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© Desate TrOrico f METopoLdécico NO CAMPO DA HisTOrIA E SUA IMPORTANCIA PARA A PHSQUISA EDUCACIONAL! Dermeval Saviani* um encontro de Historia da Educagao, comecar pela prdpria Histéria nao. parece coisa va; ainda que, como veremos mais adiante, no debate em ae curso, atualmente, ela mesma, a Historia, vem sendo posta em questao. Acredito, porém, que, até para nos introduzirmos de forma apropriada nesse deba- ? itendendo o grau, o sentido eo contexto em que a Historia vem sendo ques- _ importa o resgate hist6rico do problema. visdo retrospectiva, é possivel constatar que a Histdria s6 se pas como um para ohomem, isto é, s6 emergiu como algo que necessitava ser compres xplicado, a partir da época moderna. A razao disso é relativamente simples. En- homens garantiam a propria existéncia no ambito de condigdes dominante- relacionando-se com a natureza através da categoria da “providénca’, fimento de que o meio natural hes fornecia os elementos bsscos -quais eram apropriados em estado bruto exigindo, quando muito, res cle transformagao que, por isso mesmo, resultavam eM for- sintonizadas com uma visio ciclica do tempo, nso se punha mpreender a razdo, 0 sentido ea finalidade das transformacoes O tempo, Isto 6, nao se colocava o problema da historia, a , de vida acima apontadas que prevaleceram até a Idade derna, Nesta, as condigdes de produgdo da existéncia Nacional de Estuxlos € Pesquisas *Histér a 19/12/97. yeral do Grupo de Estudos e Pesquisas izado com CamScanner FJETOORIA DA EDUCA AO 2 Hero aser dominantemente sociais, isto €, produzidas pelos prépric, a, assim, ager entendida como matéria prima das transor. ‘operam no tempo. Ea visao do tempo deixa de ser ciclica caracterizando-se agora Por uma linha Boerne que se projeta para frente, ligan. doo passado ao futuro por melo do presente urge al aquestao de se compreen. der a causa, significado ea diregao das transformagées. A Historia emerge, pois, como um problema nao apenas pratico, mas também tedrico. Ohomem, alémde umser histérico, busca agora apropriar-se da sua historicidade. Além de fazer hist6- fia, aspira ase tornar consciente dessa sua identidade. Nesse contexto, todo um conjunto de reflexes sobre a Histéria vai se de- senvolvera partir do século XVII que atingirao a sua méaxima expresso tedrica no século XIX nas obras de Hegel e Marx e, numa outra vertente, desembocando na corrente positivista derivada de Comte. Sobre a base dessas reflexdes foi possivel imprimir carater cientifico (no sentido que essa palavra adquiriu na modermidade) aos estudos histdricos. Eis porque se pdde afirmar que “até por volta de 1850, a historia continuou a ser, para os historiadores e para o publico, um género literério"(LANGLOIS e SEIGNOBOS). Talvez esse carter de género literdrio, isto é, a consideracao da Histéria como narrativa, seja uma das razOes da larga e longa predominancia do positivismo na pro- dugao historiogréfica. Com efeito, mais do que a exigéncia de cientificidade, a diretriz positivista de descricao fiel dos fatos est4 em consonncia com a vis4o ja arraigada no senso comum, da Histéria como narrativa, af entendida como descrigao dos fa- 0s, isto é, dos acontecimentos passados (do latim “factus” = feito). Formulando de outra maneira a mesma hipotese, dir-se-ia que o que se enten- de como predominancia do positivismo nao se configuraria exatamente como tal, masse trataria, antes, da persisténcia da Historia como narrativa, continuando a tre ee se co a pie e incorporando, a partir do século pasado, Pos eiieiio as ioe losdo método centlico ingrprecesso de levantament : BSA Cd ts ata ie i He) sistematizacao e exposicao das informagées. E nesse FSA 8 natnett ee a incid&ncia do Positivismo, antes que na concep Fae tase ta le uma ciéncia da Historia, i ; ganha ainda maior consist@ncia quando se consideram as "° satinentes A poucafamilaridade dos historiadores como tatoo °° filoséfica e a epistemologia da ciéncia, Ciro Flamanon Cardoso srir§ pretensio dos historiadores de escrever uma isto" °°" fo entanto, isto raramente se pratica com rigot “MeS"° nde uma formagaio que a tanto os habilte”. Ems > mesmo autor, abordando agora as tentativas de S humana passa homens. A natureza pa magbes que OS homens itera: Digitalizado com CamScanner Inreopugho 9 utlizagao da ciéncia contemporanea, em especial, a teoria quantica, para se contrapor asnogées de causalidade, objetividade cientfica, determinagao ou realismo, afirma que isto, porém, foifeito de uma forma que evidencia as deficiéncias de informacées, “em especial da parte dos historiadores, vitimas as vezes de sua falta de preparo cientfico € filos6fico, que os faz embarcar nas canoas que Ihes paregam ir no sentido por eles pretendido, sem verificar se esto ou no furadas: com efeito, é freqiiente que esgri- mam argumentos envelhecidos, além de conhecidos sé de segunda mao”. Essa mesma dificuldade é explicitada também por Francisco Falcon (p.97) ao tra- tardo “territ6rio” histérico denominado de "Histéria das Idéias", quando conclui que “as relacdes geralmente mantidas pelos historiadores com as ‘idéias’ so no minimo precérias". E aponta, entre os fatores explicativos dessa precariedade, os seguintes: Ia manifesta indiferenca de muitos historiadores em matéria de questées conceituais, tidas como abstracées filosdficas complicadas ou intteis; 2)o habito generalizado entre os historiadores de admitir “a priori” a transparén- cia de significado das categorias utilizadas que sio remetidas com naturalidade, ora a0 senso comum, ora contextos tedricos especfficos, sem nenhum senso critico. Efetivamente, os historiadores, de um modo geral, ndo tm se ocupado, coma desejavel acuidade, das questdes epistemolégicas da historia. As excegdes ficam por conta de Alexandru Xenopol, Principios Fundamentals da Histéria (899); Paul Lacombe, Da Histéria Considerada como Ciéndia( 1893); Henri-lringée Marrou, Do Conhecimento Histérico(\954); Paul Weyne, Como se Escreve a Histéria(|97 |). Em verdade, a producéo nessa area tem sido dominada pelos fildsofos e, excepcional- mente, por floséfos-historiadores como € 0 caso de Benedetto Croce, eon e His- t6ria da Historiografa(|912) e A Historia como Pensamento e como Agio(| 939) ‘Apés a reacio anti-racionalista ocorrida na virada do século XIX para 0 século XX representada, por exemplo, pelas obras de Dilthey e de Spengler, organiza-se, na década de 20 deste século, o movimento que se traduziu na “Escola dos Annales” enquanto busca de superacao dos limites da historiografia tradicional de fundo Positivista até entdo dominante. Nas suas duas primeiras fases que se estendem até 1969, com a aposentadoria de Fernand Braudel, esse movimento pautou-se pela busca de construgio racional de uma histéria totalizante. A partir dos anos 70, d-se uma inflexdo com a adogio de pressupostos estruturalistas oriundos da filosofia, da lingtistica e da etnologia que desembocard na autodenominada “Nova Historia’, 3 qual se converteu no pivé do atual debate tedrico e metodolégico no campo da Histéria ao se contrapor & historiografia que vinha sendo praticada, seja na perspec- tiva tradicional A qual se atribufa a influéncia positivista, seja na perspectiva critica de orientagéo maniista ou tributaria da Escola dos Annales das fases lideradas por Lucien Febyre e Marc Bloch e, depois, por Fernand Braudel. HistORIA DA EDUCAGKO. pes 10_H1stORiA = eg Navisio de Cro Famarion Cardoso (1997, pp. 1-23), 0 embate aul rag. seerine dois paradigms que ele denomina de “luminista’ 0 rimeiro, ep. demo", 0 segundo. E ee i Como foiacenado no: inicio desta conferéncia, a propria