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Sheerbie 1407 Alain Virmaux ARTAUD E O TEATRO 1.Da Exigéncia do Teatro ao Homem-Teatro sofrimento, Boo oa ‘ase de todo entude so. “Na obra de 1a, desde seus princpios até 0 ‘continuidade”, escrevia Trist frojetada sobre a vide mental Sua existénch € bafizads por tratamentos, curas diversas, ‘miltiplas temporadas em clinics, em casas de sade, em sanatéros. Desde a meningite da qual escapa, por pouco, aos cinco anos? até ao c&ncerno feto, que finalmenteo levou®, ele foi como que um predestinado doenga. Entrementes,'ne- nhuma época de sua vida escapa totalmente ao mal. Esse mal tem viriasfacelas, mas para Artaud tudo se reduziré ao Mal ‘nico, 20 sfrimento tinico de exist ‘Sofrimento muito agudo, entrecortado por raros interva Jos, atestados por diversas cartas. Mas como Artaud deu ‘mportincia fundamental ~ ¢ especialmente nessa Correspon- déncia com Jacques Revidre, que estlarece toda sua obra 4k. TRISTAN TZARA, At Cats France, 2. 201,253.19 BO MAC MALAUSSENA.A Tare db Pog, te 68-4, dx 1955, 26. p. THEVENIN, em 72. 2, 9.33. 0 ARTAUD E 0 TEATRO futura — & impoténcia criadora que the provinha de seu n ficou um poueo esquectda a nogto de que esse mal era também feem primeiro lugar Fisica. Margo de 1929: A horrivel com: pressdo da cabece ¢ do alto da coluna vertebral, 0 peito ‘presi, as visdes de sangue e de morte, os torpores, as fraquezas sem nome, 0 horror geral em que me. encontro ‘merguihado com um espirto no fundo intacto, forma intl teste esprit (II, 128) Julho de 1930: A opressio sobre a muca {sempre arrasadora, cada vez que pretendo me pOr a trab Thar (Il, 192) Janeiro de 1932: Minhas lucas ndo sdo as de tum cérebro que vai bem (IIL, 268). Constatagdo sempre retoma- da, apenas mais insistente nas eartas aos médicos® E por certo, mesmo nas cartas a Riviere (1923-1924), lencontrarse mengio & dor fisiea! ew s0fro, ndo somente no tipindo, mas na carne e na minha alma de todos os dias (I, ‘30 e Re. 1, 50), mas nisto Artaud nto insite, preocupado Sobretudo em fazer o interlocutor compreender 0 desmorona: ‘mento central da alma, essa espécie de erosdo,essencial ¢ a0 ‘mesmo tempo fugaz, do pensamento (I, 25 e Re. 1, 35). Ele voltaré a tralar varias vezes desse fendmeno, e a deseriglo ‘Quase clinica, ou a0 menos serena e met6dica, que dele fazia a Rividre transformar-se-& pouco a pouco numa espécie de la- mento obsedante em que o fisico e 0 mental lo mais se fissociam: Sempre sent esta desordem do esprit, este ani- ‘guilamento do corpo e da alma, essa espécie de contragdo de Todos os meus nervos em periodos mais Ou menos aproximados (1, 98 Re. I, 124), Pode-se notar que mesmo o sofrimento puramente psiquico se exprime geralmente em termos fiscos Eu sito s0b mew pensamento um chido que desmorona (I, 108 Re, 1, 139). Com variantes, exsa imagem de erosto & @ que retorna mais freqientemente. Deixando de lado o aspecto clinico do fendmeno, consi- ‘deremos especialmente sua dupa incidéncia: ela di a Artaud ‘2 sensagio de uma definitiva impoténcia criadora; deixa-the rho entanto bastante forga e leider para expor seu mal”, ‘Tormento agudo, mas nio mortal; lancinante © corrosvo, mas no fulminante, mantém-se no nivel exato onde possa lear vida