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DIREITO PENAL PARTE GERAL


META 01
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 1

ATENÇÃO: este curso é protegido por direitos autorais (copyright), nos termos
da Lei 9.610/98, que altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos
autorais e dá outras providências.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 2

Sumário
INTRODUÇÃO 3

1. CONCEITO E OBJETO 6

PONTO DO EDITAL: 1. Introdução ao direito penal. 1.1 Conceito, caracteres e função do direito penal. 6

QUAL O CONCEITO E O OBJETO DO DIREITO PENAL? 6

O que são as Infrações Penais? 6

Quais as diferenças entre crime (ou delito) e contravenção penal? 7

2. CARACTERES 14

3. FUNÇÕES 17

4. PRINCÍPIOS 19

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ESTRITA OU DA RESERVA LEGAL (CF, ART. 5º, XXXIX E CP, ART. 1º) – NULLUM CRIMEM NULLA POENA SINE LEGE 20

ANTECEDENTES HISTÓRICOS 21

FUNDAMENTO POLÍTICO 21

PRINCÍPIO DA TAXATIVIDADE (MANDATO DE CERTEZA) 23

MEDIDAS PROVISÓRIAS EM MATÉRIA PENAL 24

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA 27

DIFERENÇA ENTRE OS PRINCÍPIOS DA INSIGNIFICÂNCIA E DA OFENSIVIDADE 30

O FURTO DE BAGATELA E O LADRÃO HABITUAL 31

Princípio da Insignificância e Crimes de Menor Potencial Ofensivo 35

Princípio da Insignificância e Crimes Tributários 35

Princípio da Insignificância e Tributos Estaduais 36

Princípio da Insignificância aos Crimes de Apropriação Indébita Previdenciária 38

Princípio da Insignificância nos crimes de contrabando e descaminho 38

Princípio da insignificância à Posse de Drogas da Lei de Drogas (art. 28. Lei n 11.343/2006) 43

Princípio da insignificância ao tráfico de Drogas da Lei de Drogas (art. 33, Lei n 11.343/2006) 46

Princípio da insignificância nos crimes do Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/2003) 47

Princípio da insignificância em crimes contra a fé pública 49

Princípio da insignificância nos Crimes Contra a Administração Pública 50

Princípio da insignificância em crimes ambientais 54

Princípio da insignificância aos crimes ou contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas 56

Esse tema foi objeto de Súmula recente do STJ, que assim descreve: é inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados contra a
mulher no âmbito das relações domésticas (Súmula 589). 56

Princípio da insignificância aos atos infracionais 56

Princípio da Insignificância no crime de estelionato previdenciário (no art. 171, § 3º, do CP) 57

Princípio da insignificância no de crime exploração clandestina de sinal de internet 58

PRINCÍPIO DA IRRELEVÂNCIA DO FATO (OU DA PENA) 62

PRINCÍPIO DA ALTERIDADE 65

PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL 66

PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA 68

PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE (OU ESSENCIALIDADE) 69

5. POLÍTICA CRIMINAL 71

PONTO DO EDITAL: 1.3 Relações com outros ramos do direito. 1.4 Direito penal e política criminal. 71

INTRODUÇÃO 71

6. CRIMINOLOGIA 73

7. RESUMO DA AULA 75
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INTRODUÇÃO

Dois jovens rapazes saem do local onde moram na periferia de Brasília. Um


deles, com 19 anos de idade, portando uma pistola; o outro, com 16 anos de
idade, portando um revólver.

Ambos se dirigem a um posto de combustíveis, localizado em Taguatinga-


DF, com a intenção de assaltá-lo. É data próxima ao Natal, e os bandidos querem
aproveitar o maior movimento da data. Quando chegam ao local, por fatídica
coincidência, ali também chega outro rapaz, a quem vou dar o nome de José.

José estava no Distrito Federal há três anos, e aqui estava a convite de um


primo que era borracheiro no mesmo posto de combustíveis em que ocorrem os
acontecimentos. José, assim como seu primo, veio de outra unidade da
federação em busca de melhores condições de vida.

José, já no Distrito Federal, frequentou um curso profissionalizante de


instalador de sons automotivos e passou a trabalhar na área. Como seu trabalho
era muito bom e como José era muito inventivo, começou a prestar serviços
para pessoas que faziam competições desse tipo.

José começou a ganhar algum dinheiro. Pelo menos, o suficiente para que
ele comprasse uma pequena casa em um bairro periférico de Brasília. Pretendia,
como comentara com amigos, trazer sua esposa e seu filho pequeno que
estavam em seu estado de origem.

Com o dinheiro que ganhava conseguiu, além disso, um financiamento


bancário de um carro tipo pick up, no qual instalou vários acessórios. Montou,
do mesmo modo, um equipamento de som digno de ganhar qualquer competição
de que eventualmente participasse.

Por uma dessas coincidências da vida, José estava no posto de combustíveis


ao mesmo tempo em que ali chegavam os dois assaltantes. José apenas queria
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mostrar o resultado da instalação dos equipamentos ao primo borracheiro.


Ocorre que, quando os dois assaltantes viram o carro, mudaram o foco de sua
empreitada criminosa. Decidiram, assim, assaltar José e levar o veículo. É o que
os bandidos chamam de cavalo doido, quer dizer, fora do planejamento
criminoso.

Ao abordarem a vítima, sem que esta demonstrasse qualquer reação, um


dos rapazes efetuou vários disparos que acabaram por atingi-la, levando-a à
morte.

Esse fato verídico tem se tornado comum no dia-a-dia das grandes


cidades brasileiras.

O crime, como se vê, não é primariamente um fenômeno jurídico. É, antes


de tudo, um fenômeno social. O que a ciência do Direito faz é transformar
esse fato social em um fato com relevância jurídica. Da mesma forma, o
casamento é um fato da vida real, mas que o Direito regula, transformando
aquilo que é apenas um fato social em um fato jurídico.

O crime é, enfim, um fenômeno social que o Direito tratou de regular, ou


seja, tratou de estabelecer um sistema científico para que seja possível a
imputação jurídico-penal (atribuição da responsabilidade penal) a determinada
pessoa.

No entanto, nem sempre foi assim. Até a primeira teoria jurídica do crime,
surgida por volta de 1900 na Alemanha (Sistema Liszt/Beling), não existiam
métodos jurídicos para correta análise de um fato social danoso como esse que
relatei acima. Então, o Juiz “A” poderia ter um entendimento sobre o caso
completamente diferente de um Juiz “B”. Isso dependeria das convicções
(filosóficas, sociológicas etc.) de cada um deles.

Naquele tempo o Direito Penal (e o próprio Direito como um todo) não


apresentava método próprio de estudo que o distinguisse de outras ciências.
Não existia um ponto de vista puramente jurídico, ou seja, a análise do fato
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sempre levava em consideração ponderações do tipo: por que o autor matou?


(Consideração psicológica); quais são as circunstâncias sociais que levam um
indivíduo a praticar o crime? (Consideração sociológica); quais são as
características inatas de um criminoso? (Critério biológico) etc.

Tais ponderações são muito importantes em determinados momentos do


estudo do fenômeno infracional (no cálculo da pena, por exemplo), mas afasta
o aplicador do Direito Penal de critérios lógicos e formais da solução do problema
estudado. E qual é o problema a ser estudado pelo aplicador da lei penal?
Simples assim: o agente praticou um fato típico (leia-se, é um fato descrito na
lei penal)? Esse fato típico é contrário ao direito (leia-se, é ilícito)? Em sendo
contrário ao direito, é culpável ao autor (leia-se, há reprovabilidade)?

Achando respostas positivas para as questões acima, o aplicador da lei


penal continua seu questionamento: considerando que estamos diante de um
fato típico, ilícito e culpável, há possibilidade de se aplicar a punição respectiva
ao autor (leia-se, é punível)? É possível que a pena já tenha sido prescrita
(“caducada”), como exemplo, o que afastaria a punibilidade etc.

O que vamos estudar são justamente as etapas que devem ser analisadas
para que, ao final, possa-se afirmar que o indivíduo cometera uma infração
penal. E, mais do que isso, se poderá ser punido pela infração cometida. Trata-
se de um olhar jurídico (científico) e não apenas sociológico, filosófico ou
biológico do fenômeno estudado.

Antes de adentrarmos na teoria do crime, preciso que você entenda o que


estamos estudando. Ou melhor, qual é o objeto do nosso estudo?
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1. CONCEITO E OBJETO

PONTO DO EDITAL: 1. Introdução ao direito penal. 1.1 Conceito,


caracteres e função do direito penal.

QUAL O CONCEITO E O OBJETO DO DIREITO PENAL?

Bom, nos propusemos a estudar o Direito Penal. O que seria isso então?

Eu gosto de conceitos objetivos e concisos. Poderia citar vários conceitos


de autores renomados, mas isso mais complica do que ajuda. Além disso, o
conceito deve ser significativo, no sentido de apresentar para você alguma
informação relevante. Então, aí vai o meu conceito de Direito Penal.

O Direito Penal é a ciência jurídica que estuda as infrações penais.

Podemos afirmar, dessa forma, que o Direito Penal é um campo da ciência


que tem como objeto de estudo as infrações (violações) às leis penais. Resta-
nos decifrar o que seria, exatamente, “infração penal”.

O que são as Infrações Penais?

No Brasil, existem duas maneiras de se infringir uma lei penal (sistema


dicotômico). Digo, existem duas possibilidades de se cometer uma infração
penal. A primeira forma de se infringir a lei penal é através da prática de um
Crime (sinônimo de Delito); a outra forma de infração penal é a Contravenção
Penal.

Resumindo, podemos dizer que Crime e Contravenção são espécies do


gênero Infração Penal.

Olha, não vamos confundir teoria dicotômica com teoria tripartida ou


bipartida do crime. São coisas diferentes, estudadas em momentos distintos.
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No Brasil, adota-se a teoria dicotômica para classificar as infrações penais. Isso


é bem tranquilo.

Quais as diferenças entre crime (ou delito) e contravenção penal?

Uma ótima forma de estabelecer distinções entre dois objetos é,


primeiramente, descobrir o que há de comum em ambos. Se eu quiser distinguir
“laranja” de “tangerina”, preciso saber, antes de qualquer coisa, que se trata de
duas frutas. Sabemos, nesse passo, que o Crime e a Contravenção possuem
algo em comum. Ambas são formas de infração penal.

Sabendo que laranja é uma fruta e que tangerina também é uma fruta,
posso distingui-las, basicamente, de duas formas: 1º aspecto visual: laranjas
têm aparência diferente de tangerinas; 2º pelo sabor: ao provar, posso distinguir
o gosto das duas frutas.

Quando trato de Crime e Contravenção, posso usar processo semelhante.


Inicialmente, aprendemos que ambas são espécies de infrações penais. Agora
resta-nos apontar as diferenças existentes entre elas:

1ª Diferença: legislativa

Não há como saber se uma conduta é criminosa ou contravencional


(contravenção penal) sem conhecer a “letra da lei”. A decisão sobre um fato ser
considerado crime ou contravenção é de quem fez a lei, leia-se, do legislador.

Explico: a primeira grande diferença entre as duas infrações penais é o local


onde estão documentadas.

É fácil, veja só:

Os Crimes estão previstos no Código Penal (Decreto-Lei n.o 2.848/1940),


bem como nas Leis Penais Especiais (também chamadas de Leis Penais
Extravagantes). Como exemplos dessas últimas, temos: crimes de drogas (Lei
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11.343/2006); crimes de arma de fogo (Lei 10.826/03); crimes ambientais (Lei


9.605/98); crimes de trânsito (Lei 9.503/98), entre muitos outros.

As Contravenções Penais estão previstas em uma lei específica, o Decreto-


Lei n.º 3.688/1941. Essa lei tem o nome de Lei de Contravenções Penais.

O legislador, por meio de lei federal (princípio da legalidade), pode criar


novos tipos penais (leiam-se, novos crimes), revogá-los, alterá-los. Pode, além
disso, transformar uma Contravenção em Crime. É uma decisão meramente
política.

Existem situações que antes eram consideradas Contravenções, mas por


decisão do legislador passaram a ser crime. O porte de arma de fogo, por
exemplo, era considerado contravenção e hoje, pelo Estatuto do Desarmamento,
é considerado crime. Quero dizer com isso que não existe uma diferença
conceitual entre crime e contravenção.

Interessante que, falando da Lei de Contravenções, ela costuma tratar de


situações muito menos graves do que o Código Penal. É por isso que o grande
penalista brasileiro Nelson Hungria apelidava a Contravenção Penal de “crime
anão”.

2ª Diferença: Crimes são, em regra, mais graves.

Uma segunda diferença, então, entre crime e contravenção seria o fato de


que os crimes costumam ser mais graves do que as contravenções e até
por isso as penas dos crimes são, em regra, mais pesadas.

Imagine que você esteja assistindo a uma peça de teatro. Uma peça de
Shakespeare, por exemplo. No meio do espetáculo, um sujeito começa a
conversar ao celular, atrapalhando a interpretação dos atores. Acreditem ou não,
mas existe uma contravenção penal nessa conduta.
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Veja só: Art. 40. Provocar tumulto ou portar-se de modo


inconveniente ou desrespeitoso, em solenidade ou ato oficial,
em assembleia ou espetáculo público, se o fato não
constitui infração penal mais grave. Pena – prisão simples,
de quinze dias a seis meses, ou multa, de duzentos mil réis
a dois contos de réis

Seria um exagero considerar a situação acima criminosa. A reprimenda


prevista para a Contravenção já é mais do que suficiente para prevenir e refrear
a conduta.

Muitos penalistas modernos, por isso, defendem que a Lei de Contravenções


deveria ser revogada, uma vez que o Direito Penal não poderia se ocupar de
situações de pequena monta, de pouca relevância para a vida em sociedade.

