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Coleg TEOLOGIASISTEMATICA chee TEDLOOCR ESTE ATICA ee (so somal ray a0 caret do rita Kat Ral Teun do savanen apo Jost Rama eget sina ai lose Ga Rubio Tioga de iste Esai ste 2c, i 2 corsa, Br sta hmana Rel de Cos Ear Sellen ‘Arve co Deus a ait maa As Toes Que Tea sistema ~ Pragectasatermanasy Fen S. Fea “en. ala fs tesioga sama ~ especies cata Facs ren shina os. A nsthi peia erecperad ce Seu db Nazard— Dos sides Pal, Jun Lis Seto Mateo panes ~ ope da et John Hat sa vid tm st Fa lark ist dpi ae rion ars aso cs, Pipe sla Mara a aco eA pai do una parpectve contempt Kalen Cove nea aetna Wilian Loewe xexlaga d pes Vit, mor aresuralpo sega Rel J. Blk sexo do mand 0 poeta ism de Dov atl I eel Bank ‘and isto ven, Apri extol rt soma Arto Btaln Tel tara Un eangeo” a oscar, Ca Roca Masao pr des Ita isin, Je Pana Marlo scat sipicad do Vig para Scie odors MB MARIOLOGIA SOCIAL O SIGNIFICADO DA VIRGEM. PARA A SOCIEDADE Cuovovis M. Borr, OSM Copyright © Padus 2008 iret editorial Paulo Bazagia Projeto orifice «produgso editorial AGWh Atos Gress Imagem da cpa 1r vatagso (2634-1634), Juan del Cato, Museu de Boos Artes de Sevtha Impresso eseabamento PAULUS ‘Dados internacionas de Catalogasio na Pubicog80 (CP) {Camara Braira do Lo, $825) of, Cldows ‘aii social: © sigiiado da Vitgem para a Sovedade /Clodave M Bol ~ So Fal aus, 2006. (esoga Sted) ogra Ise 85:34924704 1. ta Catia ~ Douina socal 2. Mata, Viegem, Santa ~ Cut ~ Aspects sociis 5 Mave, Vegem, Santa Teclogi 4. Miso da nea i Tu, Ste. 05.9065 co025291 Inices para catalogo sisterstico: 1. Mavi soa: Dina rts mor (© PAULUS - 2006 ua Francisca Cruz, 229 (4117-081 ~ Séo Paulo asi Tel: (1) 5084-3066 — Fax: (11) 5579-3627 uw paulus.com be ‘editoralpauls.com.be ION 85-349.24708 ‘Ao Paste Ignazio M, Calbia (t 6/2/2008), porter sido durante anos ‘espeitado diretor de Pontificia Faculdade “Marianum” de Roma; porter dado uma contibuigso fundamental a documentos marioligioos de primeicaordem como: @ Exortagéo apostoica "Maris cutus” (1974) de Paulo Vi. 0 balangoteolégico "A Mie do Serhor" (2000) da Pontificia ‘Academia Mariana internacional (PAMI) @ o "Dietbrio sobre piedade popular ltugie” (2002) da Congregao para © Culto Divino & 2 Discislina dos Sacramento; porter aberto na “Maranum” s cadeira de “mariclogia social” @ tevme conwidsdo, por primeito, 2 ocupss: por tudo isso @ ~0 que é mais ~ porter sido da Vigem "preecipuus erator”, como se diz dos Sete Fundadores da Ordem dos Servos de Maria sejathe desicado este trabalho come justa homenagem, Capitulo Potencial sociolibertador das aparicoes marianas 1. INTRODUCAO 1.1, Relevancia social do fenémeno das aparigoes ‘As aparicdes marianas ou mariofanias constituem auténticos “fatos sociais”: « pela afluéncia das multidoes, compostas de devotos, mas também de curiosos; « pela intervencao do poder piblico, objetivando manter a ordem ou "mesmo reprimir o evento ou até manipular o sentido da aparicio; + pela infra-estrututa de servicos que surge para responder as demandas das multidees que ai acorrem; « pela atividade econdmica que as aparigdes geram, desde 0 quiosque até o complexo hoteleiro; Marologia soil: significado da Vigem pata a Sociedade a * pela publicidade, que amplifica este fendmeno religioso, implicando toda a sociedade; * pela polemica que as aparig6es costumam levantar na opiniéo pabli- ca, envolvendo jornalistas, médicos, psicologos, juizes, politicos, sem falar nos padres, bispos e teélogos. Essas sfo algumas implicagdes sociais das aparigdes, implicagoes que dee senvolveremos no curso do presente estudo, Pois indicam que se trata de um {erémeno sociorteligioso de tal monta que nos pareceu merecedor de um trae tamento parte. As mariofanias néo receberam dos estudiosos, quer teclogos, quer cientistas da religiéo, a ateng&o que sua importancia merece. Cientistas da”, que é justamente a do catolicismo popular e suas aparigoes. Isso se deve a varias razdes. Os intelectuais, em sua maioria, tendem. a considerar as aparigdes como expressoes da irracionalidade, frequente- ‘mente frutos da crendice popular, eivada de fantasias e ilusoes. Essa € uma postura mental nem sempre isenta de preconceito, enquanto se fecha a admitir fendmenos que ndo entram nos cliches estabelecidos pela “ciencia convencional”, Particularmente, grande parte dos cientistas sociais ¢ inclinada a ver as aparigdes como fatos meramente subjetivos, ligados aos problemas existenciais € ndo aos sociais, sendo por isso, vistas como portadores de um efeito predominantemente individual. A “redugao ao social”, que metodologicamente operam, torna-os incapazes de perceber que a pto- blematica dos sofrimentos que afligem o povo tem raizes mais profundas que o plano meramente social, embora se articule concretamente com ele. Contudo, entre os antropélogos emerge uma geracdo que tenta superar a compreensao, reduzida ao social, dos fendmenos religiosos, em particu- lar das aparigdes, chegando até a valorizar a voz dos préprios sujeitos, mormente quando subalternos. Quanto aos agentes sociais, sejam eles pastorais ow politicos, incli- nnam-se a tratar as aparigdes como expressoes da alienagdo social ou de uma Posicao politica reaciondtia. Perguntam, irdnicos, por que nao aparece uuma Nossa Senhora “tipo teologia da libertaclo". Mas esses “entendidos 1.Ck. atic 8 antopolgia moderna, ocentalecoloilista que fz Ténia Mare Compos de Amoi \ozes da mie do sisi. A apansio da Vigem Maria am Pledode dos Gerais (MG. So Paulo, CNPa) Pronewttr, 2003, p. 164-167, Tese de doutorado em anvopolgia pea Universidade de Gosia, sociais estudam o “pais profundo”, mas ainda muito pouco a “igreja profune Poteca socoiberad: das aparigdes maianas em estratégia e titica” nem sequer desconfiam do aspecto politico-pedago- gico que esta implicado na apari¢ao, em particular, da “condescendencia” que 0 divino usa quando entra em comunhao com o humano. Sucede, assim, que a estes “especialistas em educacéo e método” acaba escapando por completo o alto potencial conscientizador que lateja nas manifestagses da religido popular, inclusive nas aparigdes, como tentaremos mostrar, Sem diivida, cada uma das posigdes acima contém seu grdo de verda- de. Acertam no detalhe. Pois h4, sim, ilusdes e imposturas que cercam as aparigdes e constituem até a natureza de muitas delas. E, ha, também, usos manipuladores das aparig6es, mesmo quando auténticas, como a historia sobejamente mostra. No conjunto, porém, ¢ especialmente a respeito das “grandes aparicdes", a intelligentsia gnéstica labora em engano. ‘Neste capitulo, nos limitaremos a analisar a relevancia social das apa- rigdes, particularmente seu potencial sociolibertador. Incluiremos af as peregrinagdes que tais aparigdes provocaram, os santuatios que fizeram surgir, assim como as obras sociais que se desenvolveram a partir dos mesmos santudrios.? Nao nos deteremos em estudar 0 ntimero e as caracteristicas das varias aparig6es.3 Também nao discutiremos os critérios de autentici dade das aparigées, que daremos por pressupostos. 2.Ci. Stolano Roseo, “Poregrinagéee", in: Stofano De Fores @ Savatere Meo (i). Dicionio de me rologia, S80 Paulo, Paulus, 1996, pp. 1.031-1,052; em particular, pa as peregrinagbes 20s santos maranes: pp. 1.046.047 81.048, 3. Para esta questéo, cl. Gothied Hierenbexger e Otto Nedomensky. Tutte le appariion’ della “Madonna in 2000 anni ai stora. Casale Monfarate, Pomme, 1986, referindo-se 8 896 apericSes; Eroasto N. Roman, Aparicées do Nossa Sonhors. Suas mensagons e sous miagres. Séo Paulo, Pou- Tings, 2001, deserevendo 79 sparigées; da perlolsta catdies laiga e citica Mera Anette Colin- Simard: Las aparicones dof Viger: eu historia. 29d. Mas, Palabra, 1998, Colegdo Aad; Syvio Barna. Les apartions de le Verge. Pais/Monirél, CerfFides, 1992. Para as aprigdes madiovais, ct ‘2 tose académica da mesma autor: Le ciel sur ia tere. Las appaions de la Varga 2u Mayen ge, Pars, Cer, 1999. (Tradupio italiane: Spacchio del ceo. Le apparsio’ dalla Vergine ne! Medioevo, Marit 1820, Génova, 1998, Ha cinco rovstas que ratam regulrrante das eparigoes maranas: I ‘segno del soprannatuale (alana, Stolle Moris @ Chvévens Magezine wancesss), Mare menssjora (espanhol)@ Das Zeichen Mavens (sual 4. Para. questo de sutonticidade, cf. CNBSICED. Aparipdes¢revelacdes particulsres, Séo Paulo, Pau- lina, 1980; Monso Murad. Visdoso aparides. Popol, Vozes, 1997; René Laurentn.