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O Contexto da Educagdo Fisica na Escola ‘SurAYA CRISTINA DARIDO Luiz SANCHES NETO 1.1 Ocontexto anterior ao surgimento das novas concepgées a partir da década de 1980 L.L.1 Higienismo e militarismo 1.1.2 Esportivista 1.1.3 Recreacionista 1.2 Quando e por que as coisas comegaram a mudar? 1.3 Algumas abordagens pedagégicas da Educagio 13.2 1.33 Abordagem construtivista-interacionista 1.34 Abordagem critico-superadora 1.3.5 Abordagem critico-emancipatéria 1.3.6 Saiide renovada 1.3.7 Pardmetros Curriculares Nacionais 1.3.8 Comentérios finais, 1.4 Referencias bibliogréficas Os objetivos e as propostas educacionais da Edueagio Fisica foram se modificando a0 longo dos titimos anos, todas as tendéncis, de algum modo, ainda hoje influenciam a formacio do profisional e suas priticas pedagégicas. Na Educagdo Fisica, assim como tem outros componentes curriculares, nao existe uma nica forma de se pensar e imple- ‘mentar a disciplina na escola. [Nese texto, o objetivo é apresentar cada uma das abordagens que foram construidas pela Educagio Fisica, porque, quando se conhecem os pressupostos pedagégicos que cestio por tris da atividade do ensino, & possivel melhorar 2 coeréncia entre o que se pensa estar fazendo e 0 que realmente realizamos. Digitalizada com CamScanner 2 O Contest da Educa Frc no Escala Cutra questio muito importante é que, na nossa pritica, as perspectivas pedagogicas que se instalam nao aparecem de forma pura, mas com caracteristicas particulares, ‘mesclando aspectos de mais de uma linha pedagégica. Em outras palavras, dificilmente Seguimos uma tinica. abordagem. : : A pratica de todo professor, mesmo que de forma pouco consciente, apbia-se em determinada concepgio de aluno, ensino e aprendizagem, que é responsdvel Pelo tipo de representacdo que o professor constréi sobre o set papel, o papel do aluno, balhados. : E importante ressaltar também que, neste texto, os termos modelos, linhas, pers- Pectivas, concepgées, tendéncias e abordagens serio utilizados como sinénimos. a metodologia, a fungdo social da escola ¢ os contetidos a serem tra- 1.1 O contexto anterior ao surgimento das novas concepgées a partir da década de 1980 A introdugio da Educagio Fisica oficialmente na escola ocorreu, no Brasil, em 1851, com a reforma Couto Ferraz, embora a preocupasio com a inclusio de exercicios fisi- Cos, na Europa, remonte ao século XVIII, com Guths Muths, J. J. Rosseau, Pestalozzi © outros (BETTI, 1991). Em reforma realizada, por Rui Barbosa, em 1882, houve uma recomendagio para que a gindstica fosse obrigatria, para ambos os sexos, ¢ que fosse oferecida para as Escolas Normais,Todavia, a implantacao, de fto, dessas leis ocorreu apenas em parte, no Rio de Janeiro (capital da Repiblica) e nas escolas militares, E apenas a partir da década de 1920 que varios estados da federago comegam a realizar suas reformas educacionais ¢ incluem a Educagio Fisica, com o nome mais freqiiente de gindstica (BETTI, 1991). ‘A Educagio Fisica na escola ja sofria preconceitos e baixo status desde o seu inicio. Ela estava presente na lei, mas essa mesma lei demorou bastante Para ser cumprida. 