3ª Diferença: espécies de penas

Em decorrência da segunda diferença acima, é natural que a qualidade das


penas cominadas (atribuídas) a Crimes seja diferente da aplicada às
Contravenções. Os Crimes são apenados com reclusão, detenção e multa.
As Contravenções, com prisão simples e multa.

Qual a diferença entre elas?

a. Reclusão: o agente pode iniciar o cumprimento da pena em regime


fechado, semiaberto ou aberto, dependendo da pena concreta;

b. Detenção: o agente pode iniciar o cumprimento em regime


semiaberto ou aberto. Caso descumpra as regras de tais regimes, pode
regredir para o regime fechado, mas nunca iniciar nesse regime;

c. Prisão Simples: Prisão simples é a pena cumprida sem rigor


penitenciário em estabelecimento especial ou seção especial de prisão comum,
em regime aberto ou semiaberto. Trata-se de pena aplicada em face de
contravenção penal (Lei das Contravenções Penais - Decreto Lei nº3.688/1941).
Somente são admitidos os regimes aberto e semiaberto. É vedado o emprego
do regime fechado para o cumprimento de pena por contravenção penal,
mesmo em caso de regressão.
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Como esse tema já foi cobrado:

(Delegado de Polícia/PCPE/2016) O condenado por contravenção penal,


com pena de prisão simples não superior a quinze dias, poderá cumpri-la, a
depender de reincidência ou não, em regime fechado, semiaberto ou aberto,
estando, em quaisquer dessas modalidades, obrigado a trabalhar.1

4ª Diferença: não se admite tentativa nas Contravenções Penais

A quarta diferença é que os crimes podem admitir tentativa, as


contravenções são factíveis a tentativa, mas não são puníveis.

Eu digo que os crimes podem admitir tentativa porque existem situações


que não se admite tentativa em crime. Vamos ter uma aula específica sobre o
tema, então vou deixar para aprofundar assunto em momento oportuno. Por
enquanto, é suficiente que você saiba que as contravenções penais são factíveis
a tentativa, mas não são puníveis a forma tentada, pois a Lei de Contravenções
expressamente a proíbe (art. 4º).

Na prática, seria até possível a tentativa de contravenção, mas a lei proíbe


sua punição. Por isso, juridicamente, a tentativa é impossível.

1
Gabarito: errado.
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Como esse tema já foi cobrado:

(Juiz/TJDFT/2016) A tentativa de contravenção penal não é passível de


punição legal.2

(Delegado de Polícia/PCDF/2015) Nos termos da Lei das Contravenções


Penais, é punível a tentativa de contravenção.3

(Delegado de Polícia/PCBA/2013) A tentativa de contravenção, mesmo que


factível, não é punida.4

(Delegado de Polícia/PCAL/2012)Apesar de, no campo fático, ser possível


ocorrer a tentativa de contravenção penal, esta, quando se desenvolve na forma
tentada, não é penalmente alcançável.5

5ª Diferença: princípio da extraterritorialidade

O Código Penal prevê, como regra, o princípio da territorialidade (art. 5º,


caput), determinando que os crimes praticados em território nacional devem
aqui ser julgados. Permite, no entanto, que, em determinadas circunstâncias,
crimes cometidos no estrangeiro sejam também julgados no Brasil (princípio da
extraterritorialidade, art. 7º do CP). Exemplo: crime contra a vida do Presidente
da República do Brasil ocorrido no estrangeiro. Em resumo, o Brasil aplica como
regra o princípio da territorialidade (crimes cometidos no Brasil, julgamento no
Brasil), mas permite a extraterritorialidade (crimes cometidos no estrangeiro,
julgamento no Brasil).

A Lei de Contravenções, de outra forma, só admite a aplicação do princípio


da territorialidade, não punindo condutas ocorridas fora dos limites territoriais
brasileiros.

2
Gabarito: correto.

3
Gabarito: errado.

4
Gabarito: correto.

5
Gabarito: correto.
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Bom, eu poderia citar dezenas de diferenças entre crimes e contravenções,


mas neste ponto eu só quero demonstrar para você que são coisas juridicamente
distintas.

Este é um assunto que aparece em todo edital para Delegado e consta de


quase todos os manuais de Direito Penal. Mesmo assim, é muito negligenciado.
Estudar os caracteres do Direito Penal é o primeiro passo para começar a
adentrar nessa selva cheia de animais perigosos que colocam muita gente para
correr. Estude o assunto com cuidado, pois ele vai te ajudar a criar as bases
fortes para dominar o Direito Penal.

Como esse tema já foi cobrado:

(Delegado de Polícia/PCPE/2016) O brasileiro nato, maior e capaz, que


praticar vias de fato contra outro brasileiro nato responderá por contravenção
penal no Brasil, ainda que a conduta tenha sido praticada em território
estrangeiro.6

OUTROS CONCEITOS IMPORTANTES

Fala-se, além disso, no Direito Penal objetivo (jus poenale), que nada
mais é do que o conjunto de normas que definem crimes e sanções. Assim, o
Código Penal e as Leis Penais Especiais fazem parte do Direito Penal objetivo.

Já no sentido subjetivo (jus puniendi), diz respeito ao direito de punir do


Estado (princípio da soberania), como ensina Luiz Regis Prado.

Por fim, alguns doutrinadores sub classificam o Direito Penal subjetivo em:

Direito Penal Subjetivo Positivo: competência do Estado para criar e


executar normas penais;

6
Gabarito: errado.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 13

Direito Penal Subjetivo Negativo: competência do Estado para expurgar


normas inconstitucionais, bem como revogar ou limitar legislativamente o
alcance de normais penais.

Como esse tema já foi cobrado pelo CESPE:

(CESPE/Analista Legislativo/Câmara) O direito penal subjetivo refere-se ao


conjunto de princípios e regras que se ocupam da definição das infrações penais
e da imposição de penas ou medidas de segurança. 7

(CESPE/Analista Legislativo/Câmara) O direito de punir do Estado está


vinculado ao direito penal substantivo, ou direito penal objetivo. 8

7
Gabarito: errado.

8
Gabarito: errado.
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2. CARACTERES

QUAIS SÃO OS CARACTERES DO DIREITO PENAL?

Quando perguntamos quais seriam os caracteres do Direito Penal,


estamos nos referindo àquelas características que o diferenciam de outros
ramos do Direito. Muito bem, a gente vai aprofundar essas características
durante as aulas, mas vamos estabelecer um aspecto geral aqui neste momento:

As principais características são:

a) O Direito Penal é fragmentário: pois representa a ultima ratio do


sistema jurídico de proteção aos bens jurídicos.

O Direito Penal é subsidiário e fragmentário. Ou seja, busca-se a resolução


por outros ramos do direito.

Esta característica do Direito Penal é, na verdade, uma consequência do


princípio da intervenção mínima, que estudaremos à frente.

Imagine que o sistema jurídico é um pacote de Cheetos Bolinha. O Direito


Penal é apenas uma bolinha do pacote. E o que é mais importante, é a última
bolinha do pacote. Você só consegue comer a última bolinha se comer todas
as outras primeiramente.

O problema é que essa característica, se desrespeitada, enfraquece o


Direito Penal. Quando o Estado tenta resolver os problemas criando normas
penais, numa verdadeira inflação legislativa, é como se estivéssemos dando
antibiótico para quem está resfriado. O que acontece com o antibiótico? Perde o
efeito. É exatamente isso que está acontecendo com o Direito Penal. O Direito
Penal é o antibiótico do Direito. Não pode ser usado como primeira opção de
tratamento.

Pense no crime do art. 273 do CPB, que trata como crime hediondo a venda
de cosméticos falsificados (entre outras condutas). Imagine só. Consegue
compreender o problema? Nas nossas aulas vamos discutir mais isso. Sigamos
em frente.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 15

Como este tema já foi cobrado:

(CESPE/DELEGADO/PCRN) Cabe ao legislador, na sua propícia função,


proteger os mais diferentes tipos de bens jurídicos, cominando as respectivas
sanções, de acordo com a importância para a sociedade. Assim, haverá o ilícito
administrativo, o civil, o penal etc. Este último é o que interessa ao direito penal,
justamente por proteger os bens jurídicos mais importantes (vida, liberdade,
patrimônio, liberdade sexual, administração pública etc.). O direito penal tem
natureza fragmentária, ou seja, somente protege os bens jurídicos mais
importantes, pois os demais são protegidos pelos outros ramos do direito 9

(JUIZ/TJMG/2014) O direito penal possui natureza fragmentária, ou seja,


somente protege os bens jurídicos mais importantes, pois os demais são
protegidos pelos outros ramos do direito. Parte inferior do formulário10

b) O Direito Penal possui sanções específicas, quais sejam: a pena e a


medida de segurança. As penas do Direito Penal, por sua vez, têm características
bem diferentes das de outros ramos (ex.: multa penal é bem diferente de multa
de trânsito);

A ideia é a de que quando o cara ouvir o termo PENA (no sentido do Direito
Penal) ele já fique com medo. É a teoria da coação psicológica de
Feuerbach. Eu não cometo crime porque tenho medo da força da pena do
Direito Penal. A ideia, portanto, é que ele saiba a diferença psicológica entre
dirigir embriagado (crime) e dirigir com o IPVA atrasado (infração de trânsito).

c) Possui, além disso, uma finalidade preventiva, pois a ideia é que a


própria existências dos tipos penais e das sanções respectivas motivem as
pessoas a não praticarem crimes. Lembre-se que isso é denominado de função
motivadora do Direito Penal;

9
Gabarito: correto.

10
Gabarito: correto.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 16

A teoria da coação psicológica também entra aqui. Só que as pessoas podem se


motivar por várias razões, inclusive por medo da pena. O mais legal disso é o molde
didático. A pena tem um forte caráter didático. A prisão também. Eu penso muito nisso
quando estou autuando alguém. Se uma pessoa é presa, as pessoas notam o
funcionamento do sistema penal. Isso gera confiabilidade e segurança.

Vou além. A prisão de uma pessoa, em determinadas circunstâncias, pode ser um


bem para ela.

Que isso, Valente? Está louco?

Não. Em muitas situações de dependência química, por exemplo, a prisão e a pena


servem como motivadores para o sujeito largar o vício. Hoje, com o CRACK, muita gente
boa vem se perdendo. Talvez, seja o choque de realidade que ela (ou ele) precisa.

d) É ciência normativa, pois é guiada pela norma, em respeito ao princípio da


legalidade.

O Direito Penal, através da norma penal, serve como importante fator de controle
social. É o controle forte e formalizado, através da infração penal e da sanção, sempre
previstos na lei.

e) O Direito Penal também é valorativo, querendo dizer que se baseia em uma


escala de valores estabelecidos por suas regras e princípios, sempre em respeito à
Constituição.

f) É uma ciência cultural, pois representa as ciências do “dever-ser” (não se


deve matar, porque a norma assim proíbe). Ao contrário da Criminologia, que se
preocupa com o “ser” (o crime ocorre por esse ou aquele motivo);

Isso não quer dizer que o Direito Penal não se preocupe com as causas do crime.
Não é isso. Ocorre que o penalista está mais direcionado ao estudo da norma do que
situações causais-explicativas.

g) O Direito Penal tem caráter finalista, pois tem a finalidade de proteger bens
jurídicos fundamentais (vida, patrimônio, liberdade sexual etc);

h) Finalmente, o Direito Penal tem caráter sancionador, pois se vale de sanções


penais para fazer valer suas normas.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 17

3. FUNÇÕES

FUNÇÕES DO DIREITO PENAL

O Direito Penal é um importante instrumento para a realização da justiça.


Naturalmente, ele ganha determinados papéis em relação ao bom convívio das
pessoas. Nesse sentido, estas são as principais funções do Direito Penal:

a) Proteção de bens jurídicos: bens jurídicos são valores protegidos pelo


direito (vida, liberdade, fé pública etc.). Importante anotar que o Direito Penal
deve ser reservado para proteger apenas os bens jurídicos mais importantes,
pois sua reação é muito forte (penas).

b) Controle Social: deve servir à garantia da paz coletiva.

c) Garantia: o Direito Penal também representa um escudo de proteção ao


cidadão, na garantia de que somente as condutas previstas como criminosas
pela lei terão relevância para o Direito Penal.

d) Função ético-social (função criadora ou “mínimo ético”): o Direito


Penal também serve como importante fator pedagógico, uma vez que acaba
criando na consciência coletiva o respeito aos bens jurídicos protegidos.
Inclusive, mesmo que aqueles valores ainda não tenham sido tomados como
essenciais (ex.: respeito ao meio-ambiente, à segurança da internet).

e) Função simbólica: a aplicação do Direito Penal gera na mente das


pessoas a ideia de que a criminalidade está sendo combatida. Mas, isso não é
verdade. Criminalidade não se combate com o Direito Penal, mas TAMBÉM com
o Direito Penal. Querer acabar com a criminalidade através do Direito Penal é o
mesmo que, nas palavras do Professor Ney Moura Teles, “eliminar a infecção
com analgésico”.

f) Função motivadora do Direito Penal: a ideia é a de que a própria


existências dos tipos penais e das sanções respectivas motivem as pessoas a
não praticarem crimes. Tem relação com a finalidade preventiva do Direito
Penal.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 18

g) Função promocional: o Direito Penal é um instrumento de


transformação social.

Só que essa concepção promocional do Direito Penal tem sido apresentada


de forma bem negativa. O Criminalista italiano Alessandro Baratta, bastante
respeitado no mundo jurídico e criminológico, é quem trata disso.

Segundo essa concepção, surgem duas vertentes do Direito Penal


Promocional:

a) Expansão do Direito Penal: criação de normas penais em larga escala


como forma de acalmar a população em relação ao combate ao crime;

b) Administrativização do Direito Penal: com o aumento dos riscos da


vida em sociedade (trânsito, comunicação de ultra velocidade, armas etc.), o
Direito Penal passa a criar proteções a meros perigos de crime. Ou seja, ele se
antecipa ao dano, criando tipos penais que seriam mais afetos às punições
administrativas. Isso fica bastante claro na criminalização de diversas infrações
de trânsito. É o que Ulrich Beck chama de “gestão punitiva de riscos gerais”.

