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©O wonerarismo ARLINDO ALEGRE DONARIO RICARDO BORGES DOS SANTOS O MONETARISMO INTRODUGAO Durante a grande depresséio dos anos 30 do século XX, a maioria dos €conomistas liberais que classificamos como classicos, continuavam a defender que as causas do desemprego se baseava sobretudo nos salarios elevados e consideravam que a economia tenderia ao pleno emprego de forma automatica, se se verificassem as condiges de total liberdade nos mercados de bens e servigos, de trabalho e de capitais. Os "mecanismos automaticos" levariam a economia ao seu estado natural de pleno emprego dos factores produtivos. Perante a realidade, Keynes evidenciou que o estado normal da economia tenderia a estar abaixo do pleno emprego, necessitando da intervencaio do Estado para que 0 emprego e a produgao se situasse préxima do pleno ‘emprego, atenuando-se @ amplitude das flutuagdes, pois as economias de mercado podem manter-se, de forma persistente, em situagao de equilibrio abaixo do pleno emprego. Diferentemente dos classicos Keynes mostrou que a moeda ndo é neutra mas que, em situagdes de depressdo com a armadilha da liquidez, a politica mais eficaz para reduzir 0 desemprego seria a politica orgamental, utiizando-se a variagéo das despesas publicas e dos impostos como instrumentos dessa politica a fim de influir na situagao econémica, A teoria quantitativa da moeda sofreu um ataque da parte de Keynes o qual pés em causa a neutralidade da moeda defendida pelos classicos. Milton Friedman (1912-2006) - premio Nobel da economia em 1976 - foi um dos mais destacados economistas do século XX defensor do |iberalismo econdmico, do capitalismo Jaissez-faire laissez passer e do livre mercado, aproximando-se das teorias classicas, tecendo contundentes criticas & teoria keynesiana que vinha sendo dominante no mundo. 1 & considerado como o fundador da corrente teérica denom in MONETARISMO que se pode consubstanciar na ideia de que “a Mig importante controlar a oferta de moeda em crculagdo do que inuenss outras variaveis econémicas, nomeadamente os gastos pip ico, contrariando, deste modo, as teorias keynesianas, Para Friedman a oferta de moeda seria a varidvel m importante determinante do rendimento nominal, sendo neutra no longo prazo, pois economia tenderia a estar ao nivel do produto potencial a que correspondia a taxa natural de desemprego. Considerava-se, assim, que no curto prazoa economia poderia desviar-se do produto potencial, com uma taxa de desemprego mais elevada que a taxa natural de desemprego, tendo a moeda, nesta situagao de curto prazo, efeitos sobre as variaveis reais, podendo, deste modo, influenciar a descida da taxa de desemprego ¢ aumento da produgdo. ‘A moeda seria neutra no longo prazo mas n&o no curto prazo quando a economia se encontrasse abaixo da taxa natural de desemprego, o que ere entendido como transitério. No longo prazo a moeda influenciaria apenas o nivel geral de pregos e outras variaveis nominais, sendo, no longo prazo, 0 produto e 0 nivel de emprego determinados apenas por variaveis reais, tal como era referido pelos classicos. Pata 0 Monetarismo 0 sector privado era dominantemente estavel, 20 contrario do que era defendido por Keynes. Para este autor o investimenta privado era considerado instavel devido a volatilidade das expectativas dos empresarios que determinavam a eficécia marginal do capital que era U7 dos factores determinantes do investimento juntamente com a taxa de ju? : 0 a Segundo Keynes, as previsées de longo prazo sao volateis levand profunda tories el grandes flutuagées nas bolsas de valores que conduzem @ instabilidade na eficacia marginal do capital e, por conseguinte, 8 é iv variagBes no investimento, uma das principais determinantes 4° Produgéo e emprego. Estas flutuagdes nao seriam neutralizadas por variages da taxa de juro, tornando-se, deste modo, ineficaz a politica monetaria em situagdes de depressdo. Dado que o investimento privado € determinado por interesses privados e Pessoais e nao sociais (recorde-se 0 principio da racionalidade), seria necessaria a intervengao do Estado para minimizar essas flutuagdes negativas na economia, 0 que poderia ser efectuado, designadamente, através da efectivacéio do investimento publico, colmatando 0 decréscimo do investimento privado. Esse investimento publico, ao elevar a produgao & © emprego, teria efeitos multiplicadores e afectaria positivamente as expectativas dos empresérios, elevando a taxa marginal de capital, devido ao aumento da procura agregada, levando-os a aumentar o investimento. Para os monetaristas, com Milton Friedman como seu expoente maximo, ao aceitarem a estabilidade do sector privado, nao haveria necessidade da intervengao do Estado e as flutuagdes econémicas que se verificassem seriam transitérias, havendo uma reverséo para a média, de forma automatica, ou seja, a economia tenderia ao equilibrio de emprego potencial e, consequentemente, para a taxa natural de desemprego, que eram doterminados pelas variaveis reais, incluindo a tecnologia. Assim, o sector privado absorve os choques, sendo um processo estabilizador e auto- regulador se 0 mercado funcionar livremente, tendendo a economia para as taxas naturais de produto potencial e de emprego. Note-se que Friedman afasta-se dos classicos ao aceitar que no curto prazo os choques poderdo afastar a economia das taxas nalurais, mas no longo prazo havera estabilidade ao nivel dessas taxas naturais de produto e de emprego. No curto prazo, e $6 no curto prazo, para Friedman, o nivel de actividade econémica poderia também ser determinado néo sé pelo lado da oferta mas também pelo lado da procura através do aumento da moeda em circulacao, se a economia estivesse abaixo das taxas naturals de emprego @ produto, como em yo (produto), que pode ser observado na fg ura seguinte: Graficon°4 Oferta e procura agregadas AD IM) ‘A procura agregada ao aumentar de AD (Mo) para AD (Mi), devido a um aumento da moeda em circulagao (Mi) - deslocando a curva da procura agregada para cima e para a direita - estando a economia a operar abi das taxas naturais de emprego e produto - tem dois efeitos: um no nivel geral de pregos, que passa de Po para P1, e outro no produto que passa de Yo para ys. A partir de ys, quando @ economia, no longo prazo, se situa ao nivel 25 taxas naturais (produto potencial e taxa natural de desemprego), em Ys determinada pela sua estrutura real da economia, qualquer aumento 48 massa monetéria em circulagdo tera apenas efeitos na subida de prev is, e888 passando de P; para Pz, sendo ineficaz, quanto as varidvels 'e: ‘aumento da procura agregada determinada pelo aumento da moeda &™ circulagao. Recorde-se que para os monetaristas néo é 0 aumento das despesas Publicas que produz efeitos nas variéveis reais, como sustentado pelo modelo keynesiano, através do multiplicador das despesas publicas - mesmo quando a economia esta abaixo das taxas naturais - mas sim é 0 aumento da moeda que financia essas despesas que produz os efeitos nas Variaveis reais. Por isso a procura agregada ¢ determinada pela moeda, tal como no modelo classico, diferentemente do modelo keynesiano. A estabilidade da oferta de moeda, no entendimento dos monetaristas, seria crucial para a estabilidade da economia, de modo a que o nivel de pregos se mantivesse estével, como factor determinate, pois, com essa estabilidade nao haveria factores que perturbassem a confianga dos agentes econémicos, levando a que a economia tendesse a situar-se ao nivel do emprego potencial e da taxa natural de desemprego. Considerando a proposigéo monetarista de que a economia tende a estar, No longo prazo, ao nivel do produto potencial determinado por varidveis reais, portanto originado no lado da oferta, 0 volume de moeda em circulagaéo determinaria 0 nivel de rendimento nominal, que é, como sabemos, igual a0 produto do real pelo nivel de pregos (Y=y P). O fundamento desta proposigSo seriam as taxas naturais do produto e do emprego. Assim, tendo em consideracao estas taxas naturais, existiria um equilib de longo prazo quanto ao produto (produto potencial) a que corresponderia uma determinada taxa natural de desemprego cujas varidveis determinantes se encontrariam do lado da oferta, como os factores de produgo, a tecnologia bem como as instituicdes da economia. Observe- se que estes determinantes so reais, nao monetarias. © aumento da inflagdo gerado pelo aumento da massa monetaria em circulag4o afectaria as previsées de longo prazo podendo influenciar negativamente as expectativas de investimento privado, pelo que o mais importante seria 0 controlo da oferta de moeda pelas autoridades monetarias, de modo a que houvesse estabilidade, defendendo-se estabelecimento