CAPITULO 20
RELACAO ENTRE PRINCIPIOS E REGRAS
20.1 Adscricao normativa
A nogao de adscrigao de regras a principios é colhida de
Robert Alexy®* por ser util 4 interpretacao das normas proces-
suais penais. Isso porque suas disposigdes estado intimamen-
te ligadas a protecao de direitos fundamentais, individuais,
cuja efetividade pode ser aleangada por meio da relacao entre
principios constitucionais e regras infraconstitucionais.
Adscrigao tem significado de complemento, de acrésci-
mo escrito, expressando imbricagéo entre normas de graus
diversos. Volvendo para a relagao entre regras e principios,
pode-se dizer que ha regras que estao adscritas a principios,
em complemento a estes. Tal relagao é vista entre o principio
da ampla defesa e as regras de citagao do acusado para se de-
fender. Estas estao adscritas aquele.
As normas processuais penais, produzidas a partir dos
enunciados ¢ dos fragmentos de enunciados da Constitui-
cao," podem ser levadas a efeito de forma direta ou indireta:
656. ALEXY, Robert, Teoria de los derechos fundamentales, Madrid: Centro de Est
dios Politicos y Constitucionales, 2002, p.68-72, ;
657. GUASTINI, Riccardo, Distinguiendo: estiidios de «ori ee
A‘ (2) Tetiete conte quando a comics aa memes
pende de complemento por meio de interpretag4o
de enunciados infraconstitucionais.
20.2 Espagos de quadro
E importante a delimitacao do nucleo processual penal
sediado na Constituicdo, haja vista que destinado a proteger
os direitos fundamentais individuais. Vale gizar que nem todo
dispositivo do ordenamento jurfdico é complementar 4 Cons-
tituico. Existem regras que preenchem espagos necessdrios
ao funcionamento do processo pena estao dentro do 4m-
bito do que a Constitui¢ao libera. Eis a regulamentagao dos
espacos de quadro.
Dando suporte a essa fundamentagao, Robert Alexy apar-
ta as normas disciplinadas diretamente pela Constituicao e as
normas que sao a ela adscritas. Considera, para tal conclu-
so, que existem regras infraconstitucionais que concretizam
prinefpios constitucionais, como forma de complementagao,
tornando-os mais precisos, haja vista a forma difusa como
posta pelo texto constitucional.**
A titulo de e
tam a Constitui
emplo de disposicdes que nao complemen-
0, podem ser
ados os enunciados que dis-
poem sobre:
(1) atomada de compromisso dos jurados no rito do juri;
(2) oencerramento do inquérito policial por relatério da
autoridade policial;
cho, Barcelona: Gedisa, 1999. p.99.
658, ALEXY, Robert. Teoria de lox deree
dios Politicos y Constitucionales. 2002,(4) anecessidade de tomada de compromisso pelos peri-
tos, como forma prévia ao exame de corpo de delito.
Disciplina legal como essas néo se caracteriza como ex-
tensao de comando constitucional, estando no espago para a
colmatagéo das disposigées processuais pelas chamadas leis
de quadro.
20.3 Preenchimento dos espacos do sistema
Com estabelecimento de um método padrao a producgao
normativa processual penal, é possivel conferir previsibilida-
de de resultados, com diminuigdo da discricionariedade judi-
cial, sem ser necessdrio destoar dos fundamentos positivistas
que reconhecem no Estado a fonte material de produgao do
direito. Essa preocupacao de limitar o arbitrio nao discrepa
da que externa Lenio Streck.