Como esse tema já foi cobrado:

(Delegado/PCAC/2017) A sociedade pós-industrial foi denominada por


Ulrich Beck como uma “sociedade do risco”, ou uma “sociedade de riscos”
(Risikogesellschaft). Com efeito, essa nova configuração social produz reflexos
nas searas da teoria do bem jurídico-penal e dos princípios correlatos. Uma das
consequências desse fenômeno é a chamada “administrativização” do direito
penal, sobre a qual é correto falar que é uma forma de expansão do direito
penal, em que este, que normalmente reage a posteriori quanto ao fato lesivo
individualmente delimitado, se converte em um direito de gestão punitiva de
riscos gerais11

11
Gabarito: Correto
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 19

4. PRINCÍPIOS

PONTO DO EDITAL: 1.2 Princípios básicos do direito penal.

PRINCÍPIOS E SUAS FUNÇÕES

O direito penal cuida do estudo das regras e princípios que regem as


infrações penais (crimes e contravenções penais), desde sua criação até a sua
execução concreta (cumprimento de pena ou medida de segurança). Mas, existe
diferença entre norma e princípio?

A norma jurídica, em geral, é comumente dividida em duas espécies: as


regras jurídicas (ou normas em sentido estrito) e os princípios jurídicos. As
regras seriam normas específicas disciplinadoras de comportamentos
específicos. Os princípios jurídicos seriam regras de abrangência mais ampla do
que as normas em sentido estrito.

Assim também é na vida. Existe o princípio de respeito e educação com as


pessoas. Existe a regra social (não escrita) de que devemos cumprimentar as
pessoas conhecidas. A norma de convivência social é rompida quando
desrespeitamos isso. Isso gera sanções sociais (perdemos amizades, ficamos
tachados de “mal-educados”).

A proibição do furto prevista no artigo 155 do CP seria uma regra (ou norma
em sentido estrito). A determinação de que só existe crime se houver lei anterior
que o defina, art. 1º do CP, é um princípio jurídico.

Então, basicamente, as regras são normas mais específicas e os princípios


normas mais abrangentes, que se irradiam para todas as normas jurídicas. Por
essa razão, podemos afirmar que os princípios estão em nível hierárquico
superior em relação às normas específicas. Eles têm mais importância para o
direito como um todo.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 20

Os princípios são, portanto, valores basilares que impõem a criação e a


conservação do sistema jurídico. São alicerces que sustentam todo o
ordenamento jurídico, servindo de critério orientador para a correta
interpretação das regras jurídicas.

Para resumir, os princípios penais são normas orientadoras de interpretação


e aplicação do direito penal.

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ESTRITA OU DA RESERVA LEGAL (CF, ART.


5º, XXXIX E CP, ART. 1º) – NULLUM CRIMEM NULLA POENA SINE LEGE

Em termos gerais, já vimos que normas penais são criadas exclusivamente


por meio de lei (ordinária, em regra). O princípio da legalidade determina que
outras espécies legislativas, que não leis ordinárias ou complementares, são
impróprias para criar regras de direito penal. Além disso, cabe somente à União
legislar sobre direito penal. É o que se denomina de princípio da legalidade
estrita (ou reserva legal).

Para ser mais técnico, o termo “legalidade” estaria relacionado com o


respeito às leis em geral. Já o princípio da “reserva legal” significa que
determinados institutos jurídicos estão reservados à lei, ou seja, só lei poderia
criá-los. Nesse sentido, alguns doutrinadores ensinam que o termo correto a ser
aplicado no direito penal é “princípio da reserva legal”, uma vez que é reservada
ao direito penal a criação de normas apenas por leis ordinárias e
complementares.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 21

Como esse tema já foi cobrado:

(Juiz/TJMG/2014) O princípio da legalidade penal, do qual decorre o


princípio da reserva legal, impede o uso dos costumes e analogia para criar tipos
penais incriminadores ou agravar as infrações existentes.12

ANTECEDENTES HISTÓRICOS

O princípio da legalidade tem como antecedente histórico a revolução


burguesa (Revolução Francesa), e sua forma latina (nullum crimem nulla poena
sine lege) foi inspirada nos escritos de Anselm Feurbach.

A construção do princípio, para Feurbach, baseava-se em dois aspectos:

a) concepção preventivo-geral (ou da coação psicológica) da pena, ou seja,


de que a existência legal do crime e da respectiva pena deveriam funcionar com
uma forma de “coação psicológica”, intimidando as pessoas para que não
cometam delitos pela mera ameaça de pena;

b) a defesa do cidadão contra o próprio Estado. Ou seja, com o fim do


Estado absolutista e criação do Estado liberal, os cidadãos passam a ter
garantias contra o abuso dos governantes. Essa garantia é justamente a lei.

FUNDAMENTO POLÍTICO

O fundamento político do princípio da legalidade é a proteção do ser humano


em face do arbítrio do poder de punir do Estado. Nesse sentido, a legalidade
impõe a proibição:

12
Gabarito: correto.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 22

(a) da retroatividade da lei para criminalizar ou agravar fato anterior à


existência da lei;

(b) do costume como fundamento ou agravação de crimes e penas;

(c) da analogia como método de criminalização ou de punição de condutas;

(d) indeterminação dos tipos penais e das respectivas sanções Princípio da


Taxatividade (mandato de certeza).

ATENÇÃO!

Neste momento, apresentarei apenas as características gerais


do princípio da legalidade. Na aula sobre aplicação da lei penal
vamos ver quais os efeitos do princípio na aplicação da norma
ao fato concreto (irretroatividade, poder legislativo penal,
analogia, norma penal em branco etc).

Como esse tema já foi cobrado:

(Juiz de Direito do TJSP/2016) O princípio da legalidade desdobra-se nos


postulados da reserva legal, da taxatividade e da irretroatividade. O primeiro
impossibilita o uso de analogia como fonte do direito penal; o segundo exige que
as leis sejam claras, certas e precisas, a fim de restringir a discricionariedade do
aplicador da lei; o último exige a atualidade da lei, impondo que seja aplicada
apenas a fatos ocorridos depois de sua vigência. 13

13
Gabarito: correto.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 23

PRINCÍPIO DA TAXATIVIDADE (MANDATO DE CERTEZA)

O legislador deve evitar a criação de tipos demasiadamente abertos,


indeterminados que são aqueles em que a descrição típica é incompleta,
devendo ser completados por um raciocínio do juiz.

Mas e quando a criação de normas vagas, incompletas, abertas, fere o


princípio da legalidade?

As leis penais indefinidas e obscuras favorecem interpretações


idiossincráticas (segundo o ponto de vista de cada um) e dificultam o
conhecimento da proibição. É o que ocorria com o revogado crime de rapto
violento14, ao usar o termo “mulher honesta”. Na velha lição de Hungria, mulher
honesta é "não somente aquela cuja conduta, sob o ponto de vista da moral, é
irrepreensível, senão também aquela que ainda não rompeu com o minimum de
decência exigido pelos bons costumes".

Para se determinar o que seria “mulher honesta”, o juiz tinha uma abertura
muito grande de interpretação, o que viola o princípio da legalidade. É óbvio que
toda regra jurídica possui algum nível de indeterminação. Isso é inevitável.
Pense, como exemplo, no tipo penal que descreve “expor ou abandonar recém-
nascido, para ocultar desonra própria” (art. 134). Várias interpretações podem
ser feitas sobre os termos apresentados pela norma. Por exemplo: até quando
uma criança é considerada “recém-nascida”? O que é desonra? Etc. Seja como
for, o princípio da legalidade pressupõe um mínimo de determinação da lei para
evitar que direitos fundamentais sejam desrespeitados.

14
Art. 219 - Raptar mulher honesta, mediante violência, grave ameaça ou fraude, para fim libidinoso: Pena - reclusão, de
2 (dois) a 4 (quatro) anos.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 24

A revogada Lei de Segurança Nacional (Lei nº 7170/83), como exemplo,


estabelecia um crime por demais indefinido. Veja: Art. 23 - Incitar: I - a
subversão da ordem política ou social.

Mas, observe que a criação de tipos abertos não está totalmente vedada
em direito penal, devendo o legislador evitar termos obscuros e dúbios.

Como esse tema já foi cobrado:

(Juiz de Direito TJMG/2014) O princípio da taxatividade, ao exigir lei com


conteúdo determinado, resulta na proibição da criação de tipos penais abertos. 15

MEDIDAS PROVISÓRIAS EM MATÉRIA PENAL

Só para lembrar que as medidas provisórias foram inseridas na Constituição


para afastar a antiga espécie normativa denominada decreto-lei. O nosso Código
Penal é um exemplo do tal decreto-lei.

O problema das medidas provisórias é que elas são emanadas do Poder


Executivo Federal, tendo força de lei, e só posteriormente são analisadas pelo
Congresso Nacional. É muito poder.

O art. 62 da CF proíbe expressamente MP's em matéria penal. Essa vedação


está presente, mesmo que a Medida Provisória seja convertida em lei 16.

Como já tivemos oportunidade de afirmar, somente por meio de lei


ordinária ou complementar, em respeito ao princípio da reserva legal, pode-se
criar normas penais. Dúvida suscitada em doutrina diz respeito à possibilidade

15
Gabarito: errado.

16
4 Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força
de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 32, de
2001) § 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)
I – relativa a: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) (...) b) direito penal, processual penal e processual
civil; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) (...)
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 25

de MPs serem criadas em matéria penal benéfica. O STF tem uma antiga decisão
em sentido positivo, nos seguintes termos:

Medida provisória: sua inadmissibilidade em matéria penal - não


compreende a de normas penais benéficas, assim, as que abolem crimes ou lhes
restringem o alcance, extingam ou abrandem penas ou ampliam os casos de
isenção de pena ou de extinção de punibilidade. (STF, RE 254818, DJ
19/12/2002)

Nesse sentido, perceba que a MP 417/08, que posteriormente foi convertida


em lei17, permitia que os possuidores e proprietários de armas de fogo de
fabricação nacional, de uso permitido e não registradas, deveriam “solicitar o
seu registro até o dia 31 de dezembro de 2008, apresentando nota fiscal de
compra ou comprovação da origem lícita da posse, pelos meios de prova em
direito admitidos, ou declaração firmada na qual constem as características da
arma e a sua condição de proprietário”. Esse dispositivo acabou por criar uma
hipótese de atipicidade temporária em relação à norma do art. 12 da Lei
10.826/03 (posse irregular de arma de fogo).

Bom, afinal, admite-se ou não Medida Provisória em matéria penal em


benefício do réu? Para prejudicar o réu, já temos certeza de que não é possível.

Apesar da discussão existente, penso ser mais seguro adotar que medidas
provisórias estão totalmente vedadas em direito penal, pois o art. 62 da CF não
faz qualquer distinção.

Mas, Valente, e a decisão do STF acima mencionada? Se você observar, ela


foi proferida no ano 2000. Ocorre que o art. 62 da CF teve nova redação
determinada pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001. A decisão do Supremo
deve ser repensada sob a nova escrita da Lei Maior.

17
Lei n.º 11.706/2008.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 26

A doutrina também se divide, como podemos ver no gráfico abaixo:

MP em matéria Para prejudicar Para beneficiar


penal
Damásio de Jesus Não Sim
Luís Flávio Gomes Não Sim
Cléber Masson Não Não
Rogério Greco Não Não
STF Não Sim

Como esse tema já foi cobrado:

(Delegado de Polícia / PC-PA/ AOCP/2021)É vedada a edição de medidas


provisórias sobre matéria relativa a Direito Penal (art. 62, §1º, I, alínea b, CF).
Nada obstante, o STF firmou jurisprudência no sentido de que as medidas
provisórias podem ser utilizadas na esfera penal, desde que benéficas ao
agente18.

(Juiz de Direito/TJPB/2015) As medidas provisórias podem regular matéria


penal nas hipóteses de leis temporárias ou excepcionais 19

(CESPE/2009/PGE-PE - Procurador de Estado-adaptada) Fere o princípio da


legalidade, também conhecido por princípio da reserva legal, a criação de crimes
e penas por meio de medida provisória. 20

18
Gabarito: Correto
19
Gabarito: errado.

20
Gabarito: correto.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 27

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

O Direito Penal não pode se ocupar com lesões irrelevantes aos bens
jurídicos. No exemplo do motorista que, ao fazer manobra de estacionamento,
culposamente, atinge um pedestre que ali passava, tendo este experimentado
lesão de um centímetro e sem sangramento, podemos afirmar que a integridade
física do pedestre não fora colocada em um perigo tal que justifique a
intervenção do Direito Penal.

A mera adequação formal da conduta ao tipo não seria suficiente para


realização típica. No exemplo do motorista, podemos dizer que formalmente ele
praticou a conduta descrita no art. 303 do Código de Trânsito Brasileiro. Mas a
tipicidade conglobante leva em consideração, além da tipicidade formal, também
o que se denomina de tipicidade material. Nessa, devemos considerar sempre
se o bem jurídico protegido pela norma (no caso, a integridade física) ficou
abalado a ponto de justificarmos a ação do Direito Penal.

Será que aquele arranhão de dois centímetros causado culposamente pelo


motorista justificaria o acionamento do Direito Penal? Penso que não. Podemos
dizer que o resultado causado por culpa do motorista é insignificante para o
Direito Penal. Inicialmente, o princípio era aplicado apenas em crimes
patrimoniais, com em pequenos furtos, mas hoje sua aplicação é muito mais
abrangente, como veremos.

