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Cad.Est.Ling., Campinas, (22):69-80, Jan./Jun. 1992 O ACENTO E O PE METRICO BINARIO* LEDA BISOL UFRGS/PUCRS A Teoria Métrica afirma que o acento no se localiza diretamente na vogal mas provém de uma relago entre sflabas, que estabelecem um contorno de proeminéncia. £ preciso, pois, apenas verificar como a lingua organiza as suas sflabas em constituintes prosédicos, pés métricos propriamente ditos, bindrios ou nao, ¢ a posigao do elemento dominante, para estabelecer o algoritmo acentual. Partindo do pressuposto de que o portugués estrutura as sflabas em pés métricos bindrios de cabeca a esquerda, assim representados (* .), onde o asterisco indica a sflaba dominante e o ponto, a sflaba dominada, ¢ admitindo o pardmetro do peso inerente da rima ramificada (Hayes, 1981), o acento € atribufdo pela seguinte regra: @) Regra do Acento Primério Domfnio: a palavra i, Atribua um asterisco (*) a sflaba pesada final, i.¢, sflaba de rima ramificada, ii, Nos demais casos, forme um constituinte bin4rio (ndo- iterativamente) com proeminéncia & esquerda, de tipo (* .), junto a borda direita da palavra. Com respeito ao dom{nio, faz-se necess4rio observar que h4 uma diferenca de estrutura morfolégica entre verbos ¢ ndo-verbos, que toca sensivelmente o algoritmo acentual. Em se tratando de nomes e adjetivos, a palavra fica entendida como radical + vogal temdtica ou marca de género, que pode estar ausente. A flexiio, que nao interfere, fica fora deste dom{nio. Em se tratando de verbos, a palavra fica entendida como radical + vogal temftica + sufixo modo-temporal + sufixo némero-pessoa, cm qualquer um desses morfemas pode incidir 0 acento. A regra € exatamente a mesma, mas a diferenca proveniente da estrutura morfolégica se estabelece nos seguintes termos: enquanto em ndo-verbos, (1) é uma regra cfclica, que volta toda vez que um morfema derivativo for acrescido, atendendo aos * Agradego a Leo Wetzels @ a Celso Luft a leitura da verso original e vallosos comentérios. Todos os defeitos desta andlise s40 de minha exclusivo responsabilidade. princfpios da teoria; em verbos, (1) espera que a palavra esteja completamente pronta para operar de uma s6 vez, assumindo, pois, o cardter de regra ndo-cfclica. Em conseqiiéncia disso, no que concerne a extrametricidade, em ndo-verbos, ela incide em excegées, sendo, portanto, uma informacio lexical; em verbos, toma a forma de uma regra especffica, como veremos oportunamente. Mas antes de dar procedimento a andlise, entremos com 0 conceito da extrametricidade, referido h4 pouco, sempre presente em qualquer trabalho de Fonologia Métrica. A primeira fungao da extrametricidade, que tem o poder de tornar invisfveis certos segmentos, € ajustar a palavra pros6dica ao dominio das regras gerais de atribuicgdo de acento, a fim de que as generalizagées possam ser alcangadas, Na proposta de Hayes (1981), ela incide em sflaba final, fazendo com que essa nao seja computada pelas regras de acento. A sflaba extramétrica extraviada ser4 mais tarde incorporada ao pé métrico final da palavra, como sua parte fraca, pela Regra de Adjungdo da Sflaba Perdida (ASP). As sflabas sobre as quais recai a extrametricidade no exercem papel nenhum no acento, mas esto inseridas no seu dominio. Qualquer sflaba ou rima ou mora ou consoante ou até mesmo um morfema, dependendo da lingua, pode ser ignorada pelas regras de acento, desde que estejam em posicaéo periférica. A invisibilidade da consoante final acontece em sistemas sensfveis a0 peso silabico. H4 evidéncia de que assim se comporta o portugués, pois cerca de 80% das palavras acabadas em consoante tém acento na sflaba final. Entao 0 20% restante que envolve palavras como cardter, épis, que