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MARCOS BERSTEIN* Contribuicdes de Pichén-Riviére a psicoterapia de grupo TRADUCAO: LIANA DI MARCO muitas maneiras para a psicoterapia de grupo. E desses legados. Os primeiros provém de egam jé na década de 30 quando, a instituigao de- Pichon-Riviére contribuiu de importante resgatar a evolugdo hist6rica suas experiéncias com grupos familiares, que com sendo ainda estudante de medicina, trabalha no asilo de Torres, um: dicada a criangas oligofrénicas. Nessa investigagdo, descreve uma sindrome 4 qual denomina Oligotimid. Os oligotimicos tinham uma aparéncia rosada € muito boni- ta, diferente dos Oligofrénicos, que possuiam uma base organica e estigmas fisicos degenerativos. Entretanto, os oligotimicos eram possuidores de um grau de retardo mental significativo. Af Pichon comega suas primeiras investigacdes sobre 0 grupo familiar dessas criangas, descobrindo que 0 retardo € causado, nesses casos, por ca- réncias afetivas sofridas na tenra infincia, no seio do grupo familiar. Sua investiga- do no grupo familiar continua quando se torna Chefe no Servigo de Admissio aa Hospicio de las Mercedes, nos primérdios da década de 40, onde observa de perto 0 estado do paciente no momento da internacao. Recebe-o em estado de orise , te a eclosao ou reativacdo do processo psicético, E é quando a presenga 0 ‘uusén. cia da fam‘lia torna-se sempre significativa: pela maneira em que se me ua ausén- formas de interagdo ou pela propria auséncia da familia. E é neste nanente aue comega a investigar 0 quadro do abandono familiar, da segrey acdc aan ee tal, 0 confinamento no hospicio e logo o “hospitalismo” td aoe lo doente men- negam a a porque do quefem voltar a0 grupo familiar. 9 nes 'e alguma forma, era a percepcao de ' se ata omar eer a2 0 Np avian some Fsbo tales eas doentes't cdaviaaxnt form {dal Gears cava eee gem da enfermidade, +» Exerce sua atividade em Buenos Aires, Rep, Argentina. LSD OBIE eae! (nettle ad _— dava-se de uma maneira assistemética, espontnea. Em seguida, Pichén-Riviere agre- ga asia tarefa de Chefe da sala do Servigo de Adolescentes, cuja data de criago nfo est bem delimitada — entre 43 © 44 — sendo fechado em 47 por razBes politicas. Nessa época, indaga a relacdo entre a enfermidade, esquizofrenia na maioria dos ca- sos, a situacao familiar. Investiga o tipo de vinculo, a situagZo desencadeante ¢ ob- serva as situacdes de perda ou de privagio como constante. Tais hipdteses de Pichon comegam a tomar forma; desde entdo desenvolve sua nogdo de grupo interno, que se manifesta no vinculo transferencial. Grupo interno como cendrio no qual so recriados objetos, relagdes, vinculos. E comega a desen- volver sua hipétese do porta-voz. Existé relagdo de causalidade nao linear, € sim dialética, entre a estrutura e a dindmica do grupo familiar, e a estrutura e dina- mica-do-grupo interno ou \do interrio’ do’ porta-voz. Surge, entdo, a nogao de porta-voz, que -¢furidamental. em dia falamos de paciente identificado de acordo com as novas correntes; porém, jd naquela época (estamos falando da década de 40), Pichon comega a usar o termo porta-voz para se referit ao doente mental co- mo depositdrio, Aparece 0 jogo das trés letras D, onde o doente mental surge como © “depositario” de todas as patologias ansiedades do grupo familiar, as quais sao as “depositantes”, E 0 que depositam, ou 0 “‘depositado”, si justamente essas an- siedades, essa patologia =o ORES Passemos, agora, a revisar a conceptualizagdo tedrica de tais experiéncias e sua aplicagio no campo da dindmica de grupos. ayia ok rPn rr RESISTENCIA AMUDANCA 9.082 