de regras rigidas quanto a variagao da oferta de moeda, Ao contrario de Keynes, os monetaristas consideravam que a maior causa da instabildade da economia era devida @ intervengdo do Estado, a0 nay permitir que 08 mecanismos do mercado actuassem _livremento, introduzindo rigidez nos varios mercados, nomeadamente no. mercadg laboral que, tal como os outros mercados, deveria funcionar livremente. As diferencas entre Keynesiancs © monetaristas acentuaram o5 mecanismos de transmissao que se traduzem nos efeitos no sector real da economia devidos a alteragées da oferfa de moeda. Originalmente og keynesianos consideravam as ligagdes entre as variagdes na oferta de moeda © as variaveis reais, como 0 produto e 0 emprego, da seguinte forma: JOM —» [Ai TAI tay Ou seja, um aumento da massa monetéria (AM) levaria a uma diminuigdo da taxa de juros (Ai) - dado que para os keynesianos a procura de moeda fem, normalmente, uma elevada elasticidade em relago a taxa de juros - que determinaria uma subida do investimento (Al) e, sendo este variavel uma componente da procura agregada, levaria a um aumento do rendimento, Ay, pois este & determinado, no curto prazo, sobretudo pela procura agregada, Contudo, os trabalhos de Milton Friedman’ @ de James Tobin? (que é Keynesiano) mostraram semelhangas. Também Tobin considerou a moeda como um entre muitos actives cuja variago leva a alteragdes na carteira de titulos, diferentemente de Keynes, + Freiran, itor (1986) "The Quanta Thea {he Quantity Theory of Money, the University ‘elobin, James; "Monetary Policy and the Ex Southern Economic Journal, January, 1976 Fy of Money - A Restatement" in Studies it Of Chicago Press, Chicago ‘onomy: The Transmission Mechanisr Por sua vez os monetaristas, por considerarem diminuta a elasticidade da Procura de moeda face @ taxa de juros, a primeira ligag&o acima transcrita, AM-— Qi, tenderia a desaparecer sendo o mecanismo de transmiss&o mais lato e mais directo, como veremos mais adiante. ' A REFORMULACAO DA TEORIA QUANTITATIVA DA MOEDA Em 1956 foi publicado o artigo "The Quantity Theory of Money: A Restatement’, de Milton Friedman reformulando a teoria quantitativa da moeda dos classicos. Como ja foi analisado, a teoria quantitativa da moeda assenta na equagdo das trocas, que pode ser apresentada na forma seguinte’: Eq. 1) M Py onde M representa a moeda em circulagao; V representa a velocidade de circulagao da moeda por unidade de tempo; P simboliza 0 nivel geral de pregos e y representa o rendimento nacional em valores reais (sendo Y=yP. © rendimento nominal), com as hipéteses classicas de se considerar y e V constantes. Para Friedman o conceito de rendimento & rente do conceito utilizado por Keynes. Para Friedman 0 conceito utlizado 6 0 de RENDIMENTO PERMANENTE Milton Friedman‘ considerava que o termo V, representando a velocidade de circulago da moeda, seria estavel (nao constante, como admitido pelo modelo classico) pois dependeria de um conjunto de varidveis com elevada estabilidade, podendo ser determinada independentemente de outras varidveis da equagao, pelo que variagdes na quantidade de moeda em 2 Ver 0 modelo classico “Friedman, Miton (1970): The Counter-Revolution in Monetary Theory: Lendon: Institute of Economic Affaires, p.112, Girculagio (M) teria efeitos quer no nivel geral de pregos, P, quer ng produto, y, se este estivesse abaixo do produto potencial. A teoria quantitativa na sua formulagao de Cambridge (com Alfred Marshay AC, Pigou) acentua a procura de moeda em vez da oferta, podendo a sua formulago ser apresentada do seguinte modo: Eq.2 Mes k.Py Em equilibrio M¢ = M, ou seja a procura é igual a oferta, sendo k 0 inverso, da velocidade da circulagao da moeda (que ¢ denominado o k de Cambridge), © & considerado fixo no curto prazo, representando uma relagao proporcional entre a procura de moeda (M®) e o rendimento nominal (Y =P y), sendo Y 0 rendimento nominal e y 0 rendimento real, determinado exogenamente que, de acordo com a hipétese classica tende a situar-se ao nivel do pleno emprego. Diferentemente dos cléssicos Keynes considerou a moeda como um activo, como funcao de reserva de valor, para além do seu papel como meio geral de trocas e dos motives transacgao @ precaucéio, motivos que também eram considerados pelos classicos. Como activo, Keynes considerou a moeda, de forma simplificada, tendo como alternativa