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H SUSPENSOES il Waa ab P MTeUNSSoar OnE 4 F CULTURA MODERNA um autor fundamental para entender as alteracDes cepsdo criado pela sociedade induste Tivo sobre as pesquisas em fisio elo de observador - ele tem ressaltada que o oh sha, mae obserra,conformando sua a 50 de ajuste A impeosi resentes na vida urbana Jo, Crary refina © quadro conceitual & tade do sé: a sibilidade.p industrial, que colocou em novo ps atividade inserida na dnd a ambivaléncia deste primar nearer situagBes especificas, uma inve ora pela qual opintor supera a oder criador, tal como evidenciarnas.0b Ao arti forma or jas hiskbricas,clentifcas € Michel Foucault, Walter Benjamin, Giles Deleuze e Guy Debord, Crary de analises notave's daqueles pintores no pre Jerna Esta 6 lida agora em nova chave, qu nay, quadso institucional edinamica oO impacto desse processo na percepcaodo 40 das rupturas encetadas pela arte mo andllsesque ONAN eS aN TINA MONTENEGRO JONATHAN CRARY SUSPENSOES DA PERCEPCAG ATENCAO, ESPETACULO E CULTURA MODERNA prericio Stella Senra 1. Amodlernidade ¢ o problema da atencao 2.1879:A visio que se desprende 31888; lluminagdes do desencantamento 4-1900% Relnventandoa sintese Epilogo—1907; Enfeiticade em Roma Crary ¢ as transferases do observador Stella Senta ante Livro de ida do séeulo xx para.o xt, langou um olhar ana. O leitor brasileiro pode, finalmente, ter acesso a este impo Jonathan Crary que, nav litico penetrante sobre as complexas transformacbes-da percepcio do homem moderno ocidental ocorridas no iltimo quartel do-século x1x, culminando fem 1900. A publica 10 da obra é auspiciosa e merece destaque porque vai en riquecer, por aqui, os estudas e pesquisas nos campos da art, da tecnol das midias modern Em nosso meio, a compreensio do tema problematizado por Crary tem sido balizad: tos na década de 1930, sobre as “metamorfoses da pet got humana pela fotografia pelo cinema nutriu mutts trabalhos,¢ permit que o espectador culto brasileiro escapasse das armadilhas da velha e simplotia di contemporineas, enim, da eultura como um todo, lécadas, pelos ensaios seminais de Walter Benjathin, éscri- pei’: A riqueza ines: da reflexdo do filésofo alemio sobre as reconfigurasies da percepcio cotomia entre os detratores €0s partidé os das tecnologias, entre 0s outrora chamados apocalipticos e integrados, Através da elaboragio dos conceitos de aura, de sua perda, © das categorias de choque e de “inconsciente 6tico’, 0 filésofo alemio aponta a ambivaléncia da crise do espectador contemplativo da pintura e, m ela, 0 que este perdia © ganhava em termos perceptivos ao trocar © tradicional valor de culto que moldava sua visio, pelo moderno valor de exposigao, que passou a modulé-la. Em sintese: Benjamin assina Ih campo da transcendéncia para o campo da imanéncia, ibertanda o olho dos, a que, com 0s novos aparatos téenices, a experiéncia da visio passava do metros da religito para langi-lo ne mundo da politica. Com Benjamin ralizar a exp problematica, a tando outras questdes, Pols se para o autor da “Pequeha historia da fotografia” ‘eA obra de arte naera de sua reprodutbilidade técnies” a resonfiguragso da percep se dava-na passagem da pintora par a fotografia ¢o cinema como ‘modos de perceber agenciados por aparatos técnicos, para o scholar norte- americano a transformagdo passa tanto por mdquinas de visie quanto pot rupturas no proprio exercicio da pintura. E mais: 08 aparatos técnicos que precedem o advento do cinema e que contribuem deciivamente para amet ‘morfose nio se circunserevem a chmerts monoculares, isto 2 linhagem dos dispositives decorrentes da camera obscura e aos desdobramentos da pers pectiva renascentista. E assim que, pata o critico, linha diviséria ndo passa mais entrea artee a técnica, mas por dentro de ambas. Ea matriz moderniza dora concorre, nesse sentido, para uma transformagio profunda da percepcio ‘humana, cujo carter ontolégico e epistemol6gico precisa ser analisado para além de qualquer tentagSo de um determinismo tecno-ligico. Para