Todo processo de cura implica mudanga. A atitude diante da mudanga pode ser positiva e falamos, entdo, de atitude mutante; om negativa, 4 qual chamamos de resisténcia a mudanga. Frente as situagdes de mudanga, surgem 8 medos bisicos: 0 medo da perda e o medo do ataque. O primeiro é 0 medo de perder o que jé se tem (por exemplo: marcos referenciais prévios, beneficios secundirios do sintoma, adap- tagbes passivas a situagio de enfermidade, etc.). O segundo € 0 temor frente ao des- conhecido, que pode ser perigoso, ¢ diante do qual sentimos que no estamos ins- trumentados para manejar com a no va situagao. ‘Ambos os medos se conjugam no dito popular: que 0 bom por conhecer”. , Ao medo da perda corresponde a aparigao de uma ansiedade depressiva, ¢ 20 medo do ataque a apariggo de uma ansiedade parandica O° persecut6ria, Quando 0 aaecnante de tais ansiedades € muito elevado, determina @ ab 10 da resisténcia & mudanga. Para Pichon essas ansiedades funcion: los ep (mmodifcando ‘a nogao de obstaculo epistemologico de Bachelard, isto é, aqueles que i i blematica emocional-afetiva). E ‘turbam a aprendizagem a partir de uma Pro n E pa falamos de aprendizagem, entendemos todas as aprendizagens, desde as pri- meitas realizadas pelo bebé, na sua relagdo com a mae, passando pela aprendizagem “mais vale o mal conhecido do 109 ‘am como obstéculos epistemofilicos , de papéis no grupo familiar, ¢ por todas as que realiza no seu processo de adaptagio ativa a realidade. . ; 7 Dizfamos que todo o processo de cura implica mudanga. A psicoterapia de grupo niio escapa a esta regra universal. 7 “A técnica de grupos operativos centra-se na mobilizago de estruturas estereo- (tipadas e das dificuldades de aprendizagem e comunicac4o produzidas pelo montan-, te de ansiedade, que provoca toda a mudanga.\ , Por essa mobilizagtio, captamos no aqui-agora-comigo, ¢ na tarefa de grupo, o conjunto de afetos, experiéncias e conhecimentos com os quais os integrantes de um grupo pensam e atuam, seja no nivel individual ou grupal. No grupo operativo, instrumento adequado para abordar a doenga, coincidem © esclarecimento, a comunicagao, a aprendizagem ¢ a resolugdo da tarefa, j4 que através desta tltima ¢ possivel resolver as situagdes de ansiedade. Retomemos agora 0 que se refere aos medos bisicos, referindo-nos mais espe- cificamente a0 Eu do sujeito. No grupo operativo instrumenta-se um processo tera- / péutico que passa, fundamentalmente, pela diminuigdo dos medos bisicos, em ter- mos de medo do ataque ao Eu e medo da perda do objeto. Esses medos paralisam 0 | Eu e o tornam impotente. Através da técnica operativa se fortalece o Eu do pacien- J te, conseguindo-se, assim, uma adaptacio ativa d realidade. Essa técnica hierarquiza como tarefa grupal a construgio de um ECRO (es- quema conceptual, referencial e operative) comum, condigao necessdria para estabe- lecer uma comunicagao a partir da afinidade dos esquemas referenciais de emissor e receptor. Elaborar 0 ECRO comum implica um processo de aprendizagem. A tarefa depende do campo operativo do grupo. Se se trata de um grupo que se refira 4 aprendizagem de qualquer disciplina, a tarefa consiste na elaboragaoe re- | Solugo das ansiedades relacionadas com a abordagem do objeto do conhecimento, facilitando, desta maneira, a incorporagio de uma informacao realmente operativa, Em um grupo terapéutico a tarefa é resolver o denominador comum da ansie- dade do grupo, que, em cada integrante, toma caracteristicas particulares. Se a tarefa é a cura, os membros do grupo a compartithar um ECRO podem reparar as redes de comunicagao danificadas no Processo de