apenas os activos financeiros, nomeadamente acgoes e obrigagées, dependendo a afectagao entre moeda € activos financeiros da taxa de juros ou retorno. Assim, para Keynes, k, 0 inverso da velocidade de circulagao da moeda, ndo € constante nem estavel, mas variavel e instavel, 0 que traduz uma grande diferenga em relagéo aos classicos, ou seja, a velocidade de Circulagdo da moeda varia e é instavel. A taxa de juros constitui o custo de oportunidade da moeda pelo que uma variago da mesma altera a procula de moeda, Se a taxa de juros aumentar (0 custo de oportunidade eleva-sé) @ procura de moeda tendera a baixar (tendo por limite @ armadilha 48 liquidez) fazendo com que a procura de activos financeiros se elev aumentando a cotagao dos titulos financeiros, ceteris paribus. Friedman considera a moeda como um activo, tal como Keynes, contudo, considera-a como um activo que podera ser trocado por qualquer outro activo © ndo apenas pelos activos financeiros como suposto pelo modelo keynesiano, Esta andlise de Friedman teré implicagdes teéricas, quiga praticas, importantes, como veremos. 1.1) ENCAIXES REAIS Um conceito importante para Friedman 6 o de encaixes reais de moeda. Se na equago da procura de moeda Eq.3 Me Pye dividirmos ambos os membros pelo nivel geral de pregos, P, obtém-se: Eq.4 MFP =ky representando 0 lado esquerdo desta equagao, M‘/P, os encaixes reais de moeda, fungao do nivel de rendimento real, y, e de k (inverso da velocidade de circulagaio da moeda) que, para Friedman, nao € constante como para os classicos mas estével dado que depende de um conjunto de variaveis estaveis, como se vera mais adiante, E efectuada uma distingéio entre moeda real e moeda nominal. Esta 6 a moeda expressa em unidades de conta usada em determinado pais ou regio. A moeda em termos reais é a moeda medida em termos do poder de compra, ou seja, 0 poder que a moeda tem de ser trocada por quaisquer outros bens. O valor nominal da moeda varia ao longo do tempo, sendo fungao, na visdo classica e dos monetaristas, do volume da massa monetéria em circulago. Assim, a massa monetaria em termos reais resulta da massa monetéria nominal, M, ponderada pelo indice de pregos, P. Para os monetaristas a velocidade de circulagao da moeda, V, ou o seu inverso, k, néo € constante como era considerada pelos classicos, mas seria estavel, dependendo de um ntimero limitado de variaveis cuja ovolugéo 6 previsivel, originando, deste modo, estabilidade na procura de moeda. O conceito de “estabilidade" refere-se a0 facto de a procura de moeda néo variar aleatoriamente através do tempo, pelo que pode ser estimada fornecendo previsdes relativamente fiaveis € precisas que podem ser utilizadas na formulagao de politicas econémicas. ‘A procura de moeda para 0 Monetarismo depende de varios factores, varidveis estavels, que determinam a proporgao (ou propensao a deter moeda) do rendimento real que é detida sob a forma de moeda, k (pelo que a velocidade de circulagdo da moeda, V, é estavel), destacando-se os seguintes: «ts, a taxa de juros (retorno) nominal das obrigagées; + ta. taxa de retorno das accées; * To, a taxa de retorno dos bens duraveis; # w; relagao entre a riqueza humana - riqueza natural; « , conjunto de variaveis que inclui impostos, tecnologia de pagamentos, sistemas de transportes, etc. Assim, k depende destes factores que séo os retomos de actives alternatives & procura de moeda, que sao previsiveis, dando estabilidade a k, que pode ser formalmente expresso do seguinte modo: Eq.5 k= f(t, ta, fo, W, H) Note-se que Friedman separou os retornos dos varios activos, financeiros & reais, diferentemente de Keynes que considerava apenas os activos financeiros em conjunto @ nao integrando os retornos dos activos reals Substituindo k (Eq. 5) na equago da procura de moeda por encaixes reais, Eq. 4, tem-se a seguinte expressao: Eq.6 MelP = f(a, fa, To. W. B) ¥ ou, em termos nominais: Eq.7 M® =f (tB, fa, fo. W, Hs PY) 10 ‘onde yp representa o rendimento permanente real. Note-se que k (que podemos denominar de propenséo marginal a deter moeda) é fungéo de um conjunto de variaveis estaveis, néo é considerado constante como acontecia no modelo classico, mas sim estavel. Deste modo, ac contrério da antiga teoria quantitativa da moeda, a moderna teoria quantitativa nao sustenta que Py possa ser apenas determinado pela oferta de moeda (M) mas