REFORMA TRABALHISTA:
IMPACTOS
IMEDIATOS SOBRE OS
SINDICATOS E PRIMEIRAS REACOES
Labor reform: immediate impacts on unions and first reactions
Roberto Véras de Oliveira (UFPB)
‘Andreia Galvéo(UNICAMP)
‘Anderson Campos (UNICAMPIPT)
Informagdes do artigo
Recebido em 24/08/2029
Aceito em oafio/2029
7 86K 2034.7248 9668-6
=
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‘Commons Atribuicio 4,0 Internacional
sll oral 252
Como ser citado (modelo ABNT)
\VERAS DE OLIVEIRA, Roberto; GALVAO, Andreia;
CAMPOS, Anderson. Reforma trabalhista Impactos
imediatos sobre os sindicatos eprimeirasreagoes.
Cadernos do CEAS: Revista Critica de Humanidades.
Salvador, n. 248, set /dez, p. 668-689, 2029. DOI
A ausénciade ritdessobreums estratégia indica que ener
2s mudangas profundas no mercado de trabalho e nasociedade
coloca-se comolimitagio preporderanterasrespostassindias
sofensivaliberal-conservodoraem cu'so no Bras. Com sa
respostasad hac prevalecem, restingindo as inkiativas aba
[da preservacio das estruturas das entidades, sem qualeuer
nfase sobre anecessidade derepensar a representativcade eo
papel do movimento sind&al nasociedade. Este artigo diate
25 respostasdo sindicalismo braslera frente aosimpactosda
Reforma Trabalhistaaprovadaem 2017, Partinos dos cados co
pesquisa desenvolvda pel Redede Estudos e Mon toramerta
Interciscplinar ea Reforma Trabalhista -REMIR, ealizac por
meio de entrevistas com dirigentes sindicais no segundo
semestre de 2038, ara destacar alguns temas que poderam
Jconformar uma estratégia sindical de enfrertamerto aos
[éesaios impastos pelas mudangas no mundo do trabalra, O
trabalho esté divididovem tréssegies, Naprimeira, distros
Jo impactos da Reforma Trabalhista sobre o snicalsma, no
gue dizrespet arepresentagig dorganizagio ed sustentio
tancera,Nasegunda seg, analsamos asrespostassindat
Paraa resisténciad Reforma, odservando limites econbmicose
politicos. Por fim, apresertamosreflexéessobre o proces de
Rransigdo da o-gan zagd0sindical @ partir das tendéncias
Palavras-chave: Reforma trabalhista,
Negociagio Coletva. go sind
Sindicaliana,
Abstract
[The lack of clarity about a trade union strategy that Faces
profound changes in the labor market anc society sa major
[eonsraint in trade union responses to the ongoing libera-
conservative offensve in Brazil Thus, a hoc responses preva,
restricting initatves to the preservation ofthe structures of
Jentites, without any emphass on the need to rethink the
representativeness and role ofthe trade union movement in
ociety. This article ciscussesthe responses of Brazilian rade
unionism to the impactsof the LaborRefarm approved in oxy
We seart fram data from research conducted by the
Interciscpinary Labor Reform Studies and MontoringNetwerk
REMIR, conductedthrough interviews with union lesders ihe
second half of 208. ,tohighight some themes that could spe
a trade union strategy to face the challenges pased by changes,
in the world of work The workis dvigedinto three sections
first, we discuss the impacts of the Labor Reform on
unionism, as regards representation, orgenizaticn and financial
support. Inthe second section, welodk at trade union resporas
fo resistance to Reform, looking at economic and polit
boundaries. Finally, we present reflections on the proces of
sranston of union arganzation fromthe already visible trencs
Keywords: Labor ceform. Unionism. Collective bargaiing
Union action
Cadernos do CEAS, SalvadoriRedfe,n. 248, . 668-689, set/dez, 2039 |ISSN 2447-862 Reforma trabalista:impactos imediatos sobre os sindcato..| Roberto V. Oliveira, Andrea Gave Anderson Campos
Introdugao
O presente artigo tem como propésito principal analisaras primeiras repercussdes da
Reforma Trabalhista aprovada em 2017 sobre o sindicalismo brasileiro, assim como as