“Aparigbes”, in: Stfano De Fores e Salvatore Meo (dil, Dion de merilog, op ct. pp. 115-128; e especial ‘mento do redotor da. Cité Cattolica, Giandomenico Mucci Rivlaion| private 9 apparizion. TurivRome, led Cvs Cattle, 2000, com co apéndice de fonts. Segundo 8 CNBB, op. cit Fp. 5254, so estes os crtérios da autonticidade das apaigdes: (1) sanidade mental dos videntes; (2) ostura bea dos mesmos em termas de humldade, cbediGnca ete, (3) ortodoxia de mensagem; 14) 0 ruos de ronovacdo cit, quo 6 o criti principal Marolgia soil: 0 significado da Vigem pare a Sood aM Por outro lado, damo-nos aqui por advertidos do perigo de, induzie dos pela “tese a demonstrar”, ceder & mera apologia, exaltando unilateral mente a importancia social dessas manifestagSes populares, e eludir seus limites e ambigttidades. Por isso, em vez da uma abordagem polémicg. apologética, tentaremos adotar aqui uma sintético-dialética, que possa dar conta da totalidade dos aspectos, mesmo se contraditorios, relacionados com as aparigdes. 1.2. As aparigoes: filhas da crise significado sociale politico das aparigoes emerge jé do fato de que se dio geralmente em sociedades as voltas com situacdes problematicas, Quem diz aparicao diz crise. Isso € particularmente verdadeiro para as ‘grandes apari¢des.5 Na Idade Média ndo era s6 a Virgem que aparecia, mas também Cristo, Anjos ¢ Santos. Mas desde o século XIX, quando a socie- dade moderna comecou a sofrer uma crise depois da outra, iniciou-se tam- bem a “era das aparigdes marianas’ § A relagio aparicto~crise esté latente ji numa visto teologica das max tiofanias. De fato, quando a Virgem aparece € para prestar socorro numa situacio dificil. Em fungao disso mesmo, Ela se apresenta sob varios titu- los e fungées: + Ela € a Mae misericordiosa, que se preocupa com o destino dos filhos. ¢ filhos e se apressa em ir ao seu encontro, quando estao em perigo; * €a Mediadora poderosa, que, viva ¢ gloriosa junto de Deus, intervém em favor da humanidade sofredora; * 6, enfim, a Serva, que colabora intimamente pata a realizacto dos pla- rnos de Deus na historia, ‘5, Paraas grandes aparigdes, © sau contexto do crise elim dos los supa cf Ingo Swann. As rane des aparicdes de Maria, Sio Paulo, Paulinas, 2001, ira para 0 grande plea. (Original america: ‘Nova Yk, 1808) 6.Cr. Caro Bali. “Aporaciones marinas an los sglos XIX XX", in: Raimondo Splaci eit). Encci- ‘peda mariana "Theotokes”. Madi, Stadium, 1960, pp. 240-258. CI. também Sandra Zindars Swat Encoutering Many. From Le Seltte 10 Mediugoe. Nova York, Aven Backs, 1962, Para as atuas ape ‘igbas de Marie no Bras, cl. a bibiograia da Cares A. Sti. "ApargGes contempordneas @ 9 catie- ‘matismo eatéieo’ in: Pere Sencis (org. Fis cideddos: Percursos de snaratmo no Bras iO {de Janeiro, Ue, 2001, pp. 117-146. 0 documento da CEDICNBS, Aoaries e revelogdes parca: £25 op Gp. 28, conta dos cnc casos mais conhecdos do apangdes maanas ro Basle inde cade ainda outros. Poterilscoibotadr das aparigdes malanas Eis a seguir um breve quadro do contexto socialmente critico em que ocorreram as apari¢des reconhecidas pela Igreja.7 * Guadalupe (1531) surgiu apés a conquista do México por Cortez, quando os indigenas se encontravam militarmente vencidos, social- mente esmagados, enfim, em estado de destruigao fisica e cultural. Era também o tempo da primeira evangelizacao do continente, a qual iria gerar a maior cristandade atualmente existente. + Nossa Senhora das Gracas ou aparicao da Medalha milagrosa (1830) se situa no contexto da Revolucdo de Paris, que pds fim monarquia dos Bourbon e instaurou 0 governo democratico-patemnalista de Luts Filipe de Orléans. Grassava, ademais, uma grave crise econdmica, contra a qual reagia um movimento operirio em decidida expanséo, Além disso, o ano de 1830 assinala a expansio do colonialismo frances em direcao a Afti- ca (Argélia etc.) e a0 Extremo Oriente (Indochina etc.) « Salette (setembro de 1846) ocorre num tempo de agravamento da crise econdmica e a0 mesmo tempo de radicalizagao do movimento operatio, propiciando, dois anos depois, o langamento do famoso Manifesto do Partido Comunista de Marx e Engels. E também o tempo conturbado que preparou a Revolugdo de 1848, a qual pos fim a monarquia dos Orléans, inaugurando a Il Republica ‘+ Lourdes (1858) ¢ precedida pela aventura militar da guerra da Criméia (1854-56) por obra do autoritario Imperador Napoleao III. Contudo, © contexto maior € o grande conflito que opés o papado ea catolici- dade em geral a filosolia das luzes, que dominava o cenério cultural europeu, com seu culto a razao e a ciencia.® * Pontmain (janeiro de 1871) tem por contexto imediato 0 avanco, sobre o territério francés, das tropas alemas. A Franca tinha amargado a capitulagao de Napoledo III frente Prussia (1870) e se encontrava as vésperas da Revolucao da Comuna (marco de 1871), que iria aca- bar em banho de sangue, vitimando o préprio bispo de Paris. 7. Para o contento sci ds gendes seres, cf. George H. Tavard. As mati faces ds Vigem Maria, ‘io Paulo, Pauls, 1858, p, 36237. Para contest social eutal do um nimero muito maor de epa- 605, cl. Yoes Chien. Enguéte su les apparitions de le Verge. Pari, PeieyMarnmo, 1855 também Joa- Chim Bout ePiippe Bou. Un segno nel cela Le appar dele Vong, Mex, 120, nove, 198, (Otis rene: Un sine dons fe cit. Los apzaitons do e Verge. Pt, Gaseet & Fesqusles, 1997) 8. Cl. Rend Laurentn. Lourdes: Cronaca un mistoro, Milo, Mondadori, 199, especialmente o“Pré- logo", pp. $22. Este lio sinteiza os 6 volumes de: Lourdes: Histoire authentque des appariions Pats Lethioteux, 1961-1968, © que custou a autor 20 anos de tabaho, 55 Mariologia soca: O significado da Vicgm para a Sociedade 5h *+ Fatima (1917) da-se em plena guerra, a I Guerra Mundial, em seu ano mais dificil, ¢ as vésperas da Revolugao Russa, que iria determinar em seguida os destinos do mundo. © catolicismo em Portugal passava pelas duras provas que Ihe infligia um regime anticlerical, e a socieda- de portuguesa amargava uma grave crise sociale politica ~ situagto que levaria ao golpe de Sidonio Pais no fim do mesmo ano das aparigdes.9 + Beauring (novembro de 1932) e Banneux (janeiro de 1933), na Bél- gica, surgem no contexto dramatico da “Grande Depressio” (1930) Ro momento em que Hitler iniciava uma carreira ideolégica, politica e militar que iria desencadear a Il Guerra Mundial. 1.3. Ondas de aparigdes na historia moderna Alem disso, a histéria sociorreligiosa moderna registra contextos mais amplos de crise social e religiosa, proprios para suscitar “ondlas de apari- des”. Eis aqui algumas ilustracées: * O periodo que segue a Revolugao Francesa, a qual espezinhou a reli gido 0 quanto pode, € marcado por toda uma série de aparicoes, incluindo as da Medalha milagrosa. Através dessas apari¢Oes 0 povo cristao desorientado faz a experiéncia da presenca da Virgem como a Consoladora dos aflitos e a grande Mediadora nas dificuldades.10 * Igualmente, apos a Revolucdo de 1848, sucedem-se varias mariofanias, en- tre as quais as de La Salete, $6 no histérico ano de 1848, contaram-se nada menos que 47 delas. Seu sentido social pode ser definido como a “desforra ddos humilhados” frente a sociedade republicana laicista e burguesa.!1 + Taubém depois da humilhante derrota da Eranga frente a Priissia, em 1870, ocorrem muitas aparigdes de Maria, todas elas apresentando um carater apocaliptico, com previsto de cataclismos, caso ndo se dessem as mudangas pedidas pela Virgem.12 8. Dos apaigées dle Fatima, em seu significado social tatremos, per longum et per ltum, no prose mo capt, 10. i. J. Bouflot« F. Bouty. "Dapois ds Revolugéo ou Nossa Senhora dos Afitos*, in: Un segno al eo, op. ct, pp, 109744, 114. dom, pp, 160-163, 12, idem, pp. 187-229. Fotecia sooitertadr das aparigaes maronas + Como conseqiiéncia da Depressio de 1930, surgem na Bélgica nao ape- nas as aparigbes de Beauraing e Banneux, mas outras 20, ¢ isso s6 no ano de 1933, o que ja configura uma espécie de “epidemia do maravilhoso”.}? Depois da Il Guerra surgem, por entre seus fumos, muitas visoes da ‘Virgem. E uma nova “epidemia de aparicdes’. Desde 1945 até 1955, exclusive, so nada menos que 140 aparicoes marianas.!