Criticando certa 6tica atribuida ao positivismo, o ilustre
jurista reputa que “negar a possibilidade de que possa exis-
tir (sempre) — para cada caso = uma resposta conformada a
Constituigao, portanto, uma resposta correta sob 0 ponto de
vista hermenéutico (porque é impossivel cindir o ato interpre-
tativo do ato aplicativo)”, pode ter o sentido de uma espécie
de “profissao de fé no positivismo e, portanto, a admissao de
discricionariedades interpretativas, o que se mostra antitético
ao carter nao relativista da hermenéutica filoséfica, incom-
pativel com a existéncia de miltiplas respostas”. De acordo
com o que conclui, havera o risco de outorgar “ao juiz uma
‘ssiva discricionariedade (excesso de liberdade na atribui-
10 dos sentidos)”, entendido 0 direito, tao somente, >
conjunto de normas.”” fO peeuieria parece ser melhor akuutads @ onl
do por meio da exposigdo fundamentada e detalhada de um
critério analftico que evidencie as raz6es e os passos para a
tomada de uma decisao jurfdica. Para tanto, parece ser indis-
pensavel a fixagao de pontos de partida sustentados em bases
empiricas reconhecidas como direito pelo sistema.
A forma de controle da licitude dos atos processuais
existira de forma diferenciada, a depender do fundamen-
to empirico para a producao da norma. Eventualmente, po-
der existir relagao entre Constituigao Federal e legislagao
infraconstitucional:
(1) de complementariedade, identificando o texto cons-
titucional que fundamenta direta ou indiretamente a
validade da legislacao infraconstitucional; ou
(2) de preenchimento de espacos que a Constituicéo
nao disciplinou."
Esse discrimen deve ser observado, por exemplo, quando
do calculo normativo da classe de nulidade processual penal
e sua correspondente consequéncia juridica. A incidéncia de
principios que afastem a invalidagado sé tem cabimento quan-
do viabilize maior eficacia de direito fundamental.
A redugao do espago nao abrangido pela programagao
normativa, de dttyidas interpretativas acerea da nulidade,
da prova penal ou do recurso criminal, é aleangada por essa
40, em conjunto com as definigdes dos elementos
dos atos processuais convencionados. Desse modo, a impli-
40 entre norma primaria (hipotese ou proétase) e norma
ruturas20.4 Nicleo constitucional do sistema acusatério
A essencialidade de um elemento de um ato processual
penal é atestada:
(1) em primeiro lugar, por decorrer de concretizagao de
norma juridica construfda a partir do nticleo proces-
sual penal constitucional de protegao aos direitos in-
dividuais fundamentais;
(2) em segundo lugar, o enunciado infraconstitucional
ditando, por exemplo, que haverd nulidade, median-
te técnica de sancionamento direto, induz que o ele-
mento essencial afetado deve ser objeto de reconhe-
cimento (cogéncia).
De todo modo, tais parametros decorrem de imperativi-
dade direta ou indireta do texto da Constituigdo, cuja solugao
sempre deve trilhar o critério de se atribuir maior eficdcia ao
direito fundamental. No seu art. 5°, dormita o nticleo do sis-
tema, do qual derivam os parametros para a identificagdo da
essencialidade dos atos processuais penais. Desse canone, in-
fere-se que a nulidade serve de elo entre a garantia fundante
e o direito positivo (fundado).
Alguns pontos de coincidéncia entre esse parametro e 0
alvitrado por Jorge Coutinho Paschoal sao verificados. En-
bremenies, o autor pleads gue a cBting entre nulidadeta ae MU ANEHto do padrao legal.”
Nesse cenério, 0 fulcro da incidéncia da disposigéo de
que nao hé nulidade sem prejufzo deve ser definido negativa-
mente. Terd lugar toda vez que nao estiver em jogo a aplica-
¢&o de direito constitutivo do nticleo constitucional de direito
fundamental. Ou seja, sua incidéncia é restrita 4s nulidades
relativas, salvo quando o afastamento do modelo jurfdico im-
plicar maior eficdcia a uma garantia.
Por outro lado, a comprovacgéo de auséncia do prejufzo
deve ficar nas maos do juiz e nao das partes, como parece in-
duzir o art. 563, do CPR O sistema acusatério pressupée divi-
sao de funcgées (art. 3°-A%, CPP), bem compartidas, sem cria-
ao de deveres as partes, senao por intermédio de lei.
20.5 Da verdade a todo custo a desisténcia da verdade
Geraldo Prado explica que, “no cerne da aplicagao con-
creta das normas juridicas, no momento de sua real constit
cao, ha uma politica do direito que se manifesta”. Tal politica
é depreendida da propria Lei Maior: “a validade juridica do
ato de concretizacao da norma, espelhada na Constituigao da
Republica, esta condicionada A compatibilidade entre a dis-
posicao constitucional e o comportamento em si mesmo”.