estratégias poreste utilizadas para enfrenta-la. Nao ¢ exagero dizer que a Lei 13.467/2027
alterouos fundamentos da regulagao das relades de trabalho no Brasil, lancados a partirdos
anos 1940. As pressées “modemizantes”, inspiradas nas politicas de corte neoliberal e que
vém repercutindo no pais desde os anos 19go, ganharam novos impulsos mais recentemente,
com a aprovacao da Reforma e outras medidas de mesma natureza (KREIN, GIMENEZ e
SANTOS, 2038; VERAS DE OLIVEIRA, 2018). Uma dimensao, dentre as mais relevantes, de
suas repercussdes diz respeito ao tema do sindicalismo, foco desteartigo
Os dados aqui apresentados sao de carater inicial, tendo resultado de pesquisa
exploratéria realizada no ambito da Rede de Estudos e Monitoramento Interdisciplinar da
Reforma Trabalhista - REMIR?, como fim de identificaras implicagées imediatasda Reforma
Trabalhista sobre os sindicatos brasileiros, assim como as primeiras reagdes destes frente a
tais implicagdes. A pesquisa foi desenvolvida por meio de entrevistas com dirigentes
sindicais, procurando destacaras principais repercuss6es e as primeiras estratégias sindicais
© questionério compreendeu 40 questées, distribuidas em 5 blocos: identificag3o do
sindicato, organizagao sindical, posigo politico-ideolégica, negociacao coletiva eestratégias
sindicais.
A amostra ndo se baseou em critério estatistico, ndo cabendo, portanto, proceder a
partir dos seus resultados a generalizacées estatisticamente precisas. Contudo, buscousero
mais ampla possivel e expressiva da diversidade de situacdes presentes no universo sindical
brasileiro, isto, filiados a diferentes centrais sindicais, abrangendo diversas regides do Brasil
erepresentando trabalhadores de varios setores de atividade (indo do privado ao publico, do
rural ao urbano, daindustria aos servicos).
Foram realizadas 94 entrevistas, entre setembro e novembro de 2028. O presente
artigo, contudo, limitou-se 8 andlise de 79 entrevistas, Os sindicatos contemplados envolvem
pelo menos 30 cidades?, 11 Estados e o Distrito Federal, com maiores concentragéo no
+ Tendo contado coma colaboracao de dezenas de pesquisadores de todas as regides do pais
Sendo que cerca de 50% dos sindicatos é intermunicipal, isto é, abrange mais de um municipio.
Cadernos Go CEAS, SalvadorReaie,n-248, p. 668-685, set /aez, 2055 Reforma trabalista:impactos imediatos sobre os sindcato..| Roberto V. Oliveira, Andrea Gave Anderson Campos
Nordeste (439), Sudeste (32%) e Sul (23%). Em relagdo aos setores de atividade,
predominaram os servicos (57%), seguido da industria (27%), comércio (11%) e agricultura
(5%). Em conjunto, tais sindicatos representam (oficialmente) cerca de 2,5 milhdes de
trabalhadores na base, contando com cerca de 6gomil filiados. Na média, perfazemumataxa
de sindicalizago de 27%, superior’ média nacional (de 18%, segundo a PNAD de 2015).17%
dos sindicatos nao sao filiados a nenhuma central sindical, 47% so filiados & CUT, 10% &
Forga Sindical, 9% & CTB, 7% & Conlutas, 6% & UGT e os demais a Intersindical, CSB e Nova
Central Sindical, com 2% cada,
Passado um ano de vigéncia da Reforma Trabalhista, a0 que se depreende da
consulta, entre os mais importantes impactos produzidos sobre o sindicalismo se destaca 0
‘tema da sua sustentacdo financeira, A auséncia, por outro lado, de uma estratégia sindical
orientadaa enfrentar as mudangas profundas nas relacdes de trabalho ena sociedade coloca-
se como limitagdo preponderante nas respostas sindicais 4 ofensiva liberal conservadora em
curso no Brasil, Com isso, as respostas ad hoc prevalecem, restringindo as iniciativas 8 busca
dapreservacao das estruturas das entidades, sem qualquer énfase sobrea necessidade de se
repensar sua representatividade junto aos trabalhadores e o seu papel junto a sociedade.
