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11 AS EMOGOES NO UNIVERSO MORAL DOS ADOLESCENTES SIMONE DOS SANTOS PALUDO ‘A moralidade na adolescéncia é um t6pico popular na academia e na sociedade em 8 oe parece que todos estao atentos as falhas eis deficiéncias morais dos adolescentes. Uma busca na Biblioteca Virtual de Satide com os descritores moral e adolescéncia evi- Genciou a existéncia de 105 artigos publi- csdos no LILACS, considerados a base de Jiteratura cientifica e técnica mais impor- tante da América Latina e do Caribe. Entre caves trabalhos, & possivel encontrar um predominio de estudos sobre adolescentes em conflito com a lei, usuarios de drogas, participantes de gangues ¢ atos violentos ¢ ovens envolvidos com comportamentos c- Xuais de risco, De fato, existe uma preocu- pacio com aqueles adolescentes que rom- pem as regras morais e sociais, e nao € sur- preendente que a atengao esteja focalizada nesses temas, dadas as implicacdes sociais, econdmicas ¢ politicas contidas nas falhas morais. Na tentativa de explicar as falhas morais, encontram-se as conhecidas teorias universalistas do desenvolvimento. moral lideradas pelos pesquisadores cognitivistas Piaget e por Kolhberg. ae : compreensio da mora- pelo entendimento da- que é etrado e pela compreensio do raciocinio moral. £ preciso que 0 estudo da rnoralidade seja ainda mais amplo e inter. disciplinar. O campo da psicologia mora tem sido impulsionado por estudos que reconhecem 0 papel da intuigio, das emo- goes ¢ da cultura na moralidade. Portant, } objetivo deste capitulo ¢ introduzir adi cussio promovida pelas teorias relativistas culturais, apresentar 0 papel da emocio na moralidade, discutir as emogdes morais ¢ refletir sobre as relagdes existentes entre adolescentes, emogdes morais e desenvolvi- mento positivo. MORALIDADE, ADOLESCENTES E EMOGOES: E POSSIVEL ARTICULAR? Diariamente sao noticiados casos envolven- do adolescentes e jovens em eventos ilegais c/ou agées violentas e, até mesmo, crimino- sas. Muitas sao as hist6rias que permeiam a midia e a realidade. Quem nunca se de parou com uma noticia sobre adolescentes ¢ jovens envolvidos com tréfico de drogis € armas, vandalismo, furtos, roubos, brig’ acidentes de transito e crimes contra 0 PY triménio e contra pessoas? Em 1997, cinco jovens de classe médit alta (sendo um menor de 18 anos) ate!" indio que dormi. em una Pras m 90 vm ndio era Galdino Jesus dos fp mem. que havia ido a Brasi- Sirs, wm eso de buscar apoio Para 25 iia co Goes ido seu povo, Patax6 Ha-Ha- sive busca acabou de forma brutal, “He, 909 Mrpetido contra 0 fndio causou otime rodo o Pals € levantou uma roto aiscussao SObre a moralidade inp qvovidos,afnal tratava-se de asses eqvalvend jovens provenientes Samia com ato poder aquisitivo € com él de educagio formal: As justificati- sonecids para a brutalidade do rime eam romper todas as crengas sociais Pa ekamada boa formagdo, Quando os se frmaram que “nao sabiam que era peo e pensavam que era apenas UM a eo, despertaram uma cOmOGsO D2- se ainda maior e uma busca incessante jotapostas explicativas que, de alguma pee fundamentassem tal comportamen= wave colidia diretamente com todas as sormas sociais Vigentes. Trentos tragicos como esse provocam uma série de questionamentos sobre a mo~ raidade eo papel da emogao no julgamen- fomoral. Em geral, 0 interesse por esses fa- inves é despertado justamente quando exis- tealguma afronta as regras sociais e morais stabelecidas em uma comunidade. Rara- mente os casos de adolescentes e jovens en- volvidos em comportamentos pré-sociais € postivos sao tao visibilizados e causam tamanha repercussio. Talvez essa tendéncia sa explicada pelo interesse da sociedade magueles comportamentos que fogem 20 ee Na psicologia, o olhar doen jo para os aspectos negativos do doninante