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sort1123, 15.08 Politea redstabutiva Politica redistributiva Prot? Mariana Stussi Neves Descriggo Preferéncias individuals e preferéncia por redistribuicdo, demanda por redistribuigéo e resposta dos eleitores, e politica redistributiva no Brasil Propésito Compreender como as preferéncias por redistribuigdo so formadas e como estio relacionadas com medidas de renda e desigualdade, como 08 politicos respondem as demandas por redistribuig&o e como os eleitores respondem nas urnas é fundamental para a formulagao de poltticas eficientes e duradouras. A formulagao dessas p importante para o combate & desigualdade e o alivio da pobreza em paises em desenvolvimento. as é Objetivos Médulo 1 Demanda por redistribuigao ntpsiistecine.azureedge.netrepositoro/0022ge/02669index himit 1135: sort1123, 15.08 Politea redstabutiva Identificar os determinantes de preferéncias por redistribuigao, Médulo 2 Politica redistributiva e grupos de interesse ‘Analisar a resposta dos eleitores e a politica redistributiva no Brasil Introdugao Nas tiltimas décadas, debateu-se muito sobre desigualdade social, suas implicagées e possiveis solugdes para eliminé-la. A América Latina é uma das regides do mundo com maior grau e persisténcia de desigualdade social. Os paises da reglao so caracterizados por grandes disparidades de renda entre seus cidadaos, assim como em consumo, acesso a educacao, terra, servigos basicos e outras varidveis socioeconémicas. 0 Brasil néo é diferente. Pelo contrério, 6 frequente o choque entre diferentes realidades nas grandes metrépoles, com bairros nobres com prédios luxuosos convivendo a0 lado de comunidades precérias. Apartir dos anos 1990, a regiao experimentou politicas governamentais de transferéncias monetarias como forma de combate a desigualdade social. 0 combate a desigualdade é 0 resultado da introdugo de grandes programas de transferéncia de renda focalizados. Mas qual foi o impacto dessas politicas? Haveria solugdes melhores e mais eficientes? Analisar a desigualdade social, suas consequéncias para 0 desenvolvimento e as solugées concebidas e implementadas até entdo 6 essencial para a melhor compreensdo desse fendmeno e para que se possam pensar politicas mais eficientes para 0 combate desse problema ntpsuistecine.azureedge.netrepositoro/00212ge/02669index himit 2138 sort1123, 15.08 Politea redstabutiva 1-Demanda por redistribuigo Ao fial desse médlo, voc serécapaz de identticar os determinantes de preferéncias por redisrbuigao, Desigualdade e redistribuicao De acordo com os modelos-padréo de economia politica de redistribuigo, um aumento na desigualdade deve levar a uma maior demanda piblica por redistribuigao e, em tiltima instancia, a mais redistribuigao. Esta seqdo apresenta um modelo teérico da relagao entre desigualdade de renda e demanda por redistribuigdo: 0 modelo de Meltzer e Richard (1981) de gastos do governo. ntpsuistecine.azureedge.netrepositoro/00212ge/02669index himit 3138 sort1123, 15.08 Politea redstabutiva » 0 modelo de Meltzer e Richard © modelo de Meltzer e Richard (1981) é um modelo cldssico de economia politica com 0 objetivo de explicar a relacao entre desigualdade e redistribuigdo de renda. Sob as hipéteses de (i) regra de votacao majoritéria, (i) sufrégio universal e (i) taxa de imposto linear, 0 modelo mostra como a redistribuigdo depende da relagdo entre a renda média e a renda do eleitor decisivo (0 eleitor da mediana). A distribuigo de renda é concentrada na esquerda nos paises industrializados avangados, como mostra 0 grafico 2, 0 que implica que a renda do eleitor mediano est abaixo da renda média, Nesse caso, 0 eleitor mediano aumentaré sua utilidade marginal se 0 governo aumentar a redistribui¢do, uma vez que ele se aproximard da renda média, diminuindo a distancia entre ambos. Neste sentido, podemos compreender que: Modelo de Meltzer e Richard (1981) Modelos simples Nessa proposta, 0 eleitor mediano deseja redistribuir a renda perfeitamente, para fechar a lacuna entre a renda mediana ea renda média, ntpsuistecine.azureedge.netrepositoro/00212ge/02669index himit No modelo em questo, assume-se que os, eleitores esto clientes dos efeitos de desincentivo criados pela redistribuigao — ‘como menor oferta de trabalho —, de modo que a redistribui¢ao nao serd perfeita, Afinal de contas, para que 0 governo possa redistribuir renda, & necessério tributar a sociedade, e a 4135 sort1123, 15.08 Politea redstabutiva tributagao apresenta distorgdes, Neste contexto, vamos observar os grificos a seguir. Eleitor da mediana = eleitor de renda média Renda Grice 1: Dist de rend siméticn Elaborado por: Mariana tsi Neves Eleitor da mediana a esquerda do eleitor com renda média Renda Gri 2: Distrbuigo derenda concenada& esquerda, Elaborado por: Mariana Stusi Neves Em democracias razoavelmente responsivas, 0 nivel preferido de redistribuigéo sera observado em equilibrio. Se a distribuigao de renda for alterada, 0 nivel de redistribui¢ao preferida também mudara, Em suma, 0 raciocinio do modelo ocorre em dois estagios. Primeiro, 0 nivel de desigualdade de renda determina a demanda por redistribuigo. Em segundo lugar, a demanda por redistribui¢ao determina o nivel real de redistribuigdo. Portanto, mais desigualdade deve aumentar o tamanho do governo, em que esse tamanho é entendido como uma carga tributéria alta para financiar a redistribuigdo, Contudo, as previsbes do modelo se sustentam empiricamente? ntpsuistecine.azureedge.netrepositoro/00212ge/02669index himit 5135 sort1123, 15.08 Poltcaredstabuva Esse argumento implica que a redistribuig&o seria muito maior em democracias do que em nao democracias, e que as sociedades desiguais redistribuem mais do que as igualitérias. Ha alguma evidéncia apoiando a primeira concluséo. No entanto, dentro de um mesmo tipo de regime (democratico ou autoritério) pode haver grandes diferencas. responsivas Democracias funcionais, em que a vontade do eleitor é atendida Exemplo Considere duas democracias: Estados Unidos e Suécia. De acordo com dados do Luxembourg Income Study, a redugdo da taxa de pobreza nos EUA como resultado de impostos e transferéncias foi de 13% em 1994, enquanto na Suécia fol de 82% (IVERSEN; SOSKICE, 2006). A Suécia no apenas redistribui mais do que os EUA, mas também é uma sociedade muito mais igualitria, de modo que a segunda conclusao também nao se sustenta, 0 modelo bésico nao explica por que algumas democracias redistribuem mais renda que outras. 