Alinhar 0 problema da adequagéo do procedimento a
certificacao da verdade é providéncia que exige postura com-
prometida com o sistema acusatorio. Os textos refratarios &
661. PASCHOAL, Jorge C
estudo a I ibunal Federal e do: ue
nal de Justig 2014, naa i :
£662, Dispositivo com efieseia suspensa, consoante d
0298/DF - ede Ct Rel 2
tinho. O prejui
da jurisprudéncia do Supren
Rig de Janeiro; Lumen Juris,efetividade das garantias fundamentais constitucionais, de
cunho inquisitivo, valem-se de formas legais incompatfveis
com a Constituicéo para propiciar negociacéo ou manipulacées
extorsivas tendentes a obtengo da verdade a qualquer custo.
Percebe-se que o sistema atual tem apresentado oscila-
go entre extremos opostos. A licdo da virtuosa justa medida,
dos gregos, parece distante de ser apreendida, desde o legisla-
dor até o juiz que aplica a norma ao caso concreto:
(1) de uma vertente, convive-se com a ambigao de ver-
dade levada a cabo pelo juiz inquisidor, lembrada por
Salah Kahled.™ E prépria de sistemas inquisitivos,
com a atuagao judicial marcada por postura ativa na
producao probatéria;
(2) do outro extremo, ha desisténcia da verdade e do
uso de critérios racionais a sua certificacdo. Abre-se
mao da producao da prova e sao usados atalhos como
métodos de aplicagao de pena, tal como o acordo de
nao persecucao penal (art. 28-A, CPP) ou com outros
meios de suspensao pactuada de garantias funda-
mentais (art. 4°, Lei n° 12.850/2013), com pressuposi-
¢4o de reconhecimento de culpa. Esses instrumentos
terminam por colocar a confissao no patamar medie-
val de rainha das provas.
Alberto Binder obtempera que o limite legal, historiea-
mente, nao foi suficiente para opor rédeas aos excessos esta-
iS as manipulagées e dis-
. Conforme leciona, “as possibilidades
0 nao foram eyitadas simplesmente
6es legislativas”. Dessa maneira, sao produzidos
outros limites que, em alguns casos, exigem permissao jt
cial expressa ou procedimentos com req
maiores formalidades, Consoante pontua,
tais, mormente quando considerada
ses interpretatide limites demonstra a desconfianga que existe, em um Esta-
do de Direito, na atividade de aquisigéo de informacéo”. Por
motivos histéricos, pelo conceito de dignidade humana e pela
meméria da arbitrariedade, limites dessa natureza s40 cons-
trufdos: serao mais estritos quando a atividade probatéria afe-
tar o imputado em sua intimidade.*
André Nicolitt, relacionando verdade e exercicio do
poder, pontifica que “o sistema inquisitivo caracterizava-se
principalmente pelo fato de o mesmo 6rgao (juiz) reunir as
fungées de acusagao e julgamento, mantendo-se em uma po-
sigéo de superioridade frente ao acusado” que, por sua vez,
estava “despido de garantias e envolto em um procedimento
secreto, escrito e, em regra, sem contraditério”.
Todo 0 arcabougo que oferece os contornos da persecu-
cao penal deve se respaldar no nucleo duro das regras pro-
cessuais penais. Com essa expressao, Walter Nunes da Silva
Junior aponta que os direitos fundamentais configuram a “es-
trutura central do processo penal”, razao pela qual sustenta
uma teoria constitucional d tee penal.
hs
20.6 Protecao dos direitos humanos pela estrutura de
garantias
O pice do sistema € o repertério das garantias consti-
tucionais. O que deve informar a interpretacao de todos os
enunciados que compoem o ordenamento juridico é 0 prin-
cipio acusatorio (art. 129, I, CF; art. 3°-A,° CPP), funda-
665. BINDER, Alberto M. El incumplimiento de las formas procesales: elementos
para uma eritica a Ja teoria unitaria de las nulidades en el processo penal. Buenos
Aires: Ad-Hoe, 2000, p81
666, NICOLITT, André Luiz. As subversdes da presuncao de inocéneia:
CCRRSHAGAIL Le ee le do Janis
668. Dispositive com hii jusnepate
Aahdload Medida Cautmentado,
contraditério, na ampla defesa, na motivagio das decisées ju-
diciais, na publicidade dos atos processuais, na coisa julgada
e na presungao de inocéncia (art. 5°, LVI, CF). A construgéo
da estrutura do sistema converge a finalidade de um processo
penal comprometido com a protecao dos direitos humanos.