deo humano também esteve jeinane durante muito tempo Contu- een sido instigados pela Positiva, movimento fundado no ano d mig quando Martin Seligman as- residéncia da American Psycholo- Trabalhando com adolescentes 165 gical Association, e difundido amplamente no ano de 2000 a partir de uma edigdo es- pecial da importante publicacio Americ psychologist (Seligman & Caikscentmnihalyi 2000). Esse movimento contribuiu para que outros aspectos da moralidade e do desenvolvimento positive de adolescentes passassem a ser incluidos nas investgacdes da rea psicol6gica ¢ ganhassem visibilida- de, como € 0 caso das emocdes. 0 QUE CONSTITUI MORAL NAS TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO MORAL? Tradicionalmente, os principais livros de psicologia do desenvolvimento utilizados nos cursos académicos brasileiros apresen- tam as teorias cognitivistas da moralidade, destacando as mudangas especificas que ocorrem no pensamento ¢ no raciocinio moral durante a infancia e a adolescéncia (Cole & Cole, 2004; Papalia, Olds, & Feld- man, 2009; Schaffer, 2011). A teoria do jul- gamento moral proposta por Piaget (1977) ¢ os estudos de Kohlberg (1963, 1969) so amplamente discutidos nessas obras. Sem Guivida, é consenso que esses autores Pro- duziram um corpo substancial de trabalho sobre o desenvolvimento moral de criangas eadolescentes e que seus escritos merecem destaque. Todavia, este capitulo tem como objetivo introduzir ao leitor o papel das emocoes na moralidade. Historicamente, 08 psicdlogos © 0S finésofos tém discutido se os julgamentos morais sao produtos de processos racionais pa emocionais ¢ se esses process0s S80 Ui” cersais ou culturais. A discussio sobre a verealidade e relativismo moral foi iniciada te pesquisadora vio Brasil por uma importante Pe dda psicologia moral ~ Angele Biaggio. Em- tora a autora tenha se dedicado & dissemi- patiys ideas de Piaget € Kohlberg ¢ tenha 166 __ Habigzang, Diniz & Koller (orgs) s investigagdes sobre © la moralidade de crian- (Biaggio, 1975, 1984, 1988, 2002), no ano de 1999, ela atualizou comunidade cientifica ao evidenciar 0 am= plo debate que vinha acontecendo entre 0° pesquisadores norte-americanos sobre as feorias universalistas e relativistas da mora lidade. Nessa ocasiao, Biaggio publicou um artigo apresentando a questao central qué separa os te6ricos universalistas ¢ 08 te0ri- cos relativistas culturais - existem valores morais universais ou nao? i produzido diversas desenvolvimento 4: gas e de adolescentes .6s a exposicao das principais ideias dos autores, Biaggio (1999, p. 19) Talv tenham superado as teorias universalistas; no entanto, tais propostas tém tido muita visibilidade e aceitagao no Ambito acadé- mico internacional, enquanto, no cenério nacional, as teorias universalistas ainda sao dominantes. As propostas relativistas co- megaram a ganhar espaco nos principais bancos de dados e acervos de publicagées internacionais no final dos anos 1980, na ‘tentativa de verificar a influéncia dos fatores culturais e da emocao na moralidade. 0 papel das emogées na moralidade Nesse cenério, os estudos do antropdlogo Richard Shweder passaram a receber aten- oY gao a0 introduzir a perspectiva rely Shitural na discussdo da moral (sy. 1990).A publicacao do estudo realizage ‘Shweder, Mahapatra e Miller (1987), abet pad com criangas norte-americanas mn a doras de Hyde Park, nos Estados Unidos” Bi se , outro estudo organizado pop ‘Shweder, Much, Mahapatra e Park (1997) reforgou a perspectiva relativista cultural Tal ideia foi fomentada com base no estudo realizado no sul da Asia, mais precisamen. te na India, onde predominavam valores relacionados & divindade ¢ & comunidade Achados diferentes daqueles encontrados fem culturas de sociedades ocidentais. A partir da imersio dos pesquisadores nessa cultura, Shweder