You are on page 1of 15
Ao Capitulo Assuncdo de Maria ao céu em corpo e alma 1. CONTEXTO SOCIAL DO DOGMA Seria trabalhoso pesquisar os diferentes contextos politicos que, vez por vez, cercaram a longa histéria do dogma da Assuncao. Algo do con- tetido politico do dogma pode ser percebido ja no fato de que foi um Imperador, Mauricio (1602), que, por meio de um édito, estabeleceu para todo 0 Império no Oriente a festa da “Dormigdo” como a “grande festa de Maria’. Essa ja era celebrada em 15 de agosto desde o século V, em Jeru- salém, sendo fixada no Ocidente, no século VI, pelo Papa Sérgio (#701), ‘com o nome de “Assun¢ao”.! ‘Atenhamo-nos aqui apenas ao contexto social e cultural que precedeu a definicdo de 1950. Segundo o grande historiador do dogma da Assungao, Martin Jugie, em seu estudo feito durante a I Guerra Mundial, o contexto 1.t. Corado Magpioni. Mariana Igrja em orapso. S8o Paulo, Pauls, 1998, pp. 4647. Marclogia soi logia soci 0 signitcada da Virgem para a Sociedade SIH cultural imediato desse dogma, que pe Tialismo” difuso da eae Pe men ‘sua eclosio historica, é 0 “mate. dizer que esse dogma foi proclamado mais na intengao do mundo do que de tho terrenista, desta defen voli para um messanismag da gre. Esa no deve apenas guardar o depésito, mas fazer wales todes "ado “aquém" sobre o alm do Reino do hones ohn ee fe suas virtualidades, entre as quais esto aquelas que afirmam o valor da Nese iy agate ae oe obo Reno de Deus +r da enquanto mais forte que a morte, e o valor do corpo, ele também pos- da Ire para se pojtar sobre as socledades moda Eee is fauidor de um destino eterno. Como veremos adiante foi esse substancial- dlrigida nto s6 a Igeja, mas também ao marche ae ee ama Mensagem smenteo sentido, para os nossos tempos, que Pio XIl, na bula de definicto, que 0s dois tkimos dogmas mariage? de hoje. Sabemos, de resto, expressou no dogma em questo. , mais antigos. Tem, antes, ee eel relagio com Cristo que og Esse dogma serviu também para escrever um novo capftulo, embora . oma realidade humana? Fam com tintas menos fortes, da chamada *politizagdo da devo¢ao mariana”, {que jé havia envolvido o dogma anterior, o da Imaculada. A Assunao,ele- Fvamente, foi declarada no duplo contexto: 0 da ascensio da ideologia democratico-liberal e o da “guerra fria” - contexto no qual o comunismo gpatecia, para as maiorias eatéicas, como o grande inimigo da Igrea. Com a jeclaragao do dogma, voltava-se a usar a eficaz arma mariana, agora na futa contra a ideologia comunista, inimiga declarada de Deus, mas sem et esquecer aluta conta o secularism do mundo liberal, que, esquecido do uma manifstago expressive esee Ee pena kia Guerra tera sid divino, se organizava etsi Deus non daretur. Ora, o Mistério da Assincdo component ‘A Santisima Virgem surgia como a mediacio devocional, necesséria espiritualidade e da imortalidade d para as massas, em pol da realizacio da “ordem cist. Pois 60 “devoto de outro, da ressurreicao geral dos co Maria” podera ser um instrumento eficaz e a0 mesmo tempo d6cil, sob a mo, esse dogma setia a afirmagdo diego da hierarqui, para instaurar o Reino de Cristo, para o qual o Reino reforco da esperanga crista que a de Maria seria a mais excelente mediagao. Caso ilustrativo dessa “teologia tmariano-politica” sto as “Nossas Senhoras peregrinas” que a igreja italiana promoveu nas primeiras leis da nova Republica democritica, objtivan- fo favorecer o consenso das massas religiosas em tomo do partido catslico* “fa, antes, a Tgreja havia reconhecido a autenticidade das aparicoes de Fatima, que profetizavam a derrota final do comunismo. Em plena Il Guer~ ta Mundial, no dia 31 de outubro de 1942, Pio XII consagrava o mundo a0 Coragao Imaculado de Maria. A intencdo imediata era a paz, mas objetiva- va-se, mais amplamente, o “triunfo do Reino de Deus”. Dez anos depois, era a Russia que fazia objeto de uma particular consagracdo a Nossa Senhora Mota to Asset Seguiram-se outras consagragées, por obra dos pontificesulteriores, veicu- Sconces seme ancra teeta sorcerer mest A oes poten como vemos mas ae? tanto, @ patrona da “boa morte” a ae a vité- Porta a afirmagao, por um lado, da la alma (vitria sobre a materia) e, pos (vtéra sobre a morte). Em seas da redencao total do ser humano, © Igreja ganha com essa verdade relli imapem da crante por exceinc, clini, da ee espero 58 Spo “Mots om su nso" paso esto Gs 2 more ¢ demic son shante “ra hora de. erty 1589 morte"; © Modadara celeste que terete om nosso aveoe ee lv tresonon, parca no eee OP S740: parte fal do) oe areca cae pe a ie orl sss eens sa 1. ct aiele Menoz “Le Chess Catan G, Floramo e , Manax fed). Stor de Cristinesino. Ct. Georg Sa. Sto dei dog Maran Re jb com nosso propésito espe. ‘eid contemparanea, Ber, Late, 1997, pp. 213216, aqui p. 214 ~intrpetart, na verdade, um 2 Roma, LAS, 1981, pp. 374.378 pene Aes contextohistvcocultua leno tera Cl, Pate Vi cap. 3. Demos a sta dessas consopranbes na Pat I, Excurso 2 ‘Ue propciou as cus times declragtes Asungo de Maria 20 ctu em coro elma ay Mariotogia soca: 0 significado da Vigem pata a Sociedade aid 1.1. Contetido essencial do dogma e o que ele evoca Recordando agora o conteuido teol6gi tar: o que nos quer dizer Deus com a A: no céu?6 A resposta é, fundamentalment de Jesus (F1 3,10) esta em agao no mus Ora, a Assunta € 0 fruto mais excelente ico do dogma, é preciso pergun- ssun¢ao de Maria em corpo e alma te, que a “poténcia da ressurreigao” indo e ja dando os primeiros frutos, da vitéria pascal de Cristo. A Ressur. i ue se enlaca a “a ef > ‘ancora lancad: see weu" (Hb 6.19), que € pessoalmente ‘Cristo Jesus, nose apa tm LD), A Gloriosa €a “primeira pérola do colar celeste” de Deus? Ela € a seguidora imediata de Ba sageratd Jesus na gloria, a “primeira depois do Unico" Bastava, certamente, Tia sobre a morte e o pecad Para que essa reduplicagao sentido? E que o agir de Det tence ao plano dessa gratui representa o amor de Deus, Tgreja o Ressuscitado, para fundar a fé na vité- lo. Nao € Ele o principio de nossa ressurreicdo? de um mistério que ja ¢ pleno em si mesmo de us € sempre graca e generosidade. E Maria per- dade extremamente generosa de Deus. Se Jesus as quer também responder a0 “ busca s6o ponder a0 “conveniente” nel fra conventente que Jesu levasse sua mae? Sim, era mais que fi Bente. E era conveniente que, além do Elevado na Cléria, Deus nos deco ais um sinal da verdade de nosso futuro? Sim, efetivamente ems® Portanto, o que tem em parti . ular em rela a Piseoa de Crise ¢ faces ioe ¢ oa ae Pscoa, Sem divide, € o Ressuscit a Assunta torna-se, dessa promes ue ela reforga e confirma a nossa propria ‘ado o princfpio da nossa ressurteigéo, mas sa, uma garantia suplementar, Assim, Maria, ee '8.Ct. os 12 volumes, mais um de indices, eta hrs. Acta Congressus Mariciogie- Marian Rone Mariara/OFicium Lisi Catholic, 1951-1969, ‘mente & Assungéo, sondo que o Xl se ocuna, pl cadomio Maran mans, Air 3 ano sano MCI Calta ere, Seo ssoecinene os vluras Yt, dedeies oc roma 2 cn Xe on mar eres Mente 1), Sv, 186.5810, ap Tacs nM Tach, St 8 Ct. Gado Bll. “Esto de acoraliade om melo, ical Petropolis, Vozes, 2004, pp. 22-27. faa a neuer ‘Assunglo de Maia ao e6v em corp e ala Hi nna gloria, da mais seguranga & esperanca crista. Com ela o fiel pode gritar com mais forga: “O morte, onde esté a tua vitéria?” (1Co 15,54). Dessa maneira, a rmorte sofreu duas derrotas sucessivas: a Ressurreiglo de Cristo e, depois e em virtude desta, a Assunglo de Maria. Como a Maternidade de Maria garante a Encarnagio de Jesus na historia, assim também a Assungao da Virgem garan- tea ressurreigdo da came de Jesus e a redencio de nosso corpo. Ffetivamente, por se tratar de um corpo feminino, a Assuncio fala de ‘um modo mais realista, concreto ¢ intenso, do sentido ultimo de nossa cor- poralidade. Poderfamos dizer que, por ser mulher, Maria € mais corpo que Cristo. Por isso, mais que acrescentar doutrinalmente algo sobre o que sig nifica a ressurreigao do corpo, Maria, na gloria, nos faz sentir também de ‘modo emocional o que representa esta verdade para nossa experiéncia de fe 'Na representagio do povo cristo, Maria, exaltada na gléria, é um icone fortemente invocativo: emerge como uma pessoa viva e uma forca benfazeja, que suscita imediatamente na alma do fiel a contemplagéo e a intercessio. A ‘Mate de Deus em