histéria vern sendo. ‘objeto de questionamento neste momento quando se torna corrente aafirmacao da impos. sbildade do surgimento de novas teorias globais 0 que inviabliza "tanto a historia que tg: homens fazem, se se pretende perceber nelaalgum sentido, quanto aistéria que Sehistoriadores escrevem, entendida como uma explicacéo global do social em sey movimento e em suas estruturagoes", Para Flamarion Cardoso, “a melhor respostaa tel desi sera, 6 daro, produzir uma teoria holistca do socal que, escapando & pate fundamentada das critcas feitas &s teorias disponiveis, desse conta das sociedades de hoje-o que a qualifcaria também para o entendimento das sociedades passadas’. Ele se pergunta, entdo, por que isto nao ocorreu ainda, e avanga a seguinte resposta: Parece-me que, nesse particular, as ciéncias sociais, entre elas a historia, estéo numa situacio anéloga a das ciéncias naturais por volta de 1890. Naquela época, haviam-se jé acumulado criticas numerosas e irrespondiveis as teorias vinculadas a uma visio newtoniana do univers. Mas sé a partir de 1900, coma teoria quantica e depois a relatividade, um novo paradigma comecaria a esbocar-se. Os titimos anos do século XIX caracterizaram-se, entéo, por um mal-estar tedrico e epistemoldgico entre os cientistas naturais, similar 20 dos cientistas sociais da atualidade: com o agravante, para estes tltimos, de que as teorias disponiveis caducaram sobretudo porque 0 préprio objeto central ~ as sociedades humanas contempordneas — mudou muito intrinse- camente. Ou melhor, 0 que nos leva ao cerne do problema: ainda esté mudando radicalmente, mas em um proceso que, se jé revela alguns de seUs aspectos e potencialidades, longe est de haver chegado ao fim e, por- tanto, de manifestar todas as suas conseqUéncias (p.13). Estamos, pois, numa ase de transigao em que novas condicdes jé esto se co figurando mas ainda néo amadureceram o suficiente para permit a formulasao es ‘ematizacao da teoria adequada para compreendé-las e explicd-las. Essa crcunsténc® a concepybes de dissolucio da hist6ria ern miitiplas historias e o abandon? 5es de amplo alcance, que passam a ser taxadas como invidvels S°™ $865 que integram o chamado "paradigma pos-moderno’. Por cle istbria como narrativa sugere um retorno aos idos de 1850 ndida pelos historiadores, assim como pelo piiblico deun 0, conforme afirmacao de Seignobos ¢ Langlos 05, publicada em 1897. Ge Digitalizado com CamScanner Issrropugio 11 Quanto ao "paradigma pés-moderno", apds apresentar as 5 racteristicas, Ciro Flamarion Cardoso faz 0 inventério das princi seu ver, devem ser dirigidas a essa tendéncia: as principais ca- pais criticas que, a 1) ° anti-racionalismo tipico dessa corrente acompanha-se, por vezes, de cer- to desleixo tedrico e metodolégico e, o que é especialmente grave no caso de historiadores, até mesmo no que diz respeito a critica das fontes. 2) Os pés-modernos costumam ser mais apodicticos € retéricos do que argumentativos, lancando mao de afirmacées apresentadas como se fossem axiomaticas e auto-evidentes, nao sendo entéo demonstradas — como se bastas- se dizer “eu acho”, “eu quero", “minha posicao é...", ndo se preocupando, tam- bém, com a refutagao detalhada e rigorosa das posi¢6es contrarias. 3) Hé paradoxos e aporias insolveis em muitas das posicdes pés-modernas. Exemplos: a) na defesa da “desconstrugao”, sendo os pontos de partida a negacio de um sujeito agente e de qualquer relagio referencial entre discurso e realidade, por que o discurso da desconstrucio seria mais aceitdvel, teria maior autoridade do que qualquer outro dos discursos e escritas, no jogo dos significantes que se multi- plicam até 0 infinito? b) e como conciliar a negaco do sujeito e do homem com um método hermenéutico relativista que, na pratica, descamba para o subjetivismo? 