© texto esta organizando em trés segdes, além desta introducao. Na primeira,
discutimos os impactos da Reforma Trabalhista sobre o sindicalismo, no que diz respeito &
representago, 8 organizacao e a sustentago financeira. Na segunda seco, analisamos as.
respostas sindicais paraa resisténcia Reforma, observando limites econdmicos e politicos.
Por fim, apresentamos reflexes sobre o processo de transicao da organizacao sindical a
partir das tendéncias jé visiveis
Areforma trabalhista em um contexto de ataque ao sindicalismo
Analises preliminares indicaram que a Reforma Trabalhista aprofunda o processo de
deteriorago do mercado de trabalho e fragiliza as instituigdes publicas do trabalho, a
exemplo da Justiga do Trabalho e das entidades sindicais. A disseminago de uma gama
diversa de tipos de contratos precarios afeta a base de representago dos sindicatos,
historicamente ancorada nos assalariados formalizados, aumentando o percentual de
Cadernos Go CEAS, SalvadorReaie,n-248, p. 668-685, set /aez, 2055 Reforma trabalista:impactos imediatos sobre os sindcatos..| Roberto V. Oliveira, Andrea Gave Anderson Campos
trabalhadores nao filiados a sindicatos endo cobertos por convengées e acordos coletivos’,
Desse modo, ela promove a fragmentacao da classe trabalhadora e a pulverizago da
representagdo dos sindicatos, pois a legislagao sindical brasileira estabelece que os
trabalhadores contratados de modo diferente pertencema categorias profissionais distintas,
ainda que exergam a mesma atividadee atuem no mesmo local de trabalho (GALVAO et al.,
2017; DIEESE, 2017).
Outros aspectos da Reforma impactaramnegativamente os sindicatos. A prevaléncia
do negociado sobre o legislado e a inversio da hierarquia dos instrumentos normativos
esvaziam o papel do sindicato na negociagao coletiva. A negociacaono local detrabalho por
intermédio de comissao de representantes dos trabalhadores, a possibilidade denegociagao
individual no caso de trabalhadores com salérios duasvezes superiores ao teto da previdénda
€ a homologacao da rescisdo contratual sem a participaco do sindicato concorrem para a
descentralizacao danegociagao e promovema transferéncia para a empresa, ov, atémesmo,
para o trabalhadorindividual, de tarefas antes exercidas pelos sindicatos, Emboraa Reforma
nao tenha alterado a redacao do artigo 7° da Constituicao Federal, ela possibilita a
negociagao da aplicagao daqueles direitos cujo conteiido é especificado apenas em normas
infraconstitucionais, comoa forma de gozo das férias, o percentual do FGTS, a remuneragéo
do trabalho noturno, entre outros. Em um contexto marcado pela ofensiva neoliberal, de um
lado, e por um mercado de trabalho desfavoravel, de outro, é possivel que grande parte dos
sindicatos negocie acordos rebaixados, consagrando, assim, a perda de direitos definidos em
lei. Por fim, ao tornar a contribuigao sindical facultativa, a Reforma ameaga a sobrevivéncia
das entidades sindicais.
A pesquisa confirma que o principal impacto estrutural sobre a organizacao sindical
ocorreu no tema da sustentacao financeira, No primeiro ano de vigéncia da Reforma, so
ainda baixos os impactos diretos desta sobre a representagao e a organizacao sindical
+ Pesquisa recente destaca as diferengas na remuneracao dos assalariados sindicalizados e néo sindicalizados.
Tendo por base os dados da PNAD, Gambier e Moura (2027) constatam que a remuneragao direta dos
trabalhadores celetistas sindicalizados era 33,596 superior & dos ndo sindicalizados em setembro de 2025, Essa
defasagem também ¢ observada na remuneracao indireta, isto é,relativa ao acesso a beneficios, como auxilio
alimentacéo, transporte esaide.