gloria tem o rosto de quem efetivamente suplica a Deus pelo povo em suas “necessidades” e “perigos”, como diz a antifona Sub tuum prae~ sidium. A esse nivel, a Senhora gloriosa entra e age pessoalmente na historia. fato de tepresenté-la no estado glorioso provoca no fiel uma fascinacao ristica que tudo transfigura. A vontade de imitagdo s6 vem em seguida. Precisa-se também dizer que foi a devocao popular, animada pelo sen- sus fidei e pelo consensus fidelium, que contribuiu de modo decisive para 0 triunfo dogmatico dessa verdade e para a sua propria fundamentacio teol6- ica? Como tinha feito Pio IX para o dogma da Imaculada Conceigao, tam- bem Pio XII, em 1? de maio de 1946, mandou carta aos bispos do mundo ‘nteiro para ouvir sua opinido, a ser expressa cum cleroet populo, sobre a con- veniencia da definiyav infalivel da Assungao corporal de Maria ao céu.'9 Esse 9. Matin gio va os seguintes dads: de 1869 81940, apesar da protic do Santo Oo de 1660, ‘exam enviadas @ Roma 2.018 peigdes em favor da diigo sole da AssungSo, com ss essnaturas 6 5.182.777 do His, De 1921 2 1940 as assineturas so algram a 6.471.000, provndas em grende parte da Espanha edd, sende signifcatvamente poucas as da Aemanha: apenss 78.107: La mort ft Assomption da Sento Vira, op. ct, p. 488. Os dossiers desses pecs foram publcades por W. Hentrich e RG. de Moos. Petiiones do Assumptone corporea BV Merge... Vaticano, Libreria Ed Vticona, 1942, 410.Ci. AAS 42,1950, pp. 782. 55. Pat a fundamentaca tocégica decisha (com base na Taigao, exoresca no sensus idl au consensus fidelium) dos dos dios dogmas, c.G. Sil. Store dei doar Imarian op Gt. 811 © 12, pp. S188, Esse autor mosia que os dois dogmas usam uma arumen- taco que rofoge, que e0 duplo pestis, 0 exeastco‘tral eo histéicepstisieo, quero ume {eclogia do tipo ergumentaiv-sogistio. Exces dogmss recordam que s6 a {6 permite captar um evento de 16, @ndo a mara Pistia ou a simples azo. Matiologia soca: 0 significa da Virgo para a Sociededo a acordo espiitual da base eclesial est reg esté registrado na inscrig&o na Pe are imterna & dire, do poco central da Basa de Sto Pete ge 8 quanto dogmaticos: : Aauilo ve, gm insistent eos, o mundo catia esprava, owe o do Novembro do Ang Santo de 1960, ante da quando Pio XI, diante da muito acla- imam que ech a raga de Sao Po, decaru, com ru inflvel,que /irgem Maria Mae de Deus foi elevada ao céu em corpo e alma." Como foi para o dogma da Imacul politico da devocao mariana se concer {oi vazada nestes termos, téo poéticos lada, aqui também o carster socio: ntra mais no devocional e menos no ria ea politica € do tipo sobrenatural: ue s20, segundo 0 modelo de neocrista eclesidstica e 0 “partido catdlico”, Perguntemos ag i eee qual € 0 significado da Assuncéo no plano da vida aad que € 0 que nos interessa aqui. Nessa linha, vemos sentidos sociais que se depreendem do dogma em foco: * O imenso valor da vida humana, dest tinada a r assunta, da Vida eterna de Deus, yamepes coo Mag * A dignidade do corpo humano e aind: ene la do “corpo” das realizacoes his- + A grandeza que ganham os a hems fo cunda bo ena 0s pores ¢ as mulheres us dAqula que recisamente pobre e mulher. * E, por fim, a forga particular fi que tem para as lutas 5: ‘¢a crista enquanto confirma = ida pela Assuncdo da Virgem. 1. cued dans ates et sue nee cus orbis expectabst votis calendae noverbris ann 7 2 atino foo ovatum mutt rete. Ps A. cera iron hn ‘essumptam fall nescio pronuntisbat araculo, ee % 12.61, por exemple, Guteppe Generals (S01, “Maro mon del eo” riologici Mariani Rc MM ta soo sncto MEM ecient. 105205 “ree mc co socia Christi Acta Congreseus Mar AMI 1.12, 1983, po. 190-205, esp in: AMI fed sleds. Roma, trbalho", Assungla de Maia ao eu em corpo e ala 2. LiNHAS DE APLICACAO. 2.1. Nossa Senhora da Gloria: o imenso valor da vida humana significado social da Assungdo para o valor da vida humana nao escapou a Pio XII, o Papa que definiu o dogma através da bula Munificen- tissimus Deus de 12 de novembro de 1950.13 O Pontifice romano vé 0 essencial do significado prético da Assuncao na valorizacao da vida. Para cle, este mistério mariano revela a grandeza da vida humana enquanto des- tinada a se perpetuar na gloria De fato, o contexto social em que se dew a solene declaracao foi 0 con- texto p6s-bélico, O periodo de 31 anos de conflito global, que incluiu as duas horrorosas guerras mundiais (1914-1945) e que foi provavelmente o rais sangrento de toda a hist6ria humana, tinha terminado havia apenas cinco anos. O Papa aproveita entao para tirar uma ligao salutar em rela- fo a valorizacao da vida humana: Esta proclamagdoe dafinigdo da Assungdo soré de grande proveito para a hhumanidade inter... Ede se esperar que aqueles que meditam nos glo- rinsos exemplos de Maria se persuadem cada vex mais do valor da vida humana..." (© que o Papa quer dizer com isso € que a vida humana vale a pena € ela continua apés a morte, embora em outro patamar ontol6gico: o status sloriae. © pontifice esclarece que a vida humana s6 vale realmente a pena na medida em que € vivida no plano ético, especialmente no ambito do amor.'® E tem toda a raz, pois s6 0 amor da consisténcia e dignidade a vida. E, se toda e qualquer vida humana tem um valor em si mesma, ¢ pelo potencial de sentido e de amor que traz sempre consigo. Se a Imaculada representa, sempre em Cristo, a vitéria sobre 0 peca- do, a Assuncdo representa a vitoria sobre a morte. E uma coisa esta liga~ da a outta, pois, como diz S40 Paulo, condensando o ensino de toda a 18, AAS 42, 1950, pp. 759-771 1. Cr, Ee Hobsbawm. A era dos exremas. 0 brove século XX (1914-1991), Séo Paulo, Compania as Letras, 1998, p. 20 18. AAS 42,1950, p. 768, 16. tiem. 0 ‘Maritogia soca: O significado es Virgem para a Sociedade iu Escritura, declara no i entre si”.17 Na enciclica Fulgens corona (08/09/1953), escrita para celebr © centenario da definigao do dogma da Imaculada, Pape. de ql Assungao € um corolario da Conceigdo: é para esta "como coroa ¢ wen Plemento™18 0 fato de que em Maria a vida humana integral, inclusing €m seu aspecto corporal, foi efetivamente salva, enquanto assumida ne lori, ¢ sinal da grandeza e da vocagao desta mesma vida humana: ele destinada a se prolongar, transfigurada, para dentro do Mister da Vii, e do Amor que é a prépria Santissima ‘Trindacle es _ Mas a énfase do sentido socioantropologico do dogina recat daivida sobre a vida corporal ou bioldgica, e ndo sobre a vida do espivin, Para esta bastava a idéia de imoralidade, al como foi proposta per Pla #40 no Fédon, whimo dislogo de Socrates, pouco antes de sus morta, Embora a “vida da alma” nao estejaexcluida, como veremos, do sentido do dogma da Assuncao, nao é nele, contudo, que recai o acento, © aces to € sobre o valor desta vida concreta, a luz, porém, da vida futurs: Poy isso, a primeira ligao a tirar da Assungdo ¢ que, ao lado do valor da ‘alg morta”, hi o valor do corpo vivo, que a Assuncdo da Virgem ao céu tenes la ser, ele também, finalmente “imorta”. A Assuncao sublinha com vigor a sentido que ja estava presente na ressureigho de Cristo: a continua e desde pra lem da mont, absorfo desta vida mortal pel va Para sermos mais dialéticos, devertamos dizer: a Assungao revela tanto 0 valor da vida humana quanto da “integralidade” da vida humana lanto em seu aspecto espiritual como material. Aquele dogma aponta para a “reintegracao” da unidade da alma e do corpo, que a morte havia deine tegrado. Ele proclama a recomposi¢ao da matéria e do espitito, Talvez $# possa dizer que Maria deixa ver claramente que a ressurteigao representa A sintese da imonalidade do espirito e da ressurreigao do corpo. Na 17, AAS 42,1960, p. 758. 