacuo (2) é a cons Relatividade Restrita (Capitulo 6), a constante de proporcienalidade entre 0 quantum de energia 68 freqiiéucia da radiacio, posteriormente denominada constante de Plands (h), 6 constante fundamental da, nova teoria fisica que emergiu, ao témino do primeixo quarto do séenlo XX, para a deacrigio da ewlugéo ou da dinamica das particulas micresespicas, a Mecanica Quantica (Capftulos 13 ¢ 14) Apesar de a hipétese de um quarttwrt de cnergia ter se constituido no principal fator da. génese da Mecanica Quantica e ter permitido wm exe acordo cout os dados experimentais, Planck, resistindo a essa idéia, que contrariava as leis da Fisica Cliissica, passou varios anos procurando, se sucesso, uma outra forma de explicar a lei de radiagio de corpo negro. As primeiras utilizagées da bipdtesc de Planck de quant extensio de scu dominio de aplicaco, apareceram em dois trabalhos de Einstein: um, em 1905. sobre a quantizagao da prépria radiagiio (Seco 10.3), ¢ outro sobr# os calores especificos dos sblidos, em 1907 (Seco 10.3.2) ago da energia, com a subsegiiente Um ponto de contato entre os trabalhos de Rayleigh ¢ os de Binstein é que, desde o inicio, ambos se concentraram na prdpria radiagao, ou seja, no campo eletromagnético, ao contrario de Planck, que se concentrava nos osciladores. Assim, em sou trabalho de 1905, Einstein, apés mostrar que qualquer componente monocromética de alta freqiiéneia da radiagdo de corpo negro comportava-se como um gas (Seco 10.3), uo qual a energia de suas particulas, posteriormente denominadas fétons, cra igual a0 quantwn de energia de Planck, explica, dentre outros, 0 fondmeno do efeito fotoelétrico, que 6 a emissio de elétrons de vm metal, no qual incide radingio cletromagnética de alta freqiiéncia, principslmenie na faixa do ultravioleta (Seco 10.3.1) Por reiterar uma visio corpuscular da uz o estar baseada em argumentos estatistioos, houve muita resisténcia na comunidaile cientifica da época & idéia de quantizagdo do campo eletromagnético. Entretanto, essa hipstese, reforgada por um outro argumento estatistico do préprio Einstein, em 1909, ¢ que dé origom A idkia de que a luz manifesta um comportamento iscular, ora um caréter ondulatério, duai, evidenciando ora um caréter 10. A Rapmgio pe RETORNO A CONCEPGAO CORPUS CORPO NEGRO 10.1 A Mecanica Estatistica A irreversibilidade € um efeito puramente estatistica, Jan Yon Plato Como visto cm capftulos anteriores, a concepgdo atomistica da matéria esteve ligada as investigagées de Maxwell e Boltzmann, ao final do século XIX, sobre o comportamento dos gases moleeulares (Seca 3), ¢ finalmente cam os trabalhos de Einstein ¢ Perrin sobre 0 movimento browniano, Essas abordagens, além de coroarem a Mecénica Cléssica como a base de teorias interpretativas, deram origem a uma descrigdo de muitas particulas, atistica dos sistemas complexos constituidos Inicialmente, a partir de hipéteses © modelos acerca dos mecanismos de colisdes entre as moléeulas de um gas, a Teoria Cinética dos Gases foi elaborada, Em seguida, procuruu-se ma teoria estatistica de cardter mais geral, nfo apenas para gases, mas ainda apoiada nas leis da Mecanica Classica. No contexto cléssico, essa teoria estatistica, iniciada por Boltzmann, foi elaborada estabelecida pelo fisico norte-americano Josiah Willard Gibbs, em 1901, a partir da formulagio da Mecanica Clissica feita pelo matemsticy irlandés William Rowan Hamilton, ¢ foi por Gibbs dexominada de Mecdnica Bstatistica, Com os trabalhos de Planck ¢ Einstein, a abordagem estatistica passa a ser um iustrumento cficax.e poderoso 112 andlise dos processos fisicos de naturcze distinta dos compostos moleeulares. Ambos chegam a resultados que se tornaram verdadeiros estopins para a grande revolugio de idéias ¢ concepgdes ocomrida na Fisiea, no inieo do século XX, que culminou no sé com a generalizagio ¢ afirmagdo da Mecinica Estatistiea, mas com a criagio da Mecénica Quantica, a teoria fisica sobre a qual viria se apoiar qualquer teoria interpretativa posterior para microcosmo. A formulagio estatistica eldssica para sistemas cujos constitvintes quase nio interagem, apenas © suficiente para estabelecer 0 cquilfbrio térmica,” & suficientemente geral para explicar as princinais teorias desenvolvidas por Planck ¢ Einstein acerca da radiagéo do corpo negro e dos calores especiticos das «éiides. Do ponto de vista da Meca campo conservativo, pode ser express como ica Clissica, a energia (c) de uma particula de massa m, em unt em fungae de sua posig&o (1. y, 2) momenta (Pes Py, Pe) 2 - 2p eg Bey 4, Bony PysP- D+ om oe * om onde ep(,y, 2) 6 a sua energia potencial ‘Desse modo, a evolugao ou 0 comportamento da pas de. fase de dimensio seis, onde cada ponto (:,1),2,Ps,Pys 6, caracteriza o estado dinimico da particula. ula. pode ser representado em um espago }; que depende do valor da. energia “® Apesar de nio interagicom enlye si, os constituintes podem interagir com um campo extemo, come 0 gravitacional terrystre ou 0 eletromagnétieo, 302 Fisica Moderaa Caruso © Oger LSE Para partfoulas que se movem apenas ao longo de uma ditegio x, com momentum p, 0 espaco de fase é um “plano” (r,p) onde a evolugio de cada particula pode ser visualizada como uma trajetéria nese plano (Figuca 10.1), Figura 10.1: Possivel trajetéria de uma particula em seu espago de fase, a partir de um ponto inicial 0. Cada ponto desse plano, compativel com a energia ¢ outros vinculos externos, representa um estedo possivel para a particula. A drea (dardp) de uma regiao desse plano é proporcional a0. nrimero de estados acessiveis & partfcula. Nesse contexto, a probabilidade de ocupagio de uma determinada regio de Area da dp, desse espace de fase, por uma particula com energia ¢(2r,p), que far parie de um sistema em equilibrio térmico & temperatura 1’, 6 proporcional a : cle.) exp [ | dep ‘onde, por sua vex, 0 fator de Boltzmann e~@/*T na regido de area didp, ¢ k ¢a constante de Boltzmann, 6 proporcional ao mimero médio de particulas Assim, o valor médio de qualquer grandeza f(x, p) associada & particula, expressa cm fungi da posigéo ¢ do momentum, pode ser caleulado por P) (nat [re 2) ace © adispersio em relagio A média, caracterizada pelo desvio-padrao, por ap- VFROF sp)exp [-: fk, ‘der dp é un fator de normalizagio denominado fungio de partigéo, onde 2 -/ Por exemplo, para, um sistema de particulas de massa m que se comportam como osciladores harmOnicos unidimensionai térmico & temperatura T, a energia de cada E+ Suge? * Como notado no Capitulo 8, « constante de Bolizanant, apesar de implicita nes trabalhos de Boltzmann, s6 foi, pela primeira vex, explicilamente determinada nes trabalhos de Planck sobre a radiagio do corpo negro. 10._A RADIAGAO DE CORPO NUGRO EO RETORNO A CONCEPGAO CORPUSCULAR DA Luz 303 ¢ sens possivels estados no plano de fase (2,p) cstdo ao longo de uma olipse (Figura 10.2) euja rea! (A) & proporcional & enengia, ou seja, Figura 10.2: Lugar goométrico dos estados de um osvilador harmSnico unidimensional em seu plant de fase. Assim, para um oscilador harménico cnidimensional, o elemento de dtea dr dp no plano de fase, ou o minero de estados acessiveis a cada oscilador na regido enja Area é dx dp, 6 proporcional a0 clemento de evergia de, ou seja, de dp & dc Como, classicamente, nfo existem restrighes para o valor da energia,® 0 valor médio de qualquer grandcza, [(e), associada a um oscilador unidimensional que dependa apenas da energia, pode ser caleulado por onde z -[ e de B= Ukr. a Em geral, para sistemas cujos constitnintes sio distintos de um oseilador harménico, 0 elements de area dx dp, proporcional ao niimero de estados acessiveis aos constituintes do sistema, em uma pequena regio do espago de fase, pode ser expresso como de dp x gle}de onde g(6 ¢ a chamada densidade de estados de energia, ¢ a fungo de partigio passa a ser definida por a Pe de (10.1) Nesse sentido, a densidade de estados para um o: simplesmente, dada por g(e) = cilador harménico classico é uniforme e, A densidade de estados de energia pode ser determinada para casos simples, camo 08 gases moleculares ou sistemas cujos constituintes nao interagem, a partir do mimero de estados acessivels aos constituintes em uma dada regide do espago de fase, expresso como fungio da © A iva dessa elipse € A = rab, onde a = y'2e/ ong) eb = V2me, portanto, A = 2xcfun 5 Do ponto de vista dr Moefiniea Cléssica, ¢ pode assumir qualquer valor no invervalo (0, cv), isto & pode variar contimuantente 304, Pisiea Moderna Caruso » Oguri FLSEVIER energia. Por exemple, para um gis molecular ideal que ocupa um volume V, 0 mimero de estados para uma molécula de massa m com momentum entre p e p+ dp é proporcional a& Vp dp (10.2) Expressando.se em termos da energia (p = V2mc), o mimero de catados para uma molécula com cnergia entre € ¢ ¢ + de ¢ proporcional Velde (10.3) Desse modo, @ deasidade de estados de encrgia, 9(¢), para uma molécula de um gis ideal 6 proporcional a ¢/?, Enquanto a expresso (10.2) 6 de caréter geral, a expresso (10.3) de- pende da relagio entre a cnergia (c) ¢ 0 momentum (p) de uma particula livre. Do ponto de vista Classico, essa relagdo 6 dada por p = V2me. Para particulas livres com altas energias (Segio 6.6.2), 0 momentwn & proporcional & energia, p x ¢. Além