nao puxam o acento para a posicao final como em anil e pomar, figurariam no dominio do acento como sflabas leves, em virtude da invisibilidade da consoante final. A extrametricidade de sua consoante € de menor custo do que a da sflaba, pois, atribufdo o acento, ela reaparece sem a intervengdo de regra alguma, uma vez que os pés métricos da palavra ndo so alterados com seu reaparecimento. Como dizfamos, a principal caracteristica da extrametricidade € estar condicionada ao princfpio da perifericidade. Os candidatos, sejam sflabas, rimas, codas ou categorias morfolégicas que tenham esse status, devem ser terminais. Perdido o contexto periférico, perde-se a extrametricidade, como (2) exemplifica: 2 [+Ex] [Ey] répi rapidaménte naime numer6so ludfbri ludibriéso Comecemos nossa andlise por nao-verbos. 1-NOMES E ADJETIVOS OU OUTROS ITENS DE ESTRUTURA LEXICAL SIMILAR Em ndo-verbos, a extrametricidade € atribufda como um diacritico lexical a classes minoritdrias, que sdo: i) palavras com acento na terceira sflaba ii) palavras terminadas em consoante ou ditongo com acento nao-final. Sendo uma propriedade idiossincrética, as palavras do tipo (i) trazem a informagao lexical + Ex (sil)] e as do tipo (ii), [+ Ex (coda)]. Evidentemente estamos adimitindo que a silabacdo precede a acentuagdo. Voltemos a regra do acento prim4rio (1), que, na realidade, compreende duas: A regra da Sensibilidade Quantitativa(SQ), designada em (li), atribui um asterisco a sflaba final de rima ramificada, portadora de acento por ineréncia. Adimitimos, pois, que a sflaba de rima com coda, (colgr, por exemplo) opée-se a sflaba constitufda apenas pelo nicleo (cola), comumente denominada leve, em virtude de atrair o acento por seu peso sildbico. A regra (1ii), Formagdo de Constituintes Pros6dicos (FCP), ao estabelecer uma relacdo de forte/fraco entre duas silabas, por adjuncgao de uma sflaba leve a sflaba precedente, cria o constituinte bindrio mais a direita da palavra. As duas regras s4o n4o-iterativas, tem o mesmo governo, i.¢, aplicam-se junto a borda direita da palavra, mas nfo competem pelo mesmo contexto, uma vez que FCP forma um constituinte bindrio anexando uma silaba leve a sflaba precedente, e SQ parentiza a sflaba pesada final. Quando essa encontra contexto adequado, aquela nao tem vez. O asterisco criado pelas duas regras € projetado como acento principal da palavra. A essa projegio chamaremos Regra Final (RF). Em suma, a regra da Sensibilidade Quantitativa (1i) reflete o fato de que © portugués é uma lingua sens{vel 4 quantidade na atribuigéo do acento principal da palavra. E a regra de Formacao do Constituinte Pros6dico mais 4 Direita (FCP) organiza constituintes prosédicos de cabega 4 esquerda. O efcito das duas regras & representado a seguir. No mecanismo derivacional de (3), primeiramente ocorre a silabagdo, seguindo-se as duas regras do algoritmo acentual: a que forma o pé métrico bindério (FCP) ¢ a que poe em destaque o acento principal, denominada Regra Final (RF): @) /kaz+a/— /pared+e/ /borbolet+a/ léxico ka za pa re de bor bo le ta silabagfo Cy) Cc) Cy) FCP Cc) 7 7 RF [kaza] {paréde] [borboleta] safda n Que no portugués predominam palavras paroxitonas, acima representadas, é uma informacao assaz divulgada. Existe, todavia, um nimero expressivo de palavras com acento na sflaba final, como resultado de (SQ). Essa classe ndo possui VT. (4) /pomar/ /trofEu/ /koronel/ * léxico po mar trofEu ko ro nEI silabagdo Leo) “ (*) sa a) 7 ( RF {pomér] [troféu] [koronél] safda Nas duas classes acima representadas se encaixa a maior parte das palavras do portugués. Palavras com acento na terceira sflaba, que constituem uma das classes minoritarias, recebem no Iéxico a instrugdo j4 referida de