e colaboradores (1997) ia comunidade destacava as pessoas como partes de um grupo, portanto os papéis €as fungdes desempenhadas precisavam preset- var os costumes, os deveres € os interesses daquele grupo. A ética da autonomia en- volvia a predominancia de um raciocinio voltado para os interesses € os direitos do individuo, enquanto a ética da divindade pressupde um pensamento centrado nos aspectos sagrados e espirituais. A divulgagao desses dados impulsio- nou a discussao sobre os aspectos culturais da moral. Com 0 objetivo de verificar 0 pressupostos da teoria de Shweder ¢ 6” laboradores (1987), Jonathan Haidt, &™ parceria com as pesquisadoras brasileiras Silvia Helena Koller e Maria da Graga Dias Trabalhando com adolescentes 167 sou a variacao cultural do dominio invest criangas € adolescentes brasileiros moral de ericanos. Haidt, Koller € Dias ¢ norte yiaram as respostas ante agdes (1993) avi Nas no prejudiciais, como por ofensive mnpar 0 banheiro nacional ou co- exemple Trparo de estimagao apés morto, osados corroboraram as variagoes Os Fes" das & cultura; contudo, também. recor outras varidveis relevantes no inti moral (classe social e emocao). dont ipantes norte-americanos pertencen- pa casses com alto nivel socioeconémi mer fo informaram que as agdes de desrespeito nio apresentavam prejuizo interpessoal e, portanto, nao poderiam ser moralizadas. Ja brasileiros de nivel socioeconémico baixo julgaram como morais ages de desrespei- to. A partir desses achados, os autores cons- tataram que algumas culturas relacionai relacionam com a razdo (p. ex., “ist pessoalmente me incomodaria, mas ast nao esté errado”), Por conseguinte, o estu- ciou que a cultura, o nivel soc ea ea intuicio/emocao ajudam a compreender a moralidade. Avalorizagao das emoges nos estudos da moralidade foi reforcada quando Haidt (2001) propés um modelo denominado “intuicionista social” (social intuitionist mo- del) para explicar 0 julgamento e o racio- ‘inio moral, Tal modelo social considera as. emogoes € as intuigdes processos vitais no julgamento moral. Para o pesquisador, in- lemogdes so processos emocionais “utométicos e diretos que tendem a domi- T2E as avaliagdes imediatas de eventos que Gwol¥em questées morais. Por exemplo, a uma pessoa toma conhecimento doingine ScotTido no ano de 1997 (morte 10), € possivel que expresse uma répi- ional negativa que pode waliacao emoci eal panes pela seguinte expressdo: “Que a Tdo, que horror!”, Provavelmente, essa most expressa de forma ripida e sem “Cohn: Previa um julgamento negative ¢ Colocar fogo em uma Pessoa € errado”), © Posteriormente, provocaré um raciocinig condizente com a emogdo/intuigao inicial (E errado, matar uma Pessoa dessa forma € violar todos os direitos humanos, aconteceu é um horror, exemplo evidencia isso que um absurdo”). Esse A neurociéncia tem sido uma impor- tante aliada do modelo intuicionista, evi- denciando, por meio de neuroimagens, q & emogoes sao responsaveis por julga s Morais (ver Berthoz, Armoniz, Blair, & Dolan, 2002; Damasio, 1996; Greene, Som- merville, Nystrom, Darley, & Cohen, 2001; Greene & Haidt, 2002; Moll, Oliveira-Sou- za, Bramai, & Grafman, 2002). Outras tentativas de explicar o papel que a emogao e a cultura ocupam na mo- ralidade também tém sido elaboradas. primeiro passo nessa direcao foi dado por Haidt e Joseph (2004). A partir de uma me- anilise de diferentes ee ae {a moralidade = nos diferentes estudos e concluir: @sofrimento/compaixao, hierarqui ‘epic idade/justica sio. temas correntes. Portan seguimento aos estudos, Haidt ¢ Joseph (2004) ampliaram a discussio e reconhece- ram a existéncia de cinco grupos intuiti /santidade. Esses achados viabilizaram a ET = 168 _Habigeang, 0m Koller (orgs) teoria d a te proposta da (cor comarca naa four [MET], desenvolvi quisadores (Graham, Graham