adoecer, podem rea- prender, fortalecer seu Eu e superar a resisténcia 4 mudanga. A avaliagao dessa etapa € realizada com base nos critérios de adaptacao ativa a realidade, que implica a L » Por conseguinte, uma acdio corretiva), it , porém, importante é que ele, por sua vez, tran: OTS O rnais) 'sforma-se num agente de mudanga, OS PAPEIS ~ VERTICALIDADE E HORIZONTALIDADE A partir dai, os papéis, de fixos e estereo i i tipados, passam a se ionais, in- tercambidveis ¢ operativos. O grupo adquire, as Pe ser funcionais, in. sim, uma dindmica mais fluente da WW af? lone tay, Aeerdn “Op tarefa ¢ cada paciente adquire uma corisciéneia de sua propria identidade ¢ da dos demais, No grupo se di um jogo de adjudicago ¢ assungio de papéis. A plasticidade dos papéis permite assumir papéis complementares ¢ suplementares. |, ALO- Na medida em que um grupo operativo se propde a cura de seus integrahtes, centra-se na ruptura dos esteredtipos dos mecanismos de adjudicagio e@ssun¢ao de papéls © os pacientes conseguem, assim, modificar seus vinculos internos e externos. O grupo operativo esta centrado na tarefa e sua finalidade ¢ aprender a pensar em termos de resolugiio das dificuldades manifestadas no campo grupal, e nao no de cada um de seus integrantes, o que seria uma psicandlise individual em grupo. Entretanto, tampouco estd centrado, exclusivamente, na dinamica de grupo tal como nas concepgdes gestilticas, mas sim que em cada aqui-agora-comigo na ta- refa se opera em duas dimensdes, constituindo assim uma integragdo de diferentes correntes. O paciente que enuncia algo é, 0 mesmo tempo, porta-voz de si mesmo e das fantasias inconscientes do grupo. Tecnicamente, as interpretagdes se realizam, por conseguinte, em duas diregdes: por um lado, interpreta-se 0 porta-voz, que por sua historia pessoal & muito sensfvel ao problema subjacente e que, atuando como radar, detecta as fantasias inconscientes do grupo ¢ as explicita. Por outro lado, assi- nala-se que © explicitado é também um problema grupal, produto da interagdo dos membros do grupo entre si, com o terapeuta e com a tarefa, E que o porta-voz, por um processo de identificagio subliminar, percebe e enuncia, Quer dizer que, uma vez assinalados os aspectos individuais ou mobilizantes do porta-voz, a interpretagao desvelard os aspectos grupais latentes, adquirindo, desta maneira, uma dimensio ho- rizontal, — Diese, assim, a articulagio de dois niveis no grupo: a verticalidade e a horizon- talidade, A verticalidade esté relacionada com a histéria, com 0 pessoal de cada inte- grante, que permite assumir certos papéis que foram adjudicados pelos demais. A horizontalidade ¢ compartida pelo grupo, o denominador comum que os unifica, que pode ser de natureza consciente ou inconsciente, Quando sao de natu- reza inconsciente, denomina-se-lhes universais de grupo ou fantasias basicas univer- sais, A verticalidade de cada integrante, o individual, sua historia, o colocam em si- tuagio de estabelecer uma falsa conex%o ou reatualizago emocional, operando-se, assim, um processo transferencial. Em outras palavras, certos fatos presentes do aqui-agora-comigo do grupo rea- tualizam acontecimentos histéricos de cada um dos integrantes; em cada situago emergirao distintos integrantes, que se converterao em porta-vozes do conflito que é vivido como proprio por cada um, mas que denuncia, ao mesmo tempo, 0 conflito da situagio grupal em relagio 4 tarefa. As vezes, esta situacdo grupal somente pode ser decodificada através do verbalizado ou atuado por varios porta-vozes. ‘A verticalidade do sujeito e a horizontalidade do grupo se conjugam no papel