das partfeulas com altas eniergias, casa proporcionalidade entre a cnergia e 0 momentum se verifica também para outros sistemas fisicos (Tabela 10.1). Nesses casos, a densidade de estados g(6) de energia é proporcional ao quadrado da energia, gle) oc e?. Entretante, o ntimero médio de particulas com energia ¢ ndo 6 mals proporcional ao fator de Boltzmann, A Tabela 10.1 mostra alguns si a seus constituintes. amas € as correspondentes densidedes de estados associadas Sistemas || Constituintes |[_ | Gases || Moleut i | _moleculares a Ones. Radiacioem || Oscladores : umacaviiade || ciassicos Radiaga0 em ||| Osciadoies umacevidade || quantoos || >, “| Radiagioom |] Modosde e umacavidade || vibracao Séiiios Modes de i crstlinos vibragso a Tabela 10.1: Densiaades de esteda pare diversos sistemas Para oseiladores ¢ particulas nAo-relativistieas, considerando a fungio de partigéo como dependonte de ; = 1/kT, 2(8) a (de *d © G miinero total (G) de eotados acessiveis para urna partfewa livre, de massa, ce um gs até wor valor de momentum igual p, & obtide integrando-se o elensento de volume do sen espago de fase de dy d2 dpedpy dpe até © volume Ve 0 momentum p. Devido A isotrapia, o movimento das moléeulas no subespago dos mementa esta restrito a una esfera de mio P= y/E-+75 +P, donde obtém-se G = V (4x /3) 7° 10,_A RADIAGAO DE CORPO NEURO BO RETORNO 4 CONCHPGAO CORPUSCULAR DA LUE 305, fa encrgia mnéilia de cade constituinte, pode ser expressa como Assim, basta se calculara fungio de partigéio pari se determinar a enersia média por constituinte, Essa foi a abontagem de Einstein (Segio 10.2.6) para explicar tanto o resultado classico obtido por Rayleigh quanto o de Planck para a onergia média de wm oscilador que faz parte de am sistema em oquilfbrio térmico, Planck, por sua ver, utilizou-se do método combinatorial de Boltzmann. 10.1.1 Boltzmann c o problema da irreversibilidade ‘Um dos principais obstdculos eonceituais 2 aceitagdo da Teorla Cinética era 0 arguinento de que cla nao poderia descrever fendmenos e processos termodinamicos irreversiveis, como o estabelecimento do equilfbrio térmico, sendo cla uma teoria microseépica baseada na Mecanica de Newton, cuja lei fundamental (£ = mé?#/di) é invariante pela translormegdo temporal t+ -1, on seja, reversivel. De fato, em 1876, Loschmidt argumentow nesse sentido ao atinmar que, para cada possivel movimento dos constituintes de um sistema, que leva a seu equilibrio, existe un outzo, igualmeate possfvel, que © alasta do equilibrio ¢, portanto, os processos de origem meciniea, em ‘tina andlise, seriam sempre reversiveis, problema da irreversibilidade, do ponto de vista macrosnipico, esté Tigado As leis que regem atroca de energia entre os sistemas. Enquanto @ 1? lei da Termodinamica. expres dy eneryia interna (7) de um sistema, AU=Q-W (10.4) cniio profbe a transformagio integral do trabalho (W’] realizado por um sistema.em calor (@). a2 Ici da Termodinamica impée limites & transformagio reversa, ou seja, 3 conversa de calor em trabalho. A grandeza definida por Clausius, em 1854, para caracterizar es limites denomina-se entropia e, usualuente, 6 denotada por $.7 Segundo Clausius, a variagdo da entropia de um sistema, de una condigio ou estado A para um o quantidade de calor Q, & temperatura T, ¢ tal que ado B, ay reeher on coder uma pequena (0.5) onde a igualdade s6 € verificada se a evolugio for reversivel, * Veja comentario sobre uma controvérsia a esse respeite no livro de 8.G, Brush (1963), p, 576. 306 Caruso ¢ Oguri ELSEVIER Desse modo, a conservasio «la energia para processos reversivels pode ser expressa por AU =TAS-W (10.8) 6, para um gés ideol ~ uma ver que o trabalho (W) realizado & pressdo P, ao se expandir ou se comprimir de um volune AV, €W = PAV, por AU =TAS~ PAV (10.7) Logo, a temperatura ¢ a pressio de um sistema em equilforio térmico podem ser expressas por (2), as as : (2). 09) A equagio (10.9) pode ser utilizada para se determinar a equagio de estado do sistema, & a equagdo (10.8) foi utilizada por Planck ¢ Einstein ao estudarem a yadiagéo de corpo negro (Seco 10.2). SID Sle A relagiio de Clausius, equaco (10.5), baseia-se na 2 lei da Termodindmica e expressa o fato de que o calor () nfo passa, espontaneamente, de um. corpo para onto & temperatura (7) mais alta, Assim, 0 principio da irreversibitidade macroseépiva pode ser expresso como A entropia de us sistema isolado aunce decresce: AS > 0 | on | © aquittrio de ur sistema isolade & um estado de enlropia mazina, |A interpretagio microsespica desse principio foi feita por Boltamann, em bases catatisticas, ao identificar a entropia, $ de um sistema de N particulas, ocupando volume V ¢ tendo energiz. U, em equilibrio Léemico & temperatura 7’, como uina medida de sua desordem, expressa por* S(N,V,U) x InGQV, VU) (10.10) onde G(N,V, 0) 6 0 mimero total de configuragdes microse6picas compativeis com os vinculos externos impostos ao sistema. Na linguagem estatistica, disse que o conjunto de valozes (NV, V.0) define um macrorstaco do sistema ¢ G(N,V,U) 6 0 mimero de microestados compatives com esse macrocstado, Nesse sentido, quanto maior o mimero de particulas ou 0 volume de wn sistema, maior o utimero total de configuracdes, maior a desordem e, consec aentropia do sistema. jenttemente, maior * Fol @ partir da definigio de entropia como $ = blnG que Planck, em 1900, introduziu a constante de Boltzmann (&) CORPO NEGRO FO RETORNO A CONCEEGAO CORPUSCULAK DA LIZ 307 Admitindo que a ocorréncia de cada microestado seja igualmente provavel, a probabilidade PUN,V,U) de ocoréncia de um dado macroestado (N,V\U) 6 proporcional a niimero de miccocstados eorrespondentes, P(N,VU) xGINV,U) = PIN,VU) ox e' Assim, a probabilidade relativa de que qualquer parametro macroseépico (X) que dependa da quantidade de matéria, como a energia (UV), 0 volume (V) ou o mimero total de partieulas (V), cxiba um dado valor em relagéo ao scu valor de equilibrio (X,) pode ser expressa pela. variagao da entropia, ou sele, xy G(X) = exp[S(X) — S(Xo)) A partir dessa expression, pode-se calcular, por exemplo, a probabilidade relative de que um gas reduza, espontaneamente, 0 seu volume & metade, P(V/2)/P(V) = Pi argumento de Einstem de 1905, de que, se o volume V ocupado por um gas ideal, com N particulas ¢ energia U', em equilibrio térmico, for dividido em regides de volume V,, 0 mimero de estados acessiveis a cada particula do gés ¢ dado por V/V,. Para NV particulas independentes, 0 niimero total (G) desses micracstades € proporcional a (z) 2) Utilizando-se 0 ©, portanto, avy Como N = 10?4, esse valor 6 extremamente pequeno e, nesse sentido, diz macroscopicamente irreversivel se que 0 fendmeno 6 Assim, a entropia de um gas ideal, obtida por argumentos puramente probabilisticos, 8 partir da cquagao (10.10), é dada por SsanV+C onde a ¢ C’ séo coustantes, 0 que implica, segundo # equacao (10.9), a equagéo de estado PL a3 —e _, rT \wv}, Vv T Por um argumento semelhante, em geral, a entropia depende das variavei definem um macroestado, segundo N,V,U) que SccplnN + alnV + 9nU+C onde pt, a, 7° C sio Cabe notar que a arbitrariedade da divisio do volume V, ou seja, da escolba de um volume Vj, @ menos de um valor absolute para a cutropia, néo acarreta nenhum problema, uma vez que apenas variagées de entropia so relevantes para a determinagio de qualquer propriedade macroscépica de um gés. Entretanto, do ponto de vista quantivo, como mostrado pela primeira ver por Planck, em 1900, pode-se atribuir uma escala absoluta para a entropia (Seo 10.2.5). nistantes. 308 Pisien Moderna Camus © Oguri was 10.1.2 O método combinatorial de Boltzmann No método combinatorial do Boltzmann, as relagdes entre as grandezas macroseépices que caracterizam um sistema so estabelecides a partir da dofinigi de entropia. Para contornar o problema de definir o ntimero de estados em meios con\ienos ¢ possibilitar ume interpretacao estatistica da entropia, Boltzmann discretiza o espago de fase, admitindo ainda que as N particulas de um gas com cnergia U, embora idénticas, % cstariam distribuidas em M céiulas de energia (ou regides do espaco de fase) tamibém idénticas e distingus Ditréria, o resultado final nao dependeria do tamanho de cada eéfula ¢ se poderia tomar 6 limite «+ 0. iam distinguiveis ¢ is, cada qual com energia ¢. Uma vex que essa divisac Para um coajunto de N osciladores harménicos unidimensionais, em equilibrio térmico & temperatura T, 0 wéimero (@) de estados acesniveis a cade win dos osciladores que eonstituem 6 sistema é dado por Por exemplo, para um conjunto (A,B,C) de N — 3 osciladores distingufveis e M = 2 células (a, também distinguivois, obtém-se um total de @ = 8 estados distintos para o sistema (Tabela 10.2), todos com a mesma energia Be. « IDs AB ei AC B BG A co | ape Boh Ae BC Tabela 10.2: Distribuicgo de ties osciadores distinguiveis por duas células distinglirvels De acordo com Boltzinann, a entropia , expresso da medida de desordem de nm sistema, & proporcional ao logaritmo do mimero total de estados, ou scia, SxinG~ NM Definindo-se a energia de cada célula, ¢ = U/M, ¢ a enegia média das particulas, (¢) = U/N, a entcopia de um conjunto de IV oscilacores seria dada por $~NinU -Ninc onde o iiltimo termo depende da escolha do elemento