extrametricidade na sflaba final, tornando-se candidatas a receberem diretamente acento por (FCP), pois, uma vez oculta a sflaba final, a regra (1) comega a operar a partir da segunda sflaba do ftem lexical, encontrando contexto para a formagdo de um pé bindrio subjacente. Lembremos que a SQ somente € sensfvel a sflaba final. (3) Ex(sfl) Ex(sil) Ex(sil) /fOsfor +0 / /arvor +¢/ /numer+o/ — Iéxico fOs fo ro ar vo re nume ro silabagdo Ex(sil) c ) ) Cc) FCP a) Cc.) (. ) ASP . * ‘. ) RF [fOsforu] [4rvori] [nGmeru] safda A regra de Adjungao da Sflaba Perdida que nao constr6i sflaba, mas que junta a um pé métrico como seu membro fraco a sflaba invisfvel, segundo Hayes. (1982:235), assim se expressa: (6) — Adjungdo da sflaba perdida Anexe a sflaba extraviada como membro fraco de um pé adjacente Convengio desta espécie somente se faz necess4ria ap6s a construgdo Asuposiggo de que tais palavras tenham vogal na forma subjacente, recebendo acento pela regra que cria constituintes prosédicos alcangaria o resultado correto, mas terla de contar com uma tegra de apagamento da vogal, de contexto muito restrito, dificilmente formulével, para evitar que toda vogal final seja apagada e, ainda necessitaria de uma regra de ressilabago que incorporasse a consoante da silaba final a sllaba precedente. rR dos pés métricos, se ficarem sflabas avulsas. Se a extrametricidade recair sobre consoantes ou elementos de coda, (6) é dispens4vel, pois nestes casos a sflaba j4 est4 presente na estrutura subjacente. Com a mesma sutileza das proparoxitonas, as paroxitonas que ocultam a consoante final, ¢ que constituem outra classe menor, deixam a vista também uma janela de duas sflabas, ancxando-se ao padréo comum, Em outros termos, a extrametricidade leva as palavras minoritdrias, no sistema acentual, a ajustarem-se a FCP, a regra geral. (7) Ex:coda Ex:coda Ex:coda futil/ / fasil/ /vizivel/ léxico util fa sil vi zi vel silabagéo Ex(coda) Cc) (* Cc) FCP Cc) Cc) ( * ) RF [atil) {fasil] [vizivel] safda Em util, fécil vistvel tao logo estejam formados os constituintes, manifesta-se a consoante lexicalizada como extramétrica, somente invisivel as regras de (1). Por conseguinte a diferenga entre util ¢ sutil, para tomarmos um exemplo, é estabelecida pela marca lexical de extrametricidade sobre a consoante final. Da mesma forma os pares minimos do tipo ditvida, /duvida, divida /divida sio garantidos pelo asterisco lexical que incide sobre todas as proparoxitonas. A extrametricidade fica, pois, restrita a irregularidades idiossincrdticas. A maior barreira que esta proposta encontra so as palavras acabadas em vogal com acento na sflaba final, que, vindas do latim em nGmero relativamente pequeno, ampliaram-se com empréstimos de linguas africanas e indigenas.? Partimos da suposigéo de que tais palavras recebem acento por SQ em raz4o de uma consoante abstrata na rima final. Formadas apenas pelo radical, sem a desinéncia de vogal temAtica, apresentam-se com uma vogal final de radical plena, jacaré, saci, jacu, diferentemente das que se submetem a regra (1ii), cuja vogal final € reduzida. A proposta € que recebem acento pela mesma regra que atua em pastél, pomér, funil, em virtude de a regra (1) visualizar a consoante idiossincrdtica registrada em seu item lexical, que somente vem & superficie em palavras derivadas. Desta forma as palavras sem VT cujo elemento terminal pode ser: (i) uma consoante: pomér, funil (ii) uma vogal plena: saci, jacaré. 