Como esse tema já foi cobrado:

(Promotor de Justiça/MPMT/2014 - adaptada) O reconhecimento do


princípio da insignificância exclui a tipicidade material da conduta. 21

21
Gabarito: correto.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 28

Percebe-se, portanto, que o princípio da insignificância serve como


instrumento de interpretação restritiva do tipo penal incriminador.

Como esse tema já foi cobrado:

(Promotor de Justiça/MPMS/2013) O princípio da insignificância atua como


instrumento de interpretação restritiva do tipo penal. 22

REQUISITOS DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA:

A análise do princípio da insignificância (da bagatela) deve ser realizada no


caso concreto. Para que você possa acertar as questões da prova, preciso reunir
os principais posicionamentos do STJ e do STF a respeito. Seria interessante que
você passasse a acompanhar os informativos de jurisprudência e anotasse as
novas decisões a partir de agora.

O primeiro posicionamento que gostaria de mencionar, refere-se aos


requisitos para aplicação do princípio da insignificância. Basicamente, dois
aspectos são analisados:

a) Aspecto objetivo: diz respeito à lesão ao bem jurídico.

b) Aspecto subjetivo: diz respeito à análise de reprovabilidade.

22
Gabarito: correto.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 29

Como esse tema foi cobrado:

(Delegado de Polícia/ PCRJ/2012) O princípio da insignificância, decorrência


do caráter fragmentário do Direito Penal, tem base em uma orientação
utilitarista, tem origem controversa, encontrando, na atual jurisprudência do
STF, os seguintes requisitos de configuração: a mínima ofensividade da conduta
do agente; nenhuma periculosidade social da ação; o reduzidíssimo grau de
reprovabilidade do comportamento; e a inexpressividade da lesão jurídica
provocada.23

(Procurador do DF/CESPE/2013) Segundo a jurisprudência do STF e do STJ,


a aplicação do princípio da insignificância no direito penal está condicionada ao
atendimento, concomitante, dos seguintes requisitos: primariedade do agente,
valor do objeto material da infração inferior a um salário mínimo, não
contribuição da vítima para a deflagração da ação criminosa, ausência de
violência ou grave ameaça à pessoa24

Recentemente, inclusive, o STF entendeu que seria indispensável para se


aplicar o princípio da insignificância, averiguar o significado social da ação, a
adequação da conduta, a fim de que a finalidade da lei fosse alcançada. É
necessário, portanto, ter presentes as consequências jurídicas e sociais que
decorrem do juízo de atipicidade resultante da aplicação do princípio da aula
insignificância. (STF, HC 123108/MG, rel. Min. Roberto Barroso, 3.8.2015).

Em resumo, não se pode falar da aplicação do princípio da insignificância


de forma abstrata. A análise é sempre caso a caso.

23
Gabarito: correto.

24
Gabarito: errado
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 30

JURISPRUDÊNCIA

O STF já estabeleceu como requisitos objetivos e subjetivos:


a) mínima ofensividade da conduta;
b) ausência de periculosidade social da ação;
c) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento;
d) inexpressividade da lesão jurídica.

Como esse tema já foi cobrado:

(Promotor de Justiça/MPMS/2013) O princípio da insignificância


pode ser aplicado no plano abstrato.25

DIFERENÇA ENTRE OS PRINCÍPIOS DA INSIGNIFICÂNCIA E DA


OFENSIVIDADE

O princípio da ofensividade está mais ligado aos denominados crimes de


perigo. É que para que se tipifique algum crime, é essencial que haja, pelo
menos, um perigo concreto (real e efetivo) ao bem jurídico. Por isso, alguns
doutrinadores, como Bitencourt, entendem que os crimes de perigo abstrato 26
são inconstitucionais. Um exemplo de crime abstrato é o do art. 234 do CP. 27

25
Gabarito: errado.

26
Ou seja, aqueles em relação aos quais o perigo é presumido, como no porte de arma de fogo.

27
Art. 234 - Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua guarda, para fim de comércio, de distribuição ou de
exposição pública, escrito, desenho, pintura, estampa ou qualquer objeto obsceno:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.


DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 31

Como esse tema já foi cobrado:

(Delegado de Polícia/FUNCAB/2016/TJPA-adaptada) Expressiva parcela da


doutrina sustenta a inadequação do crime de escrita ou objeto obsceno (art. 234
do CP) para com os princípios que instruem o direito penal democrático. Um dos
focos dessa inadequação reside na indevida alocação do sentimento público de
pudor como objeto da tutela jurídica. Isso representa, em tese, violação ao
princípio da insignificância28

O FURTO DE BAGATELA E O LADRÃO HABITUAL

A discussão mais contemporânea sobre o tema refere-se à aplicação do


princípio da insignificância para afastar ou não o furto de bagatela praticado por
ladrão habitual, com diversas passagens etc. Vou fazer um quadro de como está
essa discussão na jurisprudência superior para ficar mais fácil.

Antes, eu preciso ressaltar que o Pleno do STF entende que o princípio da


insignificância não pode ser analisado em tese, mas somente diante de casos
reais e concretos29. Ou seja, não são adequadas perguntas como: cabe
insignificância em furto quando o autor é reincidente ou tem maus
antecedentes? Cabe a insignificância em crimes ambientais? Cabe insignificância
em latrocínio? Etc.

São perguntas muito genéricas e que impedem a análise concreta dos fatos.
Por essa razão, podemos encontrar posições diversas na jurisprudência, dando
respostas díspares para as perguntas acima.

28
Gabarito: errado. Como vimos, trata-se do princípio da ofensividade.

29
No julgamento conjunto dos HC 123.108, 123.533 e 123.734, o STF fixou orientação sobre a aplicação do princípio da
insignificância aos casos de furto – Rel. Min. Roberto Barroso, Pleno, julgados em 3.8.2015. Decidiu que, se a coisa
subtraída é de valor ínfimo (i) a reincidência, a reiteração delitiva e a presença das qualificadoras do art. 155, § 4º, devem
ser levadas em consideração, podendo acarretar o afastamento da aplicação da insignificância; e (ii) nenhuma dessas
circunstâncias determina, por si só, o afastamento da insignificância (...).
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 32

De qualquer sorte, para a sua prova, é importante que você conheça o


posicionamento majoritário dos tribunais diante de situações teóricas e abertas.

Em relação ao furto praticado por autor com maus antecedentes ou


reincidente, cabe aplicação do princípio da insignificância? A jurisprudência
majoritária é no sentido de que não seria possível.

O STF afirmou que o juiz poderá com base nas circunstâncias do caso
concreto, afastar a absolvição do réu com base no princípio da insignificância no
caso de ser reincidente.

JURISPRUDÊNCIA

A reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a


insignificância penal da conduta, à luz dos elementos do caso concreto.

No entanto, com base no caso concreto, o juiz pode entender que a


absolvição com base nesse princípio é penal ou socialmente indesejável.
Nesta hipótese, o magistrado condena o réu, mas utiliza a circunstância
de o bem furtado ser insignificante para fins de fixar o regime inicial
aberto. Desse modo, o juiz não absolve o réu, mas utiliza a
insignificância para criar uma exceção jurisprudencial à regra do art. 33,
§ 2º, “c”, do CP, com base no princípio da proporcionalidade. STF. 1ª
Turma. HC 135164/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 23/4/2019 (Info 938).

STJ, 5ª Turma Não aplica a insignificância

STJ, 6ª Turma Não aplica a insignificância

STF, 1ª Turma Aplica-se a insignificância

STF, 2ª Turma Não aplica a insignificância


DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 33

Em regra, o reconhecimento do princípio da insignificância gera a


absolvição do réu pela atipicidade material. Em outras palavras, o agente não
responde por nada. Em um caso concreto, contudo, o STF reconheceu o princípio
da insignificância, mas, como o réu era reincidente em crime patrimonial, em
vez de absolvê-lo, o Tribunal utilizou esse reconhecimento para conceder a
substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Em razão
da reincidência, o STF entendeu que não era o caso de absolver o condenado,
mas, em compensação, determinou que a pena privativa de liberdade fosse
substituída por restritiva de direitos (STF. 1ª Turma. HC 137217/MG, Rel. Min.
Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 28/8/2018)
(Info 913).

Em 2019, a Primeira Turma voltou a decidir que a reincidência não


impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a insignificância penal da
conduta, à luz dos elementos do caso concreto.

No entanto, com base no caso concreto, o juiz pode entender que a


absolvição com base nesse princípio é penal ou socialmente indesejável. Nesta
hipótese, o magistrado condena o réu, mas utiliza a circunstância de o bem
furtado ser insignificante para fins de fixar o regime inicial aberto. Desse
modo, o juiz não absolve o réu, mas utiliza a insignificância para criar uma
exceção jurisprudencial à regra do art. 33, § 2º, “c”, do CP, com base no princípio
da proporcionalidade (STF, 1ª Turma. HC 135164/MT, julgado em 23/4/2019)
(Info 938).

Como esse tema já foi cobrado:

(Juiz TJ/CE / 2018 / CESPE) A reincidência do acusado não é motivo


suficiente para afastar a aplicação do princípio da insignificância 30.

30
Correto
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 34

REITERAÇÃO NÃO CUMULATIVA DE CONDUTAS DE GÊNEROS DISTINTOS

No informativo nº756/2014, o STF considerou insignificante um furto de


bagatela praticado por réu reincidente. No caso, entendeu o STF que, pelo fato
do crime anterior não ter sido patrimonial, aplicar-se-ia o princípio da
insignificância por se tratar de reiteração não cumulativa de condutas de gêneros
distintos.

À luz da teoria da reiteração não cumulativa de condutas de gêneros


distintos, portanto, a contumácia de infrações penais que não têm o patrimônio
como bem jurídico tutelado pela norma penal não pode ser valorada, porque
ausente a séria lesão à propriedade alheia (socialmente considerada), como
fator impeditivo do princípio da insignificância. 5. Ordem concedida para
restabelecer a sentença de primeiro grau, na parte em que reconheceu a
aplicação do princípio da insignificância e absolveu o paciente pelo delito
de furto.31

A ANÁLISE DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA TEM REPERCUSSÃO


GERAL?

Por ocasião do AI 747522 RG, julgado em 27/08/2009, o Pleno do STF


entendeu não haver Repercussão Geral na análise da existência ou não do
princípio da insignificância, por se tratar de matéria infraconstitucional.

31
STF, HC 114723, PUBLIC 12-11-2014.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 35

Como esse tema já foi cobrado:

(Juiz Federal/TRF3/2013) Não apresenta repercussão geral o recurso


extraordinário que verse sobre a questão do reconhecimento de aplicação do
princípio da insignificância em crime de posse de substância entorpecente para
uso pessoal porque se trata de matéria infraconstitucional. 32

Princípio da Insignificância e Crimes de Menor Potencial Ofensivo

Não. As infrações de menor potencial ofensivo são aquelas em que a lei


prescreve pena de, no máximo, dois anos de prisão e/ou multa. Nessas
infrações, de competência dos Juizados Especiais, várias medidas
despenalizadoras podem ser aplicadas ao infrator, evitando-se, assim, pena de
privação de liberdade (ex.: transação penal e suspensão condicional do
processo). É um conceito de aplicação processual, portanto não se confunde com
o princípio da insignificância.

Princípio da Insignificância e Crimes Tributários

Aplica-se, sim, o princípio da insignificância aos crimes tributários (ex.:


Crimes Contra a Ordem Tributária da Lei nº 8.137/90 e Descaminho (art. 334
do CP) etc.

O STF tem reconhecido a insignificância de crimes dessa natureza, desde


que o débito tributário devido não seja superior 20 MIL REAIS. É que a Lei nº
10.522/200233 determinou o arquivamento, mediante requerimento do

32
Gabarito: correto.

33
Art. 20. Serão arquivados, sem baixa na distribuição, mediante requerimento do Procurador da Fazenda Nacional, os
autos das execuções fiscais de débitos inscritos como Dívida Ativa da União pela Procuradoria-Geral da Fazenda
Nacional ou por ela cobrados, de valor consolidado igual ou inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais). Obs.: valor
atualizado para R$ 20.000 pelas Portarias nº 75 e nº 130/2012 do Ministério da Fazenda.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 36

Procurador da Fazenda Nacional, dos processos de execução fiscal de débitos


iguais ou inferiores a dez mil Reais, atualizado pelas Portarias nº 75 e nº
130/2012 do Ministério da Fazenda para R$ 20.000,00. Com base nesse
dispositivo, o STF entendeu o seguinte: se R$ 20 mil Reais são irrelevantes para
o Fisco, não pode ser relevante para o Direito Penal.

Recentemente, o STJ revisou a Tese 157 de Recurso Repetitivo,


confirmando que incide o princípio da insignificância aos crimes tributários
federais e de descaminho quando o débito tributário verificado não ultrapassar
o limite de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a teor do disposto no art. 20 da Lei
n. 10.522/2002, com as atualizações efetivadas pelas Portarias 75 e 130, ambas
do Ministério da Fazenda.

Portanto, o antigo entendimento do STJ, que fixava o valor em R$


10.000,00 deve ser desconsiderado em provas futuras.

Como esse tema já foi cobrado

(Juiz/TJAP/2014) A jurisprudência mais recente do Superior Tribunal de


Justiça vem admitindo ser ele, em tese, aplicável ao crime de descaminho, desde
que o valor do tributo respectivo seja de até dez mil reais. 34

Princípio da Insignificância e Tributos Estaduais

O STJ decidiu que se o tributo for estadual deve-se observar a lei local para
verificar se há algum limite específico para ação fiscal.