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Organizagaoe representacao sindical
No que se refere aos aspectos organizativos, 0 grafico 1 indica que a maior parte dos
entrevistados (399%) mencionou que nao houve alteraaono numero de filiados emsua base
apésa implementacao da Reforma, 23% revelou que houve redugo no nimero de filiados e
22% que houve alteracéo, nao sendo, porém, possivel precisarsua causa, sea Reforma ou 20
aumento do desemprego, da informalidade e da precarizagio decorrentes da queda de
atividade econémica verificada desde 2015. Por fim, 16% perceberam aumento no nimero
de filiados apés a Reforma entrar em vigor, que pode estar relacionado ao reforgo das
campanhas de sindicalizagao, uma das estratégias adotadas para compensar a perda de
receita ocasionada pelo fim do imposto sindical, como veremos adiante.
Grafico1- Numero de filiados apds a Reforma
LAS FORAM PROVOCADAS PELA REFORMA OU POR 22%
30%
ants 23%
1696
Fonte: Pesquise Sindical REMIR
A Reforma Trabalhista expressa a estratégia empresarial de ajustar seus lucros
preferencialmente pela via da reducao dos custos com o trabalho. As mudangas nas formas
contratuais (terceirizacdo, pessoa juridica, microempreendedor individual, auténomo em
uma relagdo de emprego disfarcada) precederam, contudo, a sua implantagio. Quando a
nova lei entrou em vigor, encontrou sindicatos mais fragilizados para resistir, diante de
trabalhadores mais inseguros e menos dispostos 8 luta coletiva. Tudo isso concorre para
deteriorar 0 poder de negociagao dos trabalhadores, sobretudo nos setores caracterizados
por uma maior precariedade, isto é, aqueles em que os salariose o nivel de qualificagao dos
trabalhadores tendema ser mais baixos, a rotatividade mais elevada e em que a incidéncia
da terceirizagdo € mais frequente, como operadores de telemarketing, motoboys,
motoristas, trabalhadores de limpeza, seguranga e construgao civil (GALVAO; TEIXEIRA,
2018).
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Uma das novidades introduzidas pela Reforma foi 2 possibilidade de criago de
comissées de representagdo dos empregados nas empresas, sem a mediacao dos sindicatos
e em concorréncia com eles. Nesse sentido, ao contrario do que propugnavam os defensores
da Reforma, a descentralizagao da negociacao, ao invés de valorizar, tem concorrido para o
enfraquecimento do sindicato. No entanto, ao que tudo indica, esse instrumento nao obteve
éxito no primeiro ano de vigéncia da Reforma Trabalhista. Como se observa no grafico 2, um
percentual muito pequeno dos entrevistados (996) respondeu que foi criada alguma comissao
de representacao dos empregados nas empresas apds a implementaco da Reforma. Alguns
poucos entrevistados relataramtentativas patronaisde criartais comissdes, logo rechacadas
pelos sindicatos. Outros relataram a estratégia sindical de adiantar-se & iniciativa patronale
incluirem nas convengdes e acordos coletivosa rejeigdo sua criacao.
Gréfico 2- Criago de comissio de representacao dos empregados nas empresasapésa
implementagao dareforma
Fonte:Pesquisa Sindical REMIR
E possivel que a fragilizacao dos sindicatos, pelas razées anteriormente apontadas,
tenha tornadoa
\G0 das comissdes de empregados nos locais de trabalho pouco atrativa
para as empresas. A baixa organizagao no local de trabalho é uma caracteristica da
organizagao sindical brasileira ea Reforma, até o presente momento, nao produziu nenhuma
alteraaonesseaspecto.