sem paralisé-la completamente, onde possa cor- roé-la sem destrulla de imediato. “Impessvel caminhar sem tropesar, sem perder as forgas, € no entanto sem nunea chegar a ceo nace cera oem fons " a Lpripris dsasie (Sa 1183), O tfimento de AA. €sollsado de mance Cia ge Ca lier i» sail ear 3 DA EXIGENCIA DO TEATRO AO. n ‘20 fim das Forgas, escreve Roger Laporte®. ‘Com o correr dos anos, a tortura se agrava, Descrigio inguieta, interrogago.angustiada, furor, sufocato, grit ‘Artaud passa de um estidio a outro, mas o mal progride Seguindo uma linha quebrada. O grito, por exemplo, aparece muito cedo, © & imediatamente dilacerante: Eu ndo tenho ida! Eu ndo tenho vidall! Minha efervescéncia interna esté ‘morta (I, 298 Su. I, 83-1927). Muito depressa nasce também acerteza de uma maldiglo e a convieso de que o sofrimento znto provém de seu proprio ser, mas de uma vontade mi que 0 tinge do exterior: Aszegurovie que ndo hd nada em mim, nada naguilo que constitul « minha pessoa, que ndo seja [produsido pela exstencia de um mal anterior a mim mesmo, interior @ minke vontade, nada em menhuma das minhas mais Ihediondas reagdes, que ndo venha unicamente da doenga © nao the seja. em qualquer dos cass, imputdvel (I, 102-103 ¢ Re, I, 129), Entrea anilise metédica e a raiva exasperada, a maior parte da obra e quase toda a correspondéncia. sto consagradas a dizer a outrem, ou melhor, ate incansavelmente a tortura indizivel. "A Mais surpreendente descrgdo que Artaud nos deixou 4 seu mal talver nlo se encontre nas carta. Dirigindo-e @ Riviere, 40s Allendy, ao Dr. Soulié de Morant, cle procura formar seu caso inteligvel, raduzi-lo numa Tinguagem com- preensvel, colocar-se 20 aleance de seus interlocutores. Ao fontrro, mum retro datado de 192525 — Os Dezio ‘Segundos®~ prope uma espécie de transcrigdo direta de seu tstado interior, de seus males e dos fantasmas que. deles fesultam, Embora 0 herbi evolua num universo imaginério, a Clabulagio € tio perfeitamente transparente que nos desvenda ‘autor no primeira lance, por assim dizer. Pondo de parte 2 ‘riginatidade t2enica daquele roteiro!, como no reconhecer ‘Artaud nesse homem vestido de negro, de olharfixo, de quem $e diz ser um ator "a0 ponto de ating a léria” Foi acometido por uma doenca esquista. Tornou-se incapas de atingir seus pensamentos: conservou sua lucides intacta, porém a mais newhum pensamento que se the apre- fente ele consegue dar uma forma exterior, ito &, traduzi-to fem gestos ou palavras apropriadas. “AS palerras mecessdrias Ihe fltam, nao respondem mais ‘a seu apelo, ele se v6 redusido a assistir a'um desfle interior {feito apenas de imagens, 1m actimulo de imagens contradi- ‘rias @ sem grande relacdo umas com as outras, A. R-LAPORTE, Antonin Arta ou 0 Pessamento em Sop, Le ure Commerce, 12, ner 1968.2. : Rene pnd pa pine ecm a data de su consponeto no Caio dele Pade roma Ge 1909, Reproduio as OC Hl 2 ARTAUD E 0 TEATRO Iso 0 torna incapas de misturar-se a vida dos outros, € de entregar-se a uma atvidade (...). ‘De repente batem porta. Eniram esbrros de pollca ‘Atiram’se sobre ele. ColocamIhe a camisa de forea: levado para 0 manicimio. Torna-se realmente louco (.... Mas ma revolupdo varre as prsies, os sanatérios, e as portas dos hhospicios se abrem:eleésolto. E vocé, 0 mistico, bradamIhe, voce é 0 Mestre de todos més, venha E, humildemente ele diz indo. Mas ¢ arrastado. Saja ‘rei, dizemthe, suba ao trono. E cele, trémulo, sobe a0 trono (..)