armar e desenvolver sua argumentagio, Crary se inspira fundamen- talmente em Walter Benjamin, mas também em Michel Foucault, Sua analise tem um eunho arqueol6gico que acompanha minuciosamente o descentra mento do sujeito cissico e a emergéncia de um observador moderno, cujas ‘caracteristieas comecaram a ser desenhadas em seu livre precedente, Técnicas ido observador,e que agora ganham cantornos mais fortes ¢ itensos medida quese adentraa segunda metade do século xix europeu, © foco de sua visada .omo bem observou Benjamin, a cidade Eo que se passava em Paris, porqu foia capital do séeulo x1x, Tudo que de televante ocorria ali em termos Silos ficos, cientifices, culturais, sociopoliticos eestéticas & convocado eeserupiilo samente relacionado com as descobertax cientificas, 0 pensamento floss eos avangos técnices delineados em outros centros de mundo desenvolvido ‘euro-norie-americato. Mas toda esse arsenal heuristico € mobilizado para sustentar as metamorfoses da percepgie em curso na légica operatdria que se constréi e se consuma na obra de trés grandes pintores franceses ~ Edauard Manet, Georges Seurat e Paul Cézanne ~, mais especificamente em algumas “obras-chave desses artistas. Aqui, também, é impossivel no pensar no pro -objeto, com seu regime de visualidad jeto de Foucault de As palavras-e as cofeas, cuja andlise penetrante de As me nninas de Velézquez confere a0 quadro do Prado-o poder de condensar, termos visuais, toda a problemstica do sujeito soberano clissica, Agora Crary, Manet, Seurat e C operar em suas telas, progressivamente ‘95 frés momentos fundantes da constituigao do regime perceptive moderno. Por isso mesmo, o livto se articula ema txés grandes capitulos: A visio que s desprertde, Tuminagdes de desencantamento ¢ Reinventando a sintese. Capitu- los que sio precedidos por um importante prblogo, consagrade is relagies centre a modernidade e w problema da lengao, € sucedidos por um rapido Adesfecho sabre a experitncia de Freud, 0 observador moderno por exceléncia, em suas andangas por Roma, Aaanilise de Crary rompe com o paradigma analitico que toma a ideia do dlharfixo (eem geral monocular) como fator constitutivo das sistemas Indepen- dentemente de como fosse descrita ~ organizacao, selegdo, ou isolamento =, tengo envelvia uma inevitive fragmentagio do campo visual em que se tor ava impossivel-a coeréneia unificada e homogenea dos modelos clissicos de visio, O modelo de visio baseado na cmera escura, no século xvin, descres uuma relagia ideal de autopresena entre 0 observador e o mundo. A atengio como processo de selegdo necessariamente significava que a percepsio cra uma atividade de exelusda, a0 fazer com que partes de um eampo perceptive nio fossem notadas.® As implicagdes culturais ¢filosoficas dessa reconceitualiza 40, por sua vez, geraram unm conjunto amplo de problemas e produziram uma série de posigdes, as quais agruparei em tres categorias gerats Havia aqueles, que definiam a atengio como expressio da vontade consciente do sujelto at tnomo, para quem a propria atividade da atensaio, como escolha, era parte da sua liberdade autoconsttutiva. Outros acred ipio, fungio de instintos determinados biologicamente, pulses inconscientes, _que~ como pensavam Freud e outros favam quea atengio era, em prin. seriam residuos de nossa heranga evo: 32 Dewey: Poco. op ct p34 33. Omode como Fegd exten a atenjto enquanto “nko da cca um dox meio pe Tos quis adguirimes “caneciment do ast sem divi fa pute de um conjunto de te ‘modelos mas ang. Entetanto, sa into sabre adviio ea pera da sabje parte problema da veletviade elise: "Mas io no slgnfica que a aero saa to simples. Aw cantrivio, ch demanda esfrgo de mad que un individu, de quer spreendet um objets em particulr deve sbara-lo ds todo resto, de tod ti ‘ama cols qe cculim em sua mene, de seus ours intersex mesmo de wa prpria pesos ele deve suprimi ua pp vaidade, que ofr juga o objeto apenadamente anes que ce tnssea chance de far por si mesmo; deve obtinadamente absoreer-se em seuobjet, deve ar nee sua stengSoe desk lar sem