Havia o entendimento firmado até pouco tempo que o STJ, no caso


concreto, não aceitou alegação de que o valor do ICMS, em tese suprimido,

34
Gabarito oficial: correto. Gabarito atualizado: errado. O STJ atualizou o entendimento para acompanhar a posição do
STF, que considera o valor de vinte mil reais.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 37

sendo inferior a R$ 20.000,00 (vinte mil reais), tornaria o fato imputado atípico
em face do princípio da insignificância, tendo em vista o que disposto no art. 20
da Lei n.10.522/02. Sendo o ICMS um tributo de competência estadual,
deveria se aplicar a Lei 9.011/02 do Estado do Rio Grande do Norte que
estabelece o limite de R$ 1.000,00 (mil reais), e não a Lei n, 10.522/02 editada
pela União para tributos de sua competência (STJ, RHC 34.883/RN, DJe
14/10/2014).

Entretanto, recentemente, o STJ estendeu ao âmbito estadual o


entendimento firmado no Tema 157 que incide o princípio da insignificância nos
crimes tributários federais e de descaminho quando o valor dos tributos não
recolhidos não ultrapassa o valor de R$ 20 mil reais. No julgamento do HC
535.063/SP, o Relator Sr. Ministro Sebastião Reis Júnior, alegou que ainda que
aquele entendimento dissesse respeito somente a crimes relativos a tributos de
competência da União, é possível aplicar o mesmo raciocínio ao plano estadual,
quando houver lei local que dispense a execução fiscal abaixo de determinado
valor.

"Não há como deixar de aplicar o mesmo raciocínio aos tributos estaduais,


exigindo-se, contudo, a existência de norma reguladora do valor considerado
insignificante", declarou o ministro, destacando que valores pequenos já não são
cobrados por estados e municípios, em razão da inviabilidade do custo
operacional da execução35.

35
http://www.stj.jus.br/sites/portalp/SiteAssets/documentos/noticias/HC-535.063.PDF
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 38

Princípio da Insignificância aos Crimes de Apropriação Indébita


Previdenciária

Não. No tocante ao crime de apropriação indébita previdenciária, art. 168-


A, do CP36, apesar de apresentar natureza tributária, o STF afastou o princípio
da insignificância, com fundamento no valor supra individual (coletivo) do bem
jurídico protegido, o que torna irrelevante o pequeno valor das contribuições
sociais desviadas da Previdência Social (STF, RHC 117095, DJe-180
13/09/2013; STF. 1ª Turma. HC 102550, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
20/09/2011; STF. 2ª Turma. RHC 132706 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 21/06/2016; STJ. 3ª Seção. AgRg na RvCr 4.881/RJ, Rel. Min. Felix Fischer,
julgado em 22/05/2019.)

Faz sentido a posição do STF. Imagine um empregador que recolhe valores


de seus funcionários para posterior repasse ao INSS. Se ele segura a grana e
não passa para os cofres públicos, isso gera diversos problemas para o segurado
e para a própria administração tributária.

Princípio da Insignificância nos crimes de contrabando e descaminho

Amigos, importante lembrarem-se da alteraçãozinha recente do Código


Penal que separou os irmãos siameses contrabando e descaminho. Agora o
descaminho ficou sozinho no art. 334 e mandaram o contrabando para o art.

36
Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma
legal ou convencional: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (Incluído
pela Lei nº 9.983, de 2000)
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 39

334-A37. Agora ficou bacaninha, porque a doutrina sempre apontou que os dois
crimes são absolutamente diferentes, senão vejamos:

37
Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto
devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria (Redação dada
pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (Redação dada pela Lei nº 13.008,
de 26.6.2014)

§ 1o Incorre na mesma pena quem: (Redação dada pela Lei nº 13.008, de


26.6.2014)

I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em


lei; (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)

II - pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho; (Redação dada pela


Lei nº 13.008, de 26.6.2014)

III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza
em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
industrial, mercadoria de procedência estrangeira que introduziu
clandestinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe ser
produto de introdução clandestina no território nacional ou de importação
fraudulenta por parte de outrem; (Redação dada pela Lei nº 13.008, de
26.6.2014)

IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no


exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência
estrangeira, desacompanhada de documentação legal ou acompanhada de
documentos que sabe serem falsos. (Redação dada pela Lei nº 13.008, de
26.6.2014)

§ 2o Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo,


qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias
estrangeiras, inclusive o exercido em residências. (Redação dada pela Lei nº
13.008, de 26.6.2014)

§ 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho é praticado


em transporte aéreo, marítimo ou fluvial. (Redação dada pela Lei nº 13.008,
de 26.6.2014)

Contrabando

Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida: (Incluído pela Lei nº


13.008, de 26.6.2014)

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 ( cinco) anos. (Incluído pela Lei nº 13.008, de


26.6.2014)

§ 1o Incorre na mesma pena quem: (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)


DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 40

O descaminho é uma espécie de fraude aduaneira (alfandegária) em


que o sujeito não paga os devidos tributos devidos pela entrada, saída ou
consumo de mercadoria não proibida. Como é um crime de natureza
tributária, entra na mesma regra, acima estudada, dos demais crimes
tributários. Se você, por exemplo, vai para Miami e volta para o Brasil com um
monte de muamba, deve pagar o imposto de importação. Burlar o pagamento
desse imposto configura o descaminho, caso o valor devido ultrapasse R$
20.000,00.

Já o contrabando consiste em importar ou exportar mercadoria proibida


(total ou parcialmente)38. Trata-se de norma penal em branco, que deve ser
completada por outra norma (leis, decretos, portarias, regulamentos etc.).
Nessa linha, por não estar a questão limitada ao campo da tributação, destaca-
se que a jurisprudência nega aplicação do princípio da insignificância em sede
de importação de produtos que, embora permitidos, submetem-se a proibição

I - pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando; (Incluído pela Lei nº


13.008, de 26.6.2014)

II - importa ou exporta clandestinamente mercadoria que dependa de registro,


análise ou autorização de órgão público competente; (Incluído pela Lei nº 13.008, de
26.6.2014)

III - reinsere no território nacional mercadoria brasileira destinada à


exportação; (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)

IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em


proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria
proibida pela lei brasileira; (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)

V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de


atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira. (Incluído pela
Lei nº 13.008, de 26.6.2014)§ 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos
deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias
estrangeiras, inclusive o exercido em residências. (Incluído pela Lei nº 4.729, de
14.7.1965)

§ 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de contrabando é praticado em


transporte aéreo, marítimo ou fluvial. (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)

38
Por exemplo, a importação não autorizada de gasolina, cigarro, armas de pressão e brinquedos simulacros de arma de
fogo é considerado contrabando, pois há restrições na importação e/ou exportação de tais produtos.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 41

relativa – como, por exemplo, certos produtos agrícolas, cigarros, gasolina,


arma de pressão etc. Isso porque tais produtos possuem controles especiais
que devem ser observados.

Contrabando e Insignificância

STF NÃO

STJ NÃO

Obs: exceção: aplicação do princípio da insignificância ao contrabando de


pequena quantidade de medicamento para uso próprio (STJ EDcl no AgRg no
REsp 1708371/PR).

Descaminho e Insignificância

STF SIM

STJ SIM

ATENÇÃO!

A reiteração criminosa inviabiliza a aplicação do princípio da


insignificância nos crimes de descaminho, ressalvada a
possibilidade de, no caso concreto, as instâncias ordinárias
verificarem que a medida é socialmente recomendável (STJ,
EREsp 1.217.514-RS, DJe 16/12/2015).
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 42

JURISPRUDÊNCIA

Em recente decisão, o STJ decidiu, por exemplo, que a importação


não autorizada de armas de pressão, independentemente do
calibre, constitui o crime de contrabando, ao qual, nos termos da
jurisprudência daquele Tribunal Superior, é insuscetível de
aplicação o princípio da insignificância. (STJ, AgRg no REsp
1460554/RS, DJe 28/03/2016.)

Como esse tema já foi cobrado

(Juiz/TJAP/2014) A jurisprudência mais recente do Superior Tribunal de


Justiça e do Supremo Tribunal Federal não distingue sua aplicação aos crimes
de descaminho e de contrabando, indiferenciadamente aceitando-o, em tese,
nos dois casos, sob os mesmos pressupostos técnicos, posto que idêntico o bem
jurídico tutelado em ambas as normas legais. 39

(Juiz Federal/TRF1/2015) Conforme a jurisprudência do STF, o princípio da


insignificância não se aplica ao crime de contrabando.40

(Juiz Federal/TRF3/2013) O princípio da insignificância somente se aplica


ao crime de contrabando se o agente não faz do delito uma prática habitual. 41

(Promotor de Justiça/MPAC/2014) Independentemente do valor do tributo


sonegado em decorrência de crime de descaminho, é possível a aplicação do
princípio da insignificância. Parte superior do formulário. 42

39
Gabarito: errado.

40
Gabarito: correto.

41
Gabarito: errado.

42
Gabarito: errado.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 43

Princípio da insignificância à Posse de Drogas da Lei de Drogas (art. 28.


Lei n 11.343/2006)

Pense no seguinte: o sujeito está portando uma ínfima quantidade de crack


(subproduto da cocaína) e é abordado por policiais. Será que essa conduta é
insignificante para o Direito Penal? A maioria da doutrina e da jurisprudência
ensina que não. Na prática, amigos, o vendedor da droga precisa do usuário
comprador. Isso é um negócio que busca lucro. Essa ínfima quantidade somada
de cada usuário gera o lucro que o traficante precisa para manter seu negócio
rodando.

O usuário, principalmente do crack, comumente, porta pequena quantidade


da droga, até porque ela é cara para ele. Imagine que nas ruas de Brasília, uma
minúscula pedra de crack custa entre cinco e dez Reais. Pedra que só é suficiente
para uma cachimbada. O usuário de crack precisa fumar dezenas de vezes ao
dia. Onde ele consegue a grana? Se você pensou no toca CD do teu carro, pensou
certo.

Portanto, o STF e o STJ vêm decidindo reiteradamente que não se aplica o


princípio da insignificância à posse de drogas para uso próprio, sob os seguintes
argumentos:
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 44

JURISPRUDÊNCIA

Porte de droga para consumo pessoal

Se a pessoa for encontrada com alguns poucos gramas de droga para


consumo próprio é possível aplicar o princípio da insignificância?

STJ: não é possível aplicar o princípio da insignificância

A jurisprudência de ambas as turmas do STJ firmou entendimento de que


o crime de posse de drogas para consumo pessoal (art. 28 da Lei nº
11.343/06 é de perigo presumido ou abstrato e a pequena quantidade de
droga faz parte da própria essência do delito em questão, não lhe sendo
aplicável o princípio da insignificância

STJ. 6ª Turma. RHC 35920 -DF, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado
em 20/5/2014. Info 541.

STJ. 5ª Turma. HC 377.737, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em


16/03/2017.

STJ. 6ª Turma. AgRg-RHC 147.158, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado
em 25/5/2021.

STF: Há um precedente da 1ª Turma, aplicando o princípio

STF. 1ª Turma. HC 110475 , Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 14/02/2012.

Recentemente, houve empate na votação (2x2 e houve a consequente


concessão do Habeas Corpus:

STF. 2ª Turma. HC 202883 AgR, Relator(a) p/ Acórdão Min. Gilmar


Mendes, julgado em 15/09/2021.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 45

Esse assunto ainda está em debate no Supremo Tribunal Federal, mas a


posição para a sua prova hoje é a seguinte:

PORTE PARA USO (ART. 28)

STF Pleno NÃO (em crime militar, art. 290


CPM)

STF 1ª Turma NÃO majoritário / SIM (HC 110475,


2012)

STF 2ª Turma NÃO

STJ NÃO

Em resumo, portanto, a jurisprudência de ambas as Turmas Criminais do


Superior Tribunal de Justiça, bem como do STF tem posicionamento estável no
sentido de que o crime de posse de drogas para consumo pessoal é de perigo
abstrato ou presumido, que visa a proteger a saúde pública, não havendo
necessidade, portanto, de colocação em risco do bem jurídico tutelado, de
tal forma que não há falar em incidência do postulado da insignificância em
delitos dessa espécie, porquanto, além de ser dispensável a efetiva ofensa
ao bem jurídico protegido, a pequena quantidade de droga é inerente à
própria essência do crime em referência.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 46

Importante: recentemente, o STF entendeu que não configura crime a


importação de pequena quantidade de sementes de maconha (STF. 2ª
Turma. HC 144161/SP, julgado em 11/9/2018 - Info 915) (No mesmo sentido:
STJ. 5ª Turma. REsp 1723739/SP, julgado em 23/10/2018) (Em sentido
contrário: STJ. 6ª Turma. AgRg no AgInt no REsp 1616707/CE, julgado em
26/06/2018).

Argumentos do STJ e STF:

Periculosidade social

Estímulo ao tráfico de drogas

Pequena quantidade é da própria essência do delito

Proteção à saúde pública

Crime de perigo abstrato

Princípio da insignificância ao tráfico de Drogas da Lei de Drogas (art.


33, Lei n 11.343/2006)

TRÁFICO

STJ NÃO

STF NÃO
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 47

A jurisprudência do STF tem afastado a aplicação do princípio da


insignificância no que diz respeito à Lei de Drogas. O STF alega, de forma
acertada, que ao adquirir a droga para seu consumo, isso realimentaria esse
comércio, pondo em risco a saúde pública. Ressaltou, ainda, a real possibilidade
de o usuário vir a se tornar mais um traficante, em busca de recursos para
sustentar seu vício. Observou, por fim, que — por se tratar de crime no qual o
perigo seria presumido — não se poderia falar em ausência de periculosidade
social da ação, um dos requisitos cuja verificação seria necessária para a
aplicação do princípio da insignificância (STF, HC 102940, DJ 05/04/2011).

Em resumo, portanto, não há que se falar em princípio da insignificância na


Lei de Drogas.

Recentemente, a 2ª Turma do STF reconheceu a possibilidade de aplicação


do princípio da insignificância ao tráfico de drogas para mulher flagrada com 1
grama de maconha (STF. 2ª Turma. HC 127573/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 11/11/2019).