- ‘Pode fer tudo, sim, tudo, salvo o dominio de seu esprito (0. Ble nd & sempre senhor de seu expirito (..). Se a gente pudesse apenas ser senhor de sua pessoa fsa. Possuir todos ‘as meias, poder fazer tudo com as préprias mis, com 0 réprio corpo (J ‘Talver nenhum texto de Artaud iustre tho fielmente a frmula inicial de O Umbigo do Limbo: L& onde os outros Propdem obras, ew ndo pretendo sendo mostrar meu espirito 49 e Re. I, 61). E essa definiglo de sua atitude eriado relaciona-se diretamente com nosso propésito: para explicar 0s outros homens a retracdo intima de (seu sere a castragao insensata de (s)wa vida (Ibid.), Artaud procurark mostrar. Expori aos olhos de outrem 0 funcionamento de sua vida interior. Assim, a obra recobre a vide: Mio concebo uma obra como separada da vida (Ibid), Desde entto, essa necesidade de identificar vida e eriagdo desemboca numa said logics: 0 recurso a0 teatro, © TEATRO: UMA EXIGENCIA E UMA NECESSIDADE, "O teatro no podia ser, portanto, um género entre ‘outros para Artaud, omem do teatro, antes de ser exciton, poeta ou mesmo homem de teatro” (7.9. 20, p. 58), escreve Jacques Derrida, no ndleo de uma demonstrasio cerrada que & preciso lere meditar. Por que a orientagdo de Artaud para 0 teatro pode, passado tanto tempo, ser colocada como primo ia! Vis tpos de explicagto podem justia et eciha Um conflto interior permanente Primeira constatagdo é a mais elementar:hé teatro por- que hé conflto. O homem Artaud & 0 palco de um confronto incessante, de um combate interior jamals terminado, Seus sscritos estio repletos de alustes A sua “ruptura’, & sua eslocagio interna, e seria ffeil acumular aqui as citagbes ‘brecha profunda na integridade de (s)ua vida mental. didlogo ‘no pensamento, divisdo de (Sew expirito em dois, etc. Basta fothear suas obras para ficar-seimpressionado pela inssténcia DA EXIGENCIA DO TEATRO AO... B com que de clin seu priprio nome, como se foe uma ‘Srenuaha do qe osare dentro de si 9 Pst-Nenos: Eu me Shey porquctme ans, ew asso @ Antonin Araud (98 Sher 1) "Ele nto conhece ~ comenta Gactan icon — fudi mals que sev epi: o drama, nee, nlo tem neahum outro contend Ens desdobramento nfo € ro, grandes esrtores nos do tstemunho date, Mas em Arid le jamal conegue ‘Srpstclamenteeabsoridoesperado cm umacrasio artist Sx'Exprimese continoamente em termes de ey. 8 hd stu tempe ndocomando mais mew exp odo o me i Conscience comand com inpulas que vim do fund de meus tis ners ¢ do forthamontode'meu zgue (107 © F113, artand descbre eno o seu cu como sede de wma Ita cacernigada, To eneamigada, meso, que the € impo thet dnigarse dee pre nr dot ca, fsa de Exprimir qualquer ca slim dese entrechoaue, dessa ca ftlau loving, ce recurs lnsntvamente a0 tee. Porque? es expresto doy anfagoniamar consti o piacipio de Ear ator nas sen vida amb na esperanca de Ges Wer ocontte interior rpreentandoo, ito €, proandoo Tora des iclaegamos que com 0 passar os anor o confiy voli: Pouce 2 poo, oconitonta de qve na esac de Sr etemunas, tao opord mals 0 Artaud lid e 0 