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PENSAMENTO FEMINISTA conceitos fundamentais lolre Malt N=itrlee kel Hollanda Vz ”, Tie tilee ————————w gumario 9 Introdugao Heloisa Buarque de Hollanda GENERO COMO METODO 49 83 95 424 157 243 ; ae + toria Feminismo, capitalismo e aastucia da histori: Nancy Fraser G&nero: uma categoria util para Joan Scott Nao se nasce mulher Monique Wittig Ainstabilidade das categorias analiticas na teoria feminista Sandra Harding Atecnologia de género Teresa de Lauretis Manifesto ciborgue: ciéncia, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX Donna Haraway Atos performaticos e a formagao dos géneros: um ensaio sobre fenomenologia ‘i e a Judith Butler giae teoria feminista andlise historica PRIMEIRAS INTERPELAGOES 235 239 254 N&o existe hierarquia di le e Audre Lorde i) Idade, raga, classe e gé, énero: Audre Lorde Senero: mulheres redetini Quem reivindica alteridade? mdoa iferenca Gayatri Spivak Nao existe hierarquia de opressao audre Lorde EUNASCI NEGRA, E MULHER. Esforgo-me para sera pessoa mais forte que eu conseguir - para viver a vida que me deram e para promover algum tipo de mudanga que leve a um futuro decente para esta terra e para os meus filhos. Sendo uma pessoa negra, lésbica, feminista, socialista, poe- ta, mae de duas criangas - uma delas, um garoto - e parte de um casal interracial, eu me lembro a todo momento de que sou parte daquilo que a maioria chama de desviante, dificil, inferior, ou um escancarado “errado”. Por estar em todos esses grupos, aprendi que a opressao e a intole- rancia com o diferente existem em diversas formas, tamanhos, cores e sexualidades; e que, dentre aqueles de nés que tem o mesmo objetivo de libertacdio e de um futuro possivel para as nossas criancas, nao pode existir uma hierarquia de opressao. Eu aprendi que sexismo (a crenga na superioridade inerente de um sexo sobre todos os outros e, assim, seu direito de dominar) e heterossexismo (a crenca na superioridade ine- tente de uma forma de amar sobre todas as outras e, assim, seu direito de dominar) vém, os dois, do mesmo lugar que o racismo - @ crenga na Superioridade inerente de uma raga sobre todas as outras e, assim, seu direito de dominar. “ ; ‘Ah’, uma voz da comunidade negra come¢a a falar, “mas ser oo Normal!” Olhe, eu e muitas pessoas negras de minha idade nos e Noscom amargura de um tempo em que n° costumava ser! 235 erta parte de minha identidag, pra. Eu se? que Meu povo nx, Poss, yer outro grupo que esteja ty Vai gy az. Na verdade, a gente se Pau elo que temos derramadg ny eriangas que precisam ap, ae 5 para trabalhar umas com eM don s 8 out, s, uentes a lésbicas e homens Bays 53, 2 mais frequentes a todas as pessoas he ° essao SC manifestem neste pafs, es cial. E encorajar membros de grupos as os outros éum procedimento-padiae” ivididos por causa de nossag Fy star juntos em ages politicas elaine Jésbicas, eu sou negra; e entre as pessoas Negras contra as pessoas negras éum Problemy oe ays, porque eu © milhares de outras mulheres Negras para ésbicas € 4Y5 PO dade lésbica. Qualquer ataque contra lésbicas. ; roblema para pessoas negras, porque milhares de lésbicas. gays Eu vs sao negros. Nao existe hierarquia de opressio, eee soincidéncia que a Lei de Proteciio da Familia (Family Prot. tion. 2), queé violentamente antimulher e antinegra, também seja antiga, Sendo uma pessoa negra, sei quem sao meus inimigos. EquandoaKukhu Klan move uma agao judicialem Detroit para fazer o comité de educagiods cidade tirar das escolas livros que elaacredita “fazerem apologia & homos- sexualidade’, sei que nao posso me dar ao luxo de lutar contra uma tina forma de opressao. Nao tenho como achar que estar livre da intoleranciaé direito de apenas um grupo especffico. E nao tenho como escolheremqut frente vou lutar contra essas forgas discriminatérias, independente deque Jado elas estejam vindo para me derrubar. E quando elas aparecerem pa me derrubar, nao ira demorar a que aparegam para derrubar vocé. * TExTO ORIGINAL " INTehaaeat MENTE PUBLICADO 808.0 TITULO “THERE 18 NO HIERARCHY OF oppression 20K on LOOKS FOR CHILDREN BULLETIN, VOL. 14, #3, NOVA YORK: COUNCIL OF wren REN, 1983. TRADUGAO DE PE MOREIRA. 