# Frente @ essa onda do maravilhoso, 0 Prefeito do Santo Oficio, 0 cardeal Otta- viani, achou por bem publicar, em 1951, a adverténcia Siat, crstiani, @ muovervi pitt gravi ("Sede, cristaos, mais graves em mover-vos”).13 + Por causa da perturbagdo que sofreu a piedade popular no pés-concilio, forma-se entdo uma nova onda de mariofanias. Varias delas ostentam um carater anticonciliar, como as da "Mamma Rosa", em San Damiano (Pia- cenza) desde 1964, ¢ as de Clemente Dominguez (autoproclamado depois Papa Gregorio XVIUD, em Palmar de Troya, perto de Sevilha, des~ de 1968, Ambas foram sementeiras de uma série de outras aparigdes, que nas se inspiraram em seu discurso hostl as reformas do Vaticano IL16 + Em nossa época pés-moderna, que, além da crise econdmica, vive uma crise aguda de sentido e de valores (niilismo), a Virgem continua apa~ recendo.17 Por sua fama e por seu carater tipicamente pés-moderno, 18. dam, pp. 274-278. 14, Ibidom, p. 374. Os autores intitulam o respective capitulo: “Apargdes numa igrea om crise” (9p. 371 855), 6 para compsrar esta nimero (140): do 1917 a 1939, prmeito ano de “epidemia de pergdes". as anarigies marinas form , menos ca metade daquele numero depois de 1955, dt ‘mo ana de “epidemia", a 1962, as apargdes caam para 30 para ressurirem, em nova onda, no POS- Conelio. Ce nim moncgraico seb apangbes em Cahiors Maas n.7, 1971, pp. 988: "Dossier {ae epargées ntoreconhecides”, dando\a tnt de 106 operigdea néovecenhecisas (cor "do negative” ou “ser deciso"l, no peredo 1831 8 1970 18 In: LOssensatore Romano, 4,2, 1951, omando de emréstimo um verso de Dante, Divina Comd= a, Paraiso", 73,0 passo relerido continue ass: "Non sate come penna ad ogni vent, /E non Crediate eh’ogn aequev lav. /Avete i novo @ I veech Testemento,/E pastor della Chiesa che vi uid: / Questo vi bast 2 vostro salvamento™.("NBo seis como plums a qualquer vento, / E n80 Cuideis que todo qua vos lve. /Tendes 0 nove wo veto Testament, Eda lari o pastor para guia vos: /A vossasalvacho isto bastante") (vv. 7478) 16.4. Boutlot P Bouty. Un sogno ne cielo, op. cit, pp. 417-827: para Sdo Damiano; pp. 434-866: ora suas sucutsais, lvando o titulo: “San Damiana, © vaso de Pandora des eparicdas": pp. 462- 475; para Palmar do Toya e suas “flais" do Lo Fréchon (1877) e de Satonney (1978); pp. 413-417 1 424: para as aparigbes de Garabandal (desde 1861), quo também levantarem cries &hierarqui. porque teria perdido © bom caminho,« uj autenticidade, contud, a lreja deixou em abert. 17,.De 1970 8 1996 contam-se em tomo de 102 aparites merianas, segundo cilaos de J. Bouflet 1 Bouty, op. cit, p. 447. No sécula XX sto mais ou mencs 400 2s aparigbes marianas conhecides ‘Atwalmente ocexiem pelo mundo dezenas desses aparigdes, a maora sem garantia de avienicidade. Sa Mariologia soca: O significado da Virgom par a Sociedade ‘it merece destaque a “Rainha da paz” de Medjugorje, que suscitou tam- bem suas “sucursais’ ¢ entendeu levar 20 mundo uma mensagem de consolagao e de esperanca. Voltaremos a ela mais adiante. 1.4. Aparig6es: nao sé reativas, mas proativas Contudo, as aparicoes, pelo menos as reconhecidas, nao s4o apenas “reativas” frente as circunstancias criticas, as vezes dramaticas, em que ccorrem, mas sto também proativas, criadoras de sentido e de vida. Cum. prem um papel de critica profética aos “males do tempo”, como aparece com clareza em Guadalupe, Lourdes e Fatima. Nao se ocupam com a “pe- quena politica”, feita de tendéncias menores e de intrigas partidarias, mas com a “grande politica”, aquela que define as poderosas orientacoes que conformam o destino de toda uma época. Esse é 0 sentido fundamental das aparigées tomadas em seu conjun- to, pelo menos das reconhecidas pela Igreja. Em Guadalupe, por exemplo, © que estava em questo, como vimos, era a emergencia de uma nova cris- tandade, Em Lourdes, era a afirmagao do sobrenatural e 0 poder da graca, contra as pretensdes totalizantes do racionalismo moderno,"# Em Fatima, era 0 atetsmo sistematico e, mais largamente, a sorte do Ocidente ¢ a sobrevivéncia da humanidade, ameacada de sogobrar num conflito bélico, como veremos melhor no préximo capitulo. As apari¢des constituem uma real alternativa tipicamente popular a pro- blematica social existente. Tal alternativa é popular” em varios sentidos: * no sentido do sujeito: impulsionado pela visio da Virgem celeste, 0 Povo assume, por conta propria, a solucao de seus problemas; * no sentido de uma resposta “no jeito do povo": este reage cuticreta mente & questdo social segundo seu eédigo cultural, que € predomi« nantemente religioso e, em particular, mariano; * no sentido de suas possibilidades histéricas: 0 povo responde A sua problematica social segundo seu “grau de consciéncia posstvel”, cons- ciéncia essa que ¢ predominantemente religiosa. 18. CI, Jean Hono. “Aparitoni vere e flse" in: G, Muci.Rivelazion’ private @ spperidiony, op. Git, pp, 168-170 (salu também no LOsservatore Romano, 16/11/1986). Diz af que Lourdes, bam como 0 Cura de Ars @ Santa Tereinhs, so os 8s desmentidos do céu em rlagso ao racionls- ‘ma madera, Poti seteator dos aariges marinas Todavia, € preciso aqui alertar para o perigo de julgar uma aparigao exclusivamente pela bitola social e politica, Na verdade, ela transcende essa medida, por tocar as quest6es relativas ao destino do homem e ao pla- no de Deus na histéria, Portanto, o enfoque sociopolitico que se faz sobre uma aparicdo sera apenas o recorte de uma realidade mais ampla e mais alta, que ultrapassa a apreensio sociopolitica, permanecendo, contudo, como sua tela de fundo. Importa, por outro lado, reconhecer que nem todas as aparigdes sao respostas criativas ¢ libertadoras as situac6es allitivas e conflitivas que 0 povo vive. Muitas delas, particularmente as que nao mereceram o reco- nhecimento da Igreja, nao passam de ilusdes subjetivas e até de impostu- ras objetivas, adrede montadas. Além disso, as proprias aparicées auten- ticadas pela Igreja podem ser — como foram muitas vezes — utilizadas na historia para fins contrarios as suas intencdes de origem, que eram basi- ‘camente libertavias Que as grandes aparicdes marianas constituam respostas que afirmam. € promovem a libertacao do povo € a tese que em seguida queremos expli- citar e comprovar. Numa primeira parte falaremos dos beneficiatios das aparigOes e sustentaremos a idéia de que as aparigdes se dirigem especial- mente aos pobres e visam sua emancipacdo, também social. Na segunda parte trataremos da mensagem das aparicdes e delenderemos a ideia de que tal mensagem ¢ capaz de despertar o povo dos pobres para que asstt- maa direcdo de seu destino e se comprometa com o ideal de liberdade e de justia no mundo. 2. A DIMENSAO LIBERTADORA DAS APARIGOES MARIANAS QUANTO AOS SEUS BENEFICIARIOS A questao dos destinatarios das mariofanias envolve multiplos aspec- tos sociais: a situacdo de classe de seus beneliciarios, tanto videntes como devotos, seu carter multitudinario, as curas que os peregrinos buscam e obtém, a intervencdo do poder de ordem e de repressto do Estado € enfim a rede de obras sociais que surgem em torno desses fendmenos. ‘Veremos como as aparigdes contribuem, em todos esses niveis, para pro- mover e libertar os pobres. 5 Marologia social: 0 significa da Vigom para a Sociedade 2.1. Aparigdes: expressao da “opgao preferencial pelos pobres” E um fato que a maioria das aparigGes marianas tem como destinata- rios gente humilde e pobre. Isso vale principalmente pata as oito aparigoes reconhecidas, que, de resto, pertencem todas a época moderna e sao bem. documentadas: * € um velho indio, Juan Diego, da classe dos servos ~ em Guadalupe; + €a jovem e inculta postulante, de pais camponeses, Catarina Labouré — para a Medalha milagrosa da Rua du Bac (Paris); + €amenina Bernadette, analfabeta, enfermica, filha de um moleiro pau- pérrimo, que mora na velha cadeia, desativada por insalubridade — em Lourdes; + so 0s pequenos pastores Melania e Maximino — em La Salette;!9 * 80 quatro meninos roceiros ~ em Pontmain;2 * sao trés pobres e toscos pastorinhos — em Fatima; * sdo cinco criangas de um obscuro lugarejo belga ~ em Beauraing; © € Mariette, menina ignorante, filha de um operario nao praticante = em Banneux, Alem disso, a Virgem se adapta & consciéncia dos videntes, inclusive a sua linguagem. Fala valo em Banneux; em Fatima, portugués, certa- mente com sotaque de lé; em Guadalupe, nauatl; em Lourdes, 0 diale- to dos Pirineus e assim por diante.21 Ora, isso tudo ja mostra que Deus, através de Maria, leva adiante a légica que presidiu toda a historia da salvacao: a escolha preferencial pelos pobres. Sao eles os confidentes 18. propio, Léon Blo, autor de Aquols que chara, escroveu com sua conhecide verve: "Fl um pate {de reconcilagso onto @ Daminsdora dos Céus¢ aqueles impercaptivets seis humanos, races ste © ‘taco daquela montane desconheid, pols quis @Exatadora dos humidestnhaqueriso que Nagi 1 Como se ve, o céu tem preferéncias, mas no exclusividades. Mesmo assim as aparigoes que provocaram maior impacto religioso e social foram, inegavelmente as que tiveram como destinatario os pobres. Elas sto a demonstragao cabal da “opcio preferencial” de Deus pelos pobres através da Santissima Virgem. Tal € 0 dado fundamental que deve aqui ser desta- cado ¢ firmemente retido. Ora, esse simples fato comporta ja um potente significado sociopolitico. Se a Sociedade nao valoriza os pobres, mas, ae tes, os despreza ¢ exclui, a Mae de Deus, pelo contratio, os escolhe como protagonistas de seus altissimos planos ¢ como seus mensageiros privile- giados frente ao mundo. 