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Eula Paula da Silva ‘Métodos Quantitativos ‘Tendo em vista a proposta do Curriculo da Disciplina de Métodos Quantitativos, procurei alinhar 0 trabalho solicitado em questio com meu Projeto de Pesquisa, E de todas as possibilidades © que mais se aproximou da minha intengo de andlise enquanto graduanda (as macumbas no Rio Grande do Sul) & o Método Survey, devido a sua capacidade quantitativa de produzir deseri es de uma populagdo € no somente, como também explicar ou até mesmo explorar essas descrigdes. Nao é a proposta deste trabalho apresentar uma espécie de Manual sobre Método Survey, pois a leitura do mesmo é direcionada como avaliagio, portanto ja existe uma prévia de conhecimento sobre. Aqui proponho pensar de forma critica e usando como anilise minha experiéneia como graduanda e pesquisadora com 0 Método Survey, que apesar de ser quantitative e nao dar ao pesquisador explicagdes mais complexas ou dos porqués, ele pode ‘andar’ com uma pesquisa qualitativa, © survey como questionério ou mesmo um entrevistamento direto com o objeto pesquisado, pode intermediar e despertar caminhos para o pesquisador. Pode ser que ele nao seja a ferramenta principal, mas ele é um arranjo valioso, Um exemplo & que através de questiondrios estudados ou entrevistas feitas com frequentadores de terreiro notei que a identificago com as macumbas sempre tende buscar uma apropriagao do mais accito, através das respostas como “ espiritas” ou “umbandistas” ao invés de “quimbandeiros”, mesmo 0 sujeito entrevistado estando em uma gira de Quimbanda, E atras dessas respostas pode se adquirir uma pesquisa historiogréfica sobre 0 que e como foi essa separagiio das macumbas, no s6 no Rio Grande do Sul mas no pais todo. Uma separagdo que se pauta na perspectiva de dualidade ou do bem versus mal. A proposta da minha pesquisa & identificar essas separagdes, ¢ isso foi despertado apés as entrevistas. A entrevista ou um questiondrio respondido descreve comportamentos ¢ identidades ‘fechadas’ ou ‘assumidas’ do sujeito entrevistado, mas também trés a possibilidade do pesquisador pensar outras correlagGes. © socidlogo estadunidense Earl Babbie descreve que 0 proprio Marx usou 0 Método Survey em 1880, quando enviou pelo Correio 25 mil questiondrios para serem respondidos pelos trabalhadores franceses ¢ que Weber também teria utilizado métodos de survey para 0 seu estudo sobre a ética protestante. Dessa forma e de acordo com o proprio Babbie, a "pesquisa de survey se refere a um tipo particular de pesquisa social empirica” (p. 65). Afinal se quantifica o que se sabe que existe e dessa forma ha uma conexdo entre ideias apresentadas eas evidéncias coletadas. © uso da linguagem estatistica no Survey requer o trabalho com amostragem ou selegao de uma populagdo ¢ essa amostra é dividida entre probabilistica e nio probabilistica. A probabilistica ndo se encaixa tanto no que busco enquanto pesquisadora, visto que nao necessita ter uma hipdtese estabelecida que antecede a busca dessa coleta de dados. 14 a Nao probabilistica concilia com minha pesquisa, visto que tenho critérios definidos e ideias ja levantadas antes de aplicar o questiondrio, Me parece que a probabilistica € uma tentativa de ‘otha neutralidade ou informalidade entre entrevistador ¢ entrevistado, visto que a propria es da amostra pode ser aleatéria e isso pode ser conciliado mais as pesquisas de consumo ou aos préprios levantamentos feitos no pais, como o IBGE. Penso enquanto pesquisadora que, para uma pesquisa social empirica a amostra deve ser criteriosamente escolhida, até porque o questiondrio apresentado vai ser montado com base em algum nivel de informagdo prévia que se tem. E aqui entra o que eu irei chamar de limite do Método Survey, justamente no proceso de conectar sua hipdtese ou conceitos prévios com os indicadores usados nos questiondrios. No inicio do texto eu pontuei frequentadores de macumbas preferindo identidades aceitas (até certo nivel) socialmente ao invés de tomarem para si identidades que jé sao marginalizadas dentro das proprias macumbas. Quando se fala das Umbandas ou do Espiritismo os olhares nao s io 