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“Texto w Amedeo Giorgi Daniel Sousa Método Fenomenoldgico de Investiga¢gao em Psicologia y 72. | Método Fenomenclégico de Investigacio em Psicologia progresso, Mas se, actualmente, existem diferentes propostas de aplicacio do método fenomenolégico, o presente texto pretende explicitar um contexto sistematico que fornega uma coeréncia ontolégica, epistemolégica e metodo- logica a praxis da pesquisa fenomenolégica em Psicologia. Trata-se de clarifi- car critérios epistemolégicos atinentes & Fenomenologia, como adequadas cstratégias deinvestigacio cientifica, Nos capitulos subsequentes, procurarse- 4o explicitar estes aspectos. METODO FENOMENOLOGICO DE INVESTIGACAO EM PSICOLOGIA Pressupostos Teéricos Apesar de ter delineado um método adequado ao estudo dos processos| meniais, Edmund Husser! nfo apresentou, contudo, uma metodologia que! pudesse ser aplicada directamente no contexto cientifico de uma Psicologia que tenha como abjecto deestuclo 0 sentido da experiéncia humana, © filésofo aprescatou as linhas gerais emi win contexto sistemitico pata a investigacto | em Psicologia Fenomenol6gica”. ‘Ométodo aqui apresentado tem como objectivo mediar as exigéncias epis- temol6gicas da Fenomenologia, enquanto teoria do conhecimento, ¢ 0s requi- sitos necessitios para se constituit como conjunto metodolégico especifico, passivel de ser aplicado por diferentes investigaciores, no aimbito dla psicologia Cientifia, enquanto conhecimento dos fenémenos humanos: E apénas dentro de uma mesma comunidade cientifica que possivel evoluir o saber, que se pretende sistematico e que passe pelo crivo da critica entre pares. A Fenomenologia Filos6fica tem como primado fundamental a intencio- nalidade da consciéncia, Permite ao proprio investigador iniciar as diferentes redugdes (cidética, fenomenoligica, transcendental), procura alcangar a cesséncia de um determinado fenémeno de estudo, desergvendo-0, minucio. samente, com o objectivo de obter conh Incas Gach seguir estes passos, exactamente como foram descritos, esti-se a desenvolver uma analise filos6fica, no sentido fenomenolégico do termo. Coma foi referido, 0 objectivo é apresentar um método fenomenoligico adequado i psicologia Método Fenomenoldgico de Investigagio em Psicologia | 75 Descrigées de Outros Sujeitos Quando surgiram 03 primeiros métodos de investiguso qualitatives, 0 ambiente cultural ¢ cientifico era, consideravelmente, comparando com o que acontece actualiente, menos propfcio a reconhecer a pertinéacia destes méto dos, muito embora ainda haja um longo caminho a percorres.A Psicologia viva ‘enorme fervor na adopco do método.expesimental, como tinico alicence. ‘pata se escabclecer enquanto disciplina cientifica. No caso da Fenomenologia, cra estritamente necessiio estabelecerem-se crtérios de coeréncia interna para que o método fenomenclogico pudesse ser aplicado & Psicologia, procurando evitar-se erros epistemolégicos que colocassem em causa a credibilidade do processo de investigacio, Nao se pretendia, por exemplo, regressar a uma perspectiva que pusesse de novo a Psicologia ne trilha da introspecgio. Assim, embora de um ponto de vista filos6fico, a Fenomenologia prope que cada investigador possa analisar aquilo que surge & consciéncia, tal como surge a esta, A decisio foi de que o método da Psicologia Fenomenolégica, aplicado a0 contexto de investigacio, iria analisar descrigdes das experiéncias de outras ‘Pessoas que niio as dos investigadozés. Nao queremos com isto afizmar que © método, na sua vertente fenomenolégica, remeta para uma perspect introspectiva. Como foi explicitado nos capitules antetiores, essa interpretaao da fenomenologia husserliana nao nos parece adequada. No entanto, a trans: posico do métoco para o contexto da Psicologia, como ciéncia humana, exige adaptagdes, Entendeu-se que uma primeira alteracio era impor ao investigador arecolha, apenas, de descrigdes de outvos sujetos. irse-i que 0 objective éanalisar a descricio da experiéncia xiv natural”, de senso comum, Este € um exeihplo claro da mediacio exercida entre 0s pressupostes filos6ficos ea aplicacio do método a Psicologia. A Feno- mendlogia afirma a possibilidade de se analisarreflexivamente o que surge no fluxo da consciéncia.-No caso do método fenomenolégico psicol6gico, esse procedimento é realizado apenas pelo investigador, mantendo em aberto a possibilidacle de uma visio.critica dos pares. Coma € sabido, poder contar com a visio critica dos pares e possibilitar 2 replieagao dos estudos si dois, «ritérios fundamentais em qualquer disciplina cientilica O resultado final da anilise dos protocolos é estritamente, fundamentado pelos significados psicolégicos, discriminados pelo investigador, nao explici- tados directamente pelos sujeitos que participam na amostra da investigagio. Esta questo sera melhor compreendida quando se apresentarem 0s passos operacionais do método, Neste momento, o crucial é salicntar que com esta ‘opcio se pretende conciliar dois aspectos: seguir o requisito feaomenal6gico. de valorizar as descrigdes sobre experiéncias vividas, salientado o sentido de 76 | Método Fenomenolégico de Investigagao em Psicologia como estas se aprescntam a consciéneia do sujeito, mantendo, no entanto, ass Jégicos que permitam enquadrat o processo de investigacio em wunidade cientfica, iva, no sentido em que © 5 odo mantém uma componente deses resultado final do processo de anillise do protocolo reflecte uma descrigia cat. sintese dos siguificados psicoldgicos essenciais da experiéncia dos pasticipantes da investigagio, Depois de usar a variacao livre imaginativa, nos significados elaborados a partic do protocolo, o investigador apresenta os constituintes- -chave que fazem pai igo da estrutura da experiéncia. Como, geralmente, cada descrigio de estrurara engloba varios constituintes-chave, toma-se igualmente importante explicitar as relagdes entre estes que englobam ‘a estrutura final. O que so os constituintes-chave e como se articulam entre sisio aspectos que serio melhor compreendidos quando se analisar em por menor a aperacionalizacio do método. Redusio Fenomenoldgica-Psicolégica Depois de obter descrigdes de outros sujeitos, o seaundo passo é desenvol- vera redugio fenomenolégica, No método filos6fico € possivel entrar imediata mente na reduglo, visto que todo o processo poder ser executado pelo proprio sujeito. Numa investigagio em Psicologia, primeio, oinvestigador recolhe des- crigdes de experignciag de outros sujeitos. Num segundo momento, ao realizar « redugio fenomenl6gica, na sentido psicoldgico, {é-lo a um nivel distinto da redugio trinscendental de Husscr. A redugio do investigador que usa o método fenomeno}6gico, aplicado as ciéncias humanas, estari de acorclo com a redagio que Husserl denominou redugio fenomenoligica-psicoldgica, nao usando um asso metodolégico-subsequente, que seria usar a redugio transcendental Como foi referido no capitulo anterior, a redusio utlizada em Psicologia Fenomenologica considera 0 uso da_epoché, a suspenso da atitude natural, eda redugao fenomenoligica-psicolégica. Ambos os instrumentos metodol6. ‘gicos so considerados quuando se refere a reducio fenomenoligica-psicolégica, O sentido da redugéo fenomenologica-psicoldgica é de que 0s objectos € as situagdes, 1, ¢., tudo 0 que surge A consci€ncia dos sujeites, passam pela redugio, mas nao os actos de consciéncia, aos quais esses objectos ¢ situagdes estiio correlacionados, 7 Em suma, a redugio fenomenolégica utilizada em investigagiio em ciéncias hhumanas é parcial, A radicalizacio de Husserl, dle querer avangar para uma reducio transcendental, na qual nao seria suficiente realizar uma redugio sobre acxisténcia dos objectos dados ao sujeito, e, num passo subsequente, colocar