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3 COMPORTAMENTOS DE RISCO NA ADOLESCENCIA FERNANDO L. A. NIQUICE O objetivo deste capitulo é descrever os comportamentos de risco na adolescéncia € as aces que contribuem para preveni-los ou controlé-los. Para isso, fez-se uma revi- sao sistematica das literaturas internacional e brasileira sobre o tema. A abordagem ado- tada consistiu na explicagéo do comporta- mento humano, tomando em consideragao tanto os fatores individuais da personalida- de como os contextuais. Em primeiro lugar, aborda-se 0 uso ¢ abuso de drogas, em se- guida o comportamento sexual de risco ¢, por tiltimo, a violéncia, mais concretamente o.comportamento infrator em adolescentes. ‘Abusca de identidade prépria e de au- tonomia por parte dos adolescentes é uma das principais tarefas que marcam essa fase do desenvolvimento humano (Arnett, 2010; Papalia, Olds, & Feldman, 2009). Nesse pro- cesso, a adolescéncia se transforma em um periodo de oportunidades e também de ris- cos (Papalia et al., 2009), pois envolve to- madas de decisio sobre as escolhas profis- sionais, compromissos com metas, valores e relacionamentos (Marques, Cerqueira- -Santos, & Dell’ Aglio, 2011). Os cientistas sociais e os psicélogos tem se ocupado do estudo dos comportamentos de risco que ocorrem com frequéncia duran- te a adolescéncia. Varios estudos referem-se a abuso de substancias psicoativas (Alcool e outras drogas), condutas sexuais de risco ¢ violéncia como comportamentos de risco que costumam ser apresentados nessa fase (Arnett, 2010; Brown, Larson, & Saraswathi, 2002; Levisky, 2007; Papalia et al., 2009), Na América Latina, por exemplo, constatou-se um alto indice de consumo de Alcool e drogas entre adolescentes de todos 08 niveis socioecondmicos e reportou-se um, aumento do ntimero de gestagdes prematu- ras e de doengas sexualmente transmissiveis, em particular a sindrome de imunodefi- ciéncia adquirida (aids). Do mesmo modo, o fendmeno da violéncia transformou-se em um problema social critico (Welti, 2002). Es- tudos recentes confirmaram a continuidade desse cendrio na atualidade (International Centre for the Prevetion of Crime [ICPC], 2010; Fundos das Nagdes Unidas para a In- fancia (UNICEE], 2011b). No Brasil, 0 relatério da UNICEE, (2011a) descreveu as diferentes situagdes_ de vulnerabilidade em que se encontram os adolescentes brasileiros. Nove fenomenos sociais que comprometem de forma grave © desenvolvimento de adolescentes foram identificados: 1, pobreza e pobreza extrema; 2, baixa escolaridade; 3, exploragao do trabalho; 4, privacao da convivéncia familiar e co- munitéria; 5, violéncia que resulta em assassinatos de adolescentes; 6. gravidex; 7, exploracao e abuso sexual; 8. doengas sexualmente transmissiveis/ aids; e 9, abuso de drogas. A partir dessa perspectiva, descreve- -se a seguir 0 abuso de drogas, 0 compor- tamento sexual de risco e a violéncia, que constituem-se objetos deste capitulo. USO E ABUSO DE DROGAS NA ADOLESCENCIA ‘As drogas sao substancias que podem inibir, acentuar ou modificar um comportamento passivel de ocorrer no individuo (Campos, 1978). O seu consumo pode causar a toxi- comania, um estado de intoxicagao peri- dico ou crénico, resultante do uso repetido de uma droga, levando a dependéncia psi- cologica e fisica. A dependéncia psiquica, ou habito, é 0 desejo psicologico de repetir © uso da droga, de forma intermitente ou continua, por raz6es emocionais (fuga pa- tolégica). Ela varia de individuo para indi- viduo e de acordo com 0 tipo de droga usa- da (Campos, 1978). Jé