0 mesmo de quando se fala em Quimbanda. A entrevista ou o questionario ¢ a operacionalizagdo de conceitos, é 0 momento de converter a hipdtese em teoria empitica . Os conceitos so abstratos ¢ gerais, ento os indicadores precisam ser especificos. E aqui discordando de Babbie, no 6 que no meu caso os indicadores sejam imperfeitos € como consequéncia devo iniciar uma busca infinita de indicadores, porque mesmo nessa busca de ‘operacionalizar os conceitos continuamos ‘reféns” do objeto pesquisado, das sensagées que 0 sujeito pode ter ao ser questionado sobre tal assunto, por isso retornei ao exemplo da minha pesquisa. Se minha pesquisa é sobre género ¢ classe social nas macumbas ¢ especificamente na Quimbanda, como fazer esse recorte se hé um limite moral que faz 0 sujeito optar por responder por outra identidade ao invés de Quimbanda? Retomo a afirmagdo de que sé se quantifica o que se existe ou € preciso se nomear para aquela identidade ou indicador existir. Por isso a defesa desse método junto a um levantamento historiogrifico ou até mesmo observacional. E ao contririo do que & proposto em todos os textos sobre Métodos Quantitativos nfo penso que devido a essas limitagSes © Survey nao sirva para minha pesquisa, visto que se comparado aos outros métodos repassados é o mais préximo do recorte que cu fago. Aqui cabe também pensar o Quantitativo junto do Qualitative. Essas contradigdes entre o conceito do pesquisador e o indicador no questiondrio nao é algo que pode ser resolvido apenas com um Pré Teste das entrevistas e questionarios ou pelo tamanho da amostra, como se aumentar a amostra em questo fosse dar aos indicadores uma representatividade maior. As entrevistas apresentam dados que precisam ser decifrados Mesmo com um Pré Teste ¢ com um experimento que antecede ao questiondtio de fato, ainda sim o resultado vai precisar ser decifiado e ndo falo somente de Tabelas, mas de aprofundar nas respostas. O método Survey serviu, em meu caso, para investigar mas nao decifrou o que eu pretendo pesquisar. De fato 0 Método Survey se mostra relevante devido ao seu carter amostral, justamente devido a sua pos ibilidade de generalizagao a partir de uma amostragem, mas dados sZo sistemas de representagGes e ai cabe ao pesquisador explicar: Representagdo de que ? E a representagao precisa ir além das aparéncias das respostas, penso eu enquanto pesquisadora, Na defesa de ir para além das aparéncias das respostas, tomo como exemplo a classificagdo racial no questiondrio do IBGE. Queiroz Payayé aponta a invisibilidade indigena nesse modelo de classificago racial e pontua “como esta andlise do movimento negro e do IBGE corroboram para um epistemicidio e o fortalecimento identitario birracial da sociedade baiana e nacional”, Na citagdo ele se refere a categoria analitica do ‘pardo’ e “neste sentido, 0 problema em acreditar se todos os pardos so pretos é necessario aprender o porqué dessa classificagdo tormou-se comum entre a populagdo negra ¢ atualmente ndo reconhecem os originarios como parte desta estatistica que segue o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica”, Aqui se nota que nao é somente uma falha de Indicadores, mas de Epistemologia. Quem & Pardo no Brasil? Nao € sobre uma falha no indicador, um desvio da amostra estratificada, ou uma consequéncia de uma padronizagdo, mas aqui podemos ver que também & sobre a meméria discursiva e 0 tipo de narrativa racial que nossa sociedade possui. Dado ao meu exemplo de pesquisa ¢ ao de Queiroz Payayd, dos trés propésitos da Pesquisa Survey catalogados por Babbie, surveys para desctigao, com o objetivo de esquematizar tragos distribuidos pela amostra e pode ter um cardter comparativo; surveys para explicagio, que, além de deserever, busca testar uma teoria através desses tragos ¢ 0 surveys para exploragio, que fazem por surgir novas possibilidades na amostra, e com isso a pesquisa pode até mesmo passar por modificagdes, avangar etapas; essa iltima foi a que mais me identifiquei enquanto pesquisadora. Mesmo que eu dividisse minha amostra total em subgrupos, 0 carter exploratério das entrevistas trouxe até mim a necessidade de um levantamento historiografico