Sustentagao financeira
No que se refere ao tema do financiamento, 0 imposto sindical, tornado facultativo,
perdeu expresséo como fonte de arrecadaco e a mensalidadee a taxa negocialse tornaram
as principais formas de sustentagao financeira dos sindicatos apés a Reforma. Quando
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perguntados sobre a importancia de cada uma das fontes de financiamento em seu
orgamento (imposto sindical, taxa negocial, contribuigéo confederativa, mensalidade e
outras), 0 imposto sindical deixou de figurar como principal fonte em 86% dos casos em que
fora mencionado anteriormente. A mensalidade ganhou importancia como primeira fonte
em 40% dos casos e a taxa negocial, como segunda, em 35%, como mostrao gréfico3
Gréfico3- Posigo das principaisformas de sustentacao financeirados sindicatosantese apésa
reforma (hierarquizadas pelos entrevistadosems.e 2°lugar)
tp ug
Fonte:Pesquisa Sindical REMIR
Apesar dos dados nao serem estatisticamente precisos, um percentual muito
pequeno dos sindicatos investigados em nossa pesquisa disse manter o recolhimento do
imposto, e seus dirigentes sustentam que esta fonte de financiamento possui um peso
residual no orgamento de suas entidades. Embora organizacées sindicais tenhamingressado
com ag ages no STF contra o carater facultativo do impostoe apesar de reconhecer o peso
do imposto nas financas de muitos sindicatos, a maioria dos entrevistados afirmou nao ter
‘tomado qualquer iniciativa para assegurar a manutencao do imposto e declarou nao querer
© imposto de volta. Os dados levantados indicam uma redusio significativa do peso do
imposto sindical no orgamento dos sindicatos esua substituigo pela mensalidade e pelataxe
negocial, consideradas mais democraticas e controlaveis pelo sindicato, j& que é este quem
define seus valores e acompanha diretamente seus repasses. A primeira, porém, requer a
ampliagéo do quadro de associados. A segunda, depende da incluséo em acordos e
convengdes coletivas mediante a aprovaco da assembleia. A taxa negocial estd sendo
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introduzida pela primeira vez em algumas categorias via negociacao coletiva’, Emborao STF
tenha adotado a resolusao de que o desconto, além de aprovado em assembleia, sé poders
incidir sobre os associados, cléusulas relativas ao desconto para toda a categoria estdo
figurando nos instrumentos coletivos, com direito & oposicao individual e ressalvas explicitas
de que a entidade de representacao dos trabalhadores assume toda a responsabili dade em
caso de ages de denincia questionandoa decisdos.
De todo modo, observa-se uma mudanca na forma de financiamento das entidades,
com maior dependéncia da negociagéo coletiva, por meio da taxa negocial e/ou outras
formas de taxac3o por acordos coletivos. Tem sido cada vez mais frequente condicionar
acordos de banco de horas e participacao nos lucros ou resultados a uma taxa cobrada
individualmente. Verifica-se também, embora com menor expressdo, a ampliago de
servigos prestados & categoria como forma de atrair novos sécios e diversificaras fontes de
receita, E necessario observar se o tamanho do sindicato, o setorde atividade econémica no
gual se encontra inserido e a central sindical 8 qual esté filiado impacta sua capacidadedese
sustentar financeiramente e de que maneira esse impacto se da. Historicamente, as
entidades menores, com menor poder de negociacao e pulverizadas, tendem a ser mais
dependentes do imposto sindical. Desse modo, é plausivel supor que as entidades mais
estruturadas e com maior poder de negociagao serdo mais bem-sucedidas na substituigao do
imposto sindical pela mensalidade e pela taxa negocial, mas néo ha qualquer garantia e/ou
evidén: so serd efetivado.