A interpretagao deverd, por conseguinte, tal como diz{amos antes, incluir varios ni: veis, j4 que 0 porta-voz enuncia o problema na medida em que, por sua historia pes- soal, encontra-se perto deste conteiido (1). O PORTA-VOZ / 0 conceito de porta-voz, tal como assinalei, historicamente, comega com 0 es- tudo realizado por Pichén com os grupos familiares dos pacientes no hospital neuro- psiquidtrico. A doenga mental no € a de um individuo isolado, mas o resultado da patologia de seu grupo familiar. O doente desempenha um papel, é porta-voz des- Sa situago, e se dé o jogo das depositag&es, o jogo das trés letras D (j4 menciona- do)—Ao'ser depositirio de aspectos negativos ou atemorizantes do grupo, é transfor- mado:ém_bode expiatério e aparece o fendmeno da segregacio. O doente é segre- gado do grupo familiar. ~~ ~O"Mmontante de segregagio dependerd do tipo de ansiedade predominante. Se predomina a ansiedade depressiva, significa que a familia ainda tem certa capacida- de de integragdo e de tolerancia da ambivaléncia; o grau de segregagdo ¢ menor (em geral dentro de casa), Em troca, se predomina a ansiedade parandica, a famflia ma- neja com um mecanismo de dissociagdo altamente persecutério; o grau de segrega- Go € maior e 0 doente ¢ expulso de casa e “depositado” numa instituigao.* A partir de tudo isto, Pichon estende o conceito de porta-voz aos grupos ope- tativos. Porta-voz € aquele que num determinado momento diz algo, e 0 que diz ou faz € 0 signo de um processo grupal que estava latente. O porta-voz no tem cons- ciéncia do significado grupal que possui o que enuncia, Existe, af, um jogo de pala- vras: 0 porta-voz, com 0 que “‘enuncia”, “denuncia”, Quer dizer, ele diz algo que vi- ve como préprio; porém, subliminarmente, petcebe algo que acontece no grupo e pode expressé-lo, porque, devido sua hist6ria pessoal, encontra-se mais perto que os demais da referida cena, Ele denuncia o acontecer grupal, as fantasias, ansiedades ¢ necessidades do grupo. Fala ndo somente por si, mas por todos, e nele se conju: gam, por conseguinte, a verticalidade e a horizontalidade, Qualquer acontecimento que sucede no grupo é uma manifestagao do conted- do implicito da situagao grupal, que se realiza através do e; integrantes que atuam como porta-vozes, desnudando ou denunciando, assim, 0 la- tente da referida situagdo. Por isso Pichén chamava © porta-voz de alcagiiete — ou lrovador-radar — do grupo. Ao desnudar seu segredo, mostra‘nos, a0 mesmo tempo, © contetido implicito da fantasia grupal. Analisando a Poética, de Aristételes, Pichon estabelece uma comparagio entre a relacdo porta-voz-grupo e a “‘delegacio expressiva” que se da no teatro grego, atra- vés da relagdo protagonista (porta-voz-coro). (1) , Delegacao expressiva consiste na de ou emogdes em alguém que as coloca em -Xposto por um ou varios Positacdo de fantasias, agdes, pensamentos evidéncia através da desocultagao, bro atgsung catacteristica paradoxal do porta-yor no grupo fami Aparentemente, é 0 mem- Seporitago marae ne es Porém, na realidade, é 0 mais forte, ja que € quem suportou o peso da ‘aguenta mais c fica det 8, as demais. O que ocorre é& que num determinado momento nio Stdtios de todas a tenets © COMO 0 Corpo humano: hi Corton apse que costumam ser depo- sua resistencia, fazem 0 crack © aparece eenent> HO dual a quantidade de depositagae supera compreender tnelhoro queg “fees a doen (leer, ;infarto, asma, hipertensao, etc.) Para que é quem agiienta a sit ém “eitgestme dizer que o porta-voz é'o mais for- ie, no final edocs ™® # dePositacto, porém “situactonainents te Poe ¥o i 112 €o mais “débil”, ja que