0 fendmeno de que democracias avangadas com baixos nivels de desigualdade tendem a redistribuir mais, enquanto as nagdes com altos, niveis de desigualdade tendem a redistribuir menos, é conhecido como paradoxo de Robin Hood, 20 = 70 samy 7 pos = 50 40 ° a 20 i 20 1818 tice 9:0 pradoxo de Robin Hood Estraido de: Weraen ¢Soskce (2009.44). Como resolver esse conflito? Isso depende do que estamos testando. Algumas hipéteses do modelo sao violadas, na realidade, e outros fatores também devem ser levados em conta. Considere a primeira previso do modelo, de que mais desigualdade leva a maior demanda por redistribuicao. A realidade ntpsuistecine.azureedge.netrepositoro/00212ge/02669index himit 6135 sort1123, 15.08 Politea redstabutiva implica uma série de violagdes dessa primeira relago, na presenga de assimetria informacional. Exemplo Se as pessoas néo tiverem nogéo da realidade socioeconémica em que se encontram, ou se acreditarem que o nivel de desigualdade do pais em que vivem é diferente do da realidade, elas podem ter uma demanda por redistribuigdo diferente da esperada. Além disso, a demanda por redistribuigo pode estar relacionada com outros fatores que néo a renda, como religido, raga, sistemas de crengas e valores, ¢ 0 voto pode 1ndo ser materialistico, isto é, as pessoas, ao votar, nao so movidas apenas por interesses pecuniérios (monetérios). Porém, mesmo na presenga de motivagées materialistas, hd uma série de outras violagées possiveis da primeira previsdo do modelo: as pessoas podem estar mais interessadas em ganhos relatives do que em ganhos absolutos, ¢ 0 voto pode nao ser universal. Nesse dltimo caso, ¢ frequente que a participagao eleitoral esteja correlacionada com a renda, e que pessoas mais pobres votem menos, o que afetaria diretamente a demanda por redistribuigao. Mesmo que a primeira previsdo do modelo se sustentasse, isto é, que mais desigualdade implicasse mais demanda por redistribuigo, nao significaria que o mesmo valesse para a segunda previsdo do modelo: mais demanda por redistribuigéio néo necessariamente implica mais, gastos socials. Nesse caso, é possivel que outros fatores institucional violem o modelo, como corrupgao por parte de politicos, ou ainda alteragées nas instituigdes (ou regras do jogo) por parte das elites, como lobby. Ainda assim, observamos motivagées de interesse econémico préprio tanto no voto quanto no comportamento palitico. Cultura, crengas e preferéncia por redistribuicao ntpsuistecine.azureedge.netrepositoro/00212ge/02669index himit 7138 sort1123, 15.08 Politea redstabutiva Como vimos, 20 analisar as preferéncias por redistribuigao, os economistas esto acostumados a concentrar-se no ganho pecuniario liquido que resulta da redistribuigdo para os individuos. A maioria dos modelos politico-econémicos prevé que um individuo apoiara o programa de redistribuigao A, em vez do programa alternativo B, see somente se a renda Iiquida do individuo for maior em A do que em B, ou seja, as preferéncias por redistribuicao sao guiadas pelo interesse pecunidrio. Essa nao é, contudo, a Unica maneira de pensar as preferéncias individuals por redistribuigao. Uma abordagem alternativa vé as atitudes dos individuos em relagao & redistribuigio como um reflexo do sistema de valores que eles endossam. As pessoas podem néo apolar o programa de redistribuigdo que maximiza o beneficio individual, mas aquele que esté de acordo com sua visio do que constitui uma boa politica para a sociedade como um todo. Ainda é possivel que as preferéncias reflitam de fato apenas 0 Interesse pessoal, mas Isso pode incluir 0 status social do individuo, ou seja, sua posi¢ao relativa na sociedade, Nesse caso, 0 julgamento de alguém sobre a redistribuigdo pode depender do impacto sobre a distribuiggo de consumo em seu ambiente social, e ndo apenas do impacto em seu consumo individual. Essas trés abordagens nao sao, em consequéncia, mutualmente exclusivas. Nao apenas individuos diferentes podem ter motivagées diferentes, como até o mesmo individuo pode tentar equilibrar essas motivagées ao decidir-se, em suas preferéncias, por redistribuigio, Comentario Comeo e Gruner (2002) investigam os determinantes do apoio das pessoas a reducao das desigualdades de renda por parte do governo. Os autores estipulam que existem trés forgas competidoras apresentadas a segul. Efeito homo oeconomicus Em modelos de economia politica em que a renda é exdgena e determinada antes da definigao e da incidéncia de tributos, como no modelo de Meltzer e Richard (1981) visto anteriormente, a abordagem- padrdo para determinar a atitude de um individuo em relagao a redistribuigo deriva apenas do efeito da redistribuigo sobre sua renda liquida. Nesse sentido, quando consideramos esquemas de transferéncia de impostos puramente redistributivos, o “efeito homo ‘oeconomicus” (EHO) afirma que 0 apoio a favor de mais redistribuigao inversamente relacionado com a posigao do individuo na escala de renda, Em outras palavras, hé uma correlagao negativa entre 0 apoio ntpsuistecine.azureedge.netrepositoro/00212ge/02669index himit 8135 sort1123, 15.08 Poltcaredstabuva individual & redistribuigdo e o nivel de renda, Assim, se 0 individuo tem a renda abaixo da média, ele apoiaré a redistribuigao; caso contrétio, val se opor a ela Efeito dos valores publicos ‘A segunda abordagem relaciona as preferéncias de redistribuigo de um individuo com seus valores piblicos, Os individuos podem ser dotados de uma fungdo de bem-estar social que expressa suas preferéncias sobre a alocagao de recursos para todos os individuos da sociedade. As atitudes de um individuo em relagao a redistribuico podem refletir essa fungao de bemestar social. 