1.1.1 Higienismo e militarismo ‘A concepgio dominante da Educasio Fisica, no seu inicio, que muitos autores chamaram de higienismo, Nela, a preo habitos de higiene e satide, valorizando o desenvolvimento d do exercicio. é caleada na perspectiva ’cupagao central é com os lo fisico eda moral, a partir Em fungio da necessdade de sistematizar a ginistica na escola, surgem os métodos gindsticos. Os principais foram propostos pelo sueco P. H. Ling, pelo francés Amoros ¢ pelo alemao Spiess. Esses autores apresentarai Procuravam valorizar ji m Propostas que a imagem da gindstica na escola, Digitalizada com CamScanner 0 Comtento de EducosSo Fiica na Exale 3 No modelo militarista, os objetivos da Educagio Fisica na escola eram vinculados & formagao de uma geracio capaz de suportar o combate, a luta, para atuar na guerra; por isso, era importante selecionar os individuos “perfeitos” fisicamente ¢ excluir os incapacitados. Ambas as concepgdes, higicnista e militarista, da Educagio Fisica consideravam-na como disciplina essencialmente prética, nio necessitando, portanto, de uma funda- mentagio teédrica que a desse suporte. Por isso, nio havia distingo evidente entre a Educagao Fisica e a instrugao fisica militar. Para ensinar Educagio Fisica no era preciso dominar conhecimentos, e sim ter sido um ex-praticante ‘Apés as grandes guerras, o modelo americano denominado Escola-Nova fixou raizes, notadamente no discurso influenciado pelo educador Dewey ¢ em oposigio 4 escola tradicional (BETTI, 1991). O discurso predominante na Educagio Fisica passa a ser: “A Educagio Fisica é um| meio da Educagao”. O discurso dessa fase vai advogar em prol da educagao do movi- ‘mento como tinica forma capaz de promover a chamada educago integral. Essas mu- dangas ocorrem principalmente no discurso, porque a pratica higienista e militarista permanece essencialmente inalterada. . Contudo, a proposta escola-novista explicita formas de pensamento que, aos poucos, | 2 alteram a pritica da Educagio Fisica ea postura do professor. Esse movimento conhece >. © © auge no inicio da década de 1960 e passa a ser reprimido a partir da instalago da B Gitadura militar no nosso Pais. vis aa 1.1.2 Esportivista we mo vimos, as aulas de Educasao Fisica eram associa & gindstica eamétodos 3 § © Fh efalisténicos na época da 1.* Guerra Mundial, principalmente devido a interesses gee yo" tare. Ese tipo de aula permaneceu comum nas exclas pblicsreforado pela prope; G' “yf ganda internacional da 2.* Guerra Mundial, até a década de 1960, quando os generais_ 5 1° assumiram o Poder Executivo do Pais, em 1964. Os anos seguintes apresentaram uma pee expansio abrupta do sistema educacional, desde que 0 governo plancjou usar asescolas_ > piblicas e particulares como fonte de propaganda do regime militar. ou & O sucesso da Selecdo Brasileira de Futebol em duas Copas do Mundo (1958 e 1962) levou a associagao da Educagio Fisica escolar com o Esporte, especialmente o futebol. O terceiro titulo na Copa de 1970 foi o auge da politica de “pio e circo”, contribuindo para manter o predominio dos contetidos esportivos nas aulas de Educagao Fisica. Essa politica consistia em prover as necessidades bisicas da populacio, assim como meios para seu entretenimento, Betti (1991) ressalta que, entre 1969 ¢ 1979, o Brasil observou a ascensio do et te razio de Estado ¢ a inclusio do binémio Educagio Fisica/Esporte na planificagao ya wes PO) # Digitalizada com CamScanner aT eae gc nn 0 Conterto da Educapio Fea na Escola ta do governo, muito embora o esporte de alto nivel estivesse presente no terior da sociedade desde os anos 20 € 30. inve Os governos militares que assumiram 0 poder erm mars de 1964 emt esti pesado no esporte, na tentativa de fazer da Educagao Fisica um sustenticul ideolgic, “ig Pais através do éxito em competi. nna medida em que ela participaria na promogie ipsa Bes de alto nivel. Nesse periodo, a idéia central girava em tO°90 do Brasil-Poténci, no qual era fundamental eliminar as critica internas © deixar transparecer um clima de prosperidade e desenvolvimento. prosperidade e desenvolvimento. sei dona ais 0B ju 1\ M2) Bessa fase