et a. 20115 Haidt, Graham, & Joseph, & Haidt, 2011). Para testar 2 : claborado um questionario, denominado moral foundations questionaire (Graham 7 al., 2011). Os resultados iniciais sugeriral aque a escala apresenta propriedades psico- métricas adequadas € pode ser considera jinstrumento capaz de mensurar 0S tes dominios culturais € intuitivos da moralidade. Diante do exposto, € possivel afirmar que imimeros esforgos tém sido empreen- Gidos na tentativa de explicar o papel das emogdes € da cultura na moralidade, Em- bora existam evidéncias empiricas para 0s modelos teéricos construidos, pesquisa- dores criticam a supremacia oferecida 3s emogoes (Pizarro & Bloom, 2003; Saltzstein & Kasachkoff, 2004). Muitos debates ainda serdo necessarios para a compreensio da moralidade humana, especialmente no Bra~ sil e na América Latina, onde as produgdes cientificas da psicologia moral ainda sto dominadas pelas teorias cognitivistas. Pa- rece que o amplo debate existente entre os pesquisadores norte-americanos ainda nao foi incorporado & realidade da academia latino-americana, visto 0 pequeno mimero de publicagoes direcionadas a essa discus- aD ee em revistas cien- ct ustamente oa aus de ern Sea séncia de referencias o tdlativsmo moral Etibora @ erinr ie nea fal, Embora o artigo de ¢ colaboradores (1993) tenh: sentado evidéncias sob: rena apre- fentado evidéncis sobre orelatvismo cul- lo uma amostra brasileir: uma amostra norte-americana ( ae crianga eadultos)etenha tidoumenns? tante repercussio académica,o estunh one ica, 0 estudo que aidt & Graham, 2009; Sherman proposta, foi ests publicado no Journal of Perso, Social Psychology € mais reconheeia’? o_| do por pesquisadores internacionai ‘i. se sgrio, € possivel perceber que g ye | Tangada por Biaggio em 1999 aing, to nhou muitos aliados. A conversa gn” feorias universalistas € a5 teorias rym 8 Culturais ainda & muito timida, pyri talvez 0 primeiro passo seja exatan este: apresentar 0S avansos pro dui psicologia moral que estao sendo dg na nados com rapidez no cendrio intern” nal, mas ainda muito retraidos por ie a CONHECENDO AS EMOCOES MoRals gundo os sures, inp snurep= = de pistas ¢1 : los adultos, ante uma situa¢do. As reacies cionais dos ac o domi obre a sua moralidade. Haidt (2003) aponta que em diante dos bes : Por exemplo, voltando ao fato citado n° inicio deste capitulo ~ a morte tragica 4 indio Galdino (evento) — pode ter caused? raiva, indignagao e desprezo (emogao Me” ral) e pode ter motivado a sociedade pat * busca de justiga ou vinganga (tendénci ago). sem duivida, as violagdes morals PPO” vocam a emergéncia de emogaes morals spo em que motivam compor- mesg que podem ser morais (Haidt, cans ey Stuewig, & Mashek, 2007). moe mogoes Morais motivam as pes- Sree acordo com 0s padrdes sciais 4 (Cohen, Wolf, Panter, & Insko, e a Haidt, 2003). No entanto, as emogbes amen roti agrupadas em em os (meee autoconscien- i her-condenaing, other suffering, other- we tjsing). ara além das classificagbes, Freressante destacar que Haidt (2003) apontou uma discussao fundamental Pap dompreender a natureza das emogoes. Pai - Gresquisador, € preciso considerar também sutras duas dimensOes, a saber: esmo €E! 1. ofoco da emogao (voltada para si mes- mo ou para 0 outro) e - 2, avaléncia (positiva ou negativa). Araiva pode ser um bom exemplo des- sascondigdes. Embora a raiva seja apontada como uma emogao primaria, pois esté pre- sente desde 0 nascimento (Ekman, 1992), possuialgumas dimensdes consideradas morais e tem como caracteristica o valor negativo, sendo descrita comumente como: uma emogao moral negativa (ver Tangney etal., 2007). Além disso, a raiva pode ter di- ferentes focos, tanto pode estar voltada para simesmo, quando a pessoa percebe que nao alcangou um objetivo, como pode estar vol- tada para o