Método Fenomenolégico de Investigagao em Psicologia | 77 entre parénteses 0 prdprio sujeito consciente, de forma a aleangar a “consci cia pura”, nio é considerada. Este exercicio esté fora do ambito da investiga ‘0 cientifica em Psicologia, pelo que os passos metodolégicos de Hussetl sio apenas considerados parcialmente. Finalmente, importa sublinhar que a exi- sgéncia de usar a epoche/reducio fenomenoligica com rigor € feita ao inves gador endo aos participantes na investigacao, que fornecem as suas descrigées a partir de uma atitude de senso comum, Estes explicitam as suas experiéncias a partic da atiuude natural eno tém, presumivelmente, que ter conhecimentos sobre 0 método de investigasio. Os dados “brutos” de uma investigacio fenomenolégica sio deserigdes do mundo da vida, da cxperiéncia humana. Anilise Eidética ~ Variagao Livre Imaginativa Ap6s assumir a atitude da redugio fenomenolégica, o investigador centra- se no objecto de estudo, cuja csséncia, a sintese de significado psicolégico, deve ser determinada, terceiro passo do investigador é procurar a esséncia do fendineno, 7 ¢., a esirutura de significado psicolégico, a sintese do sentido da experi la pelos virios sujeitos que patticiparam na investigasio, através do uso da anilise eidética, a variagio livre imaginativa, Ouira alteragio 20 método filos6fico decorre do que foi afirmado, Se se pretende alcangar uma descrigio da estrutura psicol6gica do fendmeno, nesse cago, estamos jaa delimitar o nosso campo de estudo e a excluir investipagdes de gatiz filoséfico, sociolégico ou outro. Nao estamos a afirmar que estas perspectivas niio serio viiveis. Esté-se, antes, a salientar que o investigados, a0 dar os passos, como aqui foram recomencatdos, tera de seguir a perspectiva da sua disciplina cientifica, seja ela psicol6gica, ou outra, e assumi-la, Outro aspecto igualmente importante prende-se com 0 facto de o psicélogo invest gador procurar, nesta fase do desenho metodolégico, ter uma perspectiva icoldgica, embora evitando catalogar os protocolos com linguagem especi fica de uma determinada escola tedrica (psicanalitica, cognitiva, et) A sintese final de significado psicologico remete para uma generalizagio cidética dos resultados da investigagfo. Importa sublinhar que nose esté num paradigma empirista, pelo que os resultados nao devem ser discutidos nessa perspectiva. Os resultados eidéticos implicam, igualmente, que 0 que conta para a generilizacao cos resultados finais da investigacao seja o niimero de vezes que o fenémeno, 0 objecto de estuco da pesquisa, se repete ao longo, dos protocolos da investigacio, nao o niimero de sujcitos que participaram na “fiesina. Finalmente, importa destacar que a andlise eidetica em investigagio ” psicoliygica & mantida, mas sofrendlo uma alteragiio. Realizada no fimbite da 18 | Método Fenomenolégico de Investigagio em Psicologia Psicologia Fenomenolégica cientifica, a prioridade € dada a perspectiva da disciplina, Procurar alcangar a anilise eidética é procurar a esséacia de cariz, psicologico. A variagio livre imaginativa é levada a cabo com 0 constrang ‘mento da perspeetiva do investigador. ‘A Tabela 1 contém os procedimentos e os objectivos do método fenome- nolégico aplicado a Psicologia. Em sintese, este método ciemtifico inicia-se com a recolha de descrigées de senso comum de outros sujeitos, que no 0 investigador. Tem como resultado final uma descrigao, realizada pelo investi sador, da estrutura psicol6gica essencial do fenémeno em estudo, A reducio QQ was Procedimentos ¢ objectives do métode fenomenolégico apliced & Psicologia ‘Método de investiga om Pricologia Fenomenologics Pressuports teéricas Procedimentos ‘Objectives ecole descigGesdeexperéncss | Maotémarerafenomancidgicado ‘vidas por Outros suits, setidodo que urged conscién ‘iatal comosuige eDeserigo de Outs Sul Diferenta método flossica NSo é ‘optiproinvestigadorsaprezen- | Posiblltaavisio critcentepares tras suas descriges ‘eplicagio dos estudos ‘poche suspenders atitudanatu- | Rigor episterol6gico ~ evitaren- aldo senso comm, ‘isamentos Rech pial objects estva- | Distinguir 0 modo como. objeto ‘es pasar pela redugsa,n20 | sedbaconscéncia como existe 25 Recs acts de consclénca, sceaidace Fenomenologicr colonia | Coracar entre parénteses conhecl | Promaverconedimento de noves ‘ements teicas cultura ‘menses da experiencia Clarifier explictarnowas perspec twas sobre 0 objecto de estado. Eliminates particularidades ou | Definisintese psicoogica, contingéacias des fenémenos femestuto, GeneraiacBo dos resultados (mm 2 Ane Fidei validade apodictica). Voringio tive arassotine | cacdtr a redo cite rms Perspective pcokgic, evan: | Maneracomponentedesitvado ‘00 a utllzagao de uma teosla | processometodolégica. specia > Método Fenomenoldgico de Investigacio em Psicologia | 79 levada a cabo no método cientifico € parcial endo tem como objective chegar amplitude transcendental do método filoséfico. A redugio fenomenolégica em Psicologia abrange apenas os objectos que surgem A consciéncia ¢ nio os actos de consciéacia. Estes tiltimos so considerados como actos de sujeitos humanos em relagZo com 0 mundo. Visa-se compreender o sentido dos actos de conscigncia, mbora aquele nao implique a assuncio de que os objectos existem na realidade, como percepeionados pelos sujcitos.. Antes de se analisarem, pormenorizadamente, os pasos do método de anélise, uma nota sobre a recolha de dados, em particular, sobre a entrevista fenomenolégiea. a eee Recolha de Dados Em primeito lugar, antes de recolher os dados, 0 investigador assegura-se de que, depois de escolhido o t6pico do seu estudo, estabelece sma pergunta de investigacio_adequada ao método fenomenolégico. Qualquer estudo deve partir de uma pergunta de investigacio. Caso se assuma que 0 método feno: menoligico é adequado a questio de investipacio, entio, a investigagao tem inicio com a obtengio de descrigées de experiéncias. Os dados de uma inves- tigacio fenomenoldgica sio descrigées de experiéncias de sujeitos vividhs no mbito do senso comum. O eritério fundamental &, tanto quanio possivel, obter descrigdes tfo detalhadas ¢ coneretas das experiéncias dos sujeitos. Nao cexistem desctigdes perfeitas, definitivas ou completas. O investigador tera de cettificar-se da adequabilidade das descrigdes, assegurada quando a pactit destas € possivel gerarem-se diféréntes estruturas de significados de carécter psicolégico, sobre o.temia de estudo, Para isso, é importante que a descricio seja tio espectfica € concreta quanto possivel, relacionada niio tanto ou apenas. com racionalizagées apresentadas pelos sujeitos da amostra, mas com a sua subjectividade ineorporada, tl como ¢ experienciada na vida quotidiana, ‘Os daclos da investigacto podem ser recolhidos através de depoimentos escritos directos, entrevistas, ou pela.combinagio de ambos. Quando sio uusadas ambas as formas de recolha de dados, geralmente, a descrigio directa surge em primeiro lugar, seguida de uma entrevista, na qual se utilizam as desctigdes como material base para maior apcofundamento. E comum os depoimentos directos serem mais curtos ¢ organizados. As entrevistas tendem «ser mais dispersas quanto 20 contetido, mas tém a vantagem de ser mais, espontineas. Os depoimentos escritos nfo colocam grandes dtvidas. Aos sujeitos, deve ser dito, com toda a clareza, © que se pretende eo tema exacto subjacente& recolha do sen depoimento, Por exemplo: “descreva tio detalha: 80 | Método Fenomenolégico de Investigacao em Psicologia damente quanto posstvel uma experiéncia, na qual viveu uma situagio de aprendizagem” . Deve ser indicaco também o espago disponivel para a deser- io escrita (exemplo: duas piginas Ad). A Entrevista Fenomenolégica A teoria da entrevista fenomenolégica é distinta de