2.1.3. Objegoes: meras ilusGes ou apenas visdes! Aqui precisamos responder a duas objecoes que cientistas sociais € ilitantes costumam levantar contra as aparigdes e sua relevancia social. A 30. Cf, J. Bouflet P. Bouty. Un sogno nel col, op. cit pp. 425-426. Pe op. cit. pp. ata spariggo da Vigo {Ped Deco rad Pinto. As eprips de Nossa Senhora Virgem de Pod Nite 8, 31. Para estas aparigdes cl. J. Boulet © P. Boutry, op cit, p. 192-198: para Ratisbone: pp. 328-328: are Ale Blanco; e pp. 385:307: para B. Comnachicia, Poni sailed das aparigdes maianas primeira concerne ao fato de que se trata ai muitas vezes de vis6es pouco garantidas em sua autenticidade. Deve-se, contudo, observar de inico, que isso s6 € relevante do ponto de vista teolégico, nao sociopolitico. Ficando nesse tiltimo nivel, o que interessa é a fungio social e o efeito objetivo das crencas, embora estas possam ser, no limite, produtos da ilusto. Efetivamente, a Igreja mesma nao garante a verdade factual das apa- rigdes e de outras piedosas tradicoes (reliquias, imagens, lugares sagrados etc.), mas apenas seu sentido religioso e seus frutos espirituais, pois os fatos, sendo meios, sao relativos, enquanto que a referéncia ao mistério, sendo o fim, € o absoluto.32 O historiador sabe muito bem que a hist6ria estd cheia de ilusdes que tiveram efeitos transformadores e mesmo revolu- cionérios. De resto, a historiografia moderna reconhece a importancia do *imaginério” na sociedade e é precisamente neste campo que, do ponto de vista rigorosamente sociol6gico, situam-se as aparicdes. S6 uma mentali- dade veteropositivista no enxerga isso. ‘A segunda objegao diz respeito ao desnivel que existe entre as questoes sociais (reais) ¢ as respostas religiosas (simbélicas), dadas pelas aparicoes. Pois, enfim, a libertagao social do povo nao se resolve com vis6es! A isso ha que responder que, sem dlivida, uma apari¢do nao é por si s6 suficien- te para a tarefa da transformacio social. Mas ela possui em si um potencial de inspiracdo que se desenvolve com o tempo e, por outro lado, pede naturalmente mediagbes sociais concretas para se realizar. Eo que mostra claramente a histéria social da devogdo mariana que estudamos e de que demos, como exemplos paradigmaticos, os casos de Czestochowa e de Guadalupe. E inegavel que estas, apesar de originaria- mente espirituais,tiveram, sobre a hist6ria, um altissimo impacto cultural, social, politico e inclusive militar. 2.2. Concurso de multidées ‘As aparicdes exercem sobre o povo uma vis attrahens. Nenhuma figu- 1a religiosa do Ocidente arrasta mais gente atras de si do que a Virgem Maria. Isso se observa principalmente nos santurios marianos, ligados em 432.1. R. Laurentin.“Aparigdes in: S.De Fores eS. Meo (). Diora de marilogia, 0. p. 121 Por exemplo, nfo 6 porque alee no gant 0 fato de apaich de Maria, ands viva, a S80 Tago. que {35 peregrnagSes 2 Compostela perdem seu sentido, Acresoentemes, prs, que, rormalmente, mes nom sempre, a verdade da oferéncia ao Mista prossupSe a vrdade do fo da metiegso relics fs Mariologia soca: 0 significado da Virgem para a Sociedade ol geral a uma aparicao.23 De resto, a afluéncia de “grande niimero de fiéige €um fator que faz parte da definicéo canénica de santuario.24 4 As vezes a mobilizagao popular esta ligada simplesmente a uma ima: gem mariana tida por milagrosa. E o caso de Nossa Senhora de Nazaré, ng {oz do Amazonas. Sua festa, o “Cirio de Nazaré”, no segundo domingo de Cutubro, retine, para a prociss4o, mais de 2 milhées de peregrinos de toda. aquela vasta regido 35 ‘33, Par 9 questo ds satus, Comité Cental para ol Ao Matieno 1968. {1967 in: Les Santuarios. Cuadernos Phase 127 tezendo meis doe documer bro «pastoral dos santos om ger Sane satu. Att di prsonag edt heal cle to Mio, Comagnia Generale Edtarale, 19731960; Benvanuto Angelo Saggiorats La Moco ca 220 pit cole santuarimerian Teraglone di Vgocarzene, Caronie, 196, descrevende 199 cay Gluseppe Besuti OSM), Senter epolegrneg nals pet) marian Ro Laterrense, 1982 lexrado da revista Lateranum 1 {ques Usbos, Unio Gia, 1967, pp. 123124. Esse dovondolom uma het catcede de encen ‘A equena imagem (28 centimetos) da Vagem de Nera tra so oscubi por S80 José @ page a Sto Lucas, Durante @persequigdo do Imperedo Jan, © Anta, ara sido salva polo pong Sisco, que» eniepou a Si Jerfnimo e este a Sento Agostino qual a mande prac moctateeaee hol de Coulon,parto de Mério, Dal, em 714, o mange Romane, junto com o edo godos, Rosipg, {indo des ours, leva imagem para a Estremadura portuguesa, unto co mor, escsraentere nig scobea por pestres. Aconteceentso o mlare que fia sear eu dos {ais as homenegens da Guarda de hone da Policia Milar Em 2004, 0 “crs” ‘mentos do patinni imetaral do cutura naciral, Coma se vd. a imagom © a festa calvegor um {espesso e varido significado socal (cultura, pallico, econdmico ete). Pare todas oseas infonugtes, “Cie: as imagens da 16" in: Nosso Pad Belém), 4, 1999, nimevo monogdfieo Cl tambern d= ‘sertago de mastrado om antropoegia de Isdoro Ales: O carnaval devote, Um estudo sobre a festa do ‘Nazar, em Belém. Petspos, Voz, 1980. Colacbo Anvepologa 122, Putucial socoibetator das apariges marianas De fato, as aparigdes costumam envolver multidées. Os santuarios a que dao nascimento sao ponto de encontro de milhdes de pessoas, como os de Guadalupe, Lourdes, Fatima, Aparecida, Pompei, Medjugorje etc. Constituem assim auténticos “fendmenos de massa” 36 Deve-se também notar a existéncia de santudrios marianos de indole “nacional”, como o de Guadalupe, de Jasna Gora, de Fatima, de Apareci- da etc. Af, como se lé na Redemptoris mater, “nao apenas individuos ou grupos locais, mas nacOes inteiras e continentes buscam o encontro com a Mae do Senhor” (n, 28,3). E mister, contudo, reconhecer que os peregrinos dos santuarios so, em sua grande maioria, pobres. Dissemos “maioria”, porque € evidente que nao-pobres também freqientam os lugares de aparicao e os santua- Tios. Para ai se ditige o povo em geral e qualquer um. Os peregrinos sao “todo o mundo”, sem distingao de qualquer ordem. Hé entre eles inclusi- ve nio-cristdos e mesmo ndo-crentes, quando nao meros turistas 27 Mais que a categoria “pobre” é a de “necessitado” out de “sofredor”, que explica por que qualquer um, inclusive o rico, também frequenta os santuatios, Nesse sentido, pode-se dizer que o sofrimento ou uma privacao qualquer, por representar uma forma de pobreza, aproxima o nao-pobre do pobre socicecondmico. Quando, por exemplo, o rico est com um cancer, encontra-se numa situagdo de necessidade e abandono andloga a 36. Estmatives fidedignas, de 1982, dadas por Sanda Deo: Fis’ pllogrinagg, in: I RegnosAtue ta. 20697, 38, 1/1/1908, p, 60, dav os seguitosindicas anus ~ ara Apareida, 6 mihdes de perogrinos para Lourdes, 5.5 mihoes; ~para Czestochowa, 4.3 mihoes: = pare Faia, 4 mihoos: = pa Loreto, 35 minoos; =Para Medjugor, 1.4 miso, contand sé 8s comunhes iso er 19901; = ara Altting lemanhel, 1,2 miso, Na lista aca do Regno no 6 caus Guadalupe, que certamente 0 santo mes reqbentado do ‘mundo, atreindo de 10. 15 mihdes de pereginos. 