também pelas varidveis que determinam k Na equagéo M = k Py, k pode ser considerado como determinado independentemente das outras variaveis da equacao pelo que as alteracSes na quantidade de moeda em circulagao reflectir-se-do nos pregos (P) ou no produto real ou em ambos, pelo menos no curto prazo. Mas as alteragdes no produto (y) s6 se verificaréio no curto prazo e na situagao de a economia nao se encontrar ao nivel de emprego potencial. No longo prazo 0 aumento da quantidade de moeda em circulago reflectir-se-4 totalmente nos pregos, sendo o produto real (y) determinado apenas pelas variaveis reais e ndo pela moeda. Esses factores reais s4o: a formagao de capital, as alteragdes tecnolégicas, 0 aumento do capital humano, a mobilidade do factor trabalho, os quais néo sao influenciados pelas alteragdes na oferta de moeda. Deste modo, existe neutralidade da moeda no longo prazo, embora no curto prazo possa haver alguma influéncia no produto real ¢ no emprego desde que a actividade econémica esteja abaixo do produto potencial. No longo prazo a teoria monetarista € muito semelhante @ teoria cldssica quanto & determinacao do produto e do emprego. Como se considera que as familias procuram maximizar a sua utilidade em termos de magnitudes reais, a anterior equacdo (Eq, 7), que esta expressa em termos nominais (e que sendo considerada como homogénea de primeiro grau), pode ser convertida em termos reais: (Fa, fa, fo, Ws Hs You) Eq.8 " Esta equacao expressa a procura de moeda em termos de encaixes reais, independentemente dos valores monetarios nominais. 1.2) DETERMINAGAO DO RENDIMENTO SEGUNDO FRIEDMAN Tendo em conta a equagdo M* =f (rs, ra, fo, W, H, P Ye) - Eq. 7-, pode obter- se a determinagao do rendimento monetario (ou nominal, Y), considerando que a fung&io de velocidade de circulagao da moeda (k) ¢ estavel Eq.9 Be F (te, ta, fo, W, HP) que pode ser reformulada para: Eq. 10 M=f (fa, fa fo Ws Hs P) yp Esta equagao € semethante 4 equacao classica da procura de moeda: Eq. 11 M=kY=Q)Y resolvendo em ordem a Y, tem-se Eq. 12 Y=(2M=VM Contudo, na teoria de Friedman, o rendimento, Y, € 0 rendimento permanente, @ M inclui 05 depésitos a prazo (moeda em sentido lato, integrando os agregados monetétios M; e Mz), sendo k fungéo de um conjunto de variaveis estaveis equivalente a {(.) da Eq. 5,. pelo que se tema seguinte equagao da determinagao do rendimento permanente, em termos nominais Eq. 13 Y= V (Fe, ta fo, Ws H) M que traduz 2 reformulagéo da teoria quantitativa da moeda do modelo classico, podendo expressar-se as semelhangas entre as duas formulags0 da teoria quantitativa da moeda, classica e monelarista pela seguinte expressao: Eq. 14 Y=IV()IM onde V € a funcao de velocidade da moeda, determinada por um conjunte de varidveis estaveis. 12 CAIXA 1 Em termos da andlise IS-LMS, no Monetarismo, sendo a procura de moeda pouco sensivel & taxa de juros, a curva LM de longo prazo & tendencialmente vertical, evidenciando, de acordo com esta teoria, que as politicas orgamentais sao ineficazes para combater o desemprego e aumentar © produto no longo prazo. O Monetarismo considera que os efeitos das despesas publicas no modelo keynesiano so devidos ao financiamento dessas despesas efectuado com moeda, como ja foi referido. AUMENTO DA OFERTA DE MOEDA E MECANISMO DE TRANSMISSAO © modo como os efeitos das alteragées na oferta de moeda sdo transmitidos @ economia e, portanto, as varidveis reais, é referido como ‘mecanismo de transmisséo. 2.1) MECANISMO DE TRANSMISSAO_ Para os monetaristas os agentes econémicos sAo maximizadores da utilidade, pelo que desejam uma determinada estrutura dos seus activos que maximize a utilidade que deles possam retirar, pelo que, em consequéncia, procuram manter um saldo monetario desejado em termos reais, atendendo a que a moeda, para os monetaristas, & um activo substituivel por qualquer outro, como ja foi referido. ‘Assim, um aumento da moeda originado por qualquer razéo pelo sistema bancério, implica que, no inicio da criagdo de um acréscimo monetério, alguns agentes econémicos passam a deter um excesso de saldos monetarios para um dado nivel de rendimento. Esse aumento da 5 Ver as curvas IS-LM no capitulo respectivo, que ja foi analisado, 13 quantidade de moeda provoca um desequilibrio que se repercute no comportamento dos agentes econémicos, sejam @s empresas ou og individuos, ou