entrevistas esteuturadas ou de questionarios previamente organizados e fechados, de modo a que os entrovistados sejam colocados exactamente perante as mesmas questOes, em investigacdes que normalmente tém como objectivo testar hipéteses”. Em centrevistes estruturadas estio presentes pressuipostos redricos e metodolsgicos distintos dos da psicologia fenomenol6gica, camo a neutralidade do entrevista- dor, a obrigacoriedade de os dados serem objectivos, aimposico em procurat climinar tanto quanto possivel 0 enviesamento da subjectividade_ © uso da entrevista fenomenlogica nfo é apenas a aplicacio de um instrument de rec ha de dalos diferente. ceflece, em si mesmo, uma concepcio diferente de pra- “dugio de conhecimento, de construgio de significadg sobre a acca humana. Pressitpostos epistemoldgicos que tém sido expressos neste trabalho, colocam a entrevista fenomenolégica como procedimento metodoligico, distinto de investigacZo que procura recolher dados através da observacao externa, da manipulagao experimental, para uma situacio onde a entrevista sc sauna num espace inter-relacional, dialéctico e de conversacao entre sujcitos” Dito de outta forma, o didlogo existente numa entrevista fenomenol6gica, implica que a investigacao psicoldgica deixe de ter uma perspectiva da terceira pessoa ou, mesmo, da primeira pessoa que os métoclos introspectivos defen- diam. A perspectiva da segunda pessoa, criada na situagio da entrevista, promove um contexto empatico, proporcionando as condigdes adequadas para que os sujeitos descrevam e clarifiquem os significados do mundo quo: tidiano da experiéncia humana". A teoria da psicologia fenomenols; implica considecar conceptualizagdes sobre a consciéncia intencional, cons trugio de significado, abandono da dicotomia sujeito/mundo, o mayo da relagao homem/munde (intersubjectivdade), necessidade de considerar 0 contexto da acciio, mancer uma dialéctica entre a “subjectividade do conhs ea chjcctividade do comteiido-do conhecimento™™, * Polkinghoone, 1989, p48 = Kee 1986, 1 » Pallia, Henley « Thompson, 1997, p. 29. 7% Conceitos definidos aos capitulos de “Psicologia Fenomenoloyica” ¢ “Validagio da Investigasio Quaticava” Método Fenomenolégico de Investigagao em Psicologia | 81 Para Kvale”, o objectivo da entrevista ce investigagio qualitativa é€ 0 de obter descrigées. periencial,.do mundo da vid? is tado ¢ suas explicitagdes de significados sobre os fendmenos descritos. As competéncias envolvidas na entrevista de investigagao qualitativa cruzam-se com 0 saber fazer do psicoterapeuta, mas os gbigctiyos. de uma entrevista ¢ de um difloga terapéuticos-sio-distintos,.a primeira pictende cumprir 0” intuito, do investigador, de recolher informagdes a partir da experiéncia do participante, o segundo procura contribuir para que a outra pessoa alcance 1 seus objectivos™. Kvale definiu as estruturas essenciais da entrevista qui Iitativa, explicitando, deste modo, a diferenciagio em relagio a outros tipos de recolha de dados”: ‘Mundo da Vide ~O tema central da entrevista qualitativa € a expecigncia quotidiana do mundo vivido do entrevistado e da sua relagio com o mundo. O objectivo é compreender ¢ descrever detalhadamente os aspectos centrais da experincia dos sujeitos, mas, a entrevista qualitativa € theme-oriented, not person-oriented. * Sentido — A entrevista tem como objectivo descrever o significado dos temas centrais do mundo da vida dos participantes. B importante clarificar aspectos pouco clatos € estar atento a0 que & dito e modo como é dito, incluindo a postura corporal, Qualitativa ~ O objectivo é recolher dados qualitativos, expressos em linguagem do senso comum, ¢ nfo dados quantitativos. Deseritiva ~ Na recolha de dados é solicitado que os participantes descre- vam a sta experiéncia, de forma tio aberta e detalhada.possfvel, sem introdu- zirem explicagées ou interpretagdes do mundo experienciado. Expecifica ~O que se pretende alcangar so descrigées de situacdese acgGes cespecificas, niio sendo licito considerar oppinides gerais. Suspensdo de Pré-Conceitos-O entrevistador deve suspender conhecimen- tos ¢, em vez de apresentar categorias prévias ou esquemas intcrpretativos, deve estar aberto a informagoes ¢ fendmenos inesperados ou novos. _ Focada ~ A entrevista nfo é estruturada nem considera questées standard, mas €, no entanto, focada num determinado tema de estudo, Ambiguidade — Os dados da entrevista qualitativa podem, por veres, cexpressar contradigdes e ambiguidades sobre a experi € sua relacio com o mundo. * Keale, 1996, p-5 ™ Palkinghorne, 2005, p. 142. Kale, 1996, p30. 82 | Método Fenomenol6gico de Investigacao em Psicologia Mudanca ~ A entrevista é um processo reflexivo, 0 entrevistado pode expressar novos insights ou pensamentos durante a entrevista, podendo mesmo mudar significados previamente estabelecidos. Sensibilidade ~ Apcsar de abordarem o mesmo tema, diferentes entrevis- tados podem expressar diferentes descrigoes, dependendo da sua sensibilidade ‘¢ conhecimento sobre o tema de estudo. Situagia Luterpessoal As descrigdes recolhidas e 0 conhecimenco destas vadas emergem a partir de uma interaccio pessoal entre duas pessoas. Experiéneia Positiva ~ Uma entrevista qualitativa pode revelarse uma cexperiéncia positiva para o entrevistado (e entrevistador) no qual duas pessoas, abordando um tema de interesse comum, podem alcangar novos saber e pers pectivas sobre uma dimensao especifica da vida. “0 objective de uma entrevista de investigagio, wo donsinio da rnvestigacio fenomenoligica, é uma descrigio téo completa quanto possivel da experiéncia tivida dos participartes sobre uma determinado fensnaeno de estudo. Genericame iciam-se com uma pergunta abert catlcter explorat6rig, 68 quesiGes subsequentes ou as intervengies do inves: figador surgem a partir do fluxo das descrigées dos participantes, no para validar hipoteses ou quest3es previamente delineadas. Neste sentido, é muito importante fazer uso da reducio psicolégica-fenomenoligica, tal como foi acima definida, © ent¢evistador procurari suspender 0 conhecimento que ppossa ter sobre o tema de estudo eo que é presente na descrigio ¢ entendido como sendo um fendmeno; ou seja, tal'como foi experienciado pelo sujcito, implicando que nenhuma reivindicacio é feita no sentido de afirmar que 0 objecio da desctigio existiu exactamente tal como foi experienciado, ou tal como se manifestou & pessoa que apresenta a descrigio. A questao da “red dade” do objecto da descrigio nio é @ questio central, mas sim o modo como 0 objecto se apresenton aquele que descreve a su experiéncia. Sendo que © objectivo crucial é alcancar 0 significado das expei vividas pelos sujcito, importa manter a nogao fenomenolégica-cxistes que estas esto, ou podem estar, a um nivel pré-reflectido © que, por 6 sentido da experiéncia surge como provesso refleaivo da deseris significados psicol6gicos podem, assim, ser explicitados, embora mantendo tuma nogio dos constrangimentos que a linguagem possa impor (apesar de set simultaneamente, pela linguagem que, pelo menos em parte a experiéncia fumana se desvela) ¢ das suas limitagdes, ja que as entrevistas nunca esgo tam, por inteito, as préprias possibilidades descritivas de um determinado fendmeno. > Método Fenomenoligico de Investigacao em Psicologia | 83 dor cleve estar preparado para aspectos ou dimensoes que cntrevistado valoriza, mesmo que aparentemente afastado da tematica central Neste caso, deve ser dado algum espaco, explorar eventuais conexées no reencaminhar imediatamente o entrevistado com uma pergunta fechada. Quando os depoimentos so ambiguos ou pouco clacos, o entrevistador deve sprocutar clarficé-los. Importa distinguir entre direccion significaria conduzir o sujeito a referir aspectos que o investigador procurati encontrar