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PRIMO, A.

Interação mediada por computador: comunicação,

livros
cibercultura, cognição. Porto Alegre: Sulina, 2007.

Angélica Lüersen1

Olhares O livro surge de uma insatisfação


sobre interação e cibercultura com as teorias de que,
tradicionalmente, se cerca o termo
Peço a palavra. Ela me foi “interatividade”, visto que estas se
concedida. Eis que venho aqui lhe falar apresentam como lacunares,
sobre interação segundo a ótica de desajeitadas, incompletas2.
Alex Primo. Trago aqui não meus Daí, por meio de uma revisão crítica
apontamentos sobre o tema, mas meu baseada numa abordagem sistêmico-
olhar sobre as idéias de Primo em relacional, Primo defende uma nova
‘Interação mediada por computador’. tipologia para os estudos sobre
Este é o título da obra cuja proposta interação: interação mútua e interação
apresenta-se como uma nova reativa. Esta abordagem vai além do
abordagem, um outro olhar viés tecnicista trazido pelas teorias que
(diferenciado e curioso), frente ao disputavam lugar à mesa, visto que 1
Graduada em
campo ainda incipiente que se essas propunham, como foco de Jornalismo. Mestranda,
Programa de Pós-
apresenta como cibercultura. O atenção, apenas a relação entre o meio Graduação em
caminho traçado e percorrido entre as e o homem, sendo a transmissão da Comunicação
vielas comunicacionais, cognitivas e mensagem o eixo principal. Logo, Midiática da Universidade
Federal de Santa
socioculturais é, com competência, Primo propõe uma análise dos Maria. Rua Vale
transposto por Primo nas 240 páginas diferentes modos de interação mediada Machado, 1726, apto
405, Santa Maria, RS,
que compõem a obra. Uma discussão por computador, vista sob as ações e Brasil. 97.010-530.
recente (pois a publicação data de relações entre os envolvidos no angelicaluersen@gmail.com
2007) e ousada (visto que, já de início, processo.
o autor mostra aproveitamentos e Cinco capítulos formam o corpo da 2
Há que se dizer que,
lacunas das teorias que se conhecem obra e nos levam a aprofundar e refletir por ser um território
ainda pouco explorado, a
sobre interação) pretende, pois (é o sobre o tema interatividade (cuja possibilidade de um
que parece transparecer) um finalização ganha, nas linhas que teórico superar o outro
assim que as idéias são
pensamento reflexivo e mais seguem como considerações finais, os lançadas é muito possível,
aprofundado sobre esse tema que está contornos próprios de um estudo visto que o
entendimento, bem
impregnado e indissociável individual e profícuo). O primeiro deles aponta como o conhecimento,
socialmente (ou você duvidaria disso? teorias e definições sobre interação, está sendo construído a
Venha! Vamos imaginar o caminho evidenciando o “lugar-comum”, já muitas mãos, seja por
meio de erros ou acertos
juntos!). instituído, acerca do termo. Primo acerca do tema.