0 santuio marano de Ponti, ra Bretanha, tom ume aluéncia msis modesta: 300 mi peregines. Ingo Swann, cp ct major os némercs ed 20 i "hoes pare Guadalupe © pore Fatma a 15 mites para Lourdes, Qura pubs, rangois de Muizon, Enquéte suri pit des foues. La force des sanctuavas, Pac, L.A, Prin, 1998, p. 16, dé. os nimeros 0s santusios maranos da Franga que araem mais de 1 mio de peregrinos por eno (cémputos dos ‘meados do 1000: Notre-Dame de Pars: 10 mioos (om grande parte, tures: Chartres: 2.3 miles Focamadour iLot 1.5 mihio; Nossa Senhora do4s.Geee (Marsala: 1,5 mihio, Capele de Nossa Senhora da Medalha Miagrosa Pai): 1.2 mihgo; Nossa Senhora de Fourie (Lyon: 1 muihSo, 37. Quase metade (44%) do turismo cultural na Franca consste em vistas 8 lugares religiosos:F. do Mazon, op. it, p. 191 fi Motolgie soil: O significado da Vigem pare a Soredade de um pobre em sua pobreza real. Pode-se dizer, € 0 emblema antropol6gico de todo ser humano ‘te e mortal. E significativo que, entre os peregrinos, hoje, encontram-se muitos Jovens. Foram quase meio milhao em Lourdes, em 1996.38 Existem af até ‘mesmo peregrinacdes especificas para jovens “motoqueiros". Por que esse fendmeno? Por causa da crise da modernidade, em sua fase extrema (cha- mada também de “pos-moderno’) ~ crise da qual precisamente os jovens s4o 0s principais portadores e ao mesmo tempo suas maiores vitimas, Ag novas doencas psicol6gicas hoje tém um forte traco existencial: vazio de valores, desorientacio, depressio etc. Daf, em reacdo, 0 interesse dog Jovens por esses lugares privilegiados do sagrado, que surgem como fon tes de sentido e de energia vital.39 Seja como for, porque arrastam multiddes de peregrinos, as aparigdes sto verdadeiros “fatos sociais’, ainda que de cariterreligioso. E preciso, contudo, reconhecer que se trata de massas especificamente religiosas, pois sua forca de coesio é justamente a fé catdlica, no caso, a piedade para com a Mae de Deus. Sa0, em concreto, 0 “povo de Deus” em visita a stia ‘Mae, Senhora ¢ Intercessora. Do ponto de vista estritamente sociopolitico, ‘no constituem “massas organicas", mas “massas informes”, feitas de indi. viduos — atomos sociais que, além da fé fiducial, s6 tém em comum a situagdo de necessidade e sofrimento, e nao um interesse social coletivo ou um projeto politico partilhado. Esta especificidade socioldgica das massas de peregrinos poe também um limite pratico aos que entendem mobiliza= las em termos de pastoral social Alem disso, essas multidoes sio filhas dos tempos correntes, que s80, Por um lado, individualistas e, por outro, desejosos de comunicagdo, desde que livre € solta. Ora, os santuatios sin higares em que esse indivi dualismo em busca de contato pode ser satisfeito. Nisso, esses lugares sagrados exercem uma fungo que é a um tempo teligiosa e social 40 assim, que o pobre real enquanto ser contingen- 38. F de Muizon, op. ct, p. 23 38. Idom, p62 40. "A fongao de acoida# escuta 6 tanto mais impocante quando vivernos numa Sociedade submets8 8m pals, rides @ clamores. Anecessidade de poder flora lgudm quo excute, do se epinin do loge & uma das carastersticas dos tempos em que vives. Deste ponte de vata, os santos fexercam no somente um pepel eclesal, mas uma verdadeafungio socil": moncentor Gari Matanrin, Le erides hommes d'avjourd ul. Pais, 1994: apud F de Muito, op. cite p96 Pencil suited das apaigbes mrianas 2.2.1. O segredo do poder de atragéo da Virgem Por que ha essa corrida “para ver Nossa Senhora” da parte da massa? E porque existe uma identificagdo moral e mistica profunda entre 0 povo ea Mae de Jesus. Como vimos no capitulo anterior, a imensa maioria do povo se espelha na simplicidade, pobreza e softimento de Maria. Ademais, os oprimi- dos sabem que, por ser me, o coragao da Virgem entende perfeitamente suas. lutas e dificuldades. Essa idemtficagao ¢ forte em povos medularmente maria- nos, como o polaco € o mexicano. Dai a imensa confianga do povo na gran- de Mae de Deus. O que n'Ela busca e encontra é, sobretudo, “protecao que, na verdade, se passa no mais profundo da relacao entre o pere- grino e a Virgem, € algo de impenetravel e que pertence ao pudor do mis- tério e a0 segredo dos dramas mais pessoais. Acontecem af confidéncias que nao se confessam sendo a propria mae. Pode-se apenas adivinhar que sente 0 peregrino no mais intimo do coracéo quando chega diante da imagem da Virgem, fecha os olhos em silencio, balbucia sua prece, toca, acaricia e beija a “santinha” Por outro lado, o que percebe a testemunha externa, seja ela um curio- so, uum antropélogo ou um padre, sto apenas as frases banais que o devo- to, quando interrogado, repete, ou os pedidos-clichés que registra nos “cadernos de oracées” ou “de intengdes", ou ainda os ex-votos estereotipa- dos que pendura nas paredes do santuario. Afinal, a dor, como a vida, € sempre igual e, contudo, sempre personalissima! A custo se pode entrever © sentido intimo de uma oferenda, do gesto de juntar as maos, de abrir os bracos, de ficar prostrado, ou ainda de se arrastar de joelhos diante da San- ta Virgem.? Esses segredos 56 os sabe Aquela a qual s4o sussurrados e, se pudessem falar, as flores que os devotos Ihe oferecem ¢ as velas votivas, “pequenos labios inflamados que deixam escapar preces luminosas” 42 2.2.2. Teologia dos santuarios: Maria, Templo vivo de Deus ‘Todavia, o que ainda mais profunda e secretamente arrasta os devotos aos pés da Virgem Mae ¢ o sentimento intimo de que n’Ela e por Ela eles podem entrar em contato com 0 Mistério de Deus e sua forca salvado- ra, Esta experiencia se explicita e se discerne na “teologia do santuario 41.0 especto "mistarinso™ da devocso dos peregrnas fei muito enfatzado, em seu contato vivo com 2s devotes, polo jornalstarebgioso F. de Muzon, op, cp. 160 passim. 42. Postca comparagio de F d8 Muizon, op tp. 174175, Matologia social: 0 significa da Vig para a Sociedade all Imariano’.* Segundo essa teologia, santuario ¢ sempre santuario de Deus, Quanto a Maria, Ela aparece como 0 proprio santuatio vivo e puro dy Divindade. Ela é a nova Tenda do encontro, a nova Arca da Alianca, esta. belecida entre Deus e a humanidade. Isso se pode depreender dos proprios textos biblicos, especialmente dlos relatos da Anunciaglo e da Visitacao, Primeiro, quanto a Anunciagao, assim, como, no deserto, a sombra cobria a Arca na Tenda da reuniay (ef. Ex 40,35), assim também, na Anunciagdo, o “Poder do Altissimo cobriu com sua sombra” fecundante 0 novo tabernéculo do encontro, 9 corpo da Virgem nazarena (Le 1,35); e ainda: como outrora o “Senhor esta. va no seio” da antiga Sido (cf. Sof 3,14-17), agora “o Senhor esté com* Maria (Le 1,28) e € mesmo “concebido em seu seio” (cf. Le 1,28). Agora, quanto a Visitagao: como a Arca subit a Sido e fe2 Davi exclac mar: “Como poderd vir a mim a Arca do Senhot?" (25m 6,9), assim tam. ‘bem Maria entrou na casa de Isabel, enquanto esta exclamava: “Donde me vem que a Mae de meu Senhor venha a mim?" (Le 1,43); e, como a Arca da primeira alianca “ficou trés meses na casa de Obed Edom de Get ¢ 9 Senhor 0 abencoou e a toda a sua familia” (2Sm 6,11), assim também, a ova Arca, Maria, “permaneceu cerca de trés meses com Isabel”, santifican- do-a, a seu filho Joao e a todos os seus (Le 1,56). 2.2.3. Clima de festa das peregrinagdes marianas A verdade de que Maria é 0 verdadeiro Templo onde se pode encon- trar Deus ¢ sua graca € vivida e experimentada pelo povo cristo a partir de seus sensus fidei, muito mais do que propriamente conscientizada e ver- balizada, Talvez esteja af a razdo mais secreta do clima de festa que cerca as peregrinacdes aos santuérios da Mae e Rainha, Com efeito, desde a sua Dreparacao, o povo vive uma excitagao imeusa. A emogao cresce a medi- da que se chega ao santuario, explode na visita a imagem da “Santinha", que ¢ tocada e beijada enquanto se faz 0 proprio pedido, para diminuir em, seguida, até soltar seu ultimo clarao, na hora da despedida. O carater festivo marca, de modo particular, o catolicsmo brasileiro, em que o lazer faz parte essencial de toda festividade religiosa. Ao mesmo tem Po em que fazem ou cumprem suas promessas, os romeiros se divertem. E © que faz da festa um evento religioso e profano a0 mesmio tempo. Ao lado 43. Cf. Ponicio Consaho para a Pastor! dos Migrants inerantes. 0 santubio: Meme, resenp@ © profecia do Deus vive, Cidade do Vaticano, Litrra Ed. Vatcana, 1899, n. 18. Posten snieador das aparigesmarionas das missas solenes e das procissdes mais compenetradas, nao faltam barra- quinhas, musica, dancas, fogos de antficio e gritos dos populates. Ora, esse espfrito de festa tem também sua importancia social, Ele rompe o ritmo cotidiano, que é particularmente pesado para 0 povo opti- mido. Na festa ele “lava a alma’, refaz as fibras do corago, nutre a cora- gem, fortalece a vontade de viver. Além disso, a alegria da festa agrega as pessoas, funde os espititos e reforga os lacos sociais. Pois, no santuario, no ha negro ou branco, rico ou pobre, mas apenas devotos.