You are on page 1of 5
TERIA SIDO MACOM 0 PAPA PIO IX? Prélogo Durante mais de dois séculos, em lute feroz e impiedosa, digiadiaram-se os apologistas da Igreja, de um Indo, da Ma- gonaria, do outro, Os partidarios da Igreja assacaram con ta a Instituicko Maconica as mais terriveis e descabeladas caliinias, e os Magons procuraram revidar da melhor forma que puderam. Acirraram-se os Animos de tal maneira que, Hnalmente, eatélicos e Magons se viram em dois campos ini: snigos, combatendo-se, e sem piedade, © pontificado do Papa Pio IX foi, porém, aquele que sais lena pds na fogueira, e também foi o Papa mais ata- cado, no somente pelos Macons, que procuravam se defen- cer das bulas excomunicatérias que choviam sobre eles, querendo colocé-los & margem da sociedade, mas também por todos os anticlericais que entdo surgiram de toda a parte, como reago contra o Terror Branco, que a Igreja aliada da Maconaria fez pesar sobre a Franca, ¢ que se irradiou pelo universo inteiro, Felizmente, depois do Concilio Vaticano II, gracas aos esforeos meritérios do Papa Joo XXIII, o inglério e odioso conilito arrefeceu muito, excecdo feita de alguns poucos insignificantes setores, de um lado como do outro. Hoje, a Igreja, que abriu o didlogo com protestantees, or- todoxos, judeus, muculmanos, ¢ até com comunistas e ateus, procura afastar de si o legado da Igreja Medieval, baseado sobre uma Teologia intolerante que s6 via adversarios e ini- migos em todos aqueles que nao se curvassem perante a autoridade de Roma e pare os quais s6 tinha condenagao 332 NICOLA ASLAN na vida temporal e danagéo na vida eterna. Verificou que esta politica ndo era a melhor no século da tecnologia, que a qualquer momento poderia transformar-se em tecnocracia, ¢ fazer pesar sobre 05 homens uma. escravidao jamais vista, Ga qual esto se fazendo sentir os primeiros sintomas. Che- gou finalmente & conclusto que das quatro operagoes as duas melhores eram SOMAR e MULTIPLICAR, e que SUBTRAIR © DIVIDIR, jé eram, fa linguagem da juventude moderna. Entio, a melhor politica era ainda o diélogo. Em tempo algum, a Tgreja procurou estudar 2 Maconaria como o tem feito ultimamente, e principalmente os Jesuitas, que foram Janizaros do Papado, outvora, ferozes adversarios da Mago- naria, mas que sendo uma das mais cultas congregacces religidsas, foram, também, os primeiros a procurar um enten- dimento. Assim, por exemplo, 0 R. P. Valério Alberton 8. J., que se Tangara contra os Macons langa em riste, escreveu-nos oferecendo uma troca de idéias e de informacGes. De inicio, prevenidos um contra o outro, principiamos uma correspon- déncia que, em poucos meées, nos transformou em amigos, uma vez que havia em nés 0 propésito sincero de fazer a anélise dos problemas que se apresentavam ao nosso estudo, de maneira leal, honesta e cortés. A verdade & que o Padre Alberton abriu uma frente to ampla que serdo necessérios varios anos para esgotar tantos assuntos. O resultado dessa troca de idéias pode ser verificado numa conferéncia de qua- renta paginas, que escreveu para ser lida em Teéfilo Otoni, ¢ onde dizia: “surpreendeu-me, singularissimamente, o hon. roso © inaudito convite que me fez o Serenissimo Gréo-Mestre da Grande Loja de Minas Gerais, Ge- neral José Lopes Braganca, por intermédio do fe- ‘eundo e dindmico escritor, Prof. A. Tendrio Albu- querque, sobejamente conhecido no meio vosso e do magistério de todo o Brasil, para vir falar-vos, hoje, aqui em Te6filo Otoni, dia 26 de agosto de 1972, neste magnifico HOSPITAL generosamente manti- do pela Grande Loja de Minas Gerais. “Nido podia deixar de aceitar téo oportuno tao significative convite — embora ndo podendo vir pessoalmente, delegando poderes para me re- LANDMARQUES E OUTROS PROBLEMAS MACONICOS 333, presentar a um de vossos irmios — porque também estou profundamente convencido da necessidade, no apenas do “CESSEZ-LE-FEU” do grande Al- bert Lantoine, mas de tudo empreender para que haja mais compreensio entre os homens a fim de se organizar uma frente tinica contra a temerosa invaséo da irreligiosidade do comunismo e do ateis- mo materialista. Para isto nao se pode dispensar ninguém e nenhuma omganizacéo ou instituicéo composta de homens de boa vontade e que querem, realmente, 0 BEM COMUM.” A razio do apelo formulado de “‘cessar fogo” parece res- ponder, 4 primeira vista, a motivos utilitarios, como a possi- vel organizacao de “uma frente tinica contra’a temerosa in- vaso da irreligiosidade do comunismo e do ateismo mate- rialista”. ‘Nao acreditamos, no entanto, que semelhante motivo £o8- se suficiente para fazer sair um jesuita de sua posicéo do adversario da Maconaria, Existem outras razdes, e estas ra- z6es se repetiram constantemente durante todo este Século 2X, como o provaremos com as proprias atitudes e palavras do Padre Valério Alberton. Adversdrio intransigente