seja, estes agentes detém excesso de encaixes monetarios, Tenha-se em conta que todo 0 processo dinamico, que traduz a realidade da vida, se desenrola num continuum entre 0 equilibrio e 0 desequilibrio, pelo que em qualquer estudo econdémico, que tem como objecto o comportamento dos individuos (ou pessoas colectivas, por detras das quais esto sempre pessoas fisicas ou singulares, os individuos que directa ou indirectamente buscam a maximizagao dos seus interesses), ha que ter em Consideracdo 0 comportamento dos individuos fora do equilibrio. Podemos Considerar que essa dinamica entre o equilibrio e 0 desequilibrio gera a busca continua da maximizagao da utiidade @ a minimizagao dos custos ou desutilidade. O deseauilibrio provocado pelo aumento da moeda (ou da base monetaria) ao alterar 0 comportamento dos individuos na busca da maximizagdo da sua utilidade (ou da maximizagéo dos lucros no caso das empresas, Nomeadamente os bancos) permite explicar a evolugdo dos pregos, das taxas de juros, do rendimento nominal e do emprego. Se 0 banco central desenvoive uma politica de compras de titulos da divida Publica através do mercado aberto, os bancos comerciais e de investimento, ficam com liquidez em excesso, levando, em consequéncia, a tentarem desfazer-se desse excesso de liquidez, ou seja libertarem-se do excesso de saldos monetarios, procurando maximizer os lucros através da concessé0 de empréstimos. Para reestruturarem os seus activos de forma a que os mesmos Ihes Proporcionem a maximizacéo de retorno, os bancos oferecem maiot quantidade de moeda ao sector nao bancério (individuos e empresas), OU seja, tentam vender moeda a este sector, aumentando o seu crédito, © mesmo ¢ dizer que procuram efectuar mais empréstimos ao sector n&o bancario desfazendo-se, deste modo, do excesso de liquidez que detém. 14 Este sector nao bancério é constituido pelas empresas (nas suas varias formas juridicas, como sociedades em nome colectivo, sociedades por quotas, sociedades anénimas, sociedades em comandita) e pelas pessoas singulares (individuos), As empresas ao procurarem liquidez junto do sector bancério, fazem-no néo para reter essa moeda mas sim para fazerem pagamentos aos trabalhadores, aos fornecedores ou para realizar investimentos ou adquirirem outros activos. Por sua vez as pessoas singulares financiam-se junto dos bancos a fim de obterem outros activos (bens ou servicos), reestruturando os seus activos de modo a obterem uma combinagdo dos mesmos que Ihes maximize a utilidade, sujeita aos constrangimentos que enfrentam. O excesso de encaixes reais traduz -se na existéncia de um desequilibrio. devendo ter-se em consideragao 0 comportamento dos individuos nao s6 no equilibrio mas também no desequilibrio, Assim, ao desfazerem-se do excesso de saldos monetarios, a fim de se obter 0 equilibrio, de modo a maximizar a utilidade (ou os lucros), as pessoas trocam a moeda por bens e servigos, sejam actives financeiros, actives reais durdveis e ndo duraveis, ou seja, aumentam o consumo. Deste modo, diferentemente de Keynes, para os monetaristas um aumento da oferta de moeda pode ter efeitos direotos na procura agregada, seja através do consumo seja através do investimento. Mas enquanto os agentes econémicos se podem desfazer do excesso dos seus saldos monetarios, gastando mais, a economia como um todo nao pode desfazer-se do excesso dos saldos monetérios, pois a moeda transferida de um agente econémico em resultado do consumo ou investimento que faz, passa para outro. Em consequéncia, para restabelecer 0 equilibrio de curto prazo, os efeitos vao repercutir-se em variagSes no emprego, no produto @ nas taxas de juros @ de retorno dos varios activos financeiros. A iintensidade da variagéo dos pregos dependera do nivel da actividade ‘econdmica; se a economia se encontrar abaixo do produto potencial, um ‘aumento da oferta da moeda podera repercutir-se quer Nos pregos quer no Produto. Se, pelo contrério, a economia estiver a0 nivel do emprego potencial um aumento da oferta de moeda desencadeard quase exclusivamente um aumento no nivel de pregos. A teoria keynesiana considera que um aumento da oferta de moeda pode Nao se repercutir inteiramente nos pregos, mesmo nos casos em que a economia esteja a operar ao nivel do pleno emprego, devido a variagao da velocidade de circulagéo da moeda (e a preferéncia pela liquidez), ou