da histdria que o rendimento, 2 52 esr (EY | tificando os meios estio mais presentes no contex!o da Educagio Fisica na escola. Os Ns procedimentos empregados so extremamente diretivos, 0 papel do professor & bastante ccentralizador ¢ a pratica, uma repeti¢ao mecinica dos movimentos esportivos © modelo esportivista, também chamado de mecanicista, tradicional e tecnicista, principalmente a partir da década de 1980, & muito criticado pelos meios académicos, ena sociedade ¢ na escola. embora‘éssa'concepsio ainda esteja bastante present 1.1.3 Recreacionista ‘Também & verdade que, em alguns casos, a critica excessiva ao esporte de rendi- mento voltou-se para 0 outro extremo, ou sea, asistimos a0 desenvolvimento de um modelo no qual os alunos é que decidem o que vio fazer na aula, escolhendo o jogo ¢ a forma como querem pratici-o, ¢ 0 papel do professor se restringe a oferecer uma bola e marcar o tempo, Praticamente, 0 professor nao intervém. [ Epreciso deixar claro que esse modelo nao: foi defendido por professores, estudiosos | ou académicos.Infeizment, cle bastante represntatvo no contexto escolar, ¢ pro- |_vavelmente tenha masido de interpretasdes inadequadas e das condigdes de formagéo | ¢ trabalho do professor. ‘A pritica de “dar a bola”é bastante condenivel, pois se desconsidera a importineis dos procedimentos pedagigicos dos professores. Num paralelo, poderiamos questionar se 08 alunos sio capazes de aprender o conhecimento histérico, geogréfico ou mate- tico sem a intervengio ativa dos professores. Esse modelo, algumas vezes chamado de recreacionista (KUNZ, 1994), embora este nao seja um nome muito adequado, aconteceu por duas razdes principais: primelramente, porque cl émico passou muitos anos discutindoo que nao fazer nas aulas de Fducagio Fisica, e oases oapoee gine is € exequivels PaFa = pFitica; o outro fator diz respeito & falta de politicas piblicas que facilitem de fato o trabalho do professor, como condicdes de trabalho, espas® material adequado, politicas salarias e, principalmente, apoio is ages de formasi0 continuada. & Digitalizada com CamScanner 0 Conterto da Educagio Fica na Escola 5 1.2 Quando e por que as coisas comegaram a mudar? Quanto & Educagio Fisica na escola, desde meados da década de 1980 tem havido mudangas nas suas concepgées, em um processo que envolve diversas transformagies, tanto nas pesquisas académicas nesse segmento, quanto na pritica pedagogica dos pro- fessores do componente curricular (DARIDO, 2003). Naquela época, nosso pais estava passando por um periodo de redemocratizagio politica denominado “Abertura”, com 6s seguintes aspectos influenciando a Educagio Fisica: + movimentos instituidos de organizagZo civil, que solicitavam a participagio direta da populacao nas eleiges do Poder Executivo, principalmente para a Presidéncia, da Replica. Esses movimentos contavam com um contingente de professores e académicos da area de Educagio Fisica; + liberdade efetiva na comunidade académica para pesquisar todas as éreas de co- nhecimento cientifico e filosdfico, mesmo aquelas relacionadas as tendéncias que eram opostas ao regime de governo; + encontros ¢ debates entre profissionais ¢ académicos. Esses eventos eram promo- vidos pelas instituigSes criadas para representar os interesses da Educagio Fisica, baseadas, cada uma, em concepgies diferentes da érea. ‘Todas essas mudangas contribuem para que seja rompida, ao menos no nivel do discurso, a valorizacio excessiva do desempenho como objetivo tinico na escola. 