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Terga-feira (4 de Maio de 1974 I Série — Nimero 12 DIARIO D0 GOVERN PREGO DESTE NUMERO -2$40 Toda a corvespondicis, gust ofc, (quar uate a enacion a anita ‘ne sg odo Goverey a 40 idiot : 1 Adsnistre: Fu de 0, Franclace Maree de Melo, 6, Ushed-1 0 prog don andecioe 6 40161 « links, serutciée do respective inposto de ale, fependende a sua publcalo de papamento amtcipoe a sfectear na pronan Neci- alata 4a Monde, quando v0 trate de sntidadeparieutr. IMPRENSA NACIONAL-CASA DA MOEDA Aviso Por ordem superior e para constar, comunica-se que nao serao accites quaisquer originais desti nados a0 «Diario do Governo» desde que néo tra gam aposta a competente ordem de publicacao, assinada e autenticada com selo branco ou, na sua falta, a assinatura reconhecida na qualidade de responsavel, salvo quando se trate de textos manados de cartérios notariais. SUMARIO Junta de Salvagdo Nacional: ne 2/7: Extingue a Assembleia Nacional ¢ a Camara Corporatva Lei n. 3/74: Define a estrutura constitucional transitéria que regerd a ‘organizacio politica do Pals até a entrada em vigor da Politica’ da. Republica Portuguesa. JUNTA DE SALVACAO NACIONAL Lei ns 2/74 de 14 de Maio A Junta de Salvagdo Nacional deereta, para valer como lei constitucional, © seguinte: Artigo 1. So extintas a Assemblei a Camara Corporativa. Art, 2° Esta lei entra imediatamente em vigor. Visto e aprovado pela Junta de Salvagdo Nacional Nacional ¢ em 14 de Maio de 1974. Publique-se. © Presidente da Junta de Salvago Nacional, ANTONIO DE SPiNOLA. Lei ns 3/74 do 14 do Malo Considerando que 0 Movimento das Forgas Arma- dias, em 25 de Abril de 1974, restabeleceu as con ges necessérias aq exercicio da democracia ¢ & rea- Jizayao da paz social na justiga e na liberdade; Considerando que, de acordo com 0 Programa do Movimento das Forgas Armadas, importa definir s estrutura constitucional transitéria que regera a or- gunizagio politica do Pais até a entrada em vigor da nova Constituicao Politica da Republica Portu- guess: ‘A Junta de Salvagio Nacional decreta, para valer como lei constitucional, o seguinte ARTIGO 1 (Normas constitucionais) 1. A Constituigao Politica de 1933 mantém-se tran- sitoriamente em vigor naquilo que nio contrariar os principios expressos no Programa do Movimento das Forgas Armadas, cujo texto auténtico se a crito em anexo a esta lei e dela faz parte integrante. 2. Entenderse-d de igual modo revogada a Cons: tituigao Politica de 1933 em tudo aquilo que for contrari~lo por disposigao da Lei Constitucional no 1/74, de 25 de Abril, da Lei Constitucional n.* 2/74, de 14/de Maio, da presente lei ou de futura lei constitucional promulgada no exercicio dos pod res assumidos em consequéncia daquele Movimento € ao abrigo do preceituado neste diploma. 3. As disposigdes da Constitui¢a0 Politica de 1933 serio interpretadas, na parte em que subsistirem, fe as lacunas da mesma serao integradas de acordo com os refetidos principios expressos no Programa do Movimento das Forgas Armadas. ARTIGO 2° (Orgios de soberania) AAté que iniciem o exercicio das suas fungdes os 6rgios que vierem a ser instituidos pela nova Consti- tuigdo Politica, a aprovar nos termos da presente lei, exercerao o poder, além da Assembleia Constituinte, © Presidente da Republica, a Junta de Salvagio Na- cional, 0 Conselho de Estado, 0 Governo Provisorio © os tribunais, 618 ARTIGO 3° (Assemblela Constituinto) 1. A Assembleia Constituinte caberd elaborar © aprovar a nova Constituigio Politica 2. A Assembleia Constituinte deverd aprovar a Constituigao no prazo de noventa dias, contados a partir da data da verificagdo dos poderes dos seus membros, podendo esse prazo ser prorrogado por igual periodo pelo Presidente da Repablica, ouvido © Conselho de Estado. 