nos dados, e entre focar no objecto da investigacio, que implica apenas que o entrevistador solicite aos participantes que descrevam experién- cias sobie 0 Tenia Ue esitd, € HA SObFE diitia tematica qualquer © critétio fundamental é, tanto quanto possivel, obter desctigées tio detalhadas ¢ concretas das experincias dos sujeitos. Como ja foi referido, nia existem descrigoes perfcitas, dfinitivas ou completas. O investigador tera de certificarse da adequabilidade das descrigdes, assegurada quando, partir estas, € possivel gerar significados de carscter psical6gica sobre 0 tema de estudo. Para isso, & importante que a descrigio seja tio especifica ¢ concreta quanto possivel, relacionada nfo tanto com racionalizagdes, explicagées ou intelectualizagdes apresentadas pelos sujeitos da amostra, mas com a sa subjectividade éncorporada, tal como éexperienciada na vida quotidiana, Assim, ‘oentrevistador pode seguir ertérios que validem a sua intervengo no ambito da entrevista fenomenolégica: descriges alequaadas sio aquelas que contém _suliciente profundidadee detalhe para que alguns novos conhecimentos sobre ‘08 fendmenos psicolgicos possam ser obtidos. Deserigdes adequadas sic também aquelas que'permitem que o mundo Fenomenal do sujeito se revele co sufitiente, de maneira a que o modo do suijeito esteja presente numa situacio ‘em que experiencia esse determinado fenémeno, possa scr dilerenciado e que as estruturas invariantes possam ser descritas. Finalmente, Kvale™ delineou as competéncias de um entrevistador de investigasio qualitativa, passiveis de serem aplicadas, pelo menas em parte, na entrevista fenomenoldgica Conbecedor ~ Nao obstante fazer uso da redugio fenomenolégica -psicol6gica, o entrevistador tem conhecimentos aprofundados sobre o tema de estudo, € capaz de ter uma conversa sobre o t6pico e esti ao corrente dos principais aspectos sobre o objecto de estudo. Estruturante - Embora a entrevista fenomenolgica sa aberta e de cardc- tet exploratéria, o entrevistador introduz © propésito da entrevista, dé indi- cages aos patticipantes, antes desta se inicias, explicando os objectives ¢ 0 % Kee, 1996, p16 CEE eC eap NNee TUTTE TUIEETTIEEEL vistado,que a B4 | Método Fenomenclégico de Investigagzo em Psicologia ‘que se pretende com a investigacZo, dando tempo para que os entrevistados cologuem diividas e questies. Claro —Coloca questées custas, de forma simples ¢ clara. Utiliza linguagem do senso comum, excluindo conceitos cientificos ou académicos. ‘Adequado ~ O entrevistador tem 0 cuidado de seguir o fluxo narrativo do participante, accitando 0 ritmo deste, eventuais pausas, demonstrando acei- taco de aspectos mais controversos € estando receptive a dimensées emocio- nis que possam surgir na entrevista ‘Stnsitel Eum ouvinte activo e aento, no sentido de estar concentrado ‘bas nuances presentes n0s significados expressos nas descrigées, procurando, ‘quando € apropriado, clavficé-las. Procura ter uma postura empiitica e focar- -se, nfo apenas no que é dito, mas no modo come € dito ¢ nos eontetidos emocionais. Aberto.~ Esti disponivel para ouvir que aspectos so mais importantes a os participantes em relagéo ao t6pico central da entrevista ¢ esta aberto A aspectos ou questées novas que possam surgis, procurando segui-las e con- siderar as relagSes destas com o tema da entrevista. Dirige—Apesar da sua abertura, cabe ao entrevistador estar ciente do tema cem que a entrevista se procura centrar esobre o qual pretende recolher dados, tendo um papel importante para voltar a focar 0 participante, caso este Se afaste, em clemasia, do tema da entrevista. Relaciona — Recorda aspectos ditos em fases anteriores da entrevista, . -podendo referit coisas ditas anteriormente, em articulacio com outeas afigma- das pelo participante, no sentido de procurar aprofundar as descrigées os seus significados. © autor sefere ainda duas qualidades que, no caso da entrevista fenome- nnolégica, devem ser consideradas com maior cuidado: _Perypectiva Critica ¢ Interpeetativa — Se ser critico significa testar a verac dade do que é dito pelos participantes, entio esta postura tem de ser muito ‘mais suave na entrevista fenomenol6gica, pode apenas significar que o entre vistador procura esclarecer aspectos expressos pelos participantes ¢ os seus significados e niio que estcja numa posigio de avaliacdo do que foi descrito. Do mesmo modo, interpretar, na entrevista fenomenoliyica, deve implicar um aprofundamento dos significadas expressos, portanto, erata-se de clavificagbes, ce menos de interpretagdes, sobre aquilo que os sujeitos expressam, Numa entrevista presencial, alguns dados nfo verbais podem set anorados, além do relato verbal, mas nunca se consegue captar na totalidade 0 que foi Método Fenomenolégico de Investigasio em Psicologia | 85 cexpericnciado ¢ esta limitagao deverd ser tida em conta em todas as andlises. Consequentemente, todo o trabalho de investigacto requer que o investigador esteja sempre atento aos Factores contextuais, co-determinantes, mesmo que estes no sejam claramente manifestes. Embora as descrigdes retrospectivas scjam frequentemente a fonte de dados. fenomenoldgicos, clevido & sua conveniéncia, estes nao so, no entanto, a tinica fonte. E possivel abter deserigdes no momento (ongoing descriptions) de par. ticipantes através do uso do método de conversar em vou alta (“salking aloud"), E também possivel reunir descrigdes de comportamentos prove: nientes cle outras pessoas, desde que sejam boas deserigdes da perspectiva do dia-a-dia, em ver de descrigdes técnieas. De facto, € até possivelfilmar o com- portamento de outras pessoas ¢, depois, observar a gravagio e estabelecer tunidades de significado comportamentais em vex de verbais. Outra opgio, é ravar 05 comentirios, enquanto se observa a gravagio. Estes podem ser dia pessoa que gravow o video, de outro investigador ou dos préprios participan- tes. Estas opges silo mencionadas piara que o leitor saiba que a anélise de daclos fenomenol6gicos nao esta limitada 1 descrigées retrospectivas Metodologia Apis a obtencdo dos dados de investigacio e da transcriclo, na integra, das deserigoes dos sujeitos, 0 protocolo esta pronto para ser analisado pelo método fenomenolégico de investigagdo em psicologia. O método esta dividido em quatro passos: 1, Estabelecer o Sentido Geral. | 2. Determinagao das Partes: Divisao das Unidades de Significado. 3. ‘Transformacao das Unidades de Significado em Expressoes de Canicter | Psicobigico. | 4. Determinagio da Estrucura Geral de Significados Psicoligicos 1, Estabelecer 0 Sentido do Todo Apés a transcrigio, o primeiro, ¢ tinico, objective é apreender 0 sentido zcral do protocolo, Nesta fase, o investigador pretende apenas ler calmamente « transcrigao completa da entrevista, E importante realgar que, metodologica- > Aanstoas, 1985 6 | Método Fenomenolégico de Investigagio em Psicologia jo fenomenolégica. Nao mente, 0 investigador coloca-se na atitude da redu ppretende focarse em partes fundamentais, nfo coloca hip6teses interpretati- vas, apenas, ter uma compreensio geral das descrigdes realizadas pelo sujeito. Donde, o objectivo principal é obter um sentido da experiéncia ma sua globa- lidade. Geralmente, quando se trata de uma entrevista ou de uma transcrigio extensa, sio necessérias virias leituras ‘Com o decorrer do método, verificar-se-4 a existéncia de uma permanente inter-relacio entre as partes e 0 todo do protocolo. A determinagao das uni- dades de significado, mas, sobretudo, a transformacio destas ci expresses de caracter psicoldgico iro colocar em evidéncia o jogo ea interdependéncia entre as partes € 0 todo. Este aspecto é, particularmente, importante como argumento epistemolégico, impedindo o investigador de cait em derivas seminticas ou interpretativas. Desde as Investigacdes Légicas que a relacéo entre 0 todo e as partes foi desenvolvida por Husser!, mas, neste momento inicial do método, interessa, sobretudo, reter que a finalidade é captar 0 sen- tido geral da transcrigho. 