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O Exorcista Explica o Mal e Suas Armadilhas (PDFDrive)
O Exorcista Explica o Mal e Suas Armadilhas (PDFDrive)
© 2016 da tradução by Armando Braio Direitos de edição da obra em língua portuguesa no Brasil adquiridos pela
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A547e
Amorth, Gabriele
O exorcista explica o mal e suas armadilhas / Gabriele Amorth ; tradução Armando
Braio ; colaboração Stefano Stimamiglio . _ 3 ed. – Rio de Janeiro: Petra, 2016.
16-36506
CDD: 282.09
CDU: 282
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1
A vitória de Cristo sobre o pecado e a morte
CAPÍTULO 2
Satanás e os anjos caídos
CAPÍTULO 3
O culto a Satanás e suas manifestações
CAPÍTULO 4
A ação extraordinária de Satanás: possessão, vexação, obsessão e infestação
CAPÍTULO 5
Corpo a corpo com Satanás: o exorcismo
CAPÍTULO 6
Os outros meios de luta contra os demônios
CAPÍTULO 7
Princípios de escatologia cristã: morte, juízo, Paraíso, Purgatório, Inferno
INTRODUÇÃO
“No ocaso da vida, seremos julgados pelo amor.” Com esta fulgurante expressão, São
João da Cruz, grande místico carmelita do século XVI, quis exprimir teologicamente a
mesma realidade misteriosa que Jesus, pouco antes de oferecer a sua vida pela redenção
dos homens, expôs aos seus discípulos. Ao fazê-lo, traçou um extraordinário e
apocalíptico quadro do último juízo de Deus no que diz respeito à história e à existência
individuais, tal como está “retratado”, de forma grandiosa, pelo apóstolo Mateus, no
capítulo 25 de seu Evangelho: “Em verdade, eu vos declaro: todas as vezes que fizestes
isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes” (v. 40).
É o amor, portanto, o fundamento da sentença que se pronunciará sobre a nossa vida.
Mais ainda, quando comparecermos perante Deus, será o que a nós caberá exprimir,
diante da verdade nua e crua de nossa realidade. Eis o cerne da vida cristã: caridade,
misericórdia, acolhimento. No declínio de nossa vida, só permanecerá o acréscimo de
amor que tivermos sabido imprimir a cada coisa que fizemos.
Há também o reverso da medalha: além de sermos julgados quanto ao amor, seremos
julgados pelo Amor, isto é, por Deus. Ao anunciar o Jubileu Extraordinário da
Misericórdia, o Papa Francisco procurou exprimir à Igreja inteira, e mais propriamente a
todo o mundo, esta assombrosa verdade, jamais enunciada por inteiro: o julgamento que
nos aguarda é um julgamento de misericórdia. “A misericórdia será sempre maior do que
qualquer pecado, e ninguém pode colocar um limite ao amor de Deus que perdoa.”1 A
todos os homens é comunicada a esperança, segundo a qual não existe pecado nem
condição de vida tão deplorável ou falha humana tão irremediável que não possam ser
encobertos plenamente pelo amor de Deus. Há uma condição exclusiva para isso: que se
manifeste o arrependimento no pecador e o desejo de perdão.
Por ocasião do feliz evento do Ano Jubilar, também desejo fazer minha essa
mensagem repassada de confiante espera, propondo-a novamente, sob a ótica dos que
(como eu) exercem na Igreja o ministério de exorcista, isto é, da batalha face a face com o
Diabo, para erradicar a ação extraordinária deste na vida dos homens. O inimigo da raça
humana, que se rebelou contra Deus e almeja levar todo ser criado à perdição e à
destruição, deseja com volúpia extrema que todos percam a esperança de amar e de
regozijar-se — agora e em cada momento da nossa vida, inclusive no instante final —
com a misericórdia do Deus-Amor, que se encarnou em Cristo Jesus e que, mediante sua
morte e ressurreição, readmitiu-nos no caminho da salvação, mesmo após o pecado
original haver provocado a total ruptura de nossa comunhão com o Criador. Por meio da
ação ordinária de Satanás, que é a tentação, e por meio da ação extraordinária, que
constitui o objeto especifico deste livro, o Diabo tenta destruir a confiança, depositada
em cada homem e mulher, de amar e ser amado.
Este texto, que redigi com a colaboração do Pe. Stefano Stimamiglio, subchefe de
redação do semanário Credere e meu confrade na Pia Sociedade de São Paulo, onde hoje
exerce a função de secretário-geral, teve origem no desejo de preencher o vazio dos
corações com a esperança que encontra fundamento na rocha da Palavra de Deus, que
nem as piores tempestades ou o transbordamento dos rios, nem o violento furor dos
ventos (cada qual imagine a figura que lhe aprouver, por mais terrível e dramática que
seja) conseguem derrubar (cf. Mateus 7,25). Isso põe em relevo um assunto muito tratado
nos últimos anos — já era mais do que tempo, diga-se de passagem! — pelos jornalistas:
possessão, vexação, obsessão e infestação diabólica.
O material colhido por ocasião de nossos encontros — como fruto de várias
entrevistas que propiciaram que inaugurássemos a sessão Diálogos sobre a outra vida, da
Credere, que se manteve de abril de 2013 até agosto de 2014, ano em que encerrou as
atividades — é inequivocamente mais amplo e guarnece esse tema com outros aspectos
de nossa doutrina, o que permite situá-lo numa perspectiva bem ajustada. De fato, o
encadeamento lógico desse material, na sucessão de números do supracitado semanário
da revista, foi realizado com o objetivo de apresentar, numa linguagem simples, mas sem
simplismos, as noções básicas sobre o obscuro conjunto de fenômenos ligados a Satanás.
Tudo para que o leitor pudesse dispor das coordenadas gerais sobre o tema, e conhecer
também os respectivos remédios espirituais, permitindo que esse estudo se insira na
perspectiva necessária do juízo final de Deus sobre os homens e sobre a história,
iluminada pela obra salvadora de Cristo. Nisso reside a sua originalidade, isto é, no
intento de proporcionar um compêndio essencial sobre a matéria, tornando-a acessível ao
grande público.
Tomando como ponto de partida os ensinamentos centrais a respeito da vitória de
Cristo sobre o pecado, pretendo discorrer a seguir sobre a doutrina católica com relação
aos anjos caídos, passando depois a analisar os fundamentos do satanismo, bem como as
inumeráveis manifestações de culto demoníaco. Também analiso as consequências
espirituais que podem proceder daí, assim como, em contraposição, os remédios
adequados contra o mal. Por fim, pretendo expor algumas noções básicas da escatologia
cristã. Trata-se de um percurso que, tendo início no sacrifício de Cristo, percorre as vias
tenebrosas da atuação de Satanás, retomando, em seguida, a solução salvadora —
motivos de grande esperança para todos, especialmente para os que sofrem as graves
consequências dos males de feitiçaria, pessoas que sinto serem meus amigos e
companheiros de trajetória.