3. A Assembleia Constituinte dissolve-se automa- ticamente uma vez aprovada a Constituicao ou de- corrido que seja 0 prazo referido no nimero ante- rior, devendo, neste segundo caso, ser leita nova Assembleia Constituinte no prazo de sessenta dias. ARTIGO 4" (Lol oleitoral) 1. A Assembleia Constituinte seré eleita por sufté gio universal, directo ¢ secreto. O numero de mem- bros da Assembleia, os requisitos de clegibilidade dos Deputados, a organizagdo dos circulos eleitorais € 0 processo de eleigao sero determinados pela lei eleitoral. 2. O Governo Provisério nomearé, no prazo de quinze dias, a contar da sua instalagao, uma comis- so para elaborar o projecto de lei eleitoral 3. O Governo Provisério elaboraré, com base no projecto da comissao referida no numero anterior, uma proposta de lei eleitoral a submeter & aprova- so do Conselho de Estado, de modo a estar publi- Cada até 15 de Novembro de 1974, 4. As eleigdes para Deputados & Assembleia Cons- tituinte realizar-se-o até 31 de Margo de 1975, em data a fixar pelo Presidente da Republica. 5. A Assembleia Constituinte sera convocada den- tro de quinze dias apés a sua eleicao. ARTIGO 5." (Presidente da Repiblica) © Presidente da Reptblica é escolhido pela Junta de Salvagdo Nacional de entre os seus membros, e respond perante a Naga ARTIGO 6+ (Posse do Presidente da Replica) O Presidente da Reptiblica assume as suas fungdes no dia em que for designado © toma posse perante a Junta de Salvacio Nacional, usando a seguinte declaragao de compromisso: Juro, por minha honra, garantir 0 exercicio de todos 05 direitos e liberdades dos cidadios, observar e fazer cumprir as leis, promover 0 ‘bem geral da Nagio e defender a independéncia da Patria Portuguesa. te da Replica) Compete ao Presidente da Repiiblica: _L* Vigiar pelo cumprimento das normas constitu- cionais € das restantes leis; 1 SERIE— NUMERO. 112 29 Presidir a Junta de Salvagio Nacional ¢ a0 Consetho de Estado; 3° Nomear os membros da Governo Provisbrio de entre cidadios portugueses que sejam representa- tivos de grupos e correntes politicas ou sejam inde- pendentes, mas se identifiquem com o Programa do Movimento das Forgas Armadas, exoneré-los; 42 Convocar 0 Conselho de Estado; 5° Convocar e presidir ao Conselho de Ministros, quando o julgar conveniente; 6° Marcar, de harmonia’com a Iei eleitoral, a data das eleigdes dos Deputados & Assembleia Cons- tituinte; 72 Convocar a Assembleia Constituinte © abrir a ‘sua e550; 8° Prorrogar, se necessério, a sessiio da Assem- bleia Constituinte, nos termos do n.* 2 do artigo 3.°; 9.° Representar a Nagdo e dirigir a politica ex- terna do Estado, concluir acordos ¢ ajustar tratados internacionais, directamente ou por intermédio de representantes, ¢ ratificar os tratados depois de devi- damente aprovados; 10° Exercer a chefia suprema das forgas arma- das, nos termos da lei; 11° Indultar e comutar penas; 12° Declarar, ouvido-o Conselho de Estado, 0 es- tado de sitio, com suspensio, total ou parcial, das ‘garantias constitucionais, em um ou mais pontos do territério nacional, no caso de agressio efectiva ou iminente por forgas estrangciras ou no de a segu- ranga ea ordem piblica serem perturbadas ou ameagadas; 13. Promulgar e fazer publicar as leis constitu- cionais © as resolugdes emanadas do Conselho de Estado, bem como os decretos-leis © os decretos re- gulamentares, © assinar os restantes decretos. Os diplomas mencionados neste mimero que néo sejam promulgados, assinados e publicados segundo nele se determina sao juridicamente inexistentes, ARTIGO 8° referenda) 1. Os actos do Presidente da Republica devem ser referendados pelo Primeiro-Ministro e pelo Ministro ‘ou Ministros competentes, sem o que serio juridica- mente inexistentes. 