2. Determinagao das Partes: Divisdo das Unidades de Significado Do ponto de vista operacional, e depois de apreendido o sentido geral (primeio passo), o investigador retoma a leitura do protocolo, com um segundo objectivo: dividi-lo.em partes mais pequenas. A divisie tem um intuito sobretudo pratico. A maior parte dos protocolos tem uma extensio .que impede uma andlise fenomenoldgica suficientemente cuidada, A divisio, em partes, denominadas unidades de significado, permite uma snéise ma aprofundada, Como o objective é realizar uma anilise psicolégica, pretende se usar critéios relevantes para uma perspectiva psicolégica,e, como a finalidade ltima da analise ¢ explicitar significados, usa-se como critério a transit de sentido para a constituigio das partes (unidades de significado}. Este passo resulta no seguinte procedimento: ao reler o protocolo desde o inicio, dentro da atitude da redugio fenomenoldgica, e mantendo uma perspectiva psicolé- aica sabre o tema em estudo, o investigador coloca uma marca (um trago na vertical) no protocalo sempre que identificar uma mudanga de sentido nas descrigdes dos sujeitos. Este procedimento mantém-se até ao final do pro- tocolo, obtendo-se, como resultado final, a divisio e definigio das unidades de significado, Trata-se de um procedimento deseritivo, que considera que significados importantes pata o tema de estudo esto concentrados naqucla “unidade”, carecendo de um maior aprofundamento e clarificagio nos passos subsequentes do método. Método Fenomenoligico de Investigacao em Psicologia | 87 Mais uma ver, realga-se que no método fenomenol6gico, ao estar basica- ‘mente orientado para o sentido da experiéncia, a divisiio em partes do protocolo realiza-se sob o critério do sentido e, assim, as partes sao chamadas unidades de significado, estabelecidas de acordo com critérios psicolégicos. Estas uni dades nfo “existem” nas descrigies em si mesmas, esto apenas correlaciona. das com as opgdes de divisio do investigadlor, que segue a perspectiva da sua disciplina de estudo. Assim, por exemplo, se estiver a desenvolver uma inves- tigacio de cariz psicolégico, preocupar-se-a em dividir as partes segundo ctitétios de importincia psicolégica, se estiver a conduzir uma pesquisa socio- Togica, seguiré pressupostos de importancia desta natureza, Este aspecto demonstra haver ja, nesta fase do método, a possibilidade de outros colegas verificarem as odes de divisio do investigadlor, mantendo, portanto, a capa: cidade de seguir, desde o inicio, os procedimentos metodeligicos, caso se pretenda replicar o estudo. Muito embora, seja de realgar que, nesta fase do método, o fundamental nao ¢ haver uma concordancia absoluta nas divisdes, Pequenas diferengas de divisio nesta fase metodolégica nao implicam resul- tados finais distintos, Esta questo sera clarificada com o desenrolar dos passos seguintes. O final do passo dois traduz-se na divisio em partes do protocolo, quese mantém, exclusivamente, com a linguagem de senso comum, dos sujeitos. No segundo passo, a um nivel cientfico, o investigador entra na reducio fenomenoldgica. S40 0s objectos que passam pela reducao € nfo os actos de consciéncia dog sujeitos. Isto quer dizer que os objectos € as situagies si0 “considetados exactamente como se apresentam, nose realizando, noentanto, qualquer tipo de consideragio quanto & sua existéncia ou nao, quanto a sua realidade.ou nfo. Por exemplo, no caso de um estudo em que os sujeitos descrevaim experiéncias alucinatérias, o investigador estari focado nas descri- ‘es e nos significados por estas produzidos, abstendo-se de tecer considera- ses acerca da veracidade ou no dos testemunhos. As experiéncias vividas pelos sujcitos so entendidas tal como thes so dadas, No entanto, nao é recla- mado que essas situagdes existam ou tenham existido da forma como foram afirmadas. Por outras palavras, no ambito da redugio fenomenol6gica, ha uma dlistingZo clara entre o rrodo como um fenémeno se apresenta e como existe cenquanto facto, o que podera ser determinadlo, eventualmente, por vtios actos de consciéneia ‘A Fenomenologia reconhece haver uma posicio espontinea na vivén- cia quotidiana das coisas e siouagdes, @ qual ¢ suspensa quando usamos a reducio, implicando, igualmente, uma suspensio de juizos, entendimentos passados, com o objectivo de proporcionar uma visao aberta a novas pers- pectivas, Assim, ao nivel cientifico, fazendo uso da redugio fenomenolégica, > 88 | Método Fenomenolégice de Investigaczo em Psicologia cia dos sujeitos, como sendo © inyestigador accita que surge & consci < fenémeno, embora nao mantenha qualquer tipo de certeza quanto & sua realidade, Dizer que é aceite como um fenémeno, significa que tudo 0 que surge nas descricées deste € considerado valido, exactamente na maneira como foi dado ao sujeito, embora no se afirme sobre se 0 fenémeno exactamente como foi dado a0 sujeito. A reducao fenomenoldgica procura cevitar 0 enviesamento do senso comum de que as coisas sio tal como si ‘experienciadas por nés, colocando assim, a nivel de metodologia, a exis do rigor cienuific. 3. Transformacao das Unidades de Significado em Expressées de Caracter Psicolégico investigador iré notar um progressivo aprofundamento do significado das desctigdes dadas originalmente pelos sujeitos. Em primeiro lugar, leu © protocolo todo, apreendendo a sentido geral. No passo seguinte, dividju as descrigdes em partes, estas ja psicologicamente relevantes em relagio a0 tema de estudo, embora mantendo a linguagem dos participantes. O tereeiro passo Gum momento crucial no método. Neste, alinguagem quotidiana da aritude natural dos sujeitosétransformada, Com a aplicacio da redugio fenomenol6gica yguagem de senso comum ¢ entio trans -psicolégica e da anzilise eidética a ibrmadaem expresses que tém como intuitoclafcareexplctarosignfieado psicol6gico das descticées dadas pelos sujeitos. © objectivo do método é desvelar e articular 0 sentido psicolégico vividlo pelos participantes, em relagio 440 objecto de estudo da investigacio. ‘As desctigées originais esto repletas de linguayem de senso comum ¢ de referéncias ao mundo da pessoa. As descrigSes sto idiossineritieas, embora ricas em contetido ¢ na pluralidade de sentido nelas incluido, Os sentides retirados das desctigles, por parte do investigador, devem ser revelatérios, psicologicamente explicitos, nao em relagio a existéncia do participante, mas em conexto ao tema de escudo. Este rercciro passo € 0 cere do método porque o investigador id desere- ver as intengdes psicolégicas que estto contilas em cada unidade de significado. Naturalmente, & possivel que haja unidades de significado com pouco ou nenhum valor psicolégicorNesse caso, menciona-se, simplesmente, esse facto. Como foi referido, até ao terceiro passo do métod, a linguagem do sujeito nio foi modificada, cabendo agora ao pesquisador a tarefa de intr e de des- crever essencialmente os significados psicoligicos contidos nas descrigoes dos Método Fenomenalégico de Investigagao em Psicologia | 89 sujeitos, com a ajuda da reducio fenomenolégica-psicolégica e da variagio livre imaginativa, o que implica retirar 0s aspectos contingentes ¢ particulares que nio sio essenciais para clarificar a estrutura esseacial dos significados psicologicos. Ao articular os significados psicol6gicos € importante evitar dois ertos. Em primeito lugar, clinicos e terapeutas tendem a expressar o sentido das descrigdes em relacio & vida pessoal dos sujeitos. E necessario ter em mente que as particularidades pessoais servem apenas para clucidar 