outro, quando se percebe que a falha foi causada por outro de forma inten- Cional. Pesquisadores tém se interessado e ‘nvestigar a raiva como uma emogao a) lwe emerge quando exi a a de padroes morais que causa 120 a Outros ou a uma comunida a Volve tendéncias de agao voltadas para © meena ou para sanar as injustigas zine Roseman, 2007; Haidt, 2003; » Lowery, Imada, & Haidt, 1999). Ets 1 rabalhando com adolescentes 169 10 das agdes de outra: 2003). © desprezo revela a siten (Haidt, Férquicas, Possibilit fees BTUs soci tenham ditvenes es sejam valorizados de acordo fs que ocupam., Rozin e colaboradores (ogo) observaram que o desprezo esta vi : P! incu aS transgressdes da ética da comunid (as trés éticas propostas por Shweder), en- quanto 0 nojo esté relacionado as violago: jn da divindade, que envolvem desde da natureza humana, como a higiene € 0s cuidados basicos, até as ameacas da dig- nidade humana, como preconceito, racis- mo ¢ abuso. Haidt, Rozin, McCauley e Ima- da (1997) destacaram que 0 nojo sempre teve uma funcao especifica como guardiao da boca, sendo responsavel pela selecdo dos alimentos considerados corretos, limpos € adequados em determinada cultura, mas seus achados mostraram que 0 nojo tam- bém é 0 guardiao do corpo, Nesse sentido, qualquer ameaca ¢ transgressdo desse cor- po, por meio de uso de drogas, sexo e/ou modificagao no seu formato original, po- dem despertar essa emogao. parte da familia das emogoes autocons- reper sto agus que emerge lida que as criangas se tornam cap, agir, pensar e comunicar sobre si mes- mas a outras pessoas (Kochanska, Casey, & Fukumoto, 1995). Para Haidt (2003) jogdes motais surgem de discrep Geo ‘comportamento da propria pes eo de seus modelos moraise, embora se geralmente confundidas, so a ti ta fivas distintas. De maneira geraha ane " aponta que ambas referem-s¢ 8 aug avaliag tivos associ " 10 errado € €st@0, frequentemen- Diniz & Koller (orBs 170 _Habigzan i ss te, ligadas a transgressoes interpe! souisaud oie nas quais as pessoas acredito74 0,05) entre os grupos investigados (situagao de pobreza com vinculo familiar e situacdo de pobreza sem vinculo familiar) para a expressao de gratidao, afeto positivo e afe- to negativo. Tais resultados reiteram que as ondi ida impostas pelo As anilise ram limitages 10 U gratidao dos adolescentes. Ainda existem muitas lacunas no co- nhecimento sobre a expressao da gratidao e suas relagdes com bem-estar subjetivo, afeto positivo e comportamento pré-so- cial entre os adolescentes. No entanto, os pesquisadores sio unanimes ao afirmar que a gratidéo pode trazer benefi portantes ao adolescente e fomentar seu desenvolvimento positivo (Froh, Bono, & Emmons, 2010). Quando a pessoa se sente grata, ela reconhece o significado de uma acao pré-social; portanto, a gratidao pode provocar mudangas importantes no com- Portamento da pessoa que recebeu um be- ate een o envolvimento desta portamentos que venham a favo- Tecer outras pessoas, McCullough, Kimeldorf e Cohen jos im- (2 ( a8) 1am que a gratidao pode facili- rR 10 entre as pessoas e o inter- emoga ‘3os0cstmul oars recproco de itor como fomenta outras agdes |. Segundo Froh e colaborades t € possivel cultivar a gratidao enyy, 2 centes. As intervengdes devem, ¢., “ls. 0s aspectos desenvolvimentais, ums !