2. Niio carecem de referenda: @) A nomeagio © exoneragio dos membros do Governo Provis6rio; 5) A mensagem de rentincia ao cargo; ©) A promulgacao das leis constitucionais ¢ das resolugdes do Conselho de Estado. (Regime 3. Salvo 0 disposto no mimero anterior, devem ser referendados por todos os Ministros os decretos-leis € os decretos que hajam de ser promulgados ou assinados pelo Presidente da Repdblica, se uns ¢ outros nao tiverem sido aprovados em Conselho de Ministros. ARTIGO 9+ (Constituieso da Junta de Salvagéo Nacional) 1. A Junta de Salvagio Nacional ¢ composta por sete militares, que para o efeito receberam mandato do Movimento das Forgas Armadas. 14 DE MAIO DE 1974 2. O exercicio das fungdes de membro da Junta prefere ao de.qualguer outro cargo. 3. No caso de cessagio, por parte de qualquer membro da Junta, das respectivas fungdes, 0 Con- selho de Estado designara 0 novo membro no prazo de quinze dias apés a verificagio do respectivo evento, ARTIGO 10° (Competéncia Junta de Salvage Nacional) Compete a Junta de Salvagdo Nacional: 1." Vigiar pelo cumprimento do Programa do Movi- mento das Forcas Armudas ¢ das leis constitucionais; 2, Escolher de entre ox seus membros 0 Presidente da Republica, o Chefe e Vice-Chefes do Estado-Maior- -General das Forgas Armadas, 0 Chefe do Estado- -Maior da Armada, 0 Chefe do Estado-Maior do Exercito ¢ 0 Chefe do Estado-Maior da Forga Aére 3." Designar, em caso-de impedimento do Presi dente da Repiiblica, qual dos membros desempenhara interinamente as suas fungdes, ARTIGO 11 (Funcionamento da Junta de Salvagio Nacional) 1. Até a sua dissolugdo, a Junta de Salvagio Nacio- nal considerar-se-4 em reunigo permanente. 2, As deliberagdes da Junta serio tomadas por maioria absoluta do niimero legal dos membros que a compdem. ARTIGO 12° (Composig#o do Conselho de Estado) 1. Constituem 0 Conselho de Estado: 4a) Os membros da Junta de Salvagio Nacional; b) Sete representantes das foreas armadas; ) Sete cidadaos de reconhecido mérito, a desig- nar pelo Presidente da Repiiblica 2, Os membros do Consetho de Estado referidos na alinea b) do numero anterior serio investidos pelo Presidente da Republica, de acordo com as designa- es feitas pelo Movimento das Forgas Armadas, nio podendo estes ser colocados, sem’ prévio. consenti- ‘mento do Conselho de Estado, em situagdes que impe- ‘am 0 exercicio efectivo das suas fungies. 3. O exercicio das fungdes de Conselheiro de Es- ado, por parte dos membros referidos na alinea 6) do nw 1, prefere ao de quaisquer outras. 4. No caso de morte, rentincia ou impossibilidade fisica permanente de qualquer dos membros do Con- selho de Estado referidos nas alineas 6) ¢ ¢) don.” 1 deste artigo, o Presidente da Repiiblica designari 0 novo membro no prazo de quinze dias apés a veri- ficagio do respectivo evento. ARTIGO 13." 1. Compete a0 Consetho de Estado: 1° Exercer os poderes constituintes assumidos em consequéncia do Movimento das Forgas Armadas até a eleigdo da Assembleia Constituinte; 619 2. Sancionar os diplomas do Governo Provisério que respeitem: @) A cleigio da Assembleia Constituinte; 5) A definigdo das linhas gerais da politica eco- némica, social ¢ financeira; ©) Ao exercicio da liberdade de expresso de pen- samento, de ensino, de reuniio, de associa- io e de crencas e praticas religiosas; 4) A organizagio da defesa nacional e & defini- gio dos deveres desta decorrentes; ©) A definigio do regime geral do Governo das provineias ultramarinas; 3.” Vigiar pelo cumprimento das