4) Poder-se-ia invocar também, contra muitos membros da corrente atual, 0 fato de cairem no velho “fagam 0 que eu digo, ndo o que eu fago”. Adeniincia da ciéncia e do racionalismo como terrorismos a servico do poder esta longe de sig- nificar que os pés-modernos, uma vez encastelados em posicao de poder, sejam mais tolerantes na pratica, devido ao relativismo que em tese pregam, do que aqueles que criticam e combatem. Essa contraposi¢éo apresentada por Ciro Flamarion Cardoso entre os paracigmas “iluminista” e “pés-moderno’, alids, jd proposta por ele em 199, no | Seminario des- te Grupo de Pesquisas, quando proferiu conferéncia sob 0 titulo “Paradigmas Rivais n Historiografia Atual"(CARDOSO, 1994), nao deixa de ser instigante. Entretanto, € ‘GOS0 reconhecer que implica uma esquematizacao um tanto simplificadora, j4 que sb urna mesma rubrica correntes bastante distintas e, até mesmo, opostas efeito, embora o marxismo participe com as demais correntes do sé- sentendimento de que a razio humana é capaz de conhecer a realidade nite, a obra de Marx se formulou em contraposigao tanto ao iluminismo 0, criticando-os de forma contundente. ey ; rma, 0 debate esta instalado e tem consequiéncias ga maior wa pesquisa educacional, de modo geral, e para a pesquisa hist6rico- a wnte, dada a historicidade do fendmeno educativo do préprio homem, o debate historiogritico Digitalizado com CamScanner 12_HistORiAE. HistORIA DA EDUCAGAO. tem profundas implicag6es para a pesquisa educacional, vez QUE © significado da equ. cagio est intimamente entrelagado 20 significado da Hist6ria, Eno ambit da inves facto istrco-educatva esa impcagao& duplamente reforada: do pont de is tado objeto, em razdo da determinacao historica que se exerce sobre o fendmeno educativo; e do ponto de vista do enfoque, dado que pesquisar em histéria da edu. cacao é investigar o ‘objeto educacao sob a perspectiva histérica, ‘Apropésito, cabe observar a dficuldade dos historiadores em reconhecer aed. cacio como um dominio da investigagao historia, Veja-se 0 exernplo do lvro Dom ris ca Hlstéra: Ensaios de Teoria e Metodologi, recentemente publicado. A obra com- pée-se de dezenove capitulos dstribuldos em trés partes. AParte | trata dos “Terrts- fos do Historiador: Areas, fronteiras, dilemas”. Os cinco capftulos af incluidos versam sobre “Historia Econémica”, “Historia Social”, “Historia e Poder”, “Historia das Idéias’ e “Historia das Mentalidades e Hist6ria Cultural’. Nao s6 nao aparece um “territério" chamado “Hist6ria da Educagao" como esta nao é sequer mencionada nos “territori- ‘08" reconhecidos como a Historia Social, a Histéria das Idéias ou a Historia Cultural. ‘AParte ll est referida aos “Campos de Investigagao e Linhas de Pesquisa’, abran- gendo dez capitulos: historia agraria; hist6ria urbana; historia das paisagens; historia empresarial; historia da familia e demografia hist6rica; histéria do cotidiano e da vida privada; histéria das mulheres; historia e sexualidade; historia e etnia; historia das reli- gides e religiosidades. Aqui, também, nenhuma mencéo a historia da educacao. Final- mente, a Parte Ill trata dos "Modelos Tedricos e Novos Instrumentos Metodologicos ‘Alguns Exemplos’. Sao os seguintes os quatro capitulos que compdem essa parte: histéria e modelos; hist6ria e andlise de textos; histdria e imagem: os exemplos da fotografia e do cinema; histéria e informatica: 0 uso do computador. De novo, nenhuma palavra sobre a historia da educagao. De outro lado, as dificuldades tedricas dos historiadores, como ja foi apon'é do, manifestam-se também e, até mesmo poder-se-ia esperar que fosse em grau ainda maior, no caso dos educadores. Deve-se, porém, reconhecer que os Inve’ _ tigadores-educadores especializados na Histéria da Educacao tém feito um grande -esforgo de sanaras|acunas teéricas, adquirindo