André Nicolitt aviva que “a caminhada na consolidagéo e
realizagao dos direitos humanos além de dificil é longa. As mu-
dangas sao paulatinas e por vezes quase imperceptiveis”. Por
esse motivo, “pode-se pensar que a existéncia de instrumentos
internacionais e de organismos internacionais de promogao de
direitos humanos é algo inutil”. E absurdo “imaginar, em funcao
da baixa efetividade, que as préprias declaragées e proclama-
ges de direitos seriam dispensaveis em face da inutilidade”.™
Essa percepcao foi destacada por Alberto Binder, com aten-
cao para as questées em torno da verdade. Na esteira do autor, a
fungao duplice da verdade repercute, por um lado, sobre o con-
junto de garantias e, por outro, afeta o regime probatério, consis-
tente no conjunto de regras processuais que disciplinam o modo
como se retinem informacées no bojo do processo. Destarte, sa-
lienta que trés so os eixos desse sistema de garantias:
(1) os atributos da conduta que deve ser julgada;
(2) as condigdes a respeito das quais deve o fato ser
apreciado; e
(3
os lindes para a selecdo do objeto de prova e para a
atividade probatéria, que carrearao, ao processo de
verificagao, os resultados da cognicao judicial (regi-
me da prova ou juridicidade da atuacao probatéria).
O jurista argentino elucida, ademais, que “o regime
prova nao esta a servigo da busea da verdade, se:
constitui um dbice”,!" :
669. NICO)its 0 seane KLG Cy
reagdo ao acatamento ou A violagfo A Constituigéo e as regras
que regulamentam o procedimento penal. A verdade alcanga-
da nAo justifica meios ilfcitos.
Na dicgao de André Nicolitt, “a opgéo constitucional pela
verdade n&o o é por qualquer verdade, senio uma verdade
alcangada com respeito as garantias individuais, dentre elas,
a dignidade, o contraditério e a ampla defesa”. Com efeito, o
constituinte nfo sufragou a ideia de uma verdade absoluta,
obtida por qualquer artificio, porém “por uma verdade mini-
ma ou relativa, uma verdade possivel e limitada pelos proce-
dimentos e as garantias da defesa”.*”
20.7 Controle da verdade pelo procedimento
A justeza do processo deve se dar por meio das regras
procedimentais previamente estatufdas no interior do siste-
ma. A busca pela verdade a todo custo ofende os fundamentos
do Estado Democratico de Direito, maxime as garantias indi-
viduais constitucionais do imputado.
A relativizacao de nulidades processuais (maxime as tra-
dicionalmente elassificadas pela doutrina como absolutas),
verificada na pratica dos tribunais, ndo se afina com a prote-
zarantias fundamentais, O sentido dado a relativizagao
pela praxe jurisprudencial é, indevidamente, o de flexibiliza-
cdo, incompativel com a necessidade de 6rbita bem definida
dos direitos fundamentais.
A semantica da nogao de relativizagao deveria ser ou-
tra, Trata-se de yocdbulo que tem o sentido de colocar algo
em relagao com outros elementos. Os artigos e incisos
CF, nesse contexto, nao sao interpretados isolad
para una eritics 4 la teoria unitaria de las nulidades:
Altes; Ad Hoe, 2000, p15,Fes conn on dennais dans de os fortes
sistematico,
Pontes de Miranda dedicou varia pAginas do seu “Siste-
ma de ciéncia positiva do direito” & explicagao da relatividade.