Nota
3 Cf. Congregação para a Doutrina da Fé, Instrução sobre as orações para alcançar de Deus a cura, n° 1.
6 Cf. São Bernardo, Discurso sobre o Cântico dos Cânticos (Disc. 83, 4-6).
CAPÍTULO 2
SATANÁS E OS ANJOS CAÍDOS
A consagração a Satanás
Como uma pessoa se torna satanista? Por meio de um ritual de consagração a Satanás,
mediante o qual o indivíduo a ele se entrega de corpo e alma, solicitando ser acolhido em
suas fileiras e, concretamente, entrando em uma seita. Habitualmente esse pacto é escrito
com sangue, mais ou menos nos seguintes termos: “Satanás, de agora em diante a ti
pertenço, na vida e na morte e depois desta. Recebe-me como teu servidor. Ofereço-te
meu corpo e minha alma. Farei tudo o que desejares e mandares. Em troca, dá-me
prazeres, êxito, prazer sexual, riqueza.” Comumente, a consagração é realizada durante
um rito coletivo, muitas vezes durante uma missa negra, quando a pessoa é iniciada na
seita e nas práticas do satanismo.
O pacto de sangue pode ser feito individualmente. Não é diferente do que se faz em
relação aos votos religiosos: existem os votos públicos, votos oficiais formulados diante
do povo de Deus, que comumente se realizam durante uma celebração comunitária; e os
votos particulares ou privados, que cada qual pode fazer individualmente, e em segredo,
diante de Deus.
No tocante ao satanismo, em um ou outro caso, trata-se de uma verdadeira e própria
entrega da alma a Satanás o qual mantém a trágica promessa, embora jamais conceda a
felicidade prometida. Em troca desse pacto, recebem-se apenas inumeráveis sofrimentos.
Em uma palavra, a quem se consagra ao Diabo, o que este assegura ao infeliz é um
verdadeiro inferno nessa vida e um inferno eterno na outra. A minha experiência pessoal
dá conta de que tais pessoas jamais comunicam serenidade, e deixam por onde passam um
sulco de dor, solidão e morte.
A difusão do satanismo não se faz apenas de indivíduo a indivíduo. Entre os jovens
circulam muitos livros, opúsculos ou, ainda mais comumente, os sites da internet que
ensinam fórmulas de consagração ao príncipe das trevas. Trata-se de uma prática
perigosíssima — feita seriamente ou por brincadeira, sozinho ou em grupo —, porque
pode trazer consequências muito graves. Isso pode acontecer bem mais tarde, estando,
por exemplo, a pessoa casada e vivendo ao lado da esposa ou do marido e dos filhos, com
um bom trabalho, quando vê-se às voltas com uma pesada possessão diabólica a
enfrentar. Por isso, convém refletir sobre as consequências de tal escolha — em muitos
casos irreversível, ou, pelo menos, sendo muito difícil retomar o caminho de volta. Com
efeito, conheço várias pessoas que se desvencilharam, mas, à custa de um imenso esforço,
frequentemente sob a ameaça dos adeptos do satanismo, seja como for, com muitas
sequelas na mente e no corpo, carregando muitas vezes graves possessões diabólicas e
tendo de submeter-se, durante anos, a exorcismos para ficarem livres. Péssimo negócio,
em última análise.
Recentemente, vieram a lume diversos casos bombásticos de homicídio, em cujos
crimes claramente se denotava influência particular de Satanás, talvez até em
consequência de algum pacto contraído com o Maligno. Refiro-me, como exemplo, ao
caso dos três rapazes de Chiavenna que, em junho do ano 2000, assassinaram a Irmã
Maria Laura Mainetti. Baseando-me no que pude ler a respeito, não posso afirmar que
estivessem possuídos por demônios, mas que provavelmente teriam agido sob uma
possante inspiração satânica: o cinismo, a ferocidade, a ausência de freios inibitórios na
violação perpetrada contra a religiosa, tudo isso leva a inferir estarmos em presença de
uma mesma “marca de fábrica”. Imediatamente após o crime, dentre os assassinos, dois
dirigiram-se a uma casa de shows, enquanto o terceiro retomou o caminho de casa, para
limpar a lâmina da faca com a qual assassinaram a freira, recolocando-a depois no
faqueiro. Uma história inacreditável que comprova o risco no qual incorrem os jovens de
hoje.
Quantas são as seitas satânicas existentes hoje em dia na Itália? Relacionam-se
algumas centenas, geralmente constituídas por poucos membros. É difícil fazer um
mapeamento exato, pois agem sempre na sombra.
Concluirei com uma observação importante: para que alguém venha servir ao Diabo,
tornando-se seu seguidor, não é preciso, forçosamente, que tenha aderido ao satanismo.
Muitos há que, mesmo sem se consagrar oficialmente a Satanás, escolhem como norma
de vida os princípios fundamentais do satanismo. E, igualmente, em tais casos, essas
almas correm grande risco.
Os objetos pagãos
Cabe dizer uma palavra sobre os denominados objetos pagãos: artesanatos de culturas
pagãs, tais como máscaras ou outros objetos que facilmente se compram em qualquer
esquina. Podem “ocultar” algum influxo maligno? Trata-se de um tema que requer
atenção, mas para o qual não temos resposta a dar. Existe o risco, sim, desde que a pessoa
esteja ciente de que sobre determinado objeto possa ter sido praticado um ritual mágico,
com o objetivo de prejudicar a um futuro possuidor do mesmo. Numa primeira análise,
aconselho a não dramatizar as coisas, sobretudo se a pessoa que o presenteou com certo
objeto procurou fazê-lo com espírito sincero e reto. Contudo, um pouco de vigilância
não faz mal a ninguém.
A essa altura, desejo fazer uma complementação sobre o que foi dito acima a respeito
da magia. Recordando o que já comentei, tem origem antiquíssima, marcando presença
em todas as culturas. A magia consiste em valer-se de forças sobrenaturais, isto é,
demoníacas, para influir sobre os acontecimentos humanos, quer em detrimento, quer em
benefício de outro. Quem, pois, adere a essa prática — do feiticeiro ao “cliente” —
deposita sua confiança no Diabo; por isso é pecado grave. Há dois gêneros de magia: por
“imitação” ou por “contágio”.
A primeira baseia-se na semelhança da forma do objeto sobre o qual se executa o
ritual mágico. É o que ocorre, por exemplo, quando se enfia uma agulha num boneco
com o fim de prejudicar a pessoa ali representada. Neste caso, verifica-se uma espécie de
transferência do objeto para a pessoa.
A segunda — magia de espécie “contagiosa” ou “infectante” — é exercida por via
de contato. Neste caso, o ritual se realiza sobre parte do corpo da pessoa que desejamos
prejudicar — por exemplo, cabelo, unhas ou dentes —, ou então, fazendo-a ingerir
alimentos enfeitiçados. Também pode ser sobre objetos que pertencem ou pertenceram a
essa pessoa: peças do vestuário, roupas brancas, tais como meias, calças, camisetas ou
agasalhos; sobre a mobília da casa, objetos étnicos, por exemplo, como já mencionamos.
Tais objetos, uma vez enfeitiçados, transferem o respectivo potencial negativo para a
pessoa em questão.
Voltemos a tratar dos objetos propriamente ditos. Podem ocultar um efeito
prejudicial? A resposta: sim, “podem”, mas “não necessariamente”. É por conta e risco
de quem aceita comprá-los. Quanto a mim, é certo que não desejo ter esses pertences
comigo, no local onde vivo. Como é possível perceber quando esses objetos estão
enfeitiçados? Eis alguns sinais: súbita aversão às coisas sagradas, distúrbios localizados,
certas “presenças” enigmáticas, odores nauseabundos, barulhos não naturais, persistência
de sintomas físicos desfavoráveis sobre a pessoa, vínculos de trabalho ou de vida afetiva
que inesperada e inexplicavelmente começam a se deteriorar. No caso dos problemas
claramente apresentados, é preciso livrar-se imediatamente do objeto, providenciando,
quando possível, que sejam queimados, ou jogados na água corrente (mar, rio ou canal).