0 efeito sobre as atitudes individuals € chamado de “efeito dos valores piblicos” (EVP). De acordo com essa abordagem, nao ha uma ligagao, a prior, entre a renda bruta de um individuo e seu apoio a politicas de redistribuigao, Até certo ponto, pode-se assumir que todos os individuos compartilham os mesmos valores, sob 0 argumento do “véu da ignorncia". No entanto, eles podem nutrircrencas idiossincréticas sobre as contribuigées da origem familiar e do esforgo individual para o sucesso econémico pessoal. Se um individuo acredita que as origens familiares, em termos de riqueza e capital humano, séo os principais determinantes da renda individual, entéo é esperado que ele seja a favor da redistribuigo por parte do governo. Por outro lado, se um individuo acredita que o trabalho érduo pessoal é mais importante para a determinagao da renda individual, entdo espera-se que ele se oponha a redistribuigao. Veu da ignorancia Argumento segundo o qual as pessoas formam seus valores como se ndo conhecessem sua situagao especifica ~ se serdo ricos ou pobres, por exemplo, Desa forma, os valores individuais nao refletem a situaco de cada um, Comentario bitpsistecine.azureedge.netirepostorio(002 2ge/02663/Index.hilt 9135 sort1123, 15.08 Politea redstabutiva Isso explica por que as preferéncias podem divergir entre individuos com o mesmo nivel de renda e por que alguns paises redistribuem mais do que outros, mesmo que tenham distribuiges de renda semelhantes. Efeito da rivalidade social [Aterceira abordagem gira em torno da ideia de que as preferéncias de redistribuigo de ura pessoe dependem de seu efeito no padréo de vida telativo do individuo. Esse é 0 chamado “efeito de rivalidade social” (ERS). A qualidade do ambiente social de um individuo afeta fortemente seu bemestar. No entanto, essa qualidade nao é o objeto direto das transagGes de mercado. Conversas, festas, ser casado com alguém e outros indicadores de status social ndo séo bens de mercado, para os quis frequentemente se desenvolve uma intensa competigéo. A presenga de competicao social (em detrimento da competi¢ao de mercado) por alguns bens pode gerar endogenamente uma preocupagao com o consumo relative. O ERS surge quando as preferéncias de redistribui¢do sao impulsionadas pela crenca de que a redistrbuigdo afeta a qualidade do ambiente social dos individuos. ‘Vamos ver como isso funciona na pratica? Veremos a seguir um importante exemplo de aplicagao. Suponha que, dentro de cada bairro, o mero jogo de interagao social dé origem a um bem piblico local — a qualidade social de vida naquele bairro, ntpsufstecine.azureedge.netirepositoro/00212ge/02669index himit 10135 sort1123, 15.08 Politea redstabutiva Suponha também que, antes da redistribuiedo, 0 bairro seja habitado principalmente por uma classe média relativamente homogénea. Ao redistribuir a renda dos ricos para os pobres, 0 governo aumenta indiretamente a probabilidade de que individuos de classe baixa em ascendéncia social substituam residentes em descendéncia social do bairro. Os incumbentes podem no gostar da entrada de novos vizinhos vindos de camadas sociais mais baixas, porque tornam o ambiente dos incumbentes menos valioso. As vezes, esses sentimentos podem ser alimentados por preconceitos raciais ou étnicos. Na medida em que os habitantes anteriores nao gostam de viver com os novos entrantes, eles podem opor-se & redistribuicdo, mesmo que nao obtenham nenhuma desvantagem monetétia dela. Para compreender quais fatores contribuem para as preferéncias por redistribuigéo, Comneo e Gruner (2002) analisam dados do International Social Survey Programme (1992), uma pesquisa que perguntava a individuos de diferentes paises se o governo deveria diminuir a lacuna de renda entre pessoas com alta e baixa renda, As respostas a essa pesquisa permitem descrever como 0 Os autores confirmam a hipétese principal de que as preferéncias individuais por redistribuicao podem ser explicadas principalmente por incentivos pecuniérios individuais (EHO). No entanto, a principal ccontribuigo do estudo é que essa ndo ¢ a unica forga por trés do apoio a redistribuigao. Os dados apontam que o EVP também importa bastante. Finalmente, os efeitos de status social (ERS) também desempenham papel significative na formagao das preferéncias individuais por redistribui¢ao, de modo que os autores concluem que os. trés fatores importam, Atengao! ntpsuistecine.azureedge.netrepositoro/00212ge/02669index himit apoio a redistribuigao de renda por parte do governo varia. 11135 sort1123, 15.08 Politea redstabutiva O EVP pode variar no s6 entre pessoas de uma mesma regio, como de pais para pals. Paises diferentes variam na énfase que dao a determinados aspectos culturais, que, por sua vez, sao moldados por crengas, religiéo, histéria e outros aspectos socioeconémicos de uma populacao. Alesina e Giuliano (2015), interessados na interacao entre cultura e instituigdo, avaliam a literatura econémica em torno do tema e reunem artigos e pesquisas publicados na drea para compreender melhor como essas duas varlaveis interagem. Entre outros aspectos, eles mostram como valores como individualismo coletivismo variam entre pafses (Imagem 4a) — sendo sociedades individualistas aquelas que enfatizam conquistas pessoais e direitos individuais, em detrimento de sociedades coletivistas, nas quais as pessoas agem como membros de grupo ou organizacdo coesa € duradoura, Mostram também como valores sobre atitudes em relagdo a trabalho e percepgo de pobreza variam entre paises (Imagem 4b), isto 4, se o que determina o sucesso € "trabalho duto” ou sorte, ¢ se hd a possibilidade de mobilidade social, caso 0 esforgo necessério seja realizado. Imagem 4a: Valor ndviualem Imagem Ab: Valres:"wabalho dure sorte Considerando a importancia do EVP e a enorme variagao entre valores ‘como individualism e relagao trabalho-sorte, é possivel imaginar como hntpsufstecine.azureedge,netirepositorio/00212ge/02663index himit 12135 sort1123, 15.08 Politea redstabutiva as preferéncias individuais por redistribuigao podem ser moldadas de maneira diferente, a depender do pais de origem do individuo e de sua cultura, Nesse sentido, concluimos que objetivos nao materiais importam na formagao dessas preferéncias, assim como as origens € as crengas das pessoas a respeito do processo de mobilidade social e dos impactos da redistribuigao nos incentivos a trabalhar, Finalmente, a literatura econémica também mostra que os individuos também levam em consideragao a justica do processo de mobilidade e se as oportunidades sao distribuidas igualmente. Preferéncias por redistribuigao Neste video, retornaremos aos conceitos principais estudados nesse médulo. Para assistir a um video >, sobreoassunto,acessea JO} versao online deste contetido, = ntpsuistecine.azureedge.netrepositoro/00212ge/02669index himit 13935 sort1123, 15.08 Politea redstabutiva Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questo Sobre 0 modelo de Meltzer e Richard (1981), assinale a altemativa correta: 0 modelo assume as hipéteses de (i) regra de A votagao majoritaria, (i) sufragio universal e (i) taxa de imposto progressiva. 