s de que
« Levantamento feito pelo Salariémetro (Fipe) com base nos dados do Mediador mostra que “A contribuicio
para sindicatos de trabalhadores foi o terceira item mais frequente nas negoclagdes" 20 longo de 2038,
estando presente em 49,8% dos acordos e convencdes daquele ano (Boletim Salariémetro, janeiro de 2029)
‘Quando observamos cada uma das contribuicdes isoladamente, é possivel constatar que a taxa negacial foi a
forma de contribuigdo mais negociada nos acordos e convencdescelebrados em 2028:38,2% das negociacdes
introduziram a taxa negocial, 25,0% a contribuigdo assistencial, 3,6% a contribuicéo confederativa, 6,496 0
imposto sindical, 4,49 a cobranca por servicos e 37% outras contribuigées, sendo que um mesmo
instrumento pode ter aprovado mais de uma dessas formas de contribuiggo,
Em 2017, 0 STF confirmou o Precedente normative 119 do TST, de 2014, que restringia a contribuigo
assistencial aos associados. Tendo em vista anova realidade normativa pés-Reforma, o MPT manifestou-se
de modo distinto alegando que a mudanga nas condigées financeiras demanda um out roentendimento, para
assegurar a sobrevivéncia das organizagées sindicais (ver Nota Técnica n. 2, 2038). A MP 873/202, pore:
limitou a cobranca de quaisquer contribuigdes 20s sindicalizados, definindo também que odireito de oposig3o,
deve ser exercido de modo individual, © nao votado em assembleia, além de impedir 0 desconto das
contribuigdes em folha de pagamento.
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As respostas sindicais conformam uma estratégia de enfrentamento?
Quando perguntados sobre a posicao do sindicatoa respeito da Reforma Trabalhista,
a esmagadora maioria dos 79 respondentes (94,99) se colocou contra, sendo que apenas
2,5% do total avaliaram que havia, mesmo assim, alguns pontos positivos, enquanto 92,4%
se colocaramem defesa de sua revogacao completa. Chamaa atencao o fato de que, mesmo
se tratando de sindicatos filiados a diversas centrais sindicais, situados em todas as regides
do pais e representando diferentes categorias profissionais, a posicdo contra a Reforma foi
praticamente unanime.
Gr8fico 4 = Posigo emrrelagao 8reformatrabalhista
Fonte: Pesquisa Sindical REMIR
Entretanto, quando perguntados sobre a existéncia de algum aspecto positivo na
Reforma, um percentual um pouco maior (10,2%) dos 79 entrevistados respondeu
afirmativamente. Trés deles apontarama prevaléncia do negociado sobre o legislado como
uma forma de fortalecer o sindicato. Isso indica que alguns dirigentes apostam em sua
capacidade de negociacao para melhorar o que a lei estabelece, o que pode expressar sua
adeséo & tese da *modemizagio" da legislacao trabalhista. Porém, como veremos adiante,
essa é uma questo controversa. O fim doimposto também € destacado como algo positivo
porque combate o paternalismo e obrigao dirigente sindical a “sairdo comodismo”. Mas esse
também é um tema polémico, sobre o qual voltaremosao final deste artigo
Cadernos Go CEAS, SalvadorIReaie, 248, p. 668-685, sel /aez, 2055 efor trablhisarimpactosimediatos sobre os sinicats.. Roberto V Olivera, Ania Galvdoe Anderson Campos
fico 5 - Identificagdo de algumaspecto positive naReforma Trabalhista
sim
10%
Fonte: Pesquisa Sindical REMIR
Do mesmo modo, foi perguntado se o sindicato identificava algum aspecto negativo
na Reforma, ao que 100% dos entrevistados responderam que sim. A Reforma em si foi
considerada uma medida negativa, sendo que alguns destacaramaspectos mais gerais, como
a precarizagéo do trabalho e a perda de direitos, e outros indicaram aqueles que mais
impactamsua atuago, como a homologagao por fora do sindicato.
Aprevaléncia do negociado sobreo legisladoé uma das principais medidas advogadas
pelos defensores da “modernizacao" da legislaao trabalhista e constitui um dos pilares de
uma concepgao neoliberal das relacdes de trabalho (GALVAO, 2007; KREIN, 2023). Devidoas
controvérsias que essa medida suscita, os entrevistados foram questionados sobre sua
posigo a respeito. A maior parte se manifestou contrariamente (72%). Entretanto, na
mesma direcdo daqueles que anteriormente identificaram pontos positivos na Reforma, 14%
admitiram essa possibilidade, a depender do tema, e 9% sedeclararam a favor (grafico 6)
Gréfico 6 - Posigao sobre a prevaléncia do negociado sobre olegislado
= | =
Fonte: Pesquisa Sindical REMIR
Os contrarios & medida a identificamcom o enfraquecimento do sindicato etemem a
possibilidade de que prevaleca um conjunto de direitos abaixo do patamarassegurado pela
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lei, Os favoraveis acreditam que a medida dé ao sindicato a oportunidade de melhoraraquilo.
em que a lei é ruim, levando ao fortalecimento da entidade. Estes Uitimos desconsideram
fato de que a legislacdo vigente anteriormente a Reforma jé permitiaa negociacao denorma
mais favoravel & lei, de modo que a prevaléncia do negociado significa, na pratica, a
possibilidade da negociacao derrogar o queallei garante, impondo perdas aos trabalhadores.