normas constitu- cionais © das leis ordinarias e apreciar os actos do Governo ou da Administrago, podendo declarar com forea obrigatoria geral, mas ‘ressalvadas sempre as situagdes criadas pelos casos julgados, a inconstitucio- naldade de quaisquer normas; 4° Autorizar o Presidente da Repliblica a fazer a guerra, se no couber 0 recurso a arbitragem, ow festa se _malograr, salvo 0 caso de agressio efectiva ou im:nente de forgas estrangeiras, ea fazer a paz; 5." Pronunciar-se sobre a impossibilidade fisica do Presidente; 6." Pronunciar-se em todas as emergéncias graves para a vida da Nagio ¢ sobre outros assuntos de inte- resse nacional sempre que o Presidente da Repiblica © julgue conveniente. 2. Os diplomas que devem ser sancionados pelo Conselho de Estado nao poserdo ser promulgados pelo Presidente da Republica sem que a sango tenha sido concedida. ARTIGO 14° (Constituigéo © formagio do Governo Provisério) © Governo Provisorio € constituido pelo Pri- meiro-Ministro, que podera gerir os negécios de um ou_ mais Ministérios, e pelos Ministros, Secretarios © Subsecretirios de Estado. 2. Primeiro-Ministro e os Ministros so nomeados © exonerados pelo Presidente da Republica, 3. Os Sccretarios e Subsecretérios de Estado sio nomeados pelo Presidente da Republica, sob proposia do Primeiro-Ministro. jes dos Secretarios © Subsecretarios de Estado cessam com a exoneragio do respective Minis- tro. 5. Poderé haver Ministros sem pasta que desem- penhem misses de natureza especifica e exergam fungdes de coordenagao entre Ministérios ou quais- quer outras que Ihes sejam delegadas pelo Primeiro- -Minisiro. ARTIGO 15, (Responsabilidade politica do Governo Provisério) © Governo Provisorio & responsivel politicamente peranis 0 Presidente da Republica ARTIGO 16° (Competéncia do Governo Provisério) 1. Compete 20 Governo Provisério: 1° Conduzir a politica geral da Nagao; 620 ; 2 Referenuar os actos do Presidente da Republica; 3° Fazer decretos-leis © aprovar os tratados ou acordos internacionais; * Elaborar 0s decretos, regulamentos e instrugdes para a boa execugdo das leis; 52° Superintender no conjunto da administragao piiblica; 6. Elaborar a lei eleitoral 2, Os actos do Governo Provisério que envolvam aumento de despesas ou, diminuigao de receitas sio sempre referendados pelo Ministro da Coordenagao Econémica, ARTIGO 17" (Colegialidade do Gabinete) 1, Os Ministros do Governo Provisério definirio em Consetho as linhas de orientago governamental, em execugao do Programa do Movimento das Forgas ‘Armadas. 2. A execugio da orientaco politica definida em Conselho para cada Ministério sera assegurada pelo respectivo Ministro. 3. Ao Primeiro-Ministro cabera convocar ¢ presi dit a0 Conselho de Ministros e coordenar e fiscalizar a execugio da politica definida pelo Conselho. ARTIGO 18° (Exercicio de fungio jurisdicional) 1, As fungdes jurisdicionais serio exercidas exclu- sivamente por tribunais integrados no Poder Judicial. 2. Nao € permitida a exisiénzia de tribunais com competénsia especifica para o julgamento de crimes contra a seguranga do Estado, 3. Exceptuam-se do disposto no n.” 1 os tribunais militares. ARTIGO 19° (Forgas armadas) 1. A estrutura das forgas armadas é totalmente in- dependente da estrutura do Governo Provisorio. 2. A ligagio entre as forgas armadas ¢ 0 Governo Provisorio feita através do Ministro da Defesa Nacional ARTIGO 20." (Chefe do Estado-Maior-General das Forgas Armadas) © Chefe do Estado-Maior-General das Forgas Ar- madas tem categoria idéntica & do Primeiro-Ministro, sucedendo-Ihe imediatamente na hierarquia da fungio publica. ARTIGO 21." (Chefes dos estadosmaiores dos tr das forgas armadas) Os chefes dos estados-maiores dos trés ramos das forgas armadas desempenhario todas as fungdes que correspondiam, até 25 de Abril de 1974, as dos Ministros das pastas militares, com excepgio das de natureza exclusivamente civil, que transitario para © Governo Provisoro. 