Artaid ‘Shans mas smo Artaud poo. itos, eas Togas do mal evo acomam delta Mutua previne dade tee Spd da arts a Rv (Cie, Ae Re. 52, © qu se ona depts do tacas de Os Cent (198), Desde eto, cont forma metalic, 0 tar & aandonado et co epresentagdoprojetada. Arti cove-se sobre si met seeenanca‘a ume dramatzago fella, e decide diet © Torn mal com ume vena, Sem procar ‘Bab tanponito aguma, Una ver permuadio de qve 6 4 esas frys stuns Tora del, 3 flrard teatro dentro Seaimesmo. Uma necessidade de comunicacio nda justiicatinn, moto Reade & primera, do recur ao 20 tina nella que te Artaud te derrbar 4 Foe de scomnica com o mondo es faze aco ple Rotors A malig & sev Eo dese, o funda, € 0 matt inet, aimee sua snglriade, mas APE 12.6, ICON, Meare de Fane sb. 987 ena erode 20 tata B19, ee Marat 8 Pras, 161 ee PICON, It Cl Su 1 190" Bu nd sintered de der ada epoca lpn cis prs der. 4 ARTAUD E 0 TEATRO pease ow cinta ieee aes lange) Seen seaman lots Saad ean a isSereieaete coicaoee Soares e volta 0 que o fazia softer. E claro que as dividas ou os Si enereeeen ee cr medregenhl'c ont olga ae Wits gE eS etd mse shee a pees tt tec See eae te eee ee Peep Aen ny mcslndRalntan ns nates Steet ee anemia cee Sere ee See nie wo ours each as Motes “pat nats Satie eee ees toons mans Sees Sas So owen ieee Someta isa Driven ane Uma énsia de unidade A necessidade de comunicarse com os homens toma também a forma do deseo de ser resnhecido pores, © € un tere modo de provar que o teat € uma have deca ara 0 universo de Artaud. Ser reconhecido pelos homens Sinica, prmeiramem, scr acto como um dele, depot ser admitd na sua indiidualidae e sem nenhuma restrgae Reivindlagto, ais, contradtria € eng, no seo da norma: lade, um lugar part, cconestar por sso mes a et de normaiidae. Contradgdo apenas sparete:lembram Aor dos Dezoto Segundo que sont que fare Tl éo eA a ingame port ium pr nae act de nde cree Su 4,8 (ssrA Ee dg tw pogo nd ese 3 rL: ARMAND-LAROCHE, Antonin Are Pere Fn pee 904 pee i DA EXIGENCIA DO TEATRO AO. 15 soberania reconcilia a necessidade de estar rodeado © & de ser distinguid. Daf o teatro. “Uma glria dreta para si mesmo”, eis 0 que 0 jovem Artaud procurava Id, segundo Otto Hahn®, Gloria “para seu corpo. Ele precsava, portanto, reunir uma multiddo, apresentarsc a ela para recolher seus aplausos"” Ubid.). Giéra, também, para seu esprito: “Entre suas nume- esas tendénciasescolheu o teatro, que Ihe pérmitira manifes- far seus divesostalentos de cendgrafo, de ator, de dretor, de poeta” Ubid.). Espera assim aboliro desmembramento de que padece e recobrar a unidade profunda que the fugiu desde infincia, Reconciliagto necessiria da mente e do corpo, reconhe- «imento global de todo o seu ser, do qual 0 paleo seria o gar Drivlegador imagina-se a dnsia nervosa pela unidade desapa- recida ou a sede visceral de “estar-no-mundo”. Ns ainda ndo ‘extamos no mundo®, escreve Artaud no ano de ua morte. Mas st80 fim o teatro, para ele, representou 0 espago magico onde fe farianascer no mundo 6 homem novo. Um instrumento de agdo sobre 0 mundo Forjar 0 novo homem: abordamos, assim, um itimo argumento que demonstra a necessidade do teatro. Para ‘Artaud o teatro nilo € evasko, asilo ou torre de marfim; Ginstrumento e meio de