O conceito pressupée relagéo das dimensées de tempo e de
espago de um sistema orgAnico, isto 6, do momento e do Ambi-
to da incidéncia normativa, para permitir equilfbrio jurfdico.
Nesse contexto, tudo seria relativo e interativo. Nao o
mesmo que flexfvel!
Nas palavras de Pontes de Miranda, “onde quer que haja
organismos, o que mais importa conhecer é 0 complexo ‘or-
ganismo x meio”. Elementos de um organismo jurfdico nao
escapam a essa percep¢ao: “estao sempre, e necessariamente,
em relacgao mediata ou imediata com 0 conjunto de outros ele-
mentos. A interacao é perene do mundo. Como, pois, limitar a
aplicagéo do relativismo?”*?
A reagao do sistema de nulidades & violacdo do procedi-
mento é um mecanismo de controle da juridicidade do proce-
dimento, com vistas a obtencao da finalidade do processual
penal protetora da garantia fundamental da liberdade. De
tal modo, quando aquele sistema deixar de cumprir a fungao
para 0 qual foi destinado, por conseguinte, a eficacia da ga-
rantia fundamental resta comprometida.
Quando violado esse ritual, deve o érgao competente ini-
dico. Se o érgao é de grau de jurisdicao superior, essa
fungdo é, inclusive, de natureza pedagégica.
Ainda uma vez, a conclusao que aqui se chega, pertinen-
te aos limites do poder punitivo, guarda compatil
as colocagoes de Alberto Binder, Segundo ore as
sobre a produgio probatoria devem ser “lin
verdade e, como tal, cumprem, exclusivde garantia, ¢ dizer, protegem o cidadio de eventual abuso de
poder na coleta de informagéo”."
Ricardo Gloeckner adverte que “um modelo que opta por
restringir 0 alcance da busca pela verdade encontrar4 regras
mais rigorosas no tratamento da produgao da prova assim
como na condugao e averiguagéo dos requisitos de validade
dos atos judiciais”. A relativizagéo de regras processuais néo
€ adequada & Constituigaéo de 1988, sendo, ao contrério, “ca-
racteristica central do modelo inquisitorial”.
20.8 Deficit de eficacia de garantias fundamentais pela
discricionariedade judicial
Sob a lente da nulidade, é evidenciado o vinculo que ha
entre as garantias fundamentais e o direito positivo delas
derivado.
Arelat
los tribunais.
‘izacao de nulidades, no entanto, é admitida pe-
No STJ, por exemplo, foi aplicado o instituto contratual
civil denominado the duty to mitigate the loss. Nesse diapasao,
as nulidades de qualquer natureza deveriam ser alegadas no
primeiro momento que a parte interessada tivesse para falar
nos autos. Caso ausente essa objecao, teria lugar a aplicacao
do principio preclusivo, com a convalidagao do ato defeituoso.
a0 das nulidades processuais mitiga as distin-
» de limites entre as categorias de
amplia as possibilidades de atribuicao de significado aos
textos de direito positivo, desaguando em sistema assimilavel ao:
inquisitivo, maxime pela superinterpretagao, isto 6, pela maior —
dimensao da atividade de aplicagao do direito no caso
BINDER, Alberto M. El incumplimiento de las for
Dara ia critica a ly Wworia unital hay nulla
Aires: Ad-Hoc,reams consequéncia final, a dispensa da qualificacéo di-
ferenciada dos atos processuais penais atfpicos abre espago
para a flexibilizagao das garantias que deveriam ser objeto de
custédia judicial.
Para o STY, teria cabimento a aplicagdo do dever de mi-
tigar a perda ou 0 prejufzo, fazendo incidir o supradito prin-
cipio de direito civil. O aresto sugere que a parte, que seria
beneficiada com 0 vicio, deva aleg4-lo sem demora."*
O atraso na arguigao, se proposital, pode ensejar conva-
lidagao de nulidades absolutas, ajuntando, para essa conclu-
sao, o principio da boa-fé objetiva.
Malgrado essa argumentagao, 0 posicionamento do STJ mini-
miza a eficacia de direitos fundamentais. Os érgaos de persecucao
penal, diferentemente, devem tomar as cautelas para que os atos
sejam editados de forma correta, nao sendo exigfvel que o acu-
sado auxilie o Estado a cooperar para a sua prépria condenacao.