*tar a emergéncia da gratidao depend ee Gue ragio cognitiva € emocional, Os pig 2 experimentos relacionados 20 estin gratidao entre jovens sao bastante Tec ° Froh e colaboradores (2008) encgngt™ evidéncias de que a gratidao pode mela 0 bem-estar psicol6gico ao testar ume tervengao com adolescentes de 11 a 14," que envolvia a listagem de“béncaos diaen® durante duas semanas. Um estudo quay ‘experimental foi conduizido com estudan, tes de 11 turmas divididas em trés cond ges. Quatro turmas receberam a condicag de gratidao; quatro a condigao de aborre. cidos; e trés serviram como controle. Aos participantes que estavam na condicao de gratos era solicitado que listassem situacdes ou eventos nos quais se sentiram agradeci- dos, e aqueles que estavam na condicao de aborrecidos era solicitado que listassem si- tuacdes que haviam sido incomodas. Essas solicitagées eram didrias e permaneceram durante duas semanas. Trés semanas apés a tiltima mensuragao, os pesquisadores rea- lizaram um follow-up. Entre os principais resultados, foram identificadas uma asso- ciagdo positiva da gratidao com o otimis- mo, a satisfagao de vida e a diminuigao do afeto negativo. Além disso, foi encontrada uma relacao robusta entre a gratidao e a sa- tisfagao com a escola. Outra intervengao foi testada por Froh, Kashdan, Ozimkowski e Miller (2009). Os Ppesquisadores investigaram 89 estudantes com idades entre 8 e 19 anos. Trabalharam com um grupo experimental e um controle, solicitando aqueles designados 4 condigao de gratidao a redacao de uma carta de agrade cimento para um benfeitor que eles nunc? a tr rabalhando com adolescentes 175 _ yam tido oportunidade de agradecer da sl que gostariam. Apés essa atividade, Pm jeitado que o jovem fizesse a leitura da coy a pessoa (benfeitor) € comparti- carte PY, grupo a experiencia vivenciada. Os estos indicaram que aqueles que tinham achate escores de afeto positivo apresenta- bain aumento na expressao de afeto e Fa dio no pos-teste € no follow-up realiza- do dois meses apés a intervengao. ‘Tais experimentos destacam a possi- paidade do cultivo de gratidao e indicam os peneficios desse treino. Expressar ¢ experi- mentar a gratidao pode fortalecer o desen- vjvimento positivo de adolescentes. Contu- Yo, construir estratégias de intervengao que fomentem o desenvolvimento positive de adolescentes ainda é um desafio para os pes- quisadores brasileiros. Ao langar um olhar pata o adolescente no cendrio nacional, & possivl constatar um desenvolvimento mar- cado por vulnerabilidades, heterogeneidades ¢ desigualdades profundas. Diante dessa re- alidade, nao é surpreendente que os estudos gstejam focalizados, em sua maioria, nas falhas morais dos adolescentes. Parece ser urgente conhecer 0s motivos que levam os adolescentes a colidir com as regras morais sociais. Pouco se conhece sobre as potencia- lidades desses individuos. Portanto, é preciso um maior investimento em pesquisas que busquem elucidar as emogdes moras positi- vas apresentadas pelos adolescentes. LEMBRE! CONCLUSKo No cam 0 tee Ae Po da psicologia moral, muitas ‘as tedricas foram feitas e outras conti de nnuam a ser desenvolvidas. De acor- "om Greene (2011), a nova psicologia moral € emocionante, anna vos eas quo aemamen ques eae Ja Haidt (2007) nascendo & tnediaa Soa S que ampliou suas rela- ges com outros campos do conhecimento © passou a considerar © papel central da emogao. E preciso que a literatura nacional esteja atenta e acompanhe essas discussoes, mesmo quando exista discordancia com 0s pressupostos elencados. Uma postura flexivel e cientifica, como propés Biaggio, em 1999, é fundamental, em especial, em um pais onde a intuigao parece predomi- nar nas avaliacdes morais (ver Haidt et al., 1993). Situagdes que causam comosao nacio- nal, como a morte do indio Galdino, podem ser identificadas no cotidiano da populacao brasileira. Certamente nao faltam outros exemplos de adolescentes envolvidos em conflitos morais, mas talvez esteja na hora de conhecer situagées com desfecho posi- tivo? £ possivel mudar o foco ¢ langar um olhar para 0 desenvolvimento pré-social? Est lancado o desafio! & possivel afirmar que violagdes morais frequentemente mento do caso do indio Galdino, qual foi a sua reagao em tomar conheci- evocam emogoes mol jocional? Pense nisso!

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