de energia, mas ndo importa para a deverminagao dos pardmetros do sistema, como a energia média, dada por 1_ (as) N ae 1 #-(50) ~F USNT => (oT 10.2 A radiag&o de corpo negro Tentei imedialamente incorporar de algurea forma o quantun elementar de acéo ‘h''no contexto da teoria chéssica. Mas em face de todas esas tentativas, esta canstante mastrow-ce obstinada. Max Planck. De um certo ponlo de vista, as tcorias quinticas tiveram origem na adogly de métodos estatistivos para 0 estudo de sistemas Hsicos, quando Max Planck, em 1900, deduziu uma expressiio que descrevia 0 comportamento da radiagio de corpo negro, Desde 1895, quando Injcion suas pesquises nesse dominio, Planck procurou concentrar-se nos osciladorés elementares (atomos radiantes) em ves, de na. radiagao om sh Anteriormente ao trabalho de Planck, no perlado entre 1854 © 1859, 08 precursores da espectroscopia, Bunsen ¢ Kirchhoff, haviamn estabelevide que, apesar de os poderes de absorgio® (a) ¢ de emissao! (F) de um corpo radiator dopenderem da temperatura ¢ de sua natureza, a rasio (I/a),, para um determinsdo comprimento de onda (A), 86 depende da temperatura; de outro modo, néo poderia existir o equilibrio da radiagio no interior de una cavidade gue contivesse substancias diferentes: £ ( ) (corpo qualquer) = I(T) (corpo negro) a Nas palaveas do proprio Kitchhoif, pora raios de mesmo comprimento de onda ¢ mesma temperatura, a razio do poder emissivo c de absorgiio é a mesma para todos os corpos. Assim, a intensidade espectral da radiagdo de um corpo negro 6 dada por uma fungao universal I)(T), que depende do comprimento de onda {A) © de sua temperatura T. Figura 10.3: Ragiacse de corpo negro por uma cavidade. Conforme mostrado por Kirchhoff, do ponto de vista experimental, qualquer cavidade com paredes totalmente refictoras no interior de um sélido que tenha uma pequena abertura (Figura 10.3) se comporta como um corpo negro. De fato, toda radiagio vinda do exterior que passe pelo oriticio é refletida vérias vezes nas paredes internas até ser totalmente absorvida por elas. Por outro lado, quando 0 sélido se aquece, estas paredes emitem radiacio eletromagnética, cuja maior parte permancce no interior da cavidade. Em equilibrio térmico, através de reflexdes sucessivas, a energia da radiago emitida pelas paredes & igual & absorvida. Por essa razdo, a «(poder de atisorgio) = Tragio de onergia total da rediagio que é absorvida por um corpo, por unidade de tempo. Por exemplo, para um corpo negro, a = 1 ¢, para o tungsténio (Wi), temperatura de 2450 K, a = 0,24. 1° / (poder de emissio) = intensidade da rackacio térmica emitida por vm corpo, Par exempta, para 0 tungstenio a temperatura de 245) K, I= 50 Wen 310 Fisica Moderoa Caruso ¢ Oxi FLSEVIER radiagio no interior da cavidade ¢, portante, também a pequena fragio da radiagao que dela emerge através da abertura devem possuir exatamente a distribuig&o espectral de intensidade ‘ica da radiagéo do corpo negro. ‘Uma vez que a fragiio de energia por unidade de tempo e de area da radiagao de densidade de energia média u que escapa pelo orificio de uma cavidade em uma diregso 0, segundo um Angulo solido d82 (Figura 10.3), 6 dada, de acordo coun a equacio (5.26), por ag 36 — uc 08 8 a intensidade (J) da radiagiio isotrépica emitida pela cavidade, em um hemisfério, relacionase com a densidade média de energia (a) por (18.1) 10.2.1 As leis de Stefan e Wien Na tentativa de encontrar a fungéo universal I(T), duas leis que exprimem a dependéncia da radiagéo de corpo negro com a temperatura, ¢ que desempenheram importante papel 10s trabalbos de Planck e Einstein, foram: @ a lei de Stefan (1879) proporcional & quarta poténeia de sua temperatura. intensidade da radiagdo cmitida por um corpo negro é vu I= (10.12) onde ¢ = (5,67051 + 0,00019) x 10-"? W.cm™?.K Boltzmann; a chamada coustanie de Stefan- * a lei do desloeamento de Wien (1893) comprimento de onda (Aj) correspoudente A maxima densidade espectral de energia da radiagin emitida por um corpo negro 6 inversamente proporcioual & sua temperatura.” [Auto (20.13) onde b = (0.280756 + 0,0000021) cm.K. A lei de Stefan foi deduzida por Boltzmann em 1884. Usando a teoria de Maxwell ¢ argumentos. estatfaticos, Boltzmann mostrou que a pressio de um “4s de radiagio” 6 igual a um te densidaile de energia e, a partir dai, que I = oT (Exercicio 10.6.11). 1 da Por sua vez, a Ibi de deslecamento foi estabelecida experimentalmente em bases sélidas em 1897. ap6s Paschen constatar que a densidade espectral de energia da radiagio de um corpo negro, em fungi do comprimenta de onda, para vatias temperaturas, comportava-s* como mostrado na Figura 10.4, e com base nos trabalhos de Lummer & Pringsheim ¢ C.B, Mendenhell & F.A, Saunders. "=A inlensidade da radiagio enitida por um corpo qualquer pode ser expressa como i = ¢ aT, onde ¢, dovominada emssividade do conpo, ¢ igual ao poder de absorgi ¢ parao corgo negro, ee = 1 & 10._A RADIAGKO DE CORPO NEGRO EO RETORNO A CONCEPGAG COMMUSCULAK DA LUZ 311 Figura 10.4: Isotermas das cistribulgées espectrais de energla para vanos comprimentos de onda, que mostra desiocamento, para a direita, do méxima da exergia, 8 medida cue a temperatura decresce. 0 grdfico da Figura 104 mostra que, para cada curva, existe um comprimento de onda (ar) para o qual a densidade espectral de energia 6 maxima, e que, para duas temperaturas Ty © Ta < Ti, a posigio relativa de ponto de mximo desloca-se para wa valor maior, ot ja, B Aw Essas duas leis podem ser explicadas pela expressfin para a densidade especiral de energia (uy) da tadiaciio de um corpo negro, deduzida por Wien, em 1893, | w= ¥6(F) | (20.4) em que 9 é uma fungao da raziio entre v eT Para chegar a este resultado, Wien admitiu correta a lei de Stefan e desenvolveu um engenhoso: argumento, bascado na invarianeia de escala, que pode ser compreendide da seguinte forma. Adnmita que um corpo negro soja modelado por uma esfera ova cjas paredes sfio perfoitamente condutoras, com um pequeno orificio. Suponha agora que esta csfera de raio r ésteja se contraindo uniformemente, com velocidade v = dr/dt, durante um tempo ¢ (Figura 10.5) Considere um feixe de luz, cuja velocidade de propagacio ¢ ¢ e o perfodo +, espalhado pela, superficie interna da esfora segundo um Angulo a. Como a parede esta se movendo, haverd um efeito Doppler, segundo 6 qual a variagio relativa do perfodo sera br Qveosa _ 2eoser dr r © a (10.15) efeito Doppler consiste na modilicagao da freqiiéncia emitida por uma fonte percebida por um observador quando hd movimento relativo entre cle e a fonte. Hsse efeito pode ser igualmente compreendido e descrito a partir da hipétese corpuscular da luz e do modelo atomico de Bohr (Segdo 12.1.8) Seja uma fonte de lux Si de freqiiéneia ve comprimento de onda 2, que se move na diregio de um observador estacionario com uma velocidade w formando um angulo @ em relagdo & que os une (Figura 10.6). reta a1, Pésiea Moderna, Camso Figura 10.5: Esquema da refiexso de ralos de luz no interior de uma esfera aue se contrai De acordo com a teoria ondulatéria, para um observador no ponto O, se w << 6, a conse qiiéncia do movimento seré uma diminuigio de comprimento de onda, de para. N=A-“cos8 ‘Uma, vex que dv = 0 observador em O perecberd, portanto, uma variaglo na freqiiéneia em relagio ao caso em que a fonte esté em repouso, dada por Ie cos 0 (10.16) Av _|N=d d Figura 10.6: Esquems do efeito Doppler No caso considerado aqui, como a distancia percorrida pela Inz entre duas reflexdes é f = 2r cosa, 6 tempo gasio neste trajeto é igual a £ cosa © Denotando dr/dt como a variagio do perfodo em um segundo, a variagéo 67 no periodo, corresporiente ao intervalo de tempo entre as duas refloxdes, é obtida multiplicando tempo 10. at RADIA (0 DE CORPO NEGRO BO RETORNO A CONCEPGEO CORPUSCULAR DAL B13. gasto, no trajeto considerado, por esta quantidade, ou seja, _ @ ome) “ (10.17) Tgualando as equagées (10.15) ¢ (10.17), chega-se PL rary ro F an O que significa que o perfodo é proporcional 20 raio, ou soja, enquanto a esfera se contrai em uma trausformagao adiabistien, 0 pervodo da. lw: também se contrai de tal modo que permanece proporcional ao raio r, A luz sofre também uma variacio 5A no seu comprimento de onda. Como dv (r =e), da rit) (10.18) Denotando-se por ¢ a quantidade de energia dessa luz para um comprimento de onda particular ¢ lembrando que esta quantidade envolve uma média no periodo, deve-se ter be eos adr ed (10.19) Note que a equacio (10.19) pode ainda ser escrita em termos da variagio na freqiiéncia v da luz como, (10.20) Portanto, verifica-se j& nesse ponto que no hé contradigao, no que se refere A luz, entre 0 resullado Classico ¢ a proposta de Planck de que ¢ = tw. Definindo defdi como a variagio da energia por segundo, encontra-se pare a variagio na cnergia de _ (2reosa) de t= ( ; ) a (10.21) donde, p de Fm coer") (20.22) Logo, a densidade de energie por unidade varia como volume (V), para um corto comprimento de onda, p xr a(t) Este resultado vale para qualquer comprimento de onda. Goro, pela lei de Stefan, a densidade de energia total varia como 7, segue-se que a temperatura varia como Tort) 314 Fisica Madera Canso # Oguri ELSEVIER Com esses resultados, pode-se agora avaliar 0 que ocorre com a lei de Stefan, a= / F(A,T)d\ = aT* (10.24) segundo wna trausformagio de escala do tipo roar Usande 05 resultados das equagdes (10.18) ¢ (10,23), a energia total transforma-se como uaeTt [PoOrnyalny = ayy Substituindo 0 termo aT pela equayao (10.24), segue ane J Porartayan= y [ronan donde se tixa que FO TD) =n Fp, 2OT) (40.25) Considere que a forma geral para a fungo F seja P(A,T) = MT" o(AT) onde 2 © b silo constantes « deterininar ¢ 6 6 uma fungao invariante de escala, por eonstrugdo. Substituindo esta funcdo na equacio (10.25), atém-se MT! GAT) = yf 67 OAT) ou seja, a fingio F & detotminada pea relugdo que garante a invaridneia de eseala, a=b-5 A primeira solugdo, correspondendo a escolha 6 = 1 a = —4, implica na forma funcional FAT) = APT) (10.26) Fisse resultado ¢ eonhecida como teorema de Wien. Combinando as equagdes (10.18) ¢ (10.23), vé-se quo A é inversamente proporcional & temperatura, na ttansformacao adiabética, considerada. Portanto, se existe um valor A,,,. para cada distribuigio de energia a uma dada temperatura, cle deve satislazer & relacio Aas'l’ = constante conhecida como a lei do deslocamento de Wien. A cquagio (10.26) pode, ent&o, ser reeserita, como . F(A.T) = CX XT) (0.27) onde C 6 uma coustante, Este foi o resultado obtido por Wien, em 1893-1894, A forma da fungi @{AT) foi investigada por ele em 1896-1897. 