Como esse tema já foi cobrado

(Promotor/MPGO/2014) O entendimento prevalecente no STJ é pela não


aplicação do princípio da insignificância ao delito de tráfico ilícito de drogas por
se tratar de crime de perigo presumido ou abstrato, sendo irrelevante a
quantidade de droga apreendida em poder do agente.43

Princípio da insignificância nos crimes do Estatuto do Desarmamento


(Lei 10.826/2003)

43
Gabarito: correto.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 48

O STF não admite a aplicação do princípio da insignificância ao tráfico


internacional de armas e/ou munições (art. 18 da Lei nº 10.826/03).
Segundo o STF, a objetividade jurídica da norma penal (leia-se, o que a norma
visa proteger) transcende a mera proteção da incolumidade (segurança)
pessoal, para alcançar também a tutela da liberdade individual e do corpo social
como um todo, asseguradas ambas pelo aumento dos níveis de segurança
coletiva que a lei propicia.44

O STF também não reconhece o princípio em porte ou posse de arma de


fogo, munição ou acessórios.45

No mesmo sentido, o STJ vem entendendo que a criminalização do porte


de armas e munições não autorizado, seja de uso permitido ou restrito, protege
bens jurídicos fundamentais, como a vida, o patrimônio, a integridade física,
segurança e a paz.46

O porte irregular de munição de arma de fogo de uso permitido


configura o delito de perigo abstrato capitulado no art. 14 da Lei n. 10.826/03
(Estatuto do Desarmamento), sendo dispensável a demonstração de efetiva
situação de risco ao bem jurídico tutelado, bem como inaplicável o princípio da
insignificância. Essa é a posição majoritária no STJ e no STF.

Em que pese esse posicionamento, não podemos nos esquecer que o


princípio da insignificância deve ser avaliado de caso a caso. Recentemente, por
exemplo, o STJ entendeu que seria insignificante a conduta de comerciante com
bons antecedentes que mantinha em uma gaveta de seu comércio três munições
de arma de fogo (STJ, REsp 1699710/MS, DJe 13/11/2017).

44
STF, HC 97777, DJ 19/11/2010.

45
STF, HC 122311, 01/08/2014.

46
STJ, HC 146.864/SP, DJe 05/02/2016.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 49

Para provas, considere a regra geral: não se aplica o princípio da


insignificância em crimes do estatuto do desarmamento.

Princípio da insignificância em crimes contra a fé pública

O STF, de igual modo, não tem aplicado o princípio para afastar a tipicidade
material de Crimes Contra a Fé Pública (ex.: crime de Moeda Falsa do art. 289
do CP). Imagine que o sujeito falsifique uma cédula de R$ 2 (dois Reais).
Podemos considerar essa conduta insignificante, considerando somente o valor
falsificado?

Para o STF, o bem violado seria a fé pública, a qual é um bem intangível e


que corresponde à confiança que a população deposita em sua moeda, não se
tratando, assim, da simples análise do valor material por ela representado 47.
Esse também é o posicionamento do STJ.48

47
Embora a jurisprudência superior seja no sentido de não se aceitar a aplicação do princípio da insignificância aos crimes
contra a fé-pública, o STJ já decidiu de forma diversa em relação ao delito previsto no art. 297, § 4º, pela mínima lesividade
causada ao empregado, devido à condenação do paciente pelo juízo trabalhista, obrigando-o a registrar o empregado. (STJ,
HC 107.572/SP, DJe 11/05/2009).

48
STJ, HC 210.764/SP, DJe 28/06/2016.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 50

Como esse tema já foi cobrado

(Juiz Federal/TRF3/2013) O princípio da insignificância - construção


jurisprudencial e doutrinária sem previsão legal - é atualmente admitido como
excludente de tipicidade em crimes ambientais e inadmitido em crimes de
falsificação de moeda.49

(Procurador/BACEN/2013) Ao delito de emissão de vinte e cinco moedas


falsas nos valores de dois reais é aplicável o princípio da insignificância, em face
da inexistência de grave prejuízo ao sistema financeiro e da observância de
princípios constitucionais aplicáveis aos crimes. 50

(Juiz Federal/TRF2/2013) Aquele que fabricar uma nota de cinco reais


similar à verdadeira não poderá ser beneficiado pela incidência do princípio da
insignificância, ainda que seja primário e de bons antecedentes.51

Princípio da insignificância nos Crimes Contra a Administração Pública

Amigos, quando estamos falando em crimes contra a administração pública,


o bem jurídico é por demais relevante. Um crime contra a administração pública
é um crime contra toda a coletividade. Por isso, em regra, não se pode admitir
a aplicação do princípio em tais situações.

Ocorre que, como eu já tive a oportunidade de alertá-los, o princípio da


insignificância deve ser analisado casuisticamente (a cada caso), pois a questão
da insignificância depende de vários fatores.

49
Gabarito: correto.

50
Gabarito: errado.

51
Gabarito: correto.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 51

O Descaminho é um crime contra a administração pública em que se admite


a insignificância, só para mostrar uma das exceções. Bom, para que você chegue
no dia da sua prova com muita segurança, vou apresentar as principais decisões
do STJ e do STF sobre o assunto.

SÚMULA

O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a


administração pública (Súmula 599, STJ).

INSIGNIFICÂNCIA EM CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO

STF EM REGRA ADMITE A INSIGNIFICÂNCIA

a) No ano de 2006, considerou insignificante o peculato militar de um fogão


avaliado em R$ 455,00 (STF, HC 87478, 29/08/2006).

b) Admitiu a aplicação do princípio no peculato de R$ 13,00 (HC n.


112.388/SP, DJe 14/9/2012).

c) O STF reconheceu também a insignificância no caso de furto de alimentos


da caserna, no Ministério do Exército, de R$ 215,22 (duzentos e quinze reais
e vinte e dois centavos) (HC n. 107.638/PE (DJe 29/9/2011).

d) e o HC n. 104.286/SP (DJe 20/5/2011), em que o Relator, Ministro Gilmar


Mendes, considerou a insignificância no caso de um prefeito que se utilizou de
equipamento da prefeitura para fazer terraplanagem numa propriedade sua.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 52

e) O STF considerou insignificante a apropriação, por carcereiro, de farol de


milha que guarnecia motocicleta apreendida. Coisa estimada em treze reais.

Obs: Segundo o entendimento que prevalece no STF, a prática de crime contra


a Administração Pública, por si só, não inviabiliza a aplicação do princípio da
insignificância, devendo haver uma análise do caso concreto para se examinar
se incide ou não o referido postulado.

INSIGNIFICÂNCIA EM CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO

STJ, EM REGRA, NÃO ADMITE A INSIGNIFICÂNCIA

a) Não se aplica o princípio da insignificância aos crimes contra a


Administração Pública, ainda que o valor da lesão possa ser considerado
ínfimo, uma vez que a norma visa resguardar não apenas o aspecto
patrimonial, mas principalmente a moral administrativa. (STJ, AgRg no
AREsp 342.908/DF, DJe 27/06/2014).

b) recentemente, a 6ª Turma do STJ, acompanhando o STF, admitiu a


insignificância no peculato-furto (STJ, HC DJe 04/08/2014).

c) a 5ª Turma entendeu não ser possível a aplicação do princípio da


insignificância ao crime de peculato e aos demais delitos contra
Administração Pública, pois o bem jurídico tutelado pelo tipo penal
incriminador é a moralidade administrativa, insuscetível de valoração
econômica. (STJ, HC 310.458/SP, DJe 26/10/2016).
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 53

d) Para provas, aplique a regra já sumulada pelo STJ (O princípio da


insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública)
(Súmula 599, STJ)

Como esse tema já foi cobrado

(Juiz/TJRS/2016) Segundo a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, é aplicável o


princípio da insignificância ao peculato, desde que o prejuízo causado à Administração Pública
não ultrapasse um salário mínimo e o agente não seja reincidente.52

(Promotor de Justiça/MPPA/2014) Supremo Tribunal Federal, não há como ser aplicado o


chamado princípio da insignificância penal na conduta de portar ínfima quantidade de maconha
para uso exclusivamente próprio, quando cometida por militar no ambiente castrense. 53

(FCC - 2019 - TJ-AL - Juiz Substituto) Segundo entendimento sumulado do Superior


Tribunal de Justiça, INAPLICÁVEL o princípio da insignificância às contravenções penais
praticadas contra a mulher no âmbito das relações domésticas e aos crimes contra a
Administração pública.54

( VUNESP - 2019 - TJ-RJ - Juiz Substituto – ADAPTADA) O princípio da insignificância, que


defende a não intervenção do Direito Penal para coibir ações típicas que causem ínfima lesão ao
bem jurídico tutelado é afastado pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, por sua
Súmula no 599, em relação aos crimes contra a Administração Pública.55

52
Gabarito: errado.

53
Gabarito: correto.

54
Gabarito: correto

55
Gabarito: correta
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 54

Princípio da insignificância em crimes ambientais

Sim. O STF considerou insignificante a apreensão de uma rede de pesca e


de 12 camarões.56A Terceira Seção do STJ acompanha o STF. 57

É bem tranquilo o assunto. Na sua prova, lembre-se que o STJ e o STF, em


relação ao tema, têm se posicionado no sentido da aplicação do referido princípio
aos crimes contra o meio ambiente, desde que ínfima a lesão causada. Como na
hipótese em que, com acusados do crime de pesca em local interditado pelo
órgão competente, não foi apreendido qualquer espécie de pescado, não
havendo notícia de dano provocado ao meio ambiente, mostrando-se
desproporcional a imposição de sanção penal no caso, pois o resultado jurídico,
ou seja, a lesão produzida, mostra-se absolutamente irrelevante.

Nesse sentido, em recente decisão da 6ª Turma, o STJ entendeu inviável a


aplicação do princípio da insignificância, a fim de afastar a tipicidade da conduta
prevista no art. 56 da Lei n.9.605/1988, àquele que, agindo em desacordo com
as exigências legais ou regulamentares, é flagrado guardando e transportando
em seu veículo automotor 8 kg de inseticida, de procedência uruguaia, que tem
substância tóxica, perigosa ou nociva à saúde humana ou ao equilíbrio do meio
ambiente, de origem chinesa, como princípio ativo, e que não tem registro e
aprovação no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. 58

Em resumo, é possível a aplicação do princípio da insignificância aos crimes


ambientais, desde que ínfima a lesão ao equilíbrio ecológico.

56
STF HC 112563, julgado em 21/08/2012.

57
STJ, CC 100.852/RS, DJe 08/09/2010.

58
STJ, AgRg no REsp 1367294/RS, DJe 23/02/2017.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 55

E no caso de responsabilidade civil ambiental?

JURISPRUDÊNCIA

Inaplicabilidade do princípio da insignificância em matéria de


responsabilidade civil ambiental

O princípio da insignificância é inaplicável em sede de responsabilidade civil


ambiental.

STJ. 2ª Turma. AREsp 667867/SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em


17/10/2018.

Para o STJ, no caso de danos ambientais, não é possível falar em ínfima


ofensividade ao bem jurídico tutelado, tendo em vista que lesiona o bem
ambiental.

Cuidado para não confundir!

Tanto o STF quanto o STJ têm admitido a incidência do princípio da


insignificância no direito penal ambiental.

É possível a aplicação do princípio da insignificância aos crimes ambientais,


devendo ser analisadas as circunstâncias específicas do caso concreto para se
verificar a atipicidade da conduta em exame. (STJ. 5° Turma. AgRg no AREsp
654.321/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 09/06/2015.)

É possível aplicar o princípio da insignificância para crimes ambientais.


(STF. 2ª Turma. Inq 3788/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 1°/3/2016
(Info 816).
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 56

Como esse tema já foi cobrado

(Delegado de Polícia/PCPA/2016) Comete crime aquele que provoca


dano ambiental ínfimo, pois é vedada a aplicação do princípio da insignificância 59

(Promotor de Justiça/MPAC/2014)Segundo entendimento consolidado do


STJ, não é possível a aplicação do princípio da insignificância aos tipos penais
que tutelam a proteção ao meio ambiente, em razão da necessidade de proteção
ao direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. 60

Princípio da insignificância aos crimes ou contravenções penais


praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas

Esse tema foi objeto de Súmula recente do STJ, que assim descreve: é
inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções
penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas
(Súmula 589).

Princípio da insignificância aos atos infracionais

Bem tranquilo esse assunto também. Para o STF, os atos infracionais


cometidos por menores (ECA) são passíveis de aplicação do princípio da
insignificância, desde que preenchidos os requisitos legais (STF, HC 98381, DJe
19/11/2009).

No STJ, também, esse entendimento é bastante tranquilo (STJ, REsp


1293097/RS, DJe 11/11/2013).

59
Gabarito: errado.

60
Gabarito: errado.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 57

Portanto, não vacile. Aplica-se o princípio da insignificância a atos


infracionais, devendo-se observar os mesmos requisitos exigidos para os crimes.

Como esse tema já foi cobrado

(Promotor de Justiça/MPAC/2014) É atípica a conduta infracional análoga


ao crime de furto simples de uma lâmpada, cujo valor é ínfimo, em razão do
princípio da insignificância, aplicável ainda que se trate de adolescente contumaz
na prática de atos infracionais contra o patrimônio.61

Princípio da Insignificância no crime de estelionato previdenciário (no


art. 171, § 3º, do CP)

Vamos pensar na hipótese de alguém ter um parente beneficiário do INSS


que venha a falecer. Isso aconteceu com uma mulher, cuja filha era deficiente
e, por isso, recebia aposentadoria. Ocorre que a filha morreu e a mãe omitiu o
óbito ao INSS e continuou sacando normalmente o benefício.