1 SERIE— NUMERO 112 ARTIGO 22° (Consetho Superior de Defesa Nacional) 1. Haveré um Constlho Superior de Defesa Nacio- nal, com a atribuigio de concertar @ politica e a aegio de Uefesa nacional, 2. O Consetho Superior de Defesa Nacional é pre- sidido pelo Presidente da Repiiblica e dele fazem parte o Primeiro-Ministro, o Chefe do Estado-Maior- “General das Forgas Armadas, 0s Ministros da Defesa Nacional, Negdcios Estrangciros, Coordenagio Eco- nomica ¢ Coordenagdo Interterritorial © os chefes dos estados-maiores dos trés ramos das forgas arma das, 3, Quando 0 entender, 0 Presidente da Republica pode convocat outros Minisiros, Governadores-Gerais ou Governadores de provincias’ultramarinas e outras entidades que, pelas suas fungoes, tenham directa interferéncia nos assuntos relativos & defesa nacional ARTIGO 23." (Governadores-Gerais © Governadores de provincias ‘ultramarinas) (Os Governadores-Gerais e os Governadores de pro- vincias ultramarinas tém, na hierarquia da fungio publica, categorias idénticas, respectivamente, as de Ministros e de Secretarios de Estado. ARTIGO 24." (Wigéncia) 1, A presente lei entra imediatamente em vigor. 2. As leis constitueionais a que se refere 0 artigo 1.° deste diploma caducardo logo que a nova Consti= luigao seja aprovada e promulgada e tomem posse os titulares dos Srgéos que sejam previstos nela. Visto e aprovado pela Junta de Salvagio Nacional em 14 de Maio de 1974 Publique-se. © Presidente da Junta de Salvagio Nacional, ANTONIO DE SPINOLA. PROGRAMA DO MOVIMENTO DAS FORCAS ARMADAS PORTUGUESAS Considerando que, ao fim de treze anos de luta em terras do ultramar, o sistema politico vigente nio conseguiu defin:r, concreta e objectivamente, uma po- litica ultramarina que conduza a paz entre os Portu- ‘gueses de todas as ragas credos; Considerando que a definigéo daquela politica s6 € possivel com o saneamento da actual politica in- terna e das suas instituigGes, tornando-as, pela via democratica, indiscutidas representantes do Povo Por- tugués; Considerando ainda que a substituigo do sistema politico vigente tera de processar-se sem convulsdes internas que afectem a paz, 0 progresso ¢ o bem-estar da Nagio: © Movimento das Forgas Armadas Portuguesas, na profunda conviegdo de que interpreta as aspiragdes € interesses da esmagadora majoria do Povo Portu- 14 DB MAIO DE 1974 gués ¢ de que a sua acco se justifica plenamente em nome da salvagio da Patria, fazendo uso da ferga que Ihe € conferida pela Nagao através dos seus soldados, proclama ¢ compromete-se a garantir a adopcao das seguintes medidas, plataforma que entende necesséria para a resolucio da grande crise nacional que Portu- gal atravessa 1 —Exercicio do poder politico por uma Junta de Salvagao Nacional até a formagdo, a curto prazo, de um Governo Provisério Civil A escolha do Presidente e Vice-Presidente sera feita pela propria Junta. 2—A Junta de Salvagiio Nacional decretaré: @) A destituigio imediata do Presidente da Repi- blica e do actual Governo, a dissolugao da Assembicia Nacional e do Conselho de Estado, medidas que serio acompanhadas do antincio publico da convocagao, no prazo de doze meses, de uma Assembleia Nacional Constituinte, eleita por sufrigio universal directo ¢ secreto, segundo lei eleitoral a elaborar pelo futuro Governo Provisorio; 4) A destituigao de todos 0s governadores civis no continente, governadores dos distritos auténomos nas ‘thas adjacentes e Governadores-Gerais nas provincias ultramarinas, bem como a extingdo imediata da Acco Nacional Popular. 