competéncia no ambito hstoriogréfco um didlogo de igual para igual com os historiadores. E sil, cabe frisar que esse didlogo tem se dado por iniciativa d /imento que vai dos historiadores da educa¢ao para 0S: ao menos Jos educa digamos ho dos historiadores da educagao nao deve ar s6ricas, Dir-se-ia que, até mesmo em 12280 Pe ‘com os avangos no campo da historio- ipidamente as ondas supostame”” Digitalizado com CamScanner —_____Intropugio_13 te inovadoras que af se manifestam, Apenas a guisa de exemplo, lembro a influéncia de Foucault, transformado praticamente no guru da historiografia dita avangada. O problema é que a maioria dos historiadores, de um modo geral,e historiadores da educagio, de modo especial, tem pouco dominio sobre o universo epistemolgico em que se move Foucault e, menos ainda, sobre a matriz filoséfica de que é tribut4- rio, o que obrigaria a remontar ao pensamento de Nietzsche. Talvez esteja af razo da grande receptividade conferida a Foucault nas pesquisas de Historia da Educacio, acolhido como 0 arauto da defesa da subjetividade humana. Logo ele que escreveu As Palavras e as Coisas para demonstrar que “o homem é uma invencao recente”, cujo fim jé se anuncia, como se evidencia nessas palavras finais do livro: Se estas disposigGes viessem a desaparecer tal como apareceram, se por al- ‘gum acontecimento de que podemos, quando muito, pressentir a possibilida- de, mas de que nfo conhecemos, de momento ainda, nem a forma nem a promessa, se desvanecessem, como sucedeu na viragem do século XVI a solo do pensamento clissico ~ entdo, pode-se apostar que o homem se des- vaneceria, como & beira do mar um rosto de areia(FOUCAULT, 1968: p.502). Para Foucault, o pensamento classico, isto 6, aquele que se constituiu nos sé- culos XVII e XVIll, entrando em crise no século XIX, tinha por base um “campo epistemolégico" gerador das categorias “sujeito”, “consciéncia’, as quais ndo passam de ficc6es desse mesmo campo epistemoldgico. Isto porque, como esclarece Eduar~ do Lourengo, na “Introducdo" a tradugao portuguesa de As Palavras e as Cowsas, 2 nogao de “campo epistemolégico” traduz uma intengao implicita que estrutura uma érea cultural permanecendo, porém, invis\vel aqueles que a utiizam, melhor cizen~ do, Aqueles que e/a utiliza. Eis porque Eduardo Lourengo dé este significativo titulo sua introdugao: “Foucault ou 0 Fim do Humanismo". Essa idéia esta explicitamente formulada na obra, como se pode iktstran POF exemplo, no topico denominado “o sono antropol6gico”, onde, apés referir-se a Nietzsche, que teria reencontrado 0 ponto em que a morte de Deus ¢ sindnime do desaparecimento do homem, sendo a promessa do super-homem aiminéncia da orte do homem, afirma Foucault: 9 64 que pretendem ainda falar do homem, do seu reino ou da sua 1a todos os que formulam ainda questdes sobre o que é 0 homem les, em contrapartida, que reconduzem todo 0 conheci- do prdprio homem, a todos os que niio pretendem sistificar, que nfo querem pensar sem pensar logo que Digitalizado com CamScanner 14 ‘Historia E HistORta DA EDUCA AO, ee éo homem que pensa, a todas essas formas de reflexio canhestras e tore. das, nfo se pode sento opor um riso filos6fico ~ quer dizer, em certa medi. da, silencioso (1968: pp.445-6). Enesse contexto que Foucault se revela assumidamente estruturalista 0 que se manifesta mesmo na “Introdugio” & A Arqueologia do Saber quando, ao tratar dos problemas do campo metodologico da histéria, afrma: "a estes problemas pode-se dar se se quiser, a sigla do estruturalismo"(|972: p.19). E verdade que, nessa mesma introdugio, ele rd, mais adiante (p.25), fazer uma autocritica de suas obras anteriores, entre elas, As Palavras e as Coisas, Nao, porém, para abandonar aquela rota mas para assumi-la de forma mais conseqliente e radical, Com efelto, ao se referir a