7 Cf. Gabriele Amorth; Paolo Rodari. L’ultimo esorcista, Piemme, Milano 2012.
8 François-Marie Dermine fala disso de maneira difusa em seu livro Carismatici, sensitivi e medium. I
confini della mentalità magica [Carismáticos, sensitivos e médiuns: os confins da mentalidade mágica],
ESD, Bologna 2010, pp. 56ss. O texto fornece uma ótima base para aprofundar o tema do espiritismo e, de
modo geral, o dos fenômenos paranormais, e também cristãos.
CAPÍTULO 4
A AÇÃO EXTRAORDINÁRIA DE SATANÁS: POSSESSÃO, VEXAÇÃO, OBSESSÃO E
INFESTAÇÃO
1) A possessão diabólica
Distingue-se a ação diabólica ordinária da extraordinária. Acerca desta, a forma mais
visível e grave, sem dúvida, é a possessão. Em que consiste? É a influência invencível de
um demônio sobre uma pessoa, da qual “toma posse”, no sentido de que dirá e fará
aquilo que quiser. Deve-se observar desde logo que nunca o demônio pode tomar posse
da alma de um homem (a menos que expressamente consinta nisso, porém aqui tratamos
mais propriamente da “venda” da alma ao Diabo), mas somente do corpo. Além disso,
desejo esclarecer que são raros os casos de verdadeira e inequívoca possessão. Mais
frequentes são os casos de vexação, obsessão e infestação, que analisarei em seguida.
Quando se manifesta a possessão, o possesso entra em transe e perde a consciência,
cedendo lugar à ação do espírito do mal, que faz uso do corpo dessa pessoa para falar,
mover-se, blasfemar, vomitar imprecações, pregos, vidros ou outros objetos, vez por
outra também para manifestar uma força hercúlea. A este propósito, o Pe. Candido
relatou-me o caso de uma moça muito magra e de aparência franzina, endemoninhada, e
que, durante os exorcismos, conseguiu resistir à ação de quatro homens muito fortes que
a amarraram com cintos de couro. Mesmo amarrada, conseguiu rasgar o cinto, dando
muito trabalho até o término do ritual. Também a mim coube presenciar, há dez anos, o
caso de uma mocinha muito frágil — não devia ter mais de 13 anos —, que estava
acompanhada da mãe e de uma amiga desta. Durante as sessões de exorcismo, o demônio
dera-lhe uma força inacreditável. Empenhamo-nos todos, e necessário se fez recorrer aos
meus sete “anjos da guarda”, que estavam presentes na sessão de exorcismo, para
procurar contê-la.
Durante a crise, a manifestação dos fenômenos anormais opera-se de forma
intermitente. A pessoa perde a consciência de forma imprevista. Há momentos do dia em
que parece inteiramente normal. É muito difícil que a possessão se manifeste sem
interrupção. O mais comum é que as crises sejam provocadas por motivos extrínsecos,
por exemplo, durante um contexto de “estresse espiritual”, como é o caso específico do
exorcismo, da Missa, de uma bênção, da oração, ou simplesmente pelo fato de entrar num
lugar sagrado. Em outras ocasiões, desencadeia-se sem nenhuma causa aparente. O
demônio age quando, como e onde quer: durante o dia, à noite, ou até num logradouro
público, quando a pessoa se acha na presença de amigos, para que todos possam ver.
Nesses casos, opera a vontade demoníaca de agir, em razão da força espiritual de sua
natureza angélica. Na prática, nenhuma dessas situações pode ser imputada ao possesso,
isto é, à vítima da possessão.
No caso de uma pessoa possessa que, em tempos passados, tenha ingerido alimentos
enfeitiçados — a isso remonta o seu mal —, durante o exorcismo ou a Missa pode
ocorrer que seja acometida de espasmos de tosse, ou que comece a salivar
abundantemente. Nessas circunstâncias, a ingestão de água, sal e óleo bentos ou
exorcizados pode auxiliar. Compete-me observar que cada possessão — isso se aplica a
outras formas de influência extraordinária do Diabo — é um caso único. Presenciei
libertações que ocorreram em poucas sessões, ao passo que outras somente depois de
anos de exorcismo; dentre estas, manifestações evidentes e grosseiras, além de uma na
qual a pessoa não pronunciava nenhuma palavra. Casos como estes são os mais difíceis de
tratar.
A quem atinge a possessão? Ninguém pode julgar-se excluído: jovens e velhos,
homens de fé e ateus, cristãos e membros de outras religiões, até mesmo os religiosos.
Menciono o caso da irmã Angela, vítima da obsessão da blasfêmia que ressoava
constantemente em sua mente. Quem se acha distante da fé certamente é mais vulnerável
a esse risco; contudo, isso é apenas uma indicação de princípio, a fim de explicar que o
demônio atua com mais desembaraço quando não se depara com oração, jejum, prática
eucarística ou sacramental, por parte das pessoas que “gozam” de sua particular atenção.
Em anos recentes, ocorreram casos de pessoas muçulmanas com graves problemas de
possessão diabólica. Satanás não faz acepção de pessoas. Acrescento ainda que os
demônios preferem exercer uma ação, em longo prazo, por meio das tentações, a pôr em
execução a sua ação extraordinária. Neste caso, as manifestações externas claramente
desmascaram a sua existência. Já no caso da ação ordinária, ocultando-se por detrás da
ignorância e da pouca fé, os demônios colhem maior êxito, agindo sem maiores
obstáculos. O Diabo fica contente quando não cremos em sua existência, ou a
consideramos uma reminiscência medieval. Dessa maneira pode atuar com mais
tranquilidade!
As tentações são vencidas pela vigilância, quando fugimos das ocasiões próximas de
pecado, e rezamos, pois, sem o auxílio de Deus, não somos capazes de vencer a enorme
sedução da iniquidade. Disso ninguém está isento, pois até alguns santos tiveram
tentações tremendas no leito de morte. Pelos testemunhos de vida que deles recolhemos,
deduzimos que, enquanto estivermos respirando e com vida, nunca ficaremos livres.
É útil saber que também existem possessões múltiplas, as quais consistem na atuação
de vários espíritos de forma concomitante na mesma pessoa. Tal foi o caso de Giovanna,
senhora casada havia trinta anos e com filhos. Desmaiava com frequência e sentia fortes
dores de cabeça, sem causa natural aparente. Após vários encontros, certificou-se que
estava possuída por três demônios, que nela entraram com três feitiços diversos, um dos
quais fizera uma mulher que cobiçava o seu futuro marido, ao tempo em que ainda não
eram casados. Os dois primeiros feitiços logo foram desfeitos; o terceiro, porém, com
mais dificuldade. Finalmente, também este último foi vencido. Era uma família de fé, por
isso creio ter sido relativamente fácil libertá-la.
