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F. E. PETERS TERMOS FILOSOFICOS GREGOS Um léxico historico Preficio de Miguel Baptista Pereira Tradugio de Beatriz Rodrigues Barbosa 2° edigao FUNDACAO CALOUSTE GULBENKIAN | LISBOA 192 assim com a quantidade continua e mensuravel que é magnitude (megethos, q. v.). Para a solucao final platénica do problema do Uno (hen) e do multiplo (plethos), ver trias 5. Pnetima: ar, respiracdo, espirito, spiritus 1. Pneuma, que significa ar ou respiracdo (0 verbo grego cognato & usado em ambos os sentidos em Homero), ¢ usado no primeiro sentido quando aparece pela primeira vez em Anaximenes. Pneuma ou aer, diz ele, unifica 0 kosmos tal como a nossa psyche, que é também aer unifica 0 nosso corpo (frg. 2; a linguagem do fragmento impressionou muitos por ser um pouco «moderna» de mais para os sentimentos genuinos de Anaximenes). A identi- ficacao do ar e da respiraco, implicita na analogia de Anaximenes, é tornada explicita pelos pitagéricos quando sustentam que o pneuma ¢ o vazio sao inalados pelo universo (Aristdteles, Phys. iv, 213b). 2. Mas a ligacdo da respiragéo e do principio vital transita, tal como no conceito da prépria psyche, para uma ligacdo posterior com a cognicéo na especulagéo de alguns escritores do século v. Segundo Didgenes de Apoldnia, o acer (q. v.) 6 a arche de todas as coisas € o ar quente dentro de nés ¢ a alma (frg. 5; o mesmo passo salienta que o ar dentro de nds é mais quente do que o ar circun- dante mas consideravelmente mais fresco do que o ar a volta do céu; confrontar Cleante, 4 infra e ver nous). Somos entao infor- mados (Teofrasto, De sens. 39, 44) de que ele ¢ a fonte da cognicio, tanto da sensagio (aisthesis, q. v.) como do pensamento (phro- nesis}. O ar interno deve ser seco e quente (confrontar a alma ignea de Heraclito) e circula pelo corpo com o sangue (ver kardia). Uma teoria semelhante aparece entre os escritores médicos (ver De morbo sacro 16). 3. Aristételes continua a fazer uso de pneuma nos seus sentidos vulgares de ar, respiracéo ¢ vento, mas introduz, além disso, algo chamado pnewna inato (symphyton) que é uma espécie de substancia quente e espumosa andloga na sua compo- io ao elemento de que sao feitas as estrelas (para o desenvol- vimento desta sugestAo até ao corpo astral dos neoplaténicos, ver ochema). Partindo do coracao, a sua fungdo é fornecer o elo sensitivo e cinético entre os érgdos fisicos ¢ a psyche (ver De gen. anim, 11, 736a-737a). Este pneuma esta presente no esperma e transmite a alma nutritiva e sensitiva do progenitor a descendéncia (ibid, 735a). 193 4. © interesse filos6fico de Aristételes pelo pneuma nao era consideravel, mas os estdicos deram-Ihe uma posicao de destaque. O pneuma é um composto de ar ¢ fogo (SVF u, 442) © € uma versio aquecida daquilo a que se chama alma (ibid. 1, 135). Este pneuma, que é inato (symphyton), é levado pelo sangue através do corpo (ibid. 11, 885; ver psyche 28) do mesmo modo que Deus, o qual é também chamado pneuma, esta espalhado através do kosmos (ibid.; ver a opiniao de Posidénio, ibid. 11, 1009), apenas variando pelos seus graus de tensio (tonos, q. v.). Cada sistema pneumatico tem o seu hegemonikon (q. v.) ou papel directivo: o do homem no coracio (kardia, q. v.); 0 do kosmos ou no aither (q. v.; assim Zendo ¢ Crisipo, ibid. 11, 642-644) ou no sol (assim Cleante, ibid. 1, 499). 5, Tal visio materialista da alma encontrou pouca simpatia quer entre os funcionalistas aristotélicos quer entre os aderentes platénicos de uma alma divina e imaterial. Plotino sugere (Enn. Iv, 7, 4) que os proprios estéicos, ab ipsa veritate coacti, viram a inadequacgao dos seus pontos de vista e assim se viram constran- gidos a juntar ao pneuma hilico uma certa dose de notac4o quali- tativa ou formal, chamando-lhe «preuma inteligente [ennoun]» ou «fogo intelectual [noeron]». 6. Mas, mesmo antes da época de Plotino, outras correntes estavam a transformar o conceito estdico. Alguns estdicos estavam. eles préprios a separar o hegemonikon da corporeidade do pneuma (ver nous), p 0 fortemente sugerida pela ética estdica que estabeleceu uma distingéo nitida, moral e intelectual, entre o homem e os outros animais (ver Cicero, De leg. 1, 7, 22; Séneca, Ep. 121, 14). Além disso havia a tradicao religiosa judaico-crista que fez a mesma distingdo e, embora continuasse a usar a expressdo pneuma ou spiritus, a empregou num sentido espiritua- lizado e nao material. Assim Filon descreve 0 homem como criado a partir de uma substéncia terrena e de um espirito divino (theion pneuma), mas continua