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Proclamagao do Governo Provisério aos patriotas pernambucanos (1817) Apesar de se pautar em principios de igualdade e liberdade, os revolucion’- ris nao confrontaram os Proprietérios de escravos. “Patriotas pernambuca- nos! A suspeita tem-se in- sinuado nos proprietarios rurais: eles creem que a benéfica tendéncia da presente liberal revoluc30 tem por fim a emancipa- ‘¢30 indistinta dos homens de cor, e dos escravos. |... Patriotas, vossas proprie- dades [...] serdo sagradas © governo pord meios de diminuir o mal, nio 0 fard cessar pela forca.” BONAMNDES, Paulo; AMARAL, Roberto. Tertos politicos do ‘istéra do Basi 3, ed rasa, ‘Senodo Federal. Consetho Editorial, 2002: p. 681 v.10 Alegoria & Revolusdo de 1817, detathe de vitral do Palacio do Campo das Princesas, em Recife (PB). Foto de 2011. & esquerda dda imagem ¢ representada uma mulher usando o barrete frigio, uma referéncia 3 Revolugao Francesa A proclamacao da independéncia e 0 Primeiro Reinado G A Revolucao de 1817 em Pernambuco A capitania de Pernambuco nao se beneficiou com a Presenca da corte Portuguesa na América. Ela, bem como todas as outras do Norte e Nordeste do Brasil, nao participava diretamente do comércio com o Rio de Janeiro, a0 contrario de regides como Sao Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Pernambuco vinculava-se diretamente a Portugal, ja que nao havia ligagdes terrestres, fluviais ou maritimas que possibilitassem um contato continuo com 0 Rio de Janeiro. ‘Além de pagar ao Rio de Janeiro altos impostos, cujo retorno nao era reconhecido por ninguém na capitania, e de ceder habitantes para in- desejados recrutamentos militares, Pernambuco atravessava um periodo economicamente muito dificil, com sucessivas secas e crises de producao agricola e de abastecimento. Em marco de 1817, liderangas locais derrubaram 0 governo de Pernam- buco e instauraram uma repdblica, administrada por uma junta. Grandes, médios e pequenos proprietérios, homens livres e escravos, comerciantes, Profissionais liberais, militares, juizes e artesaos participaram do movimen- to. Os integrantes desse movimento recorriam ao ideario da Revolucao Francesa, defendendo conceitos como o de liberdade, o de igualdade e 0 de patria. Porém, eles nao chegaram a elaborar um programa de governo consistente com base nessas ideias. De modo geral, eles propuseram a ruptura com a monarquia portuguesa € o.governo do Rio de Janeiro, e contaram com a adesao das capitanias da Paraiba, do Rio Grande do Norte, do Ceard, de. ‘Alagoas e da Bahia ao movimen- to, Nao queriam a independéncia de todo 0 Brasil, mas apenas de parte dele, embora criticassem a “tirania” do governo portugués sobre todo o territério. Chegaram, até, a enviar representantes a Europa e aos Estados Unidos para ‘obter 0 reconhecimento internacional da independéncia de Pernambuco. Em resposta a Revolugao de 1817, 0 governo joanino reprimiu forte- mente os considerados rebeldes e traidores. Muitos foram presos e conde- nados 4 morte e, como 0 que ocorrera anos antes com Tiradentes e com os conjurados baianos, foram executados em praca publica para desencorajar outras pessoas a rebelar-se. - RTS ar : ‘Sessdo das Cortes de Lisboa (1922), detalhe de pintura de (Oscar Pereira da Silva. Museu Paulista/USP S30 Paulo (SP) Partida da rainha para Portugal (século XIX), gravura de Jean- Baptiste Debret e Thiery Freres. Fundaco Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro (R). A imagem representa ‘© embarque da familia real no porto ‘do Ric de Janeiro para Lisboa. i G A Revolucao do Porto Pouco depois da revolucao em Pernambuco, um movimento de contesta- ‘s40 teve inicio em Portugal. Em agosto de 1820, um grupo de comerciantes, advogados, médicos e profissionais liberais proclamou, na cidade do Porto, a formagao de uma Assembleia Nacional Constituinte, que deveria reunir deputados de todas as partes do Reino Unido a Portugal e Algarves para elaborar uma Constituicao, que valeria para os portugueses de todas as partes do mundo, incluindo, portanto, o