Trata-se de casos muito frequentes, conforme atesta o próprio Evangelho de São
Marcos, quando Jesus se depara com um endemoninhado possuído verdadeiramente por
uma legião de demônios (cf. Marcos 5,1-20). Esses termos, tipicamente da organização
militar romana, sugerem uma realidade com a qual nós exorcistas muitas vezes nos
confrontamos: quando a possessão é múltipla, enfrentamos espíritos organizados
hierarquicamente, à maneira de um corpo militar. Imagino não provocar surpresa
quando afirmo que os demônios possuem uma organização interna semelhante à de uma
legião militar: existem os chefes, os subchefes e os “simples soldados”. Cada um é dotado
de um poder específico. Assim que iniciamos o procedimento dos exorcismos,
abandonam a luta primeiramente os espíritos com menos poder, os menos fortes. A
vitória, isto é, a libertação, só é completa após havermos conseguido dominar o chefe
supremo da legião, o mais poderoso e opressivo, o último a deixar o navio, aquele pelo
qual os outros demônios sentem verdadeiro e particular terror.
Como se descobre se alguém está sob o efeito de uma possessão? Há pessoas que
descobrem estar sob esse efeito ao entrar num local sagrado, como um santuário mariano,
ou quando participam de retiros, procissões, grupos de oração ou adorações eucarísticas.
Também pode ser o caso de a pessoa estar passando por um transtorno, para o qual não
dá muita importância, embora seja nessas ocasiões que a possessão se manifeste de modo
mais claro e inequívoco. É sinal de que o demônio está escondido (ele pode esconder-se
durante muito tempo, dissimulando a sua presença), até que, diante do poder de Deus, se
veja compelido a revelar-se. Contrariamente ao que se possa imaginar, um fato assim
deve ser entendido como uma graça, porque somente conhecendo a doença é que se pode
intervir. O mesmo vale no que diz respeito a outros distúrbios extraordinários, dos quais
trataremos em breve.
Em outros casos, como me referi no caso de Giovanna, tratam-se de incômodos de
ordem física, para os quais os médicos não conseguem encontrar explicação: isso faz soar
o mecanismo de alarme. Tal se deu com Marcella, moça de 19 anos, que sofria de mal-
estar estomacal, perturbação que se manifestava em casa e no trabalho, e que não
conseguira vencer. Assim que alguém lhe tocava a pálpebra, os seus olhos ficavam
totalmente brancos e as pupilas convergiam para baixo. Mal tive tempo de avaliar isso, e a
moça, com uma risada debochada, exclamou: “Sou Satanás!” Conseguimos libertá-la em
dois anos, mas é preciso dizer que ela se empenhou muito pela oração.
Destaco que nenhuma das formas de males de feitiçaria — portanto, não apenas a
possessão — é contagiosa. Ou, em outros termos, não se corre o risco de ser atingido
pelo “contato” visível, auditivo ou tátil com a pessoa endemoninhada. Do mesmo modo,
um endemoninhado pode casar-se ou ter filhos sem perigo de “infectar” a prole. Digo
isso de modo especial para tranquilizar parentes e amigos, que, quando empenhados
também nessa luta, ficam ao lado das pessoas que sofrem, pela oração e por uma atitude
de compreensão, ditada pela caridade. Às vezes, o convívio com tais pessoas
endemoninhadas é verdadeiramente difícil e nos põe diretamente à prova. O que digo
aplica-se, principalmente, aos sacerdotes. Já fizemos ver isso: quanto maior o nosso medo
do Diabo, mais ele se volta contra nós. O contrário, porém, não é verdadeiro. Isso
porque, se deixamos o Diabo em paz, será ele, por sua vez, que, comprovada nossa
fraqueza, nos arrebatará a paz.
Dito isso, é igualmente verdade que as pessoas que passaram por uma experiência de
possessão, em seguida adquirem, o mais das vezes, grande sensibilidade quanto a
situações nas quais a presença satânica é evidente.
2) A vexação diabólica
O segundo gênero de agressão espiritual extraordinária do Diabo recebe o nome de
“vexação” diabólica. São de longe os casos mais numerosos, causados por imprudências
pessoais (consultar bruxos, atração pelo espiritismo, reincidência e insistência nos
pecados graves), ou por feitiços dirigidos a estas ou àquelas pessoas. De fato, o Diabo
pode atuar, mesmo sem que haja uma influência predominante e decisiva sobre a mente
da vítima, como ocorre no caso da possessão. Não obstante, são casos de agressão
verdadeira e efetiva, de ataques físicos ou psíquicos que o demônio desfere contra uma
pessoa. Daí, por vezes, derivam arranhaduras, queimaduras, contusões ou, em casos mais
graves, até fraturas ósseas. Em outros casos, pedras e outros objetos são arremessados.
Casos característicos de perturbações são certas enfermidades nos órgãos internos ou nas
articulações, mesmo na ausência de uma patologia clínica que revele que a pessoa esteja
sentindo dores, e também sem a presença de sinais visíveis em presença de uma análise
mais aprofundada. Tais casos podem dizer respeito à esfera da saúde, das relações
afetivas, ou do trabalho.
Não é raro que a vexação venha conjugada com algum mal de feitiçaria
extraordinário, no sentido de que a pessoa possuída ou perturbada pode apresentar
também incômodos de ordem física e psíquica. Já me aconteceu libertar uma pessoa
endemoninhada, a qual, simultaneamente, ficara curada de um grande tumor.
Claramente, neste caso, o feitiço produziu um dano que, no infeliz, acarretara duplo
efeito, espiritual e físico. O mesmo Evangelho atesta casos de cura física ligados à cura
espiritual de um mal de feitiçaria; por exemplo, quando Jesus cura o mudo
endemoninhado (cf. Mateus 9,32-42) e o cego-mudo igualmente endemoninhado (cf.
Mateus 12,22-24).
As vexações podem ocorrer numa dimensão onírica: enquanto dormimos, formam-se
pesadelos terríveis, mediante os quais temos sonhos com blasfêmias, praguejando contra
Deus, tornando-nos perversos e malvados. Nestes casos, estamos nos confins de uma
obsessão diabólica.
No que diz respeito à vida dos santos, também podemos dar exemplos. São Pio de
Pietrelcina era surrado pelo Diabo. Por sua vez, Satanás frequentemente derrubava o
Cura d’Ars da cama. Em tais casos, afirmo que se trata de verdadeira e efetiva vexação
diabólica, não de possessão.
Conforme disse, nem sempre as vexações se manifestam num patamar físico.
Algumas podem atingir a pessoa nos laços afetivos. Pode ocorrer, por exemplo, que dois
noivos ou dois cônjuges se separem ou, ao contrário, que fiquem noivos, apesar de terem
gênios incompatíveis. Outras formas de perturbação manifestam-se no trabalho. Assim,
pode ocorrer que não seja localizada a pessoa que se procura, ou que desapareça a pessoa
junto da qual estamos; também, que se criem grandes dificuldades com os colegas de
trabalho ou com o chefe. Por vezes, o demônio pode agir a fim de destruir amizades e
isolar uma pessoa. É impossível elencar completamente os casos.
Como discernir se estamos em presença de doença física ou vexação diabólica?