18. AAS 45, 1953, po, 577-692, cau p. 883, 19. Ay se pressite mantel no iol 3a oar usin eno conus), ue tampa 6 ik ude 0 harrearante do: don “ponchos” ino pare So werner ane -Axcungdo de Maria 20 cu em corpo e alma ‘Assuncdo pode-se ler a verso teol6gica da lei de Lavoisier: em Deus nada se perde, tudo se conserva, transformado. ‘A Assungao aparece assim como o triunfo do “holismo”. De resto, para C.G. Jung, essa verdade representa a expresso suprema do hieros gamos, a saber, a reconeiliagao intima de todos os contrarios. Seria a imagem da totalidade, 0 “mistério da integracto”: do corpo e da alma, da materia e do espitito, da terra e do céu. Ea apoteose da coincidentia oppositorum, a rea- lizagao da uniao alquimica do Rex e da Regina,2® a sinfonia do mundo ¢ 0 pléroma do cosmos. ‘Tudo isso representa Maria, elevada na gloria, mas sempre € somente ‘com Cristo e depois d'Ele, a partir d'Ele e em funcdo d'Ele. O sentido da ‘Assungao nao esti ao lado do sentido da Ressurrei¢do, mas passa por den- tro dele, Sem embargo, se o Ressuscitado é ~e sé ele ~ a luz da gléria, Vir- gem assunta € 0 prisma que coa e irradia essa luz. Por isso mesmo, a Virgem ‘Assunta é um {cone sem par do “otimismo escatolégico” do cristéo, ou seja, da esperanga cristf na vit6ria final da harmonia e da paz. ‘A esta altura, a imagem ontolégica da Assunta, objeto de contempla- ‘lo extatica, se transforma em exemplar ético, vale dizer, em objeto do agir. Pois, se a Imaculada € paradigma no “gerar vida nova”, a Assunta 0 € no “cuidar da vida". De fato, que diz esse dogma ao cristo, vivendo em sociedade, seja ele simples cidaddo, agente, militante ou politico? Diz que o primeiro dever da cidadania tera o nome de “cuidado”: cuidar da vida presente, sob todas as suas formas; protege-la, defende-la e salvé-la Um politico cristao que se deixe inspirar pelo icone de Maria, plena- mente viva em Deus, ser4 um politico de uma nova espécie: um politico de tipo mais feminino e mesmo materno. O objeto primeiro de sua solici~ tudo rei socialis ~ a preocupacdo pela coisa social — € a “politica da vida”. Sera, pois, um politico “bidfilo”, uma pessoa cheia de misericérdia, imbuida de um “amor entranhado” para com toda a criagio e especial- mente para com a vida do povo. Portanto, “ndo fechara suas entranhas a0, irmao que padece necessidade”, pois seria fechar 0 corago a0 proprio “amor de Deus” (IJo 3,17). Isso implica a oposicdo mais estrénua a todas as formas de destrui- sao da vida, que sao hoje a fome, a guerra, o aborto e a poluigao ambien- tal. Implica, na verdade, a luta sem tréguas em favor da vida, sob todas 20, Carl Gustav Jung. “Rasposta a J", in: Obas completas do C: 6. Jung, Petras, Vowes, VXI, 1979, cap, XX. pp. 109-12. 5b Mariologia soca: 0 significado oo Virgem para a Sociedede 5k as suas manifestacdes. © politico crista Sinus niloay Politico cristao s6 pode ser o “guerreito do 2.2. Maria assumida corporalmente no céu: a dignidade do corpo Em sua bula, diz Pio XII ac zara Vids, ox cond tml a conden ee ode In excelso fim estdo destinados os corpos". Por i a Assuncto representa uma critica vigorosa deriva a corrupedo dos costumes" e “suscita corpos e de vidas huumanas 22 a angamentes a Aszune a vii da intepralkdade do uma, compo poe Bre wa Puebla: “Maria, arrebatada ao céu, € a integridade desu jen o corp humano: cas anon en Pa c 30: este também i st pos quanto ns, ea parece er je de per ur atte cls do tite, gs ens ola atu an” pode lear so deseo do corpo, abindo espago para a escravido dos corpos e sa explora, ssuneao, Deus nao humilha a materia, mas a “assume” na glo Assuncio € assunedo do ser humano vivo e inteiro. Esta é uma lito do due ¢ a natureza humana: de sua consttuigi ede seu destino, em outra Palavas, de sua condico ede sua vocagto, Este mistri marlano nos a gm chlo no campo da antopeoga eri, para a qual o ser hamean ‘fence uideds fo, pega e spt Mas ress nda 9 a alimagto do corp, em todas as suas dimensoeg n° mPa “de modo luminoso a que isso mesmo, para esse Papa, ao “materialismo”, de que as guerras”, destruidoras de 21. @enccies deste nome, d 1995, do Pepa Jogo Paula I 22. AAS 42, 1950, p. 770, 23, Para a douvina cit 23 Pee a cout crt do capo, cf, GS 140 Cate ob ja Case, n 36268, Pra sara Sonne mngmii mates. epecimente ra tz enna. Cetra Naat. “Spat {anime neta cultura contemporanea”, in: Gaspar Cah Moca eraljo @ Siloo Cxecin aa. LAssorean uraon Hs te Bo Sat cn definizione dogmatic. Veticano, Ed. PAMI, 2001. pp. geosoa san 2 9 wel Assungo de Maria ao ctu em corpo e aime 2.2.1. As dimensées da corporalidade Quando falamos em corporalidade, devemos considerat 0 corpo segun- do varias perspectivas. Trata-se, em primeiro lugar, do “corpo metafisico” Ea corporalidade que, como principio antropolégico, entra na constitui- ao ontolégica do ser humano. Pois bem, como Cristo, sua Mae ¢ todos os cantos e santas, nés também, na gloria, continuaremos a ser pessoas “cor- porais", Antes da parusia, embora ainda privados de uma corporalidade nova, permaneceremos ontologicamente corporais, no sentido de manter- mos, nas palavras de Santo Agostinho, naturalis appetitus corpus adminis- trandi (desejo natural de reger um corpo”) 4 Continuaremos, pois, a ter uma corporeitas substantialis, ansiando pela assung4o de uma corporeitas, caccidentalis, agora de natureza pascal.25 ‘Trata-se, depois, do “corpo bioldgico” em toda a sua realidade mate- rial, com sua estrutura celular € com todas as fungdes € dinamismos que constituem sua realidade viva e sensivel. Este corpo, ou melhor, esta cor- poralidade se decompoe na morte e pela morte, mas pode ressuscitar, Com efeito, para Santo Tomés, o desejo da ressurreigao corporal é “natural”, como € natural a unido da alma com o corpo. Contudo, a realizacao deste desejo, isto 6, a propria ressurreigao, nao € natural, mas sobrenatural ou divina 26 Por certo, no Reino dos ressuscitados, o corpo nao tera as mes- mas fung6es que tem agora, Mas, como o corpo da sempre Virgem na glé- ria, ser sempre um corpo verdadeiro e integral, um corpo que ve, ouve € sente, Seremos sempre e para todo o sempre pessoas “em came € 0350". Por outras, no Reino escatol6gico, nosso corpo sera “inteiro” segundo a rerdade da natureza humana”, para falar como Santo Tomas27 O futuro 24, De Gen. ad i, 1 Xl ¢ 35,0. 68, Dante, na Divina Coméela, diz que, owvindo fear do que os san fos “30/80 de nov fitos visiveis” pala conjungo aos seus corpos de aurora 0 amas ber-avertr tadas estremecaram de ume “nova elaga", tanto “quo mostaram cleements o deseo do reaver os tempos mortos”(ahe ben most dso ce corp mort: Paraiso, XV, 17-3, Evidentemente a identidede fom o corpo de cutor s6 pode sar substancil, como se veréna nota seguinte 25.Ci. Tams de Aquino. Sum Contras Gente, LN, 81, sd 2, em que ditingue uma corporsitas {oe & a forma substantais do corpo © £0 confunde com a elma raciona, enquento pede ur corpo ‘hotoia © uma corpoeits que 6 a forma acidenalis do corpo e consi o corpo material ern sus trés dmenabes, enquanto esse coro 6 exsido pela alma racional. Poderiamos desianar esta stingSo com os terms espectivamente “corporeidade”e “corpralidade” 26.Ci, Santo Tomds, op. it LV, ¢ 81, a8 6 27.0 Aawinate concebe de mancira to ralta a integidede do corpo ressuscitado que Ihe atibul Songueebils, caboose unas e mesmo intestines @ genta, mas “seavados" ou "modsdos”, OU Sa, Shsolutamante Wenscendis. © homam tor todas esses coisas, mesmo s0 no precisa fez8/ uso dole, € questio da ntegedade humana ed glia da seu Criador Sume Teeépice, sup, @ 80 ode. i Matolgia soil: 0 significado da Vigem para a Sociedade Hl} “corpo espiritual” (1Cor 15,44), corpo totalmente imantado pela energia soberana do Espirito vivificador, nao anula a corporalidade concreta; antes, a salva € a potencia ao extremo de suas possibilidades28 Nosso corpo ser como o do Ressuscitado € o da Virgem: um corpo pascal ou, para falar como um antigo Padre da Igreja, um corpo de primavera.29 Em seguida, ver o “corpo desejante”. E 0 “corpo psiquico”, como sede das multiplas pulsdes que nele se enraizam. E 0 corpo que ama ¢ que €amado. E, em particular, 0 corpo como lugar do eros natural e criacio- nal. Que diz dele a Assuncdo da Virgem? Que se pode crer esperar que 0s corpos amados nfo se percam para sempre. Assuncdo € confessar que “ressuscitaremos de todas as nossas mortes”, também afetivas.29 A potén- cia do eras também sera salva, de modo certamente misterioso, mas a0 mesmo tempo maravilhoso, mas ndo sem antes ser totalmente purificada, transfigurada e submetida ao poder do espirito de santidade. Nao dizemos no Credo que a “carne” ressuscitard? Ora, a carne é tudo o que € fragil, -como 05 “lirios... ea erva do campo que hoje existe e amanba € langada a0 forno" (Mt 6,28.30). Nossos menores gestos de afeto, gracas ao volume de amor que terdo expresso e comunicado, eles também serio eternizados, ¢ quem sabe igualmente nossos fugiclios prazeres corporais, por aquilo que de divino e de eterno neles fulgiu e vibrou.2! Temos, enfim, o “corpo sexuado”. Estamos aqui em face do enigma da sexualidade.