Brasil. ‘Mesmo sendo conservadora em sua esséncia, jé que seus participantes exigiam a volta do rei e de sua corte para Portugal e o retorno do Brasil & condi¢do de colénia, a Revolucao do Porto inovou por dois motivos: porque Pretendia itar a autoridade do monarca, submetendo-o a uma Consti- tuigao escrita e elaborada por uma assembleia de pessoas escolhidas pela populacao, e porque as mudancas defendidas resultariam na transferéncia da soberania (isto €, do poder maximo de decisao e arbitrio sobre a cole- tividade) para a assembleia (chamada de Cortes). G A volta de Dom Joao a Portugal Logo que se reuniram, as Cortes portuguesas exigiram o retorno de Dom Joao e de toda a sua familia a Portugal. Em abril de 1821, 0 rei cedeu as pressdes dos deputados e partiu para a Europa, mas deixou no Brasil seu filho, Dom Pedro de Alcantara, como regente. ‘As Cortes de Lisboa ditaram uma série de medidas que desagradaram aos, grandes comerciantes portugueses que viviam no Brasil e tinham comegado a lucrar com a presenca da corte. Eles comecaram, assim, a depositar no jovem Dom Pedro suas esperancas de manter a posicao de destaque do Brasil no Reino Unido e continuar lucrando. A partir dai comecou a se definir um projeto de independéncia para o Brasil. A separacao até entao era combatida nas Cortes de Lisboa por de- putados portugueses tanto da Europa quanto do Brasil. Os interesses dos deputados brasileiros, entretanto, tornavam-se cada vez mais incompativeis com os de seus colegas europeus. Durante todo o ano de 1822, a ideia de que 0 Brasil poderia e deveria seguir um curso proprio, fora do Reino Unido de Portugal e Algarves, ganhou forca. Te ee G A independéncia do Brasil As Cortes passaram a exigir 0 retorno de Dom Pedro a Portugal. No entanto, em 9 de janeiro, o prin- cipe regente declarou sua decisdo de permanecer no Brasil, epis6dio que ficou conhecido como “Fico”. Poucos dias depois, organizou um governo proprio e nomeou ministros, entre os quais se destacou José Bonifacio de Andrada e Silva. Em fevereiro, Dom Pedro convocou um consetho de representantes de todas as provincias do Brasil para auxilid-lo em suas decisdes. Em maio, ordenou que os decretos das Cor- tes 56 poderiam ser executados com sua aprovacao e, emjunho, convocou uma Assembleia Constituinte. Muita gente ainda cogitava a possibilidade de Portugal e Brasil continuarem unidos, e até mesmo de 0 Reino Unido ter duas sedes simultdneas, no Brasil e em Portugal. Na pratica, porém, os aconte- cimentos mostravam o contrario. Em 7 de setembro de 1822, em passagem por Sao Paulo, Dom Pedro A independéncia do Brasil e a.aclamagao de Dom Pedro 1 “CIDADAOS! O Deus da natureza fez a Amé- rica para ser independente e livre; o Deus da natureza conservou no Brasil o principe regente para ser aquele que firmasse a independéncia deste vasto continente. Que tardai 6 esta. Portugal nos insulta, a Anv vida, a Europa nos contempla, o pi defende. : ‘0 imperador constitucional do Brasil, o senhor Dom Pedro 1.” Comrio do Rio de Janeiro, n. 3, extraordinixi, 21 set. 1822. Questio CIS Explique o significado da declaracdo “Portugal nos insulta, a América nos convida, a Europa nos contem- pla, o principe nos defende” no contexto historico do declarou a independéncia e, em 12 de outubro, foi aclamado “imperador do Brasil” [doc. 2]. GA formacao do Estado Nacional brasileiro A independéncia nao foi imediatamente aceita por todos os grupos politicos organizados no Brasil. Em muitas provincias a tendéncia majori- taria foi de recusar 0 governo de Dom Pedro e permanecer fiel 3s Cortes de Lisboa. Nas provincias do Maranhao, do Pard, da Cisplatina e da Bahia, Por exemplo, houve guerras em que os partidarios das Cortes se opuseram 0s defensores de Dom Pedro. 