a dependéncia fisica € caracterizada como um estado fisiol6gico anormal produzido pela repetida adminis- tracdo de drogas, do qual resulta o apareci- mento de uma série de sintomas, chamada de sindrome de abstinéncia ou supressao. uso de drogas licitas (élcool, tabaco) ¢ ilicitas (maconha, crack, cocaina, heroina) Trabalhando com adolescentes 43. ue Problema socioeconémico, de ae eae Publica, afetando os etimidors suas familiaseacomunidade ions Office on Dugs and Crime (UNODC] & World Health Organization {WHO}, 2008; World Health Organization {WHO}, 2010), com uma prevaléncia em Populacées jovens ([WHO], 2004). Ape- sar de ser um fendmeno global, em muitas sociedades a dependéncia de drogas ainda nao € reconhecida como problema de sai- de, havendo muitas pessoas estigmatizadas, sem acesso ao tratamento ¢ a reabilitacdo (UNODC & WHO, 2008). Dados da Secretaria Nacional de Po- liticas sobre Drogas (SENAD) levantados nas 27 capitais brasileiras, em 2004, com estudantes dos ensinos fundamental e mé- dio da rede publica, foram apresentados por Duarte, Stempliuk e Barroso (2009). © Alcool e o tabaco apresentaram as por- centagens mais altas de consumo em to- das as categorias estudadas (uso na vida, uso no ano, uso no més, uso frequente € uso pesado). Por exemplo, na categoria “uso frequente de drogas psicotrépicas” = quando a pessoa utilizou droga psico- tr6pica seis ou mais vezes nos 30 dias que antecederam a pesquisa -, a porcentagem foi de 11,7 para o alcool e de 3,8 para 0 tabaco. Na categoria “uso pesado de dro- gas psicotrépicas” - quando a pessoa uti- lizou droga psicotrépica 20 ou mais vezes nos 30 dias que antecederam a pesquisa —, a porcentagem foi de 6,7 para o alcool ¢ de 2,7 para o tabaco. Portanto, 0 alcool ¢ 0 tabaco figuraram entre o grupo das drogas mais consumidas pelos jovens brasileiros das escolas piiblicas de ensino fundamen- tal e médio. Nas posigdes seguintes, apa- receram os solventes ¢ a maconha (Duarte et al., 2009). Na categoria “uso frequente’, a porcentagem dos solventes foi de 1,5, € 44 — Habigzang, Diniz & Koller (orgs.) da maconha, de 0,7. Na categoria “uso pe- sado”, as porcentagens foram de 0,9 e 0,5, respectivamente. Portanto, os solventes ¢ a maconha apareceram como as drogas ilici- tas mais consumidas entre os estudantes. O Ministério da Satide (2003) des- creveu relagdes entre 0 uso de drogas pelos adolescentes e jovens no Brasil ¢ a ocorrén- cia de acidentes de transito, agressOes, de- pressoes clinicas, transtornos de conduta € comportamentos sexuais de risco. O estu- do identificou que a yulnerabilidade das adolescentes do sexo feminino estava mais relacionada as satides sexual e reprodutiva, enquanto os adolescentes do sexo mascu- lino estavam mais expostos a situagGes de acidentes e violéncia. A UNICEF (201 1a) apresentou os da- dos do relatério brasileiro sobre drogas pu- blicado em 2010, no qual foi verificado que 54,2% dos brasileiros entre 12 e 17 anos, de 108 cidades com mais de 200 mil habi. tantes, haviam consumido Alcool no ano de 2005. No mesmo grupo, constatou-se que em 15,2% havia prevalencia de consu- mo de tabaco pelo menos uma vez na vida. Em relacao as drogas ilicitas, 4,1% afirma- ram ter usado maconha; 3,4%, solventes; € 0,5%, cocaina, pelo menos uma vez na vida. Ainda segundo a UNICEF (201 1a), os nu- meros sao inferiores Aqueles obtidos para a populagao brasileira em geral, mas, mesmo assim, preocupam, uma vez que 0 uso de drogas na adolescéncia € a principal porta de entrada para 0 consumo de substancias na vida adulta. O relatorio ainda indicou que os maiores usuarios sao os adolescen- tes homens, mas hé uma tendéncia de au- mento do consumo entre as adolescentes mulheres. Referiu-se também a tendéncia de aumento do uso, da dependéncia e da fa- cilidade de acesso (nas ruas, escolas, festas) a esses produtos. 