10. A RADIAGIO DE CORPO NAGEO 5 O RETORNO A CoNCEPGAO CORPUSCULAR DA LUZ 315 Para determinar a fungao (AT), Wien recorre a um inodelo para o corpo radiante fazendo a hipdtese de que, de ceria forma, a radiagio de um corpo negro s¢ comporta como um gas que satisfaz a distribuicio de velocidades de Maxwell. A seguir, admite que cada molécula deste gas emite vibragies cujos comprimentos de onda ¢ intensidades dependem apenas da velocidade v das moléculas, hipétese esta dificil de se justificar. Admitindo-a, se A= Ale) = v = vd). A foncio F(),‘7), que é a intensidade da radiacdo com comprimentos de onda entre N= d+ dd 6 portanto, proporcional ao ntimero de moléculas que emitem radiacdo nesse intervalo. Esse neimero 6 dado pela expressio de Maxwell, podendo ainda depender da velocidade que, por hipdtese, depende s6 de . Assim, Wien postula que F(T) = Qe (VT (20.28) onde f eg sio fungées desconhecidas. Comparando-se as equagdes (10.27) ¢ {10.28}, chega-s lei da radiagaio de Wien para a densidade espectrai de energia BPT | FAD = w= AS e (wu av ir) (10.29) onde B = 1,44 om.K, A= 0,5 x 10"! Jomo C = B/e, Esta formula foi deduzida de um modo bem diferente e mais rigoroso par Plaxck, em 1899. Entretanto, embors, a derivagio de Wien fosse calcada em uma hipdtese ad hoc, seu resultado teve © mésito incontestiivel de reprodusir sorretamonte a. lei do deslocamento, Evidente que, fazendo 0 caminho inverso, pode-se mestrar que a Iei de Stefan decorre imediatamente do célenlo da integral da expresso de Wien, equaco (10.14), us fw av = fe = Bf 6s) ae oo Portanto, de acordo com a equagéo (10.11), I = ¢T* Por outro lado, um ver, qne e que = ar (10.80) Desse modo, 0 comprimento de onda (Ay) para o qual a densidade espectral de energia é méxima, isto é, aquele que maximiza a expressiio de Wien, satisiaz a ay POT) _ 5 9) a neo 316 Fisica Moderna Caruso ¢ Oguri seven Ou seja, b = AyT é a raiz da equagio arg'(ae) - Entretanto, como jé citado, os resultados de Rubens e Kurlbsum para a-veriacio da densidade cspectral de cuergia com a temperatura (Figura 10.7) evidenciaram que, apesar de descrever @ parte de altas fregiiéncias (ondas curtas), a expressio de Wien, na forma da equacgio (10.29), nao a descrevia adequadamente na regiao de baixas freqiiéncias. BST TO HOD TPC) Figura 10.7: Comparaco da Ici de Wien (linhs cncis), com um ojuste dos cades de Rubens @ Kurlbaum > Formula de Rayleigh (inne Poatiinada), para radaeao a6 Comprimento Ge onda da ordem de 50 jim Essa dependéncia linear com a temperatura fol obtida pela primeira vez por Rayleigh, em 1900. com 0 fator numérico corrigido pelo inglés James Jeans, em 1905, ¢ propriamente estabelecida por Einstein, em 1905. 10.2.2 Os osciladores de Planck Os primoiros trabalhos de Planck sobre a radiagio de corpo negro basearam-se na ‘Termodinamica, principalmente para justificar a lei de Wien. Inicialmente, Planck considerou que os osciladores das paredes da cavidade estavam em equilibrio térmico com a radiagdo cletromagnética estabelecida em seu interior, de modo que a perda de energia de cada oscilador seria compensada pela absorgao de energia da radiacao. Uma particula de carga e ¢ massa sn, com accleragio a, em movimento oscilatério ndo- relativistico, em uma direcéo «r, emite radiagio, ¢ a energia média imadiada por segundo (poténcia P) é dada pela formula de Larmor, equagio (5.31), na qual, relembra-se, o valor médio é calculado durante o perfodo de oscilacio (T° Uma vez que a energia (¢) de um oscilador harménico simples obedece & relagio 10. A RADIAGRO DE CORFO NEGRO EO RETORNO 4 CONCHPGAD CORPUSCULAR Da LUZ 317 onde (cp) © {¢e) Sho, respectivamente, as cnorgiss médias potencial ¢ cinéviea, ¢ a aceleraio. média quadrétics, em Lermos da freqiiéncia natural do oscilador ¢ do seu deslocamento, é dada por wane Ae (a8) m anny (2m (22) = (envy? ? dle modo que poténcia emitida pode ser eserita como cv) fe) = — (&) (0.31) a Kissa perda de energia mostra que os osciladores, para freqiiéncias na faixa do infravermelho (v < 10" THz), comportam-se como osciladores fracamente amortecidos, cuja constante de amortecimento 7 é dada por Sette «1 (Ho) sine Por outro Jado, 0 movimento de um oscilador amortecido sob agio de um campo cletro- magnético monocromitico Eye(v’) cos 27! de freqiiéncia v' = 1/1", na direqao x, obedece & equacéo de um movimento harménico forgado dye 4 ome = © B,,(7/) cos 2nv't A solugdo no-transitdria desse problema pode ser escrita em termos de componentes cléaticas (ae) e absorventes (14) como Ap cos2nvi + Ae sen2av'4 eee Substituindo-se essa solugao formal na equagio de movimente do oscilador, obtém-se seguinte sistema de cquagdes para as amplitudes: an(v? —v)lg — Ae = 0 ye! Ag + 2m cuja solugao 6 ah}. yu! a _ [eBxle} An = ( mh ) are Es Gp _ ( ¢Box(e’) (2 -v") Ae = ( ™ ) Ore? PP OE ‘Uma ver que a radiagiio de corpo negro no € monocromética, « poténcia absorvida pelo oscilador sob ago de cada componente monocromiitica de freqiiéncia 1! do campo de radiagio 6 dada por Py du! = (2 vprr de’, ow soja, CEL ; Py dv! = (eE pita) de! [ | oP oe 318 Pisica Moderna Caniso ¢ Oguri ristvien Assim, a poténeia total absorvida P! por um escilador de freqiténcia satural v é dada por ’ ne —v G Pay? Como a absorcio aprecidvel de energia s6 ocorze para fogiiéncias préxima natural do oseilador, poder-se utilizar as aprosimagiies A freqiiéncia vow = (w+ v\v—v) = wV—v) © eslender o limite inferior de integragio para —co, obtendo-se CB) [*_ lt) gy pt Bint J Gv) 4 (5/4n) on seja, 2 Pi Bb iD) gn is Y) Uma vex que a radiagao também 4 isotrépica, a densidade espectral de cnergia ostd relacionady a cada, componente cartesiana do campo elétring por Se, (v) (10.32) de modo que # potéucia total absorvida por oveilador também pode ver exprewa por me? P= Brn (10.33) Como no caso de equilibrio, as duas equagses (10.31) ¢ (10.33) devem ser iguais, isto 6 P=P obtem-se et (10.34) Essa, equacio (10.34) foi obtida por Planck, em 1899, ¢ indica que a densidade espectral de energia uw, da radiacdo é determinada pela energia média de cada oscilador (€) Assim, segundo a expressiio de Wien, equagdo (10.29), para altas freqiiéncias, a energia média de cada oscilador seria dada por (we? | (10.3 10._A RADIAGRO DE CORPO NEGRO HO RETORNO A CONCEPGAG CORPUSCULAR DA LUZ 319 10.2.3 Rayleigh e os modos de vibragdo da radiagao Rayleigh, a0 contrdrio de Planck, fixou-se na propria radiacao, estabelecendo que a expres de Planck, equacao (10.34), que relaciona a densidade espectral de energia com a energia média, de cada oscilador, era conseqiiéncia apenas do Bletromagnetismo Clissico de Maxwell, apés avidade ora cquivalente a wm conjunto disereto mostrar que 9 campo clotromagnético om. 1 ¢ infinito de osciladores harménicos independentes. Rayleigh calcula as freqiiéncias dos osciladores a partir da equagdo de onda de d’Alembert C onde W é a fungio que descreve um campo estabelecido no interior de uma cavidade ciibica de lado a, volume V = a°, sujeito As condigdes de contorno!? W(0,0,0,t) = W(a,a,a,t) Para vibragdes harmonicas de freqliéncia v = 20/w, (a) eft a parte espacial da funcio de onda satisfaz & chamada equagdo de Helmholtz, (7? 44) wea) 0 onde k = wfe, © problema, cntio, adinite umn conjunto infinito ¢ disereto de solugies do tipo ian ~ Sen kya sen ken $00 ky? onde os valores de hy, km @ hn So discrelos ¢ dadas por ky 1 km J = | om (l,m,n,=0.1,...) by nm € 0s valores possiveis de k = y/k? + k2, + K2 sio dados por Vieaten (2) Assim, a solugdo geval do problems pode ser escrita como uma superposigéo dos chamados modos normais de vibracio (mn) 8 = TX vn ER Ant tone onde Vin = VE Fm? +n? (c/2a) 6 a treqiiéucia do modo {Imm}. | Para o campo cletromagnético, as condigdes sio diferentes para as componentes normnais ¢ tangenciais & superficie de contorno; no eutanto, resultam nos mesmos valores para as possiveis freqtiéncias dos osciladores. 