Como sempre, devemos ser muito criteriosos na avaliação dos sintomas. Pode acontecer
que pessoas facilmente impressionáveis fiquem inquietas sem fundamento. De fato,
muitas vezes a doença ou o mal-estar psicológico é de raiz natural e, identificável pelos
sintomas patológicos, seja facilmente caracterizado pelo especialista médico ou
psiquiatra, aos quais, conforme indicamos acima, é sempre conveniente dirigir-se. O
discernimento espiritual pode ser efetuado quando se nota a presença de fenômenos
vexatórios associados a uma inexplicável aversão pelas coisas sagradas, por Deus e pela
oração. O fato de haver frequentado anteriormente locais de práticas ocultas ou de
magia, médiuns, cartomantes ou personagens do gênero, ainda que de boa-fé, ou a
certeza de ter sido alvo de feitiço, tudo isso pode ser indício significativo para um bom
discernimento.
3) A obsessão diabólica
A obsessão diabólica é uma forma de agressão espiritual que leva o demônio a comunicar
pensamentos ou alucinações fortíssimas, muitas vezes invencíveis, à mente da vítima. Em
tais casos, a pessoa já não tem domínio sobre os próprios pensamentos. O indivíduo fica
sujeito a uma poderosa força mental, que lhe introduz pensamentos repetitivos,
obsessivos, superiores à sua capacidade de resistir. Tais pensamentos e representações da
realidade, por mais estranhas que sejam ao seu modo de pensar, fixam-se profundamente
na sua psiquê. Os objetos das alucinações podem ser visões, vozes ou murmúrios de
personalidades obscuras, de figuras monstruosas, animais horripilantes ou de demônios.
Em outros casos, pode manifestar-se o impulso para fazer mal aos outros, ou procurar o
suicídio, ou cometer profanação. Em outros casos ainda, sobretudo em indivíduos mais
jovens, pode ocorrer confusão mental sobre a própria identidade de gênero. A casuística
é muito extensa, sendo impossível fazer o rol de todas as formas existentes de obsessão
diabólica.
Habitualmente, isso não subtrai por inteiro a capacidade de a pessoa pensar ou
querer, permanecendo o indivíduo consciente e vigilante. Todavia, a sua mente fica
fortemente controlada em sua relação com o mundo. Tais fenômenos podem dar-se
indistintamente à noite ou durante o dia, e podem tornar a vida impossível, levando, em
casos extremos, ao desespero e até ao suicídio. Por razões óbvias, essas situações
provocam, na pessoa atingida, tristeza e desesperança.
Também a vida dos santos não está isenta disso. É o caso, por exemplo, do já citado
São Pio de Pietrelcina, quando o Diabo lhe aparecia sob a forma de um cão feroz
arremessando-o ao solo, ou tomava a aparência de seu diretor espiritual ou superior de
sua ordem, transmitindo-lhe uma diretriz errada.
Para evitar um possível equívoco, importa esclarecer que os distúrbios obsessivos
são muito semelhantes às patologias mentais. Por isso, é preciso sempre fazer uso de um
sadio discernimento para o fim de compreender, com o auxilio de um psiquiatra, se não
seria mais propriamente o caso de uma doença natural. Em razão da dificuldade de
discernir com clareza, nesse elenco de casos, também a conversa com um diretor
espiritual pode ajudar muito. De fato, não raramente acontece que os efeitos de ordem
clínica de uma patologia demoníaca possam ser facilmente confundidos com problemas
psiquiátricos. Nesse caso, deve-se proceder no mesmo ritmo, conjugando a cura médica
com a espiritual. Sobre isso discorreremos mais adiante.
4) Infestação diabólica
Chegamos à última tipologia de distúrbios do gênero espiritual: as infestações diabólicas.
Aqui se trata de distúrbios que, ao invés de influir sobre os homens, atuam sobre a casa,
objetos ou animais. Isso não quer dizer, é claro, que a pessoa destinatária do mal não
sofra também, visto que é a vítima última da ação satânica. De forma particular, a
infestação da casa provoca grandes sofrimentos, e às vezes também prejuízos desmedidos
aos que passam por isso. Em tais casos, podem quebrar-se aparelhos elétricos,
automóveis, fornos.
Mais alguns exemplos? Portas e janelas que, noite e dia, se abrem e fecham, batendo
inesperadamente e sem causas aparentes; luzes, lâmpadas, televisão ou computador que
ligam ou desligam sem nenhuma intervenção humana; explosão de bombinhas, sons de
passos, vibrações no solo como de um terremoto, vozes misteriosas ou gritos, batidas na
parede (às vezes, fortíssimas), sendo que todas essas manifestações, como se intui de
imediato, podem tornar difícil a vida de quem mora no local. Em alguns casos, faz-se
necessário até pedir intervenção da polícia, alertada previamente por chamadas
telefônicas. Os policiais, num desses casos, foram obrigados a comprovar a presença de
fortes batidas na parede, embora sem identificar o “culpado”. Também pedras jogadas
contra a janela, sem que os vidros se quebrem, além de intensos odores desagradáveis.
Invasão de insetos, como gafanhotos ou formigas que, em poucos dias, são capazes de
roer a madeira da janela. Também aqui, os exemplos são muitos.
É preciso, neste caso, examinar se o fenômeno concretamente pode ser atribuído a
uma causa natural e circunscrita, ou não. Diante de uma resposta negativa, é útil saber —
embora muitas vezes seja difícil fazê-lo concretamente — se, nessa mesma casa, em
épocas passadas, foram realizadas sessões espíritas, rituais de magia, reuniões de seita
satânica ou maçônica ou coisas similares. Também, neste caso, são úteis a bênção da casa
e a bênção dos objetos, e os exorcismos localizados, ainda que geralmente sejam muito
longos, difíceis e complicados de realizar. Nos casos mais graves, cabe-me aconselhar às
pessoas envolvidas que se mudem da casa. Às vezes, nas novas moradias nenhum destes
fenômenos se manifesta. Em outros casos, porém, as vexações continuam. Reporto o caso
de uma pessoa que, ao se deitar, sentia a cama sacudir-se violentamente. Perguntei-lhe se
quando dormia fora de casa o mesmo distúrbio se manifestava. Respondeu-me que, em
outros lugares, o fenômeno persistia. Aqui era o caso evidentemente de uma vexação
pessoal. Outras vezes, ao contrário, o distúrbio cessava. É importante, pois, fazer a
seguinte verificação: se, mudando de cama ou casa, o distúrbio desaparece. Em tal caso,
isso significa que o mal está vinculado à cama, à moradia, ao quarto ou à parede. Quando
uma pessoa apresenta sempre os mesmos incômodos, significa que o problema reside nela
e que é sobre ela que se deve agir. O receituário é sempre o mesmo: exorcismos, oração,
vida sacramental.
10 Cf. capítulo 2.
11 Cf.
Francesco Vaiasuso; Paolo Rodari. La mia possessione. Come mi sono liberato da 27 legioni di
demoni [A minha possessão. Como fui libertado de 27 legiões de demônios, Piemme, Milano 2013.
12 www.famigliadellaluce.it.
13 Cf.Lucia e Francesco, A tu per tu con il diavolo. Una famiglia perseguitata dal Maligno [Face a face
com o Diabo: uma família perseguida pelo Maligno], San Paolo, Cinisello B. (MI) 2009.
CAPÍTULO 5
CORPO A CORPO COM SATANÁS: O EXORCISMO
A minha experiência
Quando a pessoa não consegue encontrar exorcistas, aconselho que procure um grupo da
Renovação Carismática Católica, para que se façam sobre a pessoa orações de libertação.