Por fim, entre os que considera que depende do tema, alguns entendem que deve haver
um conjunto de direitos inegocidveise quea possibilidade de a negociagao melhoraralei esta
condicionada forga do sindicato.
Em que medida a posicao preponderantemente contraria & Reforma se traduziu em
uma aco efetiva dos sindicatos consultados unto asua base, em contrario sua aprovacéo?
A maioria absoluta dos entrevistados (96,2%) revelou que o sindicato buscou informar e
discutir a Reforma com os trabalhadores antes de sua aprovacio. Entre os instrumentos
citados prevaleceramo meio impresso e digital, o uso de redes sociais e reunides presenciais.
Durante a tramitagéo da Reforma, cerca de 25% dos sindicatos manteve a pratica de
discussdo coma base como principal estratégia. Menos de 20% disse ter adotado formas de
aco que envolviam um maior nivel de confronto, como participagéo em mobilizacdes ¢
greves. Ao que tudo indica, a reacao sindical ficou muito aquém da gravidade das medidas
gue estavam sendo debate e que ao final foram aprovadas.
O bloco de perguntas sobre posicionamento politico-ideolégico foi encerrado com
uma questao sobre as dificuldades enfrentadas pelo movimento sindical para barrar a
aprovacao da Reforma. Foram mencionadas razdes de ordem politica (66%), comoa crise, 0
impeachment, a auséncia de representacao dos trabalhadores no Parlamento, a atuacao da
midia em favor da Reforma. A estas acrescentaram razes relacionadas mais diretamente a
politica sindical - como a aposta de parte do movimento sindical na negociagdo de uma
medida proviséria como ento Governo Temer -, a persisténcia do corporativismo sindical, 0
peleguismo, a crescente distancia das direcdes em relago as bases. Foram citadas, ainda,
razbes caracterizadas pelos entrevistados como organizativas (25%), tais como: falta de
diregdo, falta de capacidade de mobilizar os trabalhadores, auséncia de entendimento entre
as centrais sindicais, diviséo entre as centrais sobre a Reforma, uma vez que, enquanto
algumas optaram pornegociar como governo, outras buscaram organizar greves gerais. Por
Ultimo, foram elencadas razées materiais (9%).
Cadernos Go CEAS, SalvadorIReaie,n- 248, p. 668-685, sel /aez, 2055 Reforma trabalista:impacts imediatos sobre os sindcato..| Roberto V. Oliveira, Andrea Galvioe Anderson Compos (ZZ IE
Gréfico7- Dificuldades enfrentadas pelomovimento sindical para barrara Reforma
Fonte: Pesquisa Sindical REMIR
O que senota no conjunto dessasrespostasé que ndo se mostrouclaro o diagnéstico
sobre a ordem de dificuldades enfrentadas pelo sindicalismo diante do desafio de enfrentar
a aprovagéo da Reforma. Mesmo sob a referéncia majoritaria a razGes “politicas", foram
elencadas motivos tao diversoscomo os relacionadosao contexto politico mais geral eoutros
de carater mais interno como a persisténcia da cultura sindical corporativista
Provavelmente, a dificuldade em produzir um diagnéstico preciso sobre as razées dessa
derrota politica tema vercomuma incapacidade mais geral do movimento sindical em definir
um diagnéstico mais consistente e mais comum sobre sua condigo atual, desafios e
possibilidades.