é 0 Aristoteles descreve a criagao dramdtica como uma “arte destinada a melho- rar os homens, mediante o exemplo evidente, espetacular, de males que, a0 aconte- cer aos outros, podem também acontecer ands”, No teatro grego os espectadores participavam ativamente, €, a0 contemplar 0 espetéculo, realizavam ao mesmo tempo uma verdadeira catarse emocional. Este Processo realiza-se por identificagdo com o porta-voz-protagonista. Aristoteles 0 considerava como um tipo de terapia, sendo a forma mais antiga que se conhece de psicodrama. No grupo operativo ocorre algo similar. O grupo atua como espectador-parti- cipante frente ao porta-voz que emerge e que representa o ator. Produz-se, assim, no ntecer grupal aparece no cendrio (que seria o grupo), um duplo acontecimento: benéfico e catastrofico. A catdstrofe externa poe tudo em revisdo (poderia ser uma situagdo de perda atual ou desencadeante), A catastrofe interna é a depressao basica, tal como explica- remos mais adiante. Logo aparecem outros personagens, que na tragédia grega vao se reunindo em dois subgrupos: o branco, que representa a vida e 0 amor (Eros), a construgio, a criatividade, o reconhecimento, a gratidao (isto é, o bom); e 0 preto, que representa a morte (Ténatos), 0 ddio, a destrutividade, a inveja, a ingratiddo (isto ¢, 0 mau). O subgrupo preto prepara uma armadilha ao branco, e, as vezes, este contra- ataca. Isto constitui as jd mencionadas estratégias taticas técnico-logisticas. Como na tragédia grega, as peripécias entre brancos e pretos seguem um desenvolvimento no qual se intermisturam, se intercambiam, passam por estédios “cinza” e se escurecem, até que a situaco se esclarega. Ha um magnifico desenho de M.C. Escher, intitulado Encounter, que mostra claramente essa categoria de passagem que se dé entre os subgrupos brancos e pre- tos. (2) Em outras palavras, ninguém é totalmente bom ou mau. Na situago grupal, 0s “bons” de hoje podem ser os “‘maus’” de amanha, e vice-versa. Vou fazer, agora, um breve comentario comparativo com a escola francesa (Anzieu, Kaes, etc.), que retoma 0 conceito de ressondncia fantasmitica exposto por Foulkes como ressonancia inconsciente, em 1948, e por Ezriel como ressonin- cia fantasmética, em 1951, os quais aplicam ao grupo o princfpio de ressonancia ti- rado da fisica, Em 1450 aparece 0 conceito de ressonancia actistica, que em 1862 ampliado pelo fisico Helmholz, que o estende ao campo da dptica e da eletromagné- tica. (3) Um sistema fisico pode ser colocado em vibragdo ainda com uma freqiiéncia muito distanciada de sua freqiiéncia atual. Este efeito é fraco, porém aumenta a me- dida que a freqiiéncia excitadora se aproxima da freqiiéncia natural do sistema, ~e quando se localiza na referida freqiiéncia natural o sistema entra em “ressonan- cia”. Para tornar esta nogiio mais didética, dou ao leitor o exemplo pratico da miisi- ca, Recordo que na escola, nas aulas de miisica, a professora, antes de comegar, to- cava um diapasio, Lembro que nés, criancas, brincdvamos de roubar os diapasdes da 113 professora e os fazfamos vibrar por ressondncia. Isto é, um tocava o lupus, colo cava-o perto de outro e, sem ter sido tocado, o outro diapasto comegava a vibrar; no caso de se ter varios diapasGes, a vibragdo vai se estendendo por ressondncia a to- dos. Esse fendmeno depende da longitude de bragos de cada diapasdo; quanto mais proxima seja a longitude de bragos entre um diapasdo € outro, mais facilmente e a maior distancia vao comegar a vibrar por ressonancia, —No grupo alguns membros vdo servir a outros como suportes para suas pul- sbes, isto ¢; pontos de-identificagao"com