236 Idade, raga, Classe egénero: mulheres redefinindoa diferenca Audre Lorde aaa spnanas segundo uma ops simpli: dominant abe ; igo simplista: dominante/subor- dinado, bom/mau, i alto/embaixo, superior/inferior. Em uma sociedade onde o bom é definido em termos de lucro e nao em termos de necessidade humana, ha sempre um grupo de pessoas que, por meio de uma opressao sistematizada, é obrigado a se sentir supérfluo, a ocupar o lugar do infe- rior desumanizado. Dentro dessa sociedade, esse grupo é composto por negros e pessoas do Terceiro Mundo, trabalhadores, idosos e mulheres. ‘Como uma negra lésbica, feminista, socialista de 49 anos, mae de dois filhos, inclusive um menino, e membro de um casal interracial, em geral me vejo fazendo parte de algum grupo definido como outro, pervertido, inferior ou simplesmente errado. Em termos tradicionais, na socieda- de americana, sao 0S membros de grupos oprimidos e coisificados que devem se esforgar para conciliar a realidade de sua vida e a consciéncia de seu opressor. Para sobreviver, aqueles de nés para quem @ opressio € m de permane- tio americana quanto uma torta de maca, sempre tivera cer vigilantes, conhecer a linguagem e as atitudes do opressor, chegan- doa adotd-las certas vezes para ter alguma ilusio de protegio. Sempre que surge a necessidade de alguma espécie de comunicagao, aqueles que lucram com nossa opressao nos chamam para compartilhar com eles a ‘nar 20 nosso conhecimento. Em outras palavras, cabe ao oprimido ensina 239 opressor seus erros. Eu sou respons4 Guececama olor ca arata Aline ng acai ca Terceiro Mundo, temos de educar pessoas brancas as dade. As mulheres tém de educar os homens. As lésbincn tém de educar o mundo heterosexual. Os opressoreg oo °° BOmen e fogem da responsabilidade por seus atos. Existe uma Mantém sy. i Bay de energia que poderia ser mais bem usada em rede eed ag em criar cenarios realistas para modificar o Presente e ¢; A rejeicao institucionalizada da diferenca é uma here ttiro ty em uma economia baseada no lucro que precisa de forasten al nat r4vit. Como membros dessa economia, todos nés fomos a come. reagir com medo e édio as diferencas humanas e a lidar coe nado Ping cas de determinada maneira, dentre trés: ignord-las e, se issomn difer, vel, imitd-las se acharmos que sao dominantes, ou destru{-las se. for Posse. que sao subordinadas. Mas nao temos modelos para conviver ea diferengas como iguais. Em consequéncia disso, essas diferencar tee mal interpretadas e mal utilizadas a servico da separacdo e da are Sem diivida, entre nés existem diferengas bem reais de raca, fe género. Mas nao sao elas que estao nos separando e sim nossa rs reconhecer essas diferengas e em examinar as distorcdes que results do fato de nomed-las de forma incorreta e aos seus efeitos Sobre o com. portamento e a expectativa humana. Racismo, a crenga na superioridade inata de uma raca sobre todas. outras e, assim, o direito 4 predominancia. Sexismo, a crenga na superio. ridade inata de um sexo sobre 0 outro e, assim, o direito 4 predomininca Discriminagiio etaria. Heterossexismo. Elitismo. Classismo. E tarefa da vida inteira para cada um de nés retirar essas distorgéesde nossa vida ao mesmo tempo que reconhecemos, reivindicamos e defiti mos essas diferencas com base nas quais elas so impostas. Pois todosnis fomos criados em uma sociedade na qual essas distorcées faziam partede nossa vida. Com muita frequéncia usamos a energia necessaria pararet nhecer e explorar as diferengas, para fingir que essas diferengas sioter reiras insuperdveis, ou que elas simplesmente nao existem. Isso rest em um isolamento voluntério, ou em vinculos falsos e traigoeiros. Deum forma ou de outra, nao desenvolvemos mecanismos para usar dite humana como um trampolim para uma mudanga criativa em nossa vid Nao falamos de diferenca humana, mas de anormalidade human’ $80 de pro A fe, Os, 'S8¢ *Pess0as nee, rag ssa, to finn a nog Hey 240 jugar, no limiar da gp iti or mei Conscian, ma mitica, por Meio da qua} a que “esse N&O SOU CU”, Na Any jor J no branco, Magro, m e f mente estavel. E com e ad, ext cada um ‘ite due 1 NErica, @ en6, " ach, + C88 be, ©, jover io Norma go Mtr ie oO Norm, nu A Mtieg vo XUal mente gem dentro da socieda ister se geralmente id dle. Aquetes de clas arms to » poder se” lentificamos un, 28 due Tmadithas 4 °H . supomos que essa é Ma may estamog 2 rete Baton des em a causa basicg qe nit* Pela M08 afasta jo outras istors torno da difere, de toda op! ome io” podemos estar praticando, De moq AS, algu Pressao, 6s, " + ESduie. 