0 imperador teve de contratar exércitos de mercenarios estrangeiros para forcar a adesio das provincias do Maranhao € do Para ao império que se formava. Entre 1822 e 1823, a incerteza rondava o futuro do Império do Brasil, e nao havia clareza sobre os contornos territoriais que ele finalmente teria. Assim, se nao fossem essas violentas lutas e se os partidarios das Cortes tivessem conseguido vencer, talvez o territério bra: iro de hoje ndo con- tasse com alguns de seus atuais estados. AXTONO MAARERAS PALACIO RO MANCO, SAWALOR processo de independéncia do Brasil Ao afrmar que “Portugal nos insu” © documento faz auisso as exigencias das Cortes portuguesas em elap&o ‘20 Brac, como sou ratomo & ‘condipdo de coldnia: "a América nos ‘convida” referee &s coldnias que Jf haviam $0 tomado independents fo continente amerieane. coma a8 os Estados Unidos, da Venezia, {a Argentina @ do Paragua Europa nos contempia fz reteréncia ‘0s paises europeus,sobretudo a inglatera, que tnham intoresses ‘sconémicos no Bras som a Interteréncia da Coroa portuguesa: 0 principe nos detende" refere-se & ppostura de Dom Pedi I alinhada aos Interesses da eite brasiera, O primeiro passo para a independéncia da Bahia (1931), pintura de Anténio Parreiras. Palacio Rio Branco, Salvader (BA). ‘As mulheres na luta pela independéncia As principais batalhas pela independéncia do Brasil ocorreram ra Bahia, onde havia grande concentracéo de tropas portuguesas. O Exército que defendia o Brasil era formado, sobretudo, por mer- ccenarios, e 0 sentimento de nacionalidade ainda estava por se for- mar. A auséncia de uma estrutura militar rigida abriu espaco para 2 participagao feminina nas batalhas. Até o momento, sabe-se de trés mulheres que se destacaram. ‘Maria Quitéria de Jesus Medeiros fugiu da casa dos pais para inte- grar as tropas brasileiras. Para ser aceita, vestiu-se como homem, omitindo seu género. Quando foi descoberta, j6 havia conquistado a admiracao de seus superiores e colegas: por isso, foi aceita ea sua vestimenta militar foi acrescentado um saiote. Posteriormente, ela foi homenageada por Dom Pedro | com a condecoracéo de Cavaleiro a Ordem Imperial do Cruzeiro, sendo a primeira mulher a se tomar oficial militar no Brasil. Maria Felipa de Oliveira foi uma escrava liberta que teve papel importante, em termos estratégicos, para a efetivacao da indepen- déncia baiana. Segundo alguns historiadores, ela liderava mais de 40 mulheres que monitoravam as tropas portuguesas. A terceira mulher é Joanna Angélica de Jesus, conhecida como mértir da inde- pendéncia na Bahia por defender até a morte o Convento da Lapa, do qual era diretora, durante as investidas das tropas portuguesas contra prédios brasileiros. ‘Maria Quitéria(c. 1920), pintura de Domenico Failut ‘Museu Paulista/USR Sao Paulo (SP). Accriagao de simbolos nacionais Aseparagao definitiva entre Portugal e Brasil possi magio de um Estado, de uma nagaoe de uma identidade nacional brasileira, que até entao nao existiam. Foi necessario criar nao s6 um governo préprio, mas também um aparato administrativo, sistemas tributario e eleitoral, um Exército, cédigos legais, um Senado e uma Camara dos Deputados, um sistema escolar, entre outros, pois o Brasil, na nova condigao de soberano, nao podia mais compartilhar sua administraco com Portugal. Também foi necessério criar simbolos nacionais para que as pessoas, que até entao se consideravam portuguesas, passassem a se enxergar como brasileiras. Muitos dos simbolos nacionais que existem hoje foram criados décadas depois da independéncia, 0 que demonstra certa continuidade identitaria entre o Brasil imperial 0 republicano. itoua for- O Hino Nacional brasileiro, por exemplo, foi composto entre 1822 e 1840 pelo maestro Francisco Manuel da Silva, mas a sua letra definitiva s6 foi elaborada por Joaquim Os6rio Duque Estrada em 1909. Ja a bandeira do pais foi criada em 1822 e sofreu refor- mulagées até adquirir as caracteristicas que tem hoje. ‘As bandeiras do Brasil desde a independéncia. No alto, a bandeira imperial do Brasil, produzida em 1822, ap6s a independéncia; no Centro, a primeira bandeira da republic inspirada na bandeira Rorte-americana, que vigorou por apenas quatro dias; e, abaixo, a bandeira nacional projetada por Raimundo Teixeira Mendes e Miguel Lemos, adotada desde 19 de novembro de 1889, iii

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