aglo; permite agir sobre 0. mun: oe sobre o homem. Sus aglo no se limita 20 autor, a0 ‘ator; ela ultrpassa até mesmo o pdblico comum das salas tradiionais. Nto vist nada menos. do que a reestruturaglo integral ds condiglo humana, Teatro metafisico — ¢,vlta- Temes e este ponto — cujo objetivo € duplo: exercer um! papel terapéutico ¢ empreender uma recriagio. Fungdes estreita- mente ligadas entre si ‘A ambigto inicial € a de realizar um teatro terapeutico ‘que se drige ao organiemo através de reeursos precisos,e com ¢ mesmos das misicas de cura de certos.agrupamentos ‘umanos (LV, 99). Esta prtice remonta a uma velha tradicdo tmitica do teatro, pela qual o teatro € considerado uma terapéu- tea, um meio de cura, comparivel oo de certas dancas indigenas rmexicanas®, Heranga ancestral, que Artaud visa explorar A luz 4, OTTO HABN, Reade Antonin Artaud, Le Slt Nl, 1969, ps, , Pais Varna, 2-3-4, 1948, pp. S456 ©. aucun de wma cart (1412/15) « um exrespondente desc sted’ Tent sade com pose eto em Vide «Mont de St Foo, is rerodrio aga gras penn de Psle Therein 16 ARTAUD E 0 TEATRO das pesquisas mais recentes: Proponho restabelecer no teatro esta idéia migica elementar,retomada pela psicandlise moder na, que consiste em fazer com que o doente assuma @ attude fxterior do estado ao qual desejaria condusito, para assim ‘bier a sua cura (IV, 96). Redescoberta do psicodrama?® Ou, ‘de modo mais banal. renga no extravasamento dos complexos ‘ena purgapio das paixdes pelo exutéro do teatro? A intengdo de Artaud vai bem mais além de uma terapéutica imediata Trata-se de uma “cura cruel", onde o ator representa sua vida, enquanto 0 espectador deve ter seus nervos triturados®. Cura, sim, mas pela destruigdo “Atingir diretamente 0 organismo (IV, 97): qué? Para reconstruir 0 corpo. 0. verdade, nao € medicinal, e sim ontologica. O Teatro e seu Duplo ¢ principalmente os eseritos dos limos anos frisam incansavelmente essa exigéncia de um corpo novo: Nao aceto 10 Jato de nao ter feito mew corpo por mim mesmo®. Mudar 0 ‘corpo, mudar o mundo, uma coisa ndo se faz sem a outra [Nao sou dos que acreditam que a eivilizagdo deva mudar par ‘que 0 teatro mude; e acredito que 0 teatro, uilizado mo seu sentido superior € 0 mais difiil possvel, tem forca para influir sobre 0 aspecto sobre a formagdo das coisas (IV, 95). Sonho de uma subversio radical, da qual o teatro seria © agente © 0 princi PONTOS DE REFERENCIA BIOBIBLIOGRAFICOS 1896 (4 de sotembro). Nascimento em Marselha. 1916-1917, Servigo militar. Reforma. Primeiras estadias em Sanatéris, 1920-1921. Domiciloem Paris (Dr. Toulouse). Iniios no teatro (Lagné-Poe) 1922. Encontro com Gémier, depois com Dallin 1922-1923. Ator no “Atelier com Dulln, e is vezes desenhis- ta de figurinos,. 1923-1924, Ator na “Coméde des Champs-Elysées” (Héber. tot) com Pitoett 1924-1925. Correspondéncia com Jacques Riviere, O Umbigo ddo Limbo, O Pesa-Nervos. 1922-1935. ‘Ator de Sinema em numerosos filmes mudos, ¢ depois em falados (1927-1931) tentaivas vie de ‘riagio cinematografica). 1924-1926. Partcipagio nas atividades do grupo surrealsta, 4. propio do psa, ci, pp. 19.200. 1 Remurse so Sarit sre A Grace: he, 9 2 © Caden ote 8990 9.28) ean DA EXIGENCIA DO TEATRO AO. ” 1926-1930, “Teatro Allred Jarry" (quatro espeticules, oito representagies) 1929, AAnte e @ More 1931: O Monge. Descoberta do teatro baling. 