2 Com referéncla as oxitonas terminadas em vogal, Pardal (1985), que fez um estudo do acento do Portugués a luz da Fonologia Métrica, valendo-se do diagrama-&rvore, condiciona o pé forte da silaba final deste tipo de palavra a inexist8ncia da marca de classe, ou seja, de VT. BB constituem uma categoria s6, em virtude de um artificio morfolégico cujo mecanismo interno consistente € levado em conta pela Regra do Acento Prim4rio. O cardter idiossincr4tico da referida consoante pode ser apreciado nos exemplos que seguem.? (8) a. abecé- abecedério abric6- abricote, abricoteiro café- cafeteira, cafezal Maomé- maometano robo-robotizar, robético tingui(planta da familia das leguminosas)- tinguijar, tinguijada tricé - tricotar. Exemplos como os que seguem que virtude da raiz monossilabica seriam acentuados por si mesmos, independentemente da presenga de uma consoante, em conformidade com a teoria de Halle & Vergnaud (1987), que norteia nossa andlise, também sdo lembrados para mostrar que a presenca da consoante no paradigma derivacional de oxitonas acabadas em vogal € uma caracteristica da classe. (9) ché - chaleira nu - nudez, nudagdo, nudismo, desnudar né - nédulo, nédoa pé - pedal, pedagio, pedestre pd - pazada 86 - soliddo, solitario > © aparecimento de uma consoante imprevisivel nas demals classes ocorre por vezes, sem a consisténcia das oxitonas: mato/a, matagal; cauda, caudatdrio; erva, ervatario; lama, lamagal; diabo, diabélico. A distingdo 6 feita da seguinte maneira: Na derivag&o de café > cafeeiro, por exemplo, em que a consoante nao 28 meniteste, temos 0 seguinte padrao silabico: TIL k af E onde nao se faz a ligag&o com a consoante do padrao, que, por convengdo desaparece. Na derivado de cafeteira, sim, todas as linhas de associag&o estiio ligadas: CVCVG Td Kk afEt + eira. Por outro lado, no caso de lama lamagal, o padriio da silaba final assim se apresenta: ame | @ma_ com uma regra que introduz C(s) antes de um sufixo com vogal iniciat (al). Vale notar quanto as oxitonas, de origem nfo-indigena ou africana, que a consoante final 6 documentavel diacronicamente: t6 pomarzinho, *pomarinho): (10) chalé > chalezinho, *chalcinho; sofa > sofazinho, —*sofainho; tabu > tabuzinho, —*tabuinho; chaminé > chaminezinho, *chamineinho. A mesma opcio fazem com outros sufixos que apresentam a variante com -2: (11) arag4 > aragazeiro aragaC > aracaz+eiro abacaxi > abacaxizeiro abacaxiC abacaxiz+ciro dendé (planta) > dendezeiro dendeC dendez+ eiro imbu > imbuzeiro imbuC > imbuz+eiro jatai > jataizeiro jataiC > jataiz+eiro picolé > picolezeiro picoleC — picolez+eiro sofa > sofazio sofaC sofaz+o. Por vezes, a consoante abstrata se manifesta no paradigma flexional: (12) jac4(sg), jacazes(p!) biriba(sg), biribases(pl) Nao faltam exemplos de hiatos, o que também oferece argumentos: café> cafeeiro, cip6> cipoal, cipoada. Esses fatos testemunham em favor da idéia de que esta classe de palavras, de radical acabado em vogal, sem vogal tematica, possui na subjacéncia uma sflaba final de rima ramificada, cujo elemento terminal interpretamos como uma consoante abstrata. No nivel da palavra ndo-derivada, a consoante abstrata, que ainda se encontra na posigdo de rima, nuG, cafeC, apaga-se por convencdo. No nivel da derivagéo, por ressilabagdo, passa para a posigéo de ataque (‘onset’) ¢ vem a superficie: nudez, cafeteira. 15 Ciclo1 (13) /pomar/ [kafEC/ /kafeC/+ /eir+a/ léxico po mar ka fEC silabagéo “ © saci) aay © Por convengao Ciclo2 kafeteirta ka fe tei ra silabagdo C.) FCP [pomér] [kafE] [kafetéira] safda No primeiro ciclo, faz-se contexto para a aplicagio de SQ, obtendo-se os resultados corretos de pomar e café. No segundo, os afixos cfclicos sio introduzidos e, de acordo com a teoria de H & V, a informacao do plano prévio do acento é obliterada. Entao (FCP) produz corretamente cafetéira. A estrutura métrica delineada pela regra (1) diminui o nimero de pés defectivos que recebem, de acordo com a Teoria, acento por si mesmos. Palavras deste padr4o silébico, se nomes e