>? Esta possui, jé neste €on, seu sentido e sua fungio. Mas possuiria também uma destinac4o eterna? A sexualidade se conservaria 28. Quanto 90s sentides exerires, par Santo Tomé els se exercerdo no cfu om sua maxima pee feigo: Sums Teotgica, sup, q 82 a. 4. Poderemnas mesma “ver @ Deus" com nossos cos como. ‘3 no, pordm, m ai mesmo or ser nvisivl, porque Incorporeo), mas Mas crates Sensves, A or estarem impregnsdss do presenca de Deus, a aciaréo com toda afore: Suma Teotgica, 8.3, 6 supl, @ 92,0. 2, ¢. De reso, a toclogia do corpo reseusctado gonharia em clog com a ‘grandes religces do Oriente. idéa da um corpo no materiale grosseif, mas sutl«impercptvel Bate de todas es dovtnashindusias,especsimente do Sema. € conheceda também a doting ‘aya, dos tits carps de Be, especialmente do segundo cxpo, 0 sambhogekay, 0 “corpo do tude, que tom ume natuezesupratertestee mortal Assungio do Mara ao cdu am corpo e alma no Reino? Em sua substancia, sem ditvida, como pensam os maiores Dou- tores da Igreja.33 Se parte da sexualidade perece, parte dela permanece e, ademais, se enaltece. Dela algo “passa”: a violencia da paixio, que a tra- digo chamou de concupiscéncia, e a genitalidade, como funcao de repro- ducdo, que Cristo ja descartou do “mundo dos ressuscitados” (Mt 22,30). Mas algo dela também “passa” para o Reino: a identidade humana que exprime (seremos mulheres ou vardes por toda a eternidade), assim como seu sentido de relagao e comunhdo, que so, de resto, 0 contetido mesmo da vida trinitaria e eterna. Ousarfamos avancar a pergunta: e 0 prazer sexual — conservar-se-ia no Reino? Na medida em que pertence a ordem da criacdo, ¢ ndo a do peca- do, excluida, portanto, a desordem da concupiscencia, diriamos que 0 prazer sexual permanece enquanto subsumido na felicidade plena. Segun- do Tomas de Aquino, todos os deleites corporais esto em Deus de modo divino e, portanto, em forma eminente. Assim também, o deleite do eros estar no Reino de modo régio. Continuara na gloria, mas de uma maneira totalmente gloriosa e, além disso, misteriosa. Sera o prazer de um “corpo spiritual”, portanto um prazer espiritualizado, impregnado todo ele da energia ¢ da santidade do Espirito. Essa possibilidade s6 é teologicamente pensével a partir de uma aufhebung transcendental, do contrario decai-se pesadamente do eéu cristao para o paraiso mugulmano.> Em verdade, no céu, como diz J. Pieper, conhecido filésofo catolico, nem um jota sera vo e perdido para sempre de tudo aquilo que é ter~ reno ¢ historicamente bom”.33 A Gaudium et spes ensina, por sua parte, que na parusia reencontraremos, transformados, os frutos de todo amor verdadeiro (cf. n. 39). “As suas obras os acompanham", diz o Apocalipse 38.Ci. Agostino, De civ Dat Xl, 17; Jeronimo, Epis. 84.5; 108, 2223; Tomas de Aquino. Suma Conta os Gentes. ¢. 8. 434.Ct. Toms de Aquino. Suma Teoligica, | q. 26, 4 042: “Os bens, que se reacionam cam 08 cot Bos de modo corporelcorporaibus corporate), como os prazores, as rquezas @outos, se relacionsm 0m Deus de modo espiitul segundo sev modo proprio". No mesmo artigo lad 1), diz que mesmo foes cnn Frm esi itn vameane. sa aT Aue enham com ela". Essa posggo abera parece repesentar um signfeawo avanco em reac 0 ue defenders 0 mesmo Doutor na Suma Conta os Gants, . 14, cap. 83, em quo excite radical Mente do mundo coloste todo rego de pazer corporal, tendo tavez em mente @ concopedo mucul Mana do edu (ct. Coro, LY, 56:58; LV, 2236-37 etc). Para essa problematca goral cf. 0 dscutvel fersbo de Maria Catarica Jecobell, Asus pesca. li fondementa tolagico del piacere sassuae. Brescia, Querriana, 1990, 23, Exspectondum nobis etiam et corporis ver est Mindci Félix. Octavius. 34: “Cabos tame esperar uma primavera indusive de corpo" 38.Ci, 6 Vennued in G. M. Vannuci@ D. ML. Tuedo, Santa Mari op. cit. p. 144 31 Falando des “eriaturas corporis” e de suas sedugtes, firs de forma ousede Sento Tor “El no desviam 0s tlos de Deus, se nfo araindo por aqua que eles existe do bom e que Po como vindo de Deus": Sume Teotgia, 4.65.1. 0d 3 32. Ct Antonio Moses. 0 enigma de esting A sexualaode,Perepali, Vozes, 2001 5. Apud Giordono rosin. Desderio infinite, Golonhe, EDB, 2001, p. 111. ig Mariologia soca: 0 significado da Vegom para a Sociedade Su dos que “morrem no Senhor” (14,13). Entdo, toda a experiéneia humana, com suas esperangas € seus amores, no que tem de belo e verdadeiro, serd reprocessada, isto €, redimida e perenizada. Nao evoca esta promes. sa a idéia de “regeneracto" do mundo de que fala Jesus (ef, Mt 19,28)? Nada, pois, sera perdido do que tiver sido feito por amor, nem sequer ‘um copo de agua fresca” (Mt 10,42). O grande poeta sufi Rumi recita- va: “Enxuga o pranto... As alegrias perdidas voltarso sob outra forma” 26 Tudo seré recolhido € guardado nos celeitos do Reino (cf. Mt 6,20; 13,30). $6 ficara perdido o que tiver sido feito sem ¢ contra Cristo: ‘Quem nao recolhe comigo, dispersa” (Mt 12,30). Tudo voltara, nao porém, segundo o funesto “eterno retorno do mesmo", mas segundo 0 retoro ao eterno do mesmo”. Sim, tudo voltara, agora sob sua identi. dade mis attics Volar com seu rsto mais elo, Oa, desta espén- lida esperanca 0 co i é did esperan o corpo sloncado da Nalher loos a garantia mais 2.2.2. Os corpos sofridos da sociedade de hoje e sua fome de dignidade A significacao antropolégico-social do dogma da As - ciada também pelo Documento de Puebla, Este anibha yee daquele dogma mariano no contexto de um “continente onde a profana- sa0 do homem é uma constante” (298) e onde, em proporgdes macrosc6- picas, a vida se encontra ameacada e os corpos, sofridos. De fato, podemos fazer o elenco dos “corpos profanados” de hoje: ‘ *+ ocorpo da mulher, degradado pela prostituigao e pela cl icdo e pela cultura machis- * 0 corpo do operario, pela exploracao e pelo “horror econdmico"; + 0 corpo do jovem, pela droga e pela violencia; * 0 corpo da crianca, pelo abuso sexual e pelo abandono social: * o corpo do preso, pela tortura e por toda a sorte de maus-trat * 0 corpo do consumidor, pelo consumismo e pelo envenenamento qui- mico. 36. Jalal udDin Rui. Poomas mistcas. So Paul, Attar 1997, p. 196 -Astungo de Maia ao e6u om corp e alma Avalotizagao do corpo, que a Assuncao inspira, leva a promover todas as formas que estimulam uma correta relagao com 0 corpo. Importa, em primeiro lugar, adotar uma atitude de reveréncia para com 0 corpo humano, no sentido de traté-lo com dignidade, sem tomar pretexto disso para satisfazer-lhe os caprichos. A razto € que 0 corpo € a lampada que carrega a luz do eterno, € a ampola que contém o perfume precioso do Espirito. Ele é, em breve, o templo de Deus (cf. Cor 6,19). Estamos aqui no plano da espiritualidade do corpo. ‘A valorizacao do corpo passa, em seguida, pelo cuidado com a satide, especialmente a satide das grandes maiorias pobres. E esse € o nivel social € politico da questao, Por fim, é preciso também resgatar a idéia de pureza, entendida como respeito pelo corpo sexuado, 0 proprio eo de outrem. E esse é o nfvel ético da problematica do corpo hoje. Nesse sentido, o Padte Ricardo Lombardi, no célebre discurso “Triunfo de Maria”, que fez no Coliseu para preparar fo animo dos figis para a solene defini¢ao do dogma da Assuncdo, que se daria trés dias depois (12 de novembro de 1950), faz um veemente apelo as mogas € aos Tapazes: 0 jovens, que tendes 0 imenso privilégio de ter como uma de vés essa eriatura...que 0 céu acolhe com tanto esplendor! Conservai em vos aque- fa beleza que vistes penetrar nos céus... 0, ovens... tandes um corpo que esté destinado & imortalidade, Tendes um corpo que foi glorifcada por Deus numa vossa itma, em vossa me! Guardai-o! Tendes uma misséo no mundo, se guardais a vossa pureza: também a pureza... abengoada pelas santas népias...E v6s, mogas, que vistes os céus abri-se de parte a parte para o triunfo da Virgem pura... que levou no amplexo de Deus nossa hhumanidade santiticada, respetai aqulo que Deus fez e estimou digno de tanta glrial Esteja em v6s 0 palpitar do amor, porque foi Deus quem criow ‘0 amor, Mas que seja 0 amor de sores que... rem na imortalidade do espirto © também do corpo.” 