7» Existem alguns fatores de risco para abuso de substancias quimicas. Papalia € colaboradores (2009, p. 412) menciona, os seguintes: ram | 1, temperamento “dificil” | 2. pouco controle dos im, | tendéncia a buscar Pee £ | podem ter uma base bioquimi | 3. influencias da familia (como pa disposigao genética a0 aleoeig. ‘mo, uso ou aceitacao parental de drogas, priticas de educacio in. | consistentes ou precérias, conta | familiar e relacionamentos fami. liares problematicos ou distantes), 4, problemas comportamentais per. sistentes desde a infancia, pring- palmente a agressio; | 5, fracaso escolar falta de com. prometimento com os estudos; rejei¢ao por parte dos colegas; associagao com usuarios de drogas, | alienagdo e rebeldias atitudes favoraveis a0 uso de dro- | gase 10. iniciagao prematura ao uso de drogas. PEND Quanto maior o ntimero de fatores de risco presentes, maior € a chance de 0 ado- lescente usar de forma abusiva as drogas. Entretanto, existem também os fatores de protecao. O Ministério da Saide (2003) agrupou-os nos dominios individual, fami- liar, das relagGes interpessoais e escolar. O dominio individual inclui a apresenta¢ao de habilidades sociais, flexibilidade, habili- dade em resolver problemas, facilidade de cooperar, autonomia, responsabilidade ¢_ comunicabilidade. O dominio familiar con- templa a existéncia de vinculagio familian a troca de informages entre os membros da familia sobre suas rotinas priticas dis rias, 0 cultivo de valores familiares, regtas © rotinas domésticas. O dominio das relacoes interpessoais caracteriza-se pela presen a de pares que nao usam Alcool/drogas © nao aprovam ou valorizam © seu uso, bem como daqueles comprometidos com ati- yidades_saudaveis (recreativas, escolares, profssionais religiosas ou outras) que nao Pryolvam o uso indevido de élcool e outras drogas. Por tltimo, no dominio escolar, os fatores protetivos consistem na présenca de regras claras € consistentes sobre as condu- tas adequadas que devem ser respeitadas e observadas por todos 0s seus membros. MEDIDAS DE . PREVENGAO E EDUCAGAO A prevengao voltada para 0 uso abusivo e/ ou dependéncia de alcool e outras drogas é um proceso de planejamento e implemen- tagao de estratégias voltadas para a redugao dos fatores de vulnerabilidade e risco espe- cificos e para o fortalecimento dos fatores de protegio (Ministério da Satide, 2003). Implica a inserc4o comunitaria das préti- cas propostas, com a colaboracao de todos 0s segmentos sociais disponiveis, buscando atuar, dentro de suas competéncias, para facilitar processos que levem a redugao da iniciagao no consumo, do aumento deste em frequéncia e intensidade e das conse- quéncias do uso em padrées de maior aco- metimento global. Segundo 0 Ministério da Saiide (2003), as agdes de prevengao devem ser aplicdveis a toda a populagao, conside- rando que a maior parcela desta ainda néo foi atingida pelo problema em questao e que um grande contingente de individuos se encontra em grupos de baixo/moderado risco para 0 uso abusivo e/ou dependéncia de alcool e outras drogas. A implementacao das estratégias vol- tadas para a redugao dos fatores de vulne- tabilidade deve acontecer, logicamente, nos Contextos frequentados pelos adolescentes: 4 familia, a comunidade, os pares € a €scO- la. A