0 modelo tem o objetivo de explicar a relagao entre desigualdade e eleitor da mediana, ntpsuistecine.azureedge.netrepositoro/00212ge/02669index himit 14i38 sort1123, 15.08 Politea redstabutiva (0 modelo prevé que mais desigualdade deve aumentar o tamanho do governo. Os eleitores nao esto cientes dos efeitos de desincentivo criados pela redistribuigao. EO modelo nao tem um equillbrio. Parabéns! A alternativa C esta correta. 0 raciocinio do modelo de Meltzer e Richard (1981) ocorre em dois estagios. Primeiro, o nivel de desigualdade de renda determina a demanda por redistribuigao;e, em seguida, a demanda por redistribuigao determina o nivel real de redistribuico. Nesse sentido, mais desigualdade implica mais demanda por redistribuigo, que determina um nivel maior de redistribuico realizado (ou seja, um governo “maior’). As demais alternativas esto erradas, porque o modelo assume taxa de imposto linear para explicar a relagao entre desigualdade e redistribuigo de renda, Além disso, assume também que os eleitores estdo cientes dos efeitos de desincentivo criados pela redistribuigao, e 0 equilibrio deve ocorrer em democracias responsivas. Questo 2 Sobre a determinacao das preferéncias individuats por redistribuigo, assinale a alternativa que contém as forgas competidoras, segundo Comneo e Gruner (2002): Efeito homo oeconomicus, efeito de valores privados, efeito da rivalidade econémica Efeito homo socius, efeito de valores piblicos, efeito da rivalidade social Efeito homo oeconomicus, efeito de valores piblicos, efeito da rivalidade econémica ntpsuistecine.azureedge.netrepositoro/00212ge/02669index himit 15135 sort1123, 15.08 Politea redstabutiva Efeito homo oeconomicus, efeito de valores Piblicos, efeito da rivalidade social Efeito homo socius, efeito de valores privados, efeito da rivalidade econémica Parabéns! A alternativa D esta correta. Corneo e Gruner (2002) investigam os determinantes do apoio das pessoas a redugdo das desigualdades de renda por parte do governo e estipulam a existéncia de trés forcas competidoras: 0 EHO, 0 EVP eo ERS. As demais alternativas esto incorretas, pois, do se consideram os efeitos homo socius, valores privados ou rivalidade econémica, 2 - Politica redistributiva e grupos de interesse ‘ofial desse médulo,vacé sera capaz de ientiticararesposta dos elitorese a politica reditributva no Basi Eleitores respondem a redistribuicao? hntpsufstecine.azureedge,netirepositorio/00212ge/02663index himit 16135 sort1123, 15.08 Politea redstabutiva No médulo anterior, vimos como as preferéncias e a demanda por redistribuigo so formadas. Mas, uma vez que ha redistribuigo, 0 que acontece? Serd que os eleitores respondem as politicas redistributivas, premiando politicos que os beneficiem com seu voto (ou 0 contrario, punindo aqueles que beneficiem outros grupos, caso desgostem de redistribuigao)? Historicamente, ha um debate amplo a respeito da melhor escolha de tipo de politica publica: universal versus focal. Uma politica universal 6 aquela que promoveria justica social por meio da distribuigdo igual de um recurso por toda a populagao. Um exemplo disso ¢ a renda basica Universal, uma proposta que nunca foi implementada no Brasil. JA uma polltica focalizada seria aquela que beneficia determinado grupo de individuos (piblico-alvo) a partir de um conjunto de critérios, com 0 objetivo de ter um gasto piblico eficiente, atingindo quem mais precisaria do recurso, segundo os critérios definidos. Um exemplo desse tipo de programa é 0 Bolsa Familia, irecionado a familias em condigao de pobreza ou extrema pobreza Defensores do universalismo argumentam que beneficios deveriam ser direito de todas as pessoas, sem distingdo entre diferentes categorias de pessoas em termos de renda ou riqueza. Vejamos as vantagens desse tipo de politica Bolsa Familia Em 2021, 0 programa foi substitu(do pelo Auxilio Brasil, ainda em fase de implementagao no momento de confecgdo deste texto. ~o So extremamente inclusivas. ntpsuistecine.azureedge.netrepositoro/00212ge/02669index himit 17138 sort1123, 15.08 Politea redstabutiva Sem discriminago ou fim previsivel. ‘So, em geral, muito onerosas, podendo ser considerado desperdicio gastar parte dos recursos com determinada parcela da populagao, ‘como a mais rica, por exemplo. Pense em um pais como o Brasil, com mais de 200 milhdes de habitantes ~ uma politica universal de apenas R$10,00 por pessoa envolveria um dispéndio de 2 bilhdes de reais. Por outro lado, politicas focalizadas também tém problemas. Como assegurar que pessoas que realmente necessitam daquele recurso sejam identificadas e que o auxilio chegue até elas? Além disso, 0 que garante que o grupo correto de pessoas estd sendo auxiliado e que a cobertura do programa no é excessivamente ampla ou restrita? E possive listar ainda outros obstéculos para 0 acesso a programas focalizados, como falta de informagdo a respeito do programa, estigma social (pessoas podem nao querer determinado auxilio porque ele poderia carregar algum estigma, como taxar certo grupo de pobre, por exemplo), problemas de fiscalizagao e corrupedo, entre outros, Do ponto de vista politico, o quao compativeis so programas de transferéncia de renda e democracia? Em geral, programas focalizados tendem a diminuir o gasto discricionério de politicos e alocé-los segundo decisées programéticas, o que diminuiria o clientelismo. Em, outras palavras, esses critérios preestabelecidos seriam uma barreira para que politicos ndo gastassem os recursos de maneira deliberada, escolhendo os beneficiérios que quisessem, de maneira que néo pudessem usar tais recursos como “prémio" para conseguir votes. Por exemplo, se programas de transferéncia de renda nao tivessem critérios, um politico poderia escolher beneficiar um grupo em troca de votos. Esses programas de transferéncia monetaria com critérios preestabelecidos so chamados de programas de transf nada de renda (PTCR). condi Gasto discricionario Gasto que pode ser definido individualmente a cada momento, ao contrério de gastos ndo-discricionérios, que devem seguir regras pré-determinadas. Comentario Programas focalizados poderiam estimular os eleltores a votar por raz6es programéticas: o eleitor pode decidir votar no partido A porque ntpsuistecine.azureedge.netrepositoro/00212ge/02669index himit 18135 sort1123, 15.08 Politea redstabutiva sabe que aquele partido beneficiou seu grupo com determinado programa. Nesse sentido, argumenta-se que programas focalizados podem ser prejudiciais democracia, porque perpetuam o link clientelista entre incumbente e beneficidrio: ou seja, seria quase uma compra de votos