da Ma- gonaria, em 1971, dirigia-se aos Macons, em 1972, nestes termos: “Transferido de Florianépolis para Porto Ale- gre em novo trabalho que, de inicio, me deixava bastante lazer, revolvi esta’pasta e, entao, me vero a vontade de responder as cartas. ‘Daf se estabele- ceu uma troca de idéias e impressdes interessan- tissimas para mim, porque, digo-lhes com toda a franquesa, vir a descobrir uma MAGONARIA que, para mim, me era desconhecida...” Alimentado A fartura nos eseritos antimagdnicos do Frei Boaventura Kloppenburg, que se distinguiu pelos combates ‘travados contra todas as seitas, e que, na tiltima terea parte do Século XX, ainda utiliza métodos ¢ materiais dos Séculos XVII e XIX,'0 Padre Alberton imaginava que a Maconaria fosse exataménte aquilo que o “espadachim da literatura de 6dio”, como o denominamos, queria dar a entender aos seus 334 NICOLA ASLAN leitores, ou seja, uma sociedade ridicula, de um lado, sacrile- ga, do outro, reunindo em sew selo politicos interesseiros e anticlericais violentos. Os Macons, segundo o Frei Boaven- tura, s6 pensam em “destruir a Tgreja”, e praticam uma nova espécie de canibalismo: comem padres no desjejum, no al- moco e no jantar. No entanto, quando comecou a estudar de perto a Maco- naria, principalmente através dos livros do eatélico Alec Mel- lor, o Padre Alberton verificou que ela nao era bem um covil de comunistas, como a julgava o pranteado Cardeal Jaime Camara, Areebispo do Rio de Janeito. Veio a descobrir uma Maconaria que, para ele, era desconhecida, Descobriu a Ma- conaria Regular, que eré em Deus, e a Maconaria Irregular, que preconiza a mais absoluta liberdade de consciéneia. De- Pois de relatar os varios encontros entre Jesuitas e Macons, Sobre os quais voltaremos, 0 Padre Alberton escreve: “De todos esse surpreendentes ENCONTROS, que sacudiram a alma catélica, e, também, a ma” ¢Onica dos quatro cantos do mundo, o primeiro do qual tomei conhecimento, espantado mas edifica- do, fol o de LAVAL, que me marcou PROFUNDA- MENTE. Por qué? Porque nfo s6 me surpreendeu de modo extracrdindrio um meu irmio de hébito, um jesuita, falar numa Loja — e precisamente num pais em que durante dois séoulos jamais um sacerdote pisara os pés numa Loja magénica e mui- to menos um membro da Companhia de Jesus — mas, o que foi para mim um verdadeiro e intensissi- mo JORRO DE LUZ — um RAIO LASER — descul- pem-me a figura hiperbélica — uma verdadeira 6 inesperada REVELACAO foi a NOTA oficial da Grande Loja Nacional Francesa, publicada logo apés, em “LE FIGARO” de 27-10-61, em virtude Gos debates contraditérios que se seguiram & con- feréncia do Pe. Riguet na Loja “Volney”, sobretudo as Teservas reacdes do Grande Oriente, e 0 CO- MENTARIO do Pe. Riguet, no mesmo didrio. de 2-12-61, sob 0 titulo “ESTES MACONS QUE ACRE- DITAM EM DEUS” — que foi para mim mais um clardo, j& que jamais suspeitara @ divisio da Maco- LANDMARQUES E OUTROS PROBLEMAS MAGONICOS 335 naria francesa em cinco Obediéneias, e muito menos qual a verdadeira causa desta cisio. “Sem fazer injuiria a quem quer que seja, sem exagero posso afitmar, que, entre nos, brasileiros, sobretudo entre nés, catélicos, e mesmo entre os que entramos mais a fundo no problema magénico, ack que ninguém ou poucos sabiam dessas dis: tingGes entre MACONARIA REGULAR e MACO- NARIA IRREGULAR, e muito menos 0 que distin- gue uma da outra. Todos quantos encarévamos a questao atacavamas a Maconarla, era sempre, quanto & francesa, por ex.:, 0 Grande Oriente que atacdvamos e entéio pensdvamos que, atacando 0 Grande Oriente atingiamos toda a Maconaria francesa, Como 0 Grande Oriente era anticlerical € anti-religioso, considerévamos toda a Maconaria, francesa, como todo macom francés, sem fé, sem principios e, em geral, materialista e mesmo ateu. E essa opinido esta bem longe de ser verdadeira, como veremos. “A nota ¢ 0 comentario me fizeram “cair das nuvens” e€ me obrigaram a dobrar os joelhos diante do SUPREMO ARQUITETO DO UNIVERSO, €m agradecimento, do fundo dalma, por essas ver~ dadeitas dédivas divinas, que foram ¢ssas. para mim, sensacionais REVELACOES: daf, é evidente, a re- tificagio de meus estudos sobre @ Maconaria, uma reviravolta, uma revolucéo, um lancamento de um MARCO inicial de estudos objetivos, leais, honestos € sérios.” Eis aqui a leal, honesta_e patética confisso do meu Amigo Padre Alberton S. J. E nao se pense que se trata de um jovem padre arrebatado. O Re. P. Valério Alberton é um iuomem de 64 anos de idade, engenheiro civil, ordenado aos quarenta anos de idade, e que, aos trinta anos, abandonou a sua profisséio para entrar no semindrio. Se, como Sao Paulo, ele encontrou 0 caminho de Damasco, louvado seja o Grande Arquiteto do Universo. A sua confissao espontanea, comovida e sincera, abre uma estrada larga e semeada de flores para a RECONCILIACAO.

You might also like