0 contexto, no qual o fenémeno psicolégico se revela a si mesmo. Portanto, o papel que desempenham é na especificacio do significado psicolégico sobre o tema de estudo € nfo no esclarecimento de eventuais aspectos da vida da pessoa. Em segundo lugar, durante o terceiro passo de método, o investigador pode facilmente cair no erro de usar linguagem especifica de uma escola teérica. O método € intrinsecamente descritivo. Todos os constructos teéricos tém as suas amplitudes, bem como limitages. Ao investigar um tema psicol6gico, com 0 método fenomenolégico, nfo se pretende aleangar explicagoes teéricas a0 longo do processo. Neste momento, 0 objective € proceder, cautelosa- mente, de modo a se estabelecerem significados psicol6gicos invariantes, de cada unidade de significado, discriminados durante o passo dois do método. A linguagem de senso comum é transformada em expressies psicologicamente revelatérias. ‘Também nfo se pretende rotular, reformular ou dizer, por outras palaveis, ‘que o sujeito descreveu, Mantendo uma lingtiagem desertiva,o investigador deve ser capaz de expressar e trazer & hz significados psicolégicos, que estio implicitos nas descrig6es originais dos sujeitos. Para tal, contribui o primeiro, passo do método. E também neste momento que a inter-relagio entre. as pat- tes e o todo sobressai como instrumento metodolégico. O facto de se ter © sentido geral das desctigdes permite ao investigador clarificar e explicitar sentidos que esto, por vezes, implicitos nas unidades de significado, que foram delimitadas no passo dois do método, 4, Determinacao da Estrutura Geral de Significados Psicolégicos ‘Oterceiro momento termina com a analise de um conjunto de unidades de significado, originalmente expressas na linguagem do sujeito, agora transformadas numa linguagem psicoldgica ¢ articuladas em relagio 20 tema de estudo. No quarto momento, o iiltimo do método, o investigador, fazendo uso da variagéo livre imaginativa, transforma as unidades de signt- 90 | Método Fenomenologico de Investigagao em Psicologia Jicado numa estrutura descritiva geral. A descrigao dos sentidos mais inva- riantes, denominados constituintes essenciais da experiéncia, contidos nas varias tnidades de significado, assim como das relagées que existem entre ‘estes tiltimos, resulta na elaboracao de ume estructural geral. Esta engloba os sentidos mais invariantes que pertencem as unidades de significado trans- formadas em linguagom psicoldgica. F. possivel que o investigador faga uso de termos que nao esto incluidos nas unidades de significado, de modo a articular e descrever a estrutura final. Como ja foi referido, cada passo do método € um refinamento, um aprofundamento do passo anterior, até A Método Fenomenologico de Investigago em Psicologia | 91 cionais, ete. Por esta ra20, € muito importante a forma co tigad: razio, & muito im smo © investigador explora os dados finais da investigagao, apds a aplicago do método, sendo fundamental a andlise p6s-estrutural que levard a cabo, Este aspecto pode set consttado na segunda pare através dos exemplospritinsreerentes cago do método. Passos do Método Fenomenolégico de Investigacao.em Psicologia Passo determinacio da estrutura geral, ou seja, o quarto momento do desenho~ metodolégico. Mais uma vez, um processo de articulagées, holistico, de cariicter psicolégico. “Todos os dados devem ser considerados neste passo, mas, obviamente, nem todas as unidades de significado tém igual valor. O importante € que a estrutura resultante expresse a rede essencial das relages entre ‘as partes, de modo a que 0 significado psicolégico total possa sobressais. passo final do método envolve uma sfntese das unidades de significado psicolégico. Nao se deve, no entanto, forgar os dados a serem incluidos necessaria~ mente numa tnica estructura final. Por hipétese, num estudo com dez par. ticipantes, o investigador pode terminar a investigagio com duas estruturas finais ¢ nao apenas com uma. Numa investigagiio fenomenolégica nao é imperativo ter apenas uma estrutura, Seré esse 0 objectivo se os dados assim co indicarem, de modo a alcangar uma simplicidade desejada, Por outro lado, a cstiutura’#éflecte as partés essenciais do protocolo ¢ as relagdes entre elas. “Tio ou mais importante que as partes, os constituintes esseneciais, & a inter dependéncia existente entre estes. Mais ainda, as partes nao sao fins em si mesmas. Recorrendo a uma analogia estatistica, diriamos que representam uma medida para uma tendéncia central. Expressam como os dados do objecto de investigagio convergem. No entanto, existem também vari ges ou diferenciacdes correspondentes, mantendo a analogia, a medidas de dispersio. Consequentemente, apés a delineagio da estrumu final, o. investigador verifica os dados iniciais do protocolo ¢ explicita as variages ‘empiricas que esto contidas no material. ‘O resultado final de uma andlise fenomenolégica cientifica nfo se resume apenas a estrutura final, mas a0 modo como esta se relaciona com as diferen. tes manifestagées de umaidentidade essencial. Por exemplo, nun: estudo sobre a aprendizagem, definiu-se que uma das partes da estrutura era “entear numa situagdo com falsas suposigdes”, No entanto, esta estrutura pode ter tide variagdes, estar relacionada com ignorancia, falsas memérias, contlitos emo- entrevista P ou obtém ‘Se of dados da favesti- Dentro do perspective ‘de Puma decrigsa que ‘93580 foram cecelhi- cientifica da reducdo Feflecte uma stuacio dos por uma entrevista, fencmenotoaicasico- sobre temade esto, | eranscreve-a na tots logic, ea transercso fade. completadascdescriges, OPT Somedow grees Aes ogi édady | ‘a perspectia deP, em ‘Se a descrigdo original Seatidogera, Tinguagem de senso co- ‘dada por escrito, usa mum a desrigao tal coma fot ‘Nad mais raleadones : foxnecida por tepaso, Passo Poss03 Pessoa e tendo em mente o E>] acto > oem as eens Lina unidade de signi Esteponoreaierousads | | Reeser neces que ands idea, atin Tee temos ae nto semide 3 med que Come a enicagto de este cos as tales wane dude factors que sant ‘idee de signiendo, owite shar mpc de mode a aiculr a eee inexdependenc ene trata eters casinlieaaaiait dee designed. {-tnvesigador PPariipante 92 | Método Fenomenologico de Investigacao em Psicologia Discussao e Comunicagao dos Resultados © fim de um processo de investigagio € consumado quando o material € disponibilizado & comunidade cientifica. A forma como os dados sio inter- pretados e comunicados ¢ igualmente importante e, sem clivida, neste processo tomam parte muitas contingéncias, em especial para aqueles que tém uma perspectiva minoritazia, Noentanto, muitas das dificuldades encontradas nesta fase do processo de investigacio nao so exclusivas da Fenomenologia, Estio, ‘getalmente, presentes em relacio a qualquer petspectiva minorititia. No dimbito da discussio de resultados, fase subsequente a utilizagio da metodologia propriamente dita, o investigador poder proceder, basicamente, cde duas maneiras paralelas: Elaboragio dos Dados ~ desenvalver a abordagem sobre os resultados. Poder-se-o salientar, individualmente, os diferentes constituintes, como é que se relacionam entre si, como & que esta directamente ligados sos dalos bru- tos da investigacio,f. e., aos protacolos da investigacio, que poderio servie para sustentar os constituintes-chave e que variagdes empiricas se podem encontrar em cada um destes dkimos. Dislogo com a Literatura ~ depois de explicitar pormenorizadamente ¢ de ter explicado 0s resultados, 0 investigador coloca-se perante a literatura sobre co temaem estudo, na qual sc insere a sua investigacio, ¢ discute os dados finais da investigagio, em relacio ao estado da arte da investigacio sobreesse mesmo tema, Par exemplo, o investigador verifica se os, resultados esto de