do nascimento da Umbanda no Brasil e como consequéncia as separagdes das Macumbas. E o meu trabalho inicial era unicamente estudar o perfil dos frequentadores de um terreiro de Quimbanda afro-gaiicha, Com o proprio levantamento de dados 0 meu foco como pesquisadora de macumbas no Rio Grande do Sul deixou de ser somente as motivagdes de frequentadores ¢ iniciados de um terreiro especifico de Quimbanda. A tentativa agora nio é somente tomar a Quimbanda um assunto mais debatido na Sociologia das Religides, mas entender a propria disputa de narrativa ¢ formalidades existentes dentro das macumbas através da negagdo e afirmago dessas identificagSes respondidas através dos questionérios levantados. Vejo uma necessidade de analisar essas relagdes sem estabelecer as respos dos questiondrios ¢ entrevistas que fiz. como proposta de finalizagdo do meu projeto de pesquisa. E, além dis 0, "em si, tabelas, indicadores, testes de significdncia, ete. nada dizem. O significado dos resultados ¢ dado pelo pesquisador em fungao de seu estofo tebrico” (GATTI, 2004, p.13). Portanto, "O método é conjunto das atividades sistematicas e racionais que com maior seguranga ¢ economia, permite alcangar 0 objetivo — conhecimentos validos ¢ verdadeiros — tragando 0 caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisdes do cientista.” (MARCONT, LAKATOS, 2005, p.83). © método quantitativo usado, seja Survey ou outro, ndo & a pesquisa finalizada, mas uma parte da mesma. Mostrar os indicadores sociais também é uma forma de descrever o fendmeno investigado, afinal “Os cientistas nunca coletam dados, eles eriam dados”. (BABBIE, 1999. p. 181); isso por sua vez possibilita entender 0 que & exceco © 0 que & regra dentro do recorte social que foi feito. Se conseguimos levantar o que é regra perante um recorte social, ento conseguimos debater possiveis solugdes. O que diferencia uma pesquisa da outra é justamente o publico que se pretende atingir, mas independente do publico as Ciéncias Sociais sempre foi ferramenta de critica. E a Sociologia nao deve apresentar s6 o problema social, mas enquanto ciéncia deve também ter respostas e possibilidades para as perguntas que se propde a fazer, Se teoria sem método é ensaismo, método sem teoria nao possui qualquer fungao social. O estudo levantado deve ser gratificante ndo sé ao pesquisador, mas também para sua rea de atuagao. E tendo em vista 0 pensamento critico de que (...)¢ uma ilusio imaginar que a multiplicagdo de andlises micro sociais permitiriam a reconstrugo das configuragdes sociais gerais (estruturais), ou que pode-se chegar a essas configuragées pela reconstrugdo diversificada ampliada das configuragdes particulares. © mundo da experiéncia tem uma capacidade inesgotavel de recriar ¢ construir novas formas de interagdes ¢ padrées coletivos de valores que produzem em agdes significativas complexas no plano individual (interagGes face a face) quanto no plano macrossocial. A arte do pesquisador estaria exatamente na sua capacidade de escolher o instrumento de anélise mais adequado ao problema de pesquisa e as possibilidades empiricas do campo de investigagao. (Brando, 2001). Bibliografia: BABBIE, Earl, Métodos de pesquisas de survey. Belo Horizonte: UFMG, 1999. BACHELARD, G. © Novo Espirito Cientifico. $40 Paulo: Abril Cultural, 1978. (Os Pensadores). BECKER, H. Métodos de Pesquisa em Ciéncias Sociais. Sao Paulo: Hucitec, 1994. BRANDAO, Z. A dialética macro/micro na sociologia da educagéo. Cadernos de Pesquisa, Sao Paulo, Sdo Paulo, n. 113, p. 153-165, jul. 2001 GATTI, B. A. Estudos quantitativos em educagio, Educagio e Pesquisa, S40 Paulo, v. 30, n. 1, p. 11-30, jan abr. 2004, MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, 'va Maria, Técnicas de pesquisa: planejamento e execugtio de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisas, elaboragio, andlise e interpretagdo de dados. 7 ed. Sdo Paulo: Atlas, 2008, QUEIROZ PAYAYA, Leonardo Gongalves. O Pardo como problemitica na sociedade baiana a classificagdo do IBGE em cor e raga. ANPUH. Anais do Terceiro Encontro Internacional Historias e Parcerias, Rio de Janeiro.

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