oficial. Os beneficidrios poderiam estar sendo manipulados a votar de forma diferente de suas reais preferéncias por temer o término de um programa ou 0 corte dos beneficios. O que a evidéncia empirica diz a respeito? Manacorda, Miguel e Vigorito (2011) investigam os efeitos de um extenso programa de combate & pobreza no Uruguai no apoio politico dos eleitores ao governo que o implementou. De maneira ampla, os autores querem saber se programas de transferéncia de renda so capazes de capturar votos. Para responder a essa pergunta, eles estimam 0 efeito causal do programa de transferéncia de renda Panes 1no apoio politico ao partido incumbente no Urugual. Entre 2001 e 2002, o Uruguai passou por uma grave crise econémica. A renda per capita do pais caiu 11%, ¢ a taxa de pobreza subiu de 18,8% para 23,6%, Em resposta & crise, o partido no poder, Colorado, decidiu expandir os programas jé existentes, em vez de criar novos. Em 2004, a coalizao politica de centro-esquerda Frente Ampla foi eleita com campanha focada em redistribuicao de renda e reformas econémicas. Sob © novo governo, o programa de transferéncia de renda condicional Panes foi langado, © programa tinha dois objetivos principais: Objetivo 1 Objetivo 2 Prover assisténcia > Fortalecer o capital direta a domicilios que humane e social dos haviam experimentado mais pobres para uma queda répida no capacité-los a sair da padrao de vida desde o situago de pobreza por inicio da crise conta prépria 0 maior beneficio do programa era uma transferéncia de renda mensal fixada em um valor. Ele também previa um cartao de alimentagao para familias com gravidas e criangas, treinamento e oportunidades de emprego, além de subsidios para a sade. ntpsuistecine.azureedge.netrepositoro/00212ge/02669index himit 19135 s011123, 15:08, Pala redstabutiva 0 programa durou de abril de 2005 a dezembro de 2007. Para implementé-lo, o governo realizou uma pesquisa de linha de base em todos os domicilios de baixa renda, adquirindo informagées sobre caracteristicas dos domictlios, habitagao, renda, trabalho e educagao dos aplicantes. Com base nessas caracteristicas, foi calculado um score de renda, e a elegibilidade do programa foi determinada por uma linha de corte desse score, de modo que apenas familias com pontuacao abaixo de um limite preestabelecido eram elegiveis a ele. Essa regra de focalizagao foi desenhada tanto para evitar discrigao na atribuigao do programa quanto para avaliar rigorosamente seu impacto. Para evitar a manipulacao da regra de focalizagao, a férmula do score de renda néo {oi divulgada aos potenciais beneficirios, entrevistadores e nem a0 préprio governo, até que programa terminasse. Isso foi essencial para a identificagao do efeito causal do programa, Como a regra de focelizagao fol definida longe de consideracdes politicas e sua implementacao foi bastante rigida, pode-se considerar que a atribuigdo ao programa para os domictlios cujo score de renda se encontrava perto da linha de corte foi quase aleatéria, por serem domicilios muito préximos em termos de caracteristicas. Observaremos a seguir alguns resultados: Resultado 01 v Um ano € meio apés 0 inicio do programa, as familias com score de renda perto da linha de corte foram novamente entrevistadas. em uma pesquisa com uma série de perguntas, incluindo algumas sobre apoio ao governo vigente, Uma segunda pesquisa de acompanhamento parecida fot realizada em 2008, depois do término 0 programa, Os autores usaram os dados dessas pesquisas para avaliar seo recebimento do programa afetou o apoio (em forma de voto) dos beneficidrios ao governo. Eles encontraram que os individuos que se beneficiaram do programa em tomo da linha de corte tinham uma probabilidade de 11 a 13 pontos percentuais maior de apoiar 0 governo incumbente (que o implementow), em, relagdo aqueles que ndo conseguiram qualificarse para o beneficio Resultado 02 v ntpsuistecine.azureedge.netrepostoro/0022ge/02669index himit 20135 sort1123, 15.08 Politea redstabutiva Além de estimar o impacto das transferéncias do governo no apoio politico dos eleitores, os autores também testaram e rejeitaram duas teorias de comportamento do eleitor. Uma delas, a “Votagao de bolso’, enfatizava a centralidade da renda disponivel real atual dos eleitores como o principal fator impulsionador dos resultados da votagao. Usando os dados coletados apés 0 término do programa Panes, os autores descobriram que 0 apoio politico ao governo em exercicio que criou o programa permaneceu significativamente maior entre os exbeneficiétios do programa, embora os niveis de renda dos beneficidrios tenham caido rapidamente para o mesmo dos néo beneficiatios. A teoria da “votagao de bolso implica que beneficidrios e nao beneficidrios deveriam apoiar o partido incumbente igualmente uma vez que seus niveis de renda fossem equalizados; no entanto, nao é isso que os autores verificaram, Resultado 0: v Outras teorias de economia politica, mais modernas, pressupdem eleitores racionais, 0 que é consistente com a abordagem econémica padrio de tomada de decisao. Com informago assimétrica a respeito das caracteristicas dos politicos, os eleitores usam as politicas implementadas e seus resultados como sinais para inferiros tipos ¢ a competéncia dos politicos. Os resultados emplricos dos autores também vo contra essas teorias de eleitores racionais capazes de inferir caracteristicas politicas ou partidarias por meio de sinais. Considerando o carter quase aleatério da atribuicao do programa em torno da linha de corte, eleitores de ambos os lados da linha de corte deveriam ter as mesmas visdes da competéncia do partido incumbente, ¢, portanto, 0 apoio a0 incumbente nao deveria ser afetado pelas transferéncias. ‘Aeexplicagao alternativa para os resultados encontrados é a de que eleitores so racionais, mas mal informados. Os autores argumentam que o apoio persistente ao partido incumbente pode ser explicado por eleitores que inferem as preferéncias redistributivas do governo por pessoas como eles préprios (os beneficiérios do programa), com base na populacdo-alvo anterior do programa. Como os eleitores nao entendem completamente a regra de elegibilidade do programa, ntpsuistecine.azureedge.netrepositoro/00212ge/02669index himit 21135 sort1123, 15.08 Politea redstabutiva interpretam sua condigo de beneficidrios como um sinal de preferéncias redistributivas do governo incumbente. £ como se a pessoa pensasse: “se eu recebo recursos do governo, é porque o governo