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JORNAL DE PSICOLOGIA, 1987, 6, 2, 39 O ROMANTISMO COMO PARADIGMA: A ESTRUTURA DAS REVOLUCOES AMOROSAS ANTONIO JOSE BRANCO VASCO (*) LUNIVERSIDADE DE LISHD Neste artigo, revendo brev romiatico, 6 auror sugere algun definigio ¢ defencle a sua conceptualizacio em termos de processo, possivelmente consti lo por fases idemtificveis ou mesmo previsiveis. Neste processo, os amantes sio teatendliddas como constratores activos da experiéncia comantica, Paralelamente, ‘o autor sugere que as anlises de Thomas Kuhn (1962) relatvas a0 procesto le construgio ch cigncia ¢ revolucies cientficas” sio panticularmance tteis para centensler o desenolar do pracesso amoroso. Este paralelo & desenvolvid er ter mos da identificagio ¢ anilise de teés fases sequenciais: (1) consteugio de um paradigm romaatico partihaco!'s (2) “resolugio de puzzles" (amor normal); (3) experiencia das “revolugdes amorosas” nente a literatura sobre 0 fer 1 das dificuldades inerentes 4 “O amor € uma espécie de softimento iFeSAervado ca con templagia¢ medingaocxeesita sie a elea da sexo oor {0,0 que fiz com que cada ur dese acima de tudo aca clas do outro, frato do deseja comm, realizar ness carias fords as precetos do amen Andeas Cappelanes, extita por wot de 1180 ‘Nas dectaramos ¢ mantemos como firmemente exabeleci do que o amor nko pode exeter os eu padres sabre ind ‘ils igados ents pos lagor da mattimino. On ara tes oferecemse uo de livee vontade, independentemente de qualquer espécie de coaeco, Pela conitti, as individuos ‘asus esto lipados pelo dever de cede fouto, na obrigagao de nada se negate” Maris, Condesa de Champagne, 1174 “Em geamitia, por exemplo, amo, seas, nat” € vin pa dligma porque mostra 0 dro a ser usado 30 conga um Taigo ntimero de vetbos latinas “Thomas Kuba — SOBRE © AMOR E OS PARADIGMAS 1 — Sobre o Amor | "A mas sida deméncias"() que as seres hurmanos é de | do experimentat,o amor romantica, tem sido durante séculos tum dos tdpios preftides de todas a formas de expreso atte | tica. Contudo, 0 quadro muda toaimente de figura se vltar tos #atengio pao fino da psiologa, De facto, o ndneto i de atigos¢livos de pscologiaque abordam o amor do ponto | ‘Anos ignorinciarelatvameate aa amor era jé recone da por Feud que afirmeu: "“Até a0 present, ainda nao encon tte eorazem bara fazer nenhuroa afro clara sobre 1 ‘lao amor, ¢ penso que. nos conhecimento nao é suf pas fazer” (Rik, 191, etd cm Pope, 1980a vig. 3). Parece (2) Assented Facade de Pacologn Gdn dl Educa da Ui vert de Lica: Aseriagia Ptugucts 4 apn Competent e Cr wrepenléni: Faculdade de Paicoogi ede Cito da Edd, Un seria de ion, R. Pinta Chagos 1) — 1000 Tibnn — Perpa que 0 conhecimento de Freud relativamente aa tema nao pro: rrediu muito com o temp, visto no firm da sua vida ver confes sido: “Sabemos realmente muito pouo sobre @ amor" (kei, 1941, citado em Pope, 19802, pig, 3). Mesmo em 1980 a situagdo no era muito diferente, facto jque esta claramente documentado na antologia editada por K. Pope — "On Love and Loving". Na sua conttibuigdo pata ac ferida antologia um dos autores, K. Livingston, comenta: "Para todos os efeitos, os meandios dis relayBes amorosas eonstituem tum dos fensimenos mais considerados ¢ menos comprcendidos da experidncia humana’ (pig. 134) Pensa que as razscs pata esta situagio sta esscncialmente ide duas ordens. Em primeiro lugar, existem razdes que pode mos