escola, em particular, como um espa- §0 de socializacao dos adolescentes, € um lugar com grande potencial para atuar na Trabalhando com adolescentes 45 Prevengao. O Projeto Educacéo_Antidro- 8as.na Escola, elaborado pot Solera Jtiniory (2010), € um modelo que pode ser tomado como referéncia. Ele consiste na abordagem de temas sobre educagio antidrogas nas disciplinas e nos projetos educacionais das escolas. Por exemplo, na disciplina de lin- gua portuguesa, pode-se fazer a leitura de textos sobre violéncia no transito e alcool e elaborar redagdes e poesias com essa tema- tica, Na disciplina de matemitica, podem ser organizados grificos com nimeros de lentes de transito e consumo de Alcool, dados de ocorréncias policiais nos dias de festas e feriados, etc. E um projeto cuja ope- racionalizagao depende nao sé da escola, mas também do envolvimento de institui- es piiblicas, de entidades da sociedade ci- vile da comunidade. As redes de apoio sio fundamentais no processo de prevengao e educagao, € 0 seu envolvimento pode favorecer uma abor- dagem eclética e consistente do processo. Um estudo realizado por Costa e Dell’ Aglio (2011) investigou a relagao entre 0 uso de drogas ea rede de apoio social de jovens em situacao de vulnerabilidade social. Os resul- tados evidenciaram que a educagao quanto a0s riscos e prejuizos do uso de drogas auxi- liava na prevengio de tais comportamentos. Destacou-se também a importancia das re- des de apoio (familia, escola, comunidade), tendo sido constatado que quanto maior a percep¢ao dos jovens em relagao ao apoio recebido nesses contextos, menor a média de uso de drogas. COMPORTAMENTO SEXUAL DE RISCO Os riscos de se contrair doengas sexualmen- te transmissiveis (DSTs) e gravidez indese- jada sio duas preocupagoes importantes relativas & atividade sexual na adolescéncia (Papalia et al., 2009). Varios estudos sobrea 46 Habigzang, Diniz & Koller (orgs.) sexualidade referiram-se ao fato de a ativi- dade sexual nos tiltimos tempos iniciar mais cedo do que em décadas atris (Papalia et al., 2009; UNICEF, 201 1b; Welti, 2002), expon- do os adolescentes a situagdes de multiplos parceiros, nao utilizagao de contraceptivos e gravidez precoce. O relatério da UNICEF (2011b) sobre a situagao mundial da infancia indicou que a regiao da América Latina e do Caribe re- gistrou a maior populacao de meninas ado- lescentes que afirmaram ter tido a sua pri- meira relacdo sexual antes dos 15 anos, com uma taxa de 22%. Essa realidade, segundo 6 relatério, as expde a maiores riscos de in- fecgdes sexualmente transmissiveis (ISTs) € a gestagdes indesejadas. ‘A. pesquisa coordenada pelo Cen- tro Brasileiro de Andlise de Planejamento (CEBRAP, 2006) caracterizou a sexualidade na populagio feminina em idade fértil no perfodo de 1996 a 2006. Constatou-se que as mulheres estavam iniciando sua vida se- xual mais cedo, e 0 mesmo verificou-se em relacdo & pratica contraceptiva. Segundo 0 estudo, 33% das mulheres com menos de 15 anos jé tiveram relagdes sexuais, em 2006, representando 0 triplo do ocorrido ‘em 1996. Por sua vez, 66% das jovens de 15 a 19 anos j4 haviam usado algum método contraceptivo, sendo o preservativo (33%), a pilula (27%) e os injetaveis (5%) os mais utilizados. A idade das mulheres na primei- ra relagao sexual constitui um indicador do inicio de um processo de longa exposi¢ao a eventos reprodutivos (como a gravidez € 0 aborto) e ISTs. O relatério da UNICEF (2011a), com base nos dados do Sistema Nacional de Nascidos Vivos (SISNAC, de 2009), do Mi- nistério da Satide, apresentou uma tendén- cia de crescimento da taxa de fecundidade entre meninas de até 15 anos no periodo de 2004 a 2009. Verificou-se um aumento gra- dual do ntimero de nascidos vivos de maes dessa faixa etdria de 8,6 em 2004 em 2009, por grupo de mil, isto Pi"? 