a salientar, comentando o Gen. 1, 7, que este ultimo é uma parte (ou como the chama, «uma colénia») da natureza divina, e esta € nous (De opif. 135). poiein: actuar, accao A accao é uma das dez karegoriai aristotélicas enumeradas nas Cat. 1b-2a; os seus exemplos sAo «corta» ¢ «queima». Tanto a accao como a paixo (paschein) admitem contrarios ¢ graus (ibid. 11b). Mas num contexto ético Aristdteles distingue (Eth. Nich. vi, 1140a) entre poiein, no sentido de «produzir» (dai poietike episteme, 194 ciéncia produtora) de pratein (actuar), (dai praktike episteme, ciéncia pratica); ver paschein, poierike, praxis, episteme, ergon. poi iké (scil. episteme): 1) ciéncia produtiva, arte; 2) poética 1) O termo préprio que Aristételes usou para a ciéncia pro- dutiva ou aplicada é techne (q. v.); 2) a poietike techne por exceléncia ¢ a poética, a qual Aristételes dedicou todo um tratado, que sé parcialmente chegou até nés. poién, poistés: que espécie, qualidade Demécrito distinguiu entre qualidades primarias baseadas na forma e nas caracteristicas do atomon, e qualidades secundarias ou derivadas, como doce, amargo, quente, frio, etc. que sao conven- cionais (Sexto Empirico, Adv. Math. vit, 135) e essencialmente subjectivas e passivas (ver pathe). Alguns dos eide platénicos sao, evidentemente, qualidades hipostasiadas, v. g., as qualidades éticas no Parm. 130b; e contudo Platao, que foi o primeiro a usar o poiotes abstracto (Teet. 182a), estava bem consciente da dife- renga entre qualidade e substancia (ver Tim. 49a-50a; para a teoria platénica das qualidades sensiveis, ver aisthesis). Poios € uma das dez kategoriai aristotélicas inseridas na lista das Cut. lb-2a e discutida ibid. 8b-11a (confrontar pathos). Em Epicuro as quali- dades primarias dos atoma sfo a forma, vo tamanho e o peso (este ultimo adicionado as de Demécrito), D. L. x, 54. O materialismo estéico exigia que até mesmo as qualidades da psyche fossem corpos, SVF u, 797; ver enantia, dynamis, symbebekos, genesis. hedone. apathei posén, posdiés: quanto, quantidade E uma das dez kategoriai aristotélicas referida nas Cat. 1b-2a e discutida ibid. 4b-6a. O tempo é uma quantidade continua, tal como 0 espaco, ibid. 5a. Na quantidade ética epicurista e nao na qualidade esta o critério para a escolha do prazer, Eusébio, Praep. Evang. x1, 21, 3; ver megethos, hedone. poté: quando, tempo Uma das dez kategoriai aristotélicas enumeradas nas Cai. 1b-2a; os seus proprios exemplos s&éo «ontem», «préximo ano»; ver chronos. 195 pou: onde, lugar Uma das dez kategoriai aristotélicas nas Cat. 1b-2a; ver topos. praktiké (scil. episteme): ciéncia da acgao ver praxis. praxis; accau, actividade Segundo Aristoteles, quando as acgoes se seguem a uma escolha deliberada (prouiresis) podem considerar-se morais ou imorais (Eth. Nich. 1, 13b), e dai cairem dentro do campo das ciéncias «praticas» (episteme praktikai), i. v., ética ¢ politica, que tém como objecto o bem que & visado pela accao, fhid. 10%4a-b; ver ergon. proairesis: escolha deliberada Embora deva ter havido uma discussio prévia da escolha moral (ver Aristételes, Eth. Nich. 11, 1111b), 0 primeiro trata- mento que chegou até nos € o de Aristételes (ibid. 1111b-1115a) que a define (1113a) como «um apetite, guiado pela deliberacio [bouleusis], para coisas dentro do nosso poder», A escolha é sempre de meios; apenas o desejo (boulesis) se dirige para um fim (ibid. 1Lt1b; ver kinoun 9). Duas coisas devem notar-se acerca da escolha: é precisamente isto que leva as acgGes (praxeis) humanas ao reina da moralidade, ¢ seguidamente, ao postular este acto voluntario (nado é puro voluntarismo; a proairesis é precedida por e baseada no acto intelectual da bouleusis; ver ibid. 1140a), Aristoteles deslocou as discussdes da moralidade da area da intelecgdo (a posicéo socratica; ver arete, kakon) para a da vontade. Os primeiros esticos adoptaram a posigao intelectualista (arete = episteme; ver SVF. 111, 256), mas com Epicteto a proai- resis tornou-se uma vez mais central; é a condi¢ao da liberdade do homem (Diss. 1, 29). Contudo, mesmo aqui hé uma forte énfase intelectualista. A proairesis é precedida pela diairesis, a distingdo entre aquilo que esta no nosso poder e aquilo que nao est4 (Diss. 11, 6, 24; 1, 1-3), e a prépria proairesis parece-se mais com © juizo de que com a escolha (ibid. m1, 9, 1-2). protépsis: compreensiio prévia, antecipagiio, preconcepcao Na epistemologia epicurista havia um critério supremo de verdade, a sensacao (aisthesis; ver também aletheia); mas havia

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