Nem sempre é fácil encontrar um grupo desse gênero nas proximidades de nossa casa.
Em casos assim, na tentativa de compreender melhor os sintomas, costumo conversar
inicialmente com os respectivos parentes.
Exijo às vezes — repito aqui o que afirmei acima — que a pessoa seja primeiramente
conduzida à presença do psiquiatra, a fim de averiguar se não é um caso de doença
mental. Faço essa afirmação, mesmo reconhecendo por experiência própria que os
sintomas são parecidos em ambas as situações — doença espiritual e doença psiquiátrica
—, que por vezes se interpenetram e misturam, não sendo fácil perceber com perfeita
clareza qual a verdadeira natureza do mal. Aqui entra em cena um princípio elementar:
quando o tratamento traz bons resultados, que haja continuidade, intensificando-se o
procedimento; caso contrário, será oportuno fugir da armadilha, pensando noutra
solução.
Em 1993, defrontei-me com isso na presença de quarenta psiquiatras. Formularam-
nos a seguinte questão: “Como distinguir um mal psiquiátrico de um espiritual?”
Recordo-me de haver dito, em tal oportunidade, o seguinte: a diferença se mostra mais
clara quando o nosso intento é aplicar a cada paciente o melhor tratamento. O mal
psíquico é tratado com remédios, com meios naturais e procedimentos de cunho
psicológico. Ao contrário, quando o mal-estar é de origem maligna, se não recorrermos
aos meios sobrenaturais — orações, vida sacramental, exorcismos, bênção, etc. —,
dificilmente será possível livrar efetivamente dessa doença. Algumas vezes será
conveniente combinar as duas terapias.
Outro aspecto merece destaque especial. Por vezes, ao mal espiritual se acrescenta,
como consequência indireta, um distúrbio físico: tumores, dor de cabeça, dores
lancinantes nas articulações, no estômago, etc. Conforme já foi exposto acima, ao
tratarmos das vexações, pode ocorrer que, após serem feitos os exames clínicos,
contrariamente ao que seria de presumir, os resultados sejam negativos, sem nenhuma
evidência fisiológica de anormalidade. Então, os males podem cessar por meio do
procedimento dos exorcismos. Trata-se, nestes casos, de vexações diabólicas, às vezes até
muitos fortes, provavelmente causadas por um feitiço. Nem sempre, porém, o
discernimento é fácil. Deve-se analisar caso por caso, com muita oração.
A priori é impossível dizer a frequência com que descubro uma pessoa assim, pois isso
é muito variável, depende da situação de cada um. Habitualmente, deparo-me a cada mês
com um caso semelhante. Nas situações mais críticas, quando o tempo e as minhas
condições de saúde permitem, identifico mais alguns. Perguntará alguém: e se o
diagnóstico falhar e os problemas não forem de natureza espiritual? Respondo que o
exorcismo nunca faz mal.
Por vezes, perguntam-me acerca da maior ou menor eficácia de minha oração, se
tenho alguma ideia sobre isso. A minha resposta é negativa. Somente Deus age por meio
da oração. O exorcista, isto é, o que faz uma oração de libertação, normalmente não se dá
conta desde logo se a pessoa foi libertada ou se recebeu o benefício da oração. É a própria
pessoa exorcizada que me dá ciência disso — às vezes, muito tempo depois de nosso
último encontro.
À procura do exorcista
Qual o meio de localizar o exorcista encarregado pelo bispo da própria diocese a fazer o
acompanhamento dos casos de possessão? A primeira coisa é recorrer aos ofícios da cúria
e pedir informações. Lá devem constar os nomes dos sacerdotes aos quais foi conferido
esse encargo. Algumas vezes, porém — conforme me dizem muitas pessoas que
acompanho —, há o risco de não encontrar resposta concreta, sobretudo se as pessoas às
quais nos dirigimos não forem exorcistas. Nesse caso, é preciso procurar alguém de fora
da diocese. E, então, começa uma longa peregrinação, talvez de centenas de quilômetros.
E, talvez, sejamos obrigados a fazê-lo, anos a fio, até a libertação. Com cansaço e
despesas consideráveis.
A esse propósito recordo que é dever estrito de todo bispo nomear um exorcista ou,
não havendo, a ele mesmo cabe fazer essa oração na Igreja, da qual é o titular por
excelência. De fato, quando não é providenciado pelo bispo, não há outro que possa
preencher essa lacuna. A consequência é que — realidade que eu e meus colegas
exorcistas comprovamos diariamente — as pessoas que sofrem de males espirituais se
veem na necessidade de empreender não sei quantas “viagens de peregrinação forçadas”,
à procura dos exorcistas. Quanto a estes, por sua vez, sendo pouco numerosos, ficam
onerados de trabalho, uma vez que acolhem pessoas de fora da diocese. Fico angustiado
quando penso que há nações inteiras nas quais os exorcistas sequer dão o ar de sua
presença.
Note-se, pois, que, da parte dos escritórios da Cúria, podemos receber respostas
evasivas. Neste caso é uma procura meio às escuras sobre o nome dos exorcistas e os
lugares em que atendem. Em meio a muitos impostores e falsos libertadores que estão em
circulação, aconselho que, delicadamente, procurem ter certeza de que se trata mesmo de
um sacerdote encarregado pelo bispo. Com efeito, não é raro o caso de que, na ausência
de exorcistas, pessoas sem escrúpulos e com muita ânsia de lucros — obviamente
mediante polpudas contribuições — prometam destruir malefícios ou feitiços com “ritos
em direção contrária”. E, por esse modo, acaba-se agregando feitiçaria a feitiçaria, o que
só leva a piorar a situação.
O que fazer quando não se encontrar nenhum exorcista? O último recurso é
endereçar-se aos grupos da Renovação Carismática Católica que atuam na região.
Embora seja verdade que nem todos gozam de igual confiabilidade — o que depende
principalmente de quem os dirige —, mesmo assim são lugares nos quais, geralmente,
por meio da oração, podem ser obtidos benefícios concretos e imediatos.
14 O título da editio typica, promulgada pelo decreto da Congregação para o Culto Divino e para a
Disciplina dos Sacramentos, 22 de novembro de 1998, é De exorcismis et supplicationibus quibusdam.
16 Cf. p. ex., Esorcisti e psichiatri [Exorcistas e psiquiatras], EDB, Bologna 2000, p. 10.
20 Ibidem, n° 3.
21 Ibidem, n° 5.
23 Ibidem.
As almas no Purgatório
O Purgatório é o lugar, ou melhor, o estado onde se encontram as almas que não foram
admitidas imediatamente à contemplação da face de Deus, mas que necessitam antes de
uma purificação. Por que há necessidade de uma purificação? Para chegar à santidade,
condição indispensável para o Céu. O número 1030 do Catecismo menciona as almas que
estão sendo purgadas como “os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não de
todo purificados, embora seguros da sua salvação eterna, sofrem depois da morte uma
purificação, a fim de obterem a santidade necessária para entrar na alegria do Céu”.
Podemos considerar que há graus ou estados diversos no Purgatório, conforme a
situação de cada alma quando ali chega. Há estados inferiores, tremendos e dolorosos
porque mais próximos do Inferno; e também estados mais elevados, muito próximos à
felicidade do Paraíso. Os vários graus de purificação estão ligados ao diversos estados de
alma.