acordo ‘com as teorias existemtes, se apresentam algo de novo que possa conduzir a rnovas questdes de investigacio. Na discussdo aprofunda-se a anslise dos resuliados,estabelece-se 0 didlogo com a literatura da srea, comunicam-se os resultados aos pares, O método € descritivo até ao quarto passo. Depois deste, 0 investigador é livre para elabo- rar os resultados da investigago, procurar discutir reflexivamente acerca dos dados e estabelecer conexdes ou paradoxos sobre o afirmado por anteriores Por Gkimo, devers ser realizada una sntese final das conclusdes. Clari ‘ages Metodologicas ‘O método fenomenolégico procurs alcancar o significado da experiéncia. ‘Toda a implementacio dos passos da metodologia gira em torno de signif cados. O primeito passo exige que se leia a descri¢io na integea, de modo que se possa obter um sentido de totalidacle o que, em troca, pode ajuda a Método Fenomenolégico de Investigagao em Psicologia | 93 dliscriminar as partes que serdo estabelecidas no segundo passo. Estabelecer co sentido geral poderé auxiliar, igualmente, o investigador no terceito passo, no qual se pretende realizar a descrigio dos significados psicolégicos, bem como tomar explicito 0 que, por vezes, se mantém em recesso. Esta operagio € realizada com informagées conticas na totalidade no protocolo, néo apenas com os dados que esto nas unidades tidas individualmente, Depois de algum treino, o segundo passo é, facilmente, apreendido pelo investigador, que nfo terd dificuldade em dividir as descrigées dos participan- tes em partes. Estas, a serem constitufdas, baseiam-se na transig&o de signifi cado percebida pelo investigador, sob uma perspectiva psicol6xica. Pretende. -se que as unidades de significado sejam suficientemente extensas, de modo a produzirem significados psicolégicos, e suficientemente pequenas para pode- rem ser manuseadas. Como foi referido, o passo dois tem um caricter essen- cialmente pritico, Pretende-se dividir 0 protocolo cm unidades de sentido, ‘que permitam uma andlise mais cuidada ¢ aprofundada. © terceiré momento é, geralmente, tido como mais problemética, pela aparente falta de critérios externos, claramente discemiveis, Isto nio significa ue nfo haja critérios estabelecidos. As unidades de significado sio apresen- tadas de forma explicita, de modo a que qualquer leitor eritica possa acom- panhar 03 passos do investigador, verificando, assim, quais as unidades de significado que foram estabelecidas e a que explicitagdes de cardcter psicol6- sgico deram origem. No catanto, as unidades de significado sto consideradas constituintes dependentes de_um context ~a descri¢ao total da experiéncia do participante -, pelo que carecem de sustentagio enquanto elementos indi- viduais. Isto significa que nao pode haver uma teansformacio rigidae fechada «em cada uma das unidades, realizada de forma completamente:inilependemte. Partes relevantes do contexto, externo a uma determinada unidade, podem ‘judar a determinar a transformagio que é processada pelo investigador «quando este passa a linguagem de senso comtim do participante para expres- sbes de caricter psicol6gico O objectivo das transformagdes € tomar tao explicito, quanto possivel, as dimensées psicoldgicas das experiéncias deseritas pelos participantes, que esto, assim, inicialmente em linguagem de senso comum ¢ sem uma articula- io precisa quanto a0s significados psicolégicos nelas contidos. A medida que Oo investigador vai transformando a linguagem de senso comum das descrigoes, surgem algumas possibilidades quanto aos significados que estas expresses possam conter. No entanto, estas possibilidades niio podem set, simplesmente, aceites, O investigador deve analisé las criticamente, fazendo uso da variacio livre imaginativa e relacionando 0 sentido que surge numa determinada uni- dade com o contexto geral de todo 0 protocolo. 94 | Método Fenamenoldgico de Investigagio em Psicclogia Para a Fenomenologia, o mundo da vida, ou mundo pré-tesrico, €0 suporte para todo o conhecimento, pelo que a ciéncia é uma atitude derivada, motivada por aspectos desse mesmo mundo da vida. Este é mais abrangente, muito embora a ciéacia possa trazer outra precisio, numa analise que nfo deixa de ser parcelat. A ttansformago da linguagem do dia-a-dia dos sujeitos é um ‘constrangimento necessitio, de modo a alcangar a perspectiva psicolégica, obtida pela descrigio do mundo da vida. A adopgio de uma atitude da nossa disciplina de estudo, a Psicologia, por um lado, contribui para uma sensibili- dade propria da area de conhecimento, por outro, possibilita que os dados possam ser tratados de forms aclequada, lictamente apreendidos como dadlos de investigagio. ‘Uma iltima nota ainda acerca das transformactis que ocottem no terceiro passo. E frequente que colegas investigadores fiquem surpreendidos ao veri ficarem 0 que consideram ser transforma¢ies activas de significado, por parte do investigador, na utilizagdo deste momento do mérodo fenomenoligico. No centanto, « ciéncia requer quase sempre transformacdes ou modificagBes dos dados originais. O que torna isto dificil de compreender é, muitas vezes, tradigao do laboratSrio. Patece que se entra neste local e se obtém os dados de forma bastante directs. No entanto, muitas vezes, ignora-se 0 facto de que 6 laboratério nfo é uma situagio ou ambiente natural. E, pelo eontsasio, um ambiente altamente artificial, construido com 0 propdsito de melhorar as condigies dos ambientes naturais, Ha cimaras escuras, salas insonotizadas, insirumentos para controlar a intensidade € qualidade dos estimulos, bem como outros equipamentos para controlar as reacgdes dos participantes, sejam ates hutmianos ou animais, Noutras palavras, as transformagées ocorrem ini cialmente na situagio de forma a que os dlados possam ser recolhidos clara ‘mente. Com o métod fenomenol6gico, os dacos sio obridos através de uma perspectiva do dia-a-dia, mas, de forma a tomar os dads em bruto os mais relevantes possiveis para a Psicologia, pelo que as transformagies tém de, ‘ocorrer apés os dados serem recolhidos. Porqué esta diferenca entre a tradigio de laboratério ¢ a investigacio experiencia? Basicamente, a diferenca depende de as varidveis ¢ 0s factos serem independents uns dos outros € externamente relacionados, ou inter dependentes ¢ intrinsecamente relacionados. A tradi¢io de laborat6rio come- {cou por investigar “coisas” ou fenémenos, que so fundamentalmente inde pendentes ¢, portanto, a manipulacio destas varidveis era relativamente fc No entanto, dado que as-experiéncias pertencem a um dado individuo, elas tendem a ser interdependentes c intrinsccamente relacionadas. Podem-se abstrair varidveis experimentais isoladas ou factores, mas niio se pode fazer isto sem modifica, simultaneamente, a estrutura da experiéncia. Quando se Método Fenomenolégico de Investigacio em Psicologia | 95 pensa em seres humanos, as relagdes sfo to primirias/essenciais que uma pessoa nio pode ser definida sem referéncia a clas, Consequentemente, a0 pattirmos de uma descricio da perspectiva do mundo do dia-a-dia lifeworld), estamos a recolher as experiéncias com as suas proprias referencias e contex tos, de acordo com a importincia que pareciam ter para o participante. Dado que 0s significados so também, basicamente, relacionais, comecamos a ver como diferentes dimensdes de uma mesma experiéncia se relacionam umas com as outras na tealidade, deixando para trés mundo das hipéteses. Final- mente, a relevancia especial destas conexdes para a Psicologia tem de ser ‘wortiada éxplicita, visto que ¢ Sbvio que o mesmo conjunto de dados pode servir de base para a anslise de vérias disciplinas. O tipo de transformagies que se procura obter pode ser especificado mais claramente. Um dos objectivos é transformar o que € implicito