1932, Manifesto do Teatro da Crueldade. Assstente de Jouvet ro Teatro Pigalle. Projetos de um Wyzeck com Dallin © de um "Teatro da N.RF.” 1931-1935, Publicagao, em revistas, de diversas textos, que formario O Teatro e seu Dupio. 1934, HeliogdBelo. Leitura, em casa de Lise Deharme, de Ricardo Il ¢ de A Conquista do México. Projeto de adaptagio de Séneca, 1935 (6 de maio). Os Cenci, Teatro des Folies- Wagram (de- cessele representagdes). 1936. Viagem ao México. 1937, Viagem & Irlanda, Internamento. As Novas Revelagies do Ser 1938. O Teatro e seu Duplo, 1937-1946, Permangneia em sanatério (Le Havre-Rodez). 1945. Viagem ao Pais dos Tarahumaras. 1946. Cartas de Rodez. Retorno a liberdade ¢ residéncia em Ivry (26 de maio). Projeto de montar As Bacantes, {e Euripedes, no Vieux-Colombier. 1947. Van Gogh, 0 Suicida da Sociedade. Artaud, 0 Momo. Aqui Jaz. Conteréncia no Vieur-Colomt Bea ‘ie” (13 de janeiro). Leitura de poemas na Galeria Pierre (19 de julho). 1948, 1° de feverero: Interdicto da emissto de Para Livrar-se do Julgamento de Deus, 25 de feverero: Intencto afir- ‘mada em carta de consagrarse “doravante exclusiva- ‘mente a0 teatro". 4 de margo: Morte em Ivry. PERMANENCIA EFETIVA DA TEATRALIDADE Existem biografias pormenorizadas de Artaud". Como é ‘outro 0 nosso propésito, basta-nos relembrar aqui algumas datas essencais, destinadas a oferecer uma visio de conjunto 4e sua trajetGria humana e criadora. Essa cronologia suméria permite ver que grande parte de sua vida foi consagrada a0 featro, ou antes ao espeticulo, Excetuam-se apenas 0 period dos primérdios lterdrios (1913-1920) e os dez anos que se Segulram a0 fracasto de Os Cenci ov seja, epoca das viagens e internagbes. E-nos possvel inelusive mostrar que © featro impregna até mesmo os anos que ndo deixaram nenhium «2. Ver sobre ULE THEVENIN, "10961948", RB. 22 pp. 1 8 ARTAUD E 0 TEATRO trago visivel de uma atividade teatral definida, (Eu) vow me consagrar doravante exclusivamente a teatro, tal coma 0 concebo®: esse projeto, enunciado quase as vésperas da sua morte, parece esclarecer, retrospectivamente, 8 ambigdo essen” cial de toda uma vida Toda wma obra sob 0 signo do teatro Consideremos os periogos dessa vida, nos quais 0 teatro parece estar ausente. Antes de 1920, Artaud gunca teria se Interesado pelo teatro? Nada mais duvidoso. E 0 que prova festa recordapo consignada por Alain Cuny ¢ confirmada por foutras testemunhss: “4 aos vinte anos, em Marselha, cle preparava um ‘teatro espontineo’, que tencionava apresenta ‘nos ptios das fibricas, assim como os ellsabetanos preten- ‘diam representar nos terreros das fazendas™, Mais tarde, em 1935, o autor de Os Cenei parece renunciar ao teatro por uma peregrinaglo que sera prolongada pelos internamentos. Ren- cia total” Certamente, nto. Pode-se “indagar se Artaud, 0 jante, Artaud, o Peregrino, Artaud, 9 Momo nio sf0\as ‘metamorfoses do ator Antonin Artaud, se as viagens e talvet ‘mesmo a loucura nio sio para ele umn outro modo de fazer teatro, de viver 0 teatro” (V. Novarina)®. A. demonstragto pode, ‘comodamente e sem paradoro, ser estendida Aquelas ‘bras publicadas por