*# De resto, esse clima de alegria pertence a experiéncia biblica das peregrinacdes. Estas constituem, em Israel, momentos de intensa exalta- co e exultagdo: “Que alegria quando me disseram vamos a Casa do Senhor” (SI 121,1). “Eu me aproximarei do altar de Deus, Deus de minha alegria” (SI 42,4). Essa era também a alegria do congracamento fraterno: “Eis como é bom e agradavel viverem juntos os irmaos” (SI 132,1).43 As aparigdes sto também socialmente relevantes por originarem uma in- tensa atividade econdmica, que comeca no interior do santuério para se esparramar pelos seus artedores. Af afluem, antes de tudo, os dons esponta- eos que os figs oferecem a Virgem, também como pagamento de promessas. Ha, depois, os negécios vultosos que se originam dos servicos organizados em favor dos peregrinos, como as agéncias de viagem, de hospedagem, de acolhi- da para os enfermos etc. Por fim, hia rede de comércio, pequeno ou grande, que se arma ao redor dos santuatios, especialmente em fungao das oferendas Virgem (em geral velas ¢ flores) das lembrangas que todo peregrino, por mais pobre que seja, procura adquirit. Todas essas atividades econdmicas movimentam somas altissimas, cujo computo nao é de facil avaliagao.** 0 aspect esto outa de reli pon fi sutado por Renna de Casto Menezes. Devo- {vrs o poder Um esas antopence sore a rst ca Penna No Ge Jaro, UFR Mutou Nao 1866, ca. po. 97-105: departs da esta, Datos Dssoingo de meta. 45. Ct,Poifio Corso para Pastel dos Marans insane opt, 8; Det sobre Piedad poor up. n 25: “densi ese 46. F. do Nizon opi, dads too capo XI a asin: “0 mercado da ode ds sere 129605" pp. 19-208 Levon numero express er gb ao ronment econo dag Santas roncoes Ravel, por exer, qo o sotto de Lures tomas vous, aio com out sferons, ou mor aio de vende doa. Von om erode 700 onlaas da vls Po ar incind res de 70 aos. O santo free 1200s pare o ores Add pes rede de 280 hess o 18 mi curtos,conttandose na seu cae hotel da Franc, send nt ‘mort Pas ime loos ambi qu sugars sagrodos quo vo vena racsade Se "a ab tia cia pr sip Neb Pan aan tn tah arnusexs de um sont, anno se conse qua eto 6 um gu doco eran ot tro um nso de cstenaio ser Mona strn tema dou santas tom oo de “afore Comte um sel, um ia, as pa vanserar ata om deat 208, ol Mariologia soca: 0 significado da Virgem para a Sociedade alt Por outro lado, os santuarios sio hoje geridos de modo racional, 20 modo de empresas, ainda que constituam empresas sui generis. Empre- gam um conjunto expressivo de pessoas em tempo integral, cujos gastos correspondem a mais ou menos a metade das despesas totais. Existe tam- bém o lado midiatico do santuario, com seus folhetos, revistas e, As vezes, até com estacdo de radio e TV, exigindo tudo isso grande mobilizacao de recursos, 2.2.4, A forga das multidées religiosas Que peso sociopolitico pode ter essa massa de peregrinos? Nao seria composta, na maioria, por gente socialmente “alienada’? Nao haveria ai apenas um “cristianismo de massa", enquanto despersonali- zado e manobrado de fora, ¢ ndo um “cristianismo de povo”, enquanto autonomo e autodirigido? Afinal, essas praticas religiosas alienam ou comprometem? Sao questdes que agitam a problemética pastoral de religito popular em geral ¢ se mostram bastante desafiadoras, particularmente no que diz respeito & pastoral de massa a se realizar nos santuérios marianos. Nao ha ‘como negar: existe af o tisco de alienagao e de manipulacdo. Mas importa ap mesmo tempo reconhecer: esse risco nao provém da natureza da pieda- de popular como tal, mas de elementos circunstantes, A alienacdo, se exis- te, no € congénita, mas acidental e ocasional. A verdade & que o efeito geral das peregrinacoes € substancialmente positivo. Eis as razbes: 1. As peregrinacées, além de serem processos coletivos e multitudinatios, comportam uma participagao propriamente pessoal, mesmo quando reveste formas comunitarias ou de categoria. Quer dizer: a peregrina: 40 personaliza, Cada um vai ao santuério com suas pernas, sem ser levado la por outros ou apenas induzido, como acontece tantas vezes nos comicios politicos ou nas recepgées oficiais. Por isso, hé quem prefira falar no em “pastoral de massa", por ser uma expresso ambi- gua, mas em “pastoral de multidges”.47 47.€ o que faz, por exempt, Joaquin Allende, em seu excelente estudo: “Maria en une lolasa pope ley misoner", in AA. VV. Maria onl pastoral popular Bogot, Paulas, 1976, po. 9-87, aqui p. Araogamente, F. Muzon, op. cit p. 28, prefere a expressio “siadade das mulidGes” @ “prodade Popular, por couse da conctagso negative que asta expresso as vez catega Pana soobeadr das parigbes mi 2. Os peregrinos retornam para casa fortalecidos, reconciliados ¢ ani- ‘maos para enfrentar, com vigor renovado, as provas da vida, sejam clas sociais (as ligadas as circunstancias histéricas mutaveis), sejam exis- tenciais (as que pertencem a condigdo humana, como a doenca, a velhice a morte). Tais so os frutos positives que deixam as peregrina- oes. Ora, é pelos frutos que se conhece a arvore (cf. Mt 7,16-20). 3. Hoje, através do esforco pastoral, que entende atualizar a mensagem origindria das aparig6es na linha do compromisso de justiga, as pere- grinacdes transformam-se em momentos propicios de sensibilizacao social e politica das massas populares. Essas vio, deste modo, abrin- do-se para um engajamento mais concreto no mundo do cotidiano, do trabalho e da cidadania, Disso falaremos ainda mais adiante, 2.3. Agdes de cura Nos santuarios marianos dio-se curas em grande escala, De resto, a busca de cura, particularmente da parte dos doentes ditos “desenganados”, € um dos motivos mais fortes que levam a demandar os santuarios d’Aquela que ¢ invocada como “Satide dos enfermos”. Os santudrios fazem entao 0 papel de “prontos-socorros” religiosos e até mesmo de “UTI dos devotos”. Ademais, as velhas doencas, acrescentaram-se recentemente novas, como a AIDS ¢ a dependencia quimica. Em funcao disso, nao € raro encontrar, junto aos santuarios, uma importante infra-estrutura sanitaria, integrada por casas de acolhida, hospitais, equipes médicas e de enfermei- 105, € varios outros servicos. ‘Além disso, organiza-se, em muitos santudrios, uma consistente rede de voluntarios para acompanhar os milhares de doentes que vém pedir cura de toda a sorte. Da-se com isso um testemunko impressionante de so- lidariedade para com toda espécie de sofredores. E - podertamos dizer — 0 “milagre cotidiano”, ou o “milagre da caridade”, como se expressou um experimentado reitor do santuario de Lourdes, o mais célebre centro reli- gioso de curas corporais e espirituais.*8 48, Tatas do testomunho do quom foi per mai do 30 anos reitor do santubrio de Lourdes, o Padre -losoph Borde, in: AA VV. A pastoral de Fatima atime, Ed. do Santo, 1993, pp. 412-413. todos (0s das mais de 2 mil homens @ mulheres acompanham e assistom out tanto de doentes, que, em ‘mais de 700 mi por ano, sorrem aque sentuaro ds Franca, Mariologio sia: 0 signified da Vigem para e Sociodade a 2.3.1. Curas corporais e sobretudo morais Nem falemos ainda nos milagres, alguns dos quais comprovados por exigentes equipes de médicos.*? Qualquer santurio exibe sua “capela dos milagres” a atestar a veracidade e a importancia que o povo atribui as curas tealizadas pela mao divina, E, mesmo quando a cura corporal nao se veri. fica, a cura espiritual € quase sempre certa, Os doentes voltam para seus lates reconciliados consigo mesmos e com sua propria doenca, que assu. ‘mem agora com serenidade e grandeza de alma.