seja, 98 sujeitos econdmicos podem ser levados ao entesouramento de mais Moeda, devido a uma baixa das taxas de juro, que, para Keynes, como ja foi analisado, considerava esta como o principal factor da procura de moeda. Ora, de acordo com 0 Monetarismo, a procura de moeda é pouco sensivel taxa de juros. Se no curto prazo a oferta de obrigagoes for fixa, um aumento da sua procura elevara os seus pregos (cotagéio) provocando um decréscimo na sua taxa de retorno. Resumindo, os efeitos mais importantes de um aumento da oferta de moeda serdo os seguintes: a) a taxa de retorno das obrigagdes baixara, ceteris paribus; b) no curto prazo o rendimento real aumentara (e eventualmente o emprego, tendo em conta a /ei de Okun) se a economia nao estiver a0 el do emprego potencial; c) o nivel de pregos de bens e servigos aumentara, 2.2) CURVAS IS-LM Utiizando 0 modelo? IS-LM, para o Monetarismo tem-se que a curva LM tende a ser vertical, reflectindo a baixa sensibilidade da procura de moeda @ taxa de juros, enquanto a curva IS & pouco inclinada evidenciando que © investimento tem grande elasticidade om relagdo a taxa de juros. ® Ver os graficos das curvas IS-LM no capitulo respective, 16 Assim, a teoria monetarista leva a que as politicas orcamentais, alteragdes da despesa publica e dos impostos, do lado da procura, tem muito poucos efeitos no nivel da actividade econémica, pelo que n&o deverdo ser utiizadas, como defendem os keynesianos. Note-se que, como ja analisamos noutro capitulo, as taxas de juros afectam tanto o investimento privado e de algum modo também o investimento publico como o consumo de bens duraveis. Uma subida dos retornos das variaveis que determinam a propensao marginal a deter moeda (k), ceteris paribus, afecta o prego das obrigagées, das acgées e dos activos reais durdveis Segundo a teoria monetarista, a oferta de moeda € o principal determinante da variagdo dos pregos e do rendimento nominal. Assim, a inflagéo pode apenas ser controlada através da oferta de moeda. Dado que a velocidade de circulagéo da moeda é estavel, variagdes na oferta de moeda em circulagdo afectaréo, de forma previsivel, variagdes no rendimento monetario, Outro efeito que decorre da teoria monetarista refere-se @ politica fiscal Como sabemos, segundo a teoria keynesiana, um défice orcamental do Estado, sendo financiado com despesa piiblica, teria efeitos multiplicadores no rendimento @ no emprego. Para Friedman, e para os monetaristas em geral, os efeitos multiplicadores da despesa piblica séo devidos ao aumento da oferta de moeda com que ¢ financiada a despesa publica, se os défices forem financiados através do aumento da moeda em circulagao. Se os défices forem financiados através de empréstimos junto do sector privado, 0 aumento do rendimento © emprego que adviria dos gastos publicos seria, em grande parte, compensado pela diminuigéo do investimento privado, o que € denominado por CROWDING OUT EFFECT, pelo que a politica activa orgamental seria ineficaz. Por essa razo, a curva, LM, segundo os monetaristas, tende a ter uma elevada inclinagdo, evidenciando a ineficdcia das politicas orgamentais de gastos publicos. 7 CAIKA2 EXPECTATIVAS ADAPTATIVAS’ P. Cagan® em 1957 e Milton Friedman? em 1957, desenvolveram 0 que ficou conhecide por expectativas adaptativas, significando que os agentes econémicos - familias, empresas, Governo - adaptam as suas expectativas, com base no passado, ao verificarem a existéncia de erros em relagéo ao que esperavam, No proceso dinémico da vida, em que existe sempre risco"” e incerteza, os individuos, perante os erros percepcionades (desvios) devidos informagao imperfeita, procuram ajustar o seu comportamento de modo a maximizarem @ sua utilidade (ou lucros) e minimizarem os custos de qualquer naturezas, Pois considera-se que os individuos so racionais, AS expectativas adaptativas acerca do futuro so formadas com base nos eros quanto as expectativas do presente em relagdo aos periodos | passados. Com efeito, os individuos cometem "erros” de varios tipos, devido & informagao imperfeita ou, por outras palavras, os seus planos s&o varias vezes frustrados, pelo que os seus objectivos de rendimento, consumo e 0 nivel de pregos esperados desviam-se do nivel de precos actuais Considere-se a seguinte equagao, que representa uma versao simplificada das expectativas adaptativas, tendo-se em conta apenas um periodo passado: Eq. 15 Pa Peas (Pe PE) onde Re = fepresenta os pregos esperados no periodo t; [Fe sete esceeeeaeeeee 7 No modelo apresentado seguimos de perio o modelo Gujarat em Base Ezononetncs, p. 556 0 seg (Thra Cane ns" in M. Fridman (ed.) Studies in the $7, Basle Economotres, . 