de fato gosta de distribuir recursos para quem precisa’, sem avaliar a regra de elegibilidade em si O resultado de que eleitores respondem fortemente as transferéncias nao implica necessariamente que suas atitudes politicas e seu voto sejam baseados exclusivamente no préprio bemestar. €razodivel que os candidatos ao programa tenham interpretado o préprio recebimento das transferéncias como sinal da vontade e da capacidade do governo de ajudar os pobres, 0 que poderia aumentar, por sua vez, 0 apoio ao partido incumbente, Os dados das entrevistas realizadas no estudo apontam que os beneficiarios das transferéncias demonstraram maior confianga no governo e em suas politica, maior otimismo quanto 30 futuro de suas familias e do pais como um todo, e até perceberam que as desigualdades sociais estavam diminuindo, Esse otimismo sobre a diego do pais foi um fator plausivel para um maior apoio dos beneficlérios do Panes ao governo. a De La 0 (2013) encontra resultados similares ao analisar os efeitos do programa de transferéncia de renda Progresa sobre 0 voto no incumbente no México. Como no artigo anterior, a autora esta interessada em avaliar se programas de transferéncia de renda afetam voto do eleitor e a taxa de participagao Para responder a essa pergunta, ela explora a variagao exégenana duragdo do programa de transferéncia de renda para compreender se 0 tempo de exposigéo ao Progresa afeta o comportamento eleitoral do beneficiario, Ele foi implementado em resposta a um cenatio de crise econémica no final da década de 1990 no México. Apés a crise do peso de 1995, mais de 16 milhdes de pessoas cairam abaixo da linha de pobreza no pais. Naquela época, a maiorla dos fundos disponiveis para combater a pobreza nao chegava aos pobres. Na verdade, 75% do oramento total para programas de alivio da ntpsuistecine.azureedge.netrepositoro/00212ge/02669index himit 22135 s011123, 15:08, Pala redstabutiva pobreza foram canalizados para éreas urbanas, onde familias néo to pobres capturaram a maior parte das transferéncias, Em resposta a esse contexto, a administragao vigente langou 0 Progresa ‘em 1997, que depois viria a chamar-se Oportunidades. 0 programa consistia em trés componentes complementares: () uma transferéncia de renda, destinada principalmente a subsidiar despesas com alimentagao, entregue diretamente as mulheres chefes de familias pobres; (i) uma bolsa de estudos, destinada a compensar 0 rendimento que poderia ser obtido com trabalho infantil, permitindo, assim, que as criangas permanecessem na escola; € i) culdados. basicos de satide para todos os membros da familia, com particular @nfase nos cuidados de saiide preventivos. As transferéncias eram realizadas a cada dois meses, e 0 recebimento do beneficio era condicional a frequéncia escolar e & realizagao de ‘exames médicos regulares e de planos de comparecimento (reuniées) relacionados com questdes de satide, higiene e nutricao. Saiba mais hntpsufstecine.azureedge,netirepositorio/00212ge/02663index himit 23135: sort1123, 15.08 Poltcaredstabuva Se o leitor notou similaridade com o Programa Bolsa Familia, ndo é por acaso. 0 Progresa, no México, que, depois, recebeu o nome Oportunidades, fol o primeiro programa de transferéncia de renda condicional (PTRCs) de larga escala na América Latina, tornando-se um marco histérico. A partir dele, foram disseminados PTRC em dliversos pafses da América Latina e em outras partes do mundo, passando a cocupar um lugar de importancia na agenda de governos, organismos internacionais e agéncias doadoras. Inicialmente, a exposigao ao programa foi aleatorizada. O experimento aleatorizado fol realizado em sete estados onde o programa foi implementado pela primeira vez. A primeira etapa na escolha da amostra fol uma selegao de vilarejos elegiveis ao programa com base em uma medida de pobreza criada a partir de dados dos censos. demograficos de 1990 e 1995. 0 indice de pobreza foi dividido em cinco categorias, que vao de pobreza muito baixa a muito alta, As localidades consideradas com alto ou muito alto grau de pobreza foram consideradas as prioritérias a serem incluidas no programa, A segunda etapa se deu em razo das condicionalidades do programa, Foram consideradas elegivels apenas as localidades com acesso a escola e servigos de sauide (ou com estradas disponivets, quando os servigos do estavam localizados na mesma comunidade). 0 programa foi aleatorizado no nivel dos vilarejos. Nesse contexto, observe os dados a seguir. Situagao 01 Familias em 320 vilarejos foram selecionadas para receber o beneficio. Situagao 02 Outros 186 vilarejos foram excluidos do programa até janeiro de 2000. Situagao 03 Nos vilarejos de tratamento, 0 programa foi oferecido para todas as familias elegiveis, e, nos vilarejos de controle, nenhuma familia recebeu os beneficios. ‘Tres caracteristicas adicionais diferencia o Progresa de outros programas de alivio a pobreza no México. ntpsuistecine.azureedge.netrepositoro/00212ge/02669index himit 20135 sort1123, 15.08 Politea redstabutiva 1. Possuir er étios claros e fixos para determinar a elegibilidade com base na pobreza e ser explicitamente no partidario. 2. Os idealizadores do programa criaram uma nova burocracia para operé-lo, 3. Anova burocracia contornou todos os intermediarios, incluindo mecanismos tradicionais e poderosos de distribuigéio de dinheiro federal, como governadores e agéncias estaduais. ‘Ao contrétio dos administradores de programas de alivio & pobreza anteriores, que eram em sua maioria politicos, o primeiro coordenador do Progresa era um cientista, Além disso, as disposigées do decreto do ‘orgamento federal proibiam o uso do programa para fazer proselitismo por qualquer partido politico. Finalmente, seus idealizadores adiaram a inauguragao do programa até um més apés as eleigdes de meio de mandato de 1997. Desde entao, decretos orgamentérios incluem a proibigo de expandilo seis meses antes da data das eleigdes. Em ‘suma, ao adotar 0 Progresa, o Executivo diminulu substancialmente seu poder discricionario de alocar gastos sociais. Atencao! Em virtude da no momento das eleigbes presidencials de imilias recebendo o beneficio hd meses e familias que o recebiam ha seis. A autora explors aleatorizacao estimar jempo de tratamento de 21 ou seis meses p exposigdo ao programa de transferéncia de renda afeta o voto nas eleigdes presidenciais e o comparecimento as urnas, Para separar o efeito de persuasao e mobilizagdo, a autora examina o impacto nos votos do partido incumbente, nos votos dos principais partidos de oposi¢ao eno comparecimento as urnas. Em particular, a preocupagao é de que os beneficiérios de programas direcionados possam ser persuadidos a votar contra suas preferéncias em resposta as ameacas de descontinuagdo do programa (efeito de persuaséo). Porém, uma explicagao alternativa & que, quanto maior a duragao do programa, maior a exposigao dos destinatarios a seus beneficios e mais oportunidades o titular tem de receber crédito pelos resultados positives do programa (efeito de mobilizagao). ntpsuistecine.azureedge.netrepositoro/00212ge/02669index himit 25135 sort1123, 15.08 Politea redstabutiva Afinal, o que os dados revelaram? Os dados mostram que mais tempo de exposigio ao programa levou a aumentos substanciais na participacdo eleitoral e na parcela de votos do incumbente na eleigo presidencial de 2000. 