> Por isso Paulo VI chamou 6 santuatios de as “clinicas do espirito” 31 De fato, as romarias transformam mais ou menos profundamente 0 co- ragdo do peregrino: “algo aconteceu nele” 52 Por certo, ele pode encontrar de volta o mundo-ctio que deixou, As condigdes objetivas (desemprego, doenca, opressio etc.) nao mudam por encanto, Mas no é menos certo que o pere- srino mudou por dentro: nao é efetivamente mais 0 mesmo. O encontro com a Mae de Deus fez crescer nele a autoconfianca. Agora ele enxerga ag coisas de outro modo, Ele vé mais perspectivas na vida. Com a protecao da “Virgem poderosa” sente-se maior que seuss problemas e com forga para superd-los. E € 0 que acontece na realidade. Isso confirma que a subjetividas de muda a objetividade, pois o espirito é a transcendencia sobre o mundo.33 Ademais: 0 peregrino chegou ao santuatio egoista, pensando somente em si mesmo ¢ em sua dor; agora, ele parte pensando nos outros € nos 1. Lourdes 6 por excel o santo das curs. Afram eistods 6 mi ram essvodes 66 mitares comprovedes er eri ung capone Cte Lato eg, ope ue ea 12,0 exigania “Ofoo Mea” 36 tam por “mga” me cu “radesnonte nespicoer” bees 1847, recor 1 300 doses do eras entra, a 8 25 doses Sats tn ce rads iorosmen “mises, sndo os rstanes ads ch de Macon op Ot Poo ‘39. Ct. também Yves Chiron. Os milagres de Lourdes. So Paulo, Loyola, 2002. ee 50. Cama conts 0 reitor de Lourdes, o Padre Bordes e . ro tesa ago sup, ue oa, cu vita pole Set vez a Loudes, ao méseo que he porgunin, rence, lo eporara meen oe um las era oss reseed st rspoata Stove. “A pura nde, asco reco sodeigs tudo o ave em ees deni de im” apc. 40) Em confer ata roc, n sede 9 IsrAsessoa, na adie ds Gira, nos mando de 190, una om npdlgn arco ons «ue compar os dacrss dos doonas nos tens de pra Lovides com ov ecu aura tot tore de wala vercovo were contrat: enqunio roo os dears se ganar sage mene de sue doena, tiburdo 8 tercavos cube por sua setae, ra vols sen on dat tal Steno pando cong ecm es cuten, 51. Aut dom Gseppe Aosta La pith pope come le past, Chie aero Paoline, 1987, p. 165, peril Clete Soo 582.Cr, enata de Cestro Menezes, Devordo, dversfoe pod, op. cit, p. 63 53. “Sto precisomente os homens quo mudam 8s crcunstancss” recita# tes Il do Mane "Step 10 He Marx sobre problemas deles.34 E, assim, a dimensao sociopolitica da vida comeca a despontar. Eis como se poderia tracar a dinamica pela qual a devogao indi- vidual matura em relagao ao compromisso social: 1. comeca-se por buscar a satide do corpo; 2. depois, procura-se a graca do perdao através da confissio, obtendo-se assim a cura interior; . segue a busca de Deus e de sua vontade; }. entdo, abre-se 0 coracdo a caridade para com o proximo; 5, descobrem-se, por fim, as exigéncias da {é em termos de justiga social 55 ay 2.3.2. Dor individual: irredutivel ao social, mas articulavel com ele Pode-se objetar que a busca de curas nos santuérios oculta o aspecto sociopolitico da doenca, a saber, que a sade € também uma questio social, Isso envolve mais que romarias, mas uma decidida agio da cidada- nia que obrigue o Estado a intervir em termos de satide publica. Conten- tar-se com a aproximacao religiosa da cura seria como “dar a Deus” tudo, até mesmo o “que ¢ de César”. Isso criaria um estado de conformagao do povo com o status quo sanitario, E preciso reconhecer que isso pode ocorrer e ocorre de fato, mas nao necessariamente, Pois as duas coisas, a diligencia religiosa € a pressto social, podem andar perfeitamente juntas, como vlo, de fato, na pratica dos agentes de pastoral social Por outro lado, é preciso também saber que a dor, embora possua uma dimensao social, é também uma experiéncia irredutivel personalissima: rninguém sofre com o corpo do outro. O desempregado que busca confor- to na Virgem, ele também € um homem, Para éle, a falta de trabalho nao €apenas uma questao social, mas um drama humano. © que mais impor- ta, também num trabalhador, ¢ sua subjetividade pessoal, coisa de que rmuitas vezes fazem abstragao as ciéncias sociais, para dar erradamente 0 primado, se ndo a exclusividade, as estruturas.> '54.Cf.Fdo Muizon, op. cit p. 34 {5. Ct. cardaal Garrone, in: Cahors Maris, n. 84.16, 1972, p. 229. ‘6, Cf. Lorenzo Emil Mancini, “Banneux ola dotrina sociale dela chiesa”, in: Luigi Testa (ic). Una luce nels nota: Le appaioni dela Verne del Povera Banneux. Milo, Ancora, 1999, pp. 11525, CO estudo deste igo miltante, farmado em ciéncias religises e olicas, 6 dos poueos que confor lam a mensogem des apargbes com a douina social cst. Mariologio soca: 0 significado da Vcgem para a Sociedade ale Mais, hi dotes que sao constitutivas da condicao humana, dependen- do das condigdes sociais tao-somente em seu quadro externo. Tais sao a enfermidade (como capacidade de adoecer), a velhice ¢ a morte.5? Para «ssas contradigdes, de tipo antropolégico, nao ha politica publica que de resposta adequada. Podem-no téo-somente as religides. Daf também o sen- tido das peregrinagdes por satide, independentemente do recurso aos meios sociais e politicos para equacionar a questio, 2.4. Intervengao do poder publico: repressdo e manipulagao Em geral, uma apari¢lo provoca a intervencao do poder publi quando nada devido as multiddes que ela ata. Pols € preciso wanes g cordem publica e coibir os abusos a que se presta a credulidade popular, Isso quer dizer que uma aparicio mexe imediatamente com o aparato do Estado. Este mobiliza policia e juizes, que submetem os videntes a interrogatorios, frequentemente intimidadores. As vezes ha perseguicéo aberta, como se a Virgem fizesse figura de inimiga da ordem publica. E 0 que de fato aconteceu na maioria das grandes aparigoes e mais especial: ‘mente nas aparicoes de Lourdes, de Fatima e de Medjugorje. 2.4.1. Repressao em Lourdes Em Lourdes, as aparigdes envolvem desde 0 comissétio local até 0 Imperador. No evento, podem-se destacar, da parte do poder piiblico, os seguintes lances: * O delegado de policia local, Jacomet, faz, por duas vezes, Bernadette vir a propria casa a fim de interrogé-ta, de modo hostil, sobre os even- tos da apari¢do. Na primeira vez proibe-Ihe de voltar a Massabielle, mas na segunda vé-se obrigado, pela presséo da multidao vociferante, a relaxar a vidente. * Novo interrogat6rio de Bernadette, agora por Dufour, promotor impe- Tial da cidade, Este também teve que soltar a menina devido aos gritos © apupos da multidao indignada, 7, Ness ws covincns ents reconnect 22 recohece ones xpi ansomotra do, ‘Sidarta, o futuro Buda, © que o levaria 8 definir a “vida como dor”, son to Potuciascoiteradr das aparigbes maianas '* Mais outro interrogatorio, esse pelo magistrado examinador e pelo comandante da policia de Tarbes, capital da regido, preocupados que estdo em nao perder 0 controle de um fenémeno de massa sem pre~ cedentes. Com o afluxo das multidoes, que se atropelam em torno da fonte rmilagrosa, vém soldados para auxiliar os policiais na manutengao da ordem, mas sem sucesso, pois se deixam, antes, contagiar pelo entu- siasmo religioso do povo. Por questoes de satide publica (medo de célera), as autoridades sentem-se no dever de barricar a gruta O delegado de poticia de Lourdes confisca os objetos votivos que o povo traz para a gruta das aparicdes, enquanto o prefeito de Tarbes ameaga prender as dezenas de pessoas que alegam ter tido, elas tam- bem, visées da Virgem. As autoridades publica, por diversas vezes, fecham a gruta e, a cada vez, 05 devotos derrubam os muros. Sabendo dos beneficios milagrosos da agua da gruta, a esposa do Imperador Napoledo I, cujo filhinho havia contratdo insolagao com risco de meningite, manda a preceptora do infante apanhar desta agua, a qual, borvifada sobre o menino, obteve-lhe imediato restabe- lecimento. O Imperador ordena entdo que as barricadas em volta da gruta sejam definitivamente removidas.58 2.4.2. Repressao em Fatima Fatima nao € diferente, E nao podia deixar de sé-lo, dado o contexto tem que se deram as aparicdes. Tal contexto era o de uma nacao que, desde a instauracao da Republica jacobina e anticlerical de 1910, estava dominia- da por uma congérie de positivistas, livres-pensadores e macons. Preten- diam acabar com a religio em duas geragoes através da laicizagao total da vida civil, processo esse a ser levado adiante mediante perseguicdes e ou- tras medidas anti-religiosas. Esse embate atingiu seu auge precisamente em 1917 e sé acabou em dezembro daquele ano com a revolucao sidonista e a instauragao da “Republica Nova’. Acrescente-se o contexto mais amplo da 1 Guerra Mundial, seguida da ascensio dos varios totalitatismos modernos. 158, Recolhemos estes dads de Swann. As grandes apaigdes de Mara, op. cit, pp. 116-128. ill Mariologia soa: 0 significado do Vegem pas a Sociedade fl Eis alguns t6picos mais imediatos e, por assim dizer, de cronica, de como 0 poder publico reagiu as apari¢oes: 3 + No dia marcado para o quarto encontro com a “Senhora” (13 de agosto), os tres pequenos videntes foram sequiestradlos pelo zeloso administrador da Vila Nova de Ourém, o magom Artur de Oliveira Santos. © objetivo era arrancar-Ihes © segredo que a Virgem thes teria confiado, primeiro aliciando-os com “pecas de oito", e depois com as mais terriveis intimidacdes. Leva as criangas & prisdo, amea- cando-as de Id as deixarem. Depois, para intimida-las, encenam uma execugdo A morte, que se daria em caldeira de azeite fervente, Mas nada consegue.5 *+ Os pequenos videntes sofreram a indiferenca e as vezes a incompreen- sao dos pastores da Igreja, sem falar da oposicéo e mesmo da violén- cia por parte dos préprios familiares. 