Histoire de a Foleele rd lamentar o quanto permaneceu af prdximo de “admitir um sujeito and- nimo e geral da hist6ria”. E entristece-se por nao ter sido capaz de evitar, em Les Mots et les Choses, que “aauséncia de balizagem metodolégica permitisse que se acreditas- se emanilises em termos de totalidade cultural"(1 972: p.25). Em outros termos, para ele, essas insuficiéncias decorreriam da forga de atracdo ainda exercida pelo “cam- po epistemol6gico” cléssico, que o teria levado a se aproximar da idéia de um sujeito geral da historia, num caso, e da categoria analitica da totalidade cultural, no outro. Parece, pois, no minimo estranho que esse autor seja tomado, com alvorogo € entusiasmo por jovens investigadores da histéria da educacéo, como aquele que teria vindo a resgatar a liberdade e autonomia dos sujeitos, tanto no Ambito da aco hist6rica, como da pesquisa histérica. Trata-se, salvo melhor entendimento, de um tema que esta exigir um estudo sistematico, cuidadoso e aprofundado. ‘O Grupo de Estudos e Pesquisas “Histéria, Sociedade e Educagao no Brasil’, cua Crigem data de 1986, surgiu, como sugere o seu nome, coma preocupacio de inves: ‘gar a Historia da Educacao pela mediacdo da Sociedade, o que indica a busca de un ‘compreensao global da educacao em seu desenvolvimento. Contrapunha-se, Po! * : i que comecava a invadir o campo da historiografia educacional. al de suas atividades deu-se em 1991, como | Seminar Setembro), no propésito de discutir a concepcio ea metodolos? Ocasiéo em que a chamada crise dos paradigmas se manifestou deciidoiniaras atvidades pelo projeto “Levante Secundérias da Educacao Brasileira”, arene § nos ou pré-julgamentos de qualquer & Es discutir especificamente 08 etd ‘As equipes iniciaram 05 {i ponivels, dal parti sdricas entendidas, i — Digitalizado com CamScanner Iteopucho _15 informag6es a que tinham acesso, como as mais adequadas & andlise dos temas defni- dos como objetos de investigacio. O Ill Seminério Nacional, realizado em novernbro de 1995, permitiu que se tracasse um amplo painel dos projetos teméticos desenvolvidos ‘ouem desenvolvimento nos diversos GTs estaduais (HISTEDBR, | 996). Diante do caminho percorrido ao longo dos tltimos seis anos, evidencia-se a necessidade de se retomar a discussio ‘tedrico-metodolégica de modo a garantira consist€ncia e a consolidago das pesquisas realizadas e em realizacdo no mbito dos diferentes GTs estaduais. Daf, a tematica central e as mesas propostas para este IV Seminério Nacional. Empenhar-nos-emos, entao, em estabelecer um elo entre ‘as mesas redondas do perfodo matutino e as sess6es de comunicagéo vespertinas. Nesse quadro, releva de importancia a Plenéria das Comunicacées prevista para a quinta-feira a tarde. Aj ensaiaremos verificar 0 influxo do debate instaurado nas mesas redondas sobre o andamento dos nossos trabalhos de pesquisa de modo a garantir- Ihes a necesséria consisténcia tedrico-metodolégica. Est, assim, aberto o debate. Acreditamos, pois, haver cumprido a finalidade desta conferéncia, que era tfo-somente introduzir-nos ao tema geral do seminério, asaber, “o debate teérico e metodolégico na Hist6ria e sua importancia para a pes- quisa educacional”. BIBLIOGRAFIA: CARDOSO, C. F, “Paradigmas rivais na historiografia atual”. In: Ecucagio & Socie- dade, No. 47, abril/1994, pp.6!-72. . “Historia e Paradigmas Rivais". In: CARDOSO, C.F e VAINFAS, 8. ~ (Orgs.), Dominios da Histéra: Ensaios de Teoriz e Metodologia. Rio de Janeiro, Campus, 1997, pp. 1-23. 91-125. As Palavras e as Coisas: uma Arqueologia das Cincias Humans. , 1968 (Original: Les Mots et les Choses Paris, Gallimard, 1966). do Saber Petrépolis, Vozes, 1972 (Original: LArchéologie cagdo no Brasil”. Campinas, FE/UNICAMR, 1996. Digitalizado com CamScanner

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