0 experimento também revela que a parcela de votos dos partidos da oposigdo nao foi afetada pelo programa. Assim, o bonus eleitoral gerado pelas transferéncias pode ser mais bem explicado por um mecanismo de mobilizagao do que de persuasdo. Essas descobertas séo dificels de conciliar com a nocd de que os efeitos eleitorais dos programas de transferéncia de renda ccondicional sao resultado de preocupagées com ameagas de descontinuagao, Em suma, a autora conclui que, se houvesse um continuum de mecanismos possivels, em que o clientelismo estaria em ‘um extremo e a politica programatica no outro, os efeitos de mobilizagao do Progresa seriam mais compativeis com o extremo da politica programética Politica redistributiva no Brasil Agora que conhecemos um pouco sobre a teoria de preferéncias demanda por redistribuigdo e sobre os efeitos de politicas de redistribuigéo no comportamento dos eleitores, falaremos da politica redistributiva do Brasil. Nas uitimas décadas, o Brasil observou uma ‘expansio considerdvel de polticas puiblicas de transferéncia direta de renda para a populacdo pobre. Hoje, o pais tem dois grandes programas dessa natureza: 0 Beneficio de Prestacao Continuada (conhecido como BPC-Loas, ou simplesmente BPC) e o Programa Bolsa Familia (PBF), Nesta se¢ao, cobriremos o PBF. 0 Programa Bolsa Familia ntpsuistecine.azureedge.netrepositoro/00212ge/02669index himit 26135 sort1123, 15.08 Politea redstabutva 0 PBF é um programa de transferéncia mensal de renda que surgiu no final de 2003, Foi criado a partir da unificagao de uma série de programas preexistentes, inspirado principalmente pelo programa de renda minima vinculado a educacao, o Bolsa Escola. 0 PBF tem, atualmente, trés objetivos principais: Objetivo 01 Combater a fome e promover a seguranga alimentar e nutricional Objetivo 02 Combater a pobreza e outras formas de privagao das familias, Objetivo 03 Promover 0 acesso a rede de servicos pablicos, em especial saiide, educago, seguranca alimentar e assisténcia social Para garantir a focalizacao e a cobertura do PBF, em 2001 também foi criado o Cadastro Unico (CadUnico), considerado uma espécie de “censo” da populagao de baixa renda no Brasil. ‘Ao longo dos anos, o CadUnico passou por inimeras modificagées e aprimoramentos, com o objetivo de garantir a robustez da base de bitpsistecine.azureedge.netirepostorio(002 2ge/02663/Index.hilt 2735 s011123, 15:08, Pala redstabutiva dados, que hoje serve como cadastro para diversos programas sociais, © no somente para o PBF (por exemplo, Minha Casa, Minha Vida, Tarifa Social de Energia, entre outros), ‘A populagao-alvo do programa é constituida por familias em situagao de pobreza ou extrema pobreza. As familias extremamente pobres so aquelas que tém renda mensal de até R$89,00 por pessoa. As familias pobres sdo aquelas que tém renda mensal entre R$89,01 e RS178,00 por pessoa (valores de setembro de 2021). Familias pobres participam do programa, contanto que tenhiam em sua composi¢ao gestantes e criangas ou adolescentes entre 0 ¢ 17 anos. 0 programa foi criado, inicialmente, por medida proviséria, posteriormente convertida em lei, em 2004. A participagdo nele é condicionada a contrapartidas comportamentais. Em outras palavras, para receber as transferéncias, a familia participante, dependendo de sua composigao, deve comprovar frequéncia escolar, esquema de vacinagao atualizado e acompanhamento pré e pés-natal de gestantes € nutrizes. A exigéncia de condicionalidades, também chamadas de contrapartidas, tem como objetivo combater a transmissao intergeracional da pobreza, incentivar a demanda por servigos socials, como satide e educagao, e ampliar 0 acesso da populagao mais pobre a direitos sociais bésicos, incentivando expansées e melhorias na oferta desses servicos. Nos anos que seguiram a sua criagao, o PBF foi avaliado com bastante intensidade e rigor. Existe uma vasta literatura de avaliagées do PBF no Brasil, com anélises quantitativas e qualitativas. Focaremos aqui as andlises quantitativas, trazendo um breve resumo de alguns dos principais resultados. Aevidéncia sugere que 0 PBF teve contribuigdo significativa no combate a desigualdade no Brasil no inicio dos anos 2000. A decomposigao do coeficiente de Gini nesse periodo mostra que a renda do trabalho foi a maior responsdvel pela redugiio da desigualdade. 0 PBF, apesar de ser responsdvel por apenas 0,5% da renda das familias, foi responsdvel por 19% da queda. Em relagdo & pobreza, embora o programa tenha tido ntpsuistecine.azureedge.netrepositoro/00212ge/02669index himit 2835 sort1123, 15.08 Politea redstabutiva pouco impacto sobre a porcentagem de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza, verificou-se um impacto sobre o hiato de pobreza e a severidade de pobreza, medidas que do maior peso ao que ocorre na cauda inferior da distribuigao de renda. Saiba mais © programa passou por uma avaliagdo de impacto em 2006, que trouxe alguns resultados sobre seus efeitos em diversas varidveis, como educagao (CENTRO DE DESENVOLVIMENTO E PLANEJAMENTO REGIONAL, 2006). Os resultados apontam que as criangas atendidas pelo programa tém menor probabilidade de faltar um dia de aula por més, em comparagao com criangas em domicilios similares que nao recebem o beneficio, Ademais, a probabilidade de evasao escolar entre as criangas beneficidrias também é menor. Uma das criticas mais comuns que o programa sofre 6 0 chamado “efeito preguica’. Essa critica parte da hipétese de que transferéncia de renda cria um desincentivo ao trabalho, levando acomodagao e & diminui¢ao da oferta de trabalho por parte dos