adjetivos, sio lexicalizadas com uma consoante abstrata, como em ché ~chaleira, pé~pedal, recebendo acento por SQ. Retornandoa extrametricidade, apreciemosem (14), comparativamente, casos de invisibilidade de uma consoante ¢ de uma sflaba e como as categorias obedecem a Restrigéo da Janela de Trés Sflabas, segundo a qual o acento alcanga maximamente a terceira sflaba a contar da borda direita, restrigéo a que estado sujeitas muitas Iinguas, entre as quais o portugués. (14) Ex(coda) Ex (coda) ~—Ex(sill) karater lapis lusifer léxico ka ra ter la piS lu si fer silabagdo Extram. Cy) C9 cd FCP at Ee Sete): ASP " ) ©) Cc ) RF [karéter] — [l4pis] [l6sifer} safda Sao poucas as palavras que recebem a marca de extrametricidade de sflaba com consoante final. Observe-se que neste caso (hicifer, por exemplo), a Regra de Adjungio de Silaba Perdida esquece a consoante final, uma vez que essa regra tem a propriedade de ligar somente sflabas leves. A consoante final segue o padraéo geral, reaparecendo assim que o mecanismo de atribuic&o de acento chegue a seu término, como em todos os casos de consoante extramétrica. Deixando de lado /épis, invaridvel no plural, observemos que o contorno de paroxftona obtido em cardter e de proparoxftona em hicifer nao € preservado no 6 plural, contrariando a regra geral. Ao ser criada nova sflaba via vogal epentética, a preservacgdo do acento da forma do singular em casos como hicifer transgridiria 0 limite m4ximo em que transita o acento. Entdo a Restricao da Janela de Trés sflabas (RJT), que funciona como um filtro, acerta Liicifer, kiciferes para luciferes, assim como Jiipiter, juipiteres para juptteres e sénior, séniores para senidres. Observemos que no caso de sénior ~ senidres, a casa mais proxima passa a ser / 0/, em virtude da ditongagdo. O movimento de um asterisco, que vai em diregdo oposta a da cabeca do constituinte, est4 restrito 4 Condigéo de Adjacéncia por conseguinte ndo atinge /karakitéres/, que interpretamos como um plural lexicalizado, recebendo acento, independentemente da forma de singular. Na lingua ndo faltam exemplos de plurais lexicalizados: niipcias, exéquias, etc. Os parametros que a Teoria oferece para descrever apagamento ou movimento de asteriscos foram formulados como princfpios universais por Haraguchi (1991). B Apague *, que leva o asterisco para a sflaba seguinte, sob pressdo da Restrigdo da Janela de Trés Sflabas (RJT). (as) Sg Pl léci --> luciferes Apague* Cc) QM) (-*) japi --> jupfteres Apague* Cc) (RTS) ¢*) Por Gltimo, vale notar que as poucas palavras do portugués de sflaba superpesada (cédix, térax), dicionarizadas, tém acento primério ndo-final, o que permite afirmar, por meio de (16), que a sflaba de dupla consoante na coda est4 necessariamente envolvida com a extrametricidade. (16) Condigao de sflaba superpesada E extramétrica a coda da sflaba superpesada (17) oniks tOraks lateKs léxico o niks tO raks la teks silabagdo Ex(16) C) ¢)d. Gd FCP * . * ) RF {6niks] —_['tOraks} Plateks] safda Vale notar, todavia, que palavras novas, ndo-dicionarizadas em sua maioria, com a termina¢do (ks) tendem a receber acento por SQ: eucatéx, duré&, piréx, © que mostra uma mudanga em diregdo a sensibilidade quantitativa, o padrao geral. 