Segundo Jorge Coutinho Paschoal, a afirmagao de que
inexistiu prejuizo equivale a, quase sempre, proceder a “su-
posicao caleada em dado fluido, ainda mais quando se con-
jectura a auséncia de prejuizo com base em um ato que nao
foi praticado, que nao existiu, fazendo-se a andlise por meio
de prognéstico”. Conforme leciona, “a auséncia de prejuizo é
que deve ficar comprovada”. Dai, se alegado o defeito, incum-
be ao 6rgao julgador dirimir a questao assumindo a carga da
argumentacao: “a parte nao precisa comprovar nada, nao ten-
do o énus de demonstrar 0 prejuizo”. Com efeito, “em alguns
casos, 0 prejuizo ma evidente, sobretudo nas hipoteses
em que so cominadas”, na legislacao, os casos especificos de
nulidade: “de todo modo, a imperfeigao do ato sujeito ao regi-
me das nulidades, como regra, sempre acarretara um prejut
zo, que comprometera a boa solucao da causa”.
He)
= De; 01 fey. 2013,
816, PASCHOAL, Jonge Coutinho, O prejuteae ax i
estude a lug Ha jurispr A do. SuAquele entendimento jurisprudencial, eminentemente
discriciondrio, provoca um paradoxo:
(1) primeiramente, STF e STJ fazem uso da distingéo
entre nulidade absoluta e nulidade relativa;
(2) seguidamente, os mesmos 6rgaos desconsideram as di-
ferengas de gravidade desses vicios para incluir, na vala
comum das nulidades relativas, as nulidades absolutas.
Com esse proceder, desconstréi-se 0 arcabougo que pre-
tendeu classificar as nulidades. Evita-se o tragado de um re-
gime previsivel de controle das atipicidades processuais. Ao
cabo, cai-se no espaco da discricionariedade judicial extrema-
da, com correlato déficit de garantias individuais centrais.
Havendo menor ambito de critérios para a atuagao judi-
cial nulificadora, argumentos de toda ordem podem ingressar
para evitar o desfazimento de atos viciados, restringindo-se
os direitos fundamentais do imputado, por via transversa nao
reconhecida pelo sistema. De tal sorte, olvida-se que o pro-
cesso penal é disciplinado por regras que se incluem entre
aqueles direitos de primeira geracdo, destinadas 4 protecdo
do individuo contra 0 arbitrio.
Como obtempera Geraldo Prado, as politicas adotadas pelo
Judiciario, que podem ser entendidas como validas “no campo
da rest: 0 e/ou suspensao do exercicio de direitos, liberda-
” estao previamente ditadas pela
CF/1988, ainda quando ela mesma “reclame reserva de lei para
regular a aplicacdo dos mecanismos de limitacao a direitos”. A
politica que faz o Poder Judicidrio é, assim, “a politica da pré-
pria Constituicao, expressa na defesa intransigente dos direitos
fundamentais e dos principios republicanos e democraticos”.%*
des e garantias fundament
Dividir a nulidade em quatro categorias (inexistén
nulidade absoluta, nulidade relativa ¢ irregularidade)
Ae
677. PRADO, Geraldo, Linuite dg tnt
perior Tribuna efetividade do controle da juni le da
nal, conferindo maior eficdcia A protego do direito de tiher.
dade. O ato de classificar as atipicidades considera nulidade
como vicio processual, bem como que a gravidade pode ser de
maior ou menor grau.
20.9 Limites a interpretacao no sistema de garantias
Delimitar 0 objeto é pressuposto a incidéncia de uma norma
juridica. A sua classificagao indicaré 0 padrao a seguir na edigao
da norma implicada. A definigéo de uma categoria juridica fun-
ciona como limite e deve se coadunar com a Constituigao.
A formulacao desse padrao, interior ao sistema, parte dos
enunciados do ordenamento juridico. O sistema é construido
a partir da interpretagdo do ordenamento, do direito positivo.
A incidéncia da norma é realizada sem que perca a base em-
pirica textual.