os quais um integrante pode identificar-se outro. es ~ Nisto se baseia a ressonancia fantasmatica, que é 0 agrupamento de alguns membros sobre um, ao qual se denomina “portador”, que thes faz ver, através de suas palavras ou condutas, seus fantasmas (fantasias) individuais inconscientes. Todo 0 discurso do grupo pode ser entendido como o colocar em cena o fan- tasma daquele que € 0 portador, ao qual alguns respondem, ocupando posigdes in- clufdas no cenario do portador, © portador poe sobre o cendrio do grupo suas fantasias inconscientes, quer di- zer, emite, projeta € provoca nos demais determinadas reagdes. Se nos demais inte- Brantes ecoa o fantasma que este sujeito coloca em cena, se engancham, comecam a “vibrar” por ressondincia e ocupam um lugar na cena que 0 portador propoe. Isto € possivel porque os grandes temas do inconsciente so poucos e sfo uni- iqueles que esto mais proximos do tema versais. Os intercdmbios acontecem com a Proposto. ) © Para Ezriel a resso tram, cada uma projeta sua fantasia in atuarem de acordo com seus fantasmas, Se os demais jogam o papel adj as interpretagbes se referirdio ao den: todos os membros, ludicado, estabelece-se uma “‘tensio comum”™, e }ominador comum das fantasias inconscientes de fs oe ‘epresentar isto, graficamente, através do seguinte esquema (centri- 1g0): ozo —— oO ifoque de Pichon-Riviére sobre as trés let im (esquema centripeto): | FIR poten M4 Se recordamos, agora, o en! Presentamos, graficamente, assi mana Porém, se a este esquema juntamos o desenvolvido por Pichon a respeito do teatro grego, o esquema ficaria assim (centrifugo-centripeto): oho P= Ports-voz ~ Portador J \So Este esquema é a forma com que eu Osta a visio de Pichén a respeito do porta-voz, mesmo quando Pichén no explicita 0 conceito de porta-voz tal como a escola francesa. Entretanto, pensei em um outro possivel enfoque que abarca a nogio de emergente (serd desenvolvida mais adiante em termos de situago). Nesse enfoque, 0 central € a situagao do grupo (emergente), e os porta-vozes, por um lado, se configu- ram ao redor desta, e por outro, so aqueles que determinam sua estruturago, ® eo Ox 20 9 Mine TP WSO oO O Simplifiquei 0 esquema com um s6 porta-voz com o fim de torné-lo mais di- dético, porém nao podemos nos esquecer de que muitas situagdes se estruturam através de varios porta-vozes. UNIDADE DE.OPERAGA‘ EMERGENTE XISTENTE-INTERPRETACAO- Lucien Goldman, na sua exposi¢ao sobre 0 método estruturalista genético, assinala que este parte da hipétese de que todo o comportamento humano é um en- saio de dar uma resposta coerente e significativa, uma resposta adaptativa a uma da- da situagdo, e que tende a criar uma situagao de equilibrio entre 0 sujeito e o meio que 0 cerca, Esse equilibrio € precério, j4 que as condutas modifica o meio, e este, por sua vez, exige novas respostas adaptativas que engendrarfo, por sua vez, novas tendéncias ao equilibrio, As realidades humanas, a histéria toda, aparecem, entdo, como um proceso duplo: desestruturagdo de articulagdes anteriores, de relagdes internas prévias, ¢ estrutura¢do de novas situagdes. A leitura de um processo impli- ca, entio, iluminar que tipo de estruturagdo se abandona e que tipo de reestrutura- gio se obtém. 