1) Os Governos-Gerais das provineias ultramarinas serlio imediatamente assumidos pelos respectivos se- cretarios-gerais, investidos nas fungdes de encarregados do Governo, até nomeagio de novos Governadores- Gerais, pelo Governo Provis6rio; 2) Os assuntos correntes dos governos civis serio despachados pelos respectivos. substitutos legais. en- quanto nao forem nomeados novos governadores pelo Governo Provisério; ©) A extingao imediata da DGS, Le; guesa e organizagées politicas da juventude No uliramar a DGS sera reestruturada ¢ saneada, organizando-se como Policia de Informagio Militar enquanto as operagdes militares 0 exigirem; 4) A entrega as forgas armadas de individuos culpa- dos de crimes contra a ordem politica instaurada en- quanto durar o periodo de vigéneia da Junta de Sal- vagiio Nacional, para instrugdo de processo e julga- mento: €) Medidas que permitam vigilancia e contréle ri- gorosos de todas as operagdes econémicas e financei- ras com o estrangeiro: f) A amnistia imediata de todos os presos politicos, salvo 05 culpados de delitos comuns, os quais serao entregues a0 foro respectivo, e reintegragdo volunta- ria dos servidores do Estado destituidos por motivos politicos; 12) A aboli¢io da censura ¢ exame prévio; 1) Reconhecendo-se a necessidade de salvaguardar 6s segredos dos aspectos militares e evitar perturba- ges na opiniio publica, causadas por agressbes ideo- ogicas dos meios mais reacciondrios, serd criada uma comissio ad hoe para contréle da imprensa, radi levisio, teatro e cinema, de cardcter transitorio, direc- tamente dependente da Junta de Salvagdo Nacional, a qual se manteré em funges até a publicagao de novas leis de imprensa, radio, televisdo, teatro e cinema pelo futuro Governo Provisério; 621 fh) Medidas para a reorganizagdo ¢ saneamento das forgas armadas e militarizadas (QNR, PSP, GF, etc.); 1) O coniréle de fronteiras sera das atribuigdes das forcas armadas e militarizadas enquanto nio for criado um servigo proprio; . 7) Medidas que conduzam ao combate eficaz contra a corrupgao € especulagio, B— Medidas a curto prazo 1—No prazo maximo de trés semanas apds a con- quista do Poder, a Junta de Salvagao Nacional esco- thera, de entre os seus membros, 0 que exercerd as fungdes de Presidente, da Republica Portuguesa, que mantera poderes semelhantes aos previstos na actu: Constituigao. 2) Os restantes membros. da Junta de Salvagiio Na- jonal assumirao as fungdes de Chefe do Estado-Maior- -General das Forgas Armiadas, Vice-Chefes do Es- tado-Maior-General das Forgas Armadas, Chefe do Estado-Maior da Armada, Chefe do Estado-Maior do Exéreito ¢ Chefe do Estado-Maior da Forga Aérea © fario parte do Conselho de Estado. 2— Apos assumir as suas fungdes, 0 Presidente da Republica nomeara 0 Governo Provisorio Civil, que seré composto por personalidades representativas de grupos ¢ correntes politicas © personalidades indepen- dentes que se identifiquem com o presente programa 3—Durante 0 periodo de excepgio do Governo Provisorio, imposto pela necessidade historica de transformagio politica, manter-se-4 a Junta de Sal- vacao Nacional, para salvaguarda dos objectivos aqui proclamados. 4) O periodo de excepedo terminaré logo que, de acordo com a nova Constituigao Politica, estejam eleitos o Presidente da Republica e a Assembleia Le- gislativa. 