320 Fisica Moderna, Caruso + Oguri FLSEVIFR Desse modo, Rayleigh estabeleceu que 0 campo eletromagnético no interior dle uma cavidade resulta da superposigéo de modos dle vibrag&o anélogos aos que produzem as ondas aciistices estaciondrias estabelecidas em um meio continuo, como a corde vibrante com extremos fixos. Como para cada modo normal comespande um conjunto de tres nrimeros inteizos positives (I,m,n), considerando esses miimeros como cucrdenadas de wm ponto em um sistema de trés eixos de coordenadas, a = VF +m? +n? é a distancia de cada ponto & origem. Portanto, para uma alta densidade de pontos, o ntimero de pontos entre & ¢ + de: é dado pdo volume de un octante'? correspondente A camada esférica de raio @, ou soja 2x Lara? da = ra? da onde ¢ fator 2 deve-s magnética transversal ais duas diregdes de polarivagées independentes de uma onda eletro- ‘Uma vez que » = ae/2a, 0 ntimero (dG) de modos de freqiiéncia entre v ¢ v-+ du é dato por dG =x. al 2 dy se 2 dv * eS oe Introduzindo-se o conceito de densidade de modos, definida por dG = ay (10.36) @ denotando-se por {c) a cnergia média associeda a cada modo, a energia média total U do cempo pode ser expressa por us [oa a= vf Uma vez que a densidade espectral de energia (uy) 6 definida por de uma comparagio direta entre as duas tiltimas formulas, resulta a expresso de Planck. equacio (10.34), Say (10.37) uy oe Admitindo que o principio de eqiiiparti¢io de energia seria valido para cada mode normal de vibracio da radiacdo. a energia média de cada modo, {e), seria dada por @xT (20.38) Assim, para baixas freqiiéncias, a densidade espectral de energia (u,) seria dada pola chamada, formula de Rayleigh-Jeans. (10.39) 1 Originalmente, Raylegh considerou todo o valume da esfera. A correo para o octante fol feita por Jeans, em 1905. NCEPGAO CORPUSCULAR DA LUZ 10._A RApIAGKO DE CORPO NEGRO EO RETORNO A ci A esse resultado Poincaré refere-se de forma contundente: B dificil adotar essa manera de ver de Jeans): sua teoria, que ndo prevé nada, niio esti em cxndradigéio com a exyeriéncia, mas deiza sem explicagao today a8 conhecidas que ela se limita ando contradizer € que nde apurecem mais do que como 0 efeito de que nao set que feliz acaso. Na verdade, apesar de compativel com os resultados experimentais de Rubens ¢ Kurlbeum (Figura 10.7) no dominio de longos comprimentos de onda (Ireiiéneias baixas), a expressiio de Rayleigh, equago (19.39), implica que jim u,(T)= 0 © fato de que, para altas freqiiéncias, ou sojs, para pequenos comprimentos de onda, a densidade de energia da radiagao prevista pela firmula de Rayleigh fosse bem maior que a obtida experimentalmente, tendendo mesmo a valores infivitos (Figura 10.9), ficou conhecide, como “a catdstrofe do ultraviolet’, expresso cunhada, pelo fisico anstrfaco Paul Ehreniest. cm 1911. Essa denominagao roflete o espanto causado pelo insuccsso da abordagem cléssica de Rayleigh-Jeans ao problema, 10.2.4 A formula de Planck Ao ser comunicado, em 1900, por Rubens ¢ Kurlbaum de que a lei de Wien, confirmando os resultados de Lummer ¢ Pringsheim, nao col do corpo negro, Planck, ainda a partir de argumentos termodinamicos, propde com sucesso uma formula de interpolagio para a dersidade espectral de energia jrradiada por um corpo negro. de mode satisfal rio todo o cspectro da radiag&o Uma vex que, para baixas fregiiéncias, a energin média por oscilador (c), dada pela expressiio de Rayleigh, equagio (10.38), onde (s) (10.40) ofT lo ~ ve = obtém-se 2 ee) 1 ak (10.41) Placick propde que a expressiio para a dorivada segunda da entropia, que cobrisse todo 0 spectro, cujus limites sio dados pelas equagdes (10.40) ¢ (1041), seria dada pela seguinte 322 Pica Moderna uses formula de interpolagao"* 4s) -a ay? (eh (e)) onde a c 6(v) seriam dois parametmos a se determinar, tal que limb — 0 ot lim b+ 00 Integrando-se a expresso proposta por Planck, a(s) a ot =- ft ae Infe) = In(o+ ©) ae | were we (mo +(0)] (10.42) Comparando-se, no limite de allas freqiiéncias, com a equagao (10.35), derivada da formul: de Wien, os parametros a ¢ b devem ser tais que baw constante ‘Ao procurar dar um conterido fisieo para a sua fSrmula, Planck se di conta que a entropia dos osciladores poderia ser determinada por argumentos probsbilisticos, ou melhor, a partir da Mecinica Bstatistica desenvolvida por Boltzmann. 10.2.5 Planck e 0 quantum de energia No seu segundo trabalho de 1900, Planck modificou © método combinatorial de Boltamann dividindo a energia U de um conjunto de V osciladorws, considerando-os ainda idénticos ¢ distinguiveis, mas admitindo que as M células de energia € = U/M seriam indistinguiveis. Diferentemente de Boltzuann, faz 2 distribuigio dos M elementos pelos N osciladores, obtendo para o niimero (@) total de estados a expressio!? (V4a-1)! MIO +M)NtM e MM NN Por exemplo, para um conjunto (A, B,C) de N = 3 osciladores distinguiveis e M — 2 (c. 9) indistinguiveis, obtém-se apenas G = 6 estados para o sistema (Tabela 10.3) * Para Planck, a detivada segunda da eutropia con relagio & enersia seria uma medida da irovessibilidade dde_um provesso termodinamico ° Basa expresso leva em conte o limite de fatorial para grandes miimeros (férmula de Stirling). 10. A RADIAGAO DE CORPO NEGRO # O RETORNO A CONCEPGAO CORPUSCULAR Da Luz 323 Tabela 10.3: Distribuieso de dois elementes de energie indistinguivels per tres osciladores distinguives Para um conjunto (A,B) de N = 2 osciladores distingniveis © M = Lingnfveis, obtturse G = 4 estados (Tabela 10.4) células (0, 8,7) indis. ‘Tabela 10.4: Distribuicdo de tes elementos de energie indistinguiveis por dois osciladres aistinguiveis Desse modo, a entropia ($= klog G), dada por!® s E[(N + M)log(N + M) — Nog N - M log M] =k[Nlog N (14 4) + Mog N (1+44) - Nlog N =kIN (14-4) log (14+ Y)— NH log H] =e [1+ 2) (+12) - Se 2} implica que (10.43) ou seja, (10.44) A constante de proporcionalidacle implicita na definigdo de tloltzmann fo explicitada e clesotada por Planck como ke chanteda dle constante de Boltzmann. 324 Fisica Moderna Caruso ¢ Oguri FISEVIER Para que a energia média néio dependa, da diviséio de células, o elemento de energia née pode ser arbitrério. Comparandose a equagao (10.44) com a equagao (10.42), podem-se identificar os pardimetros a ¢ b com A pattir desse resultado, Planck conclui que o elemento de energia, 20 contvario do que sucedia para a cntropia calculada para células distinguiveis, ndo é arbitrério, no sentido que possui um valor minimo determinado pela freqiiéncia da componente da radliagao cmitida, ou seja, deve ser igual aum quantum de energia, cahy onde a constante de proporcionalidade h é a denominada coustante de Planck. Dessa_meneira, Planck introduzin ¢ caleulon!? duas constantes universais da Fisica: a constante de Boltzmann (k) ¢ a constante de Planck (hk), enjos valores de rele ia hoje sto & = (1,880658 + 0,000012) x 10-7" JK a = (6,62606876 + 0,00000052) x 10° Js A Tabela 10.5 resnme alguns valores de | co 6,55 [Planek, 1900] 6.57 Milian, 914) | — 639 || Deane & Hunt, 1915) 654 {Mendenhall 1917] ae 65843, {Birge, 1919) 6556 _|| (Duane, Palmer & Yeh, 1921] 6,2606891 [Williams et al., 1998] Tabela 10: Algumas medidas da constante ¢e Planck A partir das féemulas para a entropia de um gas ideal ¢ das Inis de Farada y para a cletrdlise. no mesiuo trabalho, Planck fez também estimativas para o mimero de Avogadio (N,) ¢ para a ‘T Qs valores calculados por Planck foram { k= 1,816 x 10 erg/K = 1,846 x 10-8 JK f= 6,55 x10"*" ergs = 6,55 x 10 Js 10. A RADIAGAO OF CORPO NEURO FO RETORNO A Co! aah GO CONPUNCLLAR UA LUZ 325 carga clementar de eletricidade, 0 médulo da carga. do elétron (¢), como = 6,175 x 10% e = 4,69 x 10° ues onde R= 8,31 x 10-7 erg.mol“Lb constante de Paraday. 6 a constante universal dos gases, ¢ P= 9,65 x10" C6 a 10.2.6 Einstein e a lei de Planck Admitindo-se que os osciladores unislimensionais de Planck comportam-se como sistemas clissions, eajos termos de energia, sia quadraticos, ¢ que, portanto, obedecem ao tcorema da catiiparticdo de energia, a energia média (¢) seré dada por [o=er (10.45) A cnergia média de um oseflatior de um sistema em equilibrio térmico & temperatula T pode ser obtida também, como mastrado por Einstein em seu artigo de 1907 sobre o calor espeeifico das silidos, a partir da funcdo de partig&o onde @ = 1/kT, © a cnergia € pode assumir qualquer valor no intervalo (0,00), on seja, pode variar continuamente. Assim, a energia média de um oseilador é dada por (10.48) Por ontzo lado, admitindo a hipétese de quantizagio de Planck, segundo a qual, na interagio com uma onda eletromaguética monocromética, a energia de um Atomo na absorgdo ou emisstio da radiagio $6 poderia ser praporcional a miiltiplos inteiros da Treqii@neia da onda, ou seja, supondo que os valores das onergias de cada oscilador harmdnico s6 pudessem ser miltiplos inteiros de um certo valor minimo é9 = hy, nkv onde h = 6,626 x 104 J.s, era wma nova constante universal, Einstein pide calcular a. fungio de particgo com as energins diseretizadas, por a Semaiye L oo 326 Fisica Modema Caruso © Oguri uiseve ou seja, a “oes yet gg mn (be eo be } Levando-se em conta a expansio om série de Taylor, l¢etegabe 1 pode-se escrever a cnergia média como on aindal® (10.47) Assim, quando a expressio anterior, equagio (10.47), 6 substituida