O impacto sobreas negociagées coletivas
No que se refere 8 negociacao coletiva, ha evidéncias de que se tornaram um campo
mais adverso defesa dos direitos dos trabalhadores. Menos de 10% dos sindicalistas
entrevistados afirmaram nao sofrer pressdes adicionais para firmar convencdes e acordos
coletivos comcondigdes menos favoraveis para os trabalhadores, Emcontrapartidaa grande
maioria dos entrevistados sustentou que houve alteragdo, para pior, nas condigées de
negociagéo, 0 que contraria 0 argumento de que a Reforma viria para fortalecer as
negociagdes. De modo geral, prevaleceua avaliagdo de que os sindicatos passaram a sofrer
maior pressao patronal para aceitar a flexibilizacdo de direitos no processo de negociagaoe
témmenos dinheiro para a realizacao de suas atividades
Segundo os entrevistados, a pressao patronal esté ocorrendo mais sobre as
convenges coletivas do que sobre os acordos coletivos. Isso poderia representar uma
Cadernos Go CEAS, SalvadorIReaie,n. 248, p. 668685, set /aez, 2055 Reforma trabalista:impactos imediatos sobre os sindcatos.. | Roberto V. Oliveira, Andrea Glvdie Anderson Campos
tentativa de esvaziamento da convengo, que constitui uma forma de regulacao mais geval,
evidenciando a preferéncia patronal pela negociagao mais descentralizada, No entanto, os
dados do Mediador mostram que houve uma queda mais acentuada dos acordos, 0 que
contraria 0 objetivo da Reforma de descentralizar as negociages®. Ressalte-se que, em
ambos os casos, houve reducao no nimero de negociagdes. Conforme os dados da pesquisa,
05 sindicatos tém resistido a negociar as alteracdes introduzidas pela Reforma, seja via
acordos por empresa, seja via acordos individuais: 62% disse nao ter realizado acordo por
empresa para negociar pontos da Reforma; 66% alegounao ter realizado acordo por empresa
para nego:
banco de horas e 76% afirma nao ter realizado acordos individuais para tratar
das alteracdes introduzidas pela nova lei
Nossa hipétese é que, em um contexto assim, mais desfavordvel, os sindicatos se
tornaram mais cautelosos no proceso de negociagao, 0 que levou ao impasse nas
negociagdes:de um lado, os sindicatos, mesmo os pequenos e com menos tradicao de luta,
resistem a introduzir as medidas que consideram mais prejudiciais aos trabalhadores; de
outro, buscam preservar as clausulas anteriormente pactuadas e introduzir salvaguardas (por
exemplo, a manutengao das prerrogativas sindicais, como a homologacao com participagao
dos sindicatos, a introdugao da taxa negocial para compensaras perdas financeiras”).
A preservacéo das cléusulas existentes nos instrumentos normativos requer
capacidade de organizagao e resisténcia politica. Seja devido a resisténcia, a cautela, ou 8
prépria crise econdmica, que nao possibilita uma significativa recuperacao do nivel de
emprego, varias das mudangas introduzidas pela Reforma foram pouco negociadas em seu
primeiro ano de vigéncia. Por outro lado, apesar de, em sua maioria, defenderem a sua
revogacao completa, antes mesmo de sua implementacao 0s sindicatosjé negociavamo que
no estava na lei, promovendo uma flexibilizagdo na pratica (GALVAQ; TEIXEIRA, 2018). 0
fato de a lei legalizar praticas ja existentes no mercado de trabalho ajuda a entender a
auséncia de mudancas mais substantivas na negociagao, ao menos nesse momento inicial
§ Os acordos cairam de 43.008 em 2017 para 30.282 em 2038, uma reduglo de 26,2%. As convengdes sofreram
uma queda de 23,79, passando de 5535 para 4.2040 mesmo period.
7 Tema que, segundo os entrevistados, enfrenta 2 oposigzo patronal. Porém, como revelam os dados do
Salariémetro supramencionados, tem sido introduzido em cerca de 2/3 das negociagdes. Os dados também
indicam que, em alguns poucos casos, © pagamento das contribuigSes tem sido assumido pelas empresas
Embore 0 percentual seja_pequeno, isso nos parece digno’ de nota, Ver
httpu/salariometro fipe org br/negaciacao
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