o inlerronper com sss propia: flees A atensio cont, portant a negocio da autafirmago da ee de sa submis $0 ao objeto em questi Hye Phifoopy of Bin, rad. Willa Wallace ¢ A.V, Mlk sf: Oxford Unversity Pres, 97.1959. a Iativa arcaica e moldavam de maneira inexorivel nossa relagio com o entorno. Ehaviaainda aqueles que defenciam que se poderia produzir um sujet atento ‘econtrolade por meio do conhecimento edo dominio de procedimentos exter: nos de estinulagdo, bern como de uma ample gama de tecnologias da “atragao"” A ater spenas um das temas examinados experimentalmente pela psicologia do final do século x1x, mas também constituiu a condigao fun- ‘damental de seu conhecimento.” A maioria das éreas de investigago da psico: logia: tempo de rea¢io, sensbilidade sensorial e perceptiva, ronometria men- {als ace wethics! Stpetes sondicimadas — tease preseupusharn ton sujeibo ‘cuja atengio era o eixo de observagdo, lassificacdo e mensuragao e, portanto, ‘© ponto em torno do qual virios tipos de conhecimento eram acumulados. As tentativas de Fechner, na década de 1850, para medir a experiencia subje tiva por meio da quantificagio de estimulos externos estdo entre as primeiras ‘ocorréncias desse modelo emengente de atencio. A famosa unidade de medida ide Fechner, “uma diferenga que apenas se nota” ("a just noticeable difference” ‘0 JND), foi possivel com base em experimentos nos quais se requeria que um sujeito fcasse atento sob estimulos sensoriais de diversas magnitudes ¢ jul gasseem que medida podia perceber as diferengas de nivel entre os estimulos. 234 Freud “Profeto por uma plcolopia cess ines. op 35. Orabalho de Tom Gunning ft importante para demonsrarqbe um sos components for ‘mats da cura visual mderaizds ede massa no Oxides, 1a como ela trou forma fo final das dicads de 8801830, ea a ee do cinema, Gunning dem bdastagt" Ao daculironssclnento ito gar no era rpreventag, ania, a narasio ou a atualizago de formas teat Tratavi-ve sais de uma esratégia park enteter um espectadoe atenta: "Das macaguices de comediantes diate da cimers is reeedncis gestos dot prstidigtadores nos fines de magia, ese & ‘accra tial op pun cocpu trac w dears do ppeci Glog “Ibe Cinema of attractions lm, is Spectator, andthe Avant-Garde’ in Thomas Esesser (eng), Early Cinem: Space Frame, Narrative. Londres wi, 1990, 9.5 246. Sobreo satus particular da plcologn no skcalo nix esa elapo expec com ails, ver Katherine Arens,Sirasres of Krowing Pyttege ofthe Nineteenth Century. Dor echt: Kluwer, 98; Elmar Holenstin, “Die Paycholope als-eineTochter vo Philosophie ‘und Phyislogi’ in East Fey e Oat Bieidbch (orgs), Ds Gehire, Ong de Sk? Zar Meengeachichte der Neurobilgie. Berl: Akademie Verlag, 1995p 89-308: Dard of Peyhology in Germany: Leary "“The Philosophical Development ofthe Concep Furaa ofthe History of the Bhovioral cence, 241978, ws 57 Tediner econbect clictamente = incinGabiidad eetseea os teenie bs js ‘a varsbidade ds sencio, mas por meio do que chamoa de “étado da ero meds toro. poucs confab ds ujeitos himanes totalmente compte crm cleales caustics baseados em grande qurtiade de dads. 49 Mas, como perceberam William James e outros, a obra de Fechner, com sa nogio de “limiar” de estimulo, tambi so volatile n pressupunha a consti nic homogénea da petcepedo. Aida que suia obra tena descobertoas vastas possibilidades ractonalizadoras da psicometria, revelou ao mesmo tempo as descontinuidades qualitativas que fragmentavam de maneira irrevogivel 0 tecido aparentemente uniforme da experiencia pereeptiva (tais como as mu: dangas quase imperceptiveis da conscigncia de uma sensacio’ inconsciéncia ‘ou insensibilidade, ou da passagem de uma sensacao de prazer paraasensacio dedor, por meio-do aumento na estimnla prazerasa) # Embora para Fechner aatengdo'se prestasse & quantificacdo, ela sugeria simultaneamente operagdes subjetivas de repressio e anestesia,as quais teriam importincia considerdvel para Freud e outros, © modelo de observador humano atento que dominow as

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