No Purgatório, as almas encontram-se, de modo geral, numa condição de enorme
sofrimento. Nossa Senhora, em Medjugorje, numa mensagem para a qual julgo devermos
ter a atenção voltada, pediu que rezássemos muito por essas almas. Com efeito, sabemos
que podem interceder por nós e obter-nos muitas graças, ao passo que, para si mesmas,
não podem mais obter nenhum merecimento. Com a morte, o tempo para granjear
méritos na terra acaba. Contudo, as almas que estão no Purgatório podem receber o
nosso auxílio para abreviar o respectivo período de purificação. Isso ocorre de modo
superlativo por meio de nossas orações, com a oferta de nossos sacrifícios, Missas por
essa intenção, assim como se faz mais especificamente nos funerais e nas Missas
gregorianas, que consistem na celebração de trinta Missas diárias e consecutivas por um
falecido. Essa prática foi introduzida por São Gregório Magno, no século VI, com
fundamento numa visão que teve de um confrade que morreu sem confissão. Este, tendo
ido ao Purgatório, apareceu solicitando que celebrassem Missas em seu favor. O papa
celebrou por muitos dias consecutivos, até atingir o total de trinta. Nesse ponto, o
falecido apareceu de novo, feliz por ter sido admitido no Paraíso. Bem analisado, daí não
se depreende que “funcione” como um “botão mágico”: pensar assim seria uma atitude
de ritualismo mágico, inaceitável e errônea no que se refere ao sacramento. De fato, tudo
sempre se acha nas mãos da misericórdia divina.
A propósito das Missas, é preciso dizer ainda que podem ser aplicadas a todos os
mortos, mas, em última análise, é Deus que as destina aos que realmente necessitam.
Quanto a mim, por exemplo, celebro frequentemente por meus pais, a respeito dos quais,
em consciência, acredito já estarem no Paraíso. Somente a Deus, em sua misericórdia,
compete, porém, atribuir os benefícios das minhas Missas aos que estão mais
necessitados, conforme critérios de justiça, bondade e — por que não? — também de
virtudes, tendo como base os méritos de cada um, em consonância com o respectivo grau
de fé, esperança e caridade que granjearam em vida.
De tudo quanto foi exposto, surge um afetuoso conselho: mais vale expiar nessa vida,
sofrendo, procurando santificar-se, do que, de um modo simplista, aspirar ao Purgatório,
onde os sofrimentos são longos e penosos.
As penas do Inferno
O livro do Apocalipse afirma textualmente que “foi precipitado aquele grande dragão,
aquela antiga serpente, que se chama o Diabo Satanás, que seduz todo o mundo; e foi
precipitado na terra e foram precipitados com eles os seus anjos” (Apocalipse 12,9). Por
que foram precipitados na terra? Porque a finalidade a que se consagraram foi a de
perseguir os homens, procurando conduzi-los à perdição eterna, transformando-os em
infelizes companheiros por toda uma eternidade carregada de sofrimentos e penas. Como
se pode admitir que esse enredo, que abarca a todos, esteja nos planos de Deus?
Conforme já foi observado, a razão de ordem imediata reside na liberdade concedida por
Deus a cada criatura. Sem dúvida, ninguém ignora que a missão de Satanás e de seus
seguidores consiste em desgraçar o homem, seduzindo-o e fazendo-o pecar, isto é, levá-
lo à infelicidade, longe da plena participação da vida para a qual fomos chamados — ou
seja, o Paraíso.
O Inferno, pois, é o estado na qual os demônios e os homens condenados, por sua
explícita e irrevogável escolha de se rebelar contra Deus, ficam distantes do Criador, dos
anjos e dos santos, numa condição permanente e eterna de condenação, isto é, de
tribulação. O Inferno é uma exclusão voluntária da comunhão com Deus, conforme diz o
Catecismo no número 1033: “Não podemos estar em união com Deus se não escolhermos
livremente amá-lo.” E como fazer para amá-lo? “Mas não podemos amar a Deus se
pecamos gravemente contra Ele, contra o nosso próximo ou contra nós mesmos.” Ao
Inferno, portanto, vai o que morre em pecado mortal sem estar arrependido; o que, de
forma impenitente, não amou. Não é Deus quem predestina uma alma ao Inferno, mas a
própria alma que o escolhe pela vida que levou.
Acerca do Inferno, conhecemos alguns relatos que — tratando-se de revelações ou
experiências privadas, enquanto tais, a fé não nos obriga a crer — considero merecedores
de grande crédito. Em diversas ocasiões, em meus livros e entrevistas, tenho feito alusão
à experiência de Santa Faustina Kowalska, que, em seu diário, faz um relato das
“viagens” que fez ao Inferno.
“É um lugar de grandes tormentos, tendo em vista toda a sua extensão
pavorosamente grande. São diversos tormentos que eu vi: o primeiro tormento, o que
constitui o Inferno, é a perda de Deus; o segundo, os contínuos remorsos da consciência;
o terceiro, a certeza de que aquele destino não mudará nunca; o quarto, o fogo que
penetra na alma sem a destruir. Este é um tormento terrível: é um fogo puramente
espiritual, que é alimentado pela ira de Deus. O quinto tormento é a escuridão contínua,
um horrível e sufocante cheiro nauseabundo, em meio ao qual, apesar das trevas, podem-
se ver o Demônio e as almas condenadas, umas em face das outras, e igualmente todos os
males dos demais e os nossos próprios. O sexto tormento: a companhia contínua de
Satanás; o sétimo tormento é um tremendo desespero; o ódio a Deus, as imprecações,
maldições, blasfêmias. Esses são os tormentos que todos os condenados sofrem juntos,
mas essa não é a finalidade das punições. Há formas de tormentos especiais para diversas
almas, e são os tormentos dos sentidos. Cada alma é afligida de maneira terrível e
indescritível pelo pecado que praticou. Há horríveis cavernas, precipícios e tormentos,
sendo cada suplício diferente do outro [...]. O pecador sabe que será punido pelo sentido
que o levou a pecar [...]. O que relatei é uma pálida imagem do que vi. Observei que a
maior parte das almas que lá se encontram são almas que não acreditavam que pudessem
cair no Inferno. Quando recobrei os sentidos, não consegui reerguer-me do pavor em
face do pensamento das almas que ali sofrem tão horrivelmente; por isso, rezo com maior
fervor pela conversão dos pecadores, e invoco incessantemente a misericórdia de Deus
em favor deles.”
É de assombrar.
Também desejo recordar, de forma resumida, o testemunho de Gloria Polo, dentista
colombiana que viveu uma experiência extraordinária, a qual pôs de ponta-cabeça a sua
vida.
No dia 5 de maio de 1995, essa senhora foi atingida por um raio, que quase
carbonizou o seu corpo. Gloria era uma católica “fria”, de espírito crítico em relação a
Igreja, favorável à eutanásia, muito preocupada com o próprio corpo e voltada para a
Nova Era. Era afeita a frequentar bruxos e cartomantes que prediziam o futuro. Depois
de ser atingida pelo raio, o seu corpo ficou por vários minutos sem vida por causa de uma
parada cardíaca. Durante esse tempo, Gloria passou por uma experiência de quase morte.