2.2.3. E 0 “corpo” das sociedades e civilizagdes? [A Virgem gloriosa € o sacramento da “Cidade de Deus”, da Jerusalém celeste, De resto, como ja dissemos, a Virgem foi entendida e cantada 17 In: AMI (ed). Alm socia Chis, Academia MarianalOtficivm Lib Catholic, Roma, Ed. AMI . 1955, pp. 3049, equi pp. 47-48 il Motolgie soi: 0 significado da Vigem pare a Soeedade atl pela Igreja como a personificagao da nova Sido, Seu corpo, preservado da corrupsao, € 0 simbolo do corpo da polis, enquanto protegido ¢ salvo. Nao a toa se conta que a imperatriz Pulquéria, depois de 433, escreveu a Juvenal, bispo de Jerusalém, pedindo o sarcofago onde repou. sara outrora 0 corpo da Virgem, para ser usado “como salvaguarda da Capital”, e 0 obteve.38 Mas que valor tém 05 “corpos” de cultura e de civilizacao que as s0- ciedades produziram? “Nos, civilizagdes, nés sabemos que somos mor. tais!”, exclamou o poeta Paul Valéry. Sera mesmo verdade? Parece confir- mié-lo o profeta Jeremias, que, sobre a grande Babilonia destruida, tira esta cética conclusto, retomada por Habacuq (2,13): “Assim, penam os Povos por nada e as nacées trabalham para o fogo destruidor” (Jr 51,58). ‘Mas esta é apenas parte da verdade. A outra parte, proclamou-a a Gau dium et Spes: Permaneceréo 0 amor @ sua obra... Tados os bons frutos da natureza e do ‘n9ss0 trabalho, nbs os encontraremos novament, limpos, contudo, de toda impureza, iluminados e transfigurados...(n. 39) Portanto, os “Reinos do homem?”, pelo volume de liberdade, justica e amor que terdo incorporado, serao absorvidos e conservados no Reino de Deus. Ora, 0 corpo da Virgem, assumido na gloria, é 0 corpo de uma hebréia, corpo inserido num pafs determinado e conformado por uma cul- tura especifica: Tu gloria Jerusalem, tu laetiia Israel. Assim, com seu corpo, hio entraram, de certo modo, no Reino também as riquezas espirituais ¢ cculturais do povo da Primeira Alianca? De fato, mundo da cultura pode ser entendido como o prolongas mento do ser humano, a teia de sentidos e simbolos que o mesmo secreta € que Ihe é, de certo modo, consubstancial, Assim entendida, nao teria também a cultura acesso ao mundo consumado? Diz 0 Apocalipse que elas portas sempre abertas da nova Jerusalém entrardo as riquezas de ovos, isto ¢, “a gloria e a honra das nacoes” (Ap 21,26). A entrada de Maria na gléria nao abriria também essa perspectiva? 38. Antonio Spill, Lo vta Mara, Roma, stitutaSelesiana Fi X, 1867, p. 170 norma 3 Beaugsa Assungdo de Maria 20 cfu em corpo e alma 2.2.4. E 0 “corpo” do cosmos? A criacdo de Deus, solidaria com 0 homem no pecado, é solidaria com ele na graga e também na gloria. E 0 que pensa a grande tradi¢ao teolégi- ca, ndo sem base biblica.29 Sao Paulo afirma com toda clareza: “A Criagao espera com impaciéncia... a Libertacao..." (Rom 8, 19.21). ra, no corpo da Virgem, assumido na gloria, temos também a maté- tia do cosmos.49 Como toda matéria, o corpo da Virgem € constituido de Atomos e células. © corpo sagrado da Mae de Deus estava, como todos os corpos humanos, enraizado na natureza cosmica, na matéria do mundo, de que é a floracao mais bela. Ele também € feito da “poeira das estrelas”. Por conseguinte, a Assungdo nao € a matéria deixada para tras, mas é a matéria elevada nas asas do Espirito. E a matéria feita templo do divino e toda abrasada por seu fogo eterno. A matéria, chame-se ela natureza, cosmos ou criagao, tem em Maria um sinal antecipador de seu destino. Puebla confessa: "No corpo glorioso de Maria comeca a criagao material a ter parte no corpo ressuscitado de Cristo” (n, 298). A Virgem gloriosa é a porcao da matéria césmica que ja se tornou incandescente por obra do “Espirito de gloria”, que a envolveu em sua luz, como num manto (cf. Ap 12, 1; SI 103,2). Ela € 0 mundo cria- do, madrugando para as ntipcias misticas com seu Criador. E como a mao do universo posta no ferrolho da camara nupcial. O corpo glorificado da Virgem € a antevisao ¢ a entrevisto do destino jubiloso do cosmos no éxta- se da comunhao eterna Por certo, & 0 Ressuscitado, nao a Virgem gloriosa, que € 0 cosmos seminalmente consumado no amor. Mas a figura de uma mulher, a Mater assumpta, convém melhor a representagao da matéria enquanto assumida para sempre no Mistério da comunhao trinitaria, De fato, o Apocalipse nos 39. Rebaro M. Rowe, Tell do cosmos Pepa Votes, 05. Sobre coi esata unc, Tas do Aq. Sure Too, sil, 81, speciment em que in pu ita tur “ur era dca iin mcs gm cn capensis pate mer “anon, Rov, “ve tor sr a sue vpeicn ere rap to © ie» aun coro o atl os como o 6 ao fog cor o ert dct Unguegem ev thetcmente postcosiritien. Para Dota angsce, alm dos steshuranon, 8 subito ra isos coos castes oof eomania alas nwa a, pom, os egos rem os armel eo un ens no nom svttan dann Suma Toten sla se Coed ‘rumen ness porto nt so connotes Anosto wr apetnca €or 89 rac prt onto tarts na essa das foes eds pac 40.04 Sato Tome “As pares dos samantos qe eho n0 carp doharrem sera gota to Con mar, recsbend ma rine rics Suna Teoogen, Sua 91,4, sed eats Lit} Marologia soil: 0 sigiiado da Vigem par it Sosiedade mostra 0 “grande sinal” da Mulher, incorporando em si as mais expressi- vas figuras do cosmos: o sol como manto, a lua como trono e as estrelas como diadema (cf. Ap 12,1). Maria surge aqui como o vertex creationis.42 Esta petspectiva mariana s6 pode enriquecer uma espiritualidade que se queira sensivel as demandas da ecologia. Ademais a “Mulher vestida de sol”, gravida do Messias, emerge tam- bém como a personificagdo da matéria césmica, enquanto gravida de Cristo, A cristogenese convergiu € se consumou no ventre da Virgem nazarena, Esta visio c6smico-evolutiva nos faz ver Maria como a real oficiante da “missa sobre o mundo” 43 2.3. Aquela que reina gloriosa foi a Mulher das Dores: ‘0s pobres e as mulheres A Gloriosa foi a Dolorosa. O caminho para a gléria é 0 caminho da cruz, ‘A propria glorificacio da humilde Serva do Senhor representa a exaltacao da inocéncia, a reabilitagdo da vitima. Mas se aqui ha uma vitima é s6 porque houve antes a testemunha. Maria de Nazaré nao sofreu por acaso, mas em conseqiiéncia de seu seguimento nas pegadas do Mesias, seu Filho. De fato, a glorificacdo s6 se explica sobre o fundo da humilhacao, Como a Ressurreigao € a reabilitacdo do Crucificado, assim a Assuncao €a exaltacao d’Aquela que antes “esteve ao pé da Cruz” (Jo 19,25). Assim, a cruz, de simbolo do sofrimento, transformou-se em escada para a gléria. O sofrimento, vivido na fé, torna-se fecundo e criativo. E que a vida, como caminho ¢ forga de expansio e ascensto para o mais alto, pede sempre seu preco. Para aceder unidade (Assungdo), € preciso atravessar a dilacera- cdo (estancia junto da cruz). Para chegar & sintese, ¢ mister passar pela antitese. A cruz é cadinho que purifica e ao mesmo tempo conjuga. ‘Como se percebe, o que esta em questdo aqui nao ¢ apenas a “cruz da morte”, que se levanta no fim de nossos dias, mas também a “cruz da vida’, 41. a verdede, estas so, no Apocalipse, igus coestes; as tertesties ~ 2 outa metade da ctl, 1 tarshém jé alread ~ aporecem reprasentadas pelos quatro sees vivos que sustentarh 0 Wono {0 grande Sedens: ola, otouro,o homem # a gui, simbolos do que hé do mais nobre na natu 2 forga real, © poder fecundano, 2 intaligénciapenewante © a poder ascensiona cf. AN 468), 42, 210° Coptlo Goal da Ordom dos Soros de Mari, Soros do Magnificat. 0 Cinta de Viger @ Vida Consagrad: Roms, Cixis Geral OSM, 1996 n 108, p. 200. 48, Ck, Tehord de Chardin. Hymne do Univers. Pais, Seu, 1961, pp. 11-97; “A missa sob 0 mundo": bidem, pp. 3058: “O Crista ne Matra” ‘Assungdo de Maria a0 e6u em compo e alma que se cartega “cada dia” (cf. Le 9,23), com todo seu peso (cf. Mt 6,34). E também a “cruz politica” da perseguicao e do martirio. E é, por fim, a “cruz antropolégica” da doenca, da velhice e da morte ~ condigao que herda todo o ser humano. Mas toda cruz, desde que assumida livre € amorosamente na fé, torna-se caminho de libertacdo. A vida mesma é um longo parto. A dor é “espada” que separa o permanente do impermanen- te, 0 efemero do eterno. Disso é emblema a Mulher das Does, que se tornou a Mulher da Gloria. Mas nao teria havido uma se nao tivesse havi- do antes a outra. E, como o Ressuscitado carrega ainda os estigmas da paixio, assim também a Assunta traz as marcas da sua compaixo. O Apocalipse 12 descreve a cena contrastante da “Muther solar’, sofrendo as dores de parto, Efetivamente, ha no céu lugar para a dor, enquanto expressdo mis- teriosa do amor compassivo. O préptio Papa Joao Paulo II, na Redempto- ris mater, diz que, embora assumida na gloria, Maria continua “radicada profundamente na historia da humanidade... participando nos rmiltiplos e complexos problemas que hoje acompanham a vida das pessoas, fami- lias e nagées” (n. 52,5). Precisamos agora nos deter nas aplicagoes praticas dessas reflexdes. Por uma perspectiva social, quais so as categorias que participam da “estacdo ao pé da cruz” da Virgem das Dores? Pensamos aqui em duas cate- gorias principais: os pobres e as mulheres. O que diz para eles e para elas respectivamente a Mulher Gloriosa, que foi (e ) também a Mae Dolorosa? 