1s i 12 Vejamos, agora, como Pichon de nvolve o conceito de emergente. Em Prine. pio, assimila porta-voz e emergente. O ponto de partida de sua especulagio ¢ Emorgéncia da doenga. mental no grupo familiar. O doente ¢ 0 “emergente” de uma ituagao. / i a stags is tarde, ém 1960, em “Estrutura de uma escola destinada a formagdo de psicélogos socials” (4) 0 define como “conduta nascida da organizagzo de diferen. tes elementos, acontecimento sintético e criador que aparece como resposta d inter pretagdo”. Em 1970, em “Transferéncia e contratransferéncia na situagdo gru. pal”, (5) 0 descreve como uma qualidade nova que aparece no campo e que como signo nos levalao implicito da interagdo grupal. Ent, a situago grupal de enfermi- dade é “o emergente”, e 0 porta-voz é 0 veiculo através do qual se manifesta este emergente. Isto 6, que na unidade de operagdo devemos distinguir 0 existente, que € toda a situagao dada no grupo. E algo que aparece em um dado momento. Se vemos a etimologia da palavra, provém do infinitivo, do latim ex/sjistere, que quer dizer: sair, deixar-se ouvir, nascer, sobrepor-se a. Se é tudo 0 que existe, abarca tanto 0 explicito como o implicito da situagao grupal. Este existente compreendido pelo agente corretivo motiva nele uma interpre- tagao que prope uma nova perspectiva que esclarece as dificuldades e que modifica as situagdes, mudanga que se expressa num emergente que fecha 0 ciclo. Isto 6, que o emergente surge como resposta a interpretagdo; é a estruturagdo de uma nova situagao grupal. E 0 signo do processo de desestruturagZo de uma si- tuag’o prévia e da reestruturagao de uma nova. Neste estruturar-se-desestruturar-se, 0 emergente é uma qualidade nova que aparece no campo, € nos leva como signo a relagdes implicitas, as causas de sua pl0- dugao. E um acontecimento sintético na medida em que organiza elementos do cam- Po, e também como superacao de antitese. E é signo, na medida em que permite de- cifrar a significagdo do que sucede no dito campo. Porém, este emergente constitui, ao mesmo tempo, o tiltimo passo de um ci clo anterior ¢ © primeiro de um novo ciclo, Isto é, transforma-se em um novo exis fente que da lugar a um novo ciclo. Cumpre-se, assim, a espiral dialética da dinimi- ca grupal, onde a cada volta da espiral passa pelos mesmos pontos, porém num nivel mais amplo, que abarca, contém os anteriores, ‘ NOGOES DE PRE-TAREFA, TAREFA EPROJETO mo d Outro sspecto da dinamica Btupal € que, as vezes, o grupo se estereotipa ©” ue ete ge tsiedade que ger a possibildade de mudanga, na medias e™ ignificaria enfrentat as ansiedades psicoti i 3 manifes tam sintomaticamente. aa Aparece, assim, um moment F to do gru i -tarefa, no qual predominam os mecanismos d grupo, que denominamos pré-tare - dissociagio com in: Fo das técnicas esqui. ssociag: strumentagao técnicas esque ; ure we O \dichynic ( dicen lea cevger Pray re / 9) zo-parandides, dissociando por um lado o bom do mau com o fim de preservar 0 bom, e, por outro lado, dissociando o sentir do pesar e do fazer. O latente por trés dessa dificuldade ¢ a tentativa de iludir a elaborago do né- \, cleo depressivo. Todos os mecanismos da pré-tarefa sao dispositivos de seguranga que tratam de p6r a salvo 0 sujeito dos sentimentos de ambivaléncia e culpa e do so- { frimento préprios da situagao depressiva bisica \ Por conseguinte, o que caracteriza esta etapa so as diferentes formas de nfo | entrar na tarefa, mecanismo de postergagdo que oculta a dificuldade em tolerar a [ frustracao de iniciar e terminar tarefas, o que traz, paradoxalmente, uma constante frustragio, » my O momento da tatéfa consiste na elaboragdo de ansiedades e a emergéncia de uma posigo depressiva’bisica na qual se pode abordar 0 objeto de conhecimento, a0 romper-se'a pauta de estereotipia e dissociagdo que estancou o processo de apren- dizagem e deteriorou a rede de comunicagao. A tarefa 0 Ambito da elaborago dos quatro momentos da fungdo operativ:

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