beneficiérios, principalmente nas familias para as quais sé existe o beneficio bésico e, portanto, néo hé condicionalidade a ser cumprida. ‘As avaliacdes dos efeitos do PBF sobre o mercado de trabalho mostram que © programa néo muda o numero médio de horas trabalhadas pelos homens e aumenta marginalmente sua taxa de participagdo. Pelo lado da oferta de trabalho das mulheres, nao ha alteragses na taxa de Participagao, mas ha uma pequena queda no nimero médio de horas trabalhadas. Outros estudos buscaram compreender melhor esse iltimo resultado para investiger se hé algum tipo de incentivo adverso do programa no sentido de provocar diminui¢ao da jornada de trabalho das mes beneficisrias, De fato, verifica-se uma diminuiggo média de 0,8-1,7 hora sernanal de trabalho a menos por parte de maes beneficidrias, em comparago com maes nao beneficirias com renda semelhante. Reflexao Os estudos consideram ainda a literatura sobre desenvolvimento infantil, que mostra que cuidados de maes com criangas pequenas tém consequéncias importantes, que perduram durante toda a vida. Nesse sentido, essa pequena redugao verificada nas horas trabalhadas de maes beneficidrias pode representar um alivio para maes que desejassem dedicar mais tempo a criagao de seus filhos e estavam, antes limitadas pela renda ntpsuistecine.azureedge.netrepositoro/00212ge/02669index himit 29135 sort1123, 15.08 Politea redstabutiva Politicas redistributivas e grupos de interesses Neste video, retornaremos aos conceitos principais estudados nesse médulo. Para assistir a um video sobre 0 assunto, acesse a verso online deste contetido. ntpsuistecine.azureedge.netrepositoro/00212ge/02669index himit 30138 sort1123, 15.08 Politea redstabutiva Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questo 1 Qual das alternativas a seguir representa uma vantagem de politicas universais? A $80 politicas extremamente inclusivas. 8 Sao politicas muito baratas. © Sao politicas com critérios bem-definidos. 5 Sao politicas que atingem a populagéo mais vulnerdvel. E So politicas com cobertura menor. ntpsuistecine.azureedge.netrepositoro/00212ge/02669index himit 31/35 sort1123, 15.08 Politea redstabutiva Parabéns! A alternativa A esta correta. As vantagens de politicas universais 6 que so extremamente inclusivas, sem discriminacao ou fim previsivel. Contudo, em geral so onerosas, ¢, porque atendem a toda a populacao, tém cobertura grande e ndo tém critérios definidos, de modo que as demais alternativas sao falsas. Questao 2 Sobre os programas Panes, Progresa e Bolsa Familia, assinale a alternativa que contém sua principal similaridade: ‘So programas de transferéncia de renda A condicional 5 Sao programas de transferéncia de renda universal. ‘Sdo programas de transferéncia de renda temporérios 5 Sioprogramas de transferéncia de renda para mulheres. = S80 programas de transferéncia de renda focalizada. Parabéns! A alternativa E esta correta. Os trés programas so programas de transferéncia de renda cujo piblico-alvo sao familias em condigao de pobreza, focalizados, de modo que a alternativa E é a verdadeira, As demais alternativas so falsas, porque o Panes foi um programa tempordrio e no tinha condicionalidades, enquanto os demais, nao, enenhum dos programas é direcionado apenas a mulheres. ntpsuistecine.azureedge.netrepositoro/00212ge/02669index himit 32135 sort1123, 15.08 Politea redstabutiva Consideracgées finais Vimos, neste contetido, que as preferéncias por redistribuigdo so moldadas por fatores econémicos, socials e culturals. Além do efeito direto da redistribuigdo sobre a renda liquida do individuo, que varia conforme sua posicao na distribuicao de renda de seu pais, a variagdo relativa da renda da pessoa importa, assim como valores e crengas individuats sobre a contribuigao do trabalho. ‘Também aprendemos que as preferéncias por redistribuigao nem sempre se convertem em maior demanda por redistribuigdo, uma vez que hd uma série de violagdes possiveis dessa relago, como assimetria informacional e motivagdes nao materialistas. 0 eleitor da mediana pode nao ter a renda mediana, e 0 voto pode no ser universal Além disso, vimos como 0s eleitores respondem a programas de redistribuigdo de renda, premiando politicos e partidos incumbentes que implementaram essa politica em primeiro lugar, e que esse efeito pode ser duradouro, mesmo se a renda voltar aos patamares iniciais. H8 evidéncias de que esse efeito ocorre pela via do mecanismo de mobilizacao, e nao de persuago por medo do término do programa. Finalmente, apresentamos também 0 Bolsa Familia, suas condicionalidades e um resumo das evidéncias a respeito do programa, Neste podcast, o especialista realiza uma breve revisdo sobre Politica Redistributiva, Para ouvir 0 dudio,acesse a versio online deste contetio, ntpsuistecine.azureedge.netrepositoro/00212ge/02669index himit 33135 sort1123, 15.08 Politea redstabutiva Explore + Para vocé, que se interessa em dinamicas e politicas de reducao da desigualdade, o livro 0 prego da desigualdade: como a sociedade divi 1a de hoje pée em perigo o nosso futuro, do vencedor do prémio Nobel em Economia Joseph Stiglitz, explica como a desigualdade afeta e é afetada por todos os aspectos da politica nacional americana e oferece insights para um futuro mais justo e préspero. Referéncias ALESINA, A, GIULIANO, P. Culture and institutions. Journal of Economic Literature, v. 53, n. 4, p. 898-944, 2015. CENTRO DE DESENVOLVIMENTO E PLANEJAMENTO REGIONAL. Projeto de avaliagao do impacto do Programa Bolsa Familia: relatério analitico final. Belo Horizonte, MG: Cedeplar, 2006. CORNEO, G.; GRUNER, H. P. Individual preferences for political redistribution, Journal of Public Economies, n, 83, p. 83-107, 2002, DELA 0A. L. Do conditional cash transfers affect electoral behavior? Evidence from a randomized experiment in Mexico. American Journal of Political Science, v. 57, n. 1, p. 1-14, 2013. IVERSEN, T; SOSKICE, D, Distribution and redistribution: the shadow of the nineteenth century, World Politics, , 61, n. 3, p. 438-486, 2009. IVERSEN, T; SOSKICE, D. Electoral institutions and the politics of coalitions: why some democracies redistribute more than others. ‘American Political Science Review, v. 100, n. 2, p. 165-181, 2006. MANACORDA, M,; MIGUEL, E.; VIGORITO, A. Government transfers and political support. American Economic Journal: Applied Economics, v. 3, 1. 8,jul. 2011 MELTZER, A. H. RICHARD, S. F. 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