Em casos como este, mesmo que o dano não seja considerável, a


jurisprudência não tem aceitado a aplicação da insignificância, uma vez que a
conduta ofende o patrimônio público, a moral administrativa e a fé pública, bem
como é altamente reprovável.62

Mais recentemente, o STJ julgou fato assemelhado, tendo entendido ser


inaplicável o princípio da insignificância ao crime de estelionato previdenciário,
pois a conduta é altamente reprovável, ofendendo o patrimônio público, a moral
administrativa e a fé pública.63

61
Gabarito: errado.

62
STJ, AgRg no REsp 1363750/RS, DJe 19/08/2014.

63
STJ. AgRg no AREsp 682.583/SP, DJe 28/08/2015.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 58

Como esse tema já foi cobrado

(Juiz/TJPA/2012) Aplica-se o princípio da insignificância ao crime de


estelionato, ainda que cometido em detrimento de entidade de direito público. 64

Princípio da insignificância no de crime exploração clandestina de sinal


de internet

Não se aplica o princípio da insignificância à conduta descrita no art.


183 da Lei 9.472/197 ("Desenvolver clandestinamente atividades de
telecomunicação"). Isso porque o referido crime é considerado formal, de
perigo abstrato, tendo como bem jurídico tutelado a segurança e o regular
funcionamento dos meios de comunicação (STJ, AgRg no AREsp 599.005-PR,
DJe 24/4/2015).

O DELEGADO DE POLÍCIA PODE APLICAR O PRINCÍPIO DA


INSIGNIFICÂNCIA?

Sim. Essa é a posição majoritária na doutrina. Veja o quadro abaixo:

Entendem que o Delegado Entende que o Delegado não


pode aplicar o p. insignificância pode aplicar o p. insignificância

Masson Rogério Greco

LFG

CAPEZ

64
Gabarito: errado.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 59

Vamos analisar alguns pontos que podem ser abordados em provas


discursivas e orais para Delegado de Polícia, enriquecendo os seus argumentos
a favor ou contra essa prerrogativa.

O primeiro argumento contra a possibilidade do Delegado de Polícia refere-


se a uma interpretação que se faz do art. 17 do CPP, uma vez que a proíbe a
autoridade policial de mandar arquivar o IP.

Como forma de rebater esse argumento, faz-se a seguinte indagação:


mandar arquivar IP é o mesmo que deixar de instaurá-lo por considerar o fato
noticiado atípico?

Não. E essa conclusão pode ser feita através da interpretação pode ser feita
pela simples leitura do art. 5º, § 3º do CPP:

§ 3o Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de


infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito,
comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das
informações, mandará instaurar inquérito.

Entende o CPP que o Delegado deve verificar a procedência das


informações, ou seja, deve ele verificar, entre outras coisas, se o fato tem
relevância penal. Imagine, por exemplo, a notícia de um ato sexual consentido
entre um pai e sua filha maior e capaz, fato atípico, portanto. Como não há
crime, também não pode ter IP.

Para robustecer esse raciocínio, você pode alegar ainda o disposto no art.
2º, § 6º, da Lei n. º 12.830/2013:

§ 6º O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-


se-á por ato fundamentado, mediante análise técnico-
jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade
e suas circunstâncias.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 60

O que o Delegado não pode fazer é discutir mérito, ou seja, se posicionar


em relação a fatos duvidosos e que dependam de prova ou debate entre
acusação e defesa. A atividade policial, nesse sentido, deve ser restrita aos
casos explícitos de insignificância.

Ressalte-se que o próprio STJ entende possível o trancamento do IP por


HC quando há clara situação de insignificância. 65

A decisão que, na audiência de custódia, determina o relaxamento da


prisão em flagrante sob o argumento de que a conduta praticada é
insignificante vincula o Ministério Público?

A decisão não vincula o titular da ação penal, que poderá oferecer acusação
contra o indivíduo narrando os mesmos fatos e o juiz poderá receber essa
denúncia.
(STF. 1ª Turma. HC 157306/SP, julgado em 25/9/2018) (Info 917) (no mesmo
sentido: STJ. 5ª Turma. RHC 85.970/SP, julgado em 10/04/2018).

INSIGNIFICÂNCIA STF STJ

Habitualidade, Não se aplica Não se aplica

reiteração e (maioria) (maioria)

antecedentes

Aplica-se se o valor Maioria aplica se o


devido for inferior a valor devido for
Crimes Tributários
R$20mil (Tributos inferior a R$20Mil
federais) (3ª Seção)

65
STJ, REsp 1175490/PR, DJe 29/10/2015.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 61

Apropriação indébita Não se aplica Não se aplica

previdenciária (maioria)

(art.168-A) e
Estelionato
Previdenciário (art.
173, § 3º)

Contrabando Não se aplica Não se aplica

Aplica-se se o valor Aplica-se se o valor


devido for inferior a devido for inferior a
Descaminho
R$20mil R$20mil, conforme
entendimento da 3ª
Seção.

Obs. Reiteração
afasta
insignificância

Crimes de Droga (porte Não se aplica Não se aplica


e tráfico) (maioria) (maioria)

Estatuto do Não se aplica Não se aplica


Desarmamento

Falsificação de moeda Não se aplica Não se aplica


DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 62

Crimes funcionais Aplica-se Não se aplica


(maioria)

Crimes ambientais Aplica-se Aplica-se

PRINCÍPIO DA IRRELEVÂNCIA DO FATO (OU DA PENA)

Como a gente tem de ficar ligado nas coisas novas que surgem no Direito
Penal, fique antenado com esse princípio, de aplicação relativamente nova no
Brasil.

Com base no Direito Italiano, o Professor Luiz Flávio Gomes introduz no


Brasil uma ideia bastante moderna. O debate surge por força do caso do roubo
(art. 157) de um pote de margarina praticado por Angélica Teodoro, que a fez
permanecer presa por vários meses. O conceituado professor estabelece uma
importante diferença entre o princípio da insignificância e o princípio da
irrelevância do fato (ou da pena). Posição que já foi abarcada por alguns
tribunais, como o TRF4 e já foi cobrada pelo Cespe.

Perceba que se trata de roubo (e não furto). Não podemos dizer que o roubo
seja algo insignificante. Não é algo que eu olho e digo: “puxa, que coisa besta,
insignificante”. O roubo requer violência ou grave ameaça, elementos que
afastam o princípio da insignificância. Mesmo que seja o roubo de uma
margarina. A gente não analisa somente o valor da coisa subtraída.

Nessas situações, pode ocorrer de o fato ser relevante, mas a repressão


penal se tornar desnecessária.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 63

Segundo essa posição, é preciso distinguir duas situações:

(a) as infrações bagatelares próprias e;

(b) as infrações bagatelares impróprias.

Infrações bagatelares próprias são aquelas que já nascem irrelevantes,


uma vez que a conduta e/ou o resultado são insignificantes (ex.: furto de uma
jujuba chupada). Nesse caso, estaremos diante da aplicação do princípio da
insignificância.

O princípio da insignificância afasta a tipicidade material, como


vimos, tornando o fato penalmente atípico.

Infrações bagatelares impróprias são relevantes para o Direito Penal,


mas as circunstâncias tornam a aplicação da pena irrelevante (ex.: quem, no
roubo, subtraiu R$ 10,00, sem violência, sem uso de arma de fogo ou outra
arma, que ficou preso, que respondeu ao processo, que é primário, bons
antecedentes etc. pode, eventualmente, ser beneficiado com o princípio da
irrelevância da pena - da dispensa da pena, da desnecessidade concreta da pena
para fins preventivos).

Poderíamos pensar, além disso, naquele exemplo da mãe que culposamente


mata seu filho pequeno a dar ré no veículo dentro da garagem, hipótese de
perdão judicial. O fato é relevante (morte de uma criança), mas a pena se tornou
desnecessária (pelo sofrimento da mãe).

Existe fundamento legal para isso?

O fundamento legal do princípio da irrelevância da pena, segundo LFG,


está no art. 59, IV do CP, além de estar presente também nas hipóteses
de perdão judicial.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 64

Como isso já foi cobrado

(Promotor de Justiça/MPGO/2012) Infração bagatelar imprópria é a que já


nasce sem nenhuma relevância penal, ou porque não há desvalor da ação (não
há periculosidade na conduta, isto é, idoneidade ofensiva relevante; ou porque
não há desvalor do resultado (não se trata de ataque intolerável ao bem
jurídico).66

(Promotor de Justiça/MPGO/2012) O princípio da insignificância confunde-


se com o princípio da irrelevância penal do fato. O primeiro não afasta a
tipicidade material, uma vez que o fato será típico (formal e materialmente),
ilícito e culpável. O segundo possibilita o arquivamento ou o não recebimento da
ação ou a absolvição penal nas imputações de fatos bagatelares próprios, ou
seja, os que não possuem tipicidade material.67

(Promotor de Justiça/MPGO/2014) Na infração bagatelar imprópria a


tipicidade formal e a tipicidade material se fazem presentes, contudo, em
momento posterior à prática do fato típico, constata-se que a aplicação concreta
da pena se torna desnecessária material68

(Juiz/TRF5/2015) A infração bagatelar própria está ligada ao desvalor do


resultado e(ou) da conduta e é causa de exclusão da tipicidade material do fato;
já a imprópria exige o desvalor ínfimo da culpabilidade em concurso necessário
com requisitos post factum que levam à desnecessidade da pena no caso
concreto69

66
Gabarito: errado.

67
Gabarito: errado.

68
Gabarito: correto.

69
Gabarito: correto.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 65

PRINCÍPIO DA ALTERIDADE

Este princípio explica bem a questão do suicídio. Muitos me perguntam


sobre a razão de o ato suicida não ser punido no Brasil. O Direito Penal somente
deve ocupar-se de lesões que saiam da esfera individual do agente. É a velha
história de que eu não posso ser punido por fazer mal a mim mesmo. Por isso,
não é relevante a automutilação, a destruição de bem próprio, o suicídio.

Em um caso concreto em que tive a oportunidade de atuar, o sujeito cortou


fora o próprio dedinho do pé para receber um seguro saúde. Nesse caso,
respondeu por crime. Mas, como assim? Sim, porque ao praticar a automutilação
para receber o seguro, acabou por cometer uma fraude. No caso, a seguradora
é a vítima, sendo ele o autor.

Como esse tema já foi cobrado

(Delegado de Polícia/PCGO/2013)Ana, menor de 17 anos de idade,


contrariando a proibição de seus pais, procura Júlio para que este realize uma
tatuagem no seu ombro com aproximadamente 15 centímetros de diâmetro.
Ainda que presente a tipicidade formal, poderá ser aplicado o Princípio da
Alteridade porque não houve lesão a bem jurídico de terceiro. 70

70
Gabarito: correto.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 66

PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL

Existem algumas condutas que estão tão presentes na nossa cultura, que
naturalmente não vemos nada de mau nelas. Todas as meninas, quando
nascem, têm as orelhas furadas. Formalmente, é uma lesão corporal, mas a
sociedade aceita aquilo como algo cultural. Não existe inadequação entre o que
as pessoas pensam e a conduta praticada. Ninguém enxerga aquilo como algo
criminoso.

É atípica, portanto, a conduta quando não fere o sentimento de justiça.


Um comportamento socialmente aceito e tolerado pela sociedade não pode ser
típico (ex.: circuncisão, furar orelha de criança).

Professor, em várias feiras do país pessoas vendem produtos piratas, sem


qualquer fiscalização do poder público. A falta de fiscalização gera a aplicação
do princípio da adequação social?

Perceba que a simples falta de fiscalização do poder público não leva à


aplicação do referido princípio. Em um caso concreto, o STJ entendeu não haver
aplicação do princípio da adequação social na venda de CD’s piratas por
camelôs.71

Da mesma forma, não se aplica o princípio da adequação social, bem como


o princípio da insignificância, ao crime de violação de direito autoral72. Então,
cuidado ao copiar material indevidamente.

O princípio tem dois níveis: o primeiro dirigido ao legislador (quem faz


as leis), para que evite a criação de tipos que violem o senso de justiça; e o

71
Súmula 502: presentes a materialidade e a autoria, afigura-se típica, em relação ao crime previsto no
artigo 184, parágrafo 2º, do Código Penal, a conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas.

72
STJ, AgRg no REsp 1380149/RS, DJe 13/09/2013
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 67

segundo, dirigido ao julgador (juiz) para que avalie o nível de tolerância da


norma no caso concreto.

Qual a natureza jurídica do princípio da adequação social?

Circunstância de restrição ou exclusão da tipicidade penal.

Qual a diferença entre adequação social e insignificância?

Alguns autores equiparam os dois princípios. O princípio da adequação


social foi idealizado por Welzel, e o da insignificância por Roxin, sendo que ambos
têm fins diferentes.

Para Welzel, a exclusão do tipo não está ligada ao valor do bem jurídico,
mas ao sentimento de justiça em relação a determinadas condutas consideradas
comuns na sociedade, e que, por isso, não há ferimento no sentimento de
justiça.

Para Roxin, a análise deve ser feita em casos concretos, para verificar se
há relevância material na adequação típica.

Ambos os princípios são caracterizados pela ausência de preenchimento


material do tipo penal.

Como esse tema já foi cobrado

(Delegado de Polícia / PC-MS / Adaptada) Com relação aos princípios


aplicáveis ao Direito Penal, em especial no que se refere ao princípio da
adequação social, assinale: Apesar de uma conduta subsumir ao modelo legal,
não será considerada típica se for historicamente aceita pela sociedade.73

73
Correto
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 68

PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA

Costumo brincar em aulas que o Direito Penal é o cirurgião cerebral dos


Direitos. Você não consulta um cirurgião cerebral quando tem uma leve
enxaqueca, não é mesmo? Da mesma forma, não devemos utilizar o Direito
Penal para qualquer coisa. O aspecto ruim disso é o enfraquecimento do Direito
Penal.