na formula que rclaciona a densidade de energia com a cnergia média, equagio (10.34), ubtém-se a lei de radiagio de Plaack, representada para algumas temperaturas na Figura 10.8 (20.48) (10.49) Note © papel central da equagdo (10.34) nessa dedugio. A propdsito, Poincaré faz # seguinte ‘observagio que destaca wma vertente importante de criatividade cientifica: Esta hipstese [de Planck] dd bem conta dos fatos conhevidos desde que se admita que a relacéo entre a energia do oscilador + sua radiagdo seja « mesma que nes tearias antigas fa Bletrodindmica de Maswelll. E of esté bem a primeira dificuldade: por que conserud-ta depois de ter destruido tudo? Mas é preciso conservar alguma coisa, senéo néo serd posstvel consiruir, 8 Ease procedimento equivale a considerar 2 deusidade de estados que aparece na equagiin (10.1) sme wl) = sie es} 10. A RAMAGKO DB CORPO NEGRO HO RETORNO A CONCEPGAG CORPUSCULAR DA LZ B27 s 0,06 0,04 0,02 0 aes 0 a2 v (10"* Hz) Figura 10.8: Isotermas das distribuigbes espectrais de energia Como exemnplo de aplicacdo da Srmuta de Planck, uma voz que a temperatura da superficie do Sol é da ordem de 5800 K, as curvas da Figura 108 mostram que grande parte da energia da radiagio solar encontra-se na parte visive] do espectro (Yue &5 x 10" Ha). Por outro lado, como a temperatura do filamento de tungsténio de uma Vimpada nfo pode ser maior do que a do seu ponto de fusio (3683 K) compreende-se por que sua eficiéncia é baixa. Os dois limites assintoticos da lei de Planck implica: o cel (baixas freqiiénc: (altas freqiiéncias) MRT yy 1 Sah oS uw WT (férmmla de Wien) Assim, a fGrrula de Planck para a densidade espectral de energia sintetiza Lodas as leis © formulas previamente estabclecidas para a radiagéo do corpo negro (Figura 10.9) Cabe destacar novamente que, ao deduzir a fSrmula da radiagio de compo negro, Planck introduziu duas constantes universais, a constante de Planck (k) ea constante de Boltymann (Ie), que podem ser determinadas a partir das leis de deslocamento (Ay/T’ = 6) e de Stefan (I = oT), ¢ apresentou também estimativas para 0 niimero de Avogadro c para a carga elementar, através das relagies Na = R/ke ¢ = F/Na, onde R~ 83 J/K ¢ F ~ 96 500 C/mol. O pequeno valor encontrado por Planck para a carga elementar, de 4,69 x 10-1? ues, foi motivo de diivida até os cxperimentos de Rutherford e Geiger, em 1908, com particulas @, que estimaram a carga como. 9,3 107! ues, Tanto a carga do elétron quanto a constante de Planck'® foram determinadas de maneira nfo ambigna gor Millikan, rospeetivamente, em 1909 e 1914 (Capitulo 8) # Obtida a partir da equagao de Binstein para o efeito fotoelétrico. 328) Fisica Moderna Caruso © Opust FLSFVIER Planck T=1500 K Figura 10.9: Comparacao ca lel ce Planck com as oredicSes das formulas de Rayleigh ¢ Wien, A dedugio da lei de Planck a partir da abowlagem de Einstein, em seu trabalho sobre o calor especifico dos sdlidos, teve o grande mérity de, atisticos e dindmicos do problema. Os métodos da Fisica Estatistica podem ser utilizados cm qualquer contexto. Os resultados diferentes, obtides por Rayleigh e Planck, como mostrado por Einstein, nao decorreram da utilizacao de dilerentes mé:odos estatisticos, mas sim de diferentes hipdteses acerca de como se calcular o espectro de encrgia do oscilalor harménico, Utilizande-se © espectro continuo de enersia, resultante da Mecanica C¥issiea, obtém-se a formula de Rayleigh. Por outro lado, adotando-se a hipdtese de quantizagio da energia, resulta a formula de Planck. parar, pela primeira vez, os aspectos Nesse sentido, @ conclusio quase evidente é que as leis da Mecanica Clissica deveriam ser moditicadas para desereverem fendmenos que envolvem a dinamica de particulas azdmicas. Entretanto, o desenvolvimento da Fisica no ecorren dese modo. Somente ao final do primeiro qnarto do século XX é que e: gua Mecdnica Quantica. a hipotese foi propriamente cousiderada, ¢ dela emes Uma des demonstragées mais improssionantes do espectro de radiagio de corpo negro ¢ da formula de Planck decorre da chauada radiegao ¢ésmica de fundo, deseoberta em 1965 por Amold Allan Penzias e Robert Woodrow Wikon. Essa é uma radiagao isotrépica, na faixa de microondas, que permeia todo 0 espago, ¢ que, acredita-se, se originow no inicio da formagdo de nosso Universo, como Big Bang, ocorride ha cerca de 15 bilhées de anos, envolvendo a radiag’ ¢ algumas particulas clementax Nesso cenario, apis se alingir um equilibrio térmico inicial, a expans&o do Universo causou © resfriamento da vadiacio abaixo de 3000 K, ¢ as particalas, entao, se combinaram para constituirem os primeiros étomos. A partir dat, supde-se que howve ponca interagio entre a radiagio © matéria e, enqnanto 2 matéria so condensou ew gals continiou a se resfriar. Essa é hoje a radiagSo de fundo que, apés bilho cemperatura de 2,73 K. aa © ostrelas, a radiagiio s de anos, atingiu a, A distribuigio de Planck pode scr ajustada 4 distribuigio cspectral da raliagdo eésinica de funde correspondente & Lemperatura de 2.73 K, com os dados obtidos do satélite COBE (Cosmic 10,_A RADIAGRO DE CORPO NEGRO HO KETORNG A CONCRPGAO CORPUSCULAR Da Luz 329) Background Bxplorer), em 1989. Outra possibilidade interessante 6 utili A. dinensionalidade do espago. -la para por wnt limite A densidade de modes de Rayleigh g(v), equagio (10.36), pode ser generalizada para um cespago ad dimensdes UWd-1aVPV ny ale raja a” © caso, a equagio (10.48) toma-se 1ymtl? pyya “Tae (G) a Essa formula mostra como # férmula de Plane depende da dimensionalidade d do espaco. Bla oferees uma possibilidade tinica de xe impor limites sobre d, fora de um laboratério, em larga cscala, aplicando-a ao espectro da radingio de fundo. Em 1986, os italianos Anna Grassi, Giorgio Sironi ¢ Giuliano Strini obtiveram, essim, um limite superior para a dimensionalidade (10.50) Ja—3| < 0,02 Recentemente, os autores fizeram um ajuste dos dados do COBE utilizandy a equagéo (10.50). resultado ¢ mostrado na figura 10.10 ¢ corresponde ao valor (8) = — (00.957 £0,008) x 107”, ea “Ts F a0 x 9,70 5 ouren, T 272 # 2858 « 10 979% 1" 26377 «10° 2 cnr! 1012 14 i6 18 20 Figura 10.10; Comparagio da lei de Planck com a distribulcso espectral da radiacde csmica de fundo corresponiente a temperatura de 2,726 K ste remultado, na verdade, nao leva em conta. coretaments todos os d— 1 modos tranisversais de vibracdo. 30. Fisica Moderna, Canuso © Oguri FISEVIER 10.8 Einstein e a quantizagao da lus [Binstein] pode bera ter sido 2 primeiro fa percebor gue 0 advento da teoria guinticn representava wma crise na Abraham Pais Para Planck, ahipstese de que a energia de um oscilador em equilfbrio térmico com a radiagio 36 pudesse ser trocada em quantidades discretas, uniltiplas de um guantum de energia, cra um eleito que sd se manifestaria na interagio de ondas cletromagnéticas, confinadas em uma regio, com a matéria, Quem realmente defendcu a hipétese da quantizagao da energia de wm oscilador, independentemente de stta interagao com a radiagio, durante a primeira déeada do século XX, fol Einstein, em 1907, a0 explivar a comportamento dos calores espectioas dos sélidos. O fato de que 0 quantum de energia fosse determinado pela freqiiéneia da radiagio emitida ov absorvida poderia, j& em 1900, ser atribuido 4 propria natureza da radiagéo, ¢ levado & conchasio. de que a luz monocrowstica, de freqiténcia y, seria constituida de corpiisculos de cnergia iguel Ay, ou seja, uma volta 4 visio corpuscular da luz, considerada como um feixe de particulas. Essa foi a hipétese formulada por Einsiein om seu trabalho de 1905 sobre a natureza da luz. A partir da lei de Wien, limite da formula de Planck para altas freqiiéncias, © da. dofinigho estatis de Boltzmann para. a entropia, Einstein mostrou que a entropia de qualquer componente mo- nocromatica da radiacéo do corpo negro, ou sgja, que a entropia de uma onda eletromagnética de freqiiéncia v, em equilibrio térmico, 6 igual & de um gés ‘deal caja. energia de suas particulas soja igual ac quandum de enexgia de Planck, Juv, estabelecendo, pela primeira vec, 2 chamada quantizagao da tadiacdo do campo eletromagnético. Admitindo que a pripria radiagio fosse comstituida por quanta de cnergia hy, os fotons, ou soja, atribuindo &luz uma nature discreta, Einstein explica algamas propriedades peculiares des mciais, quando estes sio irradiados com hyz visivel e ultraviolcta, como a regra de Stokes 24 € 0 clelio fotvelétnico. Accira, apés mostrar que @ entropia de wm gis nio-Gegenerado com NV particules contido em um volume V, em eqniltbrio térmico, pode ser expressa por (Segiio 10.1.1) s ela V +constante Einstein deduz que, para uma variagdo de volume (V—Vi) com energia J constante, a variagio de entropia ¢ dada por %e (AS), = Neng (1.51) Definindo a densidade espectral de entropia por $ v | sydv que define a temperature de um sisiema om equilbrio té-mico pode ser expressa por 1_ (a8) _ dsy ta) > te 2" A freqjiéncia da liz emitida ¢ menor on igual & da luz incidente, 10._A RADIAGAO DE CORPO NEGRO EO RETORNO A concaegte CORPUSCULAR DA LUZ 331 Sabendo-se que, no limite de altas freqiiéncias (v 3 1) ¢ baixa densidade de energia, a densi- dade espectral de energia da radiagaio de corpo negro é dada pela lei de Wien, chest obtém-se resulta