2st me ulberes hoje, as mulheres brancas seu Beral, dentro de, S quais ngs ulheres € ignoram diferencas de ra ©ncentram em Sewimento o, Existe 2 falsa aparéncia de uma how. Preferencia a opressig ada palavra irmandade que de fato needa de deen’ piferensas de classe nao reconhecidas aso existe, Periéncia edo insight eriative umas as outras. Recentemente wf daenergia fpo de uma revista Fentining fomou a decisio de mab ne SrUPe Me taba. mum dos mimeros: dizendo que poesia era uma form, apenas prosa spigot 052" ou “séria - Entretanto, até mesmo a forma mm de arte menos gade assume é geralmente uma questi de classe. De a Nossa criativi- a poesia éamais econémica. Ea mais secreta, a a as formas de trabalho fisico, menos material, e aquela que pode as exige menos no ambulatério do hospital, no metré e em sobras de pay an a dos wltimos anos, escrevendo um romance com um orgamento Ao longo yim a apreciar as enormes diferengas em termos de demanda al entre poesia e prosa- ‘Ao revermos nossa literatura, a poesia foi a voz mais importante dos pobres, dos trabalhadores e das mulheres de cor. Um quarto apropriado pode ser uma necessidade para escrever prosa, assim de papel, uma mAquina de escrevere um bocado de tempo. rtes visuais também ajudam a determinar, ertence a quem. Nestes tempos de pregos escultores, nossos pintores, feminina de largo e das diferensas 30 arte, como resmas Asexigéncias para produzir a emtermos de classe, que arte p inflacionados de material, quem sfo nossos nossos fotografos? Quando falamos de uma cultura espectro, precisamos nos dar conta do efeito de classe econémicas no material existente para produzirarte Ao caminharmos em diregao a uma § jedade criativa € podemos prosperar, a discriminagao etdria é ;gnorat 0 passado, somos e ve geragoes é uma impo, repressora. Se os Me am OS membros mais Neorg Ttante Mbro, ; Vel eles jamais serg,, Thos ycedent]e excee 5 c as vivas da comunidad Aba. Isso provoca uma amne™ oda toda vez que temo, nail 8 de i, pyre APES os OO" | nder sem par tav wie’ 4 ue . adaria- etire a reapre: parar as ™Mesm pists jago na PA ecas' : : ,dados de raca entre mulheres e as implicagdes des, x Vio aox Sas mais séria ameaga a mobilizagio de forcas das diferensas F mulheres- Enquanto neura e defin “ » rastei * " de corse tornam ‘outras”, as forasteiras cuja experiéncig Sticas” demais para se entender. Um exemplo disso ¢ te da experiéncia de mulheres de cor como materia] as mulheres prancas ignoram seu privilégio natural de em amulher apenas em termos de sua prépria experién bral . cia, as mulheres e tradicao sao ex cAnci ant aauséncia marc = em estudos sobre mulheres. A literatura de mulheres de cor raramente éincluida em cursos de literatura de mulheres e quase nunca em outros cursos de literatura, nem em estudos sobre as mulheres em geral. Com muita frequéncia, a desculpa dada é que as literaturas de mulheres de cor s6 podem ser ensinadas por mulheres de cor, ou que so muito dificeis de entender, ou que os alunos nao conseguem “se interessar” por elas porque vém de experiéncias “diferentes demais”. Eu ouvi esse argumento apresentado por mulheres brancas de inteligéncia brilhante, mulheres que nao parecem ter problema nenhum em ensinar e rever obras nas- das ae Sins tao variadas quanto as de Shakespeare, Moliére, Bae eane ee anes. Seguramente, deve existir outra explicacio. Pees es ene muito complexa, mas acredito que uma das eee mulheres nome res brancas tém tanta dificuldade em ler a obras gras é por causa de sua relutancia em ver as mulheres nes 249 ! ynulheres e diferentes de gi - 7 nes Negras, € realmente Necessy as, Pang o. It gmnpletas em NOSSA Verdadoing We gee Minay eres, COMO Seres hun, jroplen cos mas familiarg, i genuinas de mulheres hegray *Nestay -Jiteraturas de outras mulheres aereditg eraturas de todas as mulh e muitas mulheres brang. 