6° * Depois da ultima aparicao, a elite dominante, querendo impedir que © fendmeno Fatima se alastrasse, na noite de 23 para 24 de outubro faz saltar a azinheira sobre a qual julgavam, erroneamente porém, que a Virgem tivesse aparecido, : * No terceiro aniversario das aparigées (13 de maio de 1920), 0 préprio ministro do interior da Republica profbe cortejos religiosos. A guarda epublicana e uma tropa de soldados bloqueiam os cartos na praca da cidade, impedindo-os de aceder Cova da Iria. + Nas vésperas de 13 de janeiro de 1921, 0 novo Administrador da Vila Nova de Ourém manda pracas da guarda republicana ao lugar das aparicoes, para impedir 0 que diz ser sinal de “fanatismo” e “manifes- tagdes religiosas jesutticas”.61 59, Segundo declragbes do Lici, fetas sob jurmento em 87 59. Sen 123 sb jremento em 87/1924, in: Pade Luciano Coelho Crist et air). Documentapéo erica de Fatima. U ~ Processo Candnico Discesena (1922-1250) Fa ta, Satun do Fira, 198, p. 360, As masmasdeclagies so ropradas in: Pde Anni Maa latins (5). Novos documents do Fatima. So Paul, Loyole, 1884, pp. 366-369, 62, Da =| Mera do Liss” Inverbro de 19371: “Minha mo, para ovigrme acer a verde me ola, chegou, fo poues vee, alaerme sent peso de alum pa, destindo 00a 0u do cabo da vassoure apd A. M. Martins, op. ct. p. 202 61. CA. M. Martins, op. it, pp. 95-96 Pete sxoiberador das aparigoes maranas * As peregrinagoes multitudinarias a Cova da Iria vo sendo cada vez ‘mais reprimidas, até que, no inicio de margo de 1922, a capelinha das aparigdes € atingida por uma bomba ¢ incendiada.* 2.4.3, Repressao em Medjugorie Se nos voltarmos, agora, para Medjugorje, uma “grande aparicdo” de hoje, se bem que nao reconhecida oficialmente pela Igreja, vejamos que a historia da repressao se repete. E isso € tanto mais contrastante quando se sabe que a Virgem ai se declara como a *Rainha da paz”, pois sua princi- pal mensagem é exatamente a paz e a reconciliacao. Eis alguns episédios da ado do aparato tepressivo contra aquele fendmeno fora do comum: + Em 27 de junho de 1981, stbado, somente trés dias depois da primei- ra aparicao, a policia de Citluk, sob a jurisdigao da qual estava Medju- gorje, intima os seis jovens videntes a compatecer para serem interro- gados. As autoridades se mostravam preocupadas, pois as aparigbes ja estavam mobilizando de 2.000 a 3.000 pessoas. Obrigam os videntes a passat por exames psiquidtricos, os quais, sem embargo, concluem tra- tar-se de adolescentes “normais, equilibrados e de boa satide” * No dia 29 do mesmo més, as autoridades de Mostar, capital regional, pressionadas pelo governo comunista de Sarajevo, desconfiado de que, sob capa das aparicdes, o clero catdlico e os terriveis ustachis estives- sem urdindo um complo politico, convocam, por sua vez, 05 videntes, Querem confind-los, segundo costume daqueles regimes comunistas, a.um hospital psiquiatrico. Mas desistem, pois um novo exame médico confirma 0 “perfeito equilibrio psicolégico” dos jovens, e, além disso, © poder teme a reacdo dos milhares de peregrinos (ja uns 15.000) que esperam a hora da aparicao. * No inicio de julho, as autoridades locais preparam um estratagema: planejam um passeio com os adolescentes, pensando frustrar assim 0 evento da apari¢ao. Mas esta se da, assim mesmo, no caminho, duran- tea viagem de volta daquele indesejado entretenimento. 162, ldem, pp. 102-108, Ct. também o relatrio do 1883 do Pade Agostnho M. Ferreira, p6roco do Ft me, mostendo toda arepessto que 0 Governo praca, st 1823, conta afluénce do pove em Fatima: apud idem, pp 192-138. oy Marologia soil: 0 significado da Vigem pare 2 Sociedade fi) + Em seguida, 0 poder protbe os jovens de visitar Podbrdo, a colina das aparicdes, obrigando-os a se reunir em residéncias particulares, Pensam assim desencorajar romeiros e videntes. + Entretanto, os adolescentes sio pressionados, por meio de sucessivas intimidacoes, a comparecer & delegacia de policia, onde softem sérias ameagas. * Outras medidas repressivas s40 tomadas, agora contra terceiros: os automéveis séo proibidos de entrar em Medjugorje no momento das aparigdes; o convento dos franciscanos, responsaveis pela pardquia, é objeto de batida policial, que confisca livros e arquivos; padres e frei- ras sto presos e levados a Mostar e ai humilhados; 0 paroco, Padre Zovko, ¢ condenado a trés anos de prisao sob acusagao de “sedicao": dois outros padres sao igualmente presos por divulgarem as aparigoes, + Em nivel nacional, a midia comunista procura demonizar o fenomeno “Medjugorje: qualifica os padres que acompanham as aparigdes de nazi- fascistas; espalham pelo pats a “verdadeira” face da Mae Santissima: uma caricatura de Maria vestida como terrorista e com uma faca na boca 63 Todas essas medidas foram, naturalmente, contraproducentes: torna- tam as aparigdes ainda mais conhecidas e as peregrinagdes, mais numero- sas, Finalmente, um conjunto de fatores, como o medo da multidio, 0 temor dos visitantes estrangeiros de todas as partes do mundo e, last but no least, a nao desprezivel receita proporcionada pelos turistas, levaram finalmente as autoridades comunistas a ceder.* Tudo isso lembra muito o evento-Cristo: também a sua obra provocou a reagio violenta do poder, este também teve de fazer as contas com o povo; Por tiltimo, nesse caso também 0 poder acabou cedendo O certo é que as aparig8es se colocam mais do lado do povo que do lado do poder constitu do, seja esse de direita ou de esquerda, O efeito historico geral € reforcar 0 contrapoder dos ilkimos da sociedade, minando o antipoder dos “maiorais” 62. Ct. Re Laven. Se prea Vgen on Mss, x: Eee Marlen 7 1987, op 407-49, resuming lend va Ga a René Luar 6 Lvl epes, Nosa {anton sue on Mage? ba, on ov, 08 Cyn Bh ocr oP er ren ar as pues de Mcp, 0 Pou Lay, 198, xpcalnate (Pp, 133-154: significado para 0 nosso tempo. ms 64, a os date store o Esto om Medvgje a xpostas, Swan. ion expos, cL Suan op. ct. p36 Sk Lao Sona &Covos Bol. Mansagens de esse enh Ge Ma Poa nes, Pencil sacar das aparigies marinas 2.4.4. Manipulagdo politica das aparigdes Acrescentemos que o poder nao s6 reprimiu as aparicoes, mas tam- bem tentou aproveitar-se delas para se fortalecer. E sabido que aparigdes ¢ santudtios foram, no passado, manipulados pelos ditadores e outros opres- sores, a fim de se legitimarem diante do povo religioso e pobre. Assim foi com a Guadalupana, aos pés da qual, como vimos, tantas vezes vinham se prostrar os ditadores mexicanos, para oferecer-lhe a espada ensangienta- da no sangue do povo. Também deste destino nao escapou Fatima, como ‘veremos no proximo capitulo. Mas o pais que apresenta uma série de aparigdes mais claramente manipuladas é o Haiti, merecendo por isso uma mencao especial.65 O pri- meiro tipo de aparigdes manipuladas € o do famoso Romaine-la-Prophé- tesse, visionario de corte sincretista. Ele se dizia possuido pela Virgem e, em nome d'Ela, arrastou milhares de escravos negros a revolta, de setem- bro de 1791 a marco de 1792. Pretendendo exterminar todos os brancos, apelou para as ordens expressas de Maria, a fim de praticar contra eles toda a sorte de torturas, como o estupro, a pilhagem e o incéndio, mesmo contra os ndo-oponentes civis.66 Outra apari¢do inventada é a da “Virgem Bosquette”. Foi uma apari- o-impostura, montada em 1812, depois das lutas pela independéncia, por obra de um espia, 0 soldado Bosquetté. Agindo por conta de Henri Christophe, o homem forte que dominava o norte da ilha, o militar vestiu-se de Virgem, subiu no topo de uma drvore e, tendo reunido milhares de devotos, convocou-os & guerra contra o adversario do sul, Alexandre Pétion. Foi, porém, desmascarado e depois executado. Quanto a seu che- fe militar, Christophe, foi mais tarde derrotado.67 Oterceiro caso se refere a varias aparicbes da Virgem, usadas ou mes- mo forjadas em proveito de Faustin Soulouque, lider do Haiti de 184/ a 1859. Foram arquitetadas com a intengdo de sancionar aos olhos do povo 0 poder politico que aquele caudilho se tinha atribuido, incluindo o titulo de Imperador.68 &5.Ct. 9 tese doutoral de Terry Ray, Our Lady of lass swag, The Cult ofthe Vigin Mary n Hat Trentrisemare Erie), Aric Word Press, 1999, 66.Ci. dam, pp. 138-148 Nose sabe ainda bem por que Remsine Riviere (name cvl assum 0 epi 1010 feminine de “profetiza” 67. Kom, pp. 148481 (68. CF. dom, pp. 1514158, fl

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