em que, apés a integragio © modo, a entropia ¢ a energia da radiagan elotromagnética em um volume V, em um pequeno intervalo de fregiiéncia (47 + Av), esto relacionadas por + constante = In V + constante(U!,v,Av) ou ) kU he 1) 4% 5° mee (10.52) Comparando as equagdes (20.51) ¢ (10.52), Einstein conelain que a componente de freqiiénci v da radiagéo cletromagnética de um corpo negro comporta-se como um gas ideal com N particulas, cada uma. com energia hy (U = Nhv). Admitindo-se a hipstese de quantizagio da luz de Einstein, pode-se explicar, qualitativamente, 0s especiros diserctos cle emissao ¢ de absorgio das gases. Considerando que 0 fenduneno restate, de vérios processus discretos, envolvendo @ troca de energia entre um Atomo ¢ um foton, a energia do atomo apds a emissio (€') deve ser menor do que aquela (¢) antes, de tal modo que a diferenca (¢— ¢'} seja igual & energia (€,) do fdton emitido, Uma vex que a cnergia de um {ton 6 proporcional & freqtiéucin da radiagio cmitida, isso implica que Je-elay O espectro de linhes de umn gis, determinado pelas freqiiéncias caracteristicas de enda substancia, implica, por sua vez, que as energias dos tomes dessas substincias constituem também um, conjunte discreto de valores, ou seja, pode-se conchuir da espectroscopia que os sétomos dos gases possuem um espectro disereto de energia. Nesse sentide, coube a Bohr, cm 1913, a partir de um modelo dindmico para 0 movimento do elétron em um tomo de hidrogento, deduzir as freqtiéncias caracteristicas do dtomo de hidrogénio, ou os niveis de energia associados ao seu espectro (Capitulo 12). Fisica Moderna Caruso ¢ Oguri IER ¢, assim, conseguiu explicar por que apenas certas linhias aparevem no dando uma cocréncia tedrica a formula de Balmer. © problema da radiagao de corpo negro foi ebordado por Einstein em mais duas ocasides Em 1916, introduzindo © conceito de emisso espontinea (Capitulo 13), ¢ em 1924, bascando- se nos trabalhos do fisico indiano Satyandranath Bose, quando apresentou as bases para uma abordagem estatistica de gases constituidos de particulas indistinguiveis que pudessem compartilhar os mesmos estados quanticos. A partir de entdo, partieulas siio conhecidas como bésons, que tém sempre spin inteiro. 10.3.1 O efeito fotoelétrico O fenémeno do efeito fowoelétrico consiste ua liberagao de elétrons pela superficie de wn metal, apés a absorgio da energia proveniente da radiago eletromagnética incidente sobre cle, de tal modo que a energia total da radiagao é parcialmente transformada em energia cinética dos elétrons expelidos. Esse fendmeno foi observado pela primeira vez, por Hertz, em 1887, ¢ exiensivamente estudado por Lenard, em 1902, ¢ por Millikan, de 1906 a 1916. A constatagdo de que as particulas cmitidas cram elétrons se deu em 1899, quando ‘homson, a0 cxpor a radiaco ultravioleta uma superficie metélica no interior de um tubo de Crookes, estabelecen que essas partfeulas cram de mesma natureza daquelas que constituiam os raios catélico Nos experimentos realizados, um fotocatedo ¢iluminado por um feixe de luz monocromatica, liberando elétrons, ¢ a corrente J resultante é, em seguida, anulada ajustando-se um potencial vetardador aié um valor de corte V. uz incigonte Figura 10.11: Esquema de um circuito para observacso do ofeite fotoslétrics 's principais resultados das observagdes de Laard podem ser resumides como: a corréncia da emissio de elétrons néo depende da intensidade da Inz ineidente: havendo a emissdo, a corrente ¢ propercional a intensidade da luz, quando a freqiiéncia € © potencial retardador so mantidos constantes; a ocorrincia da emissiio depende da freqiiéncia da luz; para cada metal hi um limiar de freqiiéncia, abaixo do qual nao hé a emisso; para uma determinada freqiiéncia, 0 potencial de corte independe da intensidade da lw: a cnergia cinética dos elétrons ¢ o potencial de corte crescem com a ireqiiéncia da Inz. 10._A RaDIAGIO DE CORPO Nex RO BO RETORNO \ CONCEPEAO CORPUSCULAR DA Lit B33 Os resultados de Lenard foram explicades por Binstein, em 1905, admitindo que a luz de freqiiéncia v, em sua interagio com a matéria, fosse constitufda por quanta de luz de energia «= hy, De acordo com Einstein, ao penetrar na superficie do metal, cada foton interage com um, elésron, transmitindo-the toda a sua energia. Entretanto, para um eléizon abandonar a superficie do metal, ¢ necessitio que ele adquira uma certa quantidade de energia 6, denominada fenedo tratatho, Admitindo qne é pouco provavel a absoreao de dois ou mais fétons por um clétron, os cléixons s6 conseguem abandonar o metal se hy > d. Portanto, aqueles que escapam emergem com enengia einction mixime ¢¢, dada por fea hye A cquagio anterior 6 compativel com o fato de que, ao se aumentar a intensidade da luz, aumentando-se o mimero de fétons incidentes, aumenta-se também o mimero de elétrons emitidos €, portanto, a corrente, mas nao @ norgia celica maxima que cada clétvon pode adquizir. Dosse modo, © potencial de corte V, necessario para deter o fluxo de elétrons, 6 determinado pela condigéa de que a energia potencial eV deva ser igual d energia cinética maxima dos elétrons ejetados, ou seja, (10.53) Apés a determinacao da carga do elétron, Millikan, apesar de no acroditar na idéia de fSton de luz, estabelecen, de forma definitiva, a expressio linear proposta por Einstein ¢ a utilizow para determinar de mencira precisa e acurada uma outra constante universal: a constante de Planck. Depois de uma sucessiio de medidas, em 1914, 0 valor experimental estabelecido por Millikan foi h=657 x10 Ls com erro relativo menor do que 0,5%. Nesse mesmo ano, Millikan afirma que apesar entito do aparente compleio sucesso da equacdo de Einstein [equagfo (10.53)], a teoria fiSiea da qual ela foi concebida para ser a expressio simbélien 6 considerada lao insustentével que 0 proprio Einstein, eu creio, néo mais a sustente. Mas de que owtra forma a equagdo pode ser obtida O argumento utilizado para se obter a equagéo de Einstein baseou-se na suiposigio de que enorgia 6 distribuida apenas entre 0 détron e 0 féton. Entrctanto, para, haver um balanco do momentum, é necessdrio um tereciro corpo.** Esse terceiro corpo é a rede cristalina do metal que absorve uma parte do momentum. Uma vez que a rede é muito mais pesada que vu clstron, pode-se snpor também que ela recna com energia desprezivel, Assim, uma earacteristica do efeito fotoelétrica é que ele & umn process que cvidencia a transferéncia praticamente total da energia de um &ton a um clétron ligado de um stomo de wna rede cristalina, Um outro tipo de mecanismo, que prevalece para fétons de energias mais altas, on seja, radiagées eletromagnéticas de freqiiéncias maiores que a da luz, como os raios X, ocorre quando apenas uma parte da cnergia é transferida para o elétron. Nesse caso, o proceso — denon inado Em 1905, Binstein consider o foion apenas um quantum energética de luz, ¢ nie uma particula real com momentum, A associagdo de um momentum 20 féton sé é realizaca por Hinstein em seu artigo de 1909 e confirmada, bon mais tarde, pelo eleite Compton (Seco 10.3.3) 334 Caruso « Oguri ELSEVIER, efeito Compton resulta da colisao de fétons com elétrons praticamente livres na materia. Sua contpreensio se constituiu em um argumento definitivo em favor da idéia de quantizagao da radiagdo (Segéiv 10.8.3), ou soja, da existéncia de {6tons, Apesar de a explicagao do efeito foloclétrice ter suscitado grandes polémicas tedricas, 0 fendmeno foi rapidamente utilizado pela indistria eletronica para o desenvolvimento de uma série de componentes sensiveis & lus, chamados elementos fotossensiveis, que se basciam ema dots processos distintos: (i) emissio fotoelétrica; (ii) quebra de ligagdes covalentes em semicon dutores®® devido & ago dos fotons. Buire os componentes cletronices da categoria (i) estéo as vélvulas fotomultiplicadoras, valvulas captadoras de imagem ¢ eélulas fotoelétricas. Uma célula lotoelétrica a vécuo é uma vilvula constitulda de um, catodo fotossensivel (fovocatodo), de grande area, colocado no interior de um balbe selado ¢ de um anodo coletor de elétrons sob a forma de um fio ou ancl colocade & frente do fotocatodo (Figura 10.12). Fotocatodo Anodo — | Figura 10,12: Esquema de uma eéluls fotoeletrics a vacuo, O intnito de se fazer 0 anodo pequeno é 0 de obstruir o menos possivel a passagem dos raios Iuminosos para 0 catgdo. Para s¢ escolher @ material que vai compor o fotocatodo, & preciso obtenha a conhecer quais elementos quimicos possuem menor fungao trabalho, para que s maior eliciéncia do dispositive. Os metais alcalinos, em virtude da. baixa fungao trabalho, s cos melhores emissores Fotoelétrieos expostos & luz visivel, senda o ¢ésio (Cs) o de menor fungio trabalho , por isso, muito usade nas valvulas fotoemiscivas, Pose-ve verifier qe, para esse tipo de vélvula, a partir de uma certa tensfio anddica, em torno de 25 volts para a maioria das células a vacuo, a corrente independe da tensie wo anodo, dopendendo, apenas, do fluxo luminoso incidente sobre o fotocatodo, Em algumas vélvulas introduz-se gés com a finalidade de aumentar a corvente de saida (resultante da ionivagio) para um dato fluxo lumineso, Desse modo, pode: andar a corrente em um cireuito pela Iu ineidente, para o controle antomitico de entrada e safda, para parar quase instantaneamente ura pronsa, ou mesmo reconsiruir os sons registrados em peliculas cinematogréficas. 