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propõe-se a questionar estes estudos e relação estabelecidos via internet.
apresentando cada uma das propostas e Aqui, dois tipos de interação são
‘visões’, bem como suas contribuições, propostos por Alex Primo: a interação
falhas e avanços. Autores3 como Brecht, mútua e a interação reativa. Este é o 3
Listo aqui os autores
Enzensberger, McLuhan e Thompson eixo dos capítulos três e quatro. que aparecem nessa
são trazidos para discutir ‘a interação Nas 98 páginas que discorrem sobre parte primeira
justamente por se tratar
mediada pelos meios tradicionais’. Ao a tipologia e elucidam os conceitos de de um resgate teórico,
tratar da ‘busca pela TV interativa’ são interação mútua e reativa, fica evidente realizado por Primo, que
considerados Matuck, Lemos, Brand, o esforço de Primo no que diz respeito fundamenta toda sua
discussão posterior.
Machado, Thompson, Rose, Bucci e à observação dos novos meios (diga-se
Willians. Na discussão acerca das visões aqui, já não tão novos assim) e aos
tecnicistas e mercadológicas sobre consideráveis estudos na área. Para ele,
interatividade, os autores Rafaeli e a maioria das interações no ciberespaço
Machado são os norteadores desse não é plena, isto é, é reativa. Por
pensamento. As críticas feitas quanto à interação reativa ele entende aquela
ênfase na performance do computador cujas ações se estabelecem acerca de
estão baseadas nas teorias de Lippman, determinadas condições iniciais; são,
Vaughan, Steuer, Dertouzos, Lanier, portanto, pouco livres e atendem a
Jensen e Loes de Vos. No subitem objetivos específicos. As trocas são
‘Participação, diálogo e condicionadas, predeterminadas, ou
bidirecionalidade’, Primo sistematiza o seja, a resposta sempre será prevista e
conceito de interatividade resgatando virá por causa de um certo estímulo. Por
Silva, Marchand, Matuck, Couchot, isso mesmo, a denominação ‘reativa’,
4
Uso aqui a
terminologia de Primo,
Rafaeli, Machado, Bairon e, também, pois é sempre uma reação (esperada) que propõe uma
Rafaeli e Sudweeks. ‘“Interatividade” frente ao estímulo. O interagente4 nem substituição da palavra
‘usuário’ a fim de
como argumento de venda’ traz à tona sempre tem a noção de estar sendo expandir e de evitar um
a discussão fundamentada por guiado, pois os processos podem se olhar viciado sobre o
termo.
Baudrillard, Sfez, Silva e Al e Laura Ries, camuflar como livres5. De certo, o modo
e encerra o primeiro capítulo da obra. de interação mais veemente (mas nem
No segundo capítulo, sob por isso, alerta Primo, garante relações
5
Mesmo num site de
notícias, por exemplo,
abordagem sistêmico-relacional, como amistosas ou mais democráticas) é podemos fazer um
já foi dito, a proposta é afastar-se dos aquele que não demarca os caminhos, caminho exclusivo, mas
sempre será uma escolha
enfoques tradicionais (de produção, mas os deixa livres e incondicionais, feita entre as
transmissão e recepção) e discutir onde interagentes se encontram possibilidades
apresentadas de
interação como uma ‘ação entre’ os constantemente para contínuas antemão.
participantes. O foco não será dado por problematizações (e não deixam de
interagentes individuais, mas pelo ocorrer aí relações de poder e impactos
relacionamento entre os interagentes, contextuais). Aqui a construção se dá na
ou seja, aquilo que acontece entre os relação entre os interagentes, pois a
sujeitos e o computador. interação se dá naquele momento. É
As formas dialógicas originadas nas assim que Primo caracteriza interação
interfaces da internet propiciam um mútua. Não há fronteiras
olhar mais aguçado do que aquele com preestabelecidas, uma vez que as
viés tecnicista e tradicional, respostas são livres e interferem, de
provocando, não uma ruptura, mas um fato, no processo e no resultado, que se
avanço no entendimento da constrói e se atualiza nas ações entre.
comunicação aí presente. Nas Para além de uma classificação fechada
interações mediadas por computadores, ou extremamente delimitada, há casos
Primo propõe uma argumentação que em que as duas tipologias podem se
perpassa os estudos sobre inteligência juntar ao mesmo tempo e, assim,
artificial e, também, as experiências passam a ter um caráter híbrido, com
próprias dos processos de comunicação características mútuas e reativas.

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Como fruto de uma discussão bastante densa

livros
e peculiar, o quinto capítulo traz uma distinção
(entenda-se, aqui, como puramente conceitual,
de fato) entre processos de conflito e cooperação.
A abordagem que se faz frente a tais processos,
abarcados nas interfaces da cibercultura, é sob o
enfoque dos aspectos social e digital. Desse
modo, Primo pretende salientar que, no cenário
do ciberespaço e nas relações sociais que se
estabelecem por meio dele, o conflito e a
cooperação aparecem como reações possíveis e
não contraditórias (ou extremas), uma vez que
ambas levam ao potencial debate das questões,
isto é, levam à relação (seja ela conflituosa ou
cooperativa), e que podem vir a ocorrer em
diferentes graus, mas ao mesmo tempo. Seguindo
o mesmo raciocínio, ambas são entendidas como
resultado natural da existência social (uma que
demonstra interesses em comum e, assim, uma
força de unificação, outra que, pela disparidade,
leva também à interação). Tanto a cooperação não
precisa ser entendida como algo racionalmente
bom ou altruísta (o desencantar da visão sobre
cooperação, que o autor nos mostra), quanto o
conflituoso ou contraditório não deve ser visto
como um muro instransponível à cooperação, mas
sim como possibilidade que estimula e move os
processos de interação.
Mas o que significa “interatividade”? A
resposta dessa questão cabe a você, caro leitor,
desvendar na obra. As teorias tradicionais que
sempre serviram de base às discussões dos
processos comunicacionais agora exigem um
passo além, um novo olhar para poder explicar
esse novo ‘universo’ que se apresenta. É o que
Primo nos propõe. Ele exige um repensar acerca
das nossas certezas. Ao se deleitar, relevantes
apontamentos virão e, com eles, novas questões,
outras dúvidas, um tema instigante e, por hora,
ainda pouco edificado. As fronteiras ainda estão
sendo demarcadas. Convido-lhe a percorrer esta
trilha. Devolvo a palavra. Passo-a para você. Qual
o seu olhar sobre a ‘interação mediada por
computador’?

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