Pode-se dizer que a interpretagao é um vai-e-vem.
No entanto, a senda desse vai-e-vem deve encontrar seu
nascedouro e seu ponto de chegada nos textos ou nos frag-
mentos dos textos que compdem o ordenamento juridico vi-
gente. Nao se resume no texto, porém nada pode ir além do
limite elastico do mesmo texto. E deve se considerar que os
textos entram em relagao, horizontal e verticalmente, a exem-
plo da ligacao das leis com o fundamento constitucional de
validade do sistema.
A classificacao produzida e reproduzida é, dessa sor-
te, fruto de interpretacao das fontes de cognicao do direito
processual penal, Nada alem ou fora do (estas teechbeg das
apresentada em graus diversos:
(1) de um lado, a linguagem pres
sitivo, ji filtro, conatiiugla n
ualder, Para interpretar adequadamente 0 direito
positivo, deve se reconhecer “a necesidade de cha-
mar a atengdo sobre a importAncia de analisar a di-
menséo substancial do sistema de garantias”,!”
(2) de outro, a metalinguagem ou linguagem descritiva
da ciéncia jurfdica.
De todo modo, o direito existe onde ha linguagem, a
exemplo do que observou Gregorio Robles, considerando que
a afirmacao de que direito é texto pode significar muitas coi-
sas. Consoante expée, ao afirmar que direito é texto, pode-se
querer dizer:
(1) em primeiro lugar, que o direito se manifesta ou se
aparenta como texto;
(2) em segundo, que a essén ia do direito € ser 0 texto; e
(3) ‘ ito existe como texto, e se néo é
=
20.10 Aplicacao a caso concreto —
No STJ, sao encontrados casos que ilustram a aplicabili-
dade do critério relacional entre prinefpios ¢ regras.
Em julgado envolvendo acusados de crimes sexuais con-
tra criancas (art 215:A, CP) fol dito que) a teondolere sae
1° e 3°, da Lei 11.419/2006, “a intimacao eletrénica considera-
-se realizada no dia em que efetivada a consulta eletrénica”,
ocorrida em até dez dias, “contados da data do seu envio, sob
pena de considerar-se realizada automatigamente na data do
término dalprazal
. Alberto M, El incumplimiento de
para uma eritiea a la teorta unitaria de las nulid
Aires: Ad-Hoc, 2000. p84,
679, ROBLES, Grevorio. El
del derecho, Madsic‘A deciséo ainda destacou, a partir de precedente da pré-
pria Corte Superior, que aquelas regras so aplicaveis ao Mi-
nistério Pablico, em consonAncia com os princfpios da igual-
dade das partes e do devido processo legal”.
Apesar de néo ter expressado o fenémeno da adscrigéo
normativa, a ementa do acérdao explicita a relacdo, de ordem
vertical, que existe entre os textos de princfpios e regras.
20.11 Estratégia de resolugdo de questées
Vide Site da Editora Noeses: www.editoranoeses.com.br
20.12 Conclusao e préximo capitulo
A Constituigado é o parametro, sintatico e semantico, de
ordenagao dos enunciados infraconstitucionais. H4 regras que
consistem em extensao dos prinefpios, concretizando manda-
mentos da Lei Maior. A legislacao que atua como longa ma-
nus da Constituicao deve se circunscrever ao que foi por esta
ordenado, permitido ou vedado. Ha enunciados processuais
penais que ndo se relacionam, semanticamente, com o texto
constitucional, situando-se no campo liberado ao legislador.
Esse critério, que visa a fechar os espacos estruturais do
sistema, possibilita classificar melhor um fenémeno juridico.
oO 4ter complementar A Constituigao, relacionado as ga-
rantias constitucionais fundamentais, possibilita melhor pre-
visibilidade e efetividade dos atos processuais penais.
Com 0 encerramento deste capitulo, foram reunidos con-
tetido e estrutura, necessarios ao estudo do direito processual
penal. A teoria deve ter cunho teleolégico, com vistas a tutela
da liberdade. A partir do préximo capitulo, serao analisades
9s institutos processuais penais, a comegar pela persecugao
estatal preliminar, A ae