numa linguayem explicita, especialmente com respeito ao significado psicoldgico. Este aspecto da transformaciio € 0 que permite anilise revelar significados que sio vividos, mas nfio necessariamente articuladlos de forma clara ou totalmente conscie Um segundo objective é, de alguma forma, generalizat, de modo a que a a lise niio seja tao especifica em relacio a uma dada situacio. Procurar ® signi- ficado psicolégico de uma situacio significa, em parte, ir do concreto da situacao vivida, como um exemplo de algo, ¢ clarficar 0 que € que afinal esta ‘exemplifica. Por fim, um tereeiro objectivo €, sempre que possivel, descrever ‘© que ocorren, de um modo psicologicamente sensivel. Isto no significa “eti- ‘quetac” 0s significados em termos de jargio psicolSgico, mas, genuinamente, articular e tornar visiveis os significados psicolégicos, que tém maior impor tncia na experiencia, Em termas priticas, no terceiro passo, 0 investigador pode produzir uma unidade de significado de cardcter psicol6gico, substan- cialmente, maior do que a unidade de significado que Ihe deu origem, estabe lecida nos passos dois e anterior. Isto acontece pelo facto de se pretender que significados psicol6gicos, que estejam implicitos, possam ser clarificados explicitados de forma inteligivel e evidente. Por um lado, pretende-se extrait todos os aspectos relevantes de um ponto de vista psicologico, por outro, 0 Ieitor critico pode verificar 2 anilise desenvolvida pelo investigador. Finalmente, aestrutura final, o quarto passo, tem como objectivo transi tiro que é verdadeiramente essencial, numa perspectiva psicolégica, sobre um, conjunto de experiéncias relacionadas com um tema. A sintese estratural € necesséria, x fim de condensar os dados em bruto, € suas elaboragées, em proporcées manipulaveis, de modo a se revelarem as relagdes entre as partes. ‘A estrutura no reclama uma validade universal, mas sim umn caracter geral (Os aspectos clas descricdes das experiéncias que sejam especificos ou contin: entes nao fardo parte da estrutura. Apenas os constituintes e os aspectos 96 | Método Fenomenolégico de Investigagao em Psicologia telacionais entre estes, directamente conotados com o fenémeno sob investi- gacio, serio inseridos. O critério a seguir para a inclusao, ou nfo, de um constituinte é de que a esteutura final seria radicalmente diferente sem a inser- ‘gio de um constituinte-chave, Limitacoes "Todos os investigadotes sabem que niio ha métodos perfcitos. Cada método team pontos fortes e limitagdes. O processo de investigagiio beneficia quando “as limitagées do método so tornadas explicitas, a fim de serem estabelecidos 105 limites dos resultados. Obviamente, © mesmo se verifica em relagdo a0 método fenomenolégico. ‘© primeiro aspecto a salientar é o facto de os dados em bruto obtidos serem descrigdes retrospectivas, i ., haa possibilidade de erro ou engano por parce do participante. Erros “honestos” podem, obviamente, ocorrer, mas niio sio tio cruciais para a andlise psicol6gica como pode parecer & primeira vista. Afinal, a perspectiva psicolégica do método ferfomenol6gico tem como objec: tivo obter descrigdes, tio detalhadas quanto possivel, das experignecius vividas subjectivamente por sujcitos epistémicos, e nao relatérios objectivos. O inte- resse esta em como o participante experienciou as situagies, ainda que estas venham através de recurso i meméria. O modo como estas se destacam na ‘meméria é também psicologicamente reyeladot. Esta dupla possibilidade de erro (meméria e percepgao da situagao original) deverd, cereamente, fazer com ‘que 0 investigador seja cuidadoso, mas nfo apresenta um obstéculo inultra passavel, uma vez que nio se reclama uma qualquer realidade objectiva. Em vvez disso, epistemologicamente, o argumento é que os resultados se baseiam tunicamente em situagoes que foram éxperienciadas ou relembradas pelo par- ticipante. Em investigacio fenomenolégica, este passo deve-se ao uso da redugio fenomenolégica-psicolégica no contexto cientifico. O leitor deve ‘também recordar que, no ambito da redugio, que se reclama a nivel feno- ‘menol6gico é apenas em relagio a forma como “as coisas” se apresentaram pereneiaram no em relngao forma como cis realmente centa fazer Aqueles que . cexistem, Isto € precisamente 0 que uma perspectiva psicoldgic — descrever as situagdes como so experienciadas. Com esta énfase, o relatar objectivo de uma situagiio pode servir como um ausilio para detectar o perfil psicolégico, mas nfo o deverd substitu H ‘A. questio do engano é mais problemstica, no sentido em que um inves- tigador/entrovistador pode ser induzido em erro, durante um custo periodo de tempo, sobretudo em descrigdes breves. No entanto, com entrevistas mais Método Fenomenolgico de Investigago em Psicologia | 97 longas, como as que so usadas em dissertagdes de doutoramento ou investiga: io continuada, 0 facto de algo ser duvidoso é normalmente detectivel. Pode nio se saber exactamente 0 porqué das narrativas estarem afectadas ou pare- cerem “desligadas”, mas o facto de um participante estar a tentar controlar a descrigio é geralmente notado. Também aqui o uso da redugio fenomenolégica € til, dado que, epistemologicamente, se reclama apenas 0 acesso & estrutura experiencial ¢ nao a realidade objectiva. Este tipo de problema é, geralmente, visfvel na recolha de dados através de entrevistas mais longes, nas quais as disparidades ¢ paradoxos podem ser clarficados com os participantes. Ain: sim, o que se pretende alcancar so estruturas experienciais auténticas, nio estrururas consteuidas de forma enganosa. As dltimas oferccem apenas 0 modo como alguém construiu o fenémeno que niio chegou a ocorrer. A investigacéo fenomenolégica, orientada para a descoberta (diseovery- -orfented) em vez de visar provar uma teoria ou hipétese. Importa seferir que estas vulnerabilidades nao so exclusivas da investigacio fenomenolégica. Todaa investigagio qualitativa, que dependa de relatos de situagées por parte de participantes, €jgualmente vulnerivel. De facto, abordagens supostamente ‘mais objectivas, que dependem de instrumentos, tais como questionstios ou testes de itens, fo igualmente vulheraveis, apesae cle © participante apenas fazer cruzes em folhas de papel. Podemos fazer balangos gersis ou seguir critétios € protocolos, mas nao existe uma estratégia infalive! para detectar ‘enganos. Acresce o facto de, apesar de a Fenomenologia ser uma metodologia qualitativa, & medida que vai acumulando saber e conhecimentos sobre um determinado objecto de estuclo, estabelecer um corpo teérico, que vai sendo posto.a prova pelas regulates ¢ eonsequentes investigagdes sobre esse mesmo tema. A propria praxis, em que se insere esse objecto dé estudo, poder por em causa © conhecimento, implicando uma revisio do mesmo. Uma outra limitagio dbvia prende-se com a necessidade de os sujeitos terem de ter vivido situagées directamente relacionadas com o tema de investigagio, de modo a poderem apresentar as suas descrigdes, Caso contririo, nao poderio ser inclu idos na amostra. Outca vulncrabilidade bastante transparente neste método & 0 facto de todo o processo parecer estar dependente da subjectividade do investigados Isto é, especialmente, verdadeiro em relagio ao terceito passo do método, no qual as expressdes assumem uma sensibilidade psicolégica. Explicémos ja 0 porqué da necessidade desta transformagio, dado que toda a ciéncia converte 65 dados em bruto de alguma forma, quer seja 2 priori, através do setting da investigagio ou instrumentos, quer seja a posteriori, Uma vex que a transfor magio que ocorre no método fenomenolégico é a posteriori, e dado que con cemne expresstes precisas de significado psicol6gico, frequentemente, parece

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