designat por intinsecas, inetentes & natuteza mesma da ex periéncia amorosa: a sua vatiablidade através do tempo ¢ enue diversas pessoas, bem como a riqueza e complexidade fenome rnoldgien da experiéncia tal coma & sentida, Lm cepundo higat, rzdesextrinsecas: est tipo de razdes esté bem ilustrado nas pa lavras do senador ameticano Proxmite, 20 comentara atribuiga0 de uma bolsa a Elaine Walster¢ Ellen Berscheid da Univecsida de de Minnesota, destinada a subsidiar uma investigacio no carn po do “amor apaixonado"’ edo “amor companhieiro”. As pala vras do “'bom’ senaclor foram as seguintes Bu protesto relativamente & atsibuigio desta bolsa nie 36 porque ninguém — nem mesmo a National Science Foundation — pode argumentar que o facto de alguém se apaixonar é um facto cientilico; no « porque tenho a ceiteza de que mesmo ue se gastassem 84 milhides ou 84 bilides de ddlares nunca se sleangaria uma tesposta aceicével. Mas também me opanho pos que no quero saber a tesposta.” (cada em E, Walser € G. W. Walser, 1978, pag. Vil). Apesar dle todas estas vicissitudes ¢ cerramente mais em con: sonincia com os apelos pionciros de Maslow (1954) ¢ Halow (1958) relarivamente & necessidade ¢ importdncia de estudar 0 amot do que corn as opiniies do senador Proxmite, sutpitan 0s Glkimos anos vitias abordagens ao seu estudo, Pode-se afirmar que 0 estudo ciemtfico do amor, bem co- ‘mo 2 primeira tentativa de mensuracio objectiva da experiéncin roméntica, foram iniciadas por Zick Rubin (1970). Rubin con: ceptualizou © amor romantica como uma aticude interpessoat multficetada que inclui trés componentes essencizis:"“unva dis posicio afiliaciva e de depencléncia, urna peedisposigzo para a xillar euma orientacao de exclusividade e absorcao" (pg, 265), Por seu lado, Pope (1980a) propds uma definicto que acen ‘ua os componentes fenomenolégicos da experiéncia amorosa, pretendendo ser simultancamente ima sintese daquilo que &con- ceptualizado por diversos aucores: “Uma preocupagio com outra pessoa. Um descjo profian amente sentido de estat com a pessoa amada. Um sentimento de incomplevude quando sem 0 outro. Pensar frequentemente no amado quando juntos ou separados. A separacio provoca amitide a sentimento de desespera genuino ow ainda urna an ipacdo atormentada do momento de reunio, A reunio € sen- tida como implicando sentiments de extise eufbrica ou paz ¢ preenchimento" (pag. 328), Como siltimo exemplo da tentativa de definican do amor roméntico, aquela que Csikszentmihalyi (1980) prope: "Fala- ‘mos de amor roméntico quando uma pessoa ao pode controlar © facto da sus atencio esta investida noutra, e no entanto tira prazer da experiéncia” (pag. 314), tentando sublinhar 0 compo: rnente cognitive de atengao envolvide no fenémeno do amor. “Todas as definigges apresentadas, ainda que diferentes nos aspectos especificos do amor que acentuam, sto no cntanto se melhantes relativamente ao facto de nenhuma delas apontar 0 caticter dinimico ¢ transitério do fenémeno em estudo, De facto, existem alguns dados de investigacio (Hill, Ru bin, ¢ Peplau, 1976) que apontam para o carfeter dindmico do comportamento ¢ experiéncia amorosa. Os resultados de Hill e colegas sugerem que durante 0 “‘iclo-de-vida"” do processo amo- oso 0s seus méleiplos componentes e importdncits relativas so frem algunas mudangas. Esta nova forma de conceptualizar o amor coma um pro-

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