Lembro que quando eu estava no primário, a coordenadora pedagógica


somente era acionada em casos mais graves. Quando a professora dizia que o
moleque iria ser encaminhado para a coordenadora, era porque a coisa estava
feia. A coordenadora não era chamada em qualquer situação. Isso dava um
impacto psicológico legal.

O Direito Penal, assim sendo, deve proteger somente os bens


jurídicos mais importantes. Deve ser invocado apenas quando a intervenção
de outros ramos do direito não for suficiente para o controle social. O Direito
Penal é a ultima ratio (último instrumento) do legislador para as soluções
dos conflitos. A Lei Penal é enfraquecida todas as vezes que é chamada a intervir
em situações em que os Direitos Civil, Comercial, Administrativo, por exemplo,
poderiam trazer solução satisfativa.

No Brasil tínhamos um exemplo emblemático. Até o ano de 2005, o CP


punia a conduta de “adultério” com pena de detenção de quinze dias a seis
meses. Não faz sentido o Direito Penal atuar em esfera tão íntima das pessoas.
No caso, o Direito Civil tem institutos que resolvem muito bem a situação, sem
que seja necessária a intervenção do Direito Penal.

O princípio da intervenção mínima acaba por fundamentar outros princípios,


como o da fragmentariedade, subsidiariedade, insignificância etc.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 69

Algumas situações consideradas violadoras do princípio da intervenção


mínima:

▪ Inflação penal: excesso de criação de tipos penais;


▪ Direito Penal Simbólico: esse excesso gera uma falsa sensação de
proteção;
▪ Direito Penal Promocional: funciona apenas como instrumento de
marketing político;
▪ Direito Penal de Emergência: recrudescimento pontual das leis penais
para atender a demandas casuísticas da sociedade (ex.: aumentar a pena do
furto de gado após um surto de crimes dessa espécie).

Como esse tema já foi cobrado:

(Delegado de Polícia / PC-PI / Adaptada) Segundo o princípio da intervenção


mínima, o direito penal deve atuar como regra e não como exceção.74

PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE (OU ESSENCIALIDADE)

Como consequência da aplicação do princípio da intervenção mínima, o


Direito Penal representará apenas um fragmento na tutela de bens jurídicos. O
Direito Penal protege apenas bens específicos e, em uma análise a posteriori,
acaba representando um pequeno fragmento nas opções do aplicador da lei.
A aplicação do princípio acaba por relativizar a função de proteção de bens
jurídicos pelo Direito Penal, permitindo a ação de outros ramos do direito.

Em resumo, o Direito Penal acaba por ser um pequeno fragmento no mundo


jurídico, assim como o cirurgião cerebral representa um pequeno fragmento das

74
Errada
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 70

especialidades médicas. Ou como ensina Luiz Regis Prado, “um arquipélago de


pequenas ilhas no grande mar do penalmente indiferente”.

Como esse tema já foi cobrado

(Delegado de Polícia / PC-PA / 2021 / Adaptada) O princípio da


fragmentariedade se projeta no plano concreto, isto é, em sua atuação prática,
o Direito Penal somente se legitima quando os demais meios disponíveis já
tiverem sido empregados, sem sucesso, para proteção do bem jurídico. 75

(Delegado de Polícia/PCSP/2012) A ideia de que o Direito Penal, deve tutelar


os valores considerados imprescindíveis para a sociedade, e não todos os bens
jurídicos, sintetiza o princípio da fragmentariedade.76

75
Errada
76
Gabarito: correto.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 71

5. POLÍTICA CRIMINAL

PONTO DO EDITAL: 1.3 Relações com outros ramos do direito. 1.4 Direito
penal e política criminal.

INTRODUÇÃO

O crime é uma forma de quebra da paz social. Ocorre que esse sentimento,
de que algo está errado ou não, vem bem antes do legislador elaborar qualquer
lei a respeito. Uma coisa que ilustra isso bem é o surgimento da internet. Até há
bem pouco tempo, fatos que hoje causam forte quebra da paz não eram sequer
conhecidos da sociedade. Ninguém imaginava, por exemplo, que pessoas se
matariam por ter suas intimidades poderosamente e rapidamente colocadas em
público, para todo o país, para todo o planeta, em segundos.

POLÍTICA CRIMINAL

O trabalho da política criminal consiste, justamente, em realizar um filtro


(filosófico, sociológico e político) da realidade social, propondo inclusões e
exclusões de normas penais no sistema positivo. Assim é que a invasão de
dispositivo informático, fato até 2012 atípico, passou a ser considerado crime,
por força do art. 154-A do CPB. De outro modo, o filtro da política criminal
passou a perceber que o termo “mulher honesta”, previsto no revogado crime
de posse sexual mediante fraude, perdeu a contemporaneidade. O termo, nos
dias de hoje, é claramente preconceituoso, visão que a sociedade da década de
40 não possuía, em regra.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 72

Em resumo, a política criminal é ciência multidisciplinar que filtra o direito


penal, propondo a inclusão e exclusão de normas penais.

Como esse tema já foi cobrado

(MPDFT/Promotor de Justiça) A Política Criminal orienta a evolução da


legislação penal e a sua aplicação conforme as finalidades materiais do Direito
Penal.77

Modernamente, o funcionalismo da Escola de Munique, inspirada por Claus


Roxin, apregoa que a teoria do delito não pode ficar desatenta aos postulados
político-criminais que norteiam o Direito Penal e descreve a necessidade da
penetração da política criminal na dogmática penal. 78

Voltaremos a esse assunto quando falarmos das teorias funcionalistas em


Direito Penal.

77
Gabarito: correto.

78
Informação cobrada na prova do MPMT/Promotor de Justiça/2014.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 73

6. CRIMINOLOGIA

A criminologia também é uma forma de estudar o crime. É uma forma


diferente de estudá-lo comparado ao Direito Penal. É bom que você entenda que
essa diferença entre Direito Penal e Criminologia é bastante recente.

Até o final do século XIX, as pessoas que se dedicavam ao crime eram


chamadas de criminologistas. É por isso que Garofalo dizia que a “Criminologia
é a ciência do delito”. Vou explicar isso rapidinho para não te cansar, pois não é
muito objeto de prova, mas faz você entender muita coisa. Então, me
acompanhe com paciência. Até meados do século XIX, as ciências naturais
(física, química, biologia) avançaram demais em relação às demais ciências.
Surgiram teorias para explicar os gases, os microrganismos, a evolução das
espécies, leis físicas de Newton etc. Afinal, ciências como filosofia, história,
direito estavam em desvantagem, principalmente porque suas regras não
podiam ser provadas pelo sistema científico (sistema cartesiano). Era o
“positivismo científico”. Nesse tempo, houve um fenômeno interessante.

Os estudiosos do crime, os quais não estavam abrangidos pelo positivismo


científico, passaram a adequar o estudo do crime aos métodos científicos. Ou
seja, passaram a estudar o crime como um biólogo estudaria o corpo humano,
como um botânico estudaria as plantas etc.

Foi nessa época que surgiram os estudos de CESARE LOMBROSO (O Homem


Delinquente, de 1876), por exemplo, que procurava estudar o crime e o
criminoso através de características biológicas (Escola Positiva da Criminologia).
Olha só, como disse, não vou me aprofundar. Só quero que você entenda que
dessa gênese houve uma evolução, que é estudada através das Escolas Penais.
Em determinado momento dessa evolução, os estudiosos do Direito,
especialmente do Direito Penal, passaram a adotar uma nova postura,
concebendo que o Direito deveria adotar um método próprio, diferente das
ciências naturais. Daí nasce o POSITIVISMO JURÍDICO (ou jus positivismo).
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 74

Os jus positivistas passam a estudar o Direito a partir da lei (da norma


escrita). Os estudiosos que ampliaram o estudo do crime para além da norma
(razões biológicas, vitimologia, razões sociais etc.) fizeram nascer a
CRIMINOLOGIA. Já os estudiosos que passaram a estudar o Direito a partir da
norma, se limitando a ela, fizeram nascer o Direito Penal.

Modernamente, ficou assim:

Criminologia: a criminologia é uma ciência fática, que pertence às ciências


empíricas que utilizam métodos indutivos (analíticos) e a interdisciplinaridade
para estudar o fenômeno criminoso. Antes de explicar o fenômeno do crime,
procura-se conhecê-lo.

“Empírico”: que se baseia na experiência e observação. O criminologista


observa os fatos, e pela INDUÇÃO, chega a um raciocínio. O primeiro passo é a
observação, para então fazer uma pesquisa, que é o método científico.

Método indutivo: parte de uma particularidade para chegar a uma conclusão


mais ampla (Ex.: o corvo 1 é negro, corvo 2 é negro, o corvo 3 é negro.
Conclusão: todos os corvos são negros).

Dica: lembre-se que na INdução, o raciocínio está IMplícito.

Método dedutivo: caracteriza-se quando se parte de uma situação geral e


genérica para uma particular (ex.: todos os mamíferos têm coração. Então, o
cão, por ser mamífero, possui coração).

Direito Penal: O Direito Penal estuda o crime do ponto de vista jurídico,


como norma. É uma ciência normativa (dever-ser), enquanto a criminologia é
ciência do “ser”.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 75

7. RESUMO DA AULA

RESUMO DA AULA

INTRODUÇÃO O crime é, enfim, um fenômeno social que o


Direito tratou de regular, ou seja, tratou de
estabelecer um sistema científico para que seja
possível a imputação jurídico-penal (atribuição
da responsabilidade penal) a determinada
pessoa.

CONCEITO DE DIREITO PENAL O Direito Penal é a ciência jurídica que estuda


as infrações penais (conceito formal)

O que são as Infrações Penais? Crime e Contravenção

Quais as diferenças entre crime (ou delito) e 1º) Previsão Legislativa


contravenção penal?

2º) Espécies de Penas

3º) Tratamento da tentativa

4º) Tratamento da extraterritorialidade


DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 76

Caracteres do Direito Penal a) Fragmentário: é a ultima ratio

b) Possui sanções específicas

c) Finalidade preventiva

d) É ciência normativa

e) É ciência valorativa

f) É ciência cultural

g) Possui caráter finalista

h) Possui caráter sancionador

PRINCÍPIOS E SUAS FUNÇÕES As regras são normas mais específicas e os


princípios normas mais abrangentes

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ESTRITA OU DA O termo “legalidade” estaria relacionado com o


RESERVA LEGAL (CF, ART. 5º, XXXIX E CP, respeito às leis em geral. Já o princípio da
ART. 1º) – NULLUM CRIMEM NULLA POENA “reserva legal” significa que determinados
SINE LEGE institutos jurídicos estão reservados à lei, ou
seja, só lei poderia criá-los.

ANTECEDENTE HISTÓRICOS A revolução burguesa (Revolução Francesa), e


sua forma latina (nullum crimem nulla poena sine
lege) foi inspirada nos escritos de Anselm
Feurbach.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 77

FUNDAMENTO POLÍTICO É a proteção do ser humano em face do arbítrio


do poder de punir do Estado.

O legislador deve evitar a criação de tipos


demasiadamente abertos, indeterminados que
TAXATIVIDADE (MANDATO DE CERTEZA) são aqueles em que a descrição típica é
incompleta, que devem ser completados por um
raciocínio do juiz.

MEDIDAS PROVISÓRIAS EM MATÉRIA PENAL O art. 62 da CF proíbe expressamente MP's em


matéria penal. Essa vedação está presente,
mesmo que a Medida Provisória seja convertida
em lei

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA O Direito Penal não pode se ocupar com lesões


irrelevantes aos bens jurídicos.

Requisitos do Princípio da Insignificância O STF já estabeleceu como requisitos objetivos


e subjetivos:

a) mínima ofensividade da conduta;

b) ausência de periculosidade social da ação;

c) reduzido grau de reprovabilidade do


comportamento;

d) inexpressividade da lesão jurídica.


DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 78

Diferença entre os princípios da insignificância e O princípio da ofensividade está mais ligado aos
da ofensividade denominados crimes de perigo.

O furto de bagatela e o ladrão habitual Em relação ao furto praticado por autor com
maus antecedentes ou reincidente, cabe
aplicação do princípio da insignificância? A
jurisprudência majoritária é no sentido que não
seria possível.

Reiteração Não Cumulativa de Condutas de No informativo nº756/2014, o STF considerou


Gêneros Distintos insignificante um furto de bagatela praticado por
réu reincidente. No caso, entendeu o STF que
pelo fato do crime anterior não ter sido
patrimonial, aplicar-se-ia o princípio da
insignificância por se tratar de reiteração não
cumulativa de condutas de gêneros distintos.

A Análise do Princípio da Insignificância tem Por ocasião do AI 747522 RG, julgado em


Repercussão Geral? 27/08/2009, o Pleno do STF entendeu não haver
Repercussão Geral na análise da existência ou
não do princípio da insignificância, por se tratar
de matéria infraconstitucional.

Princípio da insignificância e casos específicos A partir da página 30.

PRINCÍPIO DA IRRELEVÂNCIA DO FATO (OU Infrações bagatelares impróprias são


DA PENA) relevantes para o Direito Penal, mas as
circunstâncias tornam a aplicação da pena
irrelevante.
DIREITO PENAL PARTE GERAL|META 01 79

PRINCÍPIO DA ALTERIDADE O Direito Penal somente deve ocupar-se de


lesões que saiam da esfera individual do
agente.

PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL É atípica a conduta quando não fere o


sentimento de justiça.

Súmula 502: presentes a materialidade e a


autoria, afigura-se típica, em relação ao crime
previsto no artigo 184, parágrafo 2º, do Código
Penal, a conduta de expor à venda CDs e DVDs
piratas.

PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA O Direito Penal é a ultima ratio (último


instrumento) do legislador para as soluções dos
conflitos.

PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE (OU Como ensina Luiz Regis Prado, o direito penal é
ESSENCIALIDADE) “um arquipélago de pequenas ilhas no grande
mar do penalmente indiferente”.

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