2.3.1. A Assungao & luz da “opcdo preferencial pelos pobres” A-via crucis de Maria para a gloria fot semelhante a via crucis da gran- de maioria dos pobres na historia. A cruz da Virgem foi a cruz dos pobres € excluidos desse mundo: “cruz cotidiana” extremamente pesada “cruz social” feita de exclusdo e “cruz existencial” comum a todos os mortais. ‘Sim, nao foi uma fidalga, mas uma plebéia que Deus assumiu em sua gloria, Foi uma “serva” que se tornou Rainha. Assuncdo é a entronizacao dos humilhados. Maria ja o tinha profetizado no seu cAntico com as pala- vras: “Ele olhou para a humilhagéo de sua serva... Exaltou os humildes" (Lc 1,48.52). E € tambem esta a pertinente ligao que da a liturgia para a 44. Para ossosconsidoragbes,insptehme er Lucio Pnkus. O mito de Maria, Uma aborabgem simb- 3 So Paulo, Pauinas, 1991, pp. 143-162: © om G. Vannucsi. “A Vigem aos pés da cu, in: G, M Yannuec © 0.'M, Turldo, Santa Mari, op. it, pp. 135-37. ah Mariologia soca: 0 significado da Vicgem para a Sociedade Bi ‘Assungdo. Com efeito, a missa desta festa, mostrando, no Evangelho da \Visitacao, a solicitude de Maria em favor de sua prima gravida (Le 1,30- 56), indica que o caminho de gloria se encontra no servico generoso aos irmios e irmas. Certo, Cristo mesmo € a gléria futura dos corpos. Maria, porém ~ como dissemos — representa uma garantia suplementar da glorificacao final do corpo humano. Foi, porém, o corpo sofrido de uma humilde mulher do povo e nao o de uma beldade desse mundo, que o Espirito ungiu com seu perfume vivificador. Foi uma mulher anonima, ausente do grande teatro do mundo, que o grande Rei escolheu para entrar, qual nova Ester, na sua camara nupcial. A bula de definicao da Assuncio afirma a reviravolta, caractertstica da logica do agir divino na hist6ria, entre 0 estae do de insignificdncia de Maria em sua carreira terrestre € seu atual estado slorioso. Lé-se at Os figs... aprenderam da Sagrada Escrtura que a Virgem Maria, durante sva peregrinagio terrestre, levou uma vida cheia de preocupagdes, de inquietagdes ¢ de sofrimentos...Do mesmo modo creram e confessaram {que seu corpo sagrado néo foi submetido & corrupgdo.% De fato, Maria levou a vida comum das mulheres pobres. Como elas, passou fome e frio. Trabalhou com suas maos. Sofreu a discriminagao de ‘uma cultura patriarcal, que, com a lei do puro e do impuro, golpeava espe- cialmente as mulheres em seus softidos corpos. Os pobres, menos facilmente que os outros, esquecem que tem um corpo. Este se Ihes faz dolorosamente sentir pelo aguilhdo da fome e por toda a sorte de carencias. Por isso, a cultura dos pobres é fortemente cor- poral e mesmo material, Que o ser humano nao seja apenas pensamento, mas corpo, € um corpo que pisa o chao da terra, que tem fome de pao, que busca a alegria, que quer ser livre — eis algumas verdades elementares €. ‘materiais que so mais verdadeiras para os pobres que para quaisquer outras categorias sociais, Daf talvez por que a Assungao, como a “festa do corpo”, do corpo feminino, ¢ tio sentida e celebrada pelo povo pobre. Esse talvez veja nela a realizacao de seu desejo secreto: um corpo entfim exaltado em toda a sua potencialidade de beleza e deleite, de comunicagao e amor? 45, AAS 42,1960, p. 757 Assungdo de Maria a0 ctu em corpo e alma Nesse sentido, a Assungao, primicias do poder pascal de Cristo, rea- firma que os pobres nao permanecerao para sempre no anonimato € na humilhagto. Esse dogma representa a resposta divina ao grito dos pobres, que, a0 longo dos milénios, ressoou no mundo: "Deus justiceiro, aparecel! Levantai-vos, juiz da terra” (SI 93,1-2). Sim, é verdade: “o pobre néo sera esquecido para sempre. A esperanca dos pobres ndo sera frustrada in aeter- ‘mum’ (SI 9,19). Os oprimidos nao ficarao para sempre na lixeira da hist6- ria, onde os jogaram os grandes da Terra (cf. $I 112,7). Deixaréo um dia de ser esmagados sobre 0 pé pelos pés dos poderosos (cf. Am 2,7). Mas desse mesmo pé serdo levantados e colocados no trono (cf. Sl 112,7-8). Nao haverdo de permanecer nas cinzas a que os reduziram os inventores dos fornos crematérios, mas das cinzas ressuscitardo para a vida imperect- vel (cf. 2Mc 7,9; 12,38-46; Dn 7; 12,2). Tal €, de fato, segundo a literatu- 1a apocalfptica, a conviceao dos fiéis que se encontram numa situacao de extrema impoténcia: no fim, a vitoria sera de Deus, e ela sera total ‘A Assuncdo €, portanto, uma expressto particularmente eloquente da justiga escatologica de Deus, 0 goel de todos os degolados e massacrados da historia, Para falar como Max Horkheimer, a Assungao € uma realiza- clo toda particular do “anelo de que o assassino nao possa triunfar sobre a vitima inocente”.4 Em breve, a Péscoa da Virgem sustenta, depois da Ressurreigao de Cristo, a certeza indestrutivel da reabilitagao de todos os “ofendidos e humilhados” da histsria. 2.3.2. Nossa Senhora da Giéria: gléria da mulher e de seu corpo ‘Alem da pobreza, devemos aqui nos deter numa outra determinacdo da condigdo histérica de Maria: seu estatuto social de mulher. Pergunte- ‘mos o que signitica o fato de que fo1 precisamente o corpo de uma mulher que foi elevado na gléria A Assungao foi as vezes representada na tradigao como sendo as ntip- cias da Virgem com Deus. Nas palavras de S40 Joao Damasceno: “A Vir- gem Mae foi levada para o télamo celeste”.47 Portanto, uma mulher desta terra tornou-se a theonympha, a grande consorte do amor de Deus. Ora, 148, Apud Clovis Bolt. Tare do método tolépico. ed, Petrépois,Vozes, 1999, p. 595. 41. Encomiam in Dormioner, hom. Il, 14: PG 98, 782: ad aothereum thelsmum est assume Retemendo @ mesma lnguagem, diz Po XI na Munifcentssimus Deus: "Cominta que a spose, que ‘Pa desposar,habta5s0 os tlrnoscelestes” 7.21, a0 Maroigia soil: O significado da Vigem para 8 Sotedade itt que uma filha de Eva tenha sido elevada ao mesmo plano da Trindade e tenha se tornado a beata Sponsa Trinitais,# € da maior relevancia para a dignidade das mulheres. Jé no século XVII, um tedlogo de Paris, L. Bail tinha expressado a opinidéo de que a Assuncdo reptesentava a plena satis. facto da dignidade da mulher.#® Mas é, em particular, 0 corpo de uma mulher que € resgatado e exal- tado na Assuncio. E preciso, pois, arrancar desta constataco elementar: 0 que fi glorificado é um corpo feminino.%° Este dado foi pasto em eviden. cia pelo Padre Lombardi, no jé citado Sermao do Coliseu, com estas infla- madas palavras: Sabeis que coisa tenho a vos dizer? Que Id, precisamente no céu, hé uma ‘mulher com o seu corpo... uma mulher. Oh, coma & bela! ... Sebeis quem & fla? Olhai para cima: hé uma mulher verdadeira, com o corpo, e esta mulher 6 a Mae de Deus!5! ‘Sem diivida, aqui joga também a logica divina que poe, ao lado do corpo glorificado do Novo Addo, o da Nova Eva, Mas é inegavel que, dos dois, 0 corpo da Mulher gloriosa fala emocionalmente mais alto sobre o sentido ¢ 0 destino do corpo que o do Ressuscitado. E a tazdo éa que dis- semos: a mulher é “mais corpo” que o vardo, por ser geradora, nutriz ¢ guardia da vida, e também por exprimir com mais esplendor a idéia de beleza humana. Ora, na e pela Assun¢ao, 0 corpo feminino é resgatado e como que “vingado”, gracas ao Criador ¢ Redentor, de todas as humilhacoes e violén« cias que ele sofreu ao longo de uma histéria milenarmente patriarcal. Na Virgem finalmente ele € restaurado e reintegrado ao seio de Deus.52 Con- 1a 0 pano de fundo dos corpos maltratados das mulheres de hoje, 0 corpo glorificado da Virgem € ao mesmo tempo um protesto e uma promessa’ lum protesto contra uma cultura patriarcal que degrada, nos modos mais 48, Psoudo-pilani, in PG 43, 494, 48, Aoud 6, SOIL Stevia de dogms marian, op. tp. 961, 50. Ct, cardea! Michele Giordano. Un segno oi socura spevanca, Lettre pastorsle sulla liberazione ¢ trond donna nla ie dake Niplo, 8, 109; ou tar no Nera 1. 