896) Tha Edicion. 2” (95° (Ctado por Damodar N. Guarst eh Ce ta ier Sem Mars en Risco e incerteza sao conceitos diferentes, i : de Koyck, exposto por Damodar N. 18 Pr- representa o nivel de precos no periodo t; Px1 - traduz 0 nivel de pregos verificado no perfodo anterior; a- 60 Coeficiente de adaptacao das expectativas, com 0 Y:) haverd um aumento em X devido ao acréscimo de Y. Por outro lado hd que considerar que X no periodo t esta em desequillbrio. Assim, a alteragao em X é devida a duas componentes: () A componente de crescimento de Y, que constitui a variagao de X devida a alterago em Y; (ii) A alteragao devida a corregéo da componente do desvio, 5 (X° - Xp. | Quanto maior for 0 parametro 8 maior seré @ proporcao corrigida de qualquer erro no periodo seguinte. Deste modo podemos escrever 0 processo dindmico de adaptacéo das expectativas determinando X do seguinte modo: Eq. 23 onde se pode observar que X no periodo t depende da variagéo de Y no periodo t e do factor de adaptagaéo 5(y",,- X11) Para que a equagao seja economicamente significativa tera de verificar-se 820 . Fazendo a substituigdo de Ay‘, = BA Y,na equacao anterior tem- se 21 Eq. 24 AX, = DAY, + 6( BY 117 Xe Podera ter-se um vector de Y com diversas variaveis, tal como y- com p= (s ) Y 1» Ba ¥, caso em que a correcgao dos erras sera: Eq. 25 AX, AY 1. +b: AY 26+ 6(B Vier + By~ X,1) onde 50 para que se verifique uma solucao de longo prazo. ‘A equacao anterior pode ser reparametarizada de forma a que possa ser estimada, pois 6 necessério que sejam conhecidos os valores dos Parametros, i e Ba, 0 que néio acontece, dado que tém de ser estimados. Contudo podem estimar-se os parémetros da seguinte equagao reparameterizada da seguinte forma: Eq. 25 AX BMV is BBV 26+ O5¥ 11s + OLY 2:4 Os Xia t 6 0) e estimar os parametros ¢, i=1 ~of Que pode ser usada para estimar os parametros 0, 6... 8, Bre Bo. A equagio anterior € uma equacae dinamica, evidenciando que as alteragdes em X no periodo t dependem das variagdes de Y nos perfodos anteriores, do X verificado no periodo anterior (ou anteriores) e da vatiavel residual ¢| que capta outras influéncias, nomeadamente os choques que afectam X. ae | 22 2.3) MAIS SOBRE A TRANSMISSAO DOS IMPULSOS MONETARIOS Suponha-se que © mercado monetério esté em equilibrio e que o Banco Central pretende aumentar a massa monetér em circulagéo, pelo que compra titulos de divida publica aos bancos comerciais, no mercado aberto, ou que os bancos fazem leiléo dos créditos entre si, de forma a que @ liquidez bancéria aumenta, Esta maior liquidez do sistema bancério leva a que os bancos tentem refazer a sua carteira de activos, diminuindo a sua liquidez até ao montante desejado, reestruturando o seu conjunto de activos a fim de obterem outros activos que tenham uma taxa esperada de rendibilidade maior. A forma mais usual de 0 fazerem @ aumentarem os empréstimos ao sector nao bancério (empresas e familias). Ceteris paribus, os empréstimos tenderao a aumentar se a taxa de juros baixar, desde que se mantenham as preferéncias dos agentes econémicos do sector ndo bancario, podendo a baixa do custo do financiamento levar a0 aumento da actividade econémica, se as expectativas dos empresérios forem elevadas. A procura adicional de acges no mercado de capitais faz com que o seu prego (cotagao) suba, pelo que a relagéo entre os dividendos a que déo direito © © seu prego (taxa de retorno) diminua, isto 6, a taxa de rendibilidade das acgdes baixa. A baixa da taxa de juros leva a que as empresas tendam a aumentar os seus financiamentos junto dos bancos podendo expandir a sua actividade econémica. Por outro lado, a diminuigao da taxa de juros diminui 0 custo dos stocks pelo que 0 investimento em existéncias pode também aumentar. © aumento da cotagéo das acgbes podera estimular as empresas a elevarem o seu capital social ou a constituirem novas empresas. A baixa da taxa de juros induziré a um maior consumo de bens durdveis, nomeadamente através da redugao da poupanga e recurso ao crédito. 23

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