1.3 Algumas abordagens pedagégicas da Educagio Fisica escolar Durante a década de 1980, a resisténcia a concepeao biolégica da Educagao Fisica, particularmente no Ensino Fundamental, levou a critica em relagdo ao predominio dos conteiidos esportivos. Essa resisténcia foi influenciada por pesquisas no campo peda- gogico ena area cientifica da Educagio Fisica, concebida como “Disciplina Académica” (Henry apud BROOKS, 1981; TANI et al., 1988), bem como por todas as informagies disponiveis para os alunos de pés-graduagao desde que 0 Governo Militar “abriu” os limites da politica, cessando as atividades de censura. Posteriormente, naquela mesma década, a democracia iria prevalecer de maneira consistente e eleigGes presidenciais aconteceriam em 1989. Assim, em oposisao & vertente mais tecnicista, esportivista e biologista, surgem novos, movimentos na Educagio Fisica escolar a partir, especialmente, do final da década de 2 70, inspirados no novo momento histérico social por que passaram 0 Pais, a Educagio g %, © a Educagio Fisica. ‘Atualmente, coexistem na érea da Educagio Fisica virias concepgées, todas elas, tendo em comum a tentativa de romper com 0 modelo mecanicista, esportivista | mescgnices petites Digitalizada com CamScanner © 0 Contero da Educosdo Fisica na Exale Fenomenoldgica, Psicomotricidade, baseada nos Jogos sta-construtivista, Critico-su- ada, baseada nos Pardmetros tradicional, Sio elas, Humanista, : Cooperatives, Cultural, Desenvolvimentista, Interacioni peradora, Sistémica, Critico-emancipatéria, Saiide Renovs Curriculares Nacionais (PCNs/Brasil, 1998), além de outras. ; Jbordagens, inclusive os Parémetros Pretendemos apresentar e analisar diversas a Curriculares Nacionais, que sio mais recentes e baseados em algumas das propostas anteriores. A andlise dessas abordagens fundamenta-se légica, salientando as mais relevantes no periodo em que foram propostas, a0 final da década de 1980, em funcio dos debates percebidos em eventos cientificos, seus registros fem anais, e a anilise de periddicos especificos e concursos piblicos na érea. ‘Também foram utilizados os dados de uma pesquisa (DARIDO, 2000) realizada sobre as provas dos trés Ultimos concursos publicos para ingresso dos professores de Educagio Fisica na rede estadual de Sio Paulo. A intengio dessa pesquisa foi buscar pistas que permitissem compreender melhor quais as exigéncias solicitadas em relacio : a0 trabalho docente e quais as abordagens requisitadas nas questdes propostas pelos concursos de 1986, 1993 ¢ 1998, tempos de intensas mudangas na area. Os resultados da pesquisa indicaram que, no concurso de 1986, do total de questées da drea pedagégica, 22% tinham como referencial a abordagem baseada nos objetivos de ensino, 22% foram questées de fundamentacio desenvolvimentista e 4% referentes a tendéncia critica, Jem 1993, houve uma mudanga de foco tanto no que diz respeito as abordagens requisitadas, como no peso atribuido a cada uma delas. Assim, foram 18,7% de questdes de cunho critico, 21,4% desenvolvimentista e 4,2% construtivista. Em 1998, houve uma ampliagao do numero de abordagens solicitadas, passando de trés para seis. Foram elas: 14% de criticas, 8% desenvolvimentista, 10% construtivista, 6% sobre a psicomotricidade, 10% baseadas nos jogos cooperativos, 6% nos Parimetros Curriculares Nacionais. Atualmente, é possivel identificar outras formas de organizacio do pensamento pedagégico da Educagao Fisica, com niimero razodvel de interlocutores ¢ publicacées. ‘Analisar as principais caracteristicas das tendéncias que permeiam o contexto nacional no que diz respeito & tematica da Educacio Fisica escolar & fundamental, uma vez que a discussio dessas questdes com os professores & muito importante para que se expli:

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