Encontrou-se num túnel, em cuja extremidade havia uma forte luz. Nesta luz identificou
os pais falecidos: era o Paraíso. Em contrapartida, experimentava sempre sentimentos
cada vez mais fortes de culpa pela fraca fé que tivera em vida, o que a impedira de
permanecer naquela luz. De repente, foi precipitada no abismo mais profundo. Muitos
demônios começaram a persegui-la, tentando arrebatá-la. Ela relata ter percorrido muitos
túneis que existiam mais abaixo, organizados em forma de colmeias e habitados por
muitos homens, jovens, velhos e crianças que choravam e rangiam os dentes, com
rugidos espantosos. Alguns destes eram suicidas. Gloria está persuadida de que estava
num lugar de morte espiritual, de condenação eterna, sem retorno, sem esperança. Era o
Inferno. Somente a intervenção de São Miguel Arcanjo, que a segurou pelos pés
trazendo-a para junto de si, impediu que se precipitasse definitivamente. Eis como ela
conta: “Foi um momento terrível e verdadeiramente doloroso, quando cheguei àquele
ponto, a luz que ainda restava em meu espírito aborrecia aos demônios; esses
horripilantes seres imundos, que lá se achavam, prenderam-se a mim imediatamente [...].
Quanta coisa queimava! Irmãos, são trevas vivas, é um ódio que arde e nos devora, que
nos põe a nu. Não há palavras para descrever aquele horror!”29
As visões e relatos aqui contidos, embora de forma bem sintética, devem fazer-nos
refletir. Por isso, em Fátima, a Virgem disse às crianças: “Rezai e fazei sacrifícios, muitas
almas vão para o Inferno, porque não há ninguém que reze e faça sacrifícios por elas.”
Por sua vez, em Medjugorje, Nossa Senhora disse três coisas interessantes que
confirmam o que ensina o Catecismo, e que sumariamente já relatei: o Inferno é eterno;
impossível que alguém se converta no Inferno, porque, de nenhum modo, ninguém
desejaria fazê-lo; no Inferno, tornamo-nos partícipes da própria essência do Inferno, isto
é, a pessoa torna-se, por assim dizer, um “fragmento do Inferno”.
Como se deve entender, de modo mais exato, a afirmação acima? Sendo o reino do
ódio, as almas ali condenadas são submetidas ao tormento dos demônios e aos
sofrimentos que reciprocamente se infligem uma às outras. O Inferno é um lugar da
blasfêmia (onde se investe contra Deus e contra os santos) e do medo. No decorrer de
meus exorcismos, conforme fiz menção há pouco, certifiquei-me de que existe uma
hierarquia entre os demônios, assim como a que existe entre os anjos. Já abordei essa
realidade. Mais de uma vez, deparei com demônios que possuíam uma pessoa e que
manifestaram verdadeiro terror para com os respectivos chefes. Certo dia, após haver
feito vários exorcismos numa infeliz senhora, indaguei ao demônio “menor” que a
possuía: “Por que não vai embora?” Como única resposta, ouvi isto: “Porque se for,
Satanás, que é meu chefe, me castigará.” No inferno existe uma sujeição imposta pelo
terror e pelo ódio. Essa é a diferença abissal com o Paraíso, que é um local onde todos se
amam; lugar no qual quando uma alma encontra outra mais santa, sente imenso gozo,
porque da felicidade alheia também deriva, para ela, o mesmo benefício.
Alguns dizem que o Inferno estaria vazio. A resposta para essa afirmação está contida
no capítulo 25 do Evangelho de São Mateus, onde se fala do Juízo Final: alguns são
“benditos” e se aproximam eternamente de Deus; outros são “malditos” e vão para o
fogo eterno. Certamente desejaríamos que o Inferno estivesse vazio, sabendo que Deus
não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva (cf. Ezequiel 33,11). Para esse
efeito, a todos proporciona sua misericórdia e os meios da graça necessários para se
salvarem. Disse Jesus, no Evangelho de São João: “Àqueles a quem perdoardes os
pecados, e a quem não perdoardes, ser-lhes-ão retidos” (20,23), insistindo em nossa
conversão contínua, com o apoio da graça que vem dos sacramentos.
Retomando a pergunta a respeito do Inferno, que consiste em saber se está mais ou
menos “vazio”, cabe-me afirmar que temo cairem ali muitas almas, precisamente as que
se obstinam até o fim na escolha do afastamento de Deus. Meditemos frequentemente
nisso! Bem dizia Pascal: “A meditação no Inferno encheu de santos o Paraíso.”
O julgamento da vida
No número 1021, o Catecismo fala sobre o “juízo particular”. Que significa? Ali está
dito: “O Novo Testamento fala do julgamento, principalmente na perspectiva do
encontro final com Cristo na sua segunda vinda. Mas também afirma, reiteradamente, a
retribuição imediata depois da morte de cada qual, em função das suas obras e da sua fé.”
E, mais adiante no número 1022, acrescenta: “Ao morrer, cada homem recebe na sua
alma imortal a retribuição eterna, num julgamento particular que põe a sua vida em
referência a Cristo, quer através duma purificação, quer para entrar imediatamente na
felicidade do Céu, quer para se condenar imediatamente para sempre.” Logo depois, diz
o critério mediante o qual haverá esse julgamento, desenvolvido nos escritos de São João
da Cruz: “No ocaso da vida, seremos julgados pelo amor.”
A primeira coisa a destacar é propriamente este último ponto: um derradeiro critério
do nosso julgamento será o amor que tivermos em vida por Deus e pelos irmãos. Como
se dará, então, o julgamento particular? Encontramos algumas vezes pessoas convencidas
de que, imediatamente após a morte, encontrarão Jesus em pessoa, e lhe exprimirão o
desejo de “falar com franqueza” sobre as vicissitudes dolorosas que enfrentaram nesta
terra. Não acredito positivamente que as coisas se passem assim. Mais propriamente,
acredito que, de imediato após a morte, cada qual comparecerá diante de Jesus.
Entretanto, não será o próprio Jesus quem passará em revista a nossa vida, para efeito de
avaliar o tanto de bem e de mal que praticamos em vida. Falando com inteira
objetividade e honestidade, seremos nós que o faremos. Cada qual terá diante de si a
visão completa da sua vida, conhecendo imediatamente o verdadeiro estado espiritual de
sua alma, e irá para onde a situação da sua alma naturalmente deverá conduzi-lo. Será um
momento solene de verdade sobre nós mesmos, um momento tremendo e sem volta,
assim como será sem volta o local que perceberemos ser indicado para cada um.
Consideremos, por exemplo, o caso de uma pessoa que vá para o Purgatório. Quão
grande será a dor por não conseguir subir diretamente ao Céu, ao verificar que a
purificação na terra não foi completa e percebendo, por si só, a necessidade impreterível
de se purificar! Contudo, o desejo de ter acesso à visão de Deus será tão forte que, para
essa alma, mais estimulante será ainda o desejo de libertar-se do peso dos castigos
acumulados durante a vida terrena...
26 Ibidem, n° 1026.
27 Veja-se o que diz a esse respeito o Catecismo da Igreja Católica, sempre no n°1026.
29 Para conhecer mais a fundo a história, veja-se o livro de Irene Corona, Gloria Polo. Da sostenitrice
dell’eutanasia a paladina della vita [Gloria Pole: de defensora da eutanásia a militante da vida], Edizioni
Segno, Feletto Umberto (UD) 2012.
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EDITOR RESPONSÁVEL
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