4—0 Governo Provisério governara por decretos- -leis, que obedecerao obrigatoriamente ao espirito da presente proclamagao, 5—O Governo Provis6rio, tendo em atengéo que as grandes reformas de fundo s6 poderio ser adopta- das no mbito da futura Assembleia Nacional Cons- tituinte, obrigar-se-4 a promover imediatamente: a) A aplicacao de medidas que garantam 0 exer- cicio formal da acgdo do Governo € 0 estudo e apli- cagiio de medidas preparatérias de caricter material, econdmico, social e cultural que garantam o futuro exercicio efectivo da liberdade politica dos cidadios; b) A liberdade de reuniio e de associagao, Em aplicagao deste princi magdo de wassociagdes politicasy, poss de futuros partidos’ politicos, e garantida a liberdade sindical, de acordo com lei especial que regularé © seu exercicio: ©) A liberdade de expresso e pensamento sob qualquer forma; d) A promulgacao de uma nova Lei de Imprensa, Radio, Televisdo, Teatro ¢ Cinema; ©) Medidas e disposigdes tendentes’ a assegurar, a curto prazo, a independéncia ¢ a dignificagio ‘do Poder Judicial: 1) A extingdo dos «tribunais especiais» € dignifi- cagiio do processo penal em todas as suas fases; 2) Os crimes cometidos contra 0 Estado no novo regime serdo instruidos por juizes de direito ¢ jul 622 ‘gados em tribunais ordindrios, sondo dadas todas as ‘garantias aos’ arguidos. As averiguagdes. sero. cometidas & Policia Judi- cidria ‘6—O Governo Provisorio lancaré os fundamen- tos de: ‘@) Uma nova politica econdmica, posta 20 servigo do Povo Portugués, em particular das camadas da populacio até agora mais desfavorecidas, tendo como preocupacdo”imediata'a Ita cofitra @ inflagdo ¢ a alta excessiva do custo de vida, 0 que necessaria- mente implicaré uma estratégia antimonopolista; 5) Uma nova politica social que, em todos os do- minios, teré essenciamente como objectivo a defesa dos interesses das classes trabalhadoras ¢ © aumento progressivo, mas acelerado, da qualidade da vida de todos os Portugueses. 7—-O Governo Provisbtio’orientar-se-& em maté- ria de politica externa pelos princfpios da indepen- jéncia_¢ da igualdade entre os Estados, da no wgeréncia ‘nos assuntos internos' dos outros pafses © da defesa da paz, alargando ¢ diversificando relacdes internacionais com’ base na amizade e cooperagto: @) O Governo Provisétio respeitaré. 0s compro- missos.internacionais decorrentes dos tratados em vigor. ‘8—A politica ultramarina Yo Governo Provis6- rio, tendo em ateng&o que a sua definigo competiré & Nagio, orientar-se-& pelos seguintes principios: 4) Reconhecimento de que a solucio das guerras no ultramar € polftica, ¢ nfo militar; 1 SBRIE—NOMERO 112 ) Criaglo de condigdes para um debate franco ¢ aberto, a nivel nacional, do problema ultramarino; ¢) Langamento dos fundamentos de uma politica ultramarina que conduza & paz. C—Consideragdes finais 1—Logo que eleitos pela Nagio a Assembleia Legislativa © 0 novo Presidente da Repiiblica, sera dissolvida a Junta de Salvagdo Nacional ¢ a accéo das forgas armadas ser& restringida & sua missio especifica de defesa da soberania nacional. 2—O Movimento das Foreas Ant de que os principios ¢ os objectivos aq} traduzem um compromisso assumido perante o Pais ¢ sio imperativos para servir os superiores interesses da Nacdo, dirige a todos os Portugueses um veemente apelo & participacio sincera, esclarecida © decidida nna vida piblica nacional © exorta-os a garantirem, pelo seu trabalho © convivéncia pacifica, qualquer ‘que seja a posicdo social que ocupem, as condigdes necessérias & definigdo, em curto prazo, de uma politica que conduza & solugéo dos graves problemas nacionais ¢ & harmonia, progresso ¢ justiga social indispensaveis a0 saneamento da nossa vida piblica © & obtengdo do lugar a que Portugal tem direito entre as Nages. © Presidente da Junta de Salvagdo Nacional, ANTONIO DE SPINOLA. IMPRENSA NACIONAL-CASA DA MOEDA

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