96 mil criangas que nasciam em 2904, a de maes com menos de 15 anos, 26 eram mil criangas que nasciam em 2999, des Cada de maes com menos de 15 anos de 78 eam relatério da UNICEF também indice ° 43,5% das adolescentes com idade ea Que € 17 anos haviam passado por pelo ny? sete consultas pré-natais e que 2,8% dyn pulagao da mesma faixa etaria ja havia tj do filhos. O relatério informou ainda que, nec te tiltimo aspecto, a taxa tendeu a diminuiy nos tiltimos anos. 'O problema da gravidez na adolescén. cia tem impacto profundo na vida das ado. lescentes, podendo comprometer a satide, © desempenho escolar e as oportunidades de formagao para o trabalho, entre outras consequéncias. Apesar de afetar principal- mente as adolescentes mais pobres, é um fenémeno também presente entre as meni- nas de classes média e média alta (UNICEF, 201 1a). Um aspecto que se tem verificado quando se aborda a gravidez na adoles- céncia € a discussio do problema apenas na perspectiva da menina/mae, e muito pouco se diz em relagio ao menino/pai. O jovem pai é um ator que costuma ser. dei xado de fora, atribuindo-se a ideia de que cle é incompetente e irresponsavel (Lyra, 2011 apud UNICEB, 2011a). Portanto, desenvolveu-se na sociedade a percepsic de que os meninos/pais negam a pater- nidade, ausentando-se de seus direitos. responsabilidades. Porém, Lyra constatou que, quando eles sao ouvidos, € possivel perceber a sua presenga. Ha um univers? de pais adolescentes que deseja particl par e fazer valer seus direitos que Busse meios para viabilizar a sua vida dentro das novas condigdes. Segundo Lyra ultrapas- seve barreira da invisibilidade dos pais € de fundamental importancia para Poss pilitar que meninos e meninas vivenciem esse processo de uma forma tranquila e saudével, garantindo, dessa maneira, seus direitos sexuais e reprodutivos (Lyra, 2011 apud UNICEF 201 1a). Quanto as DSTs, em particular a aids, o relatrio da UNICEF (201 1a) informou que, na faixa dos 13 aos 19 anos, a maior parte do registro da doenca estava entre as ejolescentes mulheres. Citando a pesquisa de conhecimentos, atitudes e praticas da populagao brasileira, langada pelo Minis- tério da Satide, em 2009, o relatério indi cou que 64,8% das meninas entre 15 e 24 anos eram sexualmente ativas (haviam tido relagdes sexuais nos 12 meses anteriores & pesquisa). Desse grupo, apenas 33,6% usou o preservativo em todas as relagdes casuai Nos garotos entre os 13 ¢ 24 anos, a princi- pal forma de transmissao do HIV ocorreu em relacdes homossexuais. O sexo insegu- ro praticado pelos jovens foi mencionado como um dos fatores que explicava 0 avan- ¢0 da infecsao por HIV ¢ de outras DSTs. Nessa faixa etaria, verificou-se um aumento na taxa de infeccdo por HIV, de 35% em 2000 para 42,7% em 2008. EDUCAGAO, DOENGAS SEXUALMENTE TRANSMISSIVEIS E HIV ‘A Organizacao das Nagdes Unidas para a Educagdo, Ciéncia e Cultura (UNESCO, 2009) destacou o papel da educagao na pre- vengao e no combate das DSTs e do HIV en- tre 0s jovens. Nesse contexto, foi publicado, em 2009, o International technical guidance on sexuality education, um instrumento de apoio para programas de educagao sobre a satide sexual e reprodutiva. Os programas efetivos de educagao podem: reduzir os ni- veis de desinformacao no seio dos jovenss aumentar 0 conhecimento correto sobre a