Artaud que parecem decididamente nio-teatrais: Heliogabalo, por exemplo, ou a Viagem ao Pais ddos Tarahumaras. ‘Com efeito, como no notar que nessas duas obras ‘Artaud pretende uma espécie de encarnagto e de iustragio de seu Teatro da Crucldade? Os ritos migicos dos indios ‘Tara: hhomaras exereem sobre ele o mesmo fescinio das dangas balinesas, cuja apaixonada descricio constitui o mais antigo os texios que formam O Teatro e seu Duplo, ¢ 0 rerato de Heliogibalo prenuncia 0 personagem de Cenei, com uma forga © uma riquera incontestayelmente superiores; a mesma hita metafsica contra os Prineipios, a mesma violencia sanguiné: ria, a mesma ruptura de tabus sexuais (inclusive o incesto), a mesma atrocidade do desenlace. A vida de Heliogdbalo ¢ teatral, esereveu 0 proprio Artaud®. Relendo-se atentamente ©" Anarquista Corcado e 0s Tarahumaras, descobrirse-& uma infinidade das mais intimas correspondéncias.com as visbes propriamente teatrais de Artaud: virtudes eurativas dos Fitos sngrados, sublimaglo’ do Mal pelo excesso, ceriménias ue recorrem a todos 05 sentides, et. Em suma’ quando faz ‘obra de porta ou de erudito, ou quando ele vai busear no Cara a. Therein, 25.2194 Je 107 1 Riciabe dora de 412 198 orp Senate DA EXIGENCIA DO TEATRO AO... 19 México as raizes de uma cultura ainda nto aviltads pela civilizagdo,, Artaud nio deixa de se comportar como "homem do teatro A dramatizaeto da palavra [Nenhuma obra escapa a essa contaminagio; 08 escritos poéticos nlo constituem exceeHo, nem tampouco a correspon: ‘Encla, como veremos. Tomemos um texto qualquer de. Ar- ‘aud; nele perceberemos quase imediatamente a palavra er ‘e-em didlogo. Um dos melhores exemplos nos é fornecido pela ‘hima obra — Para Livrar'se do Julgamento de Deus, Obra {ue se pode chamar de tearal, concebida que foi para o rd ¢ acompanhada’ge uma apresentacto ("baruthos ¢ batidas”, varias voues, gritos, etc.) destinada a agir sobre 0 ouvinte: mas, ao mesmo tempo, obra cujo tom &exatamente semelhante ‘20 de numerosos textos — Van Gogh, Artaud, o Momo, Aqui Jor, ele. ~ redigidos desde sua permanéncia em Rodez. Ora, ‘em todas esses textos, em uma simples letura, nos supreende- ‘mes com a freqiéneia do recurso a0 dilogo. Simples procedimento ou necessidade profunda? A forma assumida por esse dilogo nio é sempre a mesma. As vezes ela & apenas pedagésica: “O que quer dizer, senhor ‘Artaud? Observemos, no entanto, que esse método, utilizado por Artaud em numerosos outro textos — O gue é que iso quer Uiger? — Tss0 quer dizer que... — jf signifiea que le se dlirige a alguém, e que nto pode eserever sem falar a alguém. Mas 0 interlocutor nem sempre & um indagador d6cil andnimo: na maioria das vezes 0 didlogo converte-se em discussdo violenta. Vem, entdo o incessante duelo de surdos fenire 0 doente ¢ 6 médico (ou 6 homem "'normal"); duelo no ual a disposigdo tipogrifica tem importincia, porque alo ‘uma forma pottiea, mas sim @ uma respiragao dram. 0 senhor esté delirando, Senhor Artaud O senkorestd foueo. —Bunio estou delirondo, do sou louco. (.) Agora é preciso que o homem se decida sobre sua castrag. Como assim? Como assim? 1 J, DERRIDA. op, cit. Sobre as cerrspndtaca entre Helogsblo

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