2. VERBOS Com respeito ao verbo, sujeito 4s mesmas regras expressas em (1), esse algoritmo, sensfvel ao peso sil4bico, interpreta como sflaba leve toda sflaba final acabada em S ou N com status de desinéncia: faleN, falaS. No caso de palavras Proparoxftonas, encontradas unicamente em tempos de imperfeito, a invisibilidade atinge a sflaba toda. Por conseguinte, a extrametricidade, que nesta abordagem € 0 mais das vezes uma propriedade idiossincrética, em verbos toma a forma de uma regra especffica: (18) A extrametricidade em verbos Marque como extramétrica: i. A sflaba final da primeira e da segunda pessoa ii. Nos demais casos, marque a consoante com status de flexo. Exemplos se encontram em (19). (19) a. (Ind.Pres.) (Ind.Pres.) (Infinitivo) / kaNtaS/ /kanteN/ /kaNtar/ domfnio KaN taS kaN teN kaN tar silabagdo os Ex(18) i i ® ~~ sa (a) Cc ) pa FCP Coy» @) Cy RF {k4ntas] [kéntey] [kantér] safda b. (Imperf.do subj.) (Imperf. do ind.) /KaNtassemoS/ /kaNtaveis/ domfnio kan ta sse moS kaN ta ve iS silabagao Ex(18) Cc ) (a) FCP @. ) (* > ASP . ) . RF {kant4ssemus] [kantaveis] safda Um caso de pé defectivo (PD), também chamado pe degenerado, encontra-se nas formas verbais de futuro, acreditando-se que sua origem atribufda 4 combinago do infinitivo do verbo que se quer conjugar com formas do presente ou do pretérito imperfeito do verbo haver, futuro e condicional Tespectivamente, tem ainda reflexos na sincronia. Os que defendem esta hipdtese, entre eles Mattoso Camara (1975:132) e Luft (1976:27-29), trazem como evidéncia B © uso do pronome clftico em meséclise: cantar-te-ei, falar-the-ia. O acento primério, segundo a proposta aqui defendida, oferece mais um argumento em favor desta colocagéo. Cada uma das duas partes que compdem o futuro mantém a sua autonomia, tal qual o fazem as palavras compostas, recebendo acentos prim4rios individuais, dos quais somente o Gltimo permanece por efeito de Apague *, sob a condiggo de choque acentual de grau 1, i.€, seqiiéncia de dois acentos, que o portugués tende a rejeitar.* (20) Futuro SQ SQ __ Por Evite Choque Acentual(ECh) O © OO “ alnfinitivo + ei: /falar/ /ei/ -> falarei-> falarei sQ. PD ECh Oo © OC) “ /falar //a/ --> falards --> falaras SQ PD ECh © © O° “) /falar/ /a/ --> falar4 --> falara SQ FCP ECh MC) OC) (y) /falar / /emo --> falaremo --> falaremos sq. sQ oO © @C) Ech (%) ffalar/ /ei/ --> falarei --> falarcis sQ PD ECh OO OC) * /falar/ /a/--> falara --> falarao SQ FCP ECh OC) OC) C) bInfinitivo + ia: /falar/ /ia/ --> falaria -> falaria 4 Quanto a hierarquia de choques acentuais, ver Haraguchi, 1991:140. SQ FCP ECh ©) C) C) © /falar/ /i a ->falaria ->falarfamos etc. E assim damos por finda a descrigio do acento principal do portugués. CONCLUSAO A abordagem que leva em conta a sensibilidade da Ifngua para 0 peso da sflaba final estrutura constituintes binérios com cabeca a esquerda e destina a extrametricidade as classes menores, proparoxftonas e palavras acabadas em sflaba ramificada sem acento final. Para resolver a finica barreira encontrada, a das oxftonas com vogal final, necessita trazer para 0 dom{nio do acento a consoante idiossincrética que tais itens manifestam apenas em processos derivacionas. Isso todavia, nado complica de forma alguma o mecanismo de descrigdo que, com duas regras apenas, alcanga explica 0 acento principal de todas as palavras lexicais da Ifngua. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS CAMARA Jr., M. Histéria @ Estrutura da Lingua Portuguesa, Padrio-Livraria Editorial Ltda. 1975. HALLE, M. and J.R. Vergnaud. An essay on stress. Cambridge, MIT Press, 1987. HARAGUCHI, S. A theory of stress and accent. Holland, Foris, 1991. HAYES, B. A Metrical Theory of Stress Rules. Doctoral dissertation. Distributed by indiana University Unguistics. Club, Bloomington, Indiana 1981. . Extrametricality and English stress, Linguistic Inquiry, 13, 227-76, 1982. LUFT, C.P. Para uma andlise morfolégica do verbo em portugués. Dissertacho de Livre Doo8ncia. Porto Alegre, Editora Emma, 1976. PARDAL, E D'A. O acento de palavra em portugués. Comunicagao apresentada no Colloquium on ‘Spanish, Portuguese and Catalan Linguistics, Universidade de Georgetown, 1985.

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