0 AMOS <4 1 Xidady SOx: mull : cor e lit CES de cop WUE Nao g aS estig alta CTiam, a . “ var as verdadeiras diferencas, Pois en lente cg 4s significar que u: ‘ iS pre nds SSD i ce ma de nés ter, de ceanto Qualgy a nto de ae que: “ na deve estar cantor, entag a le cor aban: e; ue mulheres lonem os esterese; Bad de am" spa, pois ameaga a complacénoj dag, Poséal ermitip ta culpa 4 ‘a daquelas Provoca mi: ressao em termos de género, mulheres a ‘a mui. op’ 0 veem pecusar-se & reconhecer a diferenca torna impos; giferentes problemas e armadilhas que nés, mulhee ‘Assim, em um sistema de poder Patriarcal o Tes, pranca é uma escora importante, as armadilhas usadas mulheres negras e mulheres brancas nao sto as Peas ficil para a estrutura de poder usar mulheres hegras contra hon ee nao porque eles sao homens, mas porque sao negros, Portante eos mulheres negras, € necessario o tempo todo separar as necesidader de opressor de nossos Ppréprios conflitos em nossas comunidades. Esse mesmo roblema nao existe para mulheres brancas. Mulheres ¢ homens negros compartilharam e ainda compartilham opressio racista, embora de formas diferentes. Por causa dessa opressao compartilhada, criamos defesas e vul- nerabilidades conjuntas uns em relagao aos outros que no se repetem na comunidade branca, com excegio do relacionamento entre judiase judeus. Por outro lado, as mulheres brancas enfrentama armadilha de serem seduzidas a se juntar ao opressor sob o pretexto de compartihar - i Essa possibilidade nao existe da mesma maneira pera asm — ‘om. Otokenismot que as vezes nos é oferecido nao eae eae partilhar o poder; nossa “diversidade” racial é ae uma gama maior deixa isso bem claro. Para as mulheres ran tficaret com o poder de falsas escolhas e recompensas Patriarcal e seus instrumentos. para se i 243 al Rights Amendment ~ direitg,. ERA (eae nomi e.o.avanco do conga, * igus, a retragae a walheres pbrancas acreditap nay tory, 4] para. as 7 temente boa, bonita, doce TT gone or suficien Ye voce odiar as pes: Salada, ce comportar § » PESSoas ¢@,,** entdo voc’ ter permissio pay, ate pelo menos até que um hon: parega um estuprador nas Vizinhangas nas trincheiras, é difici] lemby, 5g incessante. due sos filhos, sabemos que o tecig Jéncia e dio, que nao ha descansy ° nas nas filas de piquete, ouem becos escuros ay onde ousamos verbalizar nossa resisténcia. Para ny . joléncia permeia a rotina de nossa vida - no Supermercais vez mais, “ no elevador, na clinica e no patio da escola, vinda dobon, aid da eee do chofer de 6nibus, do caixa de ban, da gargonete que nao nos atende. are - Compartilhamos alguns problemas com €S, OUTS No, Vocds temem que seus filhos cresgam e se juntem ao Patriarcado € testemy. nhem contra vocés, nés tememos que nossos filhos sejam arrancados de um carro e assassinados com um tiro no meio da rua, e que vocés darig as costas as razdes pelas quais eles esto morrendo. Aameaga da diferenga nao foi menos ofuscante para pessoas deco, Aqueles de nds que sao negros precisam ver que a realidade de nossa vida e nossas lutas n&o nos torna imunes aos erros de ignorar e dar o nome errado a diferenca. Dentro das comunidades negras onde 0 racismoé uma realidade presente, as diferengas entre nés geralmente parece perigosas e suspeitas. O imperativo de unidade muitas vezes é confu- dido com uma necessidade de homogeneidade, e uma visio feminist negra confundida com traigao de nossos interesses comuns como po" Por causa da batalha continua contra supressiio racial que homens? cana age dtesompartlham, algumas mulheres negras ant ee ahostilidade sexual co rambém somos oprimidas a oe apenas sociedade brones wcontra mulheres negras é praticada ni ee fone? ista, mas implementada também dent® coos" ma doenga que atinge o coragao 43 hy Anoitg 6s, dy isso ape} idades negras, £ uw; 244 negra 0 siléncio nao farg com g je —s as a gad yacismo e pelas pressées da impotence, aesapar pel incas nesras Normalmente se toy. 8 Violencia

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