matéria; desenvolver valores € atitudes Trabalhando com adolescentes_ 47 positives; aumentar as habilidades para as tomadas de decisio informadas; melhorar as percep¢oes sobre os amigos e normas so- ciais; e incrementar a comunicagao com os pais € outros educadores (UNESCO, 2009). Destaca-se aqui 0 papel da educagao esco- lar, que também se pode estender para as comunidades. O manual da UNESCO (2009) apre- sentou quatro propostas de contetidos de aprendizagem sobre essa tematica, os quais devem ser desenvolvidos no contexto es- colar. O primeiro contetido refere-se a0 saber: consiste em fornecer conhecimen- tos sobre a sexualidade humana, tais como crescimento desenvolvimento; anatomia ¢ fisiologia sexual; reprodugao; contracep- ¢a0; gravidez e parto; HIV e aids; ISTs; vida familiar ¢ relagdes interpessoais; cultura € sexualidade; direitos humanos ¢ empode- ramento; nao discriminacao; igualdade e papéis de género; comportamento sexual; abuso sexual; e violéncia baseada no género. segundo contetido aponta para valores, atitudes e normas sociais e permite prepa- rar os alunos para explorarem esses fatores (pessoais, familiares, de grupos/pares € co- munitdrios) em relagao a comportamento sexual, satide, comportamentos de risco e tomada de decisao, tendo em consideragao 0s princfpios de tolerancia, respeito, género e igualdade, bem como direitos humanos. © terceiro contetido trata de habilidades nas relagdes interpessoais. Neste aspecto, a educagao sexual deve ser um meio para a aquisigdo de habilidades em relagao a toma- da de decisio; assertividade; comunicagao; negociagao; e escolhas corretas. Essas habi lidades podem contribuir para uma melhor relago com membros da familia, amigos € parceiros sexuais. Por fim, 0 quarto conteti- do refere-se a responsabilidade: a educa¢ao sexual encoraja os alunos a assumirem a responsabilidade em relagio aos seus atoss estimula 0 adiamento das relagdes sexuais; 48 _Habigzang, Diniz & Koller (orgs.) € prepara a pessoa para evitar as relagoes sexuais indesejadas ou coercivas e a pratica do sexo inseguro, incluindo 0 uso correto de preservativos e anticonceptivos (UNES- CO, 2009). ‘Tomando em consideragao 0 fato de parte significativa de adolescentes passar 0 seu tempo no contexto escolar, a educacao sexual na escola pode ser um elemento im- portante para prevenir e controlar as DSTs 0 HIV/aids. Apesar de nao se poder con- siderar a solucao do problema, uma educa- ao sexual cientificamente fundamentada ¢ consistente pode contribuir de modo sig- nificativo para melhorar as praticas sexuais dos adolescentes. VIOLENCIA NA ADOLESCENCIA © termo violéncia é complexo, uma vez que envolve uma diversidade de situagdes, sendo dificil defini-lo de forma precisa. No presen- te capitulo, seré adotada a definigao da Or- ganizagao Mundial da Satide (OMS, 2002, p. 5), segundo a qual violéncia € [..] © uso intencional da forca fisica ou do poder, real ou em ameaga, con- tra si proprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comu- nidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesdo, morte, dano psicolégico, deficiéncia de desenvolvimento ou privagao [...]. A OMS estabelece trés tipos de violén- cia, nomeadamente: a dirigida a si mesmo (autoinflingida), a interpessoal e a coletiva. Nosso enfoque ser sobre os dois tltimos tipos e incidiré especificamente sobre 0 comportamento infrator em adolescentes. © Estatuto_da Crianga ¢ do Adolescente Considera ato infracional “[,..] a conduta déscrita como crime ou contravengao penal

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