6 cor A aplicagio mais utilizada na Fisica é a vélvula fotomultiplicadora, que 6 coustituida de wise, fotocélala e de um conjunto de anodos anxiliares (dinodos) que tém a fungéo de multiplicar © nitmero de elésrons fotoemitidos, que, para tal, so feitos de substdncias de baixa fungio trabalho, respomsiveis por uma cmisséo secundaria de elétrons em mtimero bem maior que 0 incidente. Com relugio aos componentes da categoria (ii), a quebra de ligagdes covalentes em Sao elementos qaimicos de estrutura cristalina com propriedades elétricas intermadidrias entre os diclétricos 0s metais. aL _10._A napiicio pp Conro NEGRO #0 RETORNO A coRCERGLO CORPUSCHLAR DA LUZ___ 338 semicondutores deyide A agao dos fétons, chamado efeiLo fotoelétrico interno, é muito utilizada nas resistencias fotoclétricas, denominadas LDR, ou em dispositivos que transformam a energia Iuminosa em elétrica, como os fotdmetros, que permitem avaliur a intensidade da iiuminacao a partir da corrente elétriea. No inesmo processo se baseia o furicionamento das pilhas solares utilizadas om foguetes ospaciais ou em qualquer calculacora clesronica portstil 10.3.2 Os calores especificos dos sélidos A diferenga marcante entre os sélidos cristalinos ¢ os atuprfos a existoncia, nos primeiros, de correlagées de longo alcance, como conseqiiéncia da orden, da periodicidade e das simetrias no arranjo de seus constituintes. Ura sélido cristalino 6 eonstituido da repetigéo de uma umidade basica de padrao goométrico reyular, denominada, célula unitéria, na qual scus Stomos ou moléculas se distribuem. Desse modo, 08 étomos ou moléculas se comportam como osciladores que se encontram em posigoes i fiscas, on seja, como clementos localizados em. uma rede relativas, cujas distncias médi cristalina. O calor especifico dos sélidos varie grandemente de uma substéncia para outra, No entanto, em 1819, os franceses Pierre Dulong ¢ Alexis Petit descobriram que 0 calor especifico molar dos s6lidos cristalinos linha um valor constante aproximado de 6 cal.mol~'.’C~1, 9 que ficou couhecido come lei de Dulong-Petit, originalmente counciads assim: dtomos de Lados os corpos simples tém evatamente @ mesma expacidade para o calor. Apesar de historicamente ter sido muito Importante para a sevisiio de diversos valores de pesos atémicas (Tabela 10.6), a primeira explicagao para a lei de Dulong-Petit s6 foi obtida por Boltzmann, em 1876, cerea de meio século apés ser estabelecida, Jeome 10] | Calor especifico Peso atomico w ia calktgt |] Pezelius| Estizedo] Vator atual [on 42904 6482 63.55 au ara 19471 19697 | = can ae PD 00308 41558 19348 20720 [ED] ee eee | Ae noses | 2011 10545 107.87 = 1) ones | sae) e228) Ya2ca | zm | 2.08 12903 6420 65,39 ‘Tabela 19.6: Estimativas de diversos pesos alwmicas a partir de medidas de calores espectficas Unia vor que a rerio entre o calor molar (Clyuya,) € 0 calor especitice (¢) de um clemento é igual & razdo entre a massa (in) de um elemento ¢ o mimero de moles (n), ou seja, ao peso atomice (pt), Cruse fe = min 336 Fisica Modema Caruso © Oguri HLSEVIER, este pode ser detcrminado @ partir de medidas térmicas. Dulong e Petit abrem, assim, uma possibilidade de se medir por meios fisicos uma grandeza normalmente determinada pela Quimica: desta forma, foram corrigidos varios valores ile pesos atémicos de certos elementos. Considcrando que um cristal com NV atomos pudesse ser representado por um conjunio de 3N’ oscilaclores idénticos, independentes ¢ que obedecessem &s leis de Newton da Mecénica Clissica, Boltzmann aplica principio da eqitiparti¢io de cnergia a esses 3N oscikadares, que equivalem a§N termos quadrdticos independentes na expressao da energia, c obtém para a cnergia wédia. (energia interna) (U7) do cristal, em equilfbrio térmico A temperatura T, a expresso. US SNAT = 3nur Desse modo, o calor especifico molar a volume constante seria dao por au s (# ) = 3R~ 6ealmol°c7! n or ‘© que concorda com 0 comportamento em temperattiras ambientes, normalmente roferide como Id de Dulong-Petit. A hipdtese de que o valor do calor especifico de um sélido seria, uma constante inde- pendente da temperatura comeca a ser qnestionada quando, cm fins do século XIX, mais precisamente em 1898, 0 quimico e fisica escocés Sir James Dewar liquefcz 0 hidrogénio. As baisas ‘temperaturas aleangadas, utihizando-se de misturas refrigerantes, evidenciaram una dependéncia com a temperatura do tipo Tina ¢, > 0 ratk ou seja, cm baixas Lemperaturas, 0 calor especifico de um sélido eristalino diminni com a tem- peratura, Essa discrepincia levou Einstein a estonder a hipétese de quantizagtio da energia de Planck a qualquer oscilador, em qualquer circunstancia, nao apenas em interagiv com a radiagiio, de tal modo que a energia média de um oscilador unidimensional de freqjiéncia v,, seria dada por em 7. do resultado clissico {e) Desse modo, para um total de 3 interna seria dada por Uma vex que Nk escrever Assim, 0 calor espectiice molar a volume constante seria entéo dado por = a(n), 3 (ar), (Gs), = T, 2 = = Ran ag (oe =) ~ (10.54) 10. A Rapiagy DE CORPO NEGRO GO RETORNO A CONCEPCIO GoRTUSCHLAR OAL 337 de seu tinico parametco, a temperatura T,,, cortesponderite & freqiiéneia de oseilagao de cada tomo da rede, a forntula de Binstein reproduziu o limite classico de altas temperaturas ©, de inicio, aparentemente se ajustava As observagies de Heinrich Friedrich Weber, feltay em 1875, em experimentas com o diamante a baixas temperaturas, A teoria do calor especifico dos sdlidos de Einstein, ao descrever 0 fato de que este dimined com a temperatura, desempenhou um papel importante no estabelecituento da chamada 3 lei da Termodinamica, pelo qnimico alemio Walther Hermann Nerast Alu da quantizagio da cnergia, a hipdtese bésica de Binstein foi a de que os atomos do cristal osellariam com wa mesma freqiiéncia, ow seja, que os osciladores seviam idnticos © independentes. Do ponto de vista cléssico, ao se aplicar o teorana da cgtipartigio de energia, néio importa se os osciladores sejam idénticos ov nég; sé iinporta que sejam independentes, pois, qaisyuer que sejam as froqiiéncias, a dependéncia quadrética da cnorgia de cada tomo, nas varidveis cinemiticas, é o que determina a cnergia média do cristal. Entrotanto, esses oscilalores, apesar de idéuticos, sio acoplados, de modo que suas freqiiancias de oscilagées so de fato distintas, pois sho as freqiiéacias préprias de vibragdes do cristal! No fundo, 6 por ese motivo que 0 resnltade de Einstein nao reproduziu comretamente © compor- tamento de c, quando T — 0. De fato, sua predigio, equagio (10.54), neste limite, reduz-se TA? ark (4) (#) Identificando os modos de baixas freqpiéncias com a propagacio do som em um meio continuo (clistico ¢ isotrépico) e admitindo ainda que as freqiiéncias de oscilagdo dos stomos no interior do sdlido devem ter um valor maxi v,,, 0 holandés Peter Debye, em 1912, obtém uma expresso para o calor especifico dos sélidos. Para isso, pode-se partir da densidade de modos de vibragéo de Rayleigh, cquagéio (10.36). lembrando apenas de stidstituir a velocidade de propagagéo da luz pela do som. Como em um cristel podem haver vibragdes longitudinais, além das transversais, baverd zu aovo termo corrospondendo as primeiras. Denotando essas wlocidades, respectivamente, por vy € v1, a nova densidade de miodos se escreve 7{2,1 uy — dn [ ;| Pe) LM sultady de Planck, [uw na[s 7 A fregii@ncia maxima v,, 6 fixada roquerendo-se que 0 niimero total de modos normais de vibragio soja ignal ao mimero total, 3N, de graus de liberdade do existal / 2 ay Jo Rregiiéncias dos chamados medos proprios ou normais de vibragn do cristal ow ainda, usando 03 BN Fisica Moderua Caruso © Oguri ELSEVIER donde Logo, posie-se eserever Z r Para explicitar a dependéncia dessa quantidade com 1, 6 conveniente delinir hey ¢ fazer # mudanca de varidvel obtendo-se, assira, e, finalmente, a capacidade térmica = (2) ony a |, ar), TS & | O calor especifios é dbtide pela relagia ¢, C,/M, onde M é a massa do cristal. No limite 7, /T << 1, reobtém-se o valor clissico C, = 3NkV, eproximando-se a exponencial do integrando por 1-42 (10.58) © comportamento de C,, a baixas temperaturas pode ser ealeulado da equagio (10.55) subs tituindo-se © limite superior da integral por ox, obtendo-se yur G onde Ty = hvp/k, ¢ « chamada temperatura de Debye. y @ 0) A comparagio entre as predigéos de Einstcin ¢ de Debye para baixas temperaturas pode ser vista na Figura 10.13. ‘A teoria de Debye permitiu encontrar uma iérmula de interpolagae que desereve de maneira isfaLdria 0 comportamento do calor especificy de uma caosune variedade de sélidos cristalinos Entretanto, a coucordancia nio se verilica para vérios cristais, mesmo quando aplicada ao tinico cristal ctibico (tungsténio) para o qual a hipdtese badsica de sélido isotrépico é satisfeita. Nas palavras do fisico inglés Moses Blackman, devido ao seu enomne @ito inicial na comparagio coma diversos dados experimentais, a teoria de Debye tornou-se um exemplo daquilo que se pode chamar “canonizagdo a priori” de wma teoria,

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