62, 2000, pp. 417-425, naa “ a 51. n: AMI (ed. Alma socia Chis op. ctv 12, p. 9 $2.0. hore Geb e Mari. goa: Mara, Me de as Mo bres. Un na a 0 Un esl ‘partir da muther @ da América Latina. Petropolis, Vozes, 1987, p. 138. a Asungdo de Maria 20 cu em corpo e alms yariados, 08 corpos das mulheres, € uma promessa de que seus corpos devastados serao eles também recriados em virgindade, ungidos e perlu- mados para o encontro nupcial escatolégico. ‘Alas, de modo particular, podem se aplicar as palavras de Isatas a respeito da nova comunidade, feita noiva do Senhor Deus (Is 60-61): “Levanta-te, resplandece, porque a tua luz chegou!” (60,1). “Ele te dara um. diadema em lugar do luto ¢ dleo de alegria em lugar do abatimento” (61,3). “Ele me vestiu com vestes de salvagao, como uma noiva que se enfeita com as suas jdias” (61,10). “Ja nfo mais te chamardo ‘Abandonada’, antes serés chamada ‘Desposada’. Como noivo encontra alegria em sua noiva, assim, teu Deus em ti se alegrara” (61.4.5). A Assunta € a mulier revelata, na plenitude de sua feminilidade. Ea mulher em toda a sua bele- za, como a Igreja-esposa: “espléndida, sem mancha nem ruga, nem defei- to algum’” (Ef 5,27). Digamos, por fim, que a Assungio da Mae de Deus oferece também uma rmensagem particular as mies em seu sofrimento oculto e freqdentemente longo. Com efeito, a Glorificada é uma mulher que foi e continua mae. Ele- vada 8 plenitude, Ela representa a apoteose da maternidade, Ela é, para as mies softedoras, a promessa suprema e consoladora de que existe sempre um futuro para todos 0s filhos e filhas que morreram nas condiges mais absurdas ou injustas. Nao, no haveriam as maes de gerar para a morte. Pois a forca e a grandeza da maternidade € gerar vida para a vida, € dar inicio a ‘uma existéncia que se prolongue para dentro da eternidade divina. (© que véem, pois, os milhares de mies desoladas de hoje quando olham para a Virgem na gloria? Véem a Mae reunida enfim ao Filho. Mais veem a nova Raquel esperando, com firme certeza, a restituigao de todos 0s filhos mortos: *Cessa teu pranto, reprime tuas lagrimas! Porque existe ‘uma recompensa para a tua dor... Ha uma esperanga para o teu futuro: teus filhos voltarao para a sua terra” (Jr 31,16-17).3 53, Ci nesse sentido, o texto comovedor, sind quo tooloicamente estianho,petencente 00 género e Herature “mamta” talon, da autora do escitornapoktane Giuseppe Marotta, em seu fvro Le medi "A Assungéo, O Pal, Fina eo Exptito Soro, gnuflexos, treendo, bejevem a bar do tin (ada pequene dona tereste disseram com profunda humidede:‘Perdoa-nos, Mai, 2 énsia da fupe pore Eglo. ferida da seperag dos anos ds pregare,o inautio dlacoramento que te provocerem 8 coroagéo de espinhos, a subide 00 Golgota ea cuceagio". Ela anus (sim... brigade... sm, sem Givida, eu vos perdoo.. ndlgnamente. sim, sbengcados, sine, como todes os mes quando, vem ia ou nda venida, «guerra acebou, ela chorava copiosamenta": apud Nazarene Fabret i: sus, fv, 1985, p. 72. Hi} Mariologia social: 0 significa da Vigem prs a Soviedsde SMD Efetivamente, s6 a ressurreigdo verdadeiramente consola. S6 ela € re- ‘médio adequado a inelutabilidade da morte. E o que nos mostram varios episddios do Evangelho: * foi ressuscitando-lhe o filho tinico, que Cristo estancou as lagrimas & vitiva de Naim (ef. Le 7,11-17); * foi tirando Lazaro do wimulo, que Jesus devolveu a alegria plena as ‘irmas Marta e Maria (cf. Jo 11,1.44); ‘* Maria Madalena se sentiu voltando a vida, somente depois que encon- trou seu amado Senhor, ressuscitado dos mortos (Jo 20,1-18), como pro- lama também a liturgia:“Jé nao chores, Maria, o Senhor ressurgiu",>+ ‘= s6 quando viram o Mestre redivivo, os entristecidos discfpulos volta- ram a alegria (cf. Jo 20,20). Ora, se a Pascoa de Jesus nos alcangou “consolagio eterna e a feliz esperanca’ (2Ts 2,16), a de Maria contribuiu poderosamente para aumen- tar essa mesma consolacio e essa feliz esperanca 2.4. A Virgem Assunta: icone do sentido da vida e da esperanga crista ‘Aimagem da Virgem Gloriosa representa o destino definitivo da Igreja € do mundo (cl. LG 68). Diz a Marialis cultus que a Assunglo € a “Testa do destino” glorioso de Maria e também do nosso (n. 6,3). Em sua mensagem no Angelus, no dia da Assungao de 1987, afirmou Joao Paulo II que esta festa nas ensina que o verdadeiro signiticado da existencia ¢ ultraterteno e que 1a realidades mundanas e corpéreas adquirem 0 seu auténtico valor somente na perspectiva da eternidade 5S Essa verdade era particularmente relevante no contexto hist6rico ime- diato da proclamagao do dogma. Com efeito, nos anos 1950, quando a ideia do absurdo comecava a se introduzir nas mentes e o taedium vitae se alastrava nas sociedades industralizadas, a Assungdo emergia desse nevoeiro 154, Responedro breve das Laudes © des Vésperas do oficio da moméria de Santa Mia Madlens do ‘revisrio Romane. '55, “Maria SS insognail vero signfisto desistonza” (181487), n:Isegnement a Giovanni Peo I. Vaticano, Libreia Ed. Vatcane, Xi, pp. 216-217. Assungdo de Mari 20 cu em corpo e alma como um icone luminoso, mostrando que a vida valia a pena, porque ela tinha um sentido: sua eternizagio gloriosa na comunhao com Deus.56 Mistério de Nossa Senhora Assunta aos céus eta apenas uma nova procla- magio daquilo que a Ressurreicao de Jesus significava desde sempre, mas se havia ofuscado na mente de um mundo materializado e terrenista Nossa Senhora da Gloria, com e apés o Senhor da gloria, proclama a verdade de que o destino tltimo do homem e do mundo nao € 0 nada, mas a plenitude da vida. E afirma-o ndo como um teorema, mas como um evento que jé irrompeu na historia, Analogamente a Ressurteicio, a Assun- fo € o futuro de luz que ja chegou, o fim feliz que ja foi atingido, 0 sen- tido que ja despontou. Este dogma vale hoje por uma eficaz refutacao do niilismo que se difunde na cultura contemporanea.37 A Senhora gloriosa e toda-bela mostra que o destino humano se chama gloria. E esta consiste na “integracdo", ou seja, na recuperacao da “integridade” do homem todo, corpo e alma (inteireza) e da “integralida- de" de todo o homem (universalidade). E a recomposigao da materia e do espitito, a suprema sintese, como negacao de todas as negacoes, Levantar diante do povo essa imagem de suprema reconeiliacao é operar com uma fonte de imenso potencial existencial e, por consequéncia, social. E preciso retomar aqui a tese de C. G. Jung segundo a qual a Assun- ‘cdo € um simbolo que responde a profundas necessidades psiquicas do ovo, mais precisamente do inconsciente coletivo, Tal simbolo funciona para as grandes massas religiosas como uma forca eficactssima de equili- brio emocional por representar a possibilidade real de pacificacao entre extremos opostos. A integracdo da Virgem em corpo e alma no seio da divindade simboliza as niipcias sagradas entre a matéria e a divindade, Por isso, a imagem da Virgem na gloria € para o povo fonte riquissima de con- solo ¢ esperanca, especialmente em tempos de desespero, ¢ isso nao s6 em termos teologicos, mas também psiquicos. Por tudo iss0 0 psicblogo suico, apesar de protestante, considerava a proclamagao do dogma da Assunco como “o acontecimento religioso mais importante depois da Reforma” 32 56, Ct. gnacio Calabuig. “Il ‘grande segno’ doa Vergine Assunta (Estoril, in: Marianum, 62, 2000, p. 916. - 87. CI, Michele Giulo Masciael, “Maria icone perota dal umanité pervenute pe oda suo comp ‘mento", in: G.C. Morlejoe S.Cecchin Ide). LAssunzione a Maria Madre De op. cit. 9. 377-431 ‘e=peciimentea Parte, pp. 379-414. 88.Cl.C. 6. Jung. Resposia # Jt op. ct, pp. 103-112; capo eats nap. 106, Hl Mariolgia social: 0 significado da Vigem para a Soeedede Mt Ademais, vale notar que, entre os motivos que sustentavam as nume- rosisssimas petigdes que se recolheram no mundo inteiro em favor da declaragao do dogma da Assungao, havia o de que, com a Assuncao, se impediria mais eficazmente 0 avanco do naturalismo, entendido como negacao da vocacdo transcendente do ser humano.3? Deste modo, a Assuncdo na gléria testemunha que nao existe s6 a polis da terra, mas também a do céu, Esse dogma volta a lembrar ao mundo que “nossa cidadania é 0 céu” (F1 3,20) e “nao temos aqui cidade Permanente, mas estamos & procura da cidade que esta para vir" (Hb 13,14). Entao voltados para a “pélis santa, que desce do céu” (Ap 21,10), os cristaos podem efetivamente fazer politica sub specie aeternitatis. De fato, a “politica historica” tem na “politica escatol6gica” o horizone te que a situa, mede e orienta. Pelo contrario, apostar orgulhosamente no poder humano de construir o “céu na terra” leva a tragédia da moderna cultura secularista. Esta, fundada no messianismo terrestre, se entedou na contradigao entre 0 otimismo triunfante dos poderosos e o pessimismo frustrado dos pobres, que véem bloqueadas suas oportunidades de progres dir, Ora, sobre os vencedores entusiasmados e os vencidos desesperados, Maria, na gléria, brilha como sinal de esperanca e de verdadeira reconci Tiagdo. Ela desautoriza tanto o otimismo ingenuo como o pessimismo, tesignado. Ela ensina a esperanga em Deus e no seu Reino como motivo Ultimo da esperanga dentro da historia. Assim, a Virgem gloriosa responde & aspiracdo moderna da valorizae fo da histéria como simbolo e mediagao da eternidade. © Reino do homem € o humilde, mas vital casulo em que se desenvolve a crisilida do Reino divino. Dai por que a espiritualidade que 0 Mistério da Assungio inspira é a que promove a vida e o compromisso com a vida, pois esta ve projetada para dentro da eternidade gloriosa e divina, Tal espirituali dade sera, ao mesmo tempo, simples em suas mediacoes, nao enfatuada, em suma, uma espiritualidade “ao alcance da mao” 6° Mas nao haveria ja na historia antecipacoes sociais da polis celeste do Reino glorioso? Sim, poder-se-iam ver tais antecipagdes nas festas po- pulares, assim como Joao viu na Festa das Cabanas uma parabola do tri no Reino (Ap. 7 € 14), Dessa ordem sio também as vit6rias dos pobres, 159, Cf. M. Jug, La mert et Assompten dof Sante Verge, op. ct,» 483 60. Ct. Thomas Phipps. "Maro, divin rombde oux erreurs de nose temps ‘Orit op. ci, v.11, 1869, pp. 350:38, Assungo de Maria a céu em corpo e alma que lembram a singela apoteose do Messias ao entrar em Jerusalém. Acer- ca desta cena, escreveu, bem a propésito, G. Bernanos: “Nosso Senhor dig- nou-se desfrutar 0 gozo do triunfo, como de tudo o mais... Nao recusou sentir nenhuma de nossas alegrias, s6 tecusou 0 pecado”.6! Mas atencao! ‘Trata-se sempre af de meros sinais antecipatérios, que serdo absolutamen- te superados pela propria Realidade por vir. Ve-se claramente assim que a esperanca escatolégica, gracas as suas antecipacdes e preparagoes, nao leva para fora da historia, mas conduz para sua realidade profunda. Eo “ja” que avanca em profundidade sobre o “ainda nao” O efeito espiritual mais importante da Assungo, como imagem da vitoria final e total sobre todas as forcas que dominam na historia, ¢ infun- dir no fiel, especialmente naquele engajado a energia indestrutivel e a esperanca teologal. Esta, que outrora alimentou a resisténcia dos mértires sob a espada dos tiranos, comunica ainda hoje ao cristao a intrepidez de “por-se na brecha” em prol do Reino da justica e da paz (cf. Ez 22,30). 3. CONCLUSAO DE TODA A PARTE DOGMATICA: O PODER MOBILIZADOR DA IMAGEM DE MARIA Ao término de nossa longa reflexao sobre o sentido sociopolitico dos dogmas marianos, podemos tirar uma conclusio geral. E 0 poder mobili- zador da figura da Santa Virgem que eles expressam € a0 mesmo tempo fundam. De fato, a poténcia dos dogmas marianos, na mente do povo, esta na forca de seu simbolismo, ou seja, na ativagao do imaginario da fé. Por sua figuracao plastica, eles falam alto a fantasia e ao coragdo do povo catélico. Suscitam a mais viva emocdo € provocam a mais funda comogao. Por esse lado, os dogmas atingem a todos os fiéis, mobilizando os catélicos em massa. Sao os mistérios feitos imagens, constituindo, nesse sentido, a “mariologia dos pobyes”. De fato, os quatro dogmas marianos séo como grandes afrescos de Maria e, pelo prisma de Maria, {cones expressivos do mistério da salvagao do Pai pelo Cristo no Espirito. Assim, + a maternidade divina fala do mistério da Encarnagao do Filho de Deus e Filho do Homem; 161. Georges Bernanos. isi de um piroco do ale. Ro de Janeiro, Agi, 1964, p. 160. 5 Marologia social: 0 signitiado 6a Vigem para a Sociedade Ha + a virgindade fala da potencia de Deus, que cria uma nova humanida- de por obra do Espirito Santo; + a Imaculada Conceigio fala da primazia da Graga de Cristo e da supervit6ria de sua Redengéo; * enfim, a Assuncao ao céu fala da ressurreicao como glorificagao final e total da humanidade e da criagao pelo poder da Santissima Trindade, Ademais, Maria, a titulo de Virgem-Mae, sobre ser Imaculada ¢ Assun- ta, foi vista por toda a tradicao da Igreja como o epitome da fé; por outras, | ‘© catecismo abreviado. Nessa linha, a tradi¢éo teolégica usou para Maria cexpressoes como: a “ruina das heresias” (Atandsio), o “cetro da ortodoxia” | (Cirilo de Alexandria), a “marea da reta doutrina” (Germano de Constant nopla), a “expressto da ortodoxia” (Proclo de Constantinopla), a “historia inteira da economia divina” (Joao Damasceno), a “corrente de ouro” em que esta suspensa a doutrina crista (Carta de Arquelau a Mani), 0 “sustentécu- Jo estavel da fé" (hino Acatistos), a “imével coluna da verdade” (Joao Ger- son), a “unio € a reverberacto dos mistérios méximos da f€” (LG 65), a “coluna da fé ortodoxa” (Leto XIII), o “resumo das conexées de todos os Mistérios cristos” (CELAM), a “defesa mais segura da verdade cristol6gica” (J. Newman), a “miero-histdria da salvagao” (S. De Fiores), “todo no frag- mento” (B; Forte), ¢ poderfamos continuar. ‘As figuras marianas que os dogmas desenham possuem uma extrema “prenhez de sentido” tanto no plano mistico quanto no pastoral e ético- politico; nao, naturalmente, pelas figuras em si mesmas, mas pelo “arqué- tipo” vivo a que remetem, Atras dessas figuras o povo de Deus contempla uma pessoa queridissima ¢ fascinante, Com efeito, cada uma das represen- tacoes cristis da Virgem enfatiza um Mistérior + a figura da Mae com o menino representa a maternidade, o dogma mariolégico nuclear, testemunha da Encarnagdo redentora; «ada Virgem, especialmente na posigao de orante, representa Maria na atitude de total entrega a Deus e de plena disponibilidade a sua Palavray + a da Imaculada representa o momento inicial de sua vida: a da cria- tura que foi, desde sempre, “cheia de graca”, + © @ imagem da Virgem coroada nos remete a0 momento final de seu destino: a plenitude do Reino é Assunglo de Maria 2 céu om corpo e alma 5 Todavia, nenhuma dessas representacdes exprime de modo mais com- pleto o mistério mariolégico em sua quidrupla dimensdo como a da figu- a de Maria como Mulher do Apocalipse, E a sintese de todas as imagens ‘matianas: ela condensa em si o contetido dos quatro dogmas. De fato, ela representa ao mesmo tempo: # a Mae grivida do Messias salvador; «a Virgem livre e intocada, totalmente consagrada a Deus ¢ & sua von- tade; + a Imaculada repleta de graca ¢ santidade, vencedora do pecado; + e finalmente a Assunta exaltada e coroada, vitoriosa sobre a morte ‘Como s6i acontecer para o povo fiel, particularmente em se tratando da figura de Maria, fala mais a pintura que o discutso, mais a poesia que a rosa, mais o louvor que a rellexao, mais 0 amor que a razo. Dai a imensa potencialidade pastoral e social que encerra a figura de Maria na constru- Gao da historia, potencialidade essa que a Igreja de hoje, em seus pastores, tedlogos ou leigos, ¢ chamada a desfrutar com maior proveito. Tal potencialidade ¢ acrescida pelo fato de que a dogmatizacto dos ristérios de Maria, que foi em grande parte fruto do “senso dos fitis",teve, entre outros, 0 efeito surpreendentemente positive de aproximar a teolo- gia erudita da piedade popular e também de ajudar a superar o fosso entre 2 igreja hierarquica e a base popular do povo de Deus.© Como Mae, Maria revela uma capacidade privilegiada de reunir a ecuménica familia dos “fi- Thos de Deus dispetsos” (Jo 11,52). Uma vez mais, unida em torno da ‘Mae, cujo desejo maior € levar os